CICLO DE ESTUDOS RAMO ESTUDOS LOCAIS E REGIONAIS - CONSTRUÇÃO DE MEMÓRIAS

Maria Lamas e As Mulheres do Seu País: Construção de narrativas através de olhar de mulher, jornalista e intelectual

Maíra Fernanda dos Santos Saragiotto

M Ano

Maíra Fernanda dos Santos Saragiotto

Maria Lamas e As Mulheres do Seu País: Construção de narrativas através do olhar de mulher, jornalista e intelectual

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em História e Património - Ramo Estudos Locais e Regionais - Construção de Memórias, orientada pela Professora Doutora Inês Amorim e pela Professora Doutora Maria Helena Cardoso Osswald

Faculdade de Letras da Universidade do

2020

Maíra Fernanda dos Santos Saragiotto

Maria Lamas e As Mulheres do Seu País: Construção de narrativas através olhar de mulher, jornalista e intelectual

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em História e Património - Ramo Estudos Locais e Regionais - Construção de Memórias, orientada pela Professora Doutora Inês Amorim e pela Professora Doutora Maria Helena Cardoso Osswald

Membros do Júri Professor Doutor (escreva o nome do/a Professor/a)

Faculdade (nome da faculdade) - Universidade (nome da universidade)

Professor Doutor (escreva o nome do/a Professor/a)

Faculdade (nome da faculdade) - Universidade (nome da universidade)

Professor Doutor (escreva o nome do/a Professor/a)

Faculdade (nome da faculdade) - Universidade (nome da universidade)

Classificação obtida: (escreva o valor) Valores

Às mulheres da minha vida

Sumário

Declaração de honra ...... 4 Agradecimentos ...... 5 Resumo ...... 6 Abstract ...... 7 Índice de Figuras ...... 8 Índice de Tabela ...... 10 Lista de abreviaturas e siglas ...... 11 Introdução ...... 12 1. Breve contextualização: enquadramento historiográfico ...... 17 1.1. “As mulheres sempre trabalharam” ...... 18 1.2. As mulheres portuguesas, da retórica à realidade ...... 20 2. Maria Lamas e a preparação da obra As Mulheres do Meu País ...... 29 2.1. Mulher, escritora, jornalista e ativista ...... 29 3. As Mulheres do Meu País ...... 41 3.1. A arquitetura da obra ...... 41 3.2. Um olhar de viajante comprometida ...... 44 3.3. Camponesas ...... 46 3.4. Mulheres do Litoral ...... 56 3.5. Operárias ...... 58 3.6. Empregadas e Profissionais ...... 62 3.7. Mulheres Domésticas ...... 63 3.8. Maria Lamas fotógrafa: uso de imagens como registo da escrita ...... 66 Conclusão ou Considerações Finais...... 74 Fontes de Informação ...... 77 Anexos ...... 90 Anexo 1...... 91 Anexo 2...... 96 Anexo 3...... 100 Apêndices ...... 116 Apêndice 1 ...... 117 Apêndice 2 ...... 120

2

3 Declaração de honra

Declaro que a presente dissertação é de minha autoria e não foi utilizada previamente noutro curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a outros autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as regras da atribuição, e encontram-se devidamente indicadas no texto e nas referências bibliográficas, de acordo com as normas de referenciação. Tenho consciência de que a prática de plágio e auto-plágio constitui um ilícito académico.

Porto, 2020

Maíra Fernanda dos Santos Saragiotto

4 Agradecimentos

Aos meus pais e familiares, que acreditaram, incentivaram e apoiaram as minhas escolhas. Aos meus amigos e amigas queridos, Rodolfo Hipólito, Juliana da Paz, Carolina Gonçalves Alves, Juliana Tillmann, Rodolpho Machado, Joice Sousa entre tantos outros, que são essenciais. À minha companheira, Isabela Christ, que embarcou comigo nesta viagem transatlântica. Às minhas orientadoras Professora Doutora Inês Amorim da Silva e Professora Doutora Maria Helena Cardoso Osswald, sempre atentas, solícitas e pacientes durante todo o curso. E aos demais professores, sempre dedicados à formação de cada colega. Muito obrigada!

5 Resumo

Esta dissertação presente analisar as circunstâncias do desenvolvimento e publicação da obra As Mulheres do Meu País, escrita pela jornalista portuguesa, Maria Lamas, entre os anos de 1948 e 1950. Trabalho publicado inicialmente em fascículos e que em 2002 ganhou uma nova edição pela editora Editorial Caminho. A obra surgiu tanto como denúncia das políticas impostas às mulheres durante (1933-1974), quanto para identificar e registar quem eram as trabalhadoras portuguesas: camponesas, mulheres do mar, operárias, trabalhadoras domésticas e outras profissionais. O presente trabalho analisa os contextos em que se produziu essa publicação, o percurso de Maria Lamas na sua preparação e explora o seu conteúdo. Procurou-se detetar o olhar comprometido e atento da autora à diversidade das mulheres do seu País, às relações e condições de trabalho. Anotaram-se as condicionantes de construção de um repositório de informação, raramente explorado,assim como as variáveis observadas na construção de identidades plurais das mulheres deste País.

Palavras-chave: construção de identidades, mulheres, As Mulheres do Meu País, Maria Lamas, Estado Novo

6 Abstract

This dissertation analyzes the circumstances of the development and publication of the work As Mulheres do Meu País, written by the Portuguese journalist, Maria Lamas, between the years 1948 and 1950. Initially it was published in fascicles and in 2002 won a new edition by the publisher Editorial Caminho. The work emerged both as a denunciation of the policies imposed on women during Estado Novo (1933-1974), as well as to identify and register who the Portuguese workers were: peasants, women of the sea, female workers, domestic workers and other professionals. The present work analyzes the contexts in which this publication took place, the path of Maria Lamas in its preparation and explores its content. We sought to detect the author's committed and attentive eye to the diversity of women in her country, to relations and working conditions. The constraints of building a repository of information, rarely explored, were noted, as well as the variables observed in the construction of plural identities of women in this country.

Key-words: Identities, women identities, As Mulheres do Meus País, Maria Lamas, Estado Novo

7 Índice de Figuras

FIGURA 1 - CAMPONESA MINHOTA ...... 69

FIGURA 2 - MULHERES E JOVENS DA COSTA NOVA ...... 70

FIGURA 3 - MULHERES TRABALHANDO NO TRANSPORTE DE CARVÃO ...... 71

FIGURA 4 - MULHERES QUE TRABALHAVAM NO TRANSPORTE DE CARGAS DIVERSAS ...... 72

FIGURA 5 - JOVEM TRICANA DE AVEIRO ...... 73

FIGURA 6 - A CAMPONESA ...... 100

FIGURA 7 - ARES DO LITORAL ...... 101

FIGURA 8 - TERRAS DO MINHO ADENTRO ...... 102

FIGURA 9 - PARA LÁ DO MARÃO ...... 103

FIGURA 10 - NAS RIBAS DO ALTO DO DOURO ...... 104

FIGURA 11 - NO DOURO LITORAL ...... 105

FIGURA 12 - ATRAVÉS DAS BEIRAS ...... 106

FIGURA 13 - ALENTEJO ...... 107

FIGURA 14 - NA REGIÃO ALGARVIA ...... 108

FIGURA 15 - ESTREMADURA ...... 109

FIGURA 16 - RIBATEJO ...... 110

FIGURA 17 - NO ARQUIPÉLAGO DA ...... 111

FIGURA 18 - NAS ILHAS DOS AÇORES ...... 112

FIGURA 19 - A MULHER DO MAR ...... 113

FIGURA 20 - A OPERÁRIA ...... 115

FIGURA 21 - CAPA FASCÍCULO DE AS MULHERES DO MEU PAÍS ...... 117

FIGURA 22 - CONTRACAPA DO FASCÍCULO AS MULHERES DO MEU PAÍS ...... 118

FIGURA 23 - MULHERES CAMPONESAS DE AFIFE, FREGUESIA PORTUGUESA DE VIANA DO CASTELO ...... 120

FIGURA 24 - CRIANÇA DE CASTELO DO NEIVA CONDUZINDO BOIS PARA O PASTO ...... 121

FIGURA 25 - VENDEDEIRAS DO MERCADO DO BOLHÃO, NO PORTO ...... 121

FIGURA 26 - LEITEIRAS DE PEDRAS RUBRAS, NA ESTAÇÃO DA TRINDADE, PORTO ...... 122

FIGURA 27 - RAPARIGAS DE ENTRE-OS-RIOS EM DIA DE FESTA ...... 122

FIGURA 28 - CAMPONESA DE COVÃO DA PONTE, REGIÃO DE MANTEIGAS, PASSANDO PELA PENEIRA O CENTEIO ...... 123

FIGURA 29 - CAMPONESA E CRIANÇA, DA REGIÃO DE FOLGOSINHO, CONCELHO DE GOUVEIA ...... 123

FIGURA 30 - AVÓ E NETOS DA REGIÃO SERRANA DE BEIRA ALTA ...... 124

FIGURA 31 - CAMPONESAS QUE TRABALHAVAM NAS “MARINHAS DE ARROZ”, NA REGIÃO DE AVEIRO ...... 124

8 FIGURA 32 - - CAMPONESA DA REGIÃO DA SERRA DA ESTRELA E SEU CASO COM BALCÃO SOB O QUAL SE

RECOLHIAM AS GALINHAS OU PORCOS ...... 125

FIGURA 33 - MULHERES DE GAFANHA, FREGUESIA DO CONCELHO DE ÍLHAVO, TRABALHANDO NA SECA DO

BACALHAU ...... 125

FIGURA 34 - MULHERES DE GAFANHA, FREGUESIA DO CONCELHO DE ÍLHAVO, QUE TRABALHAVAM NA SECA DO

BACALHAU ...... 126

FIGURA 35 - MULHER TRABALHADORA NA SECA DO BACALHAU ...... 126

FIGURA 36 - CAMPONESAS BEIROAS QUE DURANTE OS MESES DE OUTUBRO A JUNHO TRABALHAVAM NAS

QUINTAS E HERDADES ALENTEJANAS ...... 127

FIGURA 37 - CEIFEIRAS NA COLHEITA DE ARROZ, NA RIBEIRA DE MARATECA ...... 127

FIGURA 38 - JOVENS ALDEAS DE AZINHAL, FREGUESIA DO CONCELHO CASTRO MARIM, FAZENDO RENDAS DE

BILROS ...... 128

FIGURA 39 - CASEIRA ALGARVIA. AO FUNDO MOURISCO QUE ABASTECE DE ÁGUA AS REGAS ...... 128

FIGURA 40 - CAMPONESA, DA FOZ DE ARELHO, MONTADA NO SEU BURRICO ...... 129

FIGURA 41 - MULHERES NO AREAL DE FURADOURO SEPARANDO OS PEIXES QUE ERAM DESPEJADOS NA PRAIA ...... 129

FIGURA 42 - JOVENS TRABALHADORAS DAS MINAS DE S.PEDRO DA COVA ...... 130

9 Índice de Tabela

TABELA 1 - DICIONÁRIO DE PROFISSÕES ...... 51

TABELA 2 - LISTAGEM DE FOTÓGRAFOS QUE TIVERAM SUAS IMAGENS PUBLICADAS NA OBRA AS MULHERES DO

MEU PAÍS, DE MARIA LAMAS ...... 91

TABELA 3 - EXTRATEXTOS - LISTAGEM DE OBRAS/ARTISTAS QUE TIVERAM SUAS IMAGENS PUBLICADAS NA OBRA

AS MULHERES DO MEU PAÍS, DE MARIA LAMAS ...... 96

10 Lista de abreviaturas e siglas

ACP ...... ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA

CNMP ...... CONSELHO NACIONAL DAS MULHERES PORTUGUESAS

FDIM ...... FEDERAÇÃO DEMOCRÁTICA INTERNACIONAL DE MULHERES

FSA ...... FARM SECURITY ADMINISTRATION

LRMP ...... LIGA REPUBLICANA DAS MULHERES PORTUGUESAS

MDM ...... MOVIMENTO DEMOCRÁTICO DE MULHERES

MND ...... MOVIMENTO NACIONAL DEMOCRÁTICO

MNF ...... MOVIMENTO NACIONAL FEMININO

MPF ...... MOCIDADE PORTUGUESA FEMININA

MP ...... MOCIDADE PORTUGUESA

MUD ...... MOVIMENTO DE UNIDADE DEMOCRÁTICA

OMEN ...... OBRA DAS MÃES PARA A EDUCAÇÃO NACIONAL

PIDE ...... POLÍCIA INTERNACIONAL E DE DEFESA DO ESTADO

URSS ...... UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS

11 Introdução

O presente trabalho usa como objeto de estudo a obra As Mulheres do Meu País, escrita pela jornalista e escritora portuguesa Maria Lamas, entre os anos de 1948 e 1950. Partindo da questão “Como as mulheres portuguesas foram representadas por Maria Lamas na obra As Mulheres do Meu País”, usaram-se como critérios orientadores de análise os seguintes indicadores: construção de identidades, representatividade e memória do grupo – mulheres e trabalhadoras. Ou seja, pretendeu-se analisar a representação das mulheres portuguesas presentes no conteúdo desta obra a partir desta perspetiva que incide sobre a identidade de um grupo na sua vertente de agentes de trabalho, procurando entender sob que prisma Maria Lamas via e interpretava estas mulheres. O ponto de partida é anunciado pela própria autora, “como vivem e trabalham as mulheres portuguesas”, frase indagativa tinha como propósito “ver” as outras mulheres. Segundo a historiadora francesa, Michelle Perrot (2007, p. 22), a representação das mulheres era apenas uma leve sombra no teatro da memória. Sendo Maria Lamas uma intelectual e ativista, como se verá, como pode ela observar as outras mulheres, as que povoam vários pontos de dos anos 40 a 50. Em que medida ela se aproxima e como desse quotidiano? Que filtros, pessoais e coletivos, conduziram a descrição a que se entregou? Mulheres como um grupo ou cenários compostos? Que tinham de comum? Qual foi o guião dessa viagem? Resultou de um trabalho de campo ou de uma construção intelectual, mesmo ficcional? Maria da Conceição Vassalo e Silva, nasceu no dia 6 de outubro, na cidade de . Cresceu em uma família de tradições religiosas e orientações políticas republicanas. Nasceu durante o regime monárquico português, acompanhou a instauração da República, da Ditadura, a implementação do Estado Novo e participou da Revolução de 25 de abril de 1974 e pós-Revolução. Foi casada duas vezes, na segunda adquiriu o nome de Maria Lamas, teve três filhas, netos e bisnetos. Teve uma vida profissional intensa e frutífera e uma vida política de luta e resistência, principalmente, em defesa da mulher, da criança, da paz e da democracia. Faleceu a 6 de dezembro de

12 1983, com 90 anos de idade (Baptista, 2017; Bastos J. G., 2017; Cabrita, 2016; Fiadeiro, 2003; Lamas R. W.-N., 1995; Moleiro, 2013). Este breve resumo enquadra as múltiplas facetas do seu longo percurso. Sendo uma figura estudada, já a obra As Mulheres do Meu País (fruto de fascículos compilados) não o é, de forma sistemática. Algumas exceções, mas sempre de um determinado ponto de vista (Cabral, 2017; Neves, 2007/2008),pelo que pareceu essencial entender o seu significado e perceber como foi montada a obra, os seus conteúdos, a articulação com os contextos históricos e a história da sua produção e impacto. O trabalho segue no sentido de conhecer quem foi a autora, quais foram as vivências, o percurso intelectual e profissional e quais foram os caminhos que a levaram para a escrita da obra a ser analisada. Ou seja, a análise da representação das mulheres trabalhadoras portuguesas descritas e observadas por Maria Lamas. Dos seus ofícios, quotidianos, sujeitos que ganharam “vida”, através do olhar denunciador da jornalista. Também compreender como a historiografia contemporânea contribuiu para o alargamento da discussão e da necessidade de inserir a temática “mulher”, não somente nos estudos académicos, como também na política, cultura, na sociedade como um todo. O grande objetivo é observar o conteúdo daquela obra, a sua estrutura, organização, elementos que a compõem, noções desenvolvidas, materiais recolhidos e impactos. O estudo proposto conta já com uma longa e detalhada biografia da autora, visto que a investigadora e jornalista, Maria Antónia Fiadeiro (Fiadeiro, 2003) fez um trabalho de pesquisa intensa sobre a atuação e produção jornalística de Maria Lamas. Existem, também, muitos outros trabalhos académicos - dissertações de mestrado e teses de doutoramento - (Martins, 2007; Inverno C. R., 2010; Prates, 2010; Mattos, 2018) , textos, artigos que se dedicaram à vida e percurso da jornalista e que foram consultados ao longo desta dissertação. Após o estudo biográfico sobre Maria Lamas, houve a necessidade de pesquisa, leitura e análise, principalmente, do período de Estado Novo português (1933-1974). Visto que a obra As Mulheres do Meu País foi produzida sob as políticas e influências ideológicas do regime. Foram lidos trabalhos de estudiosas como Irene Pimentel, Vanda Gorjão,

13 Irene Vaquinhas, Anne Cova, Rosmaire Lamas entre outros que se dedicaram a discussão da condição feminina durante o Estado Novo (Pimentel, 1998) (Pimentel, 2016) (Pimentel, 2007) (Pimentel, 1999) (Gorjão, 2002) (Vaquinhas, 2019) (Cova & Pinto, 1997) (Lamas R. W.-N., 1995). Este estudo contou, essencialmente, com a leitura da segunda edição da obra As Mulheres do Meus País. Trabalho originalmente publicado em 15 fascículos mensais, de maio de 1949 a maio de 1950 , mas que ganhou em 2002 uma nova edição - já esgotada e raríssima - pela editora Editorial Caminho. Para o desenvolvimento da pesquisa, escrita e publicação desta obra, Maria Lamas percorreu Portugal continental e ilhas com a finalidade de registar e denunciar as várias formas de trabalho realizado pelas mulheres portuguesas. Após longos anos, atuando como escritora, jornalista e diretora do Suplemento Feminino Modas e Bordados do Jornal O Século e à frente do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), Lamas desafiou a suposta proteção do Estado Novo em relação às mulheres portuguesas e decidiu durante dois anos retratar as condições de vida e de trabalho das mesmas. Em carta do dia 09 de dezembro de 1947, Maria Lamas escreveu: Percorri todo o Alto Minho - regiões de Monção, Melgaço até Castro Laboreiro; Valença, Ponte da Barca, Lindoso e Soajo. Visitei muitas aldeias. Andei de comboio, de automóvel, de jeep, de camião e... a pé. Atravessei desfiladeiros, côrregos e chãs. Apanhei chuva, frio, neve e também sol. E aqui estou mais entusiasmada com As Mulheres do Meu País do que quando saí de Lisboa. Esta obra tem muito mais interesse e é muito mais vasta do que eu própria supunha... Estou a trabalhar com inteligência, com os nervos e... os músculos, mas também com o coração. Não lhe conto pormenores das minhas viagens porque desejo mantê-las tanto quanto possível inéditas até a publicação da obra. Mas sempre lhe digo que uma viagem destas, nas circunstâncias em que a estou fazendo é uma lição de vida mais profunda e eficaz do que os melhores livros (Fiadeiro, Maria Lamas, Biografia, 2003, p. 141). As descrições feitas por Maria Lamas retratam as mulheres, essencialmente, no universo laboral e no universo familiar - o namoro, casamento e maternidade. E isso se dá num

14 determinado território e tempo em que as identidades – ou a identidade – das mulheres se projetam. Além do olhar da autora, há o olhar das próprias observadas sobre si mesmas, sobre a observadora e da jornalista e sobre si mesma. Nota-se que este trabalho foi possível graças ao empenho e necessidade de Maria Lamas em conhecer mais a fundo as condições de vida dessas mulheres e ao impulso que as políticas e discurso que o Estado Novo lhe deu. Discurso este guiado pela ideologia “Deus, Pátria e Família” e que via a mulher não como escrava, mas como alguém que dentro do lar deve ser amada e respeitada, porque sua função de mãe, de educadora dos filhos não é inferior ao homem. A família era a pedra fundamental da sociedade organizada, portanto ao homem ficaria a função de lutar com a vida no exterior e à mulher defendê-la no interior da casa (Pimentel, 1999, p. 64). A escrita de As Mulheres do Meu País foi a tentativa de refutar todo esse discurso acerca da representação da mulher portuguesa e a qual Maria Lamas fez com grande empenho e disposição. Para a realização deste trabalho de análise do percurso e conteúdo da obra foram feitas leituras, análises e cotejos entre obras e artigos teóricos e contemporâneas, biografias e consulta de literatura cinzenta. Depois a leitura e análise da fonte documental As Mulheres do Meu País, segunda edição publicada em 2002. Foram vistos documentários televisivos sobre a jornalista Maria Lamas e suas obras. Além disso, foi realizada conversa informal, no dia 21/09/2020, com o neto de Lamas, José Gabriel Pereira Bastos. Antropólogo e psicanalista que tem obras publicadas sobre a jornalista e mantém uma página de rede social também sobre Maria Lamas1. Foram feitas duas visitas à Biblioteca Nacional de Portugal, para consulta ao Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea, Fundo E28 - Espólio de Maria Lamas2 e visitas

1 Facebook Maria Lamas. Disponível em https://www.facebook.com/MARIA-LAMAS-514011695355290. Consultado em 06 de janeiro de 2020. 2 Espólio adquirido por compra através dos herdeiros da autora, representados por D. Maria Cândida Caeiro (filha da jornalista), em outubro de 1993. O espólio 28 contem 67 caixas, conservando um conjunto de cartas de e para Maria Lamas, manuscritos, impressos, arquivo fotográfico, documentos biográficos e manuscritos de terceiros. Acervo disponível para consulta local, não estando os documentos acessíveis digitalmente. Disponível em http://acpc.bnportugal.gov.pt/espolios_autores/e28_lamas_maria.html

15 virtuais aos arquivos Casa Comum – Fundação Mário Soares3 e Arquivo de História Social4. As consultas e pesquisas passaram ainda pelas Biblioteca Municipal do Porto, Biblioteca Almeida Garrett e Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Alguns textos e livros presentes neste trabalho foram consultados de forma virtual, principalmente, devido ao agravamento da pandemia Covid-19 - durante os meses de março, abril, maio, junho e julho -, impossibilitando a consulta presencial a acervos, arquivos e bibliotecas.

3 Casa Comum, desenvolvido pela Fundação Mário Soares. Disponível em http://casacomum.org/cc/arquivos 4 Arquivo de História Social, antes designado por Arquivo Histórico das Classes Trabalhadoras. Disponível em http://www.ahsocial.ics.ulisboa.pt/atom/pt-ahs-ics

16 1. Breve contextualização: enquadramento historiográfico

Este capítulo procura contextualizar, brevemente, o discurso do século XIX pautado na ciência e medicina com a finalidade de provar a inferioridade da mulher, justificada na diferença dos sexos. Discurso naturalista, apoiado nos conhecimentos ainda incipientes mas prometedoresdna medicina e da biologia, e dos quais se deduzia a inferioridade da mulher em relação ao homem e a consequente imposição de um retorno ao lar, à sociedade feminina. Além disso, este item procura compreender a discussão acerca da construção do conceito e identidade feminina, principalmente, no contexto ocidental europeu, aproveitando os resultados a historiográfica produziu aquando do processo de ampliação do campo temático na História (Pesavento, 2005). Tal ficou a dever-se também ao modo como o movimento da História Cultural serviu para inserir “os excluídos” da História (Perrot, 2017) na história das representações. Principalmente, com a aproximação da História e da Antropologia e das Ciências Sociais, na década de 1960, proporcionando uma maior discussão acerca das identidades étnicas, raciais, reliogosas, etárias e de género (Pesavento, 2005; Virgili, 2002). Neste sentido, analisando o contexto português, torna-se necessário entender quais foram as políticas e atuações do governo durante o Estado Novo (1933-1974) que precederam e impulsionaram o desenvolvimento e a publicação da obra escrita pela jornalista e escritora, Maria Lamas, durante os anos de 1948 e 1950. A intenção não é fazer uma análise minuciosa acerca do período histórico estado-novista português, mas pontuar as políticas e representações governamentais acerca da condição da mulher. Através da propagação ideológica “Deus, Pátria e Família”, o governo português tentou controlar e orientar a vida feminina através de discursos, organizações e instituições que estavam alinhadas com este ideal (Almeida L. A., 2010, p. 1; Cova & Pinto, 1997, p. 81; Gorjão, 2002, p. 77; Lamas R. W.-N., 1995, p. 112). Desta forma, a proposta é entender quais foram as políticas e atuações do governo estado-novista em relação, essencialmente, às mulheres e como estas contribuíram para o engajamento de Maria Lamas para a pesquisa e escrita de As Mulheres do Meu País.

17 1.1. “As mulheres sempre trabalharam” “As mulheres sempre trabalharam”. É com a frase da historiadora francesa, Michelle Perrot (2005, p. 241), que se pretende iniciar a análise da história das mulheres no que ao trabalho, à representatividade e à visibilidade. Entender como se deu a representação da mulher no contexto histórico social, como a sua identidade foi proposta e construída e qual a sua relação com o trabalho. São inúmeras indagações com respostas que não se esgotam. Para compreender a representação das mulheres portuguesas trabalhadoras feita pela jornalista Maria Lamas, ao longo do texto As Mulheres do Meu País, faz-se necessário entender como a historiografia representou a mulher numa estrutura social mais ampla. E, a partir deste entendimento, perceber a construção de uma identidade e memória social de um determinado grupo elaborada pela autora, tendo como pano de fundo a política do Estado Novo, imposta às mulheres, e a denúncia das suas condições de vida e de trabalho. A partir do século XIX, o discurso pautado na ciência justifica-se a inferioridade da mulher, reconhecendo os elementos distintivos dos sexos. Discurso naturalista, apoiado na medicina e na biologia, “aos homens, o cérebro (muito mais importante do que o falo), a inteligência, a razão lúcida, a capacidade de decisão. Às mulheres, o coração, a sensibilidade, os sentimentos” (Perrot, 2017, p. 257). Notou-se uma acentuação da divisão do trabalho e uma separação dos locais de produção e de consumo. Ou seja, o homem estaria na fábrica e a mulher em casa, ocupando-se do trabalho doméstico. Esta concepção foi largamente endossada pela tradição cristã ocidental, seja na afirmação da dualidade entre Eva (a pecadora) e Maria (a virgem salvadora), seja na criação da mulher, por Deus, a partir da costela de Adão. Tais representações impuseram modelos de comportamento religioso e doméstico às mulheres, exortando- as à prática da virtude, da obediência, do silêncio, e à imobilidade em nome de uma ética religiosa (Tedeschi, 2012). O casamento passaria a ser um espaço defendido pela Igreja, principalmente a Católica, como algo imaculado. Através da figura da mulher ideal - a casada -, a Igreja elaborou papéis pré-estabelecidos dentro do seio familiar. Ao homem foi destinado o papel de guardião, protetor da família e da moral, representação

18 de autoridade, provedor. À mulher, a maternidade, o papel de mãe e esposa fiel. Desta forma, o espaço doméstico foi firmado pelo casamento, como espaço abençoado por Deus. Nesta dicotomia, as identidades de gênero foram separadas e projetadas com aspirações distintas. A figura masculina era pública, trabalhadora, chefe de família, provedora e único sujeito político. Enquanto a figura feminina era subalternizada (Vaquinhas & Guimarães, 2011, p. 197). A mulher, corpo fraco, frágil, delicado, foi condicionada ao privado, ao lar, foi-lhe imposta um lugar que não era público. Seu trabalho era da ordem do doméstico, da reprodução, não valorizado, não remunerado. Contudo, segundo Perrot (2005, p. 273), em uma sociedade dominada pelo poder/influência masculino, as mulheres exerceram, entretanto, todo o poder possível. As mulheres não foram somente vítimas ou sujeitos passivos, elas utilizaram os espaços e as tarefas que lhes foram disponibilizadas. Como por exemplo, o poder quotidiano, a posse do espaço da casa, da rua ou vizinhança, a gestão econômica do lar, o exercício da caridade (dever cristão que conduziram as mulheres para fora de casa para visitarem os pobres, os prisioneiros, os doentes, elas andavam pela cidade em itinerários que lhes eram permitidos). Observa-se que ensinar, cuidar e assistir foram a base das “profissões femininas”, marcas tanto da vocação quanto do voluntariado (Perrot, 2005, pp. 285- 286). É interessante notar que neste movimento de se pensar o trabalho feminino, o trabalho das mulheres camponesas não mereceu relevância. “Os museus das artes e tradições populares mostraram seus instrumentos, seu mobiliário, suas roupas e chapéus, inestimáveis testemunhos, que, no entanto, têm o efeito de fixá-las em posturas e trajes impecáveis, afastados da rudeza de seu cotidiano (Perrot, 2007, p. 110). Estas cuidavam da casa, da criação dos animais e rebanhos, da horta, de produtos que poderiam ser vendidos em feiras, trabalhavam nas colheitas, fiavam e teciam. A intensidade deste trabalho foi verificada pelo processo de industrialização, pelo êxodo rural e pelas guerras, que viu os campos esvaziados de homens e rapazes, transferindo para as mulheres parte de suas tarefas. Além disso, as guerras criaram condições favoráveis para a troca do trabalho doméstico pelo das indústrias onde predominava a mão-de- obra masculina (Pinto, 2015, p. 227).

19 Segundo Michelle Perrot (2007, p. 109), foi o regime assalariado, com a industrialização - séculos XVIII-XIX – que colocaria em evidência o "trabalho das mulheres". Contudo, o movimento operário faria, de um modo geral, “o elogio da domesticidade, manifestando opiniões conservadoras sobre o papel da mulher, excluindo-a das fábricas e das associações operárias e sindicais” (Vaquinhas & Guimarães, 2011, p. 198). O trabalho das mulheres nas fábricas, oficinas, ateliês era considerado um trabalho temporário. Ou seja, eram admitidas quando jovens, trabalhavam até ao casamento ou o nascimento de um filho, voltando ao trabalho anos mais tarde, quando os filhos já estavam criados (Perrot, 2007, p. 119). O caráter doméstico marcou o trabalho feminino, seja das operárias que ocupavam as fábricas e logo que casavam e engravidavam saiam do trabalho, seja a dona-de-casa burguesa que se vê restrita ao lar, ao trabalho doméstico e de reprodução, seja das empregadas domésticas, copeiras, cozinheiras, ajudantes de cozinhas que recebiam casa e comida em troca de trabalho, seja das profissionais do setor terciário – vendedoras, secretárias, enfermeiras, professoras – que ocupavam profissões que eram “boas para as mulheres5”. Portanto, o discurso predominante era educar as meninas, formá-las para seus papéis futuros de mulher, de dona-de-casa, de esposa e mãe. Impor bons hábitos de higiene, de economia, valores morais de pudor, obediência, polidez, renúncia e sacrifícios (Perrot, 2007, p. 93). Esta prática seria largamente proposta pelo Estado Novo português às mulheres e será analisada mais detalhadamente no capítulo seguinte. 1.2. As mulheres portuguesas, da retórica à realidade O início do século XX, em Portugal, foi marcado pela queda da Monarquia e instauração da República Portuguesa, em 5 de outubro de 1910, seguido pela Ditadura Nacional de 1926 a 1933 e, posteriormente, o estabelecimento do Estado Novo, apenas encerrado com a Revolução dos Cravos em 25 de abril de 1974. Neste item não será feita uma análise exaustiva desses momentos de grande agitação política, visto que o objetivo é compreender quais eram os ideias de representação feminina impostos pelo Estado

5 Características e qualidades ditas femininas que envolvem o cuidado, a assistência, devoção, prestatividade (Perrot, 2007, pp. 123-128).

20 Novo, reunidos em órgãos criados, essencialmente para propagar os ideais do regime (Pimentel, 1998; Pimentel, 1999; Rosas, 2001; Maurício, 2005; Gorjão, 2002). Interessante notar que o movimento feminista em Portugal, no início do século XX, atuou de forma moderada, ou seja, estava “mais atento à satisfação das suas reivindicações pela força da persuasão, do direito e da educação do que pela força dos gritos e das manifestações” (Silva M. R., 1983, p. 875). Essas associações tiveram forte influência da maçonaria e do movimento republicano. Principalmente alguns grupos que refletiram sobre o estatuto social do sexo feminino e propuseram mudanças para a efetivação da dignificação da mulher nas esferas sociais. São os seguintes: o Grupo Português de Estudos Feministas (1907), a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (1909), a Associação de Propaganda Feminista (1911), o Instituto Feminino de Educação e Trabalho (1911), o Círculo Feminista Português, a União das Mulheres Socialistas, o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (1914)6 e a Associação Feminina de Propaganda Democrática (1915) (Gorjão, 2002, p. 28). De alguma forma, estes movimentos de contra maré podem encontrar-se nos inícios do regime republicano, atenuando algumas normas que subjugavam as mulheres, como por exemplo, as Leis do Divórcio e da Família de 1910, que aboliram certas diferenciações jurídicas, consoante ao sexo, e estabeleceram o casamento civil como válido e antecessor do casamento religioso, em outras palavras, determinou a laicização do contrato matrimonial. Em 1911, foi concedido o direito de voto aos cidadãos portugueses com mais de vinte e um anos que soubessem ler e escrever e aos chefes de

6 Fundado em março de 1914, pela médica ginecologista (1867-1935), tornou-se na mais importante e duradoura organização portuguesa de mulheres da primeira metade do século XX, mantendo-se ativo até 1947, quando as autoridades salazaristas determinaram o seu encerramento (Esteves, 2006, p.1). Nos estatutos aprovados em abril de 1914, o CNMP tinha como objetivo uma maior participação das mulheres portuguesas, associações femininas - e não somente feministas - que se preocupavam com o bem da mulher e da criança. Além disso, propunha a coordenação e estímulo de todos os esforços que visavam à dignificação e à emancipação das mulheres, o melhoramento das condições materiais e morais da mulher e uma remuneração mais igualitária do trabalho (Cova & Pinto, O Salazarismo e as Mulheres: Uma Abordagem Comparativa, 1997, p. 78). O Conselho também fazia parte do International Council of Women, fundado em 1888, em Washington, Estados Unidos da América. Adelaide Cabete, a frente do Conselho, participou de alguns congressos feministas internacionais: Roma (1923), Washington (1925) e Paris (1926) (Pimentel, 2007, p. 26; Cova & Pinto, 1997, p. 78; Lamas R. W.- N., 1995, pp. 38-39; Esteves, 2006)

21 família, sem especificar o sexo dos eleitores. A médica Carolina Beatriz Ângelo7, que era viúva e chefe de família, aproveitou-se dessa ambiguidade e foi a primeira mulher a votar em Portugal (Lamas R. W.-N., 1995, p. 73). Em 1913, o novo Código Eleitoral corrigiu esse lapso e especificou que apenas os chefes de família do sexo masculino poderiam eleger-se e serem eleitos. O sufrágio feminino, pautado por algumas associações feministas, não foi plenamente realizado (Cova & Pinto, 1997, p. 77). No entanto, é Interessante mencionar que havia uma discordância entre estas associações acerca do sufrágio feminino. Algumas diziam que a capacidade eleitoral deveria ser adquirida progressivamente, porque muitas mulheres ainda não tinham consciência desse direito; já outras não só defendiam o direito ao voto, como deveria ser abrangido pela mesma amplitude que definia o eleitorado e elegibilidade dos homens (Gorjão, 2002, p. 34). Em 1931, a Ditadura Nacional “concedeu o voto à mulher, em circunstâncias muito restritas. Podiam votar as viúvas, as divorciadas, as mulheres que viviam judicialmente separadas de pessoas e bens, com família própria, as casadas com maridos ausentes no ultramar ou no estrangeiro, e mulheres com um curso superior” (Lamas R. W.-N., 1995, p. 76). Nos anos seguintes, o direito de voto das mulheres foi estendido às eleições para as Câmaras e Assembleia Nacional. A capacidade eleitoral das mulheres era determinada em função da chefia da família. Note-se que o voto feminino não tinha sido conquistado pelas mulheres mas decretado por uma entidade superior, um Chefe. Somente após a Revolução de 25 de Abril de 1974, o sufrágio universal se tornaria uma realidade. Em 1932, durante uma entrevista com o escritor, jornalista e político, António Ferro, o recém-empossado Presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, respondeu qual seria o papel compreendido à mulher no novo governo:

7 Juntamente com Ana de Castro Osório, Virgínia de Castro Almeida, Maria Veleda, Fausta Pinto, Adelaide Cabete e Angélica Porto criaram e gerenciaram a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (LRMP) que tinha como objetivos orientar, educar e instruir, mediante os princípios democráticos, a mulher portuguesa (Gorjão, 2002, p. 32). Estas mulheres pertenciam à média e alta burguesia das cidades, eram escritoras, professoras, educadoras e médicas e pregavam a necessidade de educação e instrução das mulheres para que estas fossem membros dignificadas na sociedade.

22 “(...) a mulher casada, como o homem casado, é uma coluna da família, base indispensável de uma obra de reconstrução moral” e “a sua função de mãe, de educadora dos seus filhos, não é inferior à do homem”. Segundo ele, ao homem cabia “lutar com a vida no exterior, na rua… E a mulher a defendê-la, no interior da casa” (Pimentel, 1999, p. 64). Desta maneira, a casa, o lar, o espaço familiar eram o ambiente natural da mulher. A mulher-mãe foi glorificada por desempenhar um papel importante no seio da família, a sua missão consistia em ocupar-se do lar e de ser a sua guardiã, influência benéfica ao filho e asseguradora da tranquilidade do espírito do marido e de um lar harmonioso (Cova & Pinto, 1997, p. 73). Ao instituir as responsabilidades e deveres sobre as dinâmicas familiares quotidianas, a organização e manutenção do espaço doméstico, a gestão do orçamento doméstico - financiado pelo marido, o governo passava mensagem de que a mulher era governante do lar e que deveria preocupar-se apenas com este, enquanto ao Estado cabia o controle e governo nacional. Em 1933, com a institucionalização do Estado Novo através da Constituição, cumpria ao Estado coordenar, impulsionar e conduzir todas as atividades sociais, com a finalidade de defender a saúde pública, garantindo a defesa da família, a proteção da maternidade e o zelo pela melhoria das condições de vida das classes mais desfavorecidas (Pimentel, 2016, p. 18). O artigo 5 desta Constituição, em parágrafo único, dizia que todos os cidadãos eram iguais perante a lei: A igualdade perante a lei envolve o direito de ser provido nos cargos públicos, conforme a capacidade ou serviços prestados, e a negação de qualquer privilégio de nascimento, nobreza, título nobiliárquico, sexo, ou condição social, salvas, quanto à mulher, as diferenças resultantes da sua natureza e do bem da família, e, quanto aos encargos ou vantagens dos cidadãos, as impostas pela diversidade das circunstâncias ou pela natureza das coisas. Assim, em virtude da “natureza” das mulheres lhes foi condicionada a permanência em casa, a dedicação às tarefas domésticas e a educação dos filhos, sendo-lhes negadas pelo regime a completa igualdade em relação aos homens. Além disso, a colaboração

23 entre Estado e Igreja Católica afirmava este preceito - da natureza feminina - através da Encíclica Rerum Novarum (Papa Leão XIII) de 1891, no qual dizia que existiam trabalhos menos adaptados à mulher, cuja natureza era destinada antes aos trabalhos domésticos; e da Quadragesim anno (Pio XI) de 1931, afirmava que era em casa ou nas dependências da casa, e entre ocupações domésticas, que se encontrava o trabalho das mães de família (Cova & Pinto, 1997, p. 72). A natureza feminina era legitimada pelo Estado e justificada pela Igreja, não obstante esta última, no âmbito da Doutrina Social, condenava a opressão de um modelo capitalista selvagem. Algumas leis promulgadas anteriormente ao Estado Novo foram revistas, modificadas e/ou anuladas. Como a anulação da Lei do Divórcio, proposta pela Primeira República, através do estabelecimento da Concordata entre a Santa Sé e o Estado português, em 1940, que passou a reconhecer os efeitos civis do casamento como leis canônicas, ou seja, os que se casavam pela Igreja não podiam divorciar-se. Esta situação vigorou até 1974, gerou muitas situações de relações extra-matrimoniais não legalizadas, aumentando o número dos filhos ilegítimos (Pimentel, 2016, pp. 21-22). Além de apresentar e aprovar projetos de Leis referentes às mulheres, em 1936, o Estado Novo criou, através do Ministério da Educação Nacional, - com a intenção de preparar e educar as jovens mulheres para desempenharem sua missão natural - a Obra das Mães para a Educação Nacional (OMEN) e, no ano seguinte, a Mocidade Portuguesa Feminina (MPF)8. A OMEN “englobava um pequeno núcleo de mulheres devotas a Salazar e ao seu regime. As suas patronas e dirigentes eram figuras da elite social de Lisboa, por vezes da aristocracia, e a componente católica era dominante” (Cova & Pinto, 1997, p. 82). Segundo os estatutos de 1936, à OMEN cabia a organização e filiação voluntária, impulsionar a ação educativa da família, garantindo a cooperação entre esta e a Escola

8 Em 1961, foi criado o Movimento Nacional Feminino (MNF), cujo objetivo era apoiar os militares portugueses durante a guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Além disso, o regime permitiu ainda a criação da Acção Católica Portuguesa (ACP), em 1933 pelo Episcopado (Cova, 1997, p.86).

24 e, principalmente, preparar as gerações futuras de mulheres para os deveres maternais, domésticos e sociais, através das seguintes diretrizes: 1. “Orientar as mães portuguesas por uma activa difusão das noções fundamentais de higiene e de puericultura para bem criarem os filhos em colaboração com a organização nacional Defesa da Família”; 2. “Estimular e dirigir a habilitação das mães para a educação familiar tendo em conta as diversas circunstâncias de classe e de meio”; 3. “Promover o embelezamento da vida rural e o conforto do lar como ambiente educativo, em relação com os usos locais e as boas tradições portuguesas, defendendo e estimulando as actividades e indústrias caseiras”; 4. “Defender os bons costumes, designadamente no que respeita ao vestuário, à leitura e aos divertimentos”; 5. “Promover e assegurar a educação infantil pré-escolar, em complemento da acção da família”; 6. “Dispensar aos filhos dos pobres a assistência necessária para que possam cumprir a obrigação de frequentar a escola, designadamente pela instituição de cantinas, distribuições de uniformes, distribuição de livros e fortalecimento das caixas escolares”; 7. “Coadjuvar o professor na organização do recenseamento escolar, na vigilância da compostura, de assiduidade e aplicação dos alunos e na instituição de prémios”; 8. “Dar ao professor uma cooperação efectiva na educação moral e cívica dos alunos, no ensino do canto coral, no exercício da ginástica rítmica e nas festas escolares”; 9. “Desenvolver nos portugueses o gosto pela educação física tendo em vista a saúde de cada um e o serviço da Pátria”; 10. “Organizar a secção feminina da Mocidade Portuguesa, em harmonia com a base XI da Lei 1941 e com o artigo nº 40 do regimento da Junta Nacional da Educação”; 11. “Contribuir de todas as formas para a plena realização da educação nacionalista da juventude portuguesa” (Pimentel, 2007, pp. 29-30).

25 A mulher/esposa/mãe era destinada, através desta organização, “a formar o esteio doméstico de uma família sã, reprodutora ideológica natural no seio do lar familiar e, sobretudo, na educação dos filhos, da fé e da moral católicas e dos princípios da ordem, da honra, do dever, do nacionalismo” (Rosas, 2001, p. 1045). A Mocidade Portuguesa Feminina9 (MPF) tinha como princípio e objetivo a educação e formação das jovens e mulheres cristãs portuguesas no amor de Deus, da Pátria e da Família. Tanto a OMEN quanto a MPF foram organizações que serviram de “correias de transmissão para a ideologia do Estado Novo, que correspondia basicamente na trilogia de “Deus, Pátria e Família” (Cova & Pinto, 1997, p. 83). O estatuto da MPF também estabelecia que a organização tinha por finalidade formar a mulher, por meio da educação moral, cívica, física e social; a educação moral seria a educação cristã, tradicional em Portugal, tendo a cooperação da família e dos agentes de ensino; a educação cívica também deveria inspirar-se no bem comum, nas tradições nacionais, no gosto da vida doméstica e no servir, pois cada filiada deveria ter consciência do dever e responsabildiade próprias do sexo, orientando para o perfeito desempenho da missão da mulher na família, no meio a que pertence e na vida da Nação portuguesa (Pimentel, 2007, pp. 30-31). Estas organizações pretendiam agir diretamente sobre o ambiente familiar, corrigindo- o, (re)educando as mulheres/esposas/mães e, atuando sobre a formação das crianças e jovens, que seriam futuras donas de casas, esposas e mães. Contudo, na prática, as direções destas organizações femininas - compostas, principalmente, de senhoras da aristocracia portuguesa e esposas de políticos – parece terem-se limitado a dar corpo a algumas iniciativas sob uma ideia muito própria de a praticar de caridade, a catequizar algumas mulheres e mães, sendo interlocutoras da trilogia ideológica estado-novista.

9 A Mocidade Portuguesa Feminina surgiu como complemento da Organização Nacional Mocidade Portuguesa, mais conhecida como Mocidade Portuguesa (MP). Criada em 1936 e extinta em 1974, era destinada somente aos rapazes, que eram preparados para servir a Nação apoiados nos princípios da família, autoridade, ordem e amor a Pátria.

26 A Mocidade Portuguesa Feminina foi extinta em 25 abril de 197410 e a Obra das Mães para a Educação Nacional no ano seguinte11. À mulher era reservado o espaço doméstico, o universo privado da casa, a educação dos filhos, o cuidado do marido, como verdadeira guardiã da casa, da moral e dos bons costumes. O trabalho da mulher fora de casa representava a desonra e desagregação das famílias, o declínio moral e também a concorrência com a força de trabalho masculina, no entender do regime salazarista. Além disso, o governo acreditava e propagava que as ocupações pesadas representavam um componente de destruição da beleza feminina e um desvio da função essencial da mulher, ser mãe. Além do mais, o trabalho poderia proporcionar à mulher uma atitude mais emancipada, independente e consciente (Almeida L. A., 2010, p. 7). Apesar do discurso contrário ao trabalho da mulher fora de casa, o Estado Novo enfrentou a realidade de que as mulheres ajudavam na complementação e sustento do lar, seja trabalhando na agricultura ou na indústria, pois o que se verificou em certos períodos do século XX foi uma intensa migração masculina, seja no contexto de guerras, seja para busca de melhores condições de vida fora do país. Apesar da retórica do “regresso ao lar”, as mulheres continuavam a ingressar no mercado de trabalho. De um lado era propagado o discurso oficial “o lugar da mulher é em casa”, de outro, histórias de vida de mulheres que eram essencialmente trabalhadoras e provedoras do sustento familiar. Um exemplo desta outra face é a identificação das primeiras associações femininas e feministas portuguesas, citadas acima, que surgiram exatamente na transição da Monarquia para Primeira República e que perduraram no Estado Novo. O movimento feminista português, do início do século XX, pode ser definido pelo “acesso à educação, direito ao trabalho, independência económica, autonomia pessoal, direito de opção

10 Decreto-Lei nº 171/74, Artigo 3º. Disponível em https://dre.pt/application/conteudo/523193. Consultado em 03 de março de 2020. 11 Decreto-Lei nº 69/75, Artigo 1º. Disponível em https://dre.pt/application/dir/pdf1sdip/1975/12/28800/20312032.pdf. Consultado em 03 de março de 2020.

27 quanto ao futuro, exercício consciente da sua missão educadora, lógica e justiça” (Silva M. R., 1983, p. 907). Durante a Primeira Guerra (1914-1918), as mulheres foram chamadas a substituir os homens em praticament (Barradas, 2014)e todas as profissões e ramos industriais. Em Portugal, onde os ramos industriais ainda eram incipientes, as trabalhadoras mulheres concentravam-se nas indústricas consideradas mais femininas, como as têxteis e as de alimentação. O trabalho era acompanhado da falta de legislação protetora, seja para mulheres grávidas, seja para trabalho noturno, e salário inferior ao do homem pelo mesmo trabalho desenvolvido (Lamas R. W.-N., 1995, p. 94). A falta de condições de trabalho e salário, o discurso doméstico, a atuação feminina restringia a mulher às profissões relacionadas à educação, cuidado e assistência social.

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2. Maria Lamas e a preparação da obra As Mulheres do Meu País

Este capítulo tem como objetivo apresentar quem foi a mulher, escritora, jornalista e ativista portuguesa, Maria Lamas (1893-1983). Nascida em Torres Novas, Portugal, a autora escreveu livros infantis, romances, poesia, trabalhou em jornais, foi diretora do suplemento semanal Modas e Bordados, do jornal O Século. Participou de palestras e congressos, organizou exposições e atuou em movimentos sociais e políticos que culminaram para o avanço da discussão e ampliação dos direitos das mulheres. Foi perseguida e presa pelo regime estado-novista, exilou-se em França, retornando a Portugal para a Revolução de Abril de 1974. Morreu aos 90 anos após uma vida dedicada à escrita, ao trabalho e à luta pela visibilidade das mulheres. Durante o final dos anos de 1940, Maria Lamas percorreu Portugal de norte a sul, interior ao litoral e ilhas, a fim de registar quem eram as mulheres trabalhadoras portuguesas. Esta viagem deu origem à obra As Mulheres do Meu País, publicada em fascículos ao longo dois anos, de maio de 1948 a maio de 1950, e que representou e ainda representa um documento no qual a jornalista procurou dar visibilidade às mulheres trabalhadoras portuguesas, mostrando suas especificidades, suas condições econômico-social, seus trajes e aspetos físicos. Enfim, características observadas e registadas a partir do olhar de uma mulher e intelectual que desejava mostrar estas mulheres através da escrita e imagem. 2.1. Mulher, escritora, jornalista e ativista Maria da Conceição Vassalo e Silva nasceu na cidade de Torres Novas12, no dia 6 de outubro de 1893. Filha mais velha do casal Maria da Encarnação Vassalo e Silva e de Manuel Caetano da Silva. Do pai, Maria da Conceição recebeu educação e valores republicanos, influenciada pelos ideais de fraternidade, justiça social, idealismo e luta. Manuel Silva era comerciante de tecidos, maçom e republicano convicto. “Pugnava pela

12 Cidade portuguesa que agrega dez freguesias localizadas na região Centro e sub-região do Médio Tejo. Disponível em https://www.cm-torresnovas.pt/index.php/municipio/historia-torres-novas.

29 educação dos seus filhos, pela aprendizagem formal na escola, preferencialmente pública, levava-os ao teatro e fomentava a formação pela leitura e outros meios culturais” (Moleiro, 2013, p. 132). Maria da Conceição Vassalo e Silva teve educação em português, francês, lavores e piano, durante os anos que permaneceu no Colégio Régio de Torres Novas13. Aos 17 anos casou-se com Teófilo Ribeiro da Fonseca14, Oficial da Escola Prática de Infantaria de Torres Novas, sendo um dos primeiros casamentos civis15 realizados “numa época em que o registro civil ainda não era obrigatório, mas o assento do seu casamento foi efetuado na administração do concelho, o que revelava uma atitude clara de opção" (Moleiro, 2013, p. 133; Fiadeiro, 2003, p. 10). Logo o casal partiu em viagem para o continente africano. Em correspondência enviada para o historiador angolano e amigo, Eugénio Monteiro Ferreira (2004, p. 24), Maria Lamas relatou que o breve período que viveu em Angola foi de uma realidade cruel, pois tinha da vida, até então, uma noção ingênua e ignorante. O casamento teve fim em 20 de fevereiro de 1920. Com Ribeiro da Fonseca, teve duas filhas, Maria Emília e Manuela. Após o divórcio, a família partiu para Lisboa e Maria da Conceição começou a trabalhar na Agência Americana de Notícias. Criada pelo poeta brasileiro Olavo Bilac, em 1912, a Agência Americana de Informação era uma agência

13 Texto introdutório do Catálogo da Exposição Maria Lamas: 1893-1983, escrito por Maria Antónia Fiadeiro (Mucznik, 1993, pp. 11-16). 14 Na falta de informação sobre o seu primeiro marido, ver página de Facebook administrada por José Gabriel Pereira Bastos, neto de Maria Lamas e de Teófilo José Ribeiro da Fonseca. “Teófilo José Ribeiro da Fonseca (1886-1971), filho do General António Marciano Ribeiro da Fonseca (1841-1899), que esteve na fronteira do sul de Angola, evitando a potencial ofensiva alemã (Forte do Capelongo), comandou tropas em França, na WWI. Regressado a Portugal, fez parte da primeira geração de aviadores portugueses. Mais tarde comandou o Quartel de Beja tendo sido demitido por Salazar, por ter apoiado o oficial que, de acordo com a lei de neutralidade, mandou internar um avião alemão que aterrou algures no Alentejo. Era então o mais novo oficial general do exército português (como Brigadeiro). No primeiro casamento, teve duas filhas, de Maria Lamas (Vassalo e Silva). No segundo casamento, com Inês Carmona, teve uma filha (a pintora Menez / Ribeiro da Fonseca). Teve mais dois filhos do terceiro casamento”. Disponível em https://pt-br.facebook.com/497789890294719/posts/504051833001858/. Consultado em 20 de setembro de 2020. 15 Como analisado anteriormente, a implantação das Leis da Família, de 25 de dezembro de 1910, estabeleceu o casamento civil como único válido, tendo de anteceder o casamento religioso. Nota-se uma laicização do contrato matrimonial. A Lei do Divórcio, de 3 de novembro de 1910, definiu o casamento como um contrato civil que poderia ser dissolvido como um simples ato civil. Estas foram políticas implantadas pela Primeira República.

30 brasileira de informação jornalística internacional. “Tinha por missão fornecer aos jornais brasileiros, da capital e dos estados, um noticiário completo, nacional e internacional, acompanhado de notas e comunicados oficiais e à imprensa estrangeira uma larga informação de todas as repúblicas ibero-americanas" (Fiadeiro, 2003, p. 53). Foi entre os anos de 1920 e 1921 que Maria da Conceição iniciou sua vida de jornalista, “recebia os telegramas, distribuía-os pelos jornais, redigia o noticiário português, enviava-o para o estrangeiro” (Palla, 1970, p. 26). Enfim, fazia todo tipo de noticiário informativo e traduzia os telegramas noticiosos, além de ter tido a oportunidade de trabalhar ao lado da jornalista portuguesa, Virgínia Quaresma16. Segundo a biógrafa e jornalista, Maria Antónia Fiadeiro (2003, p. 11), a entrada no jornalismo da Agência Americana de Notícias foi também um mergulho na vida social, cultural e intelectual de Lisboa. Para uma jovem provinciana e culta foram inúmeros e intensos os ensinamentos da prática jornalística. Em 1921, Maria da Conceição casou-se com Alfredo da Cunha Lamas17, funcionário superior dos Correios e Telégrafos, monárquico liberal, jornalista do Correio da Manhã e um dos frequentadores da Agência Americana de Notícias (Fiadeiro, 2003, p. 11). No ano seguinte, nasceria a filha do casal, Maria Cândida. Maria Lamas - nome de casada que adotou para a vida futura– cultivou um período de colaborações jornalísticas intensas em almanaques, revistas e também no jornalismo

16 Virgínia Quaresma (1882-1973) foi chefe de redação na Agência Americana de Notícias e a primeira jornalista portuguesa da imprensa diária, no jornal (Fiadeiro, Maria Lamas, Biografia, 2003, p. 11). 17 Alfredo da Cunha Lamas foi diretor do semanário humorístico Papagaio Real, foi proprietário e diretor O Thalassa e trabalhou no Correio da Manhã, jornal monárquico, onde Maria da Conceição publicou os seus primeiros folhetins, entre 1926 e 1928. Em 1936, o casamento acabaria, mas Maria Lamas adotaria o apelido do último marido para a vida toda (Mulheres, paz, liberdade: Maria Lamas: catálogo da exposição realizada na Assembleia da República de 19 de outubro a 6 de dezembro de 2017. Torres Novas: Câmara Municipal de Torres Novas, 2017, p. 83). Ver Hemeroteca Digital de Lisboa. Disponível em http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/PapagaioReal/PapagaioReal.htm/ http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/FichasHistoricas/PapagaioReal.pdf/ http://hemerotecadigital.cm- lisboa.pt/Periodicos/OThalassa/OThalassa.htm/ http://hemerotecadigital.cm- lisboa.pt/FichasHistoricas/OThalassa.pdf. E Arquivo de História Social (AHS). Disponível em http://www.ahsocial.ics.ulisboa.pt/atom/obituario-de-alfredo-da-cunha-lamas-recorte-de-imprensa / http://www.ahsocial.ics.ulisboa.pt/atom/o-thalassa-semanario-humoristico-e-de-caricaturas-director-e- gerente-alfredo-lamas-editor-joao-martins-lisboa-s-n.

31 infanto-juvenil. Além disso, retomou os estudos no curso dos liceus e iniciou a alfabetização de algumas operárias da Fábrica Simões, em Benfica18. Em 1923, com o pseudônimo de Rosa Silvestre, publicou o seu primeiro livro, único de poesia, Humildes. Segundo a autora, “foi um livro de uma mãe empenhada em criar nos filhos o gosto pela poesia e pelas pessoas simples que retratei. É um livro extremamente ingênuo, que me saiu em verso, naturalmente como quase todos os primeiros livros que se escrevem...” (Palla, 1970, p. 27). A partir de 1925, Maria Lamas começou a colaborar em revistas e publicações infantis, dirigindo o Suplemento Infantil do jornal Correio da Manhã, chamado Correio dos Pequeninos, além de escrever para outras publicações e suplementos infantis como, a revista O Pintainho, A Voz, Magazine Bertrand e Civilização, sempre assinadas com o pseudônimo de Rosa Silvestre. Em 1928, a convite do amigo e escritor, Ferreira de Castro19, a jornalista passou a colaborar e dirigir a seção O Reino dos Miúdos, da revista Magazine Civilização, em Lisboa. Em 1929, , que também integrava o quadro de colaboradores do jornal O Século, indicou Maria Lamas para o cargo de redatora do Suplemento Feminino Modas e Bordados, no qual já colaborava pontualmente desde 1926, com a Crônica de Moda, assinada apenas como Maria. Pouco tempo depois, começou de fato a trabalhar como diretora20 do semanário feminino, cargo que ocuparia até julho de 1947. De acordo com a biógrafa Maria Antónia Fiadeiro (2003, p. 13), Maria Lamas seria responsável por transformar o Suplemento pouco rentável em uma revista lucrativa e longeva. Conseguirá fazer do Suplemento Modas e Bordados uma revista resistente e sobrevivente, que acompanha a evolução da mulher portuguesa e que advoga, corajosamente, a sua promoção cultural e cívica, resistindo ao Estado Novo.

18 Cronologia elaborada por Maria Cândida Vassalo e Silva da Cunha Lamas Caeiro, in: As Mulheres do Meus País, 2 edição, Lisboa: Caminho, 2002. 19 Ferreira de Castro (1898-1974) foi jornalista e escritor português. Maria Lamas e Ferreira de Castro se conheceram na Agência Americana de Notícias. O jornalista usava o pseudônimo, Silvestre Valente (Barradas, 2014, p. 15; Sivi, 2018, p. 44). 20 Interessante registar que somente no número 1382, de 03 de agosto de 1938, o Modas e Bordados passa a ter o nome de Maria Lamas impresso como diretora, cargo que já exercia há anos (Fiadeiro, 2003, p. 173).

32 Rodeia-se de especialistas nas várias áreas culturais, independentemente das opções políticas e das convicções religiosas. (...) Desenvolve uma correspondência com as leitoras, intensa, regular e diversificada. Os vários “Correio de Leitoras” abrangem desde os conselhos de beleza à grafologia, astrologia, envio de amostra de trabalhos de croché e de bordados, de moldes. A redacção do Modas é, então, um febril escritório de atendimento, onde as cartas, os envelopes, os pacotes e as assinaturas chegam às centenas. (...) cria o famoso “Correio de Joaninha”, com o não menos famoso pseudónimo Tia Filomena (Fiadeiro, 2003, p. 14). Com o Correio da Joaninha21, Maria Lamas fez um trabalho, principalmente, com o público feminino juvenil, promovendo a formação e a educação das jovens que enviavam inúmeras cartas para Tia Filomena, onde expunham os seus problemas e questionamentos, sempre em busca de uma resposta ou palavra amiga. Com isto, pôde ter uma ideia de como eram as jovens e mulheres portuguesas - característica que seria trabalhada, pela jornalista, exaustivamente, ao longo de toda a pesquisa e escrita de As Mulheres do Meu País. As cartas evidenciaram vários problemas relacionados com a educação das jovens que eram conduzidas para uma vida que compreendia ser esposa, mãe e dona de casa. Esta troca permitiu que Maria Lamas se aproximasse da realidade de muitas jovens e mulheres portuguesas e embora negando ser feminista22, este projeto mostrava um gesto de escuta, conhecimento, recolhimento e uma certa empatia em relação às angústias e problemas dessas mulheres23.

21 O Correio da Joaninha incluiu seção regular, como a Estante de Joaninha, uma seção de orientação de leituras, o Clube da Joaninha, um espaço de comunicação entre jovens portuguesas e até um programa na Rádio (Fiadeiro, 2003, pp. 16-17). 22 Em entrevista para o jornal O Diabo, 08/10/1935, Maria Lamas foi questionada quanto às aspirações do feminismo, ao que respondeu: “De um modo geral estou fora do problema do feminismo – porque não o compreendo nem o sinto como a maioria das mulheres. Não me interessa, por exemplo, a luta pela conquista dos direitos políticos, pois só a política humana merece a minha atenção de mulher" (Fiadeiro, 2003, p. 97). 23 Anos mais tarde, Maria Lamas diria em entrevista que o trabalho na revista Modas e Bordados havia sido fundamental pois, teve contato com muitos problemas da mulher portuguesa, através de milhares de cartas de leitoras que recebia constantemente (Revista Vida Mundial, 1973, p. 26).

33 Em 1930, organizou a exposição Mulheres Portuguesas - Exposição da obra feminina antiga e moderna de caráter literário artístico e científico, Certame ou Mulheres Portuguesas 1930, demonstrando a criatividade e inovação das práticas femininas, em diversas áreas do conhecimento. Foi realizada em onze salões do jornal O Século, em Lisboa, e, segundo Fiadeiro (2003, p. 81), pôde ser considerada como o primeiro inventário da produção e da exaltação dos valores femininos, a nível nacional. Expôs as principais obras e peças, criou um acontecimento ímpar na Imprensa e na sociedade portuguesa. Em Maria Lamas, a prática jornalística ao lado da dinâmica cultural, fez dela uma jornalista e intelectual de excelência. Para Lamas, a ideia era reunir a diversidade dos trabalhos das mulheres em Portugal, da produção das artesãs do tear de Trás-os-Montes, artigos regionais de todo país feito por mulheres, até às obras de intelectuais como Carolina Michaelis de Vasconcelos, cartas, relatos e pinturas de mulheres célebres (Fiadeiro, 2003, p. 76). Uma das salas foi consagrada à bibliografia feminina, com centenas de números de livros expostos de diversas áreas: poetisas, romancistas, pedagogas, advogadas, médicas, agrônomas, jornalistas, foram representadas pela sua obra completa, outras por trabalhos mais importantes. Tratou-se de um acontecimento cultural invulgar pela diversidade do acervo artístico, literário e cientifico exposto, desde o Renascimento até àquela data, por envolver mulheres de todas as profissões e das diferentes regiões do pais, desde artesãs a intelectuais, e pela afluência de público: só na secção destinada à bibliografia feminina expuseram-se centenas de obras de temática variada, desde a literatura a livros técnicos, sendo perceptível que muitas eram da autoria de nomes associados à construção do movimento feminista ou que, pontualmente, com ele tinham colaborado e perfilhado iniciativas (Esteves, 2006, pp. 3-4). O Certame reuniu exposição artística e bibliográfica, com conferências, concertos, recitais, dando visibilidade e júbilo às mulheres portuguesas. Ou seja, foi um inventário da produção criadora das mulheres portuguesas sob o lema “Sejamos inteligentemente

34 mulheres” (Baptista, 2017, p. 42). A visibilidade do evento foi tamanha que garantiu à jornalista a condecoração com grau de oficial da Ordem de Santiago em 1934. Três anos mais tarde, em 1937, a jornalista organizou outra exposição, Tapetes de Arraiolos executados pelas mulheres presas na Cadeia das Mónicas, num trabalho em conjunto com as presidiárias da Cadeia das Mónicas. A pedido de Maria Lamas, a diretora dessa instituição autorizou que as reclusas visitassem a exposição, tendo sido transportadas de táxi e acompanhadas por guardas não fardadas (Fiadeiro, 2003, p. 15). O somatório destes eventos evidenciara o crescimento e a solidariedade de Maria Lamas com as mulheres, atentando os seus anseios e aspirações e procurando contribuir para a sua dignificação como pessoa. Além de produzir inúmeros eventos e conferências, Maria Lamas também escreveu e publicou novelas infantis, romances, fez traduções24, ou seja, manteve-se ativa e questionadora sobre o seu papel como jornalista, escritora, intelectual e mulher. Em 1935, ao publicar o romance Para Além do Amor, Maria Lamas o apresentou da seguinte forma: “Ao imaginar e escrever este livro, tive duas grandes preocupações: ser sincera e ser Mulher” (Fiadeiro, 2003, p. 70). Esta sinceridade pode ser notada pela contemplação do seu trabalho como jornalista. Em carta enviada ao intelectual e ativista, António Pinto Quartin, em 1938, Maria Lamas ao ser questionada acerca de sua profissão como jornalista, respondeu sobre a importância dos imprevistos, os aspetos humanos que dificilmente poderia conhecer noutro meio, oferecendo conhecimentos

24 Publicações de livros de poesia, contos, novelas e romances escritos por Maria Lamas e/ou por seus pseudônimos (Rosa Silvestre, Serrana d’Ayre e Maria Fonseca): Humildes (1923), Diferença de Raças (1923), O Caminho Luminoso (1927), Maria Cotovia (1929), As Aventuras de Cinco Irmãozinhos (1931), A Montanha Maravilhosa (1933), O Ribeirinho (1933), A Estrela do Norte (1934), Os Brincos de Cerejas (1935), Para Além do Amor (1935), O Relicário Perdido (1936), A Ilha Verde (1938), A Lenda da Borboleta (1940), O Vale dos Encantos (1942), O despertar de Silvia: Fragmentos de uma confissão (1949) - livro inacabado, As Mulheres do Meu País (1948-1950), A Mulher no Mundo (1952), Arquipélago da Madeira – Maravilha Atlântica (1956), O Mundo dos Deuses e dos Heróis e Mitologia Geral (1961). Também realizou traduções das seguintes obras: O Feiticeiro de Oz (1940), de L. Frank Baum; O General Dourakine (1941), da Condessa de Ségur; João que chora, João que ri (1951), da Condessa de Ségur; A Pequena Princesa (1953), de Frances Burnett; Estas vozes que nos vêm do mar – depoimentos dos aviadores japoneses (1959); A Escada de Ferro (1960), de F. E. Rodriguez (neste trabalho, Maria Lamas adotou o pseudônimo de Daniel Cardigos), Adriano (1960), de Marguerite Yourcenar; início da tradução de Os Miseráveis de Victor Hugo (1960); Dostoievski (1961), de Tassos Athanassiadis; Vencer (1961), de Roger Martin du Gard. Cronologia elaborada por Maria Cândida Vassalo e Silva da Cunha Lamas Caeiro, in: As Mulheres do Meus País, 2 edição, Lisboa: Caminho, 2002.

35 indispensáveis para a sua vida de escritora. “Além disso, o jornalismo proporciona-nos, por vezes, ensejo de apontar males que podem ser corrigidos, misérias que é possível minorar, e tanto bastaria para que esta profissão, mesmo com todos os seus espinhos, que são muitos, me agradasse” (Lamas, 1938, p.4). A relação de troca que o jornalismo proporcionou para a autora contribuiu para que, a partir de 1945, adotasse uma postura mais crítica e política de oposição ao regime político português, ao assinar as listas para a formação do Movimento de Unidade Democrática (MUD) e ingressar no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP) no mesmo ano (Neves, 2007/2008, p. 185). Maria Lamas combinou produção literária e jornalística ao aliar uma postura consciente e política e ações em prol das mulheres, organizando e criando delegações, conferências, palestras, encontros, etc; acentuando suas as preocupações com o analfabetismo feminino e a situação profissional, econômica das mulheres, de todas as condições sociais. Em janeiro de 1947, Lamas, juntamente com o CNMP, organizou a exposição Livros Escritos por Mulheres, no Salão da Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa. Para executar tal projeto, solicitara a colaboração das embaixadas, institutos culturais, conselhos nacionais de mulheres de vários países, associações nacionais de escritores, livreiros, bibliotecas e livrarias, que tiveram como objetivo reunir toda a documentação que mostrasse a atividade feminina nos campos da literatura e da ciência (Mateus, 2008, p. 71). A exibição contava com quase três mil livros, representando 28 países de todos os continentes, o que lhe deu uma dimensão internacional. Além disso, incluiu um programa cultural de palestras sobre mulheres notáveis, conferências, exibição de filmes inspirados em romances de mulheres e documentários, tarde infantil. A inauguração contou com a presença de entidades oficiais representantes do Presidente da República e do Governador Civil, diplomatas e ministros, intelectuais, professoras, jovens universitárias e público em geral. Segundo Fiadeiro, o evento causou tanta repercussão que assustou o regime: “Isto não pode ser feito por mulheres” (2003, p. 113). A exposição teve a duração de apenas uma semana e foi proibida pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE). Através deste evento, as mulheres do CNMP

36 mostraram que as qualidades femininas não se reduziam ao papel destinado pelo Estado Novo: o de mãe e esposa. Reivindicavam melhorias das condições de vida, valorização do seu trabalho e acesso à formação intelectual. Como a exibição não teve continuidade nem a repercussão cultural e editorial merecida, segundo Fiadeiro (2003, p. 116), a produção intelectual portuguesa ficou guardada no tempo, seja pelo regime político de censura e repreensão, mas também pela minimização da cultura nos movimentos de emancipação das mulheres e menorização da produção intelectual feminina. Após a exposição, Maria Lamas teve de fazer uma escolha entre o CNMP e a direção da revista Modas e Bordados (Rodrigues, 2016, p. 70; Lamas M. , 2002, p. XXX; Prates, 2010, p. 439; Ferreira E. M., 2004, p. 43). Escolheu o primeiro e, em junho de 1947, foi demitida da direção do semanário feminino. No mês seguinte, foi encerrado o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, por ordem escrita emanada do Governador Civil de Lisboa, o advogado Mário Lampreia de Gusmão Madeira. Sem emprego, Maria Lamas decidiu então partir pelo país para mostrar como viviam as mulheres de Portugal. Percorreu o país de norte a sul, interior, litoral e ilhas, registrando a vida, o dia-a-dia, o trabalho, a aparência, os costumes e trajes, as dores e alegrias dessas mulheres. A obra nomeada As Mulheres do meu País foi um trabalho, inicialmente editada em 15 fascículos mensais, de maio de 1949 a maio de 1950. Publicada pela editora Actuális LDA.25, empresa criada por Maria Lamas, Manuel Fróis de Figueiredo e Orquídea Fróis de Figueiredo, pai e filha. Esta empresa custeou as despesas – viagens, alojamento, alimentação, documentação - e organizou a publicação dos fascículos. Maria Lamas deu rosto, corpo, voz e imagem às mulheres portuguesas, mostrando um retrato de Portugal, contando e registrando histórias de vida, quando as representações políticas e sociais as mantinham numa situação de exclusão, supostamente de invisibilidade e de silêncio dos quotidianos.

25 Relação que necessita de um estudo sistemático para se ter uma noção melhor sobre a logística e financiamento para preparação e desenvolvimento do trabalho de pesquisa de campo feito para a pesquisa, escrita e publicação de As Mulheres do Meu País.

37 Observou, por todo lado, mulheres a exercerem o seu trabalho nas mais variadas profissões: camponesas, trabalha doras em indústrias caseiras, mulheres ligadas ao mar, operárias, trabalhadoras liberais (professoras, médicas, funcionárias dos correios e telégrafos, telefonistas, empregadas de escritório, datilógrafas, enfermeiras, advogadas), artistas e também as mulheres domésticas. Na realidade, Maria Lamas mostrava o que a defesa da ideologia da mulher no lar velando pela família, como doméstica ou reduzida às funções de trabalhadora auxiliar do chefe de família masculino, o Estado Novo invisibilizava (Baptista, 2017, p. 42). A autora continuou escrevendo, publicando, defendendo o direito das mulheres e a democracia. Destacou-se na política integrando organizações democráticas opositoras ao Estado Novo e à ditadura. Teve um papel ativo na candidatura de Norton de Matos à Presidência da República, em 194926, e fez parte da direção do Movimento de Unidade Democrática (MUD), que combateu o regime político em instituído. Devido a esta intensa atividade militante política e combativa, em 17 de dezembro de 1949 foi presa, juntamente com outros membros27 da comissão central executiva do Movimento Nacional Democrático (MND). Todos foram libertados sob caução, no dia 24 de dezembro. Em julho de 1950, foi novamente presa pela PIDE, mas ficaria em casa dez dias, sob prisão domiciliária - por se encontrar doente - o que conseguiu após confirmação de doença pelo médico da polícia política. Após ser solta, exilou-se na Madeira, nos anos 1950, contudo manteve a agenda ativa e participou de inúmeros congressos e eventos internacionais ligados à defesa dos direitos

26 Segundo, Maria José Maurício (2005, p.38), "as mulheres que intervieram no espaço eleitoral para a presidência da República e legislativas, entre 1949 e 1951, eram cidadãs com experiência de intervenção política, tinham os seus projectos de vida ligados a uma actividade que, de certo modo, as projectava para o espaço público", pertenciam aos movimentos femininos e outros de oposição – eram presidentes, diretoras, membros de conselhos e apoiadoras das campanhas eleitorais. Este deve ser um dos motivos pelo qual Maria Lamas apoiou a candidatura de Norton de Matos, visto que o Movimento de Unidade Democrática, Associação Feminina Portuguesa para a Paz, Comissão Distrital de Mulheres, Comissão das Mulheres do Movimento Nacional Democrático faziam parte dos movimentos que visavam a conscientização para a luta dos direitos das mulheres. 27 Rui Luís Gomes, Virgínia Moura, Pinto Gonçalves, Pinto Rodrigues, António Areosa Feio e Albertino de Macedo e outros membros da Comissão Central do Movimento Nacional Democrático.

38 da mulher e conquista da paz. Em 1952, publicaria a obra A Mulher no Mundo, o primeiro grande estudo nacional sobre a situação das mulheres no panorama internacional. Importante dizer que este trabalho é pioneiro na medida que relaciona os diversos momentos históricos e políticos e a situação das mulheres em vários países. Em 1953, após inúmeras prisões, censura, perseguição e desgaste físico e mental, Maria Lamas iniciou seu primeiro exílio na França. O segundo seria de 1956 a 1957, o terceiro e, mais longo, de 1961 a 1968 (Baptista, 2017, p. 41). Como exilada política desenvolveu intensa atividade política e de apoio a portugueses refugiados em oposição ao regime fascista. Assistiu à greve geral em França e acompanhou de perto o maio de 1968 nas ruas de Paris. Politicamente ligada à oposição democrática durante o Estado Novo, Maria Lamas teve uma atividade internacional de grande prestígio. Participou do Congresso fundador da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM) em 1946, na Bélgica, e representou muitas vezes as mulheres portuguesas nos Congressos da FDIM, realizados no estrangeiro, em Congressos Mundiais de Mulheres e ainda, nos Congressos Mundiais da Paz. Conheceu toda a Europa, visitou o Japão, China, Sri Lanka, URSS, Albânia, Argélia. Em 1957, participou, como convidada de honra, do VII Congresso da FDIM em Berlim. E, após a Revolução de Abril de 1974, filiou-se no Partido Comunista. Em 1975 foi nomeada presidente honorária do Movimento Democrático de Mulheres (MDM) e recebeu inúmeras homenagens28. Em 1978, assumiu o cargo de diretora honorária da revista Mulheres, o que representou, de certo modo, o seu regresso às origens da atividade jornalística. Faleceu em 6 de dezembro de 1983, aos 90 anos. Maria Lamas foi uma mulher que falou não apenas sobre si, mas sobre e para inúmeras mulheres invisíveis a quem abriu as páginas dos jornais e revistas por onde passou e deu-lhes voz e visibilidade. Ainda assim é importante dizer, que o estudo e a pesquisa

28 Foi condecorada com o grau de Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada (1934), como Grande- Oficial da Ordem da Liberdade (1980), Distinção de Honra do Movimento Democrático das Mulheres e Medalha de Ouro do Concelho de Torres Novas (1982) e a Medalha Eugénie Cotton, da Fédération Démocratique Internationale des Femmes, França (1983). Após seu falecimento continuou recebendo homenagens, seja de órgãos oficiais, seja através de publicações de trabalhos académicos e científicos, nomeou escolas e foi tema de peça de teatro (Bastos J. G., 2015; Bastos J. G., 2017; Fiadeiro, 2003).

39 sobre a vida e obra de Maria Lamas não devem se esgotar. Há livros, artigos, teses e dissertações, documentários, página em rede social sobre a jornalista, contudo a falta de novas edições de suas obras mostra que ainda há muito a ser feito, estudado, produzido e (re)lembrado. Deixar sua obra no esquecimento, é ignorar seu pensamento e suas ideias, é silenciar e tornar invisível o trabalho que desenvolveu para se emancipar e contribuir para a emancipação de outras mulheres (Fiadeiro, 2003, p. 28).

40 3. As Mulheres do Meu País

Este capítulo tem por objetivo refletir sobre o olhar de Maria Lamas acerca das mulheres do seu país. Observar as representaçãoes tanto através da escrita, como através das imagens feitas por Lamas. O estudo proposto foi baseado na leitura da segunda edição de As Mulheres do Meu Pais, publicada pela Editorial Caminho, em 2002. Visto que os fascículos da primeira edição não se encontram acessíveis e/ou disponíveis. As Mulheres do Meu País foi um trabalho ao qual a jornalista dedicou dois anos, de 1948 a 1950, percorrendo todo Portugal Continental, Madeira e Açores para registar, exclusivamente, as mulheres portuguesas em situações de trabalho intenso nas lavouras e campos, nas salinas, no litoral, na extração de carvão, nas fábricas, nos pequenos comércios e em casa, realizando o trabalho doméstico. 3.1. A arquitetura da obra Questionada sobre se o jornalismo era profissão para mulher, Maria Lamas respondeu que todas as profissões eram próprias para a mulher, desde que fossem competentes para desempenhá-las. Ressaltou que no jornalismo havia aspetos que eram interessantes à mulher, como a questão infantil e a proteção à mulher. Temas que deveriam ser abordados, não de forma romântica, “pelo contrário, penso que uma mulher inteligente, sensata, tendo uma consciência perfeita dos erros e injustiças que pesam sobre o seu sexo, e a noção exacta da importância da missão que lhe compete na família, na vida social e na educação dos povos, poderá, melhor que qualquer homem, estudar tão importantes assuntos” (Lamas, 1938, p.4). Ao percorrer todo Portugal Continental, Madeira e Açores, Maria Lamas pôs em prática a sua profissão de jornalista e investigadora. Publicada pela editora Actuális LDA. em 15 fascículos mensais29, de maio de 1948 a maio de 1950, a obra As Mulheres do Meu País foi reeditada apenas em 2002, com uma edição ilustre da Editorial Caminho, de apenas 2000 exemplares, patrocinados pela Tipografia

29 Cada fascículo custava 15 escudos (equivalente a cerca de 7,68 euros) e a obra completa, paga adiantadamente, 200 escudos (cerca de 102,40 euros). Conversão feita utilizando os anos de 1948 e 2019 através do portal do INE (Instituto Nacional de Estatística). Disponível em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ipc. Consultado em 20 de abril de 2020.

41 Peres e Montepio Geral. Esta segunda edição é composta pelo fac-símile da primeira edição, enquadrada pela capa do primeiro fascículo e contracapa do décimo quinto fascículo, onde contém a divisão dos assuntos abordados por Lamas ao longo de toda obra30. Além disso, a segunda edição contém texto de abertura da Editorial Caminho, dedicatória escrita por Maria Lamas datada de maio de 1948 e textos escritos por suas três netas, Maria Leonor Ribeiro da Fonseca Calixto Machado de Sousa, Maria José Cunha Lamas Caeiro Metello de Seixas e Maria Benedicta Vassalo Pereira Bastos Monteiro. Inclui o ex-libris de Lamas, de autoria de Júlio de Sousa, e fotografias que ilustraram a vida e importância da jornalista. Esta edição também apresenta uma detalhada cronologia de autoria de sua filha, Maria Cândida Caeiro. Na da primeira edição, publicada em fascículos, na contracapa foi apresentada o Plano Geral da Obra que foi definido pelas ocupações femininas: A Camponesa, A Mulher da Beira-Mar, Diversas Ocupações da Mulher do Povo, Indústrias Caseiras, A Intelectual, A Operária, A Mulher de Beira-Rio, Empregadas e Profissionais, A Mulher Doméstica, A Artista. Este plano inicial sofreu algumas alterações e foram distribuídos de acordo com a relevância geográfica31 domintante na obra, ficando da seguinte maneira: A Camponesa – No Minho, Ares do Litoral, Terras do Minho Adentro, Para Lá do Marão, Nas Ribas do Alto Douro, No Douro Litoral, Através das Beiras, Alentejo, Na Região Algarvia, Estremadura, Ribatejo, No Arquipélago da Madeira, Nas Ilhas dos Açores, A Mulher do Mar, A Operária, A Empregada, A Doméstica, concluindo com Várias Notas e Palavras Finais. Segundo Maria José Metello de Seixas, neta de Lamas, em texto introdutório da segunda edição da obra As Mulheres do Meu País, “esta modificação decorreu não só das revelações trazidas pela investigação no terreno como também da

30 Conferir Capa e Contracapa no Apêndice 01. 31 Nota-se que a divisão regional de Portugal, durante a pesquisa e escrita de As Mulheres do Meu País, era estabelecida por Minho, Trás-os-Montes e Alto-Douro, Douro Litoral, Beira Alta, Beira Baixa, Beira Litoral, Ribatejo, Alto Alentejo, Baixo Alentejo, Estremadura, Algarve, Madeira e Açores. Esta divisão será mantida para melhor entendimento da obra. Conferir no Anexo 3 os mapas elaborados a partir de cada tópico e região abordados por Maria Lamas ao longo de todo o texto.

42 metodologia imposta pelo formato da publicação em fascísculos. Com efeito, este sistema implicava uma disciplina exacta na recolha de dados e na escrita”. Maria Lamas saia de Lisboa com o dinheiro para quinze dias, levava consigo papel, lápis e uma máquina Kodak para, como jornalista, interrogar, observar e fotografar as mulheres e seus mais variados trabalhos e aspetos de vida e também a geografia nos diversos cantos de Portugal. Ao final desses quinze dias, retornva a Lisboa, corrigia os seus apontamentos e escritos, entregava o trabalho para a tipografia onde se fazia a primeira impressão e revia as provas desse fascículo. Portanto, este era publicado de acordo com o ritmo da própria investigação, impressos à medida que Maria Lamas escrevia, sujeito a modificações como a ocorrida com o Plano Geral da Obra. O trabalho de Lamas também conta um intenso registo fotográfico com centenas de imagens feitas pela autora – que serão discutidas mais adiante – e por outros fotógrafos32, gravuras de artistas portugueses33 e desenhos de Fernando Carlos Pereira Bastos (genro de Maria Lamas) que ilustram as páginas de todo o trabalho de Lamas. Na segunda edição, foram utilizados originais fotográficos de Maria Lamas e dos outros fotógrafos, e originais de algumas pinturas e desenhos apresentando uma melhor qualidade das imagens. As reproduções das pinturas foram impressas extratexto em folhas de cartolina. Toda a estrutura e organização34 proposta por Maria Lamas foi obedecida. Contudo, para uma maior fluidez da discussão e escrita sobre os tópicos propostos pela jornalista, é proposta a divisão em cinco grandes temas: Camponesas, Mulheres do Litoral, Operárias, Empregadas e Profissionais e Mulheres Domésticas. Dentro de cada tema será tratado o trabalho, a escolaridade, o casamento,as condições de vida, aspetos físicos, sociais e econômicos das mulheres portuguesas de acordo com a visão de Maria

32 De acordo com a pesquisa feita no Espólio 28 de Maria Lamas, pode-se perceber que era a própria jornalista que comunicava com os fotógrafos ou instituições públicas para adquirir imagens que comporiam a estrutura da obra As Mulher do Meu País. Conferir Tabela dos fotógrafos Anexo 1. 33 Conferir Tabela dos artistas e obras. Anexo 1 e 2. 34 Plano geral da obra: A Camponesa – No Minho, Ares do Litoral, Terras do Minho Adentro, Para Lá do Marão, Nas Ribas do Alto Douro, No Douro Litoral, Através das Beiras, Alentejo, Na Região Algarvia, Estremadura, Ribatejo, No Arquipélago da Madeira, Nas Ilhas dos Açores, A Mulher do Mar, A Operária, A Empregada, A Doméstica, concluindo com Várias Notas e Palavras Finais.

43 Lamas sobre estas mulheres em diferentes pontos do país. Substancialmente o trabalho pode ser divido entre mulheres que vivem da terra, mulheres que vivem do mar e outras profissionais. Pode-se dizer que cerca de 70% de toda a escrita de Maria Lamas é sobre as mulheres do campo, as trabalhadoras rurais35. 3.2. Um olhar de viajante comprometida Maria Lamas procurou retratar a vida das mulheres portuguesas através de uma escrita direta e franca, dando visibilidade aos problemas femininos que nem o próprio País conhecia. Empenhou-se na observação in loco na tentativa de não generalizar estas mulheres, antes ressaltou as suas especificidades, o dia-a-dia no trabalho feminino, em seu protagonismo, e nas dificuldades e problemas que sofriam. Tal abordagem mostrou uma realidade diferente da visão homogênea das mulheres que o regime do Estado Novo pretendia transmitir à opinião pública (Almeida L. A., 2010, pp. 2-3). Maria Lamas procurou retratar as mulheres fora do confinamento da vida privada e as observou especialmente em situações de trabalho intenso nas lavouras e campos, nas salinas, no litoral, na extração de carvão, nas fábricas e indústrias, nos pequenos comércios, no trabalho de casa. Mostrou a contribuição da mulher para o equilíbrio econômico de centenas de famílias, num Portugal essencialmente agrário. Já no prefácio de As Mulheres do Meu País, a autora escreve que o desejo de conhecer os aspetos da vida da mulher portuguesa lhe surgiu há anos, mas a falta de preparo - “para a luta”, segundo palavras da própria autora - havia colocado em uma encruzilhada36. Ao reconhecer que os seus problemas eram também os problemas de todas as mulheres, ou seja, que as dificuldades e responsabilidades sociais impostas às mulheres eram compartilhadas, fez com que Lamas fosse ao encontro das irmãs

35 De acordo com Estatísticas Históricas Portuguesas do INE (Instituto Nacional de Estatística), a população ativa portuguesa nas décadas de 1940 e 1950 era maioritariamente a população rural. Conferir tabelas de População activa por ramos de atividade. Disponível em https://www.ine.pt/ngt_server/attachfileu.jsp?look_parentBoui=377094&att_display=n&att_download =y. Consultado em 04 de abril de 2020. 36 Em entrevista para a Revista Vida Mundial, em agosto de 1973, Maria Lamas declarou que o durante os anos de trabalho no semanário Modas e Bordados, ela teve contato com muitos problemas da mulher portuguesa, através das milhares de cartas de leitoras que recebia e, “da necessidade de articular o mal- estar interior, a infelicidade doméstica, íntima, privada das mulheres com o que poderíamos chamar as realidades sociais objectivas”, resultaram as obras As Mulheres do Meu País e A Mulher no Mundo (p.26).

44 portuguesas para “conhecer e sentir as suas vidas humildes ou desafogadas, as suas aspirações ou a sua falta de aspirações, sintoma alarmante da ignorância, desinteresse e derrota”. Completa dizendo que realizou um documentário vivo e sincero - tendo as paisagens de aldeias e cidades como cenários - de mulheres de todas as condições, labores, trajes, índoles e costumes, em suas alegrias e tormentos. A autora finaliza escrevendo que a obra é a expressão fraternal para as mulheres do seu país e que se for capaz de abalar a indiferença que os problemas femininos são encarados, todo o esforço, fadigas e obstáculos para sua publicação seriam, afinal, bem pequenos. Em carta para o amigo, Eugénio Monteiro Ferreira, de 29 de setembro de 1947, Maria Lamas escreveu do Funchal dizendo que iniciara uma obra chamada As Mulheres do Meu País e que, certamente, nela teriam lugar as portuguesas de África37. Na carta seguinte, do dia 9 de maio de 1948, Lamas discorreu sobre a sua saída da revista Modas e Bordados e retomou o assunto acerca da produção de As Mulheres do Meu País. (...) parti para Castro Laboreiro, nos confins do Alto do Minho e dali vim percorrendo serras, aldeias, vilas e cidades com o meu bordão de peregrina. Andei a pé, de camião, de camioneta, de comboio, de ‘jeep’. Onde Cristo não andou….Foram cinco meses de vida intensíssima, durante os quais percorri o Minho, Douro, Trás-os-Montes e parte das Beiras. Vim então a Lisboa, já com material para os primeiros fascículos, a obra compõe-se de 15 fascículos mensais, estando o primeiro pronto a sair dentro de pouco dias (Ferreira E. M., 2004, p. 44) Ao longo das viagens, Maria Lamas teve a intenção de mostrar - além da denúncia em relação às condições de trabalho das mulheres portuguesas que é central na obra - as pessoas nas situações mais cotidianas, pois em adição ao trabalho jornalístico de observação, a autora hospedou-se em cabanas de moradores locais, comeu em suas mesas, enfim, vivenciou temporariamente o dia-a-dia dessas pessoas (Revista Vida Mundial, 1973, p. 26). Nas palavras da autora (2002, p. 164), As Mulheres do Meu País

37 Nos itens Várias Notas e nas Palavras Finais de As Mulheres do Meu País, Maria Lamas fez menção às portuguesas que viviam no Continente Africano.

45 era um “documentário, colhido em observação directa, atenta, mas rápida, da mulher e da sua vida através de toda a terra portuguesa”. 3.3. Camponesas38 Já no primeiro parágrafo do capítulo de A Camponesa, Maria Lamas transcreveu a frase que representaria as mulheres trabalhadoras portuguesas ao longo de toda a sua narrativa: “A nossa vida é muito escrava!” (2002, p. 7). Frase que num primeiro momento pode parecer dramática ou fatalista. Porém, foi sustentada pela autora nos parágrafos seguintes de As Mulheres do Meu País. A jornalista durante toda a escrita não empregou um olhar e linguagem romanceados para retratar as trabalhadoras portuguesas, principalmente as trabalhadoras rurais. Ao contrário, registou através de uma escrita direta e de imagens objetivas o trabalho, os trajes, os aspetos e fisionomias rudes, brutas e resistentes destas mulheres. Todavia, empregou uma linguagem comparativa entre as mulheres trabalhadoras rurais e as mulheres trabalhadoras citadinas que serão observadas e analisadas ao longo deste tópico. As camponesas portuguesas retratadas por Maria Lamas habitavam todo território nacional continental e ilhas. Eram trabalhadoras que desde muito cedo já guiavam os bois, tomavam conta dos irmãos mais novos, trabalhavam na terra, semeavam, plantavam, colhiam o milho, tratavam das hortas, dos frutos, da lenha, da água, cortavam a lã dos carneiros, faziam a cultura do linho, fiavam e teciam. Eram a “(...) força humilde e esquecida, cuja contribuição para a vitalidade do País, sendo fundamental e constante, chega a ser desumana, pela sua violência desmedida” (2002, p. 7). Desde muito novas, sobretudo as meninas, não frequentavam a escola ou frequentavam até aprenderem a escrever o nome e depois abandonavam os estudos porque os pais precisavam delas para o trabalho - seja para cuidar do irmão mais novo e da casa, seja para trabalhar no campo. As crianças aprendiam a ler e a escrever, contudo com a falta de prática - em consequência da evasão escolar39 - esqueciam todo o aprendizado. Além

38 Este item abrangerá os seguintes capítulos da obra As Mulheres do Meus País, segunda edição: A Camponesa, Terras do Minho Adentro, Para Lá do Marão, Nas Ribas do Alto Douro, Através das Beiras, Alentejo, Na Região Algarvia, Estremadura, Ribatejo, No Arquipélago da Madeira e Nas Ilhas dos Açores. 39 De acordo com Estatísticas Históricas Portuguesas do INE (Instituto Nacional de Estatística), a qualificação escolar da população portuguesa nas décadas de 1940 a 1990. Contudo o recorte temporal

46 da baixa escolaridade e da pouca instrução, havia algumas regiões sem posto de ensino devido à baixa frequência das crianças (2002, pp. 161-162). O casamento também era um problema, ou seja, era o que as camponesas almejavam, embora tivessem a consciência de que não era a felicidade que as esperavam. “Não que o casamento lhes traga felicidade duradoira, elas bem o sabem, mas é a única transformação prevista no seu viver, o grande acontecimento que elas esperam” (Lamas M. , 2002, p. 14). Casavam-se cedo e, se passassem dos vinte e cinco anos, não se casavam mais. Havia mulheres que ficavam grávidas, eram abandonadas pelo namorado e recebiam acolhimento das outras mulheres vizinhas. Durante o inverno, as baixas temperaturas, em Castro Laboreiro, e, em volta da fogueira instaladas, geralmente, dentro de casas rudimentares, as mulheres reuniam-se, alimentavam-se, contavam casos e relembravam histórias: Fala-se dos ausentes: o marido de Joaquina, que foi para França e nunca mais escreveu; o marido da Antónia, que lhe mandou, da América, dinheiro para comprar umas terras há muito cobiçadas; o marido da Floripes, que anuncia o regresso para dali a dois anos; o marido da Teresa, que ela não sabe onde para... As raparigas casadoiras escutam e sente apertar-se-lhes o coração. Elas também hão-de ficar sozinhas quando tiverem maridos e alcançarem (Lamas M. , 2002, p. 16). Os homens, principalmente os do Norte, emigravam, em sua maioria, para o Brasil, Estados Unidos da América e França40. Cumpriam o serviço militar, casavam-se e iam embora. Voltavam, dois ou três anos depois, deixavam as mulheres grávidas e partiam novamente. A emigração masculina era uma espécie de lei tradicional a que todos estavam sujeitos. E as consequências sociais, econômicas e até afetivas eram graves e importantes, visto que pesava imenso na vida das camponesas (Lamas M. , 2002, p. 18).

do presente trabalho é das décadas de 1940 e 1950. Conferir tabelas XX nos Apêndices. Disponível em https://www.ine.pt/ngt_server/attachfileu.jsp?look_parentBoui=377094&att_display=n&att_download =y. Consultado em 20 de abril de 2020. 40 Conferir Estatísticas Históricas Portuguesas do INE (Instituto Nacional de Estatística): Emigração legal por distritos, 1886-1988 (p.91-100) e emigração legal por destinos, 1886-1988 (p.86-89. Disponível em https://www.ine.pt/ngt_server/attachfileu.jsp?look_parentBoui=377094&att_display=n&att_download =y. Consultado em 20 de abril de 2020.

47 Alguns não voltavam mais ou voltavam depois de anos, sem nunca terem dado notícias, para serem cuidados na velhice pelas esposas. Durante o período de ausência, era comum as camponesas vestirem-se de preto, luto que era quebrado apenas quando o marido regressava. Ocasião que justificava a roupa festiva e abundância de ouro. Este era a grande ambição das camponesas. Na região do Minho, em dias de festa, o peito de algumas lembra o mostruário de uma ourivesaria, onde se acumulam grilhões, estrelas, corações, fios de contas, crucifixos, broches e ‘borboletas’. Isto é sinal de abastança. Mas, ainda as mais pobrezinhas, são capazes de trabalhar anos, roubar ao estômago o parco alimento que lhe é habitual e privar-se seja do que for, para comprar um cordão ou um par de ‘brincos à rainha’ (2002, p. 68). Segundo apontou a jornalista, estas mulheres consideravam-se destinadas a procriar e trabalhar. Tinham duas alternativas, companhia do marido, com o inevitável espancamento, mais ou menos frequente - o uso da violência doméstica era considerado a via de regra algo natural41 - , ou a ausência dele, fazendo recair sobre elas todo o trabalho e todas as responsabilidades (Lamas M. , 2002, p. 87), No geral, o trabalho pesado, segundo a autora, acabava com a mocidade e o vigor das camponesas. “A mesma labuta, os mesmos costumes, a mesma ignorância, o mesmo padrão de vida sem conforto nem higiene, o mesmo pão negro e grande como a roda de um carro, cozido no forno comunal, uma vez por mês, e conservado fora do alcance dos ratos, nas prateleiras do cambeiro, suspenso no tecto, a um lado da cozinha” (2002, p. 17). Envelheciam cedo, descuidadas no vestir, nos cuidados pessoais de higiene e saúde. Vão-se-lhes os dentes, vai-se-lhes a graça e o ar de desafio que têm nos olhos, nas falas e modos, aí pelos vinte anos. O lenço, sempre na cabeça contribui para que elas se desmazelem na limpeza dos cabelos, raras vezes penteados. Isto é geral, no Minho e nas outras províncias do Norte (Lamas M. , 2002, p. 60).

41 Episódios de violência doméstica foram relatados pela autora nas páginas 72-74, 87-88, 114, 253-254 e 292.

48 Maria Lamas, ao percorrer as regiões do Minho, Trás-os-Montes e Alto-Douro, Douro Litoral, Beira - Alta, Baixa e Litoral, Ribatejo, Alto e Baixo Alentejo, Estremadura, Algarve, Madeira e Açores, notou que a atuação da camponesa fez-se presente em todo território português. As diferenças físicas, climáticas e geográficas nos territórios também foram observadas pela jornalista ao longo do texto, mas todas estas mulheres eram trabalhadoras, corajosas, resignadas e cheias de honra. Na sua humildade, elas conseguiam ser a força de resistência das labutas, o material humano que suportava o desgaste sem descanso, a estrutura que assegurava a estabilidade do lar. Sempre sozinha na labuta, fêmea submissa ao instinto da procriação, a garantir a multiplicação de braços para o amanho do casal, animal de carga, sem uma réstia de Sol a penetrar-lhes no espírito, a mulher endurece, desumaniza-se, perde, até, o doce instinto da protecção maternal, como perde toda a frescura e graça mal passa os vinte anos. Antes dos trinta está desdentada; o cabelo torna- se-lhe baço; a pele murcha; o olhar perde toda a expressão de alegria interior, toda a suavidade (Lamas M. , 2002, p. 18). Na região do Minho, as camponesas trabalhavam no pasto, conduziam carros de bois, transportavam carregos de todas espécies, colhiam milho, fiavam a lã ou o linho, enfim, não se esquivava de nenhum ganha-pão que pudesse aparecer (Lamas M. , 2002, p. 51). Além da observação no modo de vida, nas atividades do dia-a-dia destas mulheres, Lamas atentou-se e registou, através de conversas com estas mulheres, expressões e palavras que lhes eram usuais. Como por exemplo: fazer bailes velhos: questionar; assentar numa barregaria: começar a gritar; ter bolório: ter importância; pequerrico: pequenino; namorativo: namorar; medurento: medroso; ser de nêspera: ser teimosa; um filho de namoro: filho ilegítimo; feijão de atrepa: feijão verde; coivões: hortaliças; aquele já leu nas Escrituras: alguém que sabe muito; cavadeira: enxada mais estreita e comprida do que é vulgar; prantar e desprantar: plantar ou por, tirar ou arrancar; soitoiro: foice; a Lua está em soitoiro: quarto crescente; laboira ou laboeira: lavoira; margir: alinhar (Lamas M. , 2002, pp. 95-96). Em Viana do Castelo e nas aldeias ao redor, Maria Lamas fez menção às bordadeiras que trabalhavam no campo, com as mãos calejadas e quando pegavam no bordado, faziam

49 trabalhos maravilhosos, “como se tivessem dedos de fada e nunca se houvessem ocupado noutra coisa na sua vida!” (2002, p. 70). Em Cardielos, freguesia de Viana do Castelo, a jornalista escreveu o que observou sobre uma senhora, chamada Polónia, bordadeira que vivia em uma casa pequena. É velha e parece mais um destroço humano do que uma hábil e paciente fazedora de delicado lavor. Não se trata de uma bordadeira de toalhas e sacos de trabalho, ao gosto moderno. (...) Toda vida bordou, a vidrilhos, os fatos de noivado, pretos, distintíssimos, das lavradeiras ricas, no tempo em que ninguém se atrevia a fugir à tradição. (...) Olha-se essa mulher, desmazelada no seu todo, velha pela idade e pelo abandono de si própria, com ar apatetado, retraído, e não se acredita que aquelas mãos deformadas e ásperas, de unhas negras, tenham realizado maravilhas de perfeição. (...) ela personifica a desolação da decrepitude sem amparo nem tréguas na luta pela vida (2002, p. 72). A autora segue observando o trabalho e as condições de vida das camponesas do Alto- Douro que preparavam e transportavam o sulfato para ser utilizado nas vinhas, faziam a vindima e o carregamento de lousa (pedras compridas cortadas e usadas para o suporte das videiras) e transporte de cestos na cabeça. No Douro Litoral, no que se refere ao tratamento da vinha, era a mulher quem se encarregava de cavar, enxofrar e vindimar. Somente a poda era considerada tarefa masculina. A autora fez menção a algumas zonas industriais nos arredores da cidade do Porto, Gaia, Santo Tirso. Ressaltando a empregabilidade da mulher nas áreas da construção civil, no transporte de tijolos ou de areia, britando pedras, fazendo escavações e aterros, ao lado dos homens, trabalhando o mesmo horário e tendo as mesmas responsabilidades, contudo ganhando apenas dois terços do que eles recebiam. A desigualdade salarial seria abordada por Lamas em outros momentos da análise, sendo atitude comum. Interessante notar que ao retratar as profissões das mulheres do Douro Litoral, Maria Lamas elaborou uma espécie de dicionário de profissões, ou seja, listou as profissões exercidas pelas mulheres informando suas especificidades, como podem ser observadas no quadro abaixo.

50 Tabela 1 - Dicionário de Profissões

Profissões Características

Mulher que se dedicava a fazer carregamentos de toda espécie. Fazia Carrejona o transporte de vários volumes na cabeça.

Aldeã que recolhia ainda de madrugada nas casas dos lavradores o leite Carreteira para as fábricas de laticínios. O transporte do leite era feito na cabeça em grandes latas.

Trabalhadora que distribuía o leite. Começava o trabalho de Leiteira madrugada e quando voltava para casa, ainda trabalhava nos afazeres domésticos.

Lavava roupas nos rios, ribeiros ou tanques e, geralmente o transporte Lavadeira das trouxas era feito na cabeça.

Vendia pão de trigo, em domicílio, nas cidades e vilas. Assim como as Padeira outras trabalhadoras, também transportava o cesto de pães na cabeça.

Fazia chapéus de palha que os camponeses (mulheres e homens) Chapeleira usavam durante o verão.

Vendia pães, biscoitos, bolos e doces, nas feiras e romarias. Doceira Geralmente, era criado um pequeno negócio.

Tarefa exercida, segundo a autora, por todas as camponesas do Norte. Faziam linho e derivados, mantas de trapos, cobertores e tapetes de Tecedeira lã. Sem preparação profissional e com teares rudimentares, faziam qualquer desenho.

Profissão indispensável nas aldeias, a costureira, segundo Lamas, tinha Costureira certa categoria social entre os habitantes da terra e vivia de forma mais recatada. Contudo, também trabalhava na agricultura.

51 Trabalhavam por conta e em casa, após trabalharem na terra. Para a Bordadeira e autora, as mãos calejadas e encardidas pelos trabalhos na terra se rendeira contrastavam com a perfeição dos bordado.

Aldeã que fazia flores artificiais de papel e tecido e também se Florista e dedicava à cerâmica. Já a barrista fazia presépios e outros objetos, pintora de ligados à cultura portuguesa. As crianças auxiliavam nesta confecção e bonecos eram encarregadas de colorir os bonecos. A mulher também ajudava o homem na cozedura do barro e na olaria.

Camponesa vendedora de frutas, hortaliças, flores. Também havia a Vendedeira camponesa-negociante - a vendedora ambulante de quinquilharias ambulante que ia de cidade em cidade vendendo de tudo um pouco - pente, agulhas, linhas, espelhinho e outras bugigangas.

Fonte: Lamas M. , 2002, pp. 134-142

Lembrando que essas profissões foram observadas ao longo de toda narrativa da obra, contudo é interessante apontar este registo. Isso só ressalta a necessidade que a autora tinha de desenvolver uma escrita não apenas de registo das condições dos trabalhos exercidos pelas mulheres, mas também uma escrita informativa e pormenorizada destas condições. Indo para a região das Beiras (Beira Alta, Beira Baixa e Beira Litoral), a jornalista observou que o trabalho das camponesas, assim com em outras regiões, consistia em cavar, sachar, ceifar o mato, cultivar o milho, cuidar dos rebanhos de ovelhas, tecer e preparar lãs. Notou que durante as baixas temperaturas do inverno, principalmente na região da Serra da Estrela, os pastores e os rebanhos emigravam para o Douro, em busca de pastagem e para fugirem do frio e da neve (Lamas M. , 2002, p. 155). Pontuou que na região de Estarreja, as mulheres, geralmente, tinham remuneração miserável e

52 muitas vezes se recorreriam a prostituição42 (2002, p. 194), havendo muitas mães solteiras e/ou abandonadas pelos maridos. Na região da Beira Litoral, observou as mulheres que trabalhavam na seca do bacalhau, que descarregavam, lavavam, salgavam e levavam o bacalhau para as mesas da seca todos os dias, e recolhidos a tarde. As trabalhadoras que carregavam o bacalhau ficavam com os pés expostos ao sal e a fragmentos de peixe e espinhas. Sapatos eram artigos de luxo que elas diriam “- Calçado? Está a fazer pouco? O que ganhamos não dá para comer!...” (Lamas M. , 2002, p. 204). Em trabalho igualmente insalubre, as mulheres de Aveiro, durante a colheita do arroz, trabalhavam com água e lodo quase na cintura, devido a marinha. Já nos arrozais do Sul, na região do Ribatejo, a água era baixa, contudo, a infestação de mosquito era intensa, podendo causar doenças como a malária (Lamas M. , 2002, p. 239). Eram trabalhadoras que viviam conformadas com um desígnio que parecia imutável: nascer, trabalhar, procriar, sofrer e morrer. (...) fadiga constante que deforma, no físico e no moral, transformando-as em “animais de carga”, excluídas dos prazeres da vida, essas mulheres, de carne e osso como toda a gente, com um coração que pede amor e um espírito que pediria alimento e luz se soubesse pedir (Lamas M. , 2002, p. 188). Observando a mulher alentejana - tanto do Alto Alentejo quanto do Baixo -, Maria Lamas fez o seguinte comentário: “A mulher do campo alentejana trabalha, sem dúvida, mas não é ‘animal de carga’, como as suas irmãs do Norte” (2002, p. 228). Ou seja, havia períodos de trabalho agrícola intensos, como durante a apanha da azeitona e da bolota (fruto que servia de alimento para os suínos em regime de pastoreio), as podas e ceifas, contudo a mulher camponesa alentejana, de uma forma geral, tinha uma vida mais folgada que a camponesa minhota, transmontana, duriense ou beiroa, quanto às tarefas quotidianas, à responsabilidade total da família e ao esforço que lhe era exigido no campo. Entretanto, segundo a jornalista, quanto à mentalidade, não havia diferença sensível. “A mesma ignorância, o mesmo apego a crendices absurdas, a mesma

42 Maria Lamas dedicou dois parágrafos no item Várias Notas (p. 464) para falar sobre a legalidade da prostituição em Portugal e como algumas mulheres não viam saída para exercerem outras profissões.

53 inconsciência perante os mais graves problemas da sua vida de mulheres, mães e cidadãs (Lamas M. , 2002, pp. 228-230). Ao escrever sobre a mulher alentejana, Maria Lamas mencionou pela primeira vez a palavra cidadã. Até então, a autora vinha observando e escrevendo sobre a mulher camponesa e trabalhadora, sobre o quotidiano, as dificuldades, os problemas, escolaridade, a relação da mulher com o marido, os filhos, enfim, narrando histórias vividas e observadas, mas sem inserir esta mulher no contexto de cidadã, de sujeito com direitos. Contudo, ao passar pela região do Minho, mais especificamente, em Covide, nas proximidades do Gerês, Maria Lamas (2002, pp. 42-43) observou que as mulheres, representantes do casal, eram convocadas como os homens chefes de família, para fazerem parte da Junta onde discutiam as leis paroquiais, propunham melhoramentos locais e reformas, debatendo a boa solução dos problemas de utilidade pública. Nessas assembleias as mulheres convocadas tinham voto e direitos iguais aos dos homens. As mulheres da região do Algarve, principalmente as montanheiras, trabalhavam no campo, na colheita e transporte (seja na cabeça ou no dorso de animais) do trigo e centeio, na colheita da alfarroba, da amêndoa e na apanha de morraça. Colhiam e vendiam a morraça, espécie vegetal que era utilizada como alimentação para o gado. De julho a outubro, trabalhavam nas marinas de sal, na colheita e seca do figo e no inverno apanhavam amêijoas e berbigão. Como as carregadoras e salineiras de todos os outros pontos do País, as algarvias sofriam com os ferimentos dos pés, em contacto com o sal, e usavam canos de lã ou algodão que protegiam as pernas. Usavam também uma espécie de luvas, que na verdade eram meias velhas, segundo Maria Lamas, enfiadas nos braços e nas mãos, com a finalidade de proteger essas partes do corpo do contato com o sal. Além disso, confeccionavam esteiras, cestos, chapéus com palhas e bordavam após o trabalho no campo. Como observado em outras regiões, a preocupação máxima dos camponeses era ter alimento para o ano todo, ou seja, resistir e sobreviver. Na região de Estremadura, a colaboração da mulher na agricultura também era intensa, e mesmo com idas frequentes à capital, o convívio com a população citadina, não fizeram desaparecer o tipo característico da aldeã (Lamas M. , 2002, p. 277). As mulheres que trabalhavam no campo, eram também comerciantes, feirantes e lavaderias.

54 A sua vida é bater roupa nos ribeiros, poços e tanques; pô-la a corar na relva e nas sebes, ao longo das veredas; recolhê-la quando chove; trazê-la novamente às donas, bem lavada. (...) Quase sempre analfabeta, não sabendo sequer assinar o seu nome, a lavadeira fixa de cor quantas peças lhe confiam e conhece a roupa de cada freguesa como se fosse sua (Lamas M. , 2002, p. 281). Trabalhavam nas olarias, fabricavam, decoravam e vendiam utensílios de barro, se dedicavam a cutelaria e a tecelagem de rendas de bilros. Algumas mulheres da região de Estremadura começavam a abandonar o trabalho no campo para se empregar nas fábricas, secas do bacalhau, salinas e outras tarefas (Lamas M. , 2002, p. 292). Segundo a autora (2002, p. 292), o homem emigrava menos que no Norte, não havendo longas separações que representavam para a mulher uma espécie de viuvez, tornando assim mais pesadas as suas tarefas e a sua responsabilidade. Já na região do Ribatejo, a colaboração da mulher na agricultura era muito intensa. Seja nas vindimas, na apanha da azeitona, nas sachas, podas e ceifas. Ali, como em outros sítios, os homens ganhavam mais, enquanto as mulheres ganhavam metade do que os homens. A região do Ribatejo também recebia camponesas de outras localidades que migravam em busca de trabalho. Ao analisar o Arquipélago da Madeira, Maria Lamas (2002, p. 302) fez a seguinte observação: “o trabalho do camponês madeirense é uma epopeia obscura!”. Isso devido às condições geográficas da ilha - penhascos, precipícios, picos. Ao escrever sobre as mulheres madeirense, a autora destacou o trabalho na indústria dos bordados - uma das mais importantes fontes de receita da Madeira. Havia duas categorias de mulheres nesta indústria: as bordadeiras, propriamente ditas, que executavam em casa, a tarefa que lhes era entregue e recebiam o valor estipulado para cada peça, sem horário nem contrato de trabalho; e as empregadas das fábricas do Funchal, onde se fazia a preparação e o acabamento dos bordados - passar o desenho, recortar o tecido, lavar, engomar e empacotar - com salário e horas de trabalho regulamentados. Estas eram consideradas operárias e tinham melhores remunerações que as bordadeiras caseiras (Lamas M. , 2002, pp. 304-305).

55 Por fim, as mulheres das Ilhas dos Açores eram camponesas que se dedicavam ao trabalho rural na colheita do milho, feijão e tremoços, na cultura e na preparação do linho. Segundo a jornalista, a única tarefa agrícola na qual a mulher era contratada era a colheita do chá e do tabaco (Lamas M. , 2002, p. 310). Além disso, as mulheres se dedicavam ao bordado de palha, a renda de pita, produziam chapéus e outros produtos que eram exportados para o Continente e para os Estados Unidos (Lamas M. , 2002, p. 323). De uma forma geral, a vida da mulher camponesa nas ilhas dos Açores era idêntica entre si. Se dedicavam a tecelagem caseira, auxiliavam o marido nos trabalhos agrícolas, quando precisavam iam ao mato e a lenha, “todas são atrasadas, sob o ponto de vista de instrução e higiene, conservando-se apegadas a superstições e velhos preconceitos, embora a mentalidade feminina varie, sob alguns aspetos, de ilha para ilha” (Lamas M. , 2002, p. 322). 3.4. Mulheres do Litoral Neste item serão abrangidos os seguintes capítulos da obra As Mulheres do Meus País, segunda edição: Ares do Litoral, Douro Litoral, Através das Beiras, Alentejo, Na Região Algarvia, No Arquipélago da Madeira e Nas Ilhas dos Açores. Nestes tópicos, a autora examinou, essencialmente, as mulheres da região litorânea de Portugal Continental e Ilhas, de Caminha à Fuseta, de Porto Santo à Ilha das Flores43. Assim como as outras trabalhadoras camponesas, as mulheres do litoral são, de acordo com Lamas (Lamas M. , 2002, p. 51), “trabalhadeiras, corajosas e resignadas. Mais alegres que as serranas. É frequente ouvi-las cantar enquanto labutam”. As mulheres das montanhas, afeitas à solidão, ao clima rude e ao pastoreio constante dos rebanhos, veem passar o tempo lentamente e adquirem modos pensativos, na monotonia de um viver pasmado. Cá para baixo, a vida não é menos trabalhosa, antes pelo contrário, mas há cor, movimento, e certa doçura no ar que se respira (Lamas M. , 2002, p. 52).

43 Conferir Mapas: - Ares do Litoral- No Douro Litoral- Através das Beiras- Alentejo- Na Região Algarvia- No Arquipélago da Madeira- Nas Ilhas dos Açores- A Mulher do Mar (Anexo 3).

56 As mulheres do litoral do Minho costumavam “ir ao sargaço”, ou seja, ir às praias para recolher alga marinha que depois se transformaria em adubo para os campos ou para ser vendida para lavradores de outras regiões. Estas mulheres, segundo Maria Lamas (2002, p. 58), em sua maioria, não eram mulheres de pescadores nem mesmo “mulheres do mar”. Eram camponesas que se dedicavam a faina rural e aproveitavam o que o mar lhes oferecia, o sargaço. “Mulheres do mar”, que subordinavam à inconstância das marés e aos azares da pesca, segundo a autora, somente de Póvoa de Varzim para baixo. No litoral minhoto, embora o oceano influenciasse em certos aspetos da vida e da índole das mulheres, era a terra que imperava (Lamas M. , 2002, p. 66). Segundo a autora (2002, p. 60), os filhos destas mulheres - como os filhos das camponesas retratadas no item anterior - assim que cresciam e começavam a “dar rendimento”, abandonavam os estudos e seguiam o ofício paterno e acompanhavam os pais, como aprendizes. As meninas tomavam conta dos irmãos mais novos, pastoreavam o gado, conduziam carros de bois, cuidavam do campo, cortavam o mato e a lenha, acumulavam todos os afazeres com a vida escolar e por fim também abandonavam os estudos. O casamento, mesmo sendo desejado, não era menos incômodo. Depois de casadas, tudo muda. Começa “a vida escrava”. E de tal forma elas estão possuídas da sua condição inferior, que, a caminho das feiras e romarias ou quando precisam de resolver assunto importante fora da aldeia, a mulher raramente se coloca ao lado do homem: vai sempre uns passos atrás. E se há cesto ou saco cheio a transportar, ela é que lhe suporta o peso (Lamas M. , 2002, p. 62). Segundo observação da autora (2002, p. 63), embora migrassem bastante, havia, em Castelo do Neiva, Belinho, S. Bartolomeu do Mar e A-Ver-o-Mar, ao norte da Póvoa de Varzim, mais homens para cultivar a terra do que no Alto Minho. As mulheres de Nazaré quando questionadas sobre se trabalhavam na agricultura, diziam “o mar o nosso campo!” (Lamas M. , 2002, p. 327). Segundo a autora (2002, p. 342), havia uma certa rivalidade entre as camponesas das montanhas que olhavam as mulheres do mar com desdém.

57 As mulheres do mar vendiam o peixe, enquanto os homens pescavam. Cuidavam também de outros serviços em relação ao pescado, ajudavam a puxar os barcos para a praia, consertavam e remendavam as redes de pescas. No geral, os homens predominavam na população marítima, contudo Maria Lamas (2002, p. 329) observou que em A-ver-o-Mar eram as mulheres que iam à pesca sozinhas e, como as outras companheiras de pescadores, também dedicavam-se à venda do peixe. Em Olhão, era comum, na praia, quando havia discussão acerca do comércio de peixe, a mulher era incisiva, tomava a direção dos negócios e resolvia os problemas. Eram mulheres realistas, diretas e instintivas que proviam o sustento da família. Ao contrário do que foi observado, na Ilha da Madeira, a mulher não assumia os negócios relacionados ao mar, praia ou pesca, exceto na região do Paúl, um dos principais centros piscatórios da ilha - juntamente com Câmara dos Lobos e Machico - onde havia uma fábrica de conservas de peixes que empregavam as mulheres dos pescadores. No geral, de acordo com Lamas (2002, pp. 357-358), as mulheres permaneciam ignorantes, supersticiosas, dominadas por um sentido de fatalidade, elas viviam pelo instinto “entre resignadas e inconscientemente hostis, perante todas as normas de vida diferentes daquelas em que nasceram e às quais se consideram irremediavelmente subordinadas”. 3.5. Operárias44 Após analisar a vida das camponesas e das mulheres do mar, a autora prosseguiu na observação das operárias portuguesas. Neste item, Maria Lamas destacou as profissões, as características das trabalhadoras, a discrepância salarial entre os sexos, a relação familiar e escolaridade das mulheres. Para indicar a intensa colaboração das mulheres em quase todas as fábricas e setores industriais de Norte a Sul do país, a autora fez questão de especificar cada trabalho e

44 Este item abrangerá o capítulo A Operária, da segunda edição da obra As Mulheres do Meu País. No capítulo Terras do Minho Adentro, a autora (2002, pp. 65-67) já havia feito referência às camponesas que trabalhavam nas fábricas de serração de madeira e construção civil.

58 área de atuação destas operárias. Da construção civil e mineração à indústria do bordado. No setor da construção civil, as mulheres trabalhavam abrindo e fazendo reparos em estradas, “cumprindo o mesmo horário que os homens, porém recebendo um terço da jorna” (Lamas M. , 2002, p. 363). A percentagem de camponesas que se empregam na construção civil, dando serventia, e na construção e reparação de estradas, é importantíssima. Só no distrito de Braga são duas mil, pelo menos. Sempre que a agricultura lhes deixa os braços livres, ou que elas encontram possibilidade de se fazerem substituir pelos filhos nos trabalhos mais leves, lá vão transportar tijolos ou carregos de areia, britar pedra, fazer escavações e aterros, ao lado dos homens, com o mesmo horário e responsabilidade, mas ganhando apenas dois terços do que eles recebem (Lamas M. , 2002, p. 65). As fábricas de serração de madeira também empregavam mão de obra feminina (Lamas M. , 2002, p. 75). Na indústria vidreira, trabalhavam como esmeriladora, aquela que faz o polimento do vidro. “Geralmente, sem técnica, mas com competência de prática, a mulher trabalha nesta tarefa delicada e fatigante. A fabricação do vidro é feita por homens, mas elas trabalham também nas oficinas de pintura, seções de escolha e empacotamento” (Lamas M. , 2002, p. 365). Trabalhavam na marcenaria e metalurgia (Lamas M. , 2002, p. 369), nas minas, na escolha e transporte do carvão em vagonetas45 (Lamas M. , 2002, pp. 374-375). Na descarga de areia, nos cais de Lisboa, o trabalho era feito maioritariamente por mulheres, assim como na descarga do sal nas regiões de Aveiro e Algarvia e do carvão em São Pedro da Cova. “Elas vão de fragata em fragata, sobre estreitas pranchas, com as canastras à cabeça, esforçadas, pondo à prova a sua resistência física” (Lamas M. , 2002, p. 392). A autora também apontou a colaboração das mulheres em outros setores industriais, como de tecidos, malhas, cortiças, tapetes, conservas, tabacos, chocolates, perfumarias, material de guerra, filigranas, cutelaria, chapéus, vimes, bordados, costuras,

45 Conferir Imagens Apêndice 2.

59 lavanderias, tinturarias, massas alimentícias, calçado, brinquedos, adubos, produtos químicos, cimento, papel, material eléctrico, ardósias, encadernações, faianças, azulejos, porcelanas, vidros, olaria, engarrafamento de vinhos e de águas, relógios, pentes, botões, pastelaria. Haviam também as tipógrafas que tinham o salário inferior ao dos homens, as mecânicas e pintoras de automóveis (Lamas M. , 2002, pp. 378-378). As guardas de passagem de nível ao longo das vias férreas (Lamas M. , 2002, p. 393). A autora também mencionou o trabalho doméstico exercido por mulheres que desde a adolescência já trabalhavam, de forma pouco remunerada, na casa de outrem. Maria Lamas, volta a usar o termo “escravas” para tipificar o trabalho destas mulheres (Lamas M. , 2002, p. 395). Nota-se a abrangência da atuação das mulheres nas diversas áreas do setor industrial português. Além disso, Maria Lamas avançou na discussão, problematizando as particularidades e as carências de direitos trabalhistas e de consciência destas trabalhadoras. Para a autora, era inegável a presença de mulheres nos setores industriais, contudo, estas não tinham um “determinado desenvolvimento de consciência profissional, perfeitamente esclarecida quanto aos seus direitos e deveres, às leis que deveriam protegê-la e às vantagens de se manterem unidas no estudo e defesa dos interesses colectivos, que se reflectem não apenas nas condições do seu trabalho, como também na vida familiar e pessoal” (Lamas M. , 2002, p. 363). Para compreender o que a escritora designou de consciência profissional, Lamas propôs a divisão da classe operária feminina em três categorias: as conscientes, as que se interessavam - ou pareciam dispostas - por alguns aspetos dos seus problemas e as que iam à fábrica, pegavam na picareta ou carregavam fardos com a única preocupação de ganhar a remuneração diária, sem se importarem consigo ou com a vida das outras mulheres que trabalhavam e viviam em circunstâncias idênticas. Não acreditavam na possibilidade de melhorar a sua situação (Lamas M. , 2002, p. 364). Estas três características, aliadas à falta de interesse em ter uma vida sindical mais atuante, gerou um atraso deprimente nestas trabalhadoras, de acordo com as palavras da autora (Lamas M. , 2002, p. 364).

60 Além disso, outros fatores contribuíram para essa possível letargia, como por exemplo a sobrecarga e acúmulo de serviços, afazeres e cuidados com a casa, o marido46 e os filhos. A falta de instrução e de escolaridade também eram uma das causas fundamentais da mentalidade atrasada que caracterizava a maioria das operárias portuguesas. Segundo a jornalista (2002, p. 392), mesmo as que sabiam ler, geralmente não liam, por falta de tempo, interesse ou sequer entendimento. A falta de conhecimento de leis também era um problema para as operárias, pois aceitavam determinações e sujeições a fim de evitarem a demissão. A autora fez referência a incompatibilidade do casamento com o trabalho profissional, havia fábricas que admitiam apenas operárias solteiras e quando se casavam eram automaticamente dispensadas. Ficando evidente que tal imposição era para se “evitar os dias de licença obrigatória por ocasião dos partos e o cumprimento doutras formalidades relativas à maternidade das operárias” (Lamas M. , 2002, p. 375). Outro fator de desânimo/desinteresse, citado por Lamas (2002, pp. 367-368), era a tendência, nos setores fabris, para a substituição da mão de obra masculina pela feminina, não porque a mulher fosse uma “concorrente à altura” do homem, em iguais condições de trabalho e salário, mas porque essa substituição oferecia grande vantagem às empresas. Ou seja, após adquirir prática necessária para cumprir sua função, a mulher trabalhava o mesmo que o homem e ganhava muito menos que ele. A autora acreditava que o sentimento de inferioridade da mulher operária também se dava devido à discrepância de salário entre homem e mulher e também ao fato da não aceitação do homem com a concorrência feminina (Lamas M. , 2002, p. 370). Ainda observou que mesmo se esforçando, a mulher operária tinha poucas chances de conseguir cargos superiores, já que estes postos de trabalho eram sempre ocupados, exclusivamente, por homens (Lamas M. , 2002, p. 378).

46 Segundo Maria Lamas (2002, p. 371), nas regiões industriais onde predominavam a mão de obra feminina, devido ao seu preço inferior, os homens emigravam com frequência para outros pontos do país a procura de trabalho. “Isto sucede principalmente no Norte, repetindo-se com a operária o mesmo que sucede com a camponesa: o agravamento da responsabilidade familiar e das tarefas a seu cargo, pela ausência quase permanente do marido, que só vem a casa de ano a ano, quando muito”.

61 Por outro lado, o trabalho coletivo, a disciplina dos horários, a noção de responsabilidade, o contato com organizações industriais, o amplo convívio com outras mulheres e homens, contribuíram para a personalidade da operária e para ampliar a distância da camponesa, embora sem conseguir “libertar-se duma espécie de estigma que lhe vem dos seus princípios modestos, tornando-a incapaz de atingir a delicadeza de maneiras e o desenvolvimento mental das pessoas civilizadas. Isto refere-se, principalmente, àquelas que vivem até certa altura no meio em que nasceram e só depois de jovens ou mulheres feitas passam a ter melhores condições económicas” (Lamas M. , 2002, p. 410). 3.6. Empregadas e Profissionais47 Neste item, a autora dedicou-se as ocupações profissionais que foram exercidas pela burguesia, devido “ a pressão económica, cada vez mais esmagadora, e a evolução dos costumes e da mentalidade levaram a mulher a encarar de forma diferente o seu trabalho profissional, embora prevaleça ainda, em grande escala, a noção de que a vida doméstica é a que mais lhe convém” (Lamas M. , 2002, p. 427). As profissões citadas foram: analista clínica, industrial e bromatológica; repartições públicas, trabalhos em Correios, Telégrafos e Telefones; telefonistas, secretárias, datilógrafas; mulheres que colaboravam nos serviços técnicos dos cinemas; trabalhavam em laboratórios de produtos de beleza; como enfermeiras, professoras primárias, assistentes sociais; e em profissões que exigiam nível universitário48, como médicas, advogadas, engenheiras, arquitetas, agrônomas, economistas, investigadoras científicas; também estavam presentes nas artes plásticas, na literatura (poetisas em maior número), no jornalismo, no teatro, na música, na dança. O domínio da mão de obra feminina poderia parecer diverso e de longo alcance, contudo, havia dificuldades que raramente se observavam em relação ao trabalho masculino. Como se verificou com o professorado primário e as enfermeiras. Além da baixa remuneração em relação aos professores, as professoras primárias precisavam

47 Este item abrangerá o capítulo A Empregada do livro As Mulheres do Meu País, segunda edição. 48 Maria Lamas citou duas intelectuais portuguesas, Públia Hortênsia de Castro (1548-1595) e Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925) (2002, p. 438).

62 pedir autorização para se casaram. Já as enfermeiras, que haviam se dedicado ao estudo demorado e custoso, eram mal remuneradas e perdiam o emprego nos hospitais civis, caso se casassem (Lamas M. , 2002, p. 430). Nos empregos públicos as mulheres ganhavam o mesmo que os homens - exceção à regra - no entanto, havia limite ao acesso de mulheres a cargos superiores (Lamas M. , 2002, p. 437). Além disso, a representação feminina nos sindicatos portugueses ainda era rara. A autora ainda escreveu sobre as mães que trabalhavam fora de casa, cuidavam dos filhos, da casa e do marido, ou seja, tinham várias jornadas de trabalho diário. Citou o problemas das baixas remunerações e as dificuldades das mães pagarem a quem lhes cuide dos filhos durante as horas que estivessem no trabalho. Para a autora, para os que condenavam o trabalho da mulher fora de casa, este seria um argumento decisivo. O que interessa à mulher que trabalha profissionalmente não é abandonar o emprego que lhe permite mantero o equilíbrio financeiro do lar, ou, pelo menos, tornar menos deficientes as condições da sua vida, mas sim ter a possibilidade de deixar seus filhos ao abrigo de todos os perigos, enquanto ela se desempenha das suas obrigações profissionais (Lamas M. , 2002, p. 445). A autora também escreveu sobre a instrução primária e os postos de ensino destinadas às mulheres, existentes em Portugal, como: liceus femininos, secções femininas em quase todos os liceus masculinos e escolas técnicas. Citou também os asilos e patronatos para crianças e adolescentes do sexo feminino, geralmente, entregues a direção religiosa, onde o ensino era voltado para a preparação da menina/muher para a vida familiar. Além disso, ressaltou que o sistema educacional português era baseado nos princípios cristãos, cuja competência e idoneidade moral tem que ser reconhecida pelo Ministério da Educação Nacional (Lamas M. , 2002, pp. 443-444). 3.7. Mulheres Domésticas49 Neste último tópico foram analisadas as características das domésticas, sem qualquer distinção de classe, ou seja, as mulheres que não exerciam profissão alguma, ou melhor, eram trabalhadoras dentro do próprio lar. É neste sentido que a autora propôs não

49 Este último item abrangerá os capítulos A Doméstica, Várias Notas e Palavras Finas, do livro As Mulheres do Meu País.

63 analisar as condições particulares desta categoria, mas entender a influência da vida doméstica na mentalidade da mulher portuguesa. Na generalidade, segundo Maria Lamas, ser doméstica corresponderia a vivência no âmbito limitado do lar, absorvendo e resolvendo os problemas exclusivamente familiares, ignorando os problemas gerais, dependendo da subsistência do chefe de família e sujeitando a sua vontade, desinteressada dos assuntos nacionais e internacionais. Para Lamas, esse ambiente acarretava a duas situações: (...) ou a mulher aceita resignadamente as circunstâncias da sua vida e cai numa espécie de marasmo espiritual e mental, movendo-se apenas entre as graves preocupações do orçamento caseiro, as compras, as limpezas, o arranjo das roupas, as refeições que é preciso ter prontas a horas certas, as doenças dos filhos e as mil pequenas coisas, sempre iguais e sempre enervantes, que lhe enchem o dia, ou não consegue anular as suas aspirações, e vai sentindo crescer em si uma revolta que só dificilmente chega a dominar e que a entristece, transformando-lhe a vida num constante suplício (Lamas M. , 2002, p. 447). Segundo a autora, as jovens domésticas deixavam de frequentar a escola de instrução primária, recolhiam-se ao ambiente caseiro e passavam a ler “romances cor-de-rosa”, idealizaram uma vida à semelhança dos filmes (Lamas M. , 2002, p. 456). E quando a realidade e os problemas da vida conjugal surgiam, começavam a desilusão e o drama da mulher ou do casal. Para a autora (2002, p. 457), não bastava frequentar faculdade ou ter emprego para se modificar “o errado conceito da vida que tanto prejudica a mulher portuguesa”. Contudo, ter um trabalho, ser indepentende para resolver problemas da vida, dava à mulher confiança, desenvolvimento de sentido prático, valorização como ser humano e como companheira do homem (Lamas M. , 2002, p. 457). A autora fez uma distinção entre as mulheres domésticas e as que trabalhavam - mais ou menos - fora do lar. Como já foi observado anteriormente, elas eram trabalhadoras

64 rurais, vendedeiras, diaristas, operárias, etc, enfim, trabalhadoras50 que exerciam uma atividade fora de casa, e que, segundo Maria Lamas, não eram domésticas (2002, p. 458). Já nos parágrafos finais da obra, Maria Lamas acrescentou um subcapítulo chamado Várias Notas, no qual fez referência às mães solteiras, ressaltando a falta de assistência a estas mulheres. Segundo a jornalista (2002, p. 463), “as mães solteiras encontram nas esferas oficiais as maiores dificuldades, por vezes obstáculos invencíveis, quando procuram um ponto seguro de apoio”; à prostituição e a sua legalidade em Portugal (Lamas M. , 2002, p. 464); às mulheres e a relação com a prática do desporto (Lamas M. , 2002, pp. 464-465). Também mencionou a diferença de direitos políticos da mulher portuguesa em comparação com os direitos políticos dos homens portugueses. Se for casada, a mulher só poderia votar se tivesse o curso geral dos liceus ou pagar anualmente uma contribuição predial. Logo, o voto seria apenas exercido pelas mulheres casadas, instruídas e das classes mais favorecidas economicamente, ficando excluídas a maioria da população feminina portuguesa. Citou a pouca representatividade feminina na Assembleia Nacional e o completo desinteresse da mulher portuguesa pelos assuntos políticos (Lamas M. , 2002, pp. 462-463). Avançou, escrevendo sobre a falta de instituições femininas com genuínas preocupações para solucionar os problemas das mulheres, ou seja, para instruir e esclarecer estas mulheres sobre direitos políticos e laborais. Para inserir em um contexto global de discussão acerca dos problemas femininos e da necessidade de assistência à mulher, à criança, a igualdade de direitos, de trabalho e remuneração, de habitação, saúde e educação. “O que está em causa é o interesse da Mãe, da Criança, da Operária, da Doméstica - o interesse da mulher em geral” (Lamas M. , 2002, pp. 465-469). A autora finalizou o texto escrevendo sobre as qualidades afetivas e morais da mulher portuguesa, sobre o enfrentamento das maiores dificuldades económicas, da resistência física e moral que sustentaram estas mulheres nas adversidades. Ressaltou a coragem

50 Segundo observação da jornalista, muitas mulheres de pescadores emigraram para Lisboa para trabalhar como funcionárias do lar ou em qualquer outra profissão (2002, p. 339).

65 das mulheres portuguesas ao acompanharem os maridos no avanço da “colonização portuguesa” em território africano (Lamas M. , 2002, pp. 469-471). Nas Palavras Finais, a autora ao concluir a escrita da obra As Mulheres do Meu País, declarou que o documentário sobre a vida da mulher em Portugal não era conclusivo. Ou seja, este estudo sobre as dificuldades, os problemas enfrentados não caberiam nas páginas deste trabalho que tinha como finalidade dar uma ideia de tudo o que dizia respeito a mulher portuguesa, sem, contudo, propor uma resolução para cada assunto observado. Em As Mulheres do Meu País, a crítica às condições de trabalho das mulheres portuguesas é acentuada, mesmo este sendo uma atividade decisiva para a emancipação dessas mulheres. Para Lamas era essencial mostrar e registar a situação das mulheres portuguesas para que fosse alcançado e efetivado a plena valorização das mulheres do seu País. 3.8. Maria Lamas fotógrafa: uso de imagens como registo da escrita Na obra de Maria Lamas, o texto é essencial para a análise que a autora fez sobre as mulheres trabalhadoras portuguesas. Foi através dele que a jornalista expressou-se, expôs, observou e desenvolveu uma narrativa de vivências e de trabalho das mulheres de Portugal, como foi visto nos tópicos acima. As extensas legendas das fotografias poderão ser observadas como complementos do texto de Lamas e também como uma leitura das imagens expostas. Estas constituem uma escolha que permite documentar e mostrar as mulheres nos seus trabalhos, lazeres, em momento de festa, de alegria e lida, em família e também durante os momentos de solidão. Interessante notar é que não há, praticamente, em todo o livro imagens de homens. Apenas mulheres, meninas e crianças. As imagens tornaram-se registos visuais do olhar e do ponto de vista da autora. A maioria das imagens expostas na obra As Mulheres do Meu País são de autoria de Maria Lamas, isto pode ser constatado nas legendas das fotografias, nas quais a autora procurou, quando possível, identificar a autoria das mesmas51. Ainda que em menor quantidade, a autora ao utilizar imagens de outros fotógrafos para ilustrar o seu texto,

51 Nos capítulos Ribatejo, No Arquipélago da Madeira e Nas Ilhas dos Açores, da segunda edição de As Mulheres do Meu País, não existem fotografias feitas por Maria Lamas.

66 trouxe para o trabalho outros olhares, outros pontos de vista (Conferir Tabela 1 em Anexos). Segundo o professor Manuel Villaverde Cabral (2017, p.7), as imagens fotográficas de Maria Lamas correspondem a um olhar diferente, um olhar principiante mas com certa solidariedade em relação às personagens do livro, como se fosse capaz de se colocar no lugar das trabalhadoras retratadas. Para ele, Lamas fotografou as suas companheiras de género, enquanto os outros fotógrafos – profissionais e amadores -, homens, captaram imagens de modelos. Como jornalista fazendo um trabalho documental de registo e denúncia, através de textos e imagens, Maria Lamas atuou como mediadora ao retratar uma grande parcela da sociedade feminina portuguesa. No livro e exposição Au Féminin: Womem Photographing Women 1849 – 2009, Jorge Calado comparou o trabalho de Lamas ao Farm Security Administration (FSA), ocorrido nos Estados Unidos da América no início dos anos 1930 do século passado (2009, p.79). Em linhas gerais, este projeto teve o objetivo de promover o desenvolvimento de áreas agrícolas, orientar os agricultores, estudar e propor soluções para os problemas das zonas rurais. Este trabalho foi intensamente documentado por registos fotográficos e encontra-se disponível através do site da Biblioteca do Congresso americano52. Como nas fotos da FSA, existe uma confiança óbvia entre o fotógrafo e o fotografado. Além disso, como era prática comum com a FSA, cada foto vem com uma legenda explicativa detalhada. As mulheres não são individualizadas pelo nome, mas sim colocadas em contextos antropológicos, econômicos e sociais mais amplos [tradução nossa] (Calado, 2009, p.83). A prática do registo fotográfico pode ser acompanhada da necessidade que a autora tinha em provar/denunciar/registar/comunicar a ineficiência de atuação do governo português em relação às mulheres, aliando texto e imagem, tornando o seu trabalho um documento único. A fotografia associada à noção de documento (ideia de

52 Disponível em https://www.loc.gov/photos/?q=farm+security+administration

67 exclusividade), serve para testemunhar uma realidade para em seguida, num futuro, recordar a existência dessa mesma realidade (Bastos, 2014, p.136-137). Tanto a escrita quanto as imagens atuaram no sentido de relatar, compor, registar, revelar e ilustrar narrativas. Para o historiador francês, Jacques Le Goff (1990), o documento não é algo que permanece no passado, mas sim um produto fabricado pela sociedade e somente a análise crítica do documento enquanto monumento é que permite a memória coletiva recuperá-lo. Para o historiador, o monumento é tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar a recordação, é um legado da memória coletiva. “No entanto, tanto a fotografia como os relatos dela provenientes compõem imagens- monumentos que selecionam o que deve ser lembrado” (Mauad, 2008, p.62). Neste sentido, a fotografia passa a ser apresentada como uma mensagem elaborada através do tempo, como testemunho direto e indireto do passado, ou seja, como documento, como indício do passado possíveis de serem interpretados no presente. O historiador inglês, Peter Burke (2016, p.31-32), utiliza o termo indícios para fazer referência “a manuscritos, livros impressos, prédios, mobiliário, paisagem (como modificada pela exploração humana), bem como a muitos tipos diferentes de imagens: pinturas, estátuas, gravuras fotografias”. Desta forma, a fotografia pode ser considerada como símbolo/marca de uma materialidade passada, na qual objetos, pessoas, lugares informam determinados aspetos, como condições de vida, trajes, infra-estrutura rural ou urbana, condições de trabalho, ou seja, “aquilo que, no passado, a sociedade estabeleceu como a única imagem a ser perenizada para o futuro. Sem esquecer jamais que todo documento é monumento, se a fotografia informa, ela também conforma uma determinada visão de mundo” (Jacques Le Goff, citado por Ana Maria Maud, 2008, p.37). Algumas fotografias53, feitas por Maria Lamas, foram escolhidas com a finalidade de mostrar, parcialmente, o que a autora registou ao longo do seu trabalho jornalístico, juntamente com as respetivas legendas. Estas estão destacas do corpo do texto, a fim

53 Conferir mais fotografias de autoria de Maria Lamas no Apêndice 2.

68 de comentar as imagens. Este conjunto texto-imagem-legenda, na obra de Maria Lamas, contribuiu para retratar as trabalhadoras portuguesas do final dos anos de 1940.

Figura 1 - Camponesa Minhota

"Tipo de camponesa minhota, em pleno vigor. O marido é banquista, anda na pesca do bacalhau. Ela cultiva a terra e trabalha, infatigavelmente, para a prosperidade do casal, que pode considerar-se remediado. Muito nova ainda, tem uma expressão decidida e calma. Como todas as mulheres do Minho, quando o marido anda longe, veste-se de preto. É mãe de cinco filhos". Fonte: Lamas M. , 2002, p. 8.

69 Figura 2 - Mulheres e jovens da Costa Nova

“Mulheres e jovens da Costa Nova. Uma é viúva e tem a seu cargo cinco filhos ainda pequenos. O marido ficou nos bancos da Terra Nova e ela está agora sozinha na tremenda luta pelo pão de cada dia. As raparigas sabem que esse pode ser também o seu destino, pois raras são aquelas que casam fora do seu meio. Tal expectativa, porém, torna mais ardente o seu sonho, e preferem, apesar de todos os riscos, casar com um pescador. Mulher de pescador é também aquela que está à esquerda, aconchegando a si a cabeça do filhinho”. Fonte: Lamas M. , 2002, p. 338.

70 Figura 3 - Mulheres trabalhando no transporte de carvão

"Por esta fotografia avalia-se melhor a violência do serviço de transporte das vagonetas carregadas de carvão. Quando a vagoneta chega ao fim dos 'rails' é preciso impulsioná-las, de forma a executar o movimento que permitia lançar o seu conteúdo nas 'tolvas'. Este esforço repete-se dezenas de vezes por dia, sempre igual, sempre esmagador. Causa espanto a resistência das mulheres que o realizam, sem qualquer ajuda, unicamente à custa dos seus músculos retesados e doloridos". Fonte: Lamas M. , 2002, p. 375.

71 Figura 4 - Mulheres que trabalhavam no transporte de cargas diversas

” No Minho, mesmo nas vilas e cidades, é vulgar as mulheres transportarem, em pequenas carroças, cargas de todas a espécie. Nalgumas terras o transporte das malas do correio, entre a gare do caminho de ferro e a estação do Correio é feito por mulheres pelo mesmo processo”. Fonte: Lamas M. , 2002, p. 387.

72 Figura 5 - Jovem tricana de Aveiro

“Actualmente, a tricana de Aveiro veste-se assim: blusa branca, saia e xaile preto. Em cabelo, bem calçada, tem uma graciosidade especial. É, quase sempre, costureira ou bordadora. Filha de operários, aspira, em geral, a instalar-se, pelo casamento, num meio superior aquele em que nasceu, passando a viver recolhida em casa, pois considera isso uma regalia de ‘mulher estimada’”. Fonte: Lamas M. , 2002, p. 411.

73 Conclusão ou Considerações Finais

Este trabalho teve a intenção de analisar a obra As Mulheres do Meu País, escrita pela jornalista e escritora portuguesa Maria Lamas entre os anos de 1948 e 1950. Obra que foi produzida com o objetivo de mostrar quem eram as mulheres portuguesas, quais eram suas ocupações e modos de vida. Partindo da questão “Como as mulheres portuguesas foram representadas por Maria Lamas na obra As Mulheres do Meu País?”, foi feita inicialmente uma análise de quem era a autora, quais foram os percursos que a conduziram até a pesquisa e escrita desta obra. Entender quem foi a autora, mulher, mãe, jornalista e intelectual e em qual momento histórico ela estava inserida – Estado Novo (1933-1974) -, foram essenciais para compreender o olhar pelo qual foi direcionado às mulheres portuguesas retratadas em As Mulheres do Meu País. Maria Lamas foi uma jornalista e escritora atuante no meio intelectual e também no meio político. Publicou inúmeros livros e também participou de instituições que preconizavam o ideal de melhoria das condições de vida – social, política e trabalhista – das mulheres portuguesas. A autora realizou um trabalho monumental de registo sobre as condições de vida e de trabalho das mulheres portuguesas percorrendo Portugal de Norte a Sul, com pesquisa in loco, para a elaboração dos fascículos As Mulheres do Meu País. Este trabalho foi, segundo palavras de Maria Lamas (Lamas M. , 2002, p. 164), “documentário, colhido em observação directa, atenta, mas rápida, da mulher e da sua vida através de toda a terra portuguesa”. A jornalista mostrou, através de sua escrita e imagens, o que ela própria não conhecia e que a surpreende. Vinda de outro meio social, apesar de ser jornalista, não tinha grande contacto comas realidades nacionais. Fixou no texto as mulheres, as mães, as esposas e as trabalhadoras em suas mais variadas condições de vida. Lembrando que a história tradicional consolidou-se essencialmente nas perspectivas masculinas, como se o feminino estivesse ausente (silenciado) desta narrativa. Ao analisar as interpretações da historiografia, estes silêncios não apenas assimilaram a narrativa oficial como conservaram a condição secundária feminina. Desta maneira, escrever a História das mulheres ou escrevê-la a partir de uma visão feminina é reconhecer a sua presença,

74 legitimar a sua participação e compreendê-la no todo universal da qual pertencem (Inverno, 2013, p. 119). A relevância e importância do trabalho de Lamas consiste em dar visibilidade a estas mulheres ao registá-las, ao contar a sua interpretação dassuas histórias, que quis ouvir, das dores e alegrias em que deparou, dos seus labores, seja em escrita ou imagens. A autora mostrou que as mulheres não eram passivas nem submissas, nem essencialmente reclusas em seus lares. Elas estavam presentes nos campos e lavouras, nas cidades, nas fábricas e indústrias, nas escolas e nas universidades, nos espaços que eram condicionados exclusivamente aos homens. Elas estavam presentes, apenas não eram vistas. Não ficou, contudo, claro, na presente pesquisa, se a jornalista estabeleceu, alguma vez, contactos com um género de trabalho de campo antropológico que já existia, nem se Lamas fez essa pesquisa baseada nos elementos que a sua vida profissional lhe permitiu apurar. Se as motivações podem ter sido políticas, dado o seu percurso, exisitia um voluntarismo inspirador. Nas palavras de dedicatória aos filhos e “a todas as mulheres portuguesas” existe uma ideia de “herança espiritual”, em legar um mundo mais harmonioso (Lamas M. , 2002, p. XI). Não parece ter havido uma militância subjacente, que justificará, talvez, o facto de não ter sido contemplada na obra Feminae Dicionário Contemporâneo (Esteves & Castro, 2013) no âmbito dos Estudos sobre as Mulheres. Por outro lado, ficou claro, através do esboço, tentativa de cartografar as menções às tipologias de mulheres, que a cobertura espacial foi relativamente restrita, desfiando- nos, a uma leitura mais micro do seu texto. Lamentavelmente, não se teve acesso, desconhece-se mesmo, os documentos e planos, apontamentos, que sustentam esses “roteiros”. Eventualmente, a documentação existente na posse de familiares ou no fundo da Biblioteca Nacional, possa vir a trazer mais informação, completando esta visão mais próxima e que venha a permitir um cruzamento com outros olhares, antropológicos e literários das Mulheres de Portugal. Trabalho que não se encerra no presente texto, mas abre a possibilidade para estudos e discussões acerca dos trabalhos produzidos por Lamas, seja na literatura, seja no meio jornalístico; descobra-se nas possíveis discussões acerca da produção fotográfica feita

75 pela jornalista; na atuação de Lamas nas mais diversas instituições de apoio e dignificação mulher; ou seja, é apenas um começo de estudo que poderá ter inúmeras vertentes – jornalística, literária, sociológica, antropológica, artística – e que pretendeu, ao se fazer uma (re)leitura da obra, honrar tanto o esforço de Maria Lamas ao dar “vidas” as mulheres portuguesas, quanto ver através do olhar curioso da jornalista estas mulheres.

76 Fontes de Informação

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89 Anexos

90 Anexo 1

Tabela 2 - Listagem de fotógrafos que tiveram suas imagens publicadas na obra As Mulheres do Meu País, de Maria Lamas Páginas para localização das Informações Fotógrafos imagens complementares 8, 10, 51, 53, 55, 59, 61, 63, 66, 68, 78, 79, 80, 85, 86, 89, 98, 114, 119, 120, 131, 140, 141, 144, 148, 151, 152, 153, 154, 155, 157, 158, 159, 161, 162, 163, 164, 166, 167, 169, 170, 172, 173, 174, 176, 179, 180, 181, 182, 183, 184, 185, 187, 188, 189, 190, 194, 195, 197, 204, 207, Maria Lamas 209, 211, 212, 213, 215, 216, 217, 238, 239, 240, 245, 249, 250, 251, 252, 253, 254, 258, 259, 265, 266, 268, 269, 271, 272, 274, 290, 291, 292, 334, 337, 338, 339, 340, 341, 342, 344, 345, 346, 350, 353, 356, 367, 372, 373, 375, 376, 377, 387, 411, 415, 422, 455

Disponível em: https://chavesantig Alberto Alves - Chaves 47, 109, 110, 117 a.blogs.sapo.pt/alb erto-alves-288681 Fotografia Alvão (empresa teve dois grandes mestres- 9, 44, 45, 49, 53, 81, 82, 83, 84, 92, fotógrafos, Domingos 96, (121, 122, 123, 124, 125, 126, Disponível em: Alvão e Álvaro Cardoso 127, 128, 147 - imagens cedidas https://digitarq.cpf. Azevedo) / Fundo pelo Instituto do Vinho do Porto, arquivos.pt/details? Fotografia Alvão, FDA. 132, 138, 139, 142, 143, 145, 150, id=329 Entidade detentora Centro 330, 386, 389, 390 Português de Fotografia Disponível em: http://www.scielo. mec.pt/scielo.php?s António Santos de Almeida 421 cript=sci_arttext&pi Júnior d=S2183- 3176201700010001 1 Armindo de Matos 206

91 Disponível em: Artur Macedo [Artur http://arquivomuni Bourdain de Macedo] cipal.cm- (1917-1997) / Fundo 34, 36, 37 - Imagens do filme Serra lisboa.pt/pt/acervo/ Fotografia Artur Bourdain Brava arquivos- de Macedo. Entidade particulares/artur- detentora Arquivo bourdain-de- Municipal de Lisboa macedo/ Artur Pastor [Artur Arsénio Disponível em: Bento Pastor] (1922-1999) http://arquivomuni / Fundo Fotografia Artur 242, 243, 246, 247, 248, 255, 256, cipal.cm- Arsénio Bento Pastor. 260, 261, 262, 263, 267, 273, 280, lisboa.pt/pt/acervo/ Entidade detentora 398, 399, 400, 408, 413, 418, 456 arquivos- Arquivo Municipal de particulares/artur- Lisboa pastor/ 11, 50, 52, 56, 57,65, 71, 77, 85, Aureliano Carneiro N/A 416 A. Carneiro [Alberto Carneiro] (1937-2017) / Espólio fotográfico. Disponível em: Entidade detentora Museu 39, 149, 328, 329, 331, 333, 336 DGPC - Alberto Nacional de Arte Carneiro Contemporânea do Chiado (MNAC) A.de Castro 33 N/A A.Fidalgo 48 N/A A.Gigante 15, 69, 70, 76, 104 N/A A.Lyon de Castro [Adelino Lyon de Castro] (1910- 1953) / Espólio fotográfico Disponível em: 353, 358, 360, 392, 393, 395, 410, doado para o Museu DGPC - Adelino 412, 414, 420 Nacional de Arte Lyon de Castro Contemporânea do Chiado (MNAC) A.Laborinho [Álvaro Disponível em: Laborinho] (1879-1970) / 289, 347,348, 349, 351, 457 DGPC - Alvaro Coleção fotográfica Museu Laborinho Dr. Joaquim Manso A. L. Quintas 299 N/A 12, 25, 46, 64, 73, 85, 88, 91, 93, 94, 95, 99, 100, 101, 105, 106, 108, 111, 112, 115, 133 135, 137, A.Silva N/A 139. 145, 160, 171, 278, 365, 368, 378, 379, 385, 397, 411, 424, 453 - Arquivo do Primeiro de Janeiro

92 A.Sousa 11 N/A A.de Sousa 16, 17, 21, 22, 42, 72, 454 N/A Disponível em: Armando Leça http://bibliografia.b [pseudônimo de Armando nportugal.gov.pt/bn Lopes] (1891-1977) / 400, 413, 415, 452 p/bnp.exe/q?mfn=1 Espolio Armando Leça. 59846&qf_CDU==7 Biblioteca Nacional de 8LECA%2C%20ARM Portugal (BNP) ANDO A.Teixeira 220 N/A Capitão Barreto da Cruz 382, 383 N/A Comissão de Turismo de 221 N/A Aveiro Comissão de Turismo de 451 N/A Tomar D. A. Freitas 228, 233 N/A 227, 229, 230, 231, 232, 234, 235, D. Espanca N/A 236, 237, 240, 241, 244 Dr. José Rebelo Cardoso 169, 201, 366, 385 N/A Eduardo Cerqueira (1909- 384 N/A 1983) F. Bivar 13, 16, 26, 38, 77 N/A F. Rocha 20, 24, 27, 35, 43 N/A Disponível em: https://fasciniodafo 419, 429, 430, 431, 436, 458, 459, Firmino Santos tografia.wordpress. 461, 464, 465, 468, 470, 471 com/tag/firmino- santos/ Foto Arte – Amarante 118, 133, 168 N/A 129, 134, 146, 156, 165, 166, 167, Foto Beleza 175, 178, 196, 224, 236, 298, 332, N/A 448 Foto de Campeão 294 N/A Foto de Madeira 467 N/A Foto reproduzida de Monografia de Santo 295 N/A António do Cousso, de Alberto Garcia Disponível em: http://ceramicadea Gervásio Aleluia 380, 381 veiro.blogspot.com/ p/fabrica-aleluia- aveiro.html

93 Granja 281, 282, 284, N/A 293, 294, (295, 296, 297 e 298 – J. Palha imagens do Arquivo de Vida N/A Ribatejana) João Saraiva de Carvalho 177, 198 N/A Joel Mira 289, 356, 454 N/A José A. de Castro 41 N/A Disponível em: http://agvl.ccems.p t/index.php?option José Loureiro Botas 335, 340, 343, 345, 352, 359, 360 =com_content&vie w=article&id=154&I temid=379 Disponível em: Júlio Goes (1909-1989) 294, 354, 355, 357, 361 DGPC - Júlio Goes

Júlio Vidal 186, 191, 192, 200, 205 N/A

199, 201, 218 - Imagens cedidas Manuel Abreu pela Comissão de Turismo de N/A Aveiro

Mário de Almeida 193, 202, 449, 450 N/A Disponível em: Mário Augusto Barbosa http://adfar.dglab.g 257, 259, 264, 268, 270, 275, 276 Lyster Franco ov.pt/mario-lyster- franco-1902-1984/ M. Carneiro 33, 40 N/A M. Geraldes da Silva 300 N/A M. Trindade Mendonça 310, 312, 314, 315, 317 N/A Disponível em: https://arquivo- Perestrellos Photographos 301, 302, 303, 304, 306, 307, 308 abm.madeira.gov.pt /details?id=72115 R. Amaral 25 N/A T. David 19 N/A Disponível em: http://www.cultura Toste – Jacinto Oscar Dias 309, 311, 313, 315, 316, 318, 319, cores.azores.gov.pt Rego 323, 324 /ea/pesquisa/defau lt.aspx?id=1865

94 Disponível em: 222, 225, 277, 279, 283, 285, 286, https://www.histori Vasco Serra Ribeiro 287, 288, 417, 423, 428, 432, 433, a.uff.br/stricto/td/1 434, 435 523.pdf 14, 28, 29, 30, 32, 54, 58, 60, 62, 74, 75, 90, 97, 102, 103, 104, 106, 136, 208, 219, 320, 321, 364, 368, Fotos sem autoria nas 370, 371, 374, 388, 389, 394, 396, N/A legendas 401, 402, 403, 404, 405, 406, 407, 408,409, 416, 420, 425, 437, 438, 439, 440, 441, 442, 443, 444, 445, 452, 460, 462, 463, 466, 469 Fonte: elaboração própria

95 Anexo 2

Tabela 3 - Extratextos - listagem de obras/artistas que tiveram suas imagens publicadas na obra As Mulheres do Meu País, de Maria Lamas Páginas para localização Informações Obras / Artistas das imagens complementares Fotografia de Arnaldo Soares, 1993 - DGPC/Arquivo de "Ceifeiras”, século XIX Documentação Fotográfica [1893], de António 16 e 17 - Museu Nacional Soares Carvalho da Silva Porto dos Reis (1850-1893)

Colheita - Ceifeiras António Carvalho da Silva Porto Fotografia de Luís Filipe Oliveira, 2000 / Coleção Agostinho Fernandes

José Malhoa - MNAC Estudo para o quadro “Vou http://www.matrizpix.dgpc ser mãe”, de José Malhoa 32 e 33 .pt/MatrizPix/Fotografias/F (1855-1933) otografiasConsultar.aspx?T IPOPESQ=2&NUMPAG=17 ®PAG=50&CRITERIO=R

ia+de+Aveiro&IDFOTO=623 "Jovem Camponesa do Fotografia de Estúdio Norte”, desenho de José Novais, 1978 / Coleção Júlio Sousa Pinto (1856- MNAC

1939) / Corresponde à Estúdio Horácio Novais obra de Alberto de Sousa Mulheres na festa da Costa 48 e 49

"Mulheres na festa da Nova Costa Nova" - fotografada por Henrique Ramos a José Júlio de Sousa Pinto - preto e branco na edição Museu Calouste

original Gulbenkian Digitalização a partir do livro original / Coleção “Mulher do Campo”, óleo MNAC

de Luís Varela Aldemira 64 e 65 Luís Varela Aldemira (1895 - 1975) Luís Varela Aldemira - Museu Calouste

Gulbenkian

96 Digitalização a partir do “Rapariga Pintando livro original Barros”, desenho de Júlio 80 e 81 Julio Pomar - Museu Pomar (1926-2018)

Calouste Gulbenkian “A Mulher dos Alforges” (Miranda do Douro - Trás- Digitalização a partir do 96 e 97 os-Montes), desenho do livro original Dr. Adolfo Faria de Castro “Camponesa dos arredores de Leiria”, aquarela de Digitalização a partir do 112 e 113 Maria Adelaide Macedo livro original Correia de Almeida “Tia Albina do Eiró” (Douro Digitalização a partir do Litoral), desenho de Dr. 128 e 129 livro original Adolfo Faria de Castro Digitalização a partir do livro original / Fundação Abel Salazar “Carrejonas”, carvão de

144 e 145 Casa Comum - Abel Salazar Abel Salazar (1889-1946)

Abel Salazar - MNAC Abel Salazar - Museu

Calouste Gulbenkian “Mulher da Praia de Digitalização a partir do Vieira”, óleo de Domingos 160 e 161 livro original / Coleção Dr. Maria Xavier Rebelo (1891- Armando Ribeiro Cardoso 1975) “Camponesa da região de Digitalização a partir do Gouveia”, desenho de 176 e 177 livro original Fortunato dos Anjos Fotografia de José Pessoa, “Mulheres da região da Ria 1993 / Henrique Ramos / de Aveiro”, aguarela de 192 e 193 Museu Regional de Aveiro Alberto Augusto de Sousa Mulheres na festa da Costa (1885-1961)

Nova Fotografia de Carlos Monteiro, 1994 - DGPC/Arquivo de “Esperando os Barcos”, Documentação Fotográfica século XIX [1892], João 208 e 209 Estudo para Esperando os Marques de Oliveira (1853-

Barcos 1927) João Marques de Oliveira - Museu Calouste

Gulbenkian

97 “A Tia Benta” da Praia de Fotografia de Luís Filipe Vieira, pastel de Domingos 224 e 225 Oliveira, 2002 / Coleção de Maria Xavier Rebelo (1891- José Loureiro Botas 1975) Digitalização a partir do livro original / Coleção Guida Keil “Cabeça de Alentejana”, Casa Museu Manuel desenho de Manuel Ribeiro 240 e 241

Ribeiro de Paiva de Paiva (1907-1957) Manuel Ribeiro de Paiva - Museu Calouste

Gulbenkian Este extratexto é Fragmento do quadro fragmento da obra "A “Alentejano”, de Severo 256 e 257 Jornada" de Portela Júnior Portela Junior (1898-1985) / Coleção MNAC Digitalização a partir do “Tricana de Coimbra”, 272 e 273 livro original / Coleção Dr. desenho de Mário Soares Octaviano Sá “Camponesa de Malhadas Degracias - Soure”, Digitalização a partir do 288 e 289 desenho de [Maria] livro original Eugenia Coelho "Camponesa Algarvia”, Digitalização a partir do aquarela de Roberto Nobre 304 e 305 livro original (1903-1969) “Tricanas de Aveiro (Trajos Fotografia de José Pessoa, antigos)”, aguarela de 1993 - DGPC/Arquivo de Alberto Augusto de Sousa Documentação Fotográfica (1885-1961) / Composição - Museu Regional de Aveiro

das aguarelas "Tricana de 320 e 321 Tricana de Aveiro 1890 Aveiro 1890", século XX [1937] com a "Tricanas

Tricanas 1910 e 1940 1910 e 1940", século XX [1937] “Mulher de Nazaré”, Fotografia de Luís Filipe desenho de Eduardo Malta 336 e 337 Oliveira, 2000 / Coleção (1900-1967) Agostinho Fernandes Digitalização a partir do livro original / Coleção “Mulher de Nazaré”, óleo MNAC 352 e 353 de Abel Manta (1888-1982) Abel Manta - MNAC Museu Municipal de Arte

Moderna Abel Manta

98 Fotografia de Arnaldo Soares, 1993 - “Aguadeira de Coimbra”, DGPC/Arquivo de século XIX [c.1879], óleo de 368 e 369 Documentação Fotográfica Miguel Ângelo Lupi (1826- - Coleção MNAC 1883)

Aguadeira de Coimbra

Miguel Ângelo Lupi - MNAC Digitalização a partir do “Mulher do Povo”, livro original / Coleção desenho de Guilherme 384 e 385 Agostinho Fernandes Filipe (1897-1971) Guilherme Filipe - Museu

Dr. Joaquim Manso “Ceifeiras a hora do Sol”, Digitalização a partir do desenho de Manuel Ribeiro 400 e 401 livro original de Paiva (1907-1957) “Tricana de Aveiro”, óleo Digitalização a partir do de Lauro da Silva Corado 416 e 417 livro original / Coleção Dr. (1908-1977) Armando Ribeiro Cardoso “Jovem camponesa de Fermentelos, arredores de Digitalizacao a partir do 432 e 433 Aveiro”, desenho de livro original Fernando Carlos Digitalização a partir do “Bordadora”, desenho de livro original Maria Clementina Carneiro 448 e 449 de Moura (1898-1992) Museu Municipal de Arte

Moderna Abel Manta Digitalização a partir do “Maternidade”, aquarela livro original / Coleção de Estrela da Liberdade 464 e 465 Agostinho Fernandes Alves Faria Estrela Faria - Museu

Calouste Gulbenkian Fonte: elaboração própria

Observação 1: As obras referenciadas no fac-símile como pertencendo ao Museu Nacional de Arte Contemporânea pertencem ao Museu do Chiado

Observação 2: A informação "Digitalização a partir do livro original", foi retirada da obra As Mulheres do Meu País, "Créditos Fotográficos e Reprodução Fac-Símile

99 Anexo 3 Mapas das regiões e cidades visitadas por Maria Lamas durante a pesquisa para a escrita de As Mulheres do Meu País.

Figura 6 - A Camponesa

Fonte: elaboração própria

100 Figura 7 - Ares do Litoral

Fonte: elaboração própria

101 Figura 8 - Terras do Minho Adentro

Fonte: elaboração própria

102 Figura 9 - Para lá do Marão

Fonte: elaboração própria

103 Figura 10 - Nas Ribas do Alto do Douro

Fonte: elaboração própria

104 Figura 11 - No Douro Litoral

Fonte: elaboração própria

105 Figura 12 - Através das Beiras

Fonte: elaboração própria

106 Figura 13 - Alentejo

Fonte: elaboração própria

107 Figura 14 - Na Região Algarvia

Fonte: elaboração própria

108 Figura 15 - Estremadura

Fonte: elaboração própria

109 Figura 16 - Ribatejo

Fonte: elaboração própria

110 Figura 17 - No Arquipélago da Madeira

No Arquipélago da Madeira

Fonte: elaboração própria

111 Figura 18 - Nas Ilhas dos Açores

Fonte: elaboração própria

112 Figura 19 - A Mulher do Mar

Fonte: elaboração própria

113

Fonte: elaboração própria

114 Figura 20 - A Operária

Fonte: elaboração própria

115 Apêndices

116 Apêndice 1

Figura 21 - Capa fascículo de As Mulheres do Meu País

Fonte: As Mulheres do Meu País (2ª ed.), 2002

117 Figura 22 - Contracapa do fascículo As Mulheres do Meu País

Fonte: As Mulheres do Meu País (2ª ed.), 2002

118

119

Apêndice 2 Seleçãode fotografias feitas por Maria Lamas durante a pesquisa para As Mulheres do Meu País.

Figura 23 - Mulheres camponesas de Afife, freguesia portuguesa de Viana do Castelo

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 53

120 Figura 24 - Criança de Castelo do Neiva conduzindo bois para o pasto

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 63

Figura 25 - Vendedeiras do mercado do Bolhão, no Porto

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 140

121 Figura 26 - Leiteiras de Pedras Rubras, na estação da Trindade, Porto

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 144

Figura 27 - Raparigas de Entre-os-Rios em dia de festa

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 148

122 Figura 28 - Camponesa de Covão da Ponte, região de Manteigas, passando pela peneira o centeio

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 151

Figura 29 - Camponesa e criança, da região de Folgosinho, Concelho de Gouveia

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 153

123 Figura 30 - Avó e netos da região serrana de Beira Alta

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 158

Figura 31 - Camponesas que trabalhavam nas “marinhas de arroz”, na região de Aveiro

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 181

124 Figura 32 - - Camponesa da região da serra da Estrela e seu caso com balcão sob o qual se recolhiam as galinhas ou porcos

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 195

Figura 33 - Mulheres de Gafanha, freguesia do concelho de Ílhavo, trabalhando na seca do bacalhau

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 209

125 Figura 34 - Mulheres de Gafanha, freguesia do concelho de Ílhavo, que trabalhavam na seca do bacalhau

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 213

Figura 35 - Mulher trabalhadora na seca do bacalhau

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 215

126 Figura 36 - Camponesas beiroas que durante os meses de outubro a junho trabalhavam nas quintas e herdades alentejanas

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 245

Figura 37 - Ceifeiras na colheita de arroz, na Ribeira de Marateca

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 249

127 Figura 38 - Jovens aldeas de Azinhal, freguesia do concelho Castro Marim, fazendo rendas de bilros

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 269

Figura 39 - Caseira algarvia. Ao fundo mourisco que abastece de água as regas

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 272

128 Figura 40 - Camponesa, da Foz de Arelho, montada no seu burrico

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 290

Figura 41 - Mulheres no areal de Furadouro separando os peixes que eram despejados na praia

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 344

129 Figura 42 - Jovens trabalhadoras das minas de S.Pedro da Cova

Fonte: Lamas M. , 2002, p. 372

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