as primeiras mulheres repórteres Isabel Ventura

as primeiras mulheres repórteres

Portugal nos anos 60 e 70

Prefácio de Fernando Alves

lisboa: tinta­‑da­‑china MMXII Índice

9 Agradecimentos 11 Prefácio, por Fernando Alves 17 Introdução

25 Parte I: Objectivos 27 Objectivos gerais e específicos

37 Parte II: Problemáticas

45 Parte III: As mulheres e o 47 A categoria género e as fontes orais nos estudos sobre as mulheres 53 Enquadramento do tema 73 O contexto histórico

135 Parte IV: As jornalistas 137 Perfis das jornalistas 141 Alice Vieira: «Não há jornalistos.» 147 Edite Soeiro: «Três dias depois de o © 2009, Isabel Ventura e meu filho nascer já estava a trabalhar.» Edições tinta­‑da­‑china, Lda. Rua João de Freitas Branco, 35A 153 Diana Andringa: «As jornalistas 1500­‑627 Lisboa não eram mulheres… eram jornalistas.» Tels.: 21 726 90 28/9 | Fax: 21 726 90 30 E­‑mail: [email protected] 159 Leonor Pinhão: «Os dirigentes

www.tintadachina.pt desportivos achavam graça ser uma miúda e estar ali.» Título: As Primeiras Mulheres Repórteres — nos anos 60 e 70. 165 Maria Antónia Palla: «Ela escreve Autora: Isabel Ventura como um homem.» Prefácio: Fernando Alves Revisão: Tinta­‑da­‑china 169 Maria Teresa Horta: «Li Simone de Capa e composição: Tinta-da-china Beauvoir aos 14 anos e isso mudou 1.ª edição: Julho de 2012 a minha vida.»

isbn: 978­‑989­‑671­‑003­‑3 Depósito Legal n.º 345912/12 175 Conclusões

185 Notas 199 Bibliografia Agradecimentos

Esta obra é fruto de um esforço colectivo, pois benefi‑ ciou do contributo de várias pessoas. Até à sua conclusão vivi dos meus amigos, que me suportaram as crises e angústias, que me patrocinaram gargalhadas e promoveram sorrisos, que me ajudaram a aguentar o peso do quotidiano cujo fio por vezes tão tortuoso me impelia para o caminho mais fácil — o da desistência. Mas nenhum me deixou cair. E o resultado são estas páginas, nas quais está parte da vida de algumas mulheres, às quais endereço um agradecimento particu‑ lar e a quem declaro a minha admiração. Uma lembrança especial a Edite Soeiro, intrépida repórter, cuja memória este livro pretende também homenagear. Registo igual‑ mente o meu agradecimento e reconhecimento ao Fer‑ nando Alves, pela enorme generosidade que revelou no prefácio do livro, e à equipa da Tinta‑da­ ­‑china, pelo en‑ tusiasmo com que acolheu a ideia de publicar este texto. Nestas páginas estão também a paciência, a orien‑ tação e a amizade do dr. Mário Mesquita, sem o qual este livro jamais teria sido concluído; estão a amizade,

[9] as primeiras mulheres repórteres o incentivo e a empatia da doutora Teresa Joaquim; está a grande amizade da Maria João Galvão Santos, do Ricardo Paes Mamede (sem os teus balões de oxigénio eu não estaria aqui), da Antónia Estrela (longo o caminho que percorre‑ Prefácio mos juntas), da Elisa Seixas e da Adriana Fernandes. E, por por Fernando Alves fim — mas não de somenos importância —, estão (sobre‑ tudo) a presença e o apoio discretos, mas sempre certos, da minha família (dos meus pais, do Marcelo e da minha irmã — de sangue e de água). Uma palavra especial para a u quis ler este livro porque num primeiro momento, Kiara, em cujo futuro reside a esperança. Eele me trouxe, de novo, a voz de Edite Soeiro. Quando, em finais de 1975, com apenas 21 anos, re‑ É, portanto, a todos(as) eles(as) que dedico este livro. gressei a Portugal, vindo de uma Luanda conturbada, onde a rádio já não era a mais bela trincheira da revolu‑ ção, António Macedo apresentou‑me­ a Edite Soeiro, ao tempo chefe de redacção da revista Flama. Eu era um rapaz desconhecido, de longa cabeleira indomável e sem almofada partidária. Edite Soeiro (figura mítica, cuja carreira começara aos 16 anos no Intransigente, na mes‑ ma Benguela amada onde, também aos 16 anos, eu entrei para a rádio) jamais me tinha escutado, muito menos lera uma pobre frase minha. Mas cuidou de mim como se eu fosse um filho pródigo. Certa vez, estando com ela na pastelaria Smarta, a conversa chamou a atenção de um cavalheiro na mesa ao lado. O cavalheiro era afinal Alexandre Manuel, chefe de redacção da Vida Mundial, dirigida por Augusto Abe‑ laira. Nesse mesmo dia, Alexandre Manuel desafiou­‑me a escrever sobre a actualidade angolana e mandou­‑me

[10] [11] as primeiras mulheres repórteres prefácio entregar a prosa na Rua do Século. Foi lá que conheci O que aqui nos é revelado não será propriamente Diana Andringa, em cujas mãos depositei, com vénia e «novidade», salvo para os mais distraídos. Já sabíamos, já gratidão, os textos que lá me publicaram até que, entre‑ pressentíamos, que era assim, que fora assim. Mas não tanto, a rádio me cobriu, de novo, com a sua asa. tínhamos «visto», não tínhamos «entrado» desta manei‑ Este livro faz‑me­ reencontrar também a cumplicidade ra no interior das redacções, na década em que o mundo de Diana. E reconduz‑me­ aos dias em que o meu querido ia começar a mudar mas em que a percentagem de mu‑ amigo Manuel, da Lello, me passou, a um canto do balcão da lheres jornalistas sindicalizadas era apenas de dois por livraria, em Benguela, com um gesto cúmplice, um exemplar cento. É que, como nos lembra Isabel Ventura, em 1960 de As Novas Cartas Portuguesas, que fizera escapar à vigilância havia dez mulheres jornalistas sindicalizadas, algumas dos censores e que muito contribuiu para a minha toma‑ delas desempenhando apenas funções de apoio. As mu‑ da de consciência das hoje designadas questões de género. lheres que chegavam às redacções estavam confinadas E traz­‑me este livro, ainda, os testemunhos de outras à secção de Sociedade, às páginas culturais, aos suple‑ notáveis mulheres, das quais Isabel Ventura não pretendeu mentos juvenis. apresentar­‑nos um fio apetecido de biografias cruzadas. Maria Teresa Horta conta, por exemplo, que «a en‑ O que a autora exemplarmente visou foi a revisitação e a trada nas instalações do Século era reservada a homens e compreensão de um tempo de reposteiros e alçapões, de que as publicações femininas tinham redacções à parte». liberdades vigiadas e direitos minguados. Ela conta­‑nos o Um dos méritos deste livro é que ele nos leva a «ver» modo como seis mulheres jornalistas conquistaram o seu o que já sabíamos mas ainda não tínhamos «visto», o que lugar num «território de homens», num tempo de opres‑ sabíamos de um modo difuso, desenquadrado. Mas este são. Era a ditadura, era a censura. Mas era, também, um livro dá­‑nos, também, o contexto histórico em que a luta, conservadorismo beato e preconceituoso. tantas vezes silenciosa, desamparada e incompreendida, Estas mulheres tiveram de lutar, por um lado, contra das mulheres jornalistas se foi travando. Ela não deve, as arbitrariedades de um regime repressivo e, por outro, por isso, ser vista à margem de todas as outras lutas das contra a arrogância e/ou a insensibilidade dos seus pró‑ mulheres portuguesas. A História recente mostra­‑nos, prios camaradas de profissão, mesmo os mais «progres‑ aliás, que a luta das mulheres foi sempre redobrada e que sistas». E lutaram. elas raramente tiveram, no texto constitucional, no espí‑ Como se viu mais tarde, não bastava, não bastou, rito e na letra da lei, na tábua dos direitos, quinhão igual derrubar a ditadura para que tudo mudasse. ao dos homens.

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Antes do Estado Novo, também a República não foi do pela imprensa estrangeira? Como a própria Maria justa para as mulheres que por ela tanto lutaram. Desde Teresa Horta sublinha, «é verdade que a censura não dei‑ logo no direito de voto. Não nos esqueçamos de Carolina xaria passar. Contudo, seria uma forma de marcar posi‑ Beatriz Ângelo, a primeira mulher que votou durante a ção e mostrar solidariedade». I República. Ela ousou fazê­‑lo contra a legislação exis‑ Essa ausência de solidariedade é muitas vezes eviden‑ tente e contra a vontade da própria direcção republicana. ciada ao longo deste livro, e de forma perturbadora. A dada E Maria Veleda, que em 1909 gritou, nas galerias do Par‑ altura, Diana Andringa conta que, quando propuseram a lamento, um vibrante «Viva a República!» — e já antes Carlos Ferrão que ela colaborasse na Vida Mundial, o di‑ discursara ao lado de Magalhães Lima —, viria a escre‑ rector, um velho republicano, respondeu ao interlocutor: ver, em 1912, profundamente desiludida, que é preci‑ «Deve estar doido, as mulheres não têm cérebro para fazer so começar pelo fim, isto é, pelos direitos políticos das jornalismo.» Muita coragem foi necessária para lutar simul‑ mulheres. taneamente em duas frentes: contra os abusos da ditadura É isso que este livro de Isabel Ventura nos diz tam‑ e contra as práticas sexistas mais descaradas ou subtis. E é bém: quando lembra o modo como Maria Lamas, direc‑ claro que esta não foi uma fatalidade portuguesa. tora da Modas e Bordados, sofreu as consequências de ter Quando mergulhava neste apaixonante livro de organizado uma exposição sobre mulheres escritoras; Isabel Ventura, encontrei, por mero acaso, uma nota ou quando sublinha a passagem da Constituição de 1933 sobre a composição do New York Times no início dos que, reconhecendo a «igualdade perante a lei», ressalva, anos 70. Entre os 420 repórteres do jornal, havia 40 em desfavor da mulher, as «diferenças resultantes da na‑ mulheres. Nem uma colunista, nem uma editorialis ‑ tureza e do bem da família». Daqui decorre, como con‑ ta, nem uma repórter fotográfica. Mas, desde o início clui a autora, que «as mulheres portuguesas eram, por de Setembro de 2011, Jill Abramson passou a ocupar o lei constitucional, seres biologicamente condicionados, lugar de editora executiva do jornal. Outro novo edi‑ muito embora o legislador não tenha especificado o al‑ tor executivo é o negro Dean Baquet. Valeu a pena a cance das diferenças». luta travada desde meados dos anos 70 e que chegou E, afinal, que raio de «condicionamento» terá levado mesmo à barra dos tribunais. A New Yorker publicou o director do jornal onde Maria Teresa Horta trabalhava recentemente uma reportagem sobre a ascensão de a não destacar um repórter para a cobertura do chama‑ Abramson ao topo da pirâmide, uma ascensão por mé‑ do «processo das 3 Marias», intensamente acompanha‑ rito, pela qual foi preciso esperar anos a fio. Quando

[14] [15] as primeiras mulheres repórteres as novas nomeações foram comunicadas à redacção do NYT, houve quem não contivesse as lágrimas. Susan Chira, também editora do jornal, contou à New Yorker que, há 30 anos, quando entrou para o NYT, as mulhe‑ Introdução res que lá trabalhavam eram «tristes e amargas». Não é de espantar. Como lembra Alice Vieira, citando Maria de Lourdes Pintasilgo, «os homens e as mulheres só estarão em pé de igualdade no dia em que uma mulher incompetente m 2005, o Sindicato dos Jornalistas recebeu a ins‑ ocupar um lugar de chefia». Ecrição de 156 novos associados, dos quais 90 eram As mulheres que falam neste livro são as que abriram mulheres. Em 1960 — início do período aqui analisado portas para que as coisas começassem mudar nas redac‑ — a percentagem de mulheres sindicalizadas era de dois ções dos jornais. Ocorrem‑me­ vários nomes de outras mu‑ por cento, correspondendo a dez jornalistas do sexo lheres jornalistas cujo trabalho e cujo exemplo ajudaram feminino. Destas, algumas poderiam desempenhar fun‑ a mudar radicalmente o rosto das redacções portuguesas. ções de apoio à redacção1. De dez mulheres sindicaliza‑ Hoje, elas dão cartas. Mas ainda não definem o jogo. Dito das no início da década de 60, passamos a 1902 em 1980. de outro modo, nem sempre escolhem o trunfo. Este diferencial é acompanhado por fortes alterações sociais em Portugal. O estatuto de homens e mulheres sofreu mutações jurídicas3 e a população experimentou influências externas, as quais (antes) eram exclusivas de camadas sociais privilegiadas que tinham um contacto efectivo com o exterior. O jornalismo e a sua indústria não escaparam a essas mudanças. Que antecedentes permitiram que o cenário se alterasse desta forma num período de 20 anos? Após o golpe de Estado de 1926 e da posterior consolidação do Estado Novo, a sociedade portuguesa vê­‑se confrontada com um regime autoritário promotor

[16] [17] as primeiras mulheres repórteres introdução da máxima «Deus, Pátria e Família». Estes preceitos poderiam ser de variados tipos, passando pela suspen‑ irão afectar transversalmente todas as áreas da vida dos são6, como ilustra este exemplo: portugueses, nomeadamente no campo dos direitos e garantias de cidadania. Para assegurar o controlo social, […] com 30 dias de suspensão o jornal A Voz da Póvoa, o Estado prevê, na Constituição de 1933, a censura para por ter submetido à apreciação da Comissão de Cen‑ os casos de natureza política ou social que ponham em sura do Porto uma prova impressa contendo uma carta causa a ordem pública. Mais tarde, Marcelo Caetano injuriosa a estes serviços. mudará o nome da censura para exame prévio, noâmbito de uma «mudança na continuidade» do regime que ficará Por vezes, optava‑se­ pelas sanções pecuniárias, como o conhecida por Primavera Marcelista. Este instrumen‑ demonstra a multa de 1000$007 aplicada ao Jornal de to do poder tem um profundo impacto na imprensa, Notícias, acusado de ter publicado um «anúncio inconve‑ homogeneizando os seus conteúdos4. A este respeito, niente que não submeteu a censura prévia». a Comissão do Livro Negro sobre o Regime Fascista5 A imprensa portuguesa sofre de uma crónica falta de resume assim a acção da censura sobre os jornais: liberdade de expressão, que condiciona não só a forma, mas também o conteúdo das notícias que são transmitidas. Durante quase 48 anos da sua terrível, castradora e hu‑ As redacções recebem «circulares» com instruções sobre os milhante actividade — pois nem um só minuto, desde cuidados a ter com os conteúdos e os factos a evitar: logo a seguir ao 28 de Maio de 1926, até ao libertador 25 de Abril de 1974, ela deixou de existir e funcionar, com No Evening Standard, de Londres, foi publicada uma todo o primarismo e brutalidade — a Censura fez um correspondência de Lisboa (?) em que se lança o boa‑ número incalculável de cortes totais e/ou parciais, sem to da existência de uma corrente, nos meios políticos dúvida muitas dezenas ou centenas de milhares, na mais espanhóis, segundo a qual se pretenderia fazer a anexa‑ longa e impiedosa perseguição e destruição da informa‑ ção de Portugal que ficaria dirigido por um governador. ção e da cultura portuguesa que a nossa história regista. Não permitir referência a esse estúpido artigo. Igual recomendação quanto ao artigo publicado no Daily Nos relatórios da Direcção dos Serviços de Censura Telegraph & Morning Post que apresenta Portugal como podem conhecer­‑se algumas das sanções aplicadas aos objecto de influência e propaganda alemãs. Sabe­‑se que jornais que ousavam desafiar as suas ordens. Aquelas este último artigo não é do correspondente oficial em

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Lisboa. Os dois casos e outros que se conhecem […] re‑ É neste contexto que vemos algumas mulheres a velam renovação de métodos de luta tendentes a abalar entrar nas redacções dos jornais generalistas. Até lá, elas a confiança na Espanha e no recente tratado de paz e estavam essencialmente confinadas às publicações femi‑ amizade. O próprio Times tem publicado artigos que ninas (por exemplo, Maria Lamas, na revista Modas e Bor‑ não convém transcrever em que se lança dúvida sobre a dados) ou afectas a instituições ou organizações, como é firmeza do General Franco. o caso de Maria Joana Mendes, na revista Menina e Moça. Destas não se pretende falar, já que não eram jornalistas A censura corta conteúdos de texto e imagem, afectando a tempo inteiro (Maria Joana Mendes) — antes dirigiam o quotidiano das redacções, que dependem de autoriza‑ ou escreviam para revistas de associações das quais ção externa — negociando telefonicamente, por vezes faziam parte — ou, no caso de Maria Lamas, tiveram um até aos últimos minutos, os conteúdos visados — para campo de actuação cronologicamente anterior ao que fechar o jornal ou até mesmo para enviar um corres‑ neste livro se pretende analisar. O objectivo é, pois, per‑ pondente ao estrangeiro. A censura ou o exame prévio ceber em que contexto a imprensa portuguesa abriu as — cujo nome assume claramente a necessidade de ava‑ portas (e não apenas brechas) às mulheres portuguesas. liar os órgãos de comunicação social — estimulará um Das que integraram as redacções nessa altura, ou cujo cenário de mimetismo na imprensa portuguesa. percurso passa pelos jornais, destacam‑se­ algumas que, Na década de 60, contudo, os jornais vespertinos são pelas suas características pessoais e profissionais, consi- alvo de algumas alterações que provocam um certo dina‑ dero que contribuíram não só para abrir caminho às mismo nos conteúdos jornalísticos. A propriedade dos seguintes — percorrendo um caminho difícil e solitário — jornais dividia­‑se entre o Estado, os grupos económico­ mas também chamando a si causas que lhes eram caras. ‑financeiros e os «grupos de família»; o Século, o Diário Maria Antónia Palla, Diana Andringa e Maria Teresa Popular e o Diário de Lisboa pertenciam às famílias Horta utilizaram o jornalismo como forma de denún‑ Pereira da Rosa, Balsemão e Ruella Ramos. É entre os cia para a situação de desigualdade em que viviam as jornais detidos por grupos familiares que surgem «novos mulheres portuguesas, fosse em termos laborais, fami‑ pontos de vista políticos e comerciais, que o aparelho do liares ou no que respeitava aos direitos de maternidade regime não consegue controlar tão facilmente», segundo e à despenalização do aborto, por exemplo. Edite Soeiro afirmam Seaton e Pimlott8. Ou seja, inicia‑se­ assim a afir‑ iniciou­‑se na profissão muito jovem, desempenhando mação de uma nova lógica comercial e editorial. múltiplas tarefas, e foi alvo do preconceito que impunha

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— também na redacção — certos temas às mulheres Este livro divide‑se­ em quatro partes, iniciando‑se­ a primei‑ ou que excluía outros — como o desporto. Mais sorte ra com os objectivos gerais e específicos da investigação, teve Leonor Pinhão: iniciando‑se­ na segunda metade da os limites do tema, a explicação e a justificação para a selec‑ década de 70, entrou para um jornal desportivo, sendo a ção das jornalistas, bem como as metodologias adoptadas. primeira mulher jornalista de um jornal temático, neste A segunda parte é dedicada às problemáticas de fundo caso A Bola. Alice Vieira, oriunda de uma família bur‑ que motivaram este trabalho, centrando‑se­ na descrição guesa e tendo vivenciado uma «infância super­‑protegida» do contexto histórico e das condições e dificuldades sen‑ (sic), entrou no jornalismo através da colaboração num tidas pelas jornalistas no exercício da profissão. suplemento juvenil. A terceira parte — dedicada à situação das mulheres Estas mulheres aceitaram o desafio de integrar no Estado Novo — divide‑se­ em três capítulos: o primei‑ uma profissão essencialmente masculina e suportaram ro com enfoque na definição da categoria de género e na o «paternalismo» com que eram frequentemente trata‑ descrição do contributo das fontes orais para os estudos das nas redacções. Durante as suas carreiras, algumas sobre as mulheres. Segue‑se­ a referência à educação e à foram distinguidas com prémios (Maria Antónia Palla e intervenção social femininas durante a época estudada, Diana Andringa, Edite Soeiro); aceitaram dirigir suple‑ bem como a principal legislação relativa às mulheres. mentos, revistas, jornais ou empresas editoriais (Edite O último capítulo centraliza alguns dos acontecimentos Soeiro, Maria Teresa Horta, Alice Vieira, Leonor Pinhão). fundamentais e marcantes na história do período abrangi‑ Enquanto editoras (à excepção de Leonor Pinhão, que do. Nele contextualizamos vários cenários de contestação chegou a este cargo após o 25 de Abril), lutaram contra a ao regime, com referência às eleições de 1958; referimos censura, defendendo o direito de publicar os textos dos também a importância da publicação das Novas Cartas colegas, não se deixando intimidar com os comentários de Portuguesas; identificamos os principais argumentos que alguns censores, que apelavam às suas funções enquanto justificavam a resistência à entrada das mulheres nas mães: «[…] a dr.ª não tem um filho? Porque é que não esco‑ redacções e explicamos de que forma elas contornaram lhe outra profissão? Vá para casa cuidar do filho» (Maria essa oposição; por último, debruçamo‑nos­ sobre a relação Teresa Horta em entrevista)9. Estas mulheres representam que estas jornalistas têm com a palavra feminismo. não uma amostra de um grupo, mas exemplos extraordi‑ Na quarta parte é traçado um breve perfil das seis nários e únicos nos episódios que constituem o percurso mulheres que integram este trabalho. das mulheres na imprensa portuguesa. No final, apresenta­‑se uma síntese conclusiva.

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Objectivos Objectivos gerais e específicos

Delimitação do tema

os anos 60, as poucas mulheres que trabalhavam Nna imprensa generalista portuguesa estavam afec‑ tas a áreas relacionadas com a sociedade (Vera Lagoa, por exemplo1), a páginas culturais e a suplementos juve‑ nis (Diana Andringa, Maria Teresa Horta, Alice Vieira) ou traduziam textos (Diana Andringa, na Vida Mundial). Outras eram responsáveis pela página feminina ou inte‑ gravam redacções de revistas temáticas (femininas). Algumas tiveram o primeiro contacto com a imprensa através da poesia: enviaram poemas aos responsáveis pelos suplementos juvenis, onde os/as jovens tinham a oportunidade de ver as suas palavras publicadas. Os su‑ plementos, de resto, funcionaram como canais de capta‑ ção de jovens e novos talentos (independentemente do género), acabando por beneficiar as mulheres, dado que algumas viram o caminho até à redacção menos dificul‑ tado, como observa Joaquim Letria:

[…] Entrou a , para os suplementos, que entretanto começaram a absorver muitas mulheres2.

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Será na década de 60 que encontraremos trabalhos nas. Lembremos que o Sindicato só permitia admissão a publicados por algumas destas mulheres, em jornais jornalistas da imprensa diária, deixando de fora algumas como o Diário de Lisboa, cuja fundação remonta a 1921, mulheres que ocupavam cargos em revistas temáticas ou e o Diário Popular, nascido em 1942 — ambos vesperti‑ mesmo generalistas, como era o caso da Flama, do Século nos de orientação política de esquerda. Ilustrado ou ainda da Vida Mundial. Maria Antónia Palla, que entra para o Diário Popular, Optou‑se,­ assim, por balizar o objecto de estudo em 1968, através de um concurso, recorda uma outra entre o início da década de 60 e o final da década de 70. colega, Maria Virgínia de Aguiar, a qual desempenha‑ Vinte anos em que Portugal assiste a mudanças radicais: va funções indiferenciadas no jornal. Juntamente com alterações jurídicas que atribuem diferentes direitos e Antónia Palla, entraram no jornal mais duas mulhe‑ deveres a homens e a mulheres, a tentativa de «mudança res (que mais tarde abandonariam a profissão), sendo na continuidade» por parte de Marcelo Caetano, de forma seleccionadas através de um concurso que consistia na a tornar menos insatisfeitos os críticos do regime, a guerra redacção de uma reportagem. Note‑se­ que este não era colonial, fluxos migratórios muito elevados e a passagem um procedimento usual como forma de recrutamento na de um regime autoritário para um regime democrático, imprensa da época e, apesar de Palla lembrar que se vivia com as respectivas implicações jurídicas e sociais. um clima «de preconceito baseado na inadequação femi‑ Foi igualmente necessário fazer uma delimitação nina», três mulheres3 conquistaram o lugar na redacção geográfica. Não podemos esquecer que, por esta altura, no Diário Popular. Portugal ainda incluía alguns países extra­‑Europa, que Por esta altura, a entrada nas instalações de O Sécu‑ não foram considerados para este trabalho. Optou‑se,­ lo é reservada a homens, segundo conta Maria Tere‑ portanto, por cingir a investigação às jornalistas que tra‑ sa Horta4. As publicações femininas — ou dirigidas a balhavam na capital. mulheres — têm redacções à parte. Com este cenário, interessa pois debruçarmo‑nos­ sobre as condições em que ocorre a entrada das mulheres nos órgãos de comu‑ Selecção das jornalistas nicação social, onde também trabalham homens, cujo alinhamento editorial era de carácter geral e não temáti‑ De entre as jornalistas, a escolha recaiu sobre Alice co, restringindo­‑se estes últimos a um tema e respectivos Vieira, Diana Andringa, Edite Soeiro, Leonor Pinhão, subtemas, como acontecia com as publicações femini‑ Maria Antónia Palla e Maria Teresa Horta. Após algumas

[28] [29] as primeiras mulheres repórteres objectivos entrevistas exploratórias realizadas a pessoas que exer‑ como escritora de livros juvenis e Leonor Pinhão escreve ciam jornalismo nessa altura, considerou‑se­ que estes guiões de cinema. nomes constituem casos paradigmáticos no jornalismo A escolha de Leonor Pinhão baseou­‑se sobretudo no português nas décadas de 1960 e 1970. Paradigmáticos facto de ter sido a primeira mulher portuguesa a escrever pela proeza de terem conseguido entrar na profissão em num jornal desportivo. Apesar de ter iniciado a sua car‑ órgãos de comunicação generalistas e não temáticos; por reira após o advento do 25 de Abril de 1974 e, portanto, terem dado continuidade à carreira (Maria Antónia Palla não ter atravessado o período da censura, o facto de ter refere que com ela entraram mais duas mulheres que sido a primeira a exercer jornalismo numa área predomi‑ poucos anos depois escolheram outras vias profissionais); nantemente masculina faz dela um marco importante. por, durante o seu percurso profissional, terem atingido Todas estas mulheres tiveram acesso à educação, um estatuto de reconhecimento entre os seus pares e por com frequência passaram pelo ensino superior. Algumas terem acedido a posições de chefia e/ou de direcção. tinham já concluído a formação académica aquando da Outro aspecto importante é o facto de cada uma sua entrada no jornalismo, outras continuaram a estudar delas intervir politicamente na sociedade, utilizando por após o exercício da profissão. Este dado é significativo, vezes o jornalismo como forma de denúncia de situações uma vez que a maior parte dos seus colegas não tinha que consideravam injustas, e as quais criticavam na sua o mesmo passado escolar. Segundo apurou José Luís condição de cidadãs e não exclusivamente de mulheres. Garcia5, as maiores percentagens de jornalistas cujas Ou seja, a selecção baseou­‑se não no facto de as consi‑ habilitações vão desde o ensino obrigatório ao comple‑ derar representativas (de alguma forma) das mulheres mentar (12.º ano) estão concentradas nas faixas etárias jornalistas destas décadas, mas antes por elas terem mais velhas (de 41 a 55 anos, aqui distribuídos por 63,2 contribuído para a afirmação das mulheres no jornalismo por cento dos homens e dez por cento das mulheres, e e na sociedade. Das seis repórteres, quatro têm livros com mais de 55 anos, sendo revelador que a percenta‑ publicados e a sua intervenção social não se fica pela gem neste grupo cabe inteiramente ao sexo masculino: redacção de notícias. Na sua escrita, há críticas sociais 90,9 por cento). Em consonância com estas estimati‑ e, por vezes, denúncia da situação de inferioridade das vas, são sobretudo as mulheres que, entre os jornalistas mulheres e/ou de outros grupos. Algumas partilham a mais velhos (daqueles dois grupos etários), possuem em escrita jornalística com outros registos: Maria Teresa bacharelato ou mesmo licenciatura (80 por cento contra Horta é poetisa e ficcionista, Alice Vieira lançou­‑se 23,7 por cento na faixa etária que vai dos 41 aos 55 anos).

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Por esta altura, verifica‑se­ a existência de um grande com as fontes, para as quais as entrevistas conduzidas número de jornalistas com habilitações escolares redu‑ por mulheres não eram habituais. Sobre a sua vida na zidas. actualidade, pretendeu­‑se saber quem são estas jornalis‑ Esta disparidade poderia provocar um certo ambien‑ tas, o que fazem e qual a sua representação do jornalismo te de animosidade, uma vez que os que tinham menos e das mulheres jornalistas de hoje. habilitações ou, pelo menos, conhecimentos (por exem‑ Para tal, construíram­‑se breves histórias de vida, plo de línguas estrangeiras) podiam sentir­‑se ameaçados. verificando­‑se as origens familiares, a formação escolar e Diana Andringa, que entrou para a revista Vida Mundial o percurso profissional, organizando­‑se, portanto, «sec‑ como tradutora, recorda que havia editores, e mesmo ções selectivas de uma vida focada» ou «vida solicitada directores, que não dominavam o inglês. De alguma sob questionamento mais ou menos directivo»6. forma, este detalhe demonstra como, também aqui, Partindo de um questionário estático, procedeu‑se­ se exigia mais a estas mulheres. a entrevistas semidirigidas, permitindo que as entre‑ As mulheres jornalistas que fazem parte deste estu‑ vistadas acrescentassem os aspectos que considerassem do tiveram um percurso longo — e atípico, considerando importantes e que fizessem uma «enunciação de si». o panorama de escolaridade dos portugueses — antes de O objectivo não foi o de escrever as biografias destas exercerem a profissão. mulheres; antes, pretendeu­‑se situá­‑las, como recomen‑ da Idalina Conde, no «quadro da sua específica expe- riência social da subjectividade». Propõe­‑se, assim, focar Objectivos específicos as histórias de vida das entrevistadas limitando‑as­ à e metodologias hipótese minimalista, por se circunscreverem à biografia de vida delas enquanto jornalistas: Pretende­‑se saber quem eram estas mulheres; de que forma entraram no mundo do jornalismo e como evo‑ […] períodos embrionários à decisão pela vocação; en‑ luíram. Ou seja, identificar qual foi a forma de acesso à trada em formação, ambiente, inserção e percurso esco‑ profissão, numa altura em que a oferta de trabalho na lar; […] experiências e vivências em grupos de pertença área era dirigida ao sexo masculino. ao lado das relações projectivas com grupos de referên‑ Relativamente ao seu percurso profissional, procura­ cia, paralelamente à cadeia de alianças/rupturas/tran‑ ‑se definir como era o relacionamento com a censura e sições observadas na travessia de círculos de afinidade

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e/ou contraposição electiva; influências, parceiras e autoritário, procurámos saber quais as suas posturas concorrências marcantes do trabalho artístico pessoal políticas. Se militavam em alguma estrutura partidária segundo a evolução do tipo e ritmos de produção […]7 ou se se identificavam com alguma corrente político­ ‑ideológica. Se durante essa década intervieram em algu‑ É igualmente importante perceber que tipo de formação ma acção organizada pela oposição — clandestina ou e consciências cívicas estas jornalistas possuíam enquan‑ não. Haveria outras mulheres no jornalismo que fossem to cidadãs, dado que este é um dos pontos que foi con‑ afectas ao regime salazarista? Qual é hoje a sua repre‑ siderado distintivo e determinante da selecção por que sentação da vida política do passado? De que forma se optou. Tendo presente que eram pessoas integradas conviviam na altura com o facto de serem cidadãs de um em famílias, procurou‑se­ averiguar qual foi a reacção dos país que lhes negava o acesso aos mesmos direitos que os parentes mais próximos, bem como dos amigos, relativa‑ homens, nomeadamente no que à autonomia financeira mente à opção profissional que estas mulheres fizeram e individual dizia respeito (careciam de autorização do (algumas das entrevistadas referem que a sua opção não marido para viajarem ou para abrirem um negócio, por foi bem aceite pela família: Maria Antónia Palla recor‑ exemplo)? da que a mãe nunca compreendeu a sua decisão; Edite Interessa igualmente perceber qual era a sua posição Soeiro lembra que o pai recebeu cartas anónimas que face aos feminismos que floresciam no Ocidente (sobre‑ reprovavam o trabalho dela no jornal de Benguela; Diana tudo no mundo anglo­‑saxónico) e um pouco por toda Andringa explica que a mãe sempre preferiu que ela a Europa9. Quando as mulheres portuguesas se viam tivesse seguido outra carreira, muito embora isso nunca confrontadas com um estatuto de inferioridade jurídica tenha afectado a sua relação com a progenitora). e com o «preconceito baseado na sua inabilidade profis‑ É verdade que estas jornalistas não se enquadram no sional», que posição assumiam face aos movimentos que protótipo dos «deserdados» ou daqueles que nunca tive‑ reclamavam a igualdade entre os géneros em todas as ram acesso à palavra8. Acresce ainda que a «história do áreas da sociedade? tempo presente não se faz sem o recurso às fontes orais», Tendo em consideração que estas mulheres tinham como afirma a historiadora Danièle Voldman, citada por acesso a um espaço público que era reservado aos Manuela Tavares. homens, sobre o que escreviam? Que grau de interven‑ Uma vez que se vivia uma época muito particular ção e poder tinham? Que tipo de relação estabeleciam da história de Portugal, dado que vigorava um Estado com os seus pares?

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De forma a descrever o contexto em que estas pes‑ soas ingressaram no jornalismo, há que fazer uma breve caracterização da profissão na época a que se reporta Parte ii este livro. É também necessário caracterizar a população portuguesa, isto é, perceber em que sociedade se inse‑ Problemáticas riam as seis jornalistas e o que era esperado das mulheres em geral. E, por último, pretende‑se­ compreender que repre‑ sentação elas têm de si próprias relativamente ao papel que desempenharam no jornalismo. Foram estas as principais questões que nos motiva‑ ram para a concretização deste livro.

[36] m 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, Ea Europa dos Aliados derruba as ditaduras nazi e fascista. Em Portugal, a oposição à política salazarista cresce e, com os ventos de democracia a soprarem da Europa, os antagonistas do regime parecem ter a sua oportunidade. O Movimento de União Democrática (MUD) conquista apoio popular, e Salazar anuncia elei‑ ções à Assembleia Nacional. Perante as manifestações de simpatia pelo MUD, as autoridades proíbem ses‑ sões de propaganda por parte da oposição, levando o movimento a retirar­‑se da corrida eleitoral, apelando à abstenção. Em jeito de resposta aos críticos e às acusações de falta de condições para eleições livres, Salazar afirma: «não fazemos eleições por ser moda... e as eleições são absolutamente livres, tão livres como na livre Inglaterra». Apesar da contestação ao resultado do escrutínio, ale‑ gadamente fraudulento, o regime beneficia do clima de fobia comunista vivido no mundo ocidental, e a ditadura portuguesa sobrevive a mais esta prova.

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Entrevistas

Entrevista realizada a Acácio Barradas a 12 de Junho de 2004, em Lisboa. Entrevista realizada a Diana Andringa a 21 de Junho de 2004, em Lisboa. Entrevista realizada a Maria Antónia Palla a 7 de Outubro de 2004, em Lisboa. Entrevista realizada a Edite Soeiro a 9 de Dezembro de 2004, em Oeiras. Entrevista realizada a Leonor Pinhão a 8 de Agosto de 2005, em Lisboa. Entrevista realizada a Maria Teresa Horta a 4 de Janeiro de 2006, em Lisboa. foi composto em caracteres Hoefler Text e impresso pela Entrevista realizada a Alice Vieira a 7 de Julho de 2006, em Lisboa. Guide, Artes Gráficas, sobre papel Coral Book de 80 grs, no mês de Julho de 2012.

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