Masarykova univerzita

Filozofická fakulta

Ústav románských jazyků a literatur

Portugalský jazyk a literatúra

Žofia Botková

LISBOA: URBANISMO E ARQUITETURA

Bakalářská diplomová práce

Vedoucí práce: Mgr. Maria de Fátima Baptista Nery Plch

BRNO 2016

Prohlašuji, že jsem bakalářskou práci

vypracovala samostatně s využitím

uvedených pramenů a literatury.

Ďěkuji Mgr. Marií de Fátima Baptista Nery Plch za

cenné rady a připomínky.

……………………………………

Índice

1. INTRODUÇÃO ...... 5 2. DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS FUNDAMENTAIS ...... 6 2.1.Arquitectura ...... 6 2.2.Urbanismo ...... 7 2.3.Urbanização...... 7 3. Dos primeiros vestígios da ocupação humana até à Idade Média ...... 7 3.1.As Origens ...... 7 3.2. A Antiguidade ...... 9 3.2.1. A Ocupação Romana ...... 9 3.2.2 A Invasão Germânica; Inícios da Implementação do Cristianismo ...... 10 3.2.3. A influência Muçulmana ...... 11 3.2.4 A Reconquista – Estilo Românico ...... 12 3.2.5 O Estilo Gótico ...... 14 3.3 A Idade Média ...... 15 3.3.1 A época Manuelina e Filipina ...... 15 3.3.2 Maneirismo ...... 19 3.3.3 A cidade Joanina. Barroco ...... 21 3.4 O Grande Terramoto de Lisboa: Factos e consequências ...... 24 4. O DESENVOLVIMENTO APÓS O TERRAMOTO DE 1755 ...... 26 4.1 A Cidade Pombalina ...... 27 4.1.1 As propostas de Manuel da Maia ...... 28 4.1.2 O Plano do Eugénio dos Santos ...... 29 4.2 As Obras Caraterísticas da Época ...... 33 4.2.2 O Passeio Público ...... 34 4.2.3 A Caraterização dos Edifícios Pombalinos – os Prédios de Arrendamento ...... 35 4.2.4 A Gaiola Pombalina ...... 37 4.2.5 Outros prédios ...... 38 4.3. Lisboa na época do séc. XVIII e XIX...... 40 4.4 Lisboa capitalista à virada dos séculos XIX e XX; o desenvolvimento até os anos 30 ...... 43 4.5 A primeira Republica, ditadura e modernismo ...... 47 4.6 A Cidade do Estado Novo ...... 49 4.7 Lisboa após a Revolução dos Cravos ...... 53

3 4.7.1 Lisboa Contemporânea ...... 55 5 CONCLUSÃO ...... 58 6. Bibliografia ...... 59

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1. INTRODUÇÃO O objectivo deste trabalho é fornecer uma visão geral da cidade de Lisboa do ponto de vista do urbanismo e da arquitetura. Ao escolher o tema para o meu trabalho considerei importante a variedade dos aspectos que este abrange, devida ao amplo intervalo de tempo de desenvolvimento da cidade e à grande diversidade de influências culturais, que marcaram a diferença ao longo do tempo. Os elementos da pesquisa serão descritos em relação ao desenvolvimento histórico e à situação social e económica da época na qual foram criados.

Durante o meu período de estudos em Lisboa fiquei encantada pela arquitectura original devida à multiculturalidade da cidade e decidi dedicar-me ao estudo mais aprofundado dela no âmbito da minha tese de licenciatura. Tive a preciosa oportunidade de visitar e experienciar a atmosfera dos bairros e monumentos mais importantes. A boa acessibilidade às fontes de informações foi igualmente importante.

Esta tese foi elaborada com apoio de várias fontes relacionadas ao assunto, das quais vale salientar o livro por José-Augusto França - Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, um estudo sintético do desenvolvimento do urbanismo e arquitectura de Lisboa ao longo dos anos; outro estudo que ajudou a colocar os elementos da tese num contexto histórico e cultural foi a publicação Dějiny Portugalska por Jan Klíma, que apresenta uma visão global sobre o desenvolvimento histórico de desde os seus inícios até à entrada na União Europeia.

A história da cultura e do pensamento são intimamente relacionados com a história das cidades. Entendendo isso, os períodos de crise e revolução da cultura reflectem-se nas cidades e na forma como nós as percebemos no seu passado, presente e futuro.

A tese apresenta o desenvolvimento arquitetónico da cidade ao longo dos séculos, desde a sua fundação até ao presente, com ênfase à situação após o grande terramoto em 1755. É dividida em 6 capítulos. Para iniciar apresentaremos uma breve definição dos conceitos fundamentais em relação com a tese. O segundo capítulo é dedicado à análise do desenvolvimento da ocupação humana da zona geográfica de Lisboa desde o Paleolítico até ao Terramoto de 1755. A seguir será analisada a Reconstrução pombalina da urbe e a gradual evolução do urbanismo e arquitectura da cidade ao longo dos anos até hoje.

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2. DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS FUNDAMENTAIS

2.1.Arquitectura De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa, a palavra „arquitectura“ significa a „arte da construção que trata simultaneamente os aspetos funcionais, construtivos e estéticos dos edifícios e construções, e que se assume como cultura e modo da vida de um povo“.1 Em termos de etimologia, a palavra „arquitectura“ é de origem grega, é e junção das palavras arché, em português "primeiro" ou "principal", e ‚tékton, que significa “construção”. 2

A vida humana é inseparável do ambiente em que ocorre . A arquitectura constitui um dos componentes fixos e essenciais do ambiente. Desde passado cumpre a tarefas muito mais exigentes do que abrigar a população. Colocam-se nela certas reivindicações estéticas e deve corresponder ao modo e vida de uma concreta sociedade.

A arquitectura de Lisboa, como maioria das cidades europeias foi influenciada pelos movimentos culturais e estéticos que caraterizam as várias épocas da História da Arte. Refere-se à arquitectura praticada no território de Lisboa desde antes da fundação do país no século XII.

Como todos os aspectos da cultura portuguesa também a arquitectura é marcada pela história do país e pelos diversos povos que influenciaram à sua passagem .

Entre as principais manifestações locais de arquitectura encontram-se o estilo manuelino, a versão portuguesa exuberante do gótico tardio, e o estilo pombalino, uma mistura de barroco tardio e neoclassicismo, que se desenvolveu após o terremoto em Lisboa no ano 1755.

1 Dicionário da Língua Portuguesa, Dicionários Académicos, Porto Editora,LDA,Porto 2012, p. 88 2 Disponível na Internet: http://www.infoescola.com/arquitetura/o-que-e-arquitetura [consultado em 3.3.2016]

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2.2.Urbanismo Recorrendo ao Dicionário de Língua Portuguesa, o termo urbanismo vem definido como „conjunto das questões relativas à organização e ao planeamento das cidades e à sua evolução, incluindo a adaptação destas às necessidades dos seus habitantes“.3

O urbanismo de bairros, vilas e cidades atraía as pessoas em como locais de interação , oportunidade e criatividade. O urbanismo é fundamental para a vida de comunidade, infraestrutura pública eficiente e preservando a natureza.4

2.3.Urbanização De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa a urbanização significa „ o processo de criação, desenvolvimento e embelezamento dos espaços urbanos ou o fenómeno crescente de concentração da população em espaços urbanos “.5 A história distingue duas fases principais: a urbanização na sociedade tradicional e a urbanização na sociedade moderna.

3. Dos primeiros vestígios da ocupação humana até à Idade Média

3.1.As Origens O sítio geográfico no qual a cidade de Lisboa de hoje se estende é estrategicamente vantajoso: situado no largo estuário do Rio Tejo, é ligado ao oceano por águas calmas, é circundado por montes e vales férteis e as condições Mediterrâneas do seu clima são amenas. Trata-se de favoráveis propriedades geográficas, que naturalmente atraíam as populações já desde a Época do Paleolítico. Os primeiros humanos a ocupar esta zona terão sido os caçadores e colectores Neandertais, que por volta do ano 30 000 a. C. cederam lugar a Homo Sapiens; como evidência da ocupação do local por estes povos servem os vestígios de instrumentos e outros objectos encontrados nas escavações arqueológicas. 6 Tratava-se de primitivos instrumentos de caça, machados, fragmentos de ossos humanos ou pequenos objectos rituais de

3 Dicionário da Língua Portuguesa, Dicionários Académicos, Porto Editora,LDA,Porto 2012, p749 4 Disponível na Internet: http://www.urban-advantage.com/urbanism/urbanism_page-01.html [consultado em 3.3.2016]

5 Dicionário da Língua Portuguesa, Dicionários Académicos, Porto Editora,LDA,Porto 2012, p.749 6 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Po- rtuguesa, Lisboa, 1989

7 arte como gravuras ou pequenas esculturas - ídolos. Também foram encontrados sítios de sepultamento que documentam as imaginações sobre a vida depois da morte.7

Na época de Neolítico (6 000-3 000 a.C.) desenvolve-se a agricultura e o homem começa-se a domesticar os animais. Nesta altura todo o território de Portugal pertencia ao dito Círculo cultural Megalítico, que se estendia a partir da Escandinávia, continuando por França e península Ibérica até ao Mediterrâneo. No território de Portugal as grandes construções de culto não foram preservadas, mas até hoje conservaram-se vários megalites como menhires e cromeleques com função religiosa, ou dolmens que serviam para cerimónias de sepultura coletiva.

Na Idade de Bronze a península foi habitada por várias tribos ibéricas e celtas. A partir de cerca do ano 1000 a Península Ibérica entrou em contacto directo com as civilizações de Médio Oriente, predominantemente a realizar comércio. O povo que com mais probabilidade terá habitado a zona de futura Lisboa por mais tempo foram os Fenícios, que já antes aqui faziam negócios e no século VII a. C. ocuparam os territórios extremos da península Ibérica. Eles terão chamado o local de «Alis ubbo» ou «Alise-Ussubuna», que supostamente significa porto seguro ou enseada amena. 8 Esta ocupação demorou seis séculos. Os vestígios arquitectónicos da presença histórica fenícia não foram preservados até hoje em dia, porém, influências fenícias aparecem na cerâmica encontrada em Portugal central.9 No séc. VI a. C. entraram no território da Península Ibérica as tribos Celtas. Trouxeram a capacidade de trabalhar ferro, o que contribuiu para o incremento da produtividade de trabalho e agricultura. A assim-dita Cultura de post-Hallstat dos Celtas desenvolvia-se nos Oppidum, colonizações fortificadas típicas para esta civilização na Idade de Ferro. Os Celtas e Iberos gradualmente fundiram dando origens à nova civilização celtibérica. Os habitantes do território de Portugal com esta identidade chamavam-se Lusitanos.10

Os Fenícios no século VI a. C. foram substituídos por povoações Gregas, cujas influências permaneceram pouco por causa da pressão de outras potências. Os Gregos mudaram o nome da cidade para Ulissipona, dando origem à lenda famosa, segundo a qual a cidade teria sido fundada pelo próprio Odysseus-Ulysses durante as suas viagens marítimas. A verdadeira origem de

7 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p.7 8 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Po- rtuguesa, Lisboa, 1989, p.9 9 LIVERMORE , H.V. ,Portugal: A short history, Edinburgh University Press,1973. p.2

10 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p.9,10

8 Lisboa é desconhecida, porém, o nome Olissipo tem um comum suffixo Tartessiano –ipo. 11 Durante as Guerras Púnicas os Gregos cederam lugar aos Cartagineses durante as suas expansões; depois da sua derrota toda a Península Ibérica começou a entrar no demorado, mas completado procedimentoda dominação romana.

3.2. A Antiguidade

3.2.1. A Ocupação Romana

O Império Romano, apesar da resistência firme dos povos nativos da Península Ibérica, gradualmente expandiu-se até ao território de Portugal, colonizou-o e assim iniciou a sua romanização que demorou mais de seis séculos. Esta província da República chamava-se de Lusitânia. Cerca do ano 195 a. C. os Romanos ocuparam a cidade que chamaram de Olisipo ou Olisipone; como antigo nome oficial para homenagear o Imperador Júlio César servia o topónimo Felicitas Julia. Olisipone se tornou o único município nesta Província com o seu próprio Senado. 12

A cidade era rica e beneficiava da presença do Rio Tejo, que era uma importante porta para o comércio. Os Romanos implementaram aqui a sua civilização, construindo uma edificação do equipamento cívico pra eles comum.

Além dos vestígios epigráficos e alguns elementos arquitetónicos, que foram descobertos nas escavações subterrâneas, da arquitectura Romana no território de Lisboa foi preservado pouco. Um terramoto que ocorreu no ano 472 terá feito desaparecer a maior parte da urbe romana. Dos artefatos que sobraram até hoje vale a pena destacar um relevo para um amplo teatro datado no ano 57 d. C., dedicado a Nero, e termas romanas dos “Cassios" do ano 49 a. C., ambos situados na zona de São Mamede-Caldas de hoje. Outras termas, dos “Augustaes”, e as Galerias Romanas existiam na zona da Rua da Prata. Os restos duma grande construção situada à Madalena, que demonstra importância e riqueza, são os de um templo que terá sido consagrado a Cibele, um cemitério por baixo da Praça da Figueira; foram encontrados também vestígios de templos a vários outros Deuses e aos Imperadores. A maioria destas ruínas foi descoberta no séc. XVIII,

11LIVERMORE , H.V. ,Portugal: A short history, Edinburgh University Press,1973. p.3 12 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 11

9 graças ao gosto aristocrático de praticar arqueologia, que entrou na moda depois do descobrimento de Pompeias. 13

Imagem 1: Teatro romano

3.2.2 A Invasão Germânica; Inícios da Implementação do Cristianismo

O município romano a partir do século II passava por um declínio. Devido à divisão, o Império Romano em parte ocidental e oriental, esse passou a ser mais vulnerável aos ataques de povos alheios. A Península Ibérica, incluindo a cidade romana de Olisipo foi no séc. V d. C. invadida por várias tribos bárbaras Germânicas; por volta do ano 410 d. C. foi ocupada pela tribo dos Alanos, mais tarde Suevos e Visigotos. Estes mudaram o nome de Olisipo para Ulishbona. 14

A cidade de Olisipo foi um dos importantes núcleos da implementação do cristianismo na Península Ibérica. O rei visigodo Recaredo aceitou o cristianismo e tornou-se o primeiro Rei católico na Europa. Estas influências naturalmente refletiram-se na arquitectura da cidade. Desta época sobraram preservados apenas os vestígios duma fortificação que rodeava áreas habitadas com propósito protetivo, chamada a cerca velha.15

13 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p.10 14 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 15 15 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p.12

10 3.2.3. A influência Muçulmana

No século VII o Reino dos Visigotos passou por um declínio e com efeito, no início do séc. VIII a Península Ibérica foi invadida pelas tropas e caiu sob domínio dos Mouros muçulmanos, que a anexaram ao Califado Árabe; a cidade de Olisipo foi conquistada por eles em 719, que lhe deturparam o nome para Al-Uchbuuna ou Lixbuna. A cidade tornou-se um importante núcleo de comércio e administrativo da área. Com uma população de cerca 150 000 habitantes, actividades comuns eram comércio e agricultura. Devido à presença dos Mouros durante uma longa época, o vocabulário português foi enriquecido por vários termos da língua árabe, que permaneceram até hoje. O atributo alfacinha, nome dato aos habitantes nativos de Lisboa, provém do facto dos muçulmanos terem introduzido a cultivação deste vegetal na zona. A cidade foi reconstruída segundo os padrões do estilo de Médio Oriente: uma almedina – centro da urbanização, um palácio do alcaide e supõe-se que foram estabelecidas mesquitas, uma delas onde já havia um templo cristão e romano. A cor típica era branco. Na margem Sul são postas as bases para proteger a cidade, conhecidas como a actual Almada.16 Em meados do século XI, na colina mais alta da zona os mouros construíram uma grande fortificação com o objetivo de defesa para as elites da cidade: o alcaide e os membros da administração que moravam nas proximidades. Esta construção é conhecida sob nome Castelo de São Jorge. 17 A maior e melhor conservada construção muçulmana na zona de Grande Lisboa é o Castelo dos Mouros em Sintra, classificada como Monumento Nacional e Património Cultural da Humanidade UNESCO.

A maioria dos habitantes converteu-se à religião muçulmana; os que mantiveram a fé cristã, os assim-ditos moçárabes, eram obrigados a pagar um imposto, ou tinham de sair para o Norte da Península não islamizado.18 Os cristãos concentravam-se nos Reinos de Astúrias, Navarra e Leão. No século XII o condado Portucalense (situado na zona da cidade do Porto de hoje) declarou independência do reino de Leão, pondo base para a história de Portugal como um sistema estatal soberano.

16 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p.12,13 17 Disponível na Internet: http://castelodesaojorge.pt/pt [consultado em 2.1.2016] 18 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 17

11 3.2.4 A Reconquista – Estilo Românico

Já no século XI começou a assim-dita Reconquista – iniciativa cristã de recuperar os territórios perdidos pela invasão dos Mouros. Os cristãos gradualmente expandiam o território dominado, partindo do norte ao sul. Após várias tentativas fracassadas, Al-Uchbuna com arredores foi reconquistada e anexada ao novo Reino, numa batalha liderada por D. Afonso Henriques em 1179, com apoio de cruzados coloneses, flamengos e ingleses da Guerra Santa. De acordo com a lenda, o nobre cavaleiro Martim Moniz sacrificou a sua vida durante a tentativa de ocupar Al-Uchbuna, colocando o seu corpo entre as duas batentes do portão do cerco da cidade, e assim permitindo os lutadores cristãos entrarem dentro. 19 Na homenagem do cavaleiro, na zona onde ocorreu este episódio - bairro da Mouraria de hoje - existe até hoje uma praça com o nome do mesmo.

D. Afonso ao oficializar o domínio cristão da cidade mandou construir a Sé Catedral, ou a Igreja de Santa Maria Maior, no lugar da grande mesquita de .. O edifício foi construído em estilo Românico, típico para o século XII. De acordo com a base de dados do IGESPAR, (Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico) seu primeiro arquiteto foi Mestre Roberto e o edifício foi projectado a seguir os modelos normandos. A Sé foi reconstruída várias vezes durante os séculos: hoje em dia é considerada uma mistura de estilos arquitetónicos. 20

Imagem 2: Sé Catedral

19 Disponível na Internet: https://cld.pt/dl/download/99504ee5-573b-4439-abac-3714ac692838/16_lendas-de- portugal.pdf [consultado em 15.1.2016] 20 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p.13

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Na altura da Reconquista foram construídas muitas igrejas no estilo românico, no esforço da divulgação da fé cristã. Para a sul do rio Tejo não existem vestígios deste estilo, pois estes territórios permaneciam sob domínio muçulmano.

A Lixbuna na altura estendia-se por uma área de 15,5 hectares entre as muralhas antigas, as suas freguesias eram 7. 21 Em relação à distribuição dos habitantes, após a ocupação cristã os muçulmanos viviam nos guetos isolados chamados de mourarias, espalhadas pelos arrabaldes; os judeus, que começaram a viver neste território a partir do século VI, também viviam separadamente em comunidades, as judiarias: A Judiaria Grande encontrava-se na Baixa enquanto a Pequena na Alfama.22

D.Afonso Henriques tornou-se o primeiro rei do Reino de Portugal. Porém, a capital deste reino se encontrava em Coimbra até ao 1256, quando foi transferida a Lisboa. 23

21 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p.13 22 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p.17 23 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p.13

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3.2.5 O Estilo Gótico

O período gótico chegou a Portugal mais tarde que no resto de Europa. O estilo gótico desenvolveu-se direitamente do prévio estilo românico, surgiu na França e espalhando-se pela Europa através das ordens mendicantes religiosas. Este estilo representa a ideologia típica da sua época: a Igreja procurava refletir a sua importância na grande amplitude dimensional dos templos. O Gótico foi marcante não apenas na arquitetura mas também em todos os outros ramos da arte e cultura.

Os elementos característicos da arquitectura gótica são a verticalidade: a extensão simbólica dos edifícios significa a aproximação a Deus; a presença dos assim-ditos arcos quebrados ou de ogiva que são de forma pontiaguda; luminosidade providenciada por grandes janelas ornamentais – vitrais e rosáceas; a planta arquitectónica dos templos em forma de uma cruz romana. Os elementos ornamentais típicos eram motivos de flores, cálices finas. 24

O mais notável exemplo da arquitectura gótica em Lisboa é o Convento da Ordem do Carmo, mandado construir em 1389 pelo Condestável D. Nuno Álvares de Pereira. Quase completamente destruído pelo Terramoto em 1755, as suas ruínas permanecem no lugar e relembram a catástrofe até hoje; encontra-se lá um museu arqueológico.

A época histórica foi marcada pela expansão e consolidação da fé cristã, foram estabelecidos vários conventos e igrejas difundidas pelo território todo.

A cidade de Lisboa, com o aumento no número dos habitantes foi crescendo; realizavam-se obras sem nenhum planeamento e a rede urbana era cada vez mais desorganizada. Só na virada dos séculos XIV e XV foi imposta uma primeira ordem neste caos urbano, pelo rei D. João I. 25

O século XV marcado pelos descobrimentos marítimos permitiu um grande estímulo no desenvolvimento económico, político e social de Portugal e também Espanha. Os dois países

24 Disponível na Internet: http://www.archizone.cz/stavebni-slohy/gotika/ [consultado em 20.1.2016] 25 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p.16

14 tornaram-se potências mundiais e no ano 1494 foi celebrado o Tratado de Tordesilhas, que dividiu o mundo para as terras “descobertas e por descobrir” por ambos os reinos.26

3.3 A Idade Média

3.3.1 A época Manuelina e Filipina

No início do século XVI Portugal experimentava um grande crescimento económico. Em 1495, o Rei D. Manuel I de Portugal, o Venturoso, assumiu o governo do país. A sua política caraterizada-se per um ativo suporte da educação e encorajamento das expedições marítimas, e analogicamente também é dada pela ênfase na cultura, arquitetura e arte.

As expedições ultramarinas dos Portugueses forneceram novas oportunidades de negócio e enriquecimento. Vasco de Gama e mais tarde Álvares de Cabral estabeleceram rotas marítimas com África, Brasil e Índia, de onde traziam bens valorosos como ouro, madeira, especiarias, marfim etc. O Reino tornou-se uma potência mundial e um participante significativo do comércio internacional. Em consequência da prosperidade económica apareceram oportunidades de desenvolvimento favorável também para cultura, educação e arquitectura. Numerosas obras foram construídas nessa altura, porém poucas resistiram ao grande Terramoto de 1755.

A estrutura urbana de Lisboa no início do século XVI foi sujeita às alternações significantes. O Rei realizou intervenções notáveis seja na edificação nobre, que na urbanização comum: A corte de D. Manuel se retirou do castelo medieval e instalou-se num paço real que foi apressadamente construído junto ao rio, no núcleo mais importante de negócio. A seguir, ao rio foi construído um enorme terraço, esplanada com a função de ser o centro da vida dos cortesanos: o Terreiro do Paço (ano 1500), que se complementava com a outra importante praça da cidade – o . Entre as duas, a cidade Baixa continuava a ser o centro mais movimentado da capital. No lugar da Praça de Figueira de hoje foi construído o Hospital de Todos os Santos, um edifício alargado com enorme escada e fachada virada para a praça do Rossio. Foi completamente destruído pelo Terramoto de 1755.

26 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 60

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Imagem 3: Reprodução anónima do Rossio, séc. XVI. Hospital de Todos os Santos à direita.

D. Manuel I foi o rei a implementar a assim-dita Santa Inquisição em Portugal. O seu reino é marcado pela ativa e violenta perseguição dos “inimigos” da Fé cristã, o que se refletiu também na restruturação da malha urbana de Lisboa: os habitantes das três Judiarias, assim como os da Mouraria foram expulsos do país e os seus respectivos bairros foram anexados à Baixa. Os edifícios eram remodelados em pedra e madeira, comum para a Idade Média. 27

Lisboa, com seus 80 000 habitantes na altura era reconhecida como uma grande metrópole à escala europeia. De acordo com obra Urbis Olissiponis Descriptio pelo humanista Damião de Góis, os monumentos mais importantes da cidade eram a Misericórdia, o Hospital de Todos os Santos, os armazéns de trigo, Casa da Mina e da Índia, a Alfândega e Arsenal, caraterizados pela notável magnificência e grandiosidade. 28

Neste século realizou-se a ampla edificação dum novo bairro na freguesia da Misericórdia – a Vila Nova de Andrade, ou seja de S. Roque, cujo casamento foi significante para o desenvolvimento da arquitectura civil e processo urbanístico da cidade. O procedimento da construção foi dinâmico, algo modesto e irregular; o seu propósito era primariamente a habitação de trabalhadores ligados à expansão marítima. A seguir a este, mais a cima (Príncipe Real de hoje) realizou-se outra urbanização que incluía palácios e casas nobres.

27 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p.19, 20 28 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 21

16 A arquitetura continuou a desenvolver-se e na época surgiu uma nova variante continuadora do estilo gótico artístico e arquitetónico, típica para Portugal na virada dos séculos XIV e XV. Este estilo é conhecido como gótico português tardio ou flamejante, ou simplesmente manuelino. Trata-se dum estilo que se destaca pelo rico decorativismo, inspirado pelas diversidades descobertas durante as navegações marítimas. A sua monumentalidade e ornamentalismo celebram a grandiosidade e esplendor de Portugal da época.

Os motivos típicos da expressão manuelina são os ornamentos em forma de cordas e redes como símbolos de navegação marina; plantas, conchas, corais, romãs e pinhas - símbolos da fertilidade; seres fantásticos como serpentes a engolir a sua própria cauda - Ouroboros - símbolo de Universo pois não tem início nem fim; sereias, gárgulas entre outros, com vários significados metafóricos. Outro motivo emblemático é a esfera armilar, símbolo do estado, que representa o poder régio e a Cruz da ordem do Cristo - símbolo do poder divino. É presente também o vitral. Os edifícios manuelinos são robustos, exuberantes e a ornamentação é quase exagerada. 29

O Estilo Manuelino se difundiu pelo país todo. Em Lisboa, o exemplo mais representativo do manuelino é o Mosteiro dos Jerónimos em Belém, cuja construção foi encomendada por D. Manuel I pouco tempo depois do regresso do Vasco da Gama da Índia. 30 Supõe-se que o Rei tinha duas razões para a encomenda do Mosteiro: “a vontade de reunir em panteão o ramo dinástico por ele iniciado“ e a dedicação à Santa Maria de Belém. 31 O primeiro arquitecto foi Mestre Diogo de Boytaca, porém a obra é resultado duma colaboração e foi concluída só cerca de um século mais tarde. A sua ampla fachada se extende em mais de 300 metros, o material do edifício é o calcário de lioz. O Mosteiro foi durante cerca de quatrocentos anos habitado pelos monges da Ordem de S. Jerónimo, que tinham a função de rezar pelo Rei e pelos navegantes que partiam da próxima praia do Restelo à descoberta do mundo, até à dissolução desta ordem no ano 1833. Hoje em dia, encontram-se aqui os túmulos do poeta Luís Vaz de Camões e capitão Vasco da Gama. 32

O Mosteiro, por ser localizado junto à entrada da cidade, intimamente ligado à casa Real Portuguesa e aos Descobrimentos é considerado um dos emblemas da cidade e nação.

29 Disponível na Internet : ensina.rtp.pt/artigo/manuelino/ [consultado em 2.2.2016] 30 Disponível na Internet: http://aartemanuelina.blogspot.sk/ [consultado em 2.2.2016] 31 Disponível na Internet: http://mosteirojeronimos.pt/pt/index.php [consultado em 2.2.2016] 32 De Olisipo a Lisboa, Estudos Olisiponenses, Edições Cosmos, Lisboa, 1992, p. 51

17 Outra obra-prima no estilo manuelino é a Torre de Belém, conhecida também sob nome Torre de São Vicente, símbolo notório dos Descobrimentos e Lisboa. A Torre e o Mosteiro complementam-se mutuamente. Seu construtor foi Mestre Francisco de Arruda, com participação do Mestre Boytac.33

É considerada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO. A construção é uma associação duma torre medieval com um baluarte. A Torre foi construída como um edifício de tipo militar, com propósito de proteger o estuário do Tejo dos ataques dos intrusos como corsários e piratas. Faz parte dum conjunto com outras duas fortalezas – a Torre de Cascais e a Torre Velha na Margem sul. Entre os séculos XVI e XVII as suas masmorras esta a serviram como prisão aos condenados de alta classe social.

A ornamentação exterior da Torre obedece as tradições manuelinas: entre outros é decorada pelo Brasão de armas de Portugal, cruzes da Ordem do Cristo, escultura do São Vicente – padrão da cidade de Lisboa e também uma representação dum animal exótico – rinoceronte – motivo dos descobrimentos que relembra aquele que o Rei da Cambaia ofereceu ao D. Manuel I.34

Outros exemplos significativos da arquitectura no estilo manuelino em Lisboa são o Convento da Madre de Deus, Igreja da Conceição Velha, Portal da Igreja da Madalena ou o Hospital Real de Todos-os-Santos; o último, assim como a maioria de outras construções, foi completamente destruído no Terramoto de 1755.

33 De Olisipo a Lisboa, Estudos Olisiponenses, Edições Cosmos, Lisboa, 1992, p. 49 34 Disponível na Internet: http://www.torrebelem.pt/pt/index.php?s=white&pid=179&identificador= [consultado em 2.2.2016]

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3.3.2 Maneirismo

O movimento cultural e artístico que tomou lugar após a morte de D. Manuel I é conhecido como renascimento, que natural e fluentemente passou para o maneirismo. Trata-se duma fase de passagem entre o renascimento e barroco, caraterística para ele é a valorização do humanismo, natureza e cultura clássica.

Em Portugal, o exemplo mais emblemático, fusão dos dois estilos, é a Igreja de São Roque em Lisboa. A sua construção iniciada em 1555 foi concluída só durante o reino de D. Filipe II, pelo arquitecto real Filippo Terzi, engenheiro bolonhês estabelecido em Portugal. O mesmo terá dirigido a reconstrução do Terreiro do Paço, encomendada pelo Rei. A Praça apresentava o principal sítio de mercado, procissões, touradas, festejos e autos de fé, e após a rápida construção de um torreão maciço que ocupou todo o seu lado ocidental, se tornou um dos símbolos da modernidade maneirista marcada pelo barroco “austero”.

Ainda de salientar é o tratado de 1571 Da fábrica que falece à cidade de Lisboa do notável artista, humanista e arquiteto português Francisco de Holanda, no qual este constata a falta de alguns elementos arquitetónicos, também como a insuficiente integridade e coerência urbanística e propõe soluções para alguns problemas relacionados a ela, como por exemplo o abastecimento de água: foi assim proposto um sistema que tinha antecessor na construção romana: um aqueduto que possibilitasse a passagem das Águas Livres de Lisboa. A obra foi realizada quase 150 anos mais tarde, durante o reinado de D. João V no século XVIII e será lhe ainda dedicado mais espaço na tese.35

A passagem do século XVI para XVII na identidade urbana de Lisboa é marcada pelas influências castelhanas devidas à ocupação de Portugal por Espanha. O procedimento arquitetónico caraterístico para o “Siglo d´Oro” continuou até o início dos Setecentos. Tratava-se duma época difícil devido às continuas guerras de Restauração – esforço de recuperar a autonomia do país, o que se refletiu numa recessão económica e social. Porém, durante a ocupação espanhola foram construídos numerosos palácios de nobreza, mas nenhum foi conservado até à presença. O início e fim da arquitectura Seiscentista é definido pelas igrejas de

35 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 22

19 S. Vicente de Fora – imagem 4, construída ca. no ano 1580, obra importante do maneirismo - e a Santa Engrácia, (imagem 5) já a assumir o estilo barroco quase um século mais tarde.36

Imagem 4: Igreja de S. Vincente de For a Imagem 5: Igreja da Santa Engrácia

Durante o tardio reinado da dinastia filipina (os Habsburgo) na Península (século XVII) o estilo barroco era implementado e largamente difundido na Espanha; em resposta e antítese à sua grandiosidade em Portugal apareciam construções de mais simplicidade, que sublinhava a diversidade dos dois reinos; a assim-dita Arquitectura Chã ou Estilo Chão (plain architecture, George Kubler). Trata-se basicamente de maneirismo com formas robustas e simples, desprovido de adornos, em forte contraste com os ornamentados estilos manuelino e barroco típico. Em Lisboa, como exemplo dele serve a Igreja de Santa Marta. Também vale destacar que foi nesta altura que a talha dourada e os azulejos foram assumidos como elementos emblemáticos da arquitectura sacra em Portugal.37

As guerras da Restauração da autonomia de Portugal tinham acabado. Em 1652 o Rei D. João IV encomendou a construção duma cerca defensiva de Lisboa, de Santa Apolónia até Alcântara; porém, pela falta de finanças a obra caiu em esquecimento. A época a seguir foi muito mais próspera. Ocorreu um desenvolvimento favorável para a economia e arquitetura de Portugal: em

36 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 25, 26 37 Disponível na Internet: http://www.academia.edu/3825106/Sintra_ex_arte_Renascimento_Maneirismo_e_Estilo_Ch%C3%A3o [consultado em 10.3.2016]

20 1697 foram descobertos grandes jazidas de ouro, diamantes e pedras preciosas em Minas Gerais, Brasil e a sua extração apresentou um estímulo económico positivo para o país que foi progressivamente voltando à prévia fama.38

3.3.3 A cidade Joanina. Barroco

O reinado de D. João V foi marcado pelo esforço de recuperar das consequências destrutivas que o país sofreava durante as guerras de Recuperação. Este emprego foi bastante demorado e geralmente nem sempre bem sucedido, mas foi facilitado graças ao ouro do Brasil. D. João V, inspirado pelo Rei francês Luis XIV – o Rei Sol, apostava em investimento na construção de numerosos edifícios de luxo, cujo estilo era puro barroco. Porém, a estrutura das ruas e a malha urbana continuaram a ter o seu caótico e desorganizado caráter medieval.

Entre as obras mais notáveis que foram construídas nesta época destaca-se o já mencionado Aqueduto das Águas Livres: um sistema complexo que até hoje continua a servir para a captação e distribuição de água para a cidade. Trata-se duma colossal obra prima de engenharia no reinado de D. João V. A construção tem dezoito kilómetros com origem na nascente das Águas Livres em Belas, Sintra o Aqueduto continua até às Amoreiras. A sua parte emergida da terra, de quase um quilómetro de comprimento, surge no alto da Serafina e galga a vale de Alcântara até . É constituída por 35 arcos dos quais os mais altos chegam aos 65 metros de altura.

Os planos da obra foram elaborados por engenheiros Antonio Canevari, João Frederico Ludovice, Manuel da Maia, aos quais mais tarde se juntou também Carlos Mardel que acrescentou uma rede de chafarizes e fontes distribuídas pela cidade. Os últimos dois tiveram papel importantíssimo na reconstrução de Lisboa após o Terramoto de 1755. O Aqueduto resistiu firme ao desastre e continuou a ser fortificado durante os séculos, portanto o seu estilo apresenta caraterísticas de vários estilos, prevalentemente barroco e neoclassicismo.39

38 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 95 39 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 35

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Imagem 6: Aqueduto das Águas Livres

Para o desenvolvimento da identidade urbana na altura era a construção dum enorme cais a se estender pela zona ribeirinha com o passeio público e edificação concentrada, a remodelação da Fábrica da Pólvora ou o alargamento da ponte de Alcântara.

Entre outras construções emblemáticas que D. João V mandou elaborar eram o complexo de igreja, convento e palácio de Mafra por J.F. Ludovice, o Palácio das Necessidades ou a sumptuosa Ópera do Tejo, um grandioso teatro perto do Paço da Ribeira (1755), que desapareceu totalmente no Terramoto seis meses mais tarde. Todos representam exemplos de arquitetura barroca. 40

A contrastar com a decoratividade dos magníficos edifícios pontuais estava o aspecto global de Lisboa como um conjunto urbano, negligenciado e puramente medieval, que de acordo com os testemunhos contemporâneos continuou “desorganizado, sujo, em ruína, indigno de ser capital europeia, ou até cidade de África”. Apesar de ser considerada várias vezes, a sua reconstrução geral continuou a ser adiada para mais tarde.41

No fim do reinado de D. João V Portugal passou por uma recessão económica e política. A economia do país concentrava-se quase exclusivamente no negócio com o estrangeiro e a maior parte do povo vivia na pobreza: quase todos eram marinheiros ou pescadores e a agricultura

40 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 32,34 41 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 39

22 limitou-se ao cultivo de uva. Comparado com o resto de Europa, Portugal era notavelmente desenvolvido.

O filho e sucessor e D. João V - D. José I (1750-1777) começou a reinar numa época de mudanças notáveis em todo o continente.

Portugal encontrava-se enfraquecido e era necessário garantir a independência económica, neutralidade europeia e unidade na direcção do Estado. Lisboa, na altura, era uma cidade de carácter medieval, bastante desorganizada, com ruas entrelaçadas e muitos becos de aspeto labiríntico. O centro estratégico da capital continuava a ser o Terreiro do Paço, onde se encontrava a sede política e o porto principal de abastecimento da cidade.42

Imagem 7: Planta de Lisboa no ano 1650.

O Rei atribuiu a responsabilidade para todos os deveres práticos do governo do país ao homem que se tornou o símbolo de absolutismo esclarecido em Portugal - o Primeiro-Ministro

42 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 99

23 Sebastião José de Carvalho e Melo ao qual foi mais tarde atribuído o título Conde de Oeiras e Marquês de Pombal. (1699- 1782). 43

Carvalho e Melo, uma importante personagem da história portuguesa teve de enfrentar muitos problemas é responsável por várias reformas .

Imagem 8: Retrato de Marques de Pombal, gravura de C. Legrand.

Pombal entrou no cargo do Secretário do Estado do Reino em 1750. Acumulou muitas experiências inspiradoras durante o seu mandado de embaixador em Londres e Viena. Como político ao nível Europeu tinha consciência, que a pátria dele estava atrasada no desenvolvimento e para optimalizar a situação resolveu tomar severas medidas - um leque de reformas económicas, sociais e administrativas. Carvalho e Melo desde o início praticava política resoluta, mas prudente. Encarou vários obstáculos e optou por métodos radicais na luta contra os membros da oposição conservadores da aristocracia e igreja. Porém, antes do estadista conseguir construir e consolidar o seu sistema de poder, teve de encarar uma catástrofe imprevisível - o grande Terramoto de 1755.44

3.4 O Grande Terramoto de Lisboa: Factos e consequências

O Sismo de 1755, conhecido também como O Grande Terramoto de Lisboa, é considerado o maior e mais destrutivo desastre natural na história de Portugal. A observação de abanos numa grande parte de Europa – Espanha, França, Suíça, Itália do norte e até na Finlândia - leva os seismologos a estimarem que a magnitude do sismo atingiu valores entre 8,7 e 9 na escala de Richter. 45

43 Os grandes Portugueses, Vol.II. Hernani Cidade. Arcadia p. 145 44 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 99 45 Disponível na Internet: http://nisee.berkeley.edu/lisbon/ [consultado em 10.4.2016]

24 Como o epicentro do Terramoto se encontrava no fundo do Oceano Atlântico (a localidade estimada é perto do Banco de Goringe, entre 150 e 500 km a sudoeste de Lisboa )46, o sismo foi seguido por um enorme maremoto ou tsunami, que causou estragos graves nas costas da Península Ibérica ocidental e no norte de África.47

Em consequência do sismo, maremoto e os incêndios que se seguiram, da população dos 200 000 habitantes de Lisboa de então, de acordo com o relatório de Marquês de Pombal faleceram 6-8 000 pessoas; porém, de acordo com uma anónima fonte histórica da altura o número de vítimas mortais chegou aos 25-30 000 pessoas.48

Considerando as mortes provocadas pelas epidemias e fome, o número de vítimas pode ser elevado para até 40 000.49

O Terramoto começou num feriado, 1 de Novembro 1755 por volta das 9:30h de manhã. Como era Dia de Todos os Santos, em todas as igrejas da cidade eram celebradas missas assistidas pela maioria dos habitantes. De acordo com as testemunhas, o sismo demorou menos de 10 minutos, mas foi enorme. Verificou-se em três fases, sendo a última a mais intensa, destruidora e mortífera. Levantou-se muita poeira, e a Terra lançou uma quantidade de vapores sulfúricos, pelo que o céu se tornou escuro e o ar quase impossível de se respirar. Quem se conseguiu salvar, procurou refúgio à beira do Rio Tejo (a maioria dos sobreviventes concentrou- se na Praça do Comércio), na tentativa de fugir ao desastre para um espaço aberto ou perto do mar. Contudo, pouco tempo mais tarde foram mortos pelas grandes ondas de tsunami. As águas do Tejo supostamente atingiram 6 metros de altura e avançaram a penetração delas é estimada para até onde hoje é o Teatro do Rossio inundando e destruindo as ruas e edifícios da Cidade Baixa – freguesia de S.Paulo.50 Como o dia era frio e festivo, as pessoas deixaram acendidas as velas nas igrejas e lareiras das casas, o que causou amplos incêndios com consequências destruidoras por volta de toda a cidade. Os incêndios demoraram pelo menos 5 dias, pois todos os sobreviventes fugiram e na cidade não sobrou ninguém para os apagar.51

46 Disponível na Internet: http://www.historiadeportugal.info/terramoto-de-1755/ [consultado em 10.4.2016] 47 Disponível na Internet: Diário de Notícias: Foi assim o grande sismo de 1755 http://www.dn.pt/dossiers/cidades/sismos/noticias/interior/foi-assim-o-grande-sismo-de-1755-1449753.html [consultado em 10.4.2016] 48 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 101 49 BOURDON,Albert-Alain, História de Portugal , Presses Universitaires de France, Livraria Almedina,Coimbra 1973, p. 111 50 MEDONÇA, Joaquim José Moreira , História Universal dos Terremotos,1758. p.114,115,116, Disponível na Internet : https://ia600200.us.archive.org/8/items/historiauniversa00mend/historiauniversa00mend_bw.pdf [consultado em 12.4.2016] 51 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 100, 101

25 4. O DESENVOLVIMENTO APÓS O TERRAMOTO DE 1755

O Terramoto destruiu de 85% dos edifícios de Lisboa, incluíndo a maior parte dos exemplos da distintiva arquitetura Manuelina do século XVI.

O património cultural sofreu grandes perdas – durante o desastre foram destruídas ou irremediavelmente danificadas 32 igrejas (entre outras a Catedral de Lisboa, Igreja da Misericórdia, as Basílicas de São Vicente de Fora, São Paulo e Santa Catarina), 60 capelas, 31 mosteiros, 15 conventos e 33 palácios da grande nobreza. Perderam-se, entre outros, os hospitais da cidade, o Palácio Real, o Arquivo Real com os relatórios das explorações de Vasco de Gama, Cristobal Colombo e outros navegantes; foi destruído o Cais da Pedra, a Casa da Índia, várias bibliotecas – perderam-se mais de 70 000 volumes e obras de arte, entre as quais se encontravam também pinturas de Rubens e Tiziano. A Ópera do Tejo, inaugurada meio ano antes do Terramoto, foi completamente queimada. 52 As ruínas da Igreja do Convento do Carmo ficaram preservadas como uma recordação da catástrofe até hoje.

O rei José I junto com o seu ministro Marquês de Pombal e outros membros da corte salvaram-se só devido ao facto que de altura se encontrarem fora da cidade, pois foram passar o feriado ao bairro de Santa Maria de Belém, onde os efeitos do terramoto foram menos destrutivos. 53

Imagem 9 : Igreja do Convento do Carmo

52 Disponível na Internet: https://aventar.eu/2010/02/07/o-terramoto-de-1755-e-a-cultura-europeia-da-epoca/ [consultado em 29.4.2016] 53 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 101

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4.1 A Cidade Pombalina

O Terramoto foi de certeza a maior catástrofe do século, e provocou desespero na altura de Iluminismo. Influenciou o desenvolvimento político, económico e cultural e „deu ao Marquês de Pombal a oportunidade de mostrar a sua capacidade dirigente e eficiência executiva: a maneira como enfrentou a situação decorrente da catástrofe fez dele o homem forte do rei.“ 54

Depois da catástrofe surgiu em Lisboa um grande pânico entre os sobreviventes: as tentativas de reencontrar parentes e salvar bens causaram um grande caos. Violência, ataques e casos de furtos eram comuns. O Marquês de Pombal logo encarou a situação proativamente e produtivamente. No espírito da ideia, que se acredita ele pessoalmente ter pronunciado, “E agora? Enterram-se os mortos e cuida-se dos vivos” era necessário acalmar a desordem, tratar dos feridos e providenciar alimentos e abrigo provisório à população que ficou repentinamente desprovida de tudo. Enterraram-se rapidamente as vítimas mortais, impedindo a difusão de epidemias de peste e outras doenças. Proibidas eram também as viagens para fora da cidade sem autorização e construções de quaisquer obras. 55 Foi introduzida a pena da morte para quem fosse pilhar nas ruínas.

Ainda de salientar é o inquérito a nível nacional ordenado por Pombal, com o objetivo de recolher informações sobre as experiências do povo relacionadas com o terramoto. Incluía perguntas sobre a duração do terramoto, número de edifícios destruídos em cada freguesia, comportamento estranho dos animais, atividade incomum observada nos mares, rios e poços, as eventuais repetições do fenómeno etc.

Este questionário é considerado um dos elementos fundamentais que marcaram o início da existência da ciência de sismologia, pois foi a primeira tentativa de objectivamente descrever as dadas circunstâncias. Graças a ele foi mais tarde possível reconstruir a catástrofe numa óptica científica.56

54 RODRIGUES,António Simões, História de Portugal em Datas, Pinter Portuguesa, Ind. Gráfica, Lda., 1994, p. 165 55 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 42 56 Inquérito de Marques de Pombal, Disponível na Internet: https://japaovslisboa.wordpress.com/inquerito-de- marques-de-pombal/ [consultado em 4.5.2016]

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4.1.1 As propostas de Manuel da Maia

Já bem antes do Terramoto existia uma necessidade de modernizar a cidade de Lisboa, que se encontrava num estado obsoleto e sujo, não digno da sua função duma importante capital europeia. Portanto, duma perspectiva pode-se assumir que o desastre serviu como um catalisador do procedimento da reconstrução. Marquês de Pombal encarregou o engenheiro-mor do Estado, general Manuel da Maia com a tarefa de estudar a empresa. O experiente engenheiro militar elaborou um documento que chamou de Dissertação, um dos tratados mais notáveis da urbanística europeia. Dividido em 3 partes; na primeira, já um mês depois da catástrofe, o autor apresentou cinco hipotéticos planos para a recuperação da capital: a) reconstruir a cidade de modo igual como era antes, aproveitando algum do material das ruínas; b) reconstruí-la igual, só com ruas mais largas; c) igual, só com uma diminuição da altura dos edifícios em pervencias de danos causados por outras catástrofes eventuais; d) criar planos completamente novos da reedificação e aplicá-los em toda a parte central da cidade, ou então,

e) abandonar as ruínas e transferir o núcleo da cidade para Belém, bairro marginal a poente que não foi tão afetado pelo terramoto.57

O próprio da Maia inclinava-se para a última eventualidade; porém, Pombal e o Rei optaram pela solução de reedificação do terreno original de acordo com a quarta proposta. Para a realização deste plano era necessário eliminar as ruínas, levantar o nível do terreno e prepará-lo para a construção e assegurar a recompensação justa para os proprietários originais das parcelas em questão, em terrenos ou em dinheiro. Pombal para o efeito estabeleceu a assim-dita “Casa dos Riscos das Reais Obras Públicas” – uma equipa de arquitectos e engenheiros, que comandou todas as operações em causa e formou uma nova, rigorosa e disciplinada geração de arquitectos.

57 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 43

28 Manuel da Maia então considera uma «planta nova com as ruas livremente desenhadas, prevendo para cada uma dessas ruas a mesma simetria em portas, janelas e alturas, conforme desenhos que o arquitecto do Senado da cidade, o capitão Eugénio dos Santos e Carvalho fornecerá.» 58 ou seja, entre os seis traçados apresentados por 3 vários autores e os colaboradores deles, o de Eugénio dos Santos ganhou a preferência de Pombal e foi executado com pequenas alterações nos detalhes. Após a sua morte em 1760, capitão dos Santos foi substituído por major Carlos Mardel.

O complicado processo da definição da nova identidade urbana é oficialmente suportado pela legislação do Pombal, no alvará de 12 Maio de 1758 .O documento de lei fundamental para a realização que estabeleceu as regras que se devem respeitar para a aplicação do novo urbanismo, de acordo com o plano aprovado de Eugénio dos Santos, assim como os métodos de indemnização dos proprietários originais dos terrenos.59 Esta foi a primeira vez, na história de Portugal sob domínio cristão, Lisboa foi programada e edificada, dando origem a um tratado renovado e arejado da capital de um país que se pretendia através de profundas reformas sob diferentes aspectos (económico, político, cultural, social). 60

4.1.2 O Plano do Eugénio dos Santos

O plano proposto por este arquitecto, acrescentado mais tarde por inovações de Carlos Mardel, correspondia à solução urbanística escolhida por Pombal e obedecia ao requisito de manutenção da localização tradicional das igrejas paroquiais, capelas e freguesias da cidade. Em termos de distribuição no espaço, a planta encaixa o centro da cidade na zona da Baixa entre as colinas de S. Francisco e do Castelo, com a parte principal situada entre o Terreiro do Paço e o Rossio; a zona ribeirinha estende-se até ao bairro de S.Paulo à poente. O espaço é definido por uma rede complexa de ruas retas longitudinais e transversais, o que deve garantir uma maior dinamização urbanística do conjunto. Ao contrário do caótico traçado

58 FRANÇA, José-Augusto, A Reconstrução de Lisboa e a arquitectura pombalina, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1987, p.18 59 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 43 60 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 44, 45

29 anterior, o novo apresenta um sistema retilíneo e ortogonal de distribuição dos quarteirões e outros componentes urbanos. O Terreiro do Paço na área ribeirinha ganha uma forma de um quadrado quase perfeito. As suas dimensões, em comparação com a praça precedente, foram ligeiramente reduzidas, e proporcionalmente apresentam o dobro da área da Praça do Rossio.61

Imagem 10: Planta de reconstrução da Baixa de Lisboa por Eugénio dos Santos eCarlos Mardel, 1755-58.

Imagem 11 : Lisboa hoje

61 FRANÇA, José-Augusto, A Reconstrução de Lisboa e a arquitectura pombalina, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1987, p. 26

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As duas praças comunicam pelas assim ditas três ruas “nobres”: Rua da Áurea, Augusta e Bela da Rainha (a Rua da Prata de hoje). Todas iniciam no Terreiro do Paço; as primeiras duas desembocam na praça do Rossio, enquanto a da Prata, como foi planeado, daria até a fachada lateral do renovado Hospital Real. Porém, este acabou por não ser reconstruído e cedeu lugar a uma nova praça, paralela ao Rossio, onde foi estabelecido um mercado – a Praça da Figueira. Desta partem mais duas ruas paralelas às primeiras três, a Nova da Princesa (dos Fanqueiros) e da Madalena, que são de comprimento igual. Estas são consideradas as “principais” ruas do conjunto. Da última delas partem as principais ruas transversais: contando do Terreiro do Paço, a primeira é a Rua Nova d´El-Rei (do Comércio), que adoptou a direcção da antiga e célebre Rua Nova dos Ferros; a esta são paralelas as ruas de S. Julião e da Conceição.62 Eugénio dos Santos na sua nova abordagem, obviamente, considerou as medidas a tomar para prevenir consequências de possíveis terramotos no futuro. O seu traçado garantiu as condições para a criação de espaços amplos, iluminados e soalheiros. A organização de espaços em formas geométricas simples providencia a orientação fácil, e na eventualidade de próximas catástrofes naturais, a fuga apressada de quem estiver presente na zona. Os quarteirões são orientados prevalentemente no sentido Norte-Sul, que é a orientação habitual dos abalos durante a atividade sísmica, reduzindo assim a área da fachada a eles exposta. Graças ao facto da reconstrução ter sido executada em cima dos entulhos das demolições, foi criada uma plataforma que serve como pervença de inundações nas ruas causadas pelas altas marés. Em relação à altura dos novos edifícios, esta era limitada pela altura dos prédios do Terreiro do Paço, o que servia como prevenção do possível colapso sobre as ruas. Pelas razões de maior segurança, a largura idêntica das ruas principais foi determinada para 60 palmos (13,2m) e aquela das secundárias para 40 palmos (8, 8m). De cada lado das ruas é incluído um passeio para a circulação dos peões, com 10 palmos (2,2m) de largura. As regras e restrições comuns aplicavam-se tanto às construções públicas, como às privadas.

62 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 45

31 Pela primeira vez foi estudada também a problemática da gestão de resíduos e esgotos domésticos. De acordo com o plano de Eugénio dos Santos, no meio das ruas foi instalada uma cloaca com alvo de recolher os esgotos provenientes de cada prédio.63

Esta malha urbana moderna, dinâmica e funcional é uma obra devida a Eugénio dos Santos, elaborada antes que Carlos Mardel se juntasse ao projecto. A sua Baixa servia de exemplo também para a reedificação do resto da cidade, como um plano padrão. Também, a cidade continuou a expandir-se e outros focos de urbanização foram reconstruídos seguindo este exemplo, embora em forma mais modesta: entre outros se trata do bairro da Cotovia, as Amoreiras onde foi estabelecida uma unidade fabril, o São Bento, a zona junto a Sé, o São Mamede, o sítio dos Caetanos ou a Praça da Alegria no novo limite da cidade a Norte. Ainda de salientar é o facto, que o estilo pombalino de urbanização e construção ganhou simpatias e foi sucessivamente aplicado em várias cidades portuguesas (por exemplo, Vila Real de Santo António, Algarve) e também brasileiras (ex. Belém no Pará e Rio de Janeiro).64 Passemos em revista em seguida algumas das obras e pontos de referência desta Lisboa Pombalina.

63 MIRANDA, Frederico Antunes Sanchez, Caraterização dos Prédios Pombalinos da Baixa de Lisboa ,Dissertação para obtenção do grau de mestre em Mestrado em engenharia civil – Perfil de construção pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Junho de 2011, Disponível na Internet: https://run.unl.pt/bitstream/10362/5964/1/Miranda_2011.pdf [consultado em 15.5.2016] 64 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 46, 47

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4.2 As Obras Caraterísticas da Época

4.2.1 As Praças Principais

As duas praças mais importantes assumem-se como herdeiras das suas antecessoras.

Terreiro do Paço – Praça do Comércio

O Terreiro do Paço é o conjunto mais emblemático da Reconstrução no estilo pombalino. Estruturalmente trata-se dum retângulo definido por três alas com galerias e arcos, a criar uma forma de letra U– a Nascente, Norte e Poente; o lado de Sul dá direto acesso ao rio Tejo, era o mais importante núcleo de comércio em Lisboa. A sua tipologia urbana é a da “Place Royale”, paradigma francês, aplicado em várias praças europeias. No centro geométrico da Praça encontra-se a estátua equestre do rei D. José elaborada por Joaquim Machado de Castro. Junto com o arco de triunfo, o Arco da Rua Augusta, que marca o centro da ala Norte do conjunto, ambos enfatizam a monumentalidade e nobreza do conjunto. No Terreiro do Paço sedeavam as instituições governamentais e judiciais, assim como os económicos – a Bolsa e Alfândega. No espírito da ideologia do Iluminismo pombalino, o Terreiro do Paço foi baptizado de Praça do Comércio. Com mais de 35 000 m2 é até hoje uma das maiores praças da Europa.65

Imagem 12: Praça do Comércio. Alas Norte e Nascente.

65 Sistema de Informação para o Património Arquitectónico – SIPA. Terreiro do Paço. Disponível online: http://www.monumentos.pt/site/app_pagesuser/SIPA.aspx?id=6491 [consultado em 16.5.2016]

33 Rossio

A Praça de Dom Pedro IV, mais conhecida por Praça do Rossio, foi reconstruída de acordo com o plano do major Carlos Mardel. O desenho mais subtil da praça contrasta com a monotonia dos edifícios das ruas intermediárias. A novidade mais notável é a introdução dum sistema de telhados duplos de águas sobrepostas, ditas germânicas segundo a sua origem, que fornece ao Rossio uma maior complexidade arquitectónica e visual. No resto dos telhados da Baixa se aplica o sistema tradicional português.66

Depois da Praça do Comércio se tornar o mais importante fórum de Lisboa, o papel social do Rossio enfraqueceu; porém, continuou a ser considerada uma “praça nobre”, assim como um importante elemento da zona central da cidade.67

Imagem 13: Vista à Praça D. Pedro IV hoje.

4.2.2 O Passeio Público

À saída da Baixa de Lisboa, a norte do Rossio Pombal encomendou a arquitecto Reinaldo Manuel a construção de uma alameda ajardinada duma maior importância urbana: A construção foi chamada de Passeio Público apesar de ter restrições de utência um tanto apertadas – o objeto era cercado por muros e portões e o acesso a ele era destinado apenas aos membros de alta

66 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 49 67 FRANÇA, José-Augusto, A Reconstrução de Lisboa e a arquitectura pombalina, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1987, p. 37

34 sociedade, a burguesia citadina. A circulação generalizada do resto do povo foi só permitida no século XIX. Com a criação do Passeio criaram-se as bases da futura Praça dos Restauradores e a parte inferior da Avenida de Liberdade de hoje.

O Passeio discretamente apresenta um contraste com a estrutura severa da cidade pombalina iluminista– a presença da natureza nele possivelmente sugere o futuro romantismo.68

Imagem 14: Litografia do interior do Passeio Público por A. Castro.

4.2.3 A Caraterização dos Edifícios Pombalinos – os Prédios de Arrendamento

O projeto final do típico prédio pombalino é resultado duma colaboração entre Manuel da Maia e Eugénio dos Santos. Genericamente, o prédio pombalino como entrou na história da arquitectura portuguesa é de desenho simples, económico e forte, sem ornamentação, que serve para uma cidade “entregue a comerciantes”. Tornou-se um dos símbolos da política burguesa, típica para o governo de Pombal.

É uma construção inserida em quarteirões, pois a sua estrutura é pensada em conjuntos de edifícios. Trata-se dum imóvel com lojas e oficinas ao rés-do-chão construído em pedra, a sua fachada tem quatro pisos que servem como espaços de habitação: o primeiro piso é de janelas “rasgadas” (ou de sacada em continuidade), segundo e terceiro tem janelas “de peitoril”; as do

68 FRANÇA, José-Augusto, A Reconstrução de Lisboa e a arquitectura pombalina, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1987, p. 38

35 quarto piso – de águas furtadas – são de colocação irregular. A fachada é em cor amarela ocre ( (“jalde”). Figura xy. 69

No interior, dum pequeno átrio sobem escadas estreitas que ligam o piso térreo com os superiores. As escadas do rés-de-chão por razões de segurança contra incêndios são feitas em pedra; o material nos pisos é madeira. O interior tem lambris de azulejo simples duma fábrica pombalina no Rato. Os espaços interiores são bastante compartimentados; fogões de aquecimento e instalações sanitárias são ausentes.70

Imagem 15: Modelo genérico dum prédio pombalino.

Os prédios, no entanto, são divididos em três principais variantes distintas (designadas por A, B e C), conforme a posição de cada qual delas na hierarquia de ruas menos ou mais importantes (principais ou “nobres”, secundárias, travessas).71

Os prédios de tipo A, os mais ricos, as vergas da cantaria das janelas nele são recortadas e em geral são mais ornamentados A variante A é caraterística para as ruas nobres que sobem da Praça do Comércio para o Rossio: Rua da Augusta, do Ouro e da Prata, assim como a Rua de S. Paulo,

69 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 48,49 70 Miranda, Frederico Antunes Sanchez, Caraterização dos Prédios Pombalinos da Baixa de Lisboa ,Dissertação para obtenção do grau de mestre em Mestrado em engenharia civil – Perfil de construção pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Junho de 2011, p. 27 , Disponível na Internet: https://run.unl.pt/bitstream/10362/5964/1/Miranda_2011.pdf [consultado em 18.5.2016] 71 FRANÇA, José-Augusto, A Reconstrução de Lisboa e a arquitectura pombalina, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1987, p. 40

36 (ou seja aquelas que se encontram nos terrenos que na altura eram de propriedade do próprio Pombal). Os prédios de rendimento de tipos B e C, ou os híbridos deles são mais simples e modestos em comparação aos outros, e foram distribuídos pelas ruas secundárias e travessas.

Estas ruas como era comum já na Idade Média albergavam os ofícios e mesteres convenientes para uma cidade com comércio em plena expansão e daí os seus nomes: Rua dos Fanqueiros, dos Ourives, dos Correeiros, dos Douradores, dos Capelistas, dos Sapateiros, dos Retroseiros.

Todos os edifícios foram construídos com a chamadas “gaiola”, o revolucionário sistema de resistência aos terramotos, apresentado na seguinte parte da tese.

4.2.4 A Gaiola Pombalina

Um importante denominador comum para todos os edifícios pombalinos é a presença dum complexo sistema anti-sísmico por dentro das paredes, a “gaiola pombalina”. O apoio interno da gaiola possibilita a aplicação de paredes mais finas e flexíveis, o que contribui para uma maior estabilidade do edifício, também como uma elevada resistência aos abalos no caso de atividade sísmica.

Trata-se duma complexa estrutura tridimensional de alguma elasticidade, construída por paneis frontais planos, constituídos por um conjunto de triângulos em madeira. O complexo com estas propriedades físicas é caraterizado pela boa capacidade de resistir tanto às forças horizontais como às verticais.

A fim de verificar que em caso de terramoto o sistema teria o comportamento desejado, o Arquitecto Carlos Mardel organizou um exame sísmico, sujeitando uma maquete da gaiola aos abalos criados pela marcha duma unidade militar, que imitava os efeitos do desastre. 72 73

72 Apesar da gaiola ter tido antecessores seus parecidos e menos elaborados, continua a ser um marco de importância mundial na história da engenharia sísmica, pois trata-se da primeira aplicação de técnicas anti-sísmicas à escala duma cidade inteira. Disponível na Internet: http://15wceesslatin.blogspot.pt/2012/09/construcao- pombalina-patrimonio.html [consultado em 20.5.2016] 73 Miranda, Frederico Antunes Sanchez, Caraterização dos Prédios Pombalinos da Baixa de Lisboa ,Dissertação para obtenção do grau de mestre em Mestrado em engenharia civil – Perfil de construção pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Junho de 2011, p. 32 , Disponível na Internet: https://run.unl.pt/bitstream/10362/5964/1/Miranda_2011.pdf [consultado em 18.5.2016]

37

Imagem 16: Sistema estrutural anti-sísmico conhecido por gaiola – Maqueta em madeira.

Concluindo, para os prédios de arrendamento em estilo pombalino é típica a ideia de conjunto: o conceito de prédio individual cede lugar ao conceito de bloco. As propriedades caraterísticas dos edifícios deste estilo são simplicidade, economia, funcionalidade, conveniência, utilidade, estabilidade elevada, ausência de todo o supérfluo incluindo ornamentos e rigor.74

4.2.5 Outros prédios

Outra tarefa importante que Manuel da Maia teve de encarar durante a elaboração dos planos da cidade foi a reconstrução das casas nobres e os edifícios sacros. Por causa do Terramoto quase toda a nobreza perdeu as suas instalações palacianas e devido à situação económica em que se encontrava a reedificação tornou-se extremamente demorada. Por isso, no período da Reconstrução é raríssimo ver erguer palácios de nobreza. Os edifícios deste tipo que foram então construídos eram regulamentados para não serem dispendiosos ou prejudicarem o ordenamento funcional da cidade. A ornamentação era modesta e limitava-se à zona do portão e janelas. (O Palácio Valada-Azambuja, Palácio Castelo Melhor) 75

74 FRANÇA, José-Augusto, A Reconstrução de Lisboa e a arquitectura pombalina, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1987, p. 43 75 FRANÇA, José-Augusto, A Reconstrução de Lisboa e a arquitectura pombalina, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1987, p. 44

38 Em relação às construções sacras, obedecendo à condição da localização das principais, essa ficou inalterada. Porém, a quantidade das igrejas diminuiu notavelmente. As menos danificadas foram restauradas seguindo um esquema serliano, procurando encontrar um compromisso entre a concepção original com os novos elementos pombalinos (Nossa Senhora da Penha, Santo Estêvão). As reconstruções fortemente danificadas foram atualizadas conforme o estilo neoclássico (Mercês, Mártires, Encarnação, Madalena, Joaquim da Oliveira, Santo António da Sé entre outros.). Constata-se que a arquitectura sacra ficou um tanto limitada pela sujeição urbanística pombalina.76

Imagem 17: Palácio Castelo Melhor

O Significado da Reconstrução

As obras de reedificação de Lisboa sob a supervisão da Casa do Risco prosseguiam a um ritmo excepcionalmente acelerado; o avanço rápido da construção foi facilitado devido ao sistema de pre-manufacturação e de todos os componentes e materiais de obra (ferragens, carpintarias, cantarias etc.) nas fábricas especializadas, que chegavam à obra já prontos para serem aplicados. Em termos de capital económico, o percurso rápido da reconstrução da cidade foi possibilitado também graças à política de imposto de 4% sobre os bens importados e

76 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 50

39 financiamento privado da burguesia que fazia investimentos e ativamente participava na construção dos edifícios de arrendamento.77 A sofisticada legislatura interligou as vertentes política e urbanística da empresa, respeitando as perspectivas sociais, económicas, ecológicas e culturais da cidade. O resultado foi uma nova organização urbanística que valorizava principalmente o interesse público, de acordo com a ideologia de esclarecimento que Pombal procurou implementar: além do incremento da ordem e segurança, com o novo planeamento surgiu uma fase quando se começou a dar uma maior ênfase a saúde pública – ruas muito mais iluminadas e arejadas apresentam um benefício para o bem- estar, assim como a mencionada introdução da canalização, ou os primórdios da gestão de resíduos em forma de castigos para quem fosse espalhar imundícies pelos espaços públicos etc.78 Após a morte de D. José, Marquês de Pombal, odiado pela aristocracia foi imediatamente retirado, mas deixou reedificada mais de metade de Lisboa. A empresa pombalina é um dos casos mais importantes na história do urbanismo europeu. A realização desta rigorosa Reconstrução significa para a arquitectura e cultura da cidade uma passagem fundamental entre as etapas medieval e barroca para uma moderna e progressiva.79

4.3. Lisboa na época do séc. XVIII e XIX

Após a queda de Pombal , a cidade de Lisboa não deixou estar sujeito de uma edificação dinâmica: os restantes trabalhos na planificada reconstrução após o terramoto foram paralisados devido à parcimoniosa política fiscal aplicada pelo governo, em consequência do clima revolucionário que dominava na Europa, com elevado risco de conflitos militares era considerado preferível cortar as despesas supérfluas.

Portugal também perdeu as riquezas provenientes do Brasil, que declarou independência em 1825.80 Porém, a classe nobre voltou ao poder o que se refletiu na rápida edificação de palácios da aristocracia, casas nobres que se erguiam entre as ruínas das suas antecessoras. Começaram a ser construídas obras em várias zonas da cidade onde a edificação até lá era escassa ou mesmo

77 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 52 78 FRANÇA, José-Augusto, A Reconstrução de Lisboa e a arquitectura pombalina, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1987, p. 67 79 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 53 80 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 132

40 inexistente: Lapa, Cotovia, Amoreiras ou S. Bento e .81 Esta época era caraterística pela ativa implementação de espaços verdes nas cidades. Em Lisboa foram plantados o Jardim do Príncipe Real, o da Estrela e o do Campo Grande. O Passeio Público pombalino ganhou novas decorações como lagos, cascatas e canteiros de flores. 82

Ainda de salientar são os miradouros da cidade: Lisboa, graças à sua posição sob várias colinas, oferece óptimas vistas panorâmicas a partir dos locais nos pontos elevados chamados miradouros. Trata-se de lugares muito populares de turismo e lazer . Entre os mais famosos se destacam o Miradouro de São Pedro de Alcântara, o de Santa Luzia, de Santa Catarina, do Castelo de São Jorge etc.83

O estilo arquitectónico dominante na virada dos séculos XVIII e XIX foi o barroco que gradualmente passou para o neoclassicismo – um estilo de edificação simples, equilibrado e utilitário, com fachadas inspiradas no modelo de templos grego-romanos da antiguidade . Os edifícios notáveis construídos na altura apresentam numerosas vezes uma fusão dos dois estilos. Um exemplo notável é a Basílica da Estrela, igreja encomendada pela Rainha D. Maria I.84 Outras obras importantes construídas nesta época, de estilo neoclássico quase puro são por exemplo o Teatro de D. Maria II no Rossio, Teatro de São Carlos ao ou o Palácio Nacional da , cuja construção foi efetivamente concluída quase após 200 anos, e em 1861 se tornou a sede da Residência Régia, que anteriormente passou por várias transferências.

A cidade depois de perder grande parte da sua população após o Terramoto de 1755 foi gradualmente reabitada; de acordo com os censos realizados durante os Oitocentos conta já com cerca de 200 mil habitantes. A sua área foi amplificada de cerca de 40% e estendia-se então dentro dum perímetro protegido por muros com portas com propósito alfandegário. Considerando de nascente a poente, a linha dos limites da cidade começava na Cruz da Pedra, continuava a subir pelo Alto de S. João (onde foi criado um cemitério), por , Picoas, S.

81 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 55, 58 82 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 61 83 Disponível na Internet: http://www.cm-lisboa.pt/visitar/lazer-entretenimento/miradouros [consultado em 25.6.2016] 84 Disponível na Internet: http://www.monumentos.pt/site/app_pagesuser/SIPA.aspx?id=10613 [consultado em 25.6.2016]

41 Sebastião de Pedreira, Prazeres até Alcântara. Mais tarde, foram acrescentados a este perímetro também os bairros de Belém, Algés e .85

É também a partir desta altura que Lisboa adoptou a prática de indicar os nomes das ruas nas esquinas, seguindo o padrão de todas as importantes cidades capitais da Europa. De acordo com as estatísticas do primeiro Itinerário Lisbonense (1804) a cidade compreendia 636 ruas, travessas e calçadas, e 58 largos e praças.86

Imagem 18: Planta de Lisboa, século XIX

No ano 1834, na resistência contra os poderes totalitários que se desenvolviam em toda a Europa, instalou-se em Portugal o regime liberal , o que naturalmente resultou em impactos na identidade urbana de Lisboa. A fisionomia dos conventos foi mudada notavelmente em consequência da extinção das ordens religiosas: 65 conventos tornaram-se em hospitais, tribunais, academias bibliotecas ou colégios. O mosteiro beneditino construção no estilo neoclássico, o Palácio do São Bento no bairro de Santos se tornou a sede da Assembleia da República.

O espírito de forte nacionalismo, típico para a época, refletiu-se nos monumentos a homenagear os heróis do País. O mais famoso destes será a escultura consagrada a Camões erigida num largo urbanizado a sul do Bairro Alto, hoje com o mesmo nome do escritor. Aos

85 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 63 86 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 59

42 Restauradores da independência nacional foi dedicado um terreno que mais tarde se tornou o início da Avenida de Liberdade. Foi acabado o Arco da Rua Augusta, de acordo com a proposta de Eugénio dos Santos, com um acabamento moderno.

O quotidiano dos habitantes de Lisboa também ganhou novas dimensões: tornava-se cada vez mais produtiva e movimentada, pois foram criados os primeiros transportes públicos, o que contribuiu à dinamização de trabalho e espaços A cidade encontrava-se num período de revolução e reconstrução, cada vez mais dinâmica. Esta tendência perseverou e tornou-se ainda mais marcante nas épocas seguintes.87

4.4 Lisboa capitalista à virada dos séculos XIX e XX; o desenvolvimento até os anos 30

A área ocupada pela cidade e a sua população continuaram a expandir-se. Foram anexados a ela os bairros de Belém, Algés, Buraca, , Charneca, Ameixoeira, Olivais, Moscavide e Xabregas e de acordo com o censo de 1900 já tinha uma população de 356 mil habitantes. A época foi marcada por alguma industrialização e a ascensão da burguesia citadina era cada vez mais intensa, em forte contraste com aprofundada pobreza e desgraça das classes operárias. O poder da monarquia gradualmente enfraquecia e realizavam-se várias greves de trabalhadores.

Estes desenvolvimentos resultaram na necessidade de realizar intervenções para dinamizar e modernizar as estruturas tradicionais da urbe. O aspeto e a tipologia das novas construções urbanas e arquitectónicas eram habitualmente inspiradas pelas tendências francesas: as novas ruas principais são de aparência notavelmente similar aos amplos boulevards ou avenues de Paris (ex. Champs-Elysées). Em resposta aos numerosos casos de doenças como colera foram elaborados os modernos sistemas de canalizações, esgotos e saneamento de água.

O centro cultural de Lisboa é transferido para o Chiado onde são estabelecidos clubes literários, lojas de moda e cafés que se tornaram emblemáticos por terem sido lugar de concentração dos membros da inteligência da cidade: escritores, artistas, ativistas políticos etc. –

87 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 70

43 destaca-se o famoso café Brasileira com a sua colecção de pinturas. Também foi difundida a aplicação de calçada portuguesa nas ruas típica para o século XVI. Como veremos, durante as últimas décadas do século XIX Lisboa ganhou uma série de edifícios a imitar os estilos arquitetónicos históricos.88

Uma vez realizadas as transformações mais importantes, a estrutura urbana de Lisboa já começou a ganhar muita semelhança ao presente aspecto da cidade89.

Uma operação fundamental neste assunto foi a abertura da Avenida de Liberdade, desenhada por Ressano Garcia em 1886. A sua construção começou a ser exigida e planeada já á duas décadas antes e implicou a demolição do murado Passeio Público que se encontrava em conflito com as necessidades urbanas da cidade moderna. Trata-se dum importante marco da expansão de Lisboa para Norte. A artéria de 90m de largura e 1276 m de comprimento liga a nova Praça dos Restauradores com uma ampla rotunda consagrada a Marquês de Pombal na ocasião do 100º aniversário da sua morte, com um monumento erguido 50 anos mais tarde.90

Imagem 19: Avenida de Liberdade, Ressano Garcia em 1886

Ao longo da avenida ergueriam edifícios de vários estilos e funções. A Norte da rotunda foi estabelecido um jardim – o Parque da Liberdade. A seguir para Ocidente continua a ampla via de trânsito, que passando as zonas de Picoas, Saldanha, Campo Pequeno – onde foi edificada a sumptuosa Praça de Touros Monumetal do Campo Pequeno no estilo neo-árabe - e Campo Grande cria a comunicação do centro de Lisboa com o Alvalade. Trata-se da construção na

88 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 154 89 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 71, 73 90 Disponível na Internet: Camara municipal de Lisboa http://www.cm- lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/avenida-da-liberdade [consultado em 15.6.2016]

44 nova freguesia e infraestrutura das . A realizada construção, ampla e consistentemente projectada, marcou uma nova época no desenvolvimento de Lisboa,: a cidade ribeirinha que durante séculos se desenvolvia prevalentemente ao longo do rio, no início do século XX ganhou uma moderna identidade urbana e comunicação com o Norte.91

Uma importante contribuição para o desenvolvimento das avenidas deve-se ao notável arquitecto Norte Júnior, famoso por ter projetado vários edifícios modernos na cidade, por exemplo a Casa-Atelier do Malhoa, o prédio do Café Nicola ao Rossio ou alguns edifícios na Avenida de Liberdade, entre outros no país todo.92

A Reconstrução pombalina também ganhou um prolongamento que se definia num outro das grandes vales de Lisboa: atrás do Rossio, a partir da zona da Mouraria medieval foi planeado um novo traçado de comunicações. Começando com a rua Nova da Palma que passa pelo Intendente e Anjos segue na rua de Almirante Reis e de Arroios terminando na Praça do Chile, apresentaram uma nova oportunidade de aproveitar os terrenos bastante centrais. Logo após a conclusão da avenida foram edificados bairros na proximidade e foi desenvolvido o plano da rede de vias, que futuramente possibilitaram a ligação entre a zona de António Agosto de Aguiar para o , passando por Telheiras, Luz, e Campo Grande.

Os dois programas contemporâneos– o das Avenidas Novas e do Almirante Reis eram distintos por serem destinados a diferentes classes sociais: o primeiro para as classes mais ricas, o segundo para aquelas médias. A diferenciação ao longo dos anos manteve uma certa importância ao nível sociológico.93 Para a urbanização popular foi importante a edificação ao Calvário e resto de Alcântara, e mais tarde no Campolide.

Importante é mencionar a dinamização de circulação entre várias cidades devida ao progresso o desenvolvimento da infraestrutura: foi elaborada uma rede de caminhos de ferro, que partem de Lisboa das novas estações ferroviárias – de Santa Apolónia e do Rossio (em estilo neo- manuelino com elementos expressivos de arquitectura de médio-Oriente) Pelas ruas de Lisboa começaram a circular funiculares em várias montes (elevador da Lavra, da Bica ou Glória), dos quais muitos funcionam até hoje. Em 1919 em Alverca foi inagurado um primordial aeroporto, o Campo Internacional de Aterragem.

91 FERNANDES, José Manuel, Lisboa-Arquitectura & Património, Livros Horizonte,LDA, Lisboa, 1989, p. 37 92 FERNANDES, José Manuel, Lisboa-Arquitectura & Património, Livros Horizonte,LDA, Lisboa, 1989, p. 80 93 FERNANDES, José Manuel, Lisboa-Arquitectura & Património, Livros Horizonte,LDA, Lisboa, 1989, p. 83

45

Entre os edifícios notáveis da altura se destaca o Elevador de Santa Justa (1901) em estilo neo-gótico, que liga a rua do Ouro com a rua do Carmo, projectado pelo reconhecido engenheiro francês Raoul Mesnier du Ponsard. O elevador foi classificado como Monumento Nacional (2002) e é o único elevador vertical em Lisboa. Até hoje continua a prestar serviço.94

A Central Tejo – edifício de central eléctrica que abastecia a cidade de energia, foi um exemplo de arquitectura industrial; na proximidade dele – Alcântara, Santo Amaro, Bom Sucesso - se desenvolveram as assim ditas zonas industriais. Hoje é sede do Museu da Electricidade.

A acima mencionada neo-românica Casa de Malhoa por Norte Jr foi um dos primeiros edifícios a ganhar o Prémio Valmor de Arquitectura (Prémio instituído em 1898 atribuído aos novos edifícios da melhor qualidade arquitectónica costruídos em Lisboa). 95 Ao Rato foi construída a famosa Garagem Auto Palace, estrutura de ferro, projectada por Eiffel, um exemplo de Arte Nova com elementos neo-clássicos construída para a Sociedade Portuguesa dos Automóveis.96

Imagem 20: Elevador de Santa Justa

94 Disponível na Internet: http://carris.transporteslisboa.pt/pt/ascensores-e-elevador/ [consultado em 20.6.2016] 95 Disponível na Internet: http://www.monumentos.pt/site/app_pagesuser/SIPA.aspx?id=3146 [consultado em 20.6.2016] 96 Disponível na Internet: http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/garagem-auto-palace [consultado em 20.6.2016]

46 4.5 A primeira Republica, ditadura e modernismo

A instabilidade política e económica em Portugal resultou na queda da monarquia e durante a Revolução do ano 1910 foi proclamada a Primeira República. Porém, a desfavorável situação do país não passou por grandes alternações. Como conjunto continuava muito atrasado no desenvolvimento económico e social: grande maioria da população vivia em pobreza e a taxa de analfabetismo passava os 75%. Portugal participou na Primeira Guerra Mundial o que resultou em mais gastos de já escassos recursos. A época era marcada por crise económica global, desorganização, greves, conflitos violentos e perseverada pobreza, devido ao que se verificou uma emigração de cerca de 80 000 portugueses para o estrangeiro.97

Uma certa estabilidade foi implementada só durante um regime militar que surgiu após um golpe do exército em 1926, (desenvolvimento como a Italia e Espanha) a seguir do qual foi estabelecido um estado de ditadura fascista sob liderança de António de Oliveira Salazar.98

Neste contexto histórico, a urbe de Lisboa continuou a se modificar de acordo com as necessidades da população e exigências do regime: Lisboa nos anos 20 e 30 contava com mais de 500 mil habitantes o que exigia adicional edificação, de caráter prevalentemente funcional: foram construídos novos bairros, instituções públicas, bancos e escolas: vale salientar algumas das obras mais famosas no estilo arquitetónico de modernismo, caraterístico pelo seu racionalismo, utilitarismo e monumentalidade - o pavilhão de Instituto Superior Técnico à Alameda, a Gare Marítima de Alcântara ou os edifícios da Caixa Geral de Depósitos e o do Diário de Notícias à . Em 1928 foi aberta a Estação do Cais Sodré que providencia a conexão de Lisboa com as vilas na costa à poente até Cascais.

Da arquitectura sacra destaca-se a Igreja de Nossa Senhora de Fátima. Todas estas obras foram desenhadas pelo famoso Porfírio Pardal Monteiro, vencedor de múltiplos Prémios de Valmor. O arquiteto já nessa altura também apresentou planos para uma futura Cidade Universitária ou Olímpica, imaginadas para o Campo Grande.99

97 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 152, 162 98 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 167, 169 99 PACHECO, Ana Ruela Ram os de Assis:Porfirio de Pardal Monteiro: A obra do arquitecto, 1998. Disponível na Internet: http://dited.bn.pt/29896/896/1308.pdf[consultado em 18.6.2016]

47

Imagem 21 : a Gare Marítima de Alcântara

Em relação ao desenvolvimento urbanístico foi apresentado um amplo plano de desenvolvimento da cidade pela Sociedade Financeira Ltd que edificação de prédios habitáveis entre Santa Apolónia, Alto de S.João e a Penha da França, outra às Avenidas Novas, no bairro da Liberdade ao Campolide, o luxuoso bairro Azul a Norte do Parque Eduardo VII, ou o bairro modernista das Telheiras, entre outros.

A proposta continha planos para e desenvolvimento dos sistemas de infraestrutura.100 Outro projecto de grandes dimensões foi a estrada101, onde surgiu um grande bairro de habitação dos operários. A prolongação mais importante realizada na época é considerada a da Avenida da Liberdade. O seu Parque ganhou um cruzamento de avenidas com destino ao Monsanto, Carnide, Lumiar e ao Campo Pequeno foi um anúncio duma futura ampla urbanização.102

Lisboa se tornava cada vez mais moderna e urbanizada. Nessa altura começaram a multiplicar-se, também fora do centro da cidade, os teatros e cinemas de uso popular, assim como mais cafés e lojas, prevalentemente no moderno estilo geométrico Art-Deco. As ruas se difundiram as publicidades e anúncios luminosos feitos a néon e foram anunciadas as futuras linhas de transporte subterrâneo metropolitano. Gradualmente a cidade deixava de ser abandonada e suja, como era criticada pouco antes.103

100 Além do projecto das Avenidas Novas foi considerada também a prolongação da Avenida Almirante Reis com o (que hoje dá saída à autoestrada até ao Porto). 101 A partir da Av.24 de Julho por Alcântara Á Av. De Ceuta, continuando pelo Jardim Zoológico à Luz-Benfica 102 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 94, 102 103 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 96, 98

48 Devido às mudanças radicais no desenvolvimento político e económico de Portugal, aos finais dos anos 30 em Lisboa começaria uma nova fase na identidade (não só) arquitetónica e urbanista.104

4.6 A Cidade do Estado Novo

A implementação e consolidação da ditadura fascista sob liderança de Salazar (1933) naturalmente causou mudanças radicais ao nível sociopolítico, assim como a exigência dum novo planeamento de urbanização e arquitetura, num estilo estético que ia obedecer e representar a ideologia do regime totalitário do assim dito Estado Novo. Conforme estas exigências foi desenvolvido um novo estilo arquitetónico – o assim-dito “Estilo Português Suave”. Entre as principais noções dessa filosofia pertencem o nacionalismo, forte propaganda e censura, militarismo, autoritarianismo, constante regulamento da vida social e económica pelo Estado, desprezo e negação dos direitos humanos, do liberalismo, da produção artística e dos intelectuais, também como uma ênfase ao corporativismo.105

Estes ideais rapidamente influenciaram todos os aspectos de vida em Portugal, com efeito muito restritivo e limitante. Por um lado, a cultura e arte sofreram uma forte repressão devida à rigorosa censura do Estado; Por outro lado, graças à nova severa legislatura verificou-se um notável crescimento económico e em seguida um boom populacional: em 1940 Lisboa contava com 694 mil habitantes e estimava-se que o número ia ultrapassar o milhão por volta do ano 1970. Foi necessário apresentar novas soluções para amplificar espaços e resolver problemas com a habitação.

Na década de 38-48 se realizou um novo rigoroso plano de urbanização, chamado „plano de Groer“, sob a autoridade do presidente da Câmara municipal Duarte Pacheco. Não só Lisboa, mas um número considerável de cidades portuguesas foi sujeito a uma modificação urbana. Para

104 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 98, 104 105 As 14 características del fascismo. Disponível na Internet : http://worldcantwait-la.com/14_fascismo.htm [consultado em 18.6.2016]

49 o efeito se verificaram expropriações e aquisições de terrenos, que resultou na posse do município de 35% da superfície da cidade.106

Tratava-se dum plano moderno que permitiu a introdução da ordem, funcionalidade e rentabilização da urbe. Entre as intervenções cruciais em termos de infraestrutura são adicionais prolongações e desenvolvimentos de comunicações dos grandes arruamentos citadinos.107 108

O amplo plano da modificação da urbe continha planos para zonas habitacionais, escolas, parques, cemitérios instituções de educação e a plantação de amplos espaços verdes: o grande parque florestal de 900ha foi plantado na serra de Monstanto. À Portela de Sacavém foi inagurado o Aeroporto Internacional de Lisboa, aberto ao tráfego em 1942. Ao mesmo tempo foi sujeita aos amplos restauros a Sé e o castelo de S. Jorge.109

Durante os anos da ditadura foram construídos bairros sociais de casas económicas, nas zonas mais marginais da cidade, a seguir o padrão do Bairro Salazar ao Alvito: na Encarnação, Calçada dos Mestres, Caramão da Ajuda, Madre de Deus, Santa Cruz de Benfica entre outras. Surgiam também os bairros sociais para a classe média. Em 1956 foi construído o Bloco das Águas Livres, ao Rato, uma moderna construção com propósito habitacional e de comércio. Foi projectado por celebre arquitecto português Nuno Teotónio Pereira, falecido em Janeiro deste ano. Ao contrário, os bairros de moradias de grande luxo surgiram à poente, ao Restelo. O planeamento urbanístico de Chelas e Olivais deu origens primordiais ao futuro bairro do Oriente.

Porém, o plano de Groer não foi terminado e o Gabinete Técnico de Urbanização continuou a trabalhar nele.110

O estilo arquitectónico que passo a passo se desenvolveu e prevaleceu nesta altura é conhecido sob nome Estilo português suave, nacionalista ou tradicionalista. Era caraterístico

106 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 98, 105 107 A Avenida Almirante Reis até à Encarnação, As Avenidas Novas procedem até ao Lumiar, ou à beirra-rio passam grandes estradas por Xabregas, Beato e Marvila até Olivais à nascente; por Santo Amaro, Belém e Pedrouços até Algés, seguidos por uma importante artéria turistica, aEstrada Marginal até aos Estoris. 108 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 106 ; Disponível na Internet: http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/97.pdf , p.189 [consultado em 20.6.2016] 109 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 117 110 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 111, 118

50 pela sua simplicidade, monumentalidade, estabilidade e funcionalidade que obedeciam às exigências do estado fascista. Surgiu dum esforço de atingir um estilo que seria genuinamente português: o conceito da „casa portuguesa“ por Raul Lino, edifícios de estrutura moderna com elementos estéticos exteriores inspirados na produção portuguesa dos séculos XVII e XVIII e das casas tradicionais de várias regiões do País.111

O „português suave” encarou críticas de vários arquitectos por ser um quanto rural e desprivado de fantasia. Aplicava-se em edifícios de todos os tipos: habitação, palácios, instituções públicas, escolas, monumentos ou igrejas, também como elementos de infraestrutura. Foi o estilo que prevaleceu praticamente até ao fim do regime totalitário, a 25 de Abril1974. Porém, não deixaram de ser construídos edifícios de estilos diferentes, o estilo das construções que se diferenciam dos modelos formais tradicionais foi chamado arquitectura de „resistência“.

As obras mais emblemáticas deste estilo são a celebre Ponte Salazar (hoje Ponte 25 de Abril) a ligar Alcântara à Almada, o monumento de Cristo-Rei, a Fonte Luminosa, a torre da Praça do Areeiro, ou o sumptuoso Santuário de Fátima (em Fátima).

Imagem 22 : Ponte 25 de Abril

111 Disponível na Internet: http://pt.encydia.com/es/Estilo_Portugu%C3%AAs_Suave [consultado em 17.6.2016]

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Destaca- se um conjunto arquitectónico que surgiu em Belém, com propósito de comemorar os aniversários da Fundação (1140) e Restauração (1640) de Portugal, e celebrar o Estado Novo: A Exposição do Mundo Português (1940): por esta ocasião foram construídos vários pavilhões representativos com temática nacional e as colónias, o Jardim da Praça dos Impérios em frente do Mosteiro dos Jerónimos, ou o celebre Padrão dos Descobrimentos na proximidade da Torre de Belém.

Imagem 23 : Padrão dos Descobrimentos e Torre de Belém

Durante o regime da ditadura de Salazar, mesmo ele sendo totalitário e portanto limitador e muitas vezes até desumano, foram introduzidos muitos elementos importantes de urbanismo , infra-estrutura arquitetura em Lisboa. A cidade procurou modernizar-se e responder a novos estímulos sociais. A sociedade se tornava cada vez mais consumista. Foram construídas várias lojas, cinemas museus, bancos, escolas, multiplicavam-se supermercados, cafés e restaurantes de vários tipos. No ano 1959 foi apresentado um novo sistema de transporte: o Metropolitano de Lisboa. Primariamente ligava a zona de Restauradores com Marquês de Pombal, bifurcando para Entrecampos e Jardim Zoológico e continuou a se amplificar. O mais recente prolongamento da linha azul – Reboleira – foi inaugurada em abril deste ano. O sistema subterrâneo contribuiu notavelmente para a dinamização da vida da cidade.112

112 Disponível na Internet:http://metro.transporteslisboa.pt/empresa/um-pouco-de-historia/ [consultado em 20.6.2016]

52 Surgiam também elementos amplos e significativos. Além daquelas que já mencionámos vale salientar o Palácio da Justiça, as grandes obras de Gares Marítimas, vários museus, a Cidade Universitária e Biblioteca Nacional ao Campo Grande, o vasto Hospital de Santa Maria, o desportivo Estádio da Luz, alguns arranha-céus (ex. Avis e Sheraton).113

Em 1960 foi projectada uma grande sala multiuso: auditórios, exposições de arte e espectáculos e congressos: o centro cultural da Fundação Gulbenkian na Palhavã. Este elemento urbano que coroava as propostas arquitetónicas dos anos 50 marcou o início de uma nova vivência cívica de Lisboa.114 É circundado por um grande jardim desenhado por Gonçalo Ribeiro Teles, notável paisagista português.115

A época era marcada pela ditadura e pelas graves despesas financeiras e morais em consequência da guerra colonial. Após a capitulação de Salazar no ano 1968 a ditadura gradualmente encontrava cada vez mais adversários.

O modelo nacionalista-burocrático de regime autoritativo depois de 48 anos de existência perdeu apoio em todos os estratos sociais. Durante o governo de Marcelo Caetano o país se preparou para uma Revolução, que colocou as bases duma nova identidade de Portugal. As tropas revoltadas ocuparam os pontos estratégicos do país em 25 de Abril 1974. A nova época de implementação e consolidação da democracia significou novos impulsos e oportunidades para todos os aspectos da vida, incluíndo a arte e arquitectura, que tinham sofrido muito por causa da censura e escassez financeira.116

4.7 Lisboa após a Revolução dos Cravos

Nos anos 70 e 80 a profissão dos arquitectos ganhou mais liberdade e coragem na sua realização. Surgiam novas obras controversas de estilo pós-moderno, de alta qualidade, que então causaram alguma polémica . A construção mais emblemática deste estilo, vencedora do prémio Valmor, seria o Centro comercial das Amoreiras, de identidade estética atípica e non-

113 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 114, 115, 116 114 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 116 115 Disponível na Internet: http://www.lisbonlux.com/culture/architecture.html [consultado em 20.6.2016] 116 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 197, 203

53 convencional por Tomás Taveira (1985), onde muito recentemente, em Abril 2016 foi inaugurado o Miradouro Amoreiras 360º Panoramic View.117 O mesmo arquitecto participou no projecto da remodelação da Praça de Martim Moniz. 118 Outra obra pós-moderna, o Centro Cultural de Belém, conjunto de grandes dimensões em pedra calcária se encontra junto ao Mosteiro dos Jerónimos, em notável contraste com a construção manuelina. 119 Após as destruções causadas por um incêndio no Chiado, este foi restaurado mantendo o seu aspecto histórico, a seguir o projeto do reconhecido arquitecto português Siza Vieira.120 Das construções de habitação se destaca o bairro de Olaias; no campo de educação o edifício do Liceu de Benfica, ambos vencedoras de Prémio Valmor.121

Imagem 24 : o Centro comercial das Amoreiras

Portugal passou por desenvolvimento sociopolítico, expandiu a liberalização e democracia. Em 1986 o país aderiu às Comunidades Europeias (mais tarde União Europeia) o que teve como consequência um boom económico, consolidação de relações com Ocidente, desenvolvimento favorável no comércio internacional ou um afluxo turístico entre outros.

O Fundo de Desenvolvimento das Comunidades Europeias contribuiu para o desenvolvimento de infra- estruturas em Portugal com um valor de 681 milhões de USD. Até

117 Disponível na Internet: http://www.nit.pt/article/04-28-2016-fomos-conhecer-o-novo-miradouro-do-amoreiras [consultado em 20.6.2016] 118 FRANÇA, José-Augusto, Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1989, p. 120 119 Disponível na Internet: http://www.lisbonlux.com/culture/architecture.html [consultado em 20.6.2016] 120 Disponível na Internet: http://www.lisbonlux.com/culture/architecture.html [consultado em 20.6.2016] 121 FERNANDES, José Manuel, Lisboa-Arquitectura & Património, Livros Horizonte,LDA, Lisboa, 1989, p. 122

54 ano 1995 foram construídos 4500km de estradas e modernizadas as redes ferroviárias em país todo. Programas parecidos de desenvolvimento contribuíram para a luta contra o desemprego, crescimento económico e elevação do nível de vida.122

4.7.1 Lisboa Contemporânea

Outro grande estímulo a nível mundial que a cidade recebeu foi a realização da Exposição Internacional de Lisboa de 1998, dita EXPO 98. O seu tema era Os Oceanos, Um Património para o Futuro, com propósito de comemorar os 500 anos de Descobrimentos e teve lugar no limite oriental de Lisboa – a assim dita Zona de Intervenção da Expo. Para ocasião foram construídos pavilhões temáticos que após o evento assumiram várias funções.

Entre os mais notáveis exemplos de arquitectura moderna se destacam a Torre de Vasco da Gama – o edifício mais alto do País, o Pavilhão de Portugal por Siza Vieira, o Pavilhão Atlântico, o Oceanário de Lisboa, o Pavilhão do Conhecimento - hospede dum museu de ciência e tecnologia, o Pavilhão do Futuro transformado em Casino de Lisboa ou a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, acabada recentemente, em 2014. Obedecendo as exigências duma urbanização moderna, um terço da área do Oriente é coberto por espaços verdes: vale salientar a Alameda dos Oceanos, Jardins Garcia d´Orta ou o Parque Tejo, entre outros. Ainda de salientar é a Marina do Oriente, uma zona ribeirinha que hospeda um porto de naves de recreio, hotéis e instalações de lazer.

Esta vasta edificação da zona do Oriente, da qual a EXPO apresentou o impulso, deu origem a uma nova freguesia lisboeta – o Parque das Nações, que nasceu anexando 1, 87km2 do concelho de Loures ao concelho de Lisboa. A zona ganhou uma toda nova dinâmica e importância no âmbito da cidade. O conjunto é elaborado num estilo modernista muito específico cujo acabamento e ornamentação evoca a temática marítima. Tornou-se numa imponente zona de comércio, cultura, conhecimento, turismo, habitação e de lazer, assim como um núcleo importante de transporte, graças à construção da Estação de Oriente (por Santiago Calatrava), outro exemplo emblemático de arquitectura presente, e uma estação ferroviária e rodoviária estrategicamente posicionada que facilita a mobilidade entre as cidades.123 ; outro importante componente de infra-estrutura inagurado à esta ocasião foi a Ponte Vasco da Gama – ligação da zona de Oriente com a zona de Montijo na Margem Sul sobre o Tejo. Com os seus 17,

122 KLÍMA, Ján, Dějiny Portugalska, NLN s.r.o., Nakladatelství Lidové noviny, Praha, 1996, p. 180 123 Disponível na Internet: http://www.portaldasnacoes.pt/pt/ [consultado em 25.6.2016]

55 2 km de comprimento, a ponte é actualmente a mais extensa na Europa e a 9ª mais longa no mundo.124

Imagem 25: Estação de Oriente

À outra extremidade da cidade, à poente no Belém, em 2004 foi inaugurada a Fundação Champalimaud, estabelecimento de investigação biomédica, exemplo de arquitectura contemporânea por Charles Correia.125

Devido ao continual incremento de população tornou-se comum habitar as zonas externas na proximidade da capital. As áreas foram gradualmente edificadas e equipadas por infra- estruturas facilitadas a comunicar com Lisboa: uma rede ferroviária suburbana e auto-estradas de alta qualidade. Esta aglomeração é conhecida como Grande Lisboa, tem cerca 1 800 000 habitantes, estende-se numa área de 1.381 km2 e compreende os concelhos de Amadora, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Oeiras, Odivelas e Sintra.126

No presente está a decorrer uma iniciativa de venda de edifícios municipais devolutos – o Programa Reabilitar Lisboa que permite primeiro realizar a reabitação dos edifícios e pagar só mais tarde, o que contribui para um grande estímulo nesta esfera de negócio e facilitou a reconstrução de edifícios em mau estado.127 Outro programa que apresenta um desenvolvimento favorável no urbanismo de Lisboa é o programa Pavimentar Lisboa 2015-2020: a Câmara Municipal investiu 25 milhões de euros na reconstrução para aumento de qualidade de várias infraestruturas da cidade de cumprimento total

124 Disponível na Internet: http://www.pontevascodagama.com/ [consultado em 25.6.2016] 125 Disponível na Internet: http://www.fchampalimaud.org/pt/a-fundacao/centro-champalimaud/arquitecto/ [consultado em 25.6.2016] 126 Disponível na Internet: http://terrasdeportugal.wikidot.com/sub-regiao-grande-lisboa [consultado em 25.6.2016] 127 Disponível na Internet: http://www.cm-lisboa.pt/viver/urbanismo/reabilitacao-urbana/programas-de-incentivo-a- reabilitacao-urbana/programa-reabilita-primeiro-paga-depois [consultado em 25.6.2016]

56 de 110km no horizonte de 5 anos. Entre as intervenções a realizar é a reconstrução de passeios, implementação dos Ecopontos, criação de ciclovias ou remoção dos cubos. As obras estão a decorrer.128

128 Disponível na Internet: http://www.cm-lisboa.pt/pavimentar-lisboa [consultado em 25.6.2016]

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5. CONCLUSÃO

O objectivo desta tese de licenciatura foi descrever cronologicamente a arquitectura e o urbanismo de Lisboa dum ponto de vista da sua evolução ao longo da história. Foi considerada e analisada a variedade de influências das múltiplas culturas que tiveram impacto ao desenvolvimento deste aspecto da cidade. Foi explicada a evolução da área geográfica do estuário do Tejo desde os primeiros vestígios de ocupação humana no Paleolítico, continuando por descrever o desenvolvimento da urbe durante a sua ocupação de várias culturas da Antiguidade e Idade Média. A atenção foi centrada sobretudo ao desenvolvimento após o Grande Sismo de 1755 e foi realizada uma análise mais detalhada da Reconstrução pombalina na Baixa de Lisboa. A seguir foi descrita a evolução da cidade na modernidade até ao presente. As obras emblemáticas da cidade foram apresentadas num contexto histórico e cultural. No presente, Lisboa é uma capital europeia moderna e cosmopolita, sede de vários estabelecimentos culturais, administrativos, comerciais, artísticos ou militares (por exemplo a sede de NATO no Parque Monsanto) a nível mundial. A cidade, graças à sua única atmosfera, cultura e arquitectura é uma destinação turística muito popular. Também se trata dum importante ponto de escala de voos transatlânticos. O município de Lisboa é administrado pela Câmara Municipal e na mais recente reorganização administrativa em 2012 foi dividido em 24 freguesias agrupadas129 em zonas de acordo com a posição na cidade.130 Como demonstrámos, a cidade apresenta um amplo leque de vários estilos arquitectónicos, influenciados e inspirados por várias culturas que nela tiveram impacto ao correr da história. Arquitectura assim como o urbanismo da cidade são procedimentos complexos e duradouros, instáveis e como habitualmente, vão sempre continuar a desenvolver- se.

129 As freguesias, em ordem alfabética são: Ajuda, Alcântara, Alvalade, Areeiro, Arroios, Avenidas Novas, Beato, Belém, Benfica, Campo de Ourique, Campolide, Carnide, Estrela, Lumiar, Marvila, Misericórdia, Olivais, Parque das Nações, Penha de França, , Santa Maria Maior, Santo António, Sáo Domingos de Benfica, São Vicente. As zonas apresentam várias soluções arquitectónicas e urbanisticas, das quais as mais importantes foram descritas na tese. 130 Disponível na Internet: http://www.cm-lisboa.pt/municipio/juntas-de-freguesia [consultado em 25.6.2016]

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