Gárgulas: Representações Do Feio E Do Grotesco No Contexto Português. Séculos XIII a XVI Volume II

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Gárgulas: Representações Do Feio E Do Grotesco No Contexto Português. Séculos XIII a XVI Volume II UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS ARTES Gárgulas: representações do feio e do grotesco no contexto português. Séculos XIII a XVI Volume II Catarina Alexandra Martins Fernandes Barreira DOUTORAMENTO EM BELAS ARTES Especialidade de Ciências da Arte 2010 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS ARTES Gárgulas: representações do feio e do grotesco no contexto português. Séculos XIII a XVI Volume II Catarina Alexandra Martins Fernandes Barreira DOUTORAMENTO EM BELAS ARTES Especialidade de Ciências da Arte Tese Orientada pela Prof.ª Doutora Margarida Calado 2010 Gárgulas: representações do feio e do grotesco em contexto português - Séculos XIII a XVI Índice Volume II 4.8. Gárgulas lavradas durante o reinado de D. João III (1521 a 1557). Persistências versus a mudança de paradigma artístico e estético………..537 4.8.1. Igreja Matriz de Monção………………………………………………..539 4.8.2. Igreja Matriz de Viana do Alentejo……………………………………..541 4.8.3. Igreja Matriz da Golegã………………………………………………….543 4.8.4. Igreja da Misericórdia de Silves…………………………………………544 4.8.5. Igreja do Convento de Santa Clara de Vila do Conde (2ª campanha de colocação de gárgulas)………………………………………………………….545 4.8.6. Capela dos Coimbras, Braga……………………………………………546 4.8.7. Mosteiro de Santa Maria de Almoster, Santarém……………………..549 4.8.8. Igreja Matriz da Louriceira……………………………………………….558 4.8.9. Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Claustro da Manga (2ª campanha de colocação de gárgulas)…………………………………………560 4.8.10. Convento de Santa Maria da Vitória, Batalha (6ª campanha de colocação de gárgulas)………………………………………………………….601 4.8.11. Igreja do Convento de São Francisco do Porto……………………...624 4.8.12. Igreja do Convento da Nossa Senhora da Conceição, Beja (2ª campanha de colocação de gárgulas)…………………………………………626 4.8.13. Igreja do Convento das Chagas de Cristo, Vila Viçosa……..………630 4.8.14. Igreja Matriz de Arronches……………………………………………..632 4.8.15. Igreja Matriz de Penafiel………………………………………………..635 4.8.16. Igreja de São Francisco de Estremoz………………………...………636 4.8.17. Igreja Matriz de Elvas…………………………………………………..638 4.8.18. Igreja de Nossa Senhora da Madalena, Olivença…………………...640 4.8.19. Convento de Santo António dos Olivais, Coimbra…………………..644 4.8.20. Igreja Matriz de Caminha (2ª campanha de colocação de gárgulas)…………………………………………………………………………646 4.8.21. Claustro do Convento da Nossa Senhora da Graça, Évora………..648 533 Gárgulas: representações do feio e do grotesco em contexto português - Séculos XIII a XVI 4.8.22. Claustros do Convento da Ordem Militar de Cristo, Tomar (2ª campanha de colocação de gárgulas)…………………………………………650 4.8.23. Claustro do Mosteiro de Santa Maria de Belém, Lisboa (3ª campanha de colocação de gárgulas)………………………………………………………667 4.8.24. Claustro do Convento da Nossa Senhora da Assunção, Faro…….671 4.8.25. Igreja do Convento de São Francisco de Montemor-o-Novo………679 4.8.26. Igreja do Convento da Madredeus, Xabregas…………………….....681 4.8.27. Ermida de Santa Clara, Vidigueira…………………………………….684 4.8.28. Igreja Paroquial de Santa Bárbara de Padrões, Castro Verde…….686 4.8.29. Igreja Matriz do Alvito………………………………………………….687 4.8.30. Igreja Matriz de Castanheira do Ribatejo, Vila Franca de Xira…….690 4.8.31. Igreja Matriz de Azurara……………………………………………….692 4.9. Gárgulas lavradas após a morte de D. João III (1557) – regência da rainha D. Catarina (até 1562), regência de D. Henrique (até 1568) e reinado e morte de D. Sebastião (1578)………………………………….……………….697 4.9.1. Igreja do Convento de São Francisco de Vila do Conde……………699 4.9.2. Igreja Matriz do Crato…………………………………………………..701 4.9.3. Igreja da Misericórdia de Freixo-de-Espada-à-Cinta…………………706 4.9.4. Igreja Matriz de Torre de Moncorvo……………………………………712 4.9.5. Sé de Leiria……………………………………………………………….723 4.9.6. Sé de Portalegre………………………………………………………….726 4.9.7. Convento da Ordem Militar de Cristo, Tomar (3ª campanha de colocação de gárgulas)…………………………………………………………728 4.9.8. Casos surgidos na recta final da redacção…………………………….734 4.10. As gárgulas na arquitectura civil e militar……………………………….735 4.11. Contributos para a articulação e problematização temática das gárgulas…………………………………………………………………………...741 534 Gárgulas: representações do feio e do grotesco em contexto português - Séculos XIII a XVI 4.12. A importância do “nomadismo artístico” para a realização de gárgulas em contexto nacional…………………………………………..………………..758 4.13. As gárgulas e o “portuguesismo” da arte portuguesa…………………762 4.14. Contributos para uma análise da criatividade dos artistas medievais: o hibridismo e a analogia inusual…………………..…………………………….767 4.15. Regresso às gárgulas……………………………………………………..772 4.16. Os restauros dos edifícios e a re-criação de gárgulas………………...775 Considerações finais…………………………………………………………….785 Bibliografia……………………………………………………...…………………791 Índice onomástico………………………………………...……………………...819 Índice toponímico……………………………………...…………………………827 535 Gárgulas: representações do feio e do grotesco em contexto português - Séculos XIII a XVI 536 Gárgulas: representações do feio e do grotesco em contexto português - Séculos XIII a XVI 4.8. Gárgulas lavradas durante o reinado de D. João III (1521 a 1557). Persistências versus a mudança de paradigma artístico e estético Do seu longo reinado podemos dizer que foi pautado pela vontade de mudança, a todos os níveis, embora nem sempre os resultados desse radicalismo se tornassem imediatamente visíveis, ou com consequências a curto prazo. D. João III ambicionava uma mutação de paradigma, um corte com tudo aquilo que havia caracterizado ou feito parte do reinado do seu pai, ancorado ainda em alguns valores característicos da mundividência medieval. D. João III, herdeiro de um império vasto e muito cobiçado, tomou algumas medidas de consolidação da presença portuguesa nos territórios anteriormente descobertos, começando um tímido processo de colonização, em paralelo com uma grande actividade diplomática com as potências europeias da época. A grave crise religiosa, que se vinha arrastando desde a segunda metade de Quatrocentos e que havia ganho contornos graves no reinado anterior, estava agora no seu auge, situação à qual D. João III não foi de modo algum indiferente, e que tentou debelar através da presença de reformadores da sua confiança, que desempenharam um importante papel na renovação artística nacional. Também em 1536 o Tribunal da Santa Inquisição chegou a Portugal, bem com os Jesuítas, quatro anos depois, duas medidas obscurantistas que tiveram graves consequências junto dos intelectuais e humanistas da época, quer portugueses, quer eruditos estrangeiros convidados anteriormente pelo próprio rei. Por estes motivos, as obras patrocinadas por este monarca estavam profundamente entrosadas com o espírito reformista, numa época em que a crise religiosa e as heresias de Erasmo e de Lutero não deixavam ninguém indiferente. 537 Gárgulas: representações do feio e do grotesco em contexto português - Séculos XIII a XVI Neste reinado, vamos ter dois grandes tipos de modelos artísticos a coexistir, até de forma epigonal: um diz respeito a empreitadas iniciadas ainda no reinado anterior e que mantiveram as orientações artísticas manuelinas, presas a persistências que caracterizaram o tardo-gótico, aplicando, na sua maioria, elementos decorativos à romano sem a compreensão dos princípios de proporção e ordenação próprios do contexto clássico. Por outro lado, temos um outro modelo artístico, que diz respeito a edificações que estavam directamente associadas aos sítios de maior preferência de D. João III, como Coimbra, Évora e Tomar, que aproveitaram a estada do rei, da corte e da universidade para operar uma renovação estética, consubstanciada com princípios clássicos e humanistas. Quer num caso, quer noutro, verificamos ainda neste período uma certa saturação ornamental do exterior dos edifícios, sem atender a normas, da qual fazem parte as gárgulas. Apesar de D. João III ter tido por mestres da sua confiança homens educados em contexto manuelino, detectamos um certo desprezo e abandono pelas edificações iniciadas por D. Manuel: o seu sucessor queria assumir-se como um classicista, queria identificar-se com uma estética de valores humanistas, mas acima de tudo diferente da época anterior. No que concerne às gárgulas, temos também dois cenários distintos, grosso modo: por um lado detectamos programas onde se manteve a validade pedagógica das gárgulas, que as caracterizou nos reinados anteriores, mas com importantes actualizações, quer do ponto de vista formal, quer temático, quer de ambos. O seu valor didáctico foi posto ao serviço de princípios clássicos (mais notório a nível temático), embora as gárgulas figurativas fossem só por si elementos anti-clássicos. Por outro lado, surgiram alguns casos de arcaísmos formais, da responsabilidade de imaginários locais, que em termos plásticos estavam mais relacionados com a escultura românica do que com as tendências artísticas dos meados do século XVI. Foi também um fenómeno relacionado com persistências 538 Gárgulas: representações do feio e do grotesco em contexto português - Séculos XIII a XVI artísticas, mas que atestava a pouca tradição escultórica entre nós, quando em locais afastados dos grandes centros cosmopolitas. Importante é referir o número, bastante significativo, de gárgulas lavradas neste período, resultado não só da continuidade dos estaleiros (temos um número considerável de edificações iniciadas no reinado de D. Manuel que, embora ficassem concluídas no reinado D. João III, são manuelinas em termos artísticos), como também por causa do seu papel moralizante e catequético desempenhado
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