Ferreira De Castro E Os Limites Da Europa: Sobre Pequenos Mundos E Velhas Civilizações (1937) E a Volta Ao Mundo (1944)

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Ferreira De Castro E Os Limites Da Europa: Sobre Pequenos Mundos E Velhas Civilizações (1937) E a Volta Ao Mundo (1944) Ferreira de Castro e os Limites da Europa: sobre Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937) e A Volta ao Mundo (1944) Diana da Silva Alves Guimarães Abril de 2018 Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Estudos Portugueses realizada sob a orientação científica do Prof. Dr. Gustavo Rubim Aos meus pais, Marizete da Silva Alves e Francisco Deusdedit Barbosa Alves AGRADECIMENTOS Agradeço ao orientador Prof. Dr. Gustavo Rubim, pelo incentivo. Ao diretor do Museu Ferreira de Castro, Ricardo António Alves, pelo apoio na biblioteca do museu. Ao Rodrigo Dias, pelo companheirismo, força e confiança em todos os momentos. Aos meus pais, irmãs e sobrinha, pela fé. A Isabela Ferreira, pelos bons momentos de estudo. Ao Luís Filipe Maçarico, pelo auxílio no início da caminhada. A todos os pesquisadores que me influenciaram com os seus trabalhos. Nota: Nesta pesquisa, utilizarei as abreviações PMVC para o livro Pequenos Mundos e Velhas Civilizações e VM para a obra A Volta ao Mundo. Ferreira de Castro e os Limites da Europa: sobre Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937) e A Volta ao Mundo (1944) Dissertação Diana da Silva Alves Guimarães RESUMO PALAVRAS-CHAVE: viagem, século XX, crónica, multiculturalismo Neste trabalho pretende-se refletir sobre o viajante que foi o autor José Maria Ferreira de Castro (1898-1974) nas crónicas dos livros: Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937-1938) e A Volta ao Mundo (1940-1944). Ferreira de Castro como jornalista realizou um périplo pela Europa, Oriente e América, no século XX e anotou as impressões dos locais que visitara, no contexto histórico do fim da Primeira Guerra Mundial e do início da Segunda Guerra Mundial. O escritor conheceu ilhas, países pouco explorados na época, outros que foram o berço das civilizações e locais multiculturais. Tenciona-se analisar de que forma Castro conheceu uma outra Europa se deslocando para fora dela; experimentando as misturas das culturas vistas em lugares remotos. E como este viajante com seu olhar humanista crítico e europeu interpreta o Outro a partir dos choques culturais. Ferreira de Castro and the limits of Europe: about Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937) and A Volta ao Mundo (1944) Dissertation Diana da Silva Alves Guimarães ABSTRACT Keywords: Travel, XX century, chronic, multiculturalism In this work it is intended to reflect on the traveler who was author José Maria Ferreira de Castro (1898-1974) in the Chronicles books: Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937-1938) and A Volta ao Mundo (1940-1944). Ferreira de Castro as a journalist held a tour for Europe, East and America in the XX century and noted impressions of the places he visited, in the historical context of the end of World War I and the beginning of the Second World War. The writer met Islands, little-explored countries at the time, others that were the birthplace of civilizations and multicultural sites. It is intended to analyze how Castro knew another Europe moving out of it; Experiencing the blends of cultures seen in remote places. And as this traveler with his critical humanist gaze interprets the other from the cultural clashes. ÍNDICE 1. Introdução ……………………………………………………………………………1 (Contato com o objeto de estudo, linhas de método e objetivos) 2. O viajante Ferreira de Castro e suas narrativas …………………………………..6 2.1. Pequenos Mundos e Velhas Civilizações …………………………………..12 2.2. A Volta ao Mundo …………………………………………………………………25 2.3. Apreciações críticas (em periódicos antigos e atuais) ……………………..39 2.4. Ferreira de Castro, o viandante……………………………………………..47 3. Discursos de viagem: Raul Brandão, As Ilhas Desconhecidas, Vitorino Nemésio, Corsário das Ilhas e Natália Correia, Descobri que era Europeia – Impressões duma Viagem à América …………………………………………………………..………....62 3.1. Paisagens ignotas: Castro e Brandão ………………………………………67 3.2. Os Corsários: Castro e Nemésio ……………………………………………72 3.3. A América: Castro e Natália ……………………………………………….80 4. Limites da Europa e fronteiras móveis ……………………………………………92 4.1. Contatos e misturas ……………………………………………………….104 4.1.1. Iraque – Mesopotâmia …………………………………………..104 4.1.2. Egito …………………………………………………………....109 4.1.3. Palestina ………………………………………………………..112 Considerações Finais …………………………………………………………………115 Bibliografia …………………………………………………………………………...118 1. Introdução A presente dissertação tem por epicentro a análise das duas obras do escritor e neste caso particular também jornalista Ferreira de Castro, Pequenos Mundos e Velhas Civilizações, 1937-1938, e A Volta ao Mundo, 1940 - 1944, produzidas num período dilacerado por guerras e poder totalitário, do século XX. As duas obras fazem parte da literatura de viagem em língua portuguesa, e nesse contexto, a sua leitura leva à descoberta de lugares incomuns, a conhecer geografias, costumes e diferenças através do olhar europeu do viajante Ferreira de Castro. A intenção deste trabalho é dar o devido relevo a essas duas obras e contribuir para novos estudos sobre o autor e sua visão humanista acerca dos povos e culturas apresentadas ao longo das narrativas. É um viajante que se embrenha no âmago dos povos visitados, das suas histórias de vida, dos seus métodos de trabalho, da sua pobreza, da sua exploração, da violência, dos seus medos e da postura dos próprios perante a morte, revelando a sua perspetiva de antropólogo. Nessas viagens, o autor d'A Selva mostra o quanto é irrelevante a fronteira marcada geograficamente, pois encontra fragmentos da influência europeia em alguns lugares distantes e inusitados. Isso levanta questões sobre quais seriam os limites reais da Europa e os limites que o viajante tem de ultrapassar a fim de conhecer os povos e conhecer-se a si próprio. O interesse inicial pelo autor surgiu da necessidade de conhecer autores da literatura portuguesa que tiveram alguma ligação com o Brasil, no meu país de origem. Como estrangeiro, Ferreira de Castro soube o quanto é importante conhecer a cultura do País que o acolhe. A Selva foi a minha primeira obra de contato, em busca de trocas de influências entre as culturas brasileira e portuguesa. A partir desse primeiro encontro, fomentou-se a pesquisa de nível académico sobre Ferreira de Castro e o conhecimento das suas obras. Os primeiros obstáculos foram a dificuldade de acesso a algumas obras por falta de reedição, superados com as leituras presenciais no Museu Ferreira de Castro e empréstimos de algumas obras da biblioteca da Universidade Nova de Lisboa. 1 Em busca de uma visão geral sobre o autor, recolhi dados na internet sobre as teses e dissertações com os temas mais investigados. Realizei visitas ao Museu Ferreira de Castro e participações como ouvinte de eventos que comemoravam os cem anos da vida literária de Ferreira de Castro, em 2016. A outra dificuldade encontrada foi o elevado nível de informação que há sobre o escritor Ferreira de Castro e o tempo tornou-se escasso para um envolvimento mais profundo, que é necessário com autores que têm uma vida intelectual rica e que realizaram a autêntica proeza de dar a volta ao mundo nos finais década de trinta do século XX. A partir da primeira pesquisa de temas sobre o autor de Eternidade, averiguou-se que há pouca publicação científica sobre os dois livros de crônicas de viagens. As crônicas que estão em Pequenos Mundos e Velhas Civilizações e A Volta ao Mundo são importantes registos culturais da conturbada época, entre o fim da Primeira Guerra Mundial (1914 -1918) e o início da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), além do período da censura praticada pela ditadura Salazarista (1926 – 1974). O desenvolvimento das questões que o trabalho irá enfrentar, foi feito ao longo do período letivo do mestrado, sendo acrescentadas, mais tarde, novas perspetivas. No primeiro instante da pesquisa destacaram-se três problemas a enfrentar sobre as duas obras: 1. Que tipo de imagem Ferreira de Castro absorve e constrói dos povos singulares que ele visitou através da experiência de viagem? 2. Que discurso narrativo é utilizado pelo autor para compreender as cidades visitadas numa época de autoritarismos? 3. Como o narrador irá se projetar na observação dos espaços visitados para refletir a imagem da Europa num contexto de guerra? A partir dessas primeiras observações sobre as duas obras, foi sugerido pelo orientador, um conjunto de leituras sobre a literatura de viagem e sobre três autores portugueses, com finalidade de possível comparação com as narrativas de Ferreira de Castro: Vitorino Nemésio, Natália Correia e Raul Brandão. Além disto sugeriram-se também leituras dos autores da área da antropologia como, James Clifford e Mary Douglas, e da área de estudos comparativos e do pós-colonialismo, Manuela Ribeiro Sanches. 2 Após as leituras das obras de Ferreira de Castro e feitas as reflexões junto ao orientador, surgiu um acréscimo de questões, que ficaram como o suporte da problemática principal do trabalho e necessitavam de ser respondidas. Foi verificado que o escritor, na sua itinerância da infância até a maturidade, era estimulado por sua curiosidade cultural a ultrapassar os limites do conhecimento, em busca de aprender sobre “o outro”. Desde muito jovem, Ferreira de Castro cultivou a qualidade de ser cosmopolita na sua mundividência, difundindo em suas obras o humanismo e certa esperança por uma humanidade melhorada. Levantaram-se três propostas centrais, a partir do segundo momento, a ser enfrentadas pelo trabalho, além das que foram refletidas durante o início do estudo: 1. Quais são os limites reais à curiosidade cultural e ao conhecimento que Ferreira de Castro tenta ultrapassar, continuamente, na sua busca de aprendizagem sobre a humanidade e sobre si próprio? 2. Quais são as fronteiras móveis da Europa que o autor encontra ao visitar novas culturas? E de que modo são expressas nos dois textos? 3. Que outra ou nova Europa o autor encontrou fora das fronteiras existentes? A pesquisa irá se debruçar, prioritariamente, sobre esses três problemas centrais, não excluindo os outros problemas discutidos na fase inicial do trabalho. Essas três propostas se baseiam nas seguintes hipóteses: 1.
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