Se Houve Escritor Que Exemplificasse Quanto a Literatura É Comunhão
Se houve escritor que exemplificasse quanto a literatura é comunhão entre os homens, desígnio transformador, apelo à justiça e nunca à intolerância, apelo ao convívio confiante e nunca ao sectarismo que escorre sangue, se houve escritor que mostrou quanto a libertação intelectual é indissolúvel da libertação social e por esta se bate, se houve, em suma, escritor ‘humanista’, esse foi Ferreira de Castro . Fernando Namora 90 4 A Lã e a Neve: testemunho de um intelectual em tempos sombrios Neste capítulo, nosso objetivo é mapear brevemente os principais acontecimentos da trajetória do escritor Ferreira de Castro em seu país de origem, após um período de quase nove anos no Brasil. Buscaremos compreender como se formou o intelectual engajado que se opôs constantemente ao Estado Novo português – regime que se consolidou a partir de 1933 e tentou legitimar-se pela aprovação de uma constituição por meio de um plebiscito fraudulento, no qual as abstenções, que chegaram próximo aos 50%, eram consideradas, por decreto do governo, como aprovações tácitas 1. O então Ministro das Finanças, desde 1928, Antônio de Oliveira Salazar, que ganhou prestígio por controlar as contas do país, conseguiu através da constituição, centralizar o poder em suas mãos, colocando-se acima dos outros poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), e conduzir o país para uma ditadura, que ficou sobre seu comando até 1968, depois sendo substituído por Marcelo Caetano até 1974. Nesse contexto, será investigada a dimensão política e social do romance A Lã e a Neve (1947), que foi escrito no auge do salazarismo. 4.1 Retorno a Portugal O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
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