Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Instituto de Biologia Programade Pós-Graduação em Ecologia

Estratégia reprodutiva de três espécies de () na bacia do Rio Unini (AM)

Bruno Barros Althoff

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências Biológicas (Ecologia).

Rio de Janeiro, RJ - Brasil Fevereiro de 2015

Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Instituto de Biologia Programa de Pós-Graduação em Ecologia

Bruno Barros Althoff

Estratégia reprodutiva de três espécies de Lebiasinidae (Characiformes) na bacia do Rio Unini (AM).

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências Biológicas (Ecologia).

Orientadora: Prof. Dra.Érica Pellegrini Caramaschi Laboratório de Ecologia de Peixes / Instituto de Biologia / Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Rio de Janeiro 2015

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Estratégia reprodutiva de três espécies de Lebiasinidae (Characiformes) na bacia do Rio Unini (AM).

Bruno Barros Althoff

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências Biológicas (Ecologia).

Banca Examinadora

Prof. Dra. Érica Pellegrini Caramaschi

(Orientadora – Presidente da Banca)

Programa de Pós-Graduação em Ecologia– UFRJ

Prof. Dra. Ana Cristina Petry

Programa de Pós-Graduação em Ecologia – UFRJ

Prof. Dra. Rosana Mazzoni Buchas

UERJ

Suplentes

Prof. Dr. Marcelo Vianna

Programa de Pós-Graduação em Ecologia – UFRJ

Prof. Dr. Marcelo Ribeiro de Britto

Museu Nacional do Rio de Janeiro

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Ficha Catalográfica

Althoff, Bruno Barros Estratégia reprodutiva de três espécies de Lebiasinidae (Characiformes) na bacia do Rio Unini (AM), UFRJ, 2015. i - xvi, 1 – 80, 80 p.; 44 figuras, 21 tabelas. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ecologia / Instituto de Biologia - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Palavras chave: 1 – reprodução, 2 – Amazônia, 3 – Rio Unini, 4 – , 5 – , 6 – nigrofasciata, 7 – Lebiasinidae.

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In memorian

Dedico este trabalho à pesquisadora

Rosemary Lowe-McConnell (1921-2014), pioneira e inspiração em estudos de peixes tropicais.

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“Prova, prova a pensare un po' diverso

niente da grandi dei fu fabbricato

ma il creato s'è creato da sé

cellule fibre energia e calore.”

Banco del Mutuo Soccorso – L’evoluzione

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Agradecimentos

Agradeço ao Programa de Pós Graduação em Ecologia (PPGE-UFRJ) e, à Marcinha, pelo suporte e auxílio essenciais para o desenvolvimento deste trabalho, e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa concedida.

Ao Ministério do Meio Ambiente pelo financiamento das pesquisas do subprojeto “Diagnóstico e Monitoramento da Biodiversidade Aquática da área subsidiária da RDS Amanã, AM”, dentro do escopo do Projeto Corredores Ecológicos (PCE/MMA/CAIXA ECONÔMICA FEDERAL).

Além disso, esses dois anos de estudos e trabalhos, recebi ajuda e convivi com pessoas que foram essenciais para as etapas desse trabalho.

Primeiramente, tenho a agradecer à Prof. Érica Caramaschi, por ser mais que uma orientadora neste mestrado, ajudando em tudo que foi necessário e dando uma atenção ainda maior nessa última fase de redação da dissertação, ajudando com suas sugestões e críticas, além das inúmeras revisões que tornaram este trabalho mais robusto e refinado ao longo do tempo.

Agradeço ao Kiko (Henrique Lazzarotto de Almeida) por todos os ensinamentos, desde a época de IC até atualmente. Por ter compartilhado a tortura de aprender a dissecar e identificar as gônadas, que acabou virando uma atividade prazerosa e terapêutica. Pelas diversas revisões em projetos e, principalmente, nessa dissertação. Pelas discussões sobre o caminho do trabalho e esclarecimento de eventuais dúvidas conceituais. Ou seja, por todo o tempo que dedicou à minha formação. Valeu, Kiko!

Ao Prof. Francisco Esteves e Profa. Ana Petry, por fazerem parte do comitê de acompanhamento do meu mestrado e enriquecerem meu projeto com suas sugestões.

À Profa. Ana Petry, novamente, por fazer parte da minha banca e por ser uma pessoa incrível e ótima para conversar, além de estimular o desenvolvimento do projeto com diversas sugestões. À Profa. Rosana Mazzoni, por fazer parte da minha banca e auxiliar a redação dessa dissertação com diversas sugestões e críticas essenciais ao seu aprimoramento.

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Ao Prof. Fernando Fernandez, Profa. Daniela Rodrigues e Profa. Margarete Macedo, por participarem da minha banca de qualificação e pelas ótimas sugestões e críticas, essenciais para a redação desta dissertação.

Ao pessoal do laboratório, que me ajudou em diversos momentos, principalmente à Andressa Reis, por ser uma pessoa completamente única e divertida, sendo uma grande aquisição para o laboratório. À Clarissa Brazil por suas conversas sobre livros, filmes e sobre a dura vida de professor. À Dani Rosa pelas (infinitas) conversas sobre qualquer coisa (mas principalmente sobre o Pacato) em qualquer momento, transformando um dia de trabalho em algo divertido e bastante produtivo. Ao Bruno Eleres, por ter compartilhado os prazeres e os deveres do mestrado e ter ajudado tanto em estatística, e principalmente por ter transformado uma madrugada de domingo no fundão em momento de descontração. Ao Thiago Barros por compartilhar a tarefa de estudar reprodução de peixes de pequeno porte e pelas conversas divertidas no laboratório e nas viagens de campo. Ao Sérgio Teixeira, por ter tido paciência com os cortes histológicos das minúsculas gônadas, e também pelo ótimo resultado final das lâminas! À Profa. Miriam, por me auxiliar diversas vezes durante meu percurso no laboratório. À Fernanda Estrella, por ser uma ótima companhia em qualquer momento (principalmente no bandejão). Ao Renato, por encarar os desafios de defesa junto comigo e compartilhar as dificuldades e sugestões nesse momento. Ao Rafael Marques, pelas conversas divertidas e caronas tijucanas. À Heloísa, por compartilhar a tarefa de estudar Copella nigrofasciata. À Ellen e Daíza, por sempre estar disponível para ensinar estatística. E ao Daniel Muller, pelas divertidas aventuras amazônicas e labratoriais, e por voltar para a gente depois de se perder no Canadá. Agradeço também à Rafaela, Gabriel, Nathalia, André e, principalmente, à Roseane e à Sonia, pelas resoluções burocráticas necessárias, além de todos os outros labequianos do presente ou do passado que ajudaram a construir nosso covil de pesquisa no subsolo do Fundão.

Aos que foram embora do laboratório, mas que fizeram parte da minha formação acadêmica, como o Zé Louvise, por ter implementado a técnica de morfometria geométrica no laboratório e ter sido uma ótima companhia para todas as horas e um ótimo estímulo para trabalhar. À Vanessinha e à Gisela, por me mostrar como os peixinhos amazônicos podem ser apaixonantes. À Mayara, por me orientar no divertido mundo da reprodução. E a todos os outros que trilharam os caminhos do laboratório antes de mim e que deixaram sua contribuição.

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Ao pessoal do Laboratório de Limnologia, pela parceria e por ter as portas abertas sempre que precisamos de um equipamento ou auxílio técnico. Parte deste trabalho não poderia ter sido realizada sem a balança de precisão que disponibilizaram.

Aos pequenos peixes que deram (involuntariamente) suas vidas à pesquisa. Este trabalho nunca vai compensar o valor de suas breves vidas.

À Bárbara, por estar ao meu lado e participar de todos os momentos importantes da minha vida. Sem o seu apoio durante esses dois anos, teria sido uma tarefa ainda mais árdua e estressante.

Aos meus pais, por, mesmo sem saberem, influenciaram positivamente no desenvolvimento deste trabalho.

Aos meus amigos, principalmente, ao Felipe, pela amizade, e pelos momentos de conversa sobre vida após mestrado, depressivos, mas necessários. À Ana Clara, por ser uma amiga única e uma inspiração e estímulo para muitas decisões da vida, inclusive acadêmicas. E todos os outros envolvidos de alguma forma com minha vida.

A todos do Colégio de Aplicação da UFRJ (professores e alunos, principalmente), pela companhia, ensinamentos e paciência para assuntos acadêmicos, desde minha admissão como professor.

E, por último, aos diversos professores que separam um tempo para conversar comigo sobre diversos assuntos. Ao Prof. Reuber, pela paixão ao ensinar filosofia e educação, e por ser uma enorme influência para qualquer profissional de ensino. Ao Prof. Ricardo Iglesias-Rios, por ser uma entidade intelectual indispensável ao Fundão, e que tive o prazer de reencontrar nesse último ano. Ao Prof. Carlos Guerra, por sempre estar disponível para conversar e ensinar sobre história da evolução, mesmo sem ter sido meu professor. E a todas as outras figuras que alteraram de alguma forma meu modo de entender o mundo.

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Resumo As características reprodutivas de uma espécie sofrem influência, tanto da proximidade filogenética, quanto das pressões ambientais vigentes. Por isso, estudos comparativos de características reprodutivas entre espécies próximas que habitam ambientes distintos podem ajudar a aprimorar o conhecimento evolutivo e o ajuste entre filogenia e ambiente. Para isso, o presente estudo buscou analisar características reprodutivas em três espécies de Lebiasinidae que ocupam biótopos diferentes: rio principal, com alteração do nível da água previsível, e igarapé de terra firme, com baixa previsibilidade na amplitude do nível da água ao longo do ano. Foi constatado crescimento isométrico para Nannostomus trifasciatus, uma espécie de rios principais, além de distribuição sazonal das classes de comprimento padrão e peso total, dos valores de RGS e da frequência de estádios de maturação, com valores máximos na enchente e valores mínimos na cheia. O tamanho de primeira maturação verificado foi de 21,5 mm para machos e 25,5 mm para fêmeas e a fecundidade média foi de 206 ovócitos. Esse resultado evidencia uma estratégia reprodutiva tipicamente sazonal, que explora a variação temporal e espacial em qualidade de para aumentar a sobrevivência de juvenis. Nannostomus marginatus, uma espécie de igarapés de terra firme, apresentou dois picos reprodutivos, na cheia e na estiagem, além de gônadas com asssimetria morfológica. O tamanho de primeira maturação verificado foi de 18,3 mm para machos e de 19,4 mm para fêmeas e fecundidade média de 69,5 ovócitos. Essas características se aproximam da estratégia oportunista, que facilita a sobrevivência da espécie em locais de maior imprevisibilidade ambiental. Por último, Copella nigrofasciata, espécie que habita ambos os ambientes, apresentou distribuição de classes de comprimento padrão, valores da RGS e frequência de estádios de maturação sazonal, com valores máximos na cheia. O tamanho de primeira maturação registrado foi de 25,1 mm para machos e fêmeas e a fecundidade média foi de 303 ovócitos. O padrão apresentado por essa espécie foi similar à encontrada em Nannostomus trifasciatus, mas com período reprodutivo iniciado posteriormente. A pouca previsibilidade em outras características, como peso total e fator de condição, permite classificar essa espécie no vértice sazonal-oportunista, mas com uma tendência ao primeiro vértice devido à época reprodutiva bem definida. Esse compartilhamento de características entre as espécies mostra que há uma forte influência do ambiente na definição das táticas reprodutivas desses organismos. Além disso, demonstrou que diferentes estratégias podem ser selecionadas para o mesmo ambiente.

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Abstract The reproductive characteristics of a are influenced by, both the phylogenetic proximity, as the existing environmental pressures. Therefore, comparative studies of reproductive traits in related species that inhabit different environments can help improve the evolutionary knowledge and the fit between phylogeny and environment. For this, the present study investigates reproductive traits in three species of Lebiasinidae occupying different biotopes: main river, with predictable change in the water level, and rainforest stream, with little predictability in the amplitude of water level throughout the year. An isometric growth was found to Nannostomus trifasciatus, a species of major rivers, and seasonal distribution of standard length, total weight, values of GSR and frequency of maturation stages, with maximum values in the flood season and minimum values at high water season. The size at first maturity verified was 21.5 mm for males and 25.5 mm for females and their average fecundity was 206 oocytes. This result shows a typical seasonal reproductive strategy, which exploits the temporal and spatial variation in quality to enhance survival of juveniles. Nannostomus marginatus, a species of rainforest streams, presented two apparent reproductive peaks in the high water and low water season, and gonads with morphological asssimetry. The size at first maturity verified was 18.3 mm for males and 19.4 mm for females and average fecundity was 69.5 oocytes. These characteristics approach the opportunistic strategy, wich facilitates the survival of the species in locations with higher environmental unpredictability. At last, Copella nigrofasciata, species inhabiting both environments, presented distribution of standard length classes, GSR and frequency of seasonal maturation, with maximum values in high water season. The size at first maturity registered was 25.1 mm for males and females and average fecundity was 303 oocytes. The pattern shown by this species was similar to that found in Nannostomus trifasciatus but with reproductive period starting later. The little predictability in other characteristics, such as total weight and condition factor, can sort this species in seasonal-opportunistic apex, but with a tendency to the first corner due to breeding season well defined. This sharing of features between species shows that there is a strong influence of the environment in the definition of reproductive tactics of these organisms. Moreover, it showed different strategies may be selected for the same environment.

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Sumário

Introdução...... 1 Objetivo...... 6 Material e Métodos...... 8 Resultados...... 24 Discussão...... 61 Conclusões...... 68 Considerações Finais...... 70 Literatura Citada...... 71

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Índice de figuras

Figura 1: Modelo triangular de estratégias reprodutivas representando gradientes ambientais e táticas reprodutivas que influenciam no contínuo (adaptado de Winemiller, 1995)...... 3 Figura 2: Área de estudo com as principais unidades de conservação em destaque, Amazônia Central, Estado do Amazonas, Brasil. Imagem de Almeida (2014)...... 9 Figura 3: Variações mensais média (linha), média das máximas (traço superior) e média das mínimas (traço inferior), do nível da água nas estações de Manapana, no médio rio Unini, entre os anos de 2005 e 2012. As barras no gráfico correspondem aos períodos de cada coleta. Figura retirada de Almeida (2014)...... 10 Figura 4: Fotografia em aquário de exemplar vivo de Nannostomus trifasciatus recém coletado na bacia do rio Unini. Comprimento padrão aproximado 3,0 cm. Foto de Henrique Lazzarotto de Almeida...... 12 Figura 5: Fotografia em aquário de exemplar vivo Nannostomus marginatus recém coletado na bacia do lago Amanã (AM). Comprimento padrão aproximado 3,0 cm. Foto de Henrique Lazzarotto de Almeida...... 13 Figura 6: Fotografia em aquário de exemplar vivo de Copella nigrofasciata recém coletado na bacia do lago Amanã. Comprimento padrão aproximado 3,0 cm. Foto de Henrique Lazzarotto de Almeida...... 14 Figura 7: Resultados da ANOVA bifatorial (two-way) (F= 21,454, p= 0,0000) para a medida de comprimento padrão (CP) de machos e fêmeas de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010...... 26 Figura 8: Resultados da ANOVA bifatorial (two-way) (F= 0,07182, p= 0,93071) para a razão entre comprimento padrão (CP) e comprimento total (CT) de machos e fêmeas de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010...... 27 Figura 9: Resultados da ANOVA bifatorial (two-way) (F= 3,0954, p= 0,04611) para a razão entre comprimento da cabeça (CC) e comprimento padrão (CP) de machos e fêmeas de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010.27 Figura 10: Resultados da ANOVA bifatorial (two-way) (F= 2,0725, p= 0,12693) para a razão entre altura (ALT) e comprimento padrão (CP) de machos e fêmeas de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010...... 28 Figura 11: Representação gráfica da relação peso/comprimento de N. trifasciatus na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=399)...... 29 Figura 12: Representação gráfica da relação peso/comprimento de N. marginatus na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=136)...... 30 Figura 13: Representação gráfica da relação peso/comprimento de C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=142)...... 31 Figura 14: Análise de variância bifatorial (ANOVA two-way) (F= 2,7896, p= 0,06239) da distribuição dos resíduos proporcionais de machos e fêmeas para as espécies N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010...... 31 Figura 15: Variação dos valores de comprimento padrão (CP) de N. trifasciatus, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=399)...... 33 Figura 16: Variação dos valores de peso total (PT) de N. trifasciatus, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=399)...... 34 Figura 17: Variação dos valores de comprimento padrão(CP) de N. marginatus, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=105)...... 35

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Figura 18: Variação dos valores de peso total (PT) de N. marginatus, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=105)...... 36 Figura 19: Variação dos valores de comprimento padrão (CP) de Copella nigrofasciata, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=142)...... 37 Figura 20: Variação dos valores de peso total (PT) de Copella nigrofasciata, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=142)...... 38 Figura 21 Variação dos valores de fator de condição de Nannostomus trifasciatus, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=142)...... 39 Figura 22: Análise de variância (ANOVA) (F= 13,68, p= 0,000) do fator de condição de N. marginatus, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=105)...... 40 Figura 23: Variação dos valores de fator de condição de Copella nigrofasciata, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=142)...... 41 Figura 24: Distribuição da frequência dos estádios de maturação de fêmeas (a) (N=164) e machos (b) (N=137) de N. trifasciatus por campanha na bacia do rio Unini no ano de 2010...... 42 Figura 25: Distribuição da frequência dos estádios de maturação de fêmeas (a) (N= 35) e machos (b) (N= 46) de N. marginatus por campanha na bacia do rio Unini no ano de 2010...... 43 Figura 26: Imagem de duas gônadas em estádios de maturação distintos (F3 à esquerda; F1 à direita) retiradas do mesmo indivíduo de N. marginatus...... 43 Figura 27: Distribuição da frequência dos estádios de maturação de fêmeas (a) (N= 74) e machos (b) (N= 62) de C. nigrofascita por campanha na bacia do rio Unini no ano de 2010...... 44 Figura 28: Comprimento médio de primeira maturação gonadal para machos (a) e fêmeas (b) de N. trifasciatus na bacia do rio Unini no ano de 2010...... 45 Figura 29: Comprimento médio de primeira maturação gonadal para machos (a) e fêmeas (b) de N. marginatus na bacia do rio Unini no ano de 2010...... 46 Figura 30: Comprimento médio de primeira maturação gonadal para machos (a) e fêmeas (b) de C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010...... 47 Figura 31: Dispersão dos valores de relação gonadossomática (RGS) de N. trifasciatus por campanha na bacia do rio Unini no ano de 2010...... 48 Figura 32: Dispersão dos valores de relação gonadossomática (RGS) de N. marginatus por campanha na bacia do rio Unini no ano de 2010...... 48 Figura 33: Dispersão dos valores de relação gonadossomática (RGS) de C. nigrofasciata entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010...... 49 Figura 34: Frequência de classes de ovócitos (lotes) por estádio de maturação de indivíduos fêmeas de N. trifasciatus (N= 7) na bacia do rio Unini no ano de 2010. A legenda indica o intervalo de comprimento do diâmetro dos ovócitos em cada classe de tamanho...... 50 Figura 35: Frequência de classes de ovócitos (lotes) por estádio de maturação de indivíduos fêmeas de N. marginatus (N= 6) na bacia do rio Unini no ano de 2010. A legenda indica o intervalo de comprimento do diâmetro dos ovócitos em cada classe de tamanho...... 50 Figura 36: Frequência de classes de ovócitos (lotes) por estádio de maturação de indivíduos fêmeas C. nigrofasciata (N= 6) na bacia do rio Unini no ano de 2010. A legenda indica o intervalo de comprimento do diâmetro dos ovócitos em cada classe de tamanho...... 51

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Figura 37: Vista de lâmina histológica de seção transversal de ovário de fêmea imatura (F1) de N. marginatus evidenciando ovócitos na fase cromatina-nucleolar (I) e ovócitos na fase perinucleolar (II). Coloração HE. Aumento de 40x...... 53 Figura 38: Vista de lâmina histológica de seção transversal de ovário de fêmea em maturação inicial (F2a) de C. nigrofasciata evidenciando ovócitos na fase perinucleolar (II) e ovócitos em formação da vesícula vitelínica (III) com vacúolos lipídicos (setas). Coloração HE. Aumento de 20x...... 54 Figura 39: Vista de lâmina histológica de seção transversal de ovário de fêmea em maturação avançada (F2b) de N.trifasciatus evidenciando ovócitos na fase perniculeolar (II), ovócitos em formação da vesícula vitelínica (III), ovócitos em fase de vitelogênese (IV) e ovócitos maduros (V). Coloração HE. Aumento de 20x...... 55 Figura 40: Vista de lâmina histológica de seção transversal de ovário de fêmea madura (F3) de N. trifasciatus evidenciando ovócitos na fase cromatina-nucleolar (I) e ovócitos na fase cromatina-nucleolar (I),ovócitos na fase perniculeolar (II), ovócitos em formação da vesícula vitelínica (III), ovócitos em fase de vitelogênese (IV) e ovócitos maduros (V). Coloração HE. Aumento de 20x...... 56 Figura 41: Vista de lâmina histológica de seção transversal de ovário de fêmea desovada (F4) de N. trifasciatus evidenciando ovócitos fase perinucleolar (II) e maduros (V), folículos atrésicos (FA) e folículos pós-ovulatórios (seta). Coloração HE. Aumento de 20x...... 57 Figura 42: Vista de lâmina histológica de seção transversal de testículo de macho imaturo (M1) de N. trifasciatus evidenciando espermatogônias (G). Coloração HE. Aumento de 40x...... 58 Figura 43: Vista de lâmina histológica de seção transversal de testículo de macho em maturação (M2) de N. trifasciatus evidenciando espermatozóides (Z) nos túbulos seminíferos e espermatócito primário (C1) e secundário (C2). Coloração HE. Aumento de 20x...... 59 Figura 44: Vista de lâmina histológica de seção transversal de testículo de macho maduro (M3) de N. trifasciatus evidenciando grande quantidade de espermatozóides (Z). Coloração HE. Aumento de 40x...... 60

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Índice de tabelas

Tabela 1: Quantidade absoluta e frequência relativa (entre parênteses) de indivíduos coletados de Nannostomus trifasciatus, N. marginatus e Copella nigrofasciata em cada tipo de ambiente na bacia do Rio Unini no ano de 2010 através do projeto Diagnóstico e Monitoramento da Biodiversidade Aquática Subsidiária da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã. ... 5 Tabela 2: Descrição morfológica de gônadas das três espécies estudadas, adaptado de Brown- Peterson & Wyanski (2004)...... 16 Tabela 3: Descrição morfológica de estádios de desenvolvimento ovariano para as três espécies estudadas, adaptado de Vazzoler (1996) e Brown-Peterson et al. (2011)...... 16 Tabela 4: Descrição morfológica de estádios do desenvolvimento testicular para as três espécies estudadas, adaptado de Brown-Peterson et al. (2011)...... 17 Tabela 5: Descrição histológica das fases de desenvolvimento ovocitário em ovários, de acordo com Vazzoler (1996) e nomenclatura proposta por Yamamoto (1956)...... 18 Tabela 6: Descrição histológica dos estádios de desenvolvimento ovariano, adaptado de Vazzoler (1996)...... 19 Tabela 7: Descrição morfológica de estádios do desenvolvimento testicular para as três espécies estudadas, adaptado de Brown-Peterson et al. (2011)...... 20 Tabela 8: Resultado do teste de normalidade de Shapiro-Wilk e de homocedasticidade de Levene com os valores de p para as características de comprimento padrão, peso total, fator de condição e relação gonadossomática para N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata no rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão detacados em negrito ...... 24 Tabela 9: Número de machos (M) e fêmeas (F) e razão sexual (P) de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata em cada fase do pulso de inundação ao longo do ano de 2010 na bacia do rio Unini (AM)...... 25 Tabela 10: Valores do teste Tukey referentes à ANOVA (F= 21,454, p= 0,0000), para o comprimento padrão (CP) de machos e fêmeas de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito...... 26 Tabela 11: Valores do teste Tukey referentes à ANOVA (F= 3,0954, p= 0,04611), razão entre comprimento da cabeça (CC) e comprimento padrão (CP) de machos e fêmeas de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito...... 28 Tabela 12: Valores do teste Tukey referentes à ANOVA (F= 2,0725, p= 0,12693), razão entre altura (ALT) e comprimento padrão (CP) de machos e fêmeas de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito...... 28 Tabela 13: Valores do teste Tukey referentes à ANOVA (F= 2,7896, p= 0,06239), comparando a distribuição dos resíduos proporcionais da relação peso/comprimento de machos e fêmeas para as espécies N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano

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de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito...... 32 Tabela 14: Valores do teste Tukey referentes à ANOVA (F= 49,4, p= 0,000), comparando o comprimento padrão (CP) dos indivíduos de N. trifasciatus entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito...... 33 Tabela 15: Valores do teste de comparações múltiplas referentes ao teste de Kruskal-Wallis (H= 108, p= 0,000), comparando o peso total (PT) dos indivíduos de N. trifasciatus entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito...... 34 Tabela 16: Valores do teste Tukey referentes à ANOVA (F= 6,8, p= 0,0003), comparando o comprimento padrão (CP) dos indivíduos de N. marginatus entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010.Os valores significativos estão destacados em negrito...... 35 Tabela 17: Valores do teste de comparações múltiplas referentes ao teste de Kruskal-Wallis (H= 8,08 p= 0,044), comparando o peso total (PT) dos indivíduos de C. nigrofasciata entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito...... 37 Tabela 18: Valores do teste de comparações múltiplas referentes ao teste de Kruskal-Wallis (H= 11,75, p= 0,083), comparando o peso total (PT) dos indivíduos de C. nigrofasciata entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito...... 38 Tabela 19: Valores do teste de comparações múltiplas referentes ao teste de Kruskal-Wallis (H= 16,94, p= 0,0007), comparando o fator de condição dos indivíduos de N. trifasciatus entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010.Os valores significativos estão destacados em negrito...... 39 Tabela 20: Valores do teste Tukey referentes à ANOVA (F= 13,68, p= 0,000), comparando o fator de condição dos indivíduos de N. marginatus entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010.Os valores significativos estão destacados em negrito...... 40 Tabela 21: Valores do teste de comparações múltiplas referentes ao teste de Kruskal-Wallis (H= 13,27, p= 0,041), comparando o fator de condição dos indivíduos de C. nigrofasciata entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito...... 41

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Introdução

As características de história de vida possuem grande herdabilidade e são influenciadas diretamente pela seleção natural, estando em constante adaptação ao ambiente, de forma que as espécies possam propagar seus genes da forma mais eficiente (Stearns, 1976). Formam assim, um conjunto de características bem sucedidas e adequadas ao ambiente de uma determinada espécie (Wootton, 1984). A proximidade filogenética influencia fortemente a determinação das características de história de vida de uma espécie, como verificado, por exemplo, para protozoários (Martinsen et al., 2008), répteis (Dunham & Miles, 1985), peixes (Hutchings & Morris, 1985) e mamíferos (Stearns, 1983). Por outro lado, para manter uma alta aptidão em ambientes distintos, essas características podem possuir plasticidade fenotípica grande e serem moldadas por forças evolutivas em curto prazo (e.g. Sedinger et al., 1995). Logo, a comparação de características de história de vida entre espécies de táxons próximos que habitam hábitats distintos, pode trazer informações sobre o ajuste fino entre filogenia e pressões ambientais locais e/ou regionais. Dentre as características de história de vida, as relacionadas à reprodução são das mais relevantes (Vazzoler & Menezes, 1992), já que a aptidão da espécie é determinada pelo sucesso de um indivíduo em estar geneticamente representado na próxima geração (Winemiller, 1989). Essas características frequentemente possuem demandas conflitantes (trade-offs), que sugere uma coevolução entre elas, ou seja, enquanto uma característica é alterada através da pressão seletiva devido a uma variável ambiental, outras passarão por mudanças compensatórias devido à redefinição de seu ambiente. Essas características dependem das interações entre o ambiente e as respostas genéticas, fisiológicas, comportamentais e ecológicas dos indivíduos, e recebem o nome “tática reprodutiva”. O conjunto dessas táticas, por sua vez, define a “estratégia reprodutiva” (Wootton, 1984). Enquanto a estratégia reprodutiva é caracterizada como o padrão geral de reprodução tipicamente apresentado pelos indivíduos de uma espécie, traduzindo respostas evolutivas de longo prazo, as táticas reprodutivas são as variações nas características de uma população face às variações locais e temporais de curto prazo (Wootton, 1984). As características reprodutivas coevoluem e formam estratégias de história de vida bem sucedidas adequadas à biologia e ambiente de um determinado táxon (Hutchings & Morris, 1985) a fim de maximizar as chances de sobrevivência da prole (Lowe-McConnell, 1999). Portanto, 1

ambientes que apresentam grande variabilidade de condições favorecem o surgimento de táticas e estratégias reprodutivas variadas. Táticas similares podem ocorrer no mesmo tipo de hábitat em espécies filogeneticamente distantes (e.g. Olden & Kennard, 2010), assim como táticas distintas podem ocorrer entre indivíduos da mesma espécie em diferentes locais ou hábitats (e.g. Becker et al., 2008; Mazzoni & Iglesias-Rios, 2002). Logo, esses aspectos podem ter origem num passado evolutivo distante ou representar um ajuste recente de uma população a condições ambientais vigentes (Leggett & Carscadden, 1978). Estudos que medem as alterações nas características adaptativas em diferentes ambientes podem ajudar a aprimorar o conhecimento das causas de seleção natural e, portanto, da evolução como um todo (MacColl, 2011), podendo utilizar a flexibilidade das características reprodutivas para estudar tanto a restrição filogenética dos grupos, quanto a plasticidade fenotípica das espécies (Stearns, 1980). Portanto, a influência do ambiente pode criar uma relação bastante estreita com as táticas reprodutivas (e.g. Suzuki et al., 2004). Ambientes que sofrem variação sazonal influenciam diretamente as estratégias reprodutivas de diversas espécies de seres vivos (James & Shine, 1985). Um dos grupos que apresentam características sazonais mais aparentes são os peixes (Johannes, 1978), o que é notavelmente visível em espécies migradoras (Hutchings & Morris, 1985). Por isso, os estudos de Winemiller (1989) e Winemiller & Rose (1992), inspirados em modelos criados para plantas e insetos (Grime, 1977; Greenslade, 1983) foram importantes ao propor um modelo similar para as estratégias de história de vida dos peixes. Ao analisar as características reprodutivas quantificadas de diversas espécies de peixes, Winemiller (1989) e Winemiller & Rose (1992) propuseram um modelo em que uma dispersão triangular com ápices correspondendo a três conjuntos distintos podem representar as estratégias de história de vida (Fig. 1). Essas estratégias podem ser interpretadas como uma adaptação à intensidade relativa e previsibilidade da variação temporal e espacial em condições ambientais abióticas, disponibilidade de alimento e pressão predatória (Winemiller, 2005).

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SAZONAL

Fecundid

1. Aumento na intensidade de distúrbio ambiental 2. Diminuição da previsibilidade das variações espaço-temporal quanto a disponibilidade de recursos e causas da mortalidade

Figura 1: Modelo triangular de estratégias reprodutivas representando gradientes ambientais e táticas reprodutivas que influenciam no contínuo (adaptado de Winemiller, 1995).

A estratégia oportunista representa os peixes que possuem características como maturação precoce, desovas pequenas e iteroparidade (múltiplas desovas por ano), que são adequadas a colonizar um ambiente diante de predação intensa ou variação imprevisível do habitat, possuindo, portanto, rápida recuperação populacional. A estratégia de equilíbrio representa os organismos adaptados a ambientes com limitação de recursos, pois apresentam alto investimento em prole individual, presença de cuidado parental, e possuem certa estabilidade populacional ao longo do ano, mesmo com alta predação e competição no ambiente. A estratégia sazonal representa peixes que desovam em episódios anuais, o que aumenta a capacidade de produzir grandes desovas e a sobrevivência de adultos durante períodos de condições sazonais que apresentam pouca disponibilidade de alimento (e.g. inverno, estiagem), desovando, sincronicamente, após migrações para habitats favoráveis em períodos favoráveis (e.g. primavera, cheia) (Winemiller, 2005). A implementação desse modelo bidimensional triangular aumentou a eficácia dos estudos de história de vida em peixes, sendo possível identificar uma espécie em qualquer ponto da área formada pelo contínuo triangular (Winemiller, 1995). Esse modelo passou a ser muito utilizado em estudos

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recentes em diferentes latitudes (e.g. Vila-Gispert et al., 2002; Cardoso, 2012; Espírito-Santo et al., 2013). O fato notável é que, ao incluir o vértice com a estratégia sazonal, esse modelo abarcou espécies adaptadas a viverem em ambientes com variação previsível ao longo do tempo. A bacia amazônica possui climas sazonais de cheia e estiagem, que criam pulsos de inundação previsíveis ao longo do ano (Junk et al., 1989), que originam grande variedade de hábitats, e favorecem diversidade de estratégias reprodutivas. Os rios que pertencem à bacia amazônica abrigam a ictiofauna de água doce mais diversificada no mundo (Lowe-McConnell, 1999), com estimativas que superam 5.000 espécies (Reis et al., 2003). Uma grande porção dessa diversidade é composta de espécies de pequeno porte que habitam pequenos rios de planície de inundação e igarapés de terra firme. Essas espécies se beneficiam do pulso de inundação, que promove variações sazonais na amplitude dos corpos d’água, inundando grandes áreas de floresta nas planícies marginais, provendo abrigo e fontes de alimento (Goulding, 1997). Peixes amazônicos de pequeno porte são visados no mercado de aquariofilia devido à facilidade em mantê-los em cativeiro, e à presença de atributos estéticos. Esses peixes ornamentais têm grande potencial como modelo de manejo sustentável (Chao, 2001), e portanto são úteis em programas de conservação. Por isso, para criar ações de manejo, são necessários estudos sobre a época reprodutiva e fatores associados a ela (Orsi et al., 2002) para proteger os novos recrutas e prever a variabilidade de recrutamento, viabilizando o equilíbrio populacional (Gómez-Marquez et al., 2003). Logo, o conhecimento das estratégias de vida das espécies e suas relações com as condições ambientais vigentes são importantes. Entretanto, estudos em reprodução são majoritariamente concentrados em peixes de médio e grande porte (e.g. Duponchelle et al., 2007), enquanto informações acerca de pequenos são escassas (e.g. Rossoni et al., 2010). No entanto, por sofrerem pressões de um mercado de exportação, essas espécies deveriam ser monitoradas mais cuidadosamente (Anjos et al., 2009). Um dos principais grupos com espécies ornamentais comercializados na Amazônia são pequenos Characiformes, valorizados por variados padrões de coloração e por comportamentos peculiares em diversas espécies do grupo (Anjos et al., 2007). Apesar da variedade de estratégias e táticas reprodutivas dentro da ordem Characiformes, os aspectos reprodutivos de suas espécies constumam refletir um padrão geral compartilhado com seu clado, refletindo as relações de parentesco das espécies (Azevedo, 2010). Entretanto, por ser uma ordem com alta diversidade, esta pode apresentar espécies com grandes divergências ecológicas e morfológicas, principalmente em relação ao tamanho, fecundidade, comportamento migratório e

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cuidado parental, distribuídas nos mais diferentes habitats. Essa grande amplitude de variação de características acarreta em alta diversidade na composição funcional, sendo uma ordem com espécies distribuídas em um amplo gradiente de estratégias, principalmente ao longo do contínuo de estratégia oportunista para sazonal (Vogel, 2012). A diversidade de estratégias reprodutivas faz com que as espécies desse grupo sirvam como modelos para o estudo comparativo de características reprodutivas. Dentro da ordem Characiformes, a família Lebiasinidae se destaca pela presença de espécies de pequeno porte visadas no mercado de aquariofilia. Essas espécies podem habitar ambientes distintos e, portanto, apresentar estratégias de vida distintas. Dentre os diversos tipos de ambientes da bacia amazônica, o rio principal e o igarapé de terra firme apresentam diferenças evidentes, com o rio principal sendo um corpo d’água maior e com variação previsível no nível da água ao longo do ano, enquanto o igarapé de terra firme é considerado um corpo d’água menor e com pouca previsibilidade na variação do nível da água ao longo do ano (Almeida, 2014). Dentro da família Lebiasinidae, o gênero Nannostomus pode apresentar espécies que habitam majoritariamente o rio principal, como N. trifasciatus, e espécies que habitam majoritariamente igarapés de terra firme, como N. marginatus. Enquanto o gênero Copella apresenta espécies que habitam ambos os ambientes citados, como C. nigrofasciata (Tabela 1). Essas espécies podem apresentar similaridades e diferenças específicas relacionadas aos ambientes em que vivem, e seu estudo pode ajudar a entender as relações entre as características reprodutivas e as pressões evolutivas do ambiente em que vivem.

Tabela 1: Quantidade absoluta e frequência relativa (entre parênteses) de indivíduos coletados de Nannostomus trifasciatus, N. marginatus e Copella nigrofasciata em cada tipo de ambiente na bacia do Rio Unini no ano de 2010 através do projeto Diagnóstico e Monitoramento da Biodiversidade Aquática Subsidiária da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã. Igarapé Igarapé Rios Lagos Total Espécies terra firme grande porte principais Nannostomus trifasciatus 28 (1%) 444 (20%) 1635 (75%) 88 (4%) 2195 (100%) Nannostomus marginatus 237 (90%) 0 (0%) 15 (6%) 12 (4%) 264 (100%) Copella nigrofasciata 856 (74%) 52 (4%) 140 (12%) 107 (10%) 1155 (100%)

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Objetivo Geral

Este estudo teve como objetivo analisar a ocorrência de variação nos atributos de história de vida em três Characiformes ornamentais da mesma família que ocupam majoritariamente biótopos diferentes, um com pulso de inundação previsível e alta amplitude anual do nível da água, e outro com pulso de inundação ausente e amplitude no nível da água imprevisível ao longo do ano. Para isso, foram avaliadas características reprodutivas de três espécies da família Lebiasinidae, duas do gênero Nannostomus, próximas filogeneticamente e que habitam ambientes diferentes, e uma espécie do gênero Copella, mais distante filogeneticamente das outras duas, que habita ambos os ambientes.

Hipótese

A hipótese avaliada é a de que as estratégias reprodutivas são mais influenciadas por um conjunto de condições ambientais do que pela proximidade filogenética.

Predições

As características de história de vida de espécies filogeneticamente próximas que habitam ambientes diferentes (Nannostomus trifasciatus e N. marginatus) serão distintas, enquanto a espécie filogeneticamente distante que habita ambos os ambientes (Copella nigrofasciata) irá possuir características de história de vida intermediárias.

Objetivos específicos

 Comparar, entre as três espécies, possíveis dimorfismos sexuais relacionados ao tamanho e o tipo de crescimento dos indivíduos;  Comparar, entre as três espécies, distribuições de machos e fêmeas, tamanho e peso dos indivíduos, fator de condição e variação da relação gonadossomática ao longo do ano.  Comparar, entre as três espécies, aspectos reprodutivos como investimento gonadal,

fecundidade, tipo de desova e tamanho da primeira maturação (L50).

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 Comparar as estratégias reprodutivas verificadas para cada espécie em relação á previsibilidade do ambiente em que vivem.

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Material e Metódos

Os peixes analisados neste estudo foram coletados durante o projeto Diagnóstico e Monitoramento da Biodiversidade Aquática na Área Subsidiária da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, de execução do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no escopo do Projeto Corredores Ecológicos do Ministério do Meio Ambiente.O primeiro produto desses projetos foi a tese de Almeida (2014), à qual este trabalho é conectado.

Área de estudo O rio Unini é um dos maiores tributários da margem direita do baixo curso do Rio Negro, na Amazônia Central, Estado do Amazonas, Brasil (S 1º22’ e 2º25’; W 61º30’ e 64º59’). Com uma área de 2.689.644 ha, sua bacia está inclusa, em quase sua totalidade, em três unidades de conservação: a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Amanã; o Parque Nacional (PARNA) do Jaú; e a Reserva Extrativista (RESEX) do Rio Unini. Adjacentes à RDS Amanã e ao PARNA Jaú encontram- se, respectivamente, a RDS Mamirauá e o Parque Estadual do Rio Negro Setor Norte (Fig. 2). Essas unidades de conservação formam, em seu conjunto, o maior bloco de floresta tropical protegido do Brasil, com um total de 6.900.713 ha, e estão contidas na área definida como o Corredor Central da Amazônia (FVA, 2009). Por estar inserida em diversas unidades de conservação e possuir plano de manejo, a bacia do Rio Unini apresenta uma oportunidade particular para estudos sobre a história de vida de espécies biológica e/ou comercialmente importantes.

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Assim como outras bacias da Amazônia, a bacia do Rio Unini é regida pelo pulso de inundação anual (Sioli, 1985), resultando em uma sequência de cheias e estiagens influenciadas pelas chuvas regionais na área da bacia, com amplitudes médias de 7,07 m no nível do rio, apresentando ligeiras mudanças entre os anos (e.g. Almeida, 2014) (Fig. 3). O pulso acarreta extensas áreas de florestas alagadas sazonalmente, com importantes consequências para a fauna e a flora da região. Entretanto, a bacia é coberta com uma densa rede de pequenos riachos, conhecidos como igarapés de terra firme, que apresentam variações no nível da água em escalas temporais muito menores que os rios principais, não possuindo um pulso previsível. Esses corpos d’água costumam responder de forma rápida à influência de chuvas locais diárias e não apresentam uma planície de inundação (Junk, 1989). Segundo Almeida (2014), contudo, na bacia do rio Unini, durante o período de estudo, alguns igarapés apresentaram grandes áreas alagadas em suas margens, que assim permaneceram por um período de pelo menos um mês sem interrupções.

Figura 2: Área de estudo com as principais unidades de conservação em destaque, Amazônia Central, Estado do Amazonas, Brasil. Imagem de Almeida (2014).

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13,00 11,00 9,00 7,00 5,00 3,00 1,00

Figura 3: Variações mensais média (linha), média das máximas (traço superior) e média das mínimas (traço inferior), do nível da água nas estações de Manapana, no médio rio Unini, entre os anos de 2005 e 2012. As barras no gráfico correspondem aos períodos de cada coleta. Figura retirada de Almeida (2014).

A região do rio Unini possui uma pluviosidade média de cerca de 2.590 mm/ano (Almeida, 2014), com duas estações bem definidas: a estação de estiagem, que atinge sua máxima em novembro, quando as chuvas não costumam ultrapassar 200 mm/mês; e a estação chuvosa, que atinge sua máxima no mês de maio, quando as precipitações ultrapassam 300 mm/mês. O clima na região é quente e úmido, com umidade relativa variando entre 85% e 95% e temperaturas médias anuais variando entre 26,0º C e 26,7º C (FVA, 2009). O rio Unini, assim como a maior parte dos rios da região, é um rio de água preta (Melack & Forsberg, 2001), ou seja, pobre em nutrientes e com alta concentração de carbono orgânico dissolvido, refletindo em águas com pH bastante ácido (Sioli, 1985). Dentre os diversos tipos de ambientes presentes na bacia do rio Unini, se destacam por sua importância os igarapés de terra firme e os rios principais. Os igarapés de terra firme representam os menores corpos d’água em que foram realizadas as coletas, encontrando-se sempre sombreados e, consequentemente, apresentando as menores temperaturas e menor variação ao longo do ano, mesmo considerando as variações na vazão entre as estações de estiagem e cheia. Sua variação na amplitude do nível da água ao longo do ano é pouco previsível e influenciada por fatores locais. Os rios principais, por serem corpos d’água maiores, encontraram-se mais expostos à luz solar, o que acarretou em maior amplitude na temperatura da água. Outras características abióticas como variação no pH, oxigênio dissolvido e condutividade, apresentaram grande variação em igarapés de terra firme,

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enquanto em rios principais a variação desses parâmetros não foi da mesma magnitude, provavelmente em decorrência do volume maior de água, diminuindo a velocidade das mudanças nos atributos da água. A variação na amplitude do nível da água é previsível ao longo do ano, sendo influenciado, principalmente, por fatores regionais (Almeida, 2014).

Espécies Pertencente à ordem Characiformes, a família Lebiasinidae é um grupo monofilético (Vari, 1995) de peixes de água doce endêmicos da região Neotropical, encontrada na Costa Rica, Panamá e América do Sul, com exceção do Chile (Weitzman & Weitzman, 2003). Vivem próximos às margens, podendo ser encontrados em rios de água preta, branca e clara (Weitzman & Weitzman, 1982). Inclui, atualmente, mais de 60 espécies (Oyakawa, 1998; Netto-Ferreira, 2005) organizadas em duas subfamílias: Lebiasininae, que inclui, atualmente, os gêneros Lebiasina e Piabucina; e Pyrrhulininae, que inclui os gêneros Copeina, Copella, Nannostomus e Pyrrhulina; além do gênero Derhamia, recentemente descrito, mas ainda não incluído em nenhuma subfamília (Netto-Ferreira, 2005). Os representantes dos Lebiasinidae são conhecidos por possuírem corpo cilíndrico e alongado, de pequeno a médio porte. Por muitas de suas espécies possuírem um padrão colorido no corpo e postura com a cabeça continuamente apontando para cima (Buckup, 1999), são valorizados no mercado de aquariofilia (Hoedeman, 1954; Weitzman & Weitzman, 2003). Não obstante esse relativo valor comercial, essas espécies são, ainda, pouco estudadas. Dentre a literatura existente, destacam- se estudos sobre desenvolvimento larval (e.g. Ponton & Mérigoux, 2001; Nakatani et al, 2001; Taguti et al, 2009), bioquímica (e.g. Masagaki &Fujii, 1999), história de vida (e.g. Gil & Martinez, 2001; Román-Valencia, 2004) e filogenia (e.g. Netto-Ferreira, 2005). O hábito alimentar das espécies compreende a ingestão de invertebrados (gêneros Copeina, Copella e Pyrrhulina), organismos bentônicos associados à vegetação aquática (gênero Nannostomus), ou hábitos alimentares mais generalistas, incluindo insetos, crustáceos e peixes (gêneros Lebiasina e Piabucina) (Román- Valencia, 2004). Dentre os lebiasinídeos, 19 espécies constam na Instrução Normativa do IBAMA nº 001 de 13 de janeiro de 2012 (IBAMA IN 001/2012) – que permite a captura, transporte e comercialização de exemplares vivos – para fins ornamentais, incluindo os gêneros: Copeina (C. guttata; C. arnoldi; C. metae); Copella (C. carsevenensis, C. eignenmanni, C. nattereri; C. nigrofasciata, C. vilmae); Nannostomus (N. anduzei; N. beckfordi; N. digrammus; N. eques; N. limatus; N. marginatus; N.

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nitidus; N. trifasciatus; N. unifasciatus); e Pyrrhulina (P. australis; P. brevis; P. vittata; P. zigzag). Isso destaca a necessidade de planos de manejo e conservação para a preservação dessas espécies, para que mantenham sua exploração em níveis ecologicamente sustentáveis. Atualmente, o gênero Nannostomus – conhecido popularmente como “peixe-lápis”, ou “torpedinho” - possui 21 espécies válidas com ampla distribuição pelas bacias do Amazonas e Orinoco, ocorrendo em águas abertas dos grandes rios, áreas alagadas e pequenos igarapés (Zarske, 2013). Entre essas espécies, as mais populares entre os aquaristas são: N. beckfordi, N. eques, N. trifasciatus e N. marginatus (Weitzman & Weitzman, 2003). A popularidade dessas espécies é explicada pelo formato fusiforme do seu corpo, suas cores brilhantes e por algumas espécies manterem a cabeça erguida enquanto nadam (Géry, 1977). Nannostomus trifasciatus Steindachner, 1876, é considerada polimórfica, devido a sua ampla distribuição, resultando em sinonímias como Poecilobrycon erythrurus (Eigenmann, 1909) e Poecilobrycon vittatus (Ahl, 1934). Possui ampla distribuição na bacia amazônica, incluindo países como Bolívia, Brasil, Peru e Colômbia, rios da Guiana (Weitzman & Weitzman, 2003) e na bacia do rio Orinoco (Gil & Martinez, 2001). É caracterizada por apresentar três faixas longitudinais negras, sendo que a faixa abdominal termina na base dos raios posteriores da nadadeira anal, e as faixas laterais terminam na base dos raios da caudal. Apresenta manchas avermelhadas nas nadadeiras dorsal, anal, caudal e pélvicas, e, às vezes, na porção lateral do corpo. Normalmente apresenta nadadeira adiposa. Nasnnostomus trifasciatus é uma espécie social (Riehl & Baensch, 2007), sendo normalmente encontrada em pequenos grupos, nadando próximo à superfície d’água ou entre a vegetação (Fig. 4).

Figura 4: Fotografia em aquário de exemplar vivo de Nannostomus trifasciatus recém coletado na bacia do rio Unini.Comprimento padrão aproximado 3,0 cm. Foto de Henrique Lazzarotto de Almeida. 12

Nannostomus marginatus Eigenmann, 1909, conhecido popularmente como “peixe-lápis anão”, se diferencia das demais espécies do gênero por apresentar tamanho reduzido, ausência de nadadeira adiposa, e três listras longitudinais negras proeminentes ao longo de seu corpo e que se estendem da ponta do focinho até o pedúnculo caudal (Weitzman, 1966; Weitzman & Weitzman, 2003) (Fig. 5). Possui ampla distribuição na América do Sul em países como Brasil, Guiana, Colômbia, e Peru (Netto-Ferreira, 2005).

Figura 5: Fotografia em aquário de exemplar vivo Nannostomus marginatus recém coletado na bacia do lago Amanã (AM). Comprimento padrão aproximado 3,0 cm. Foto de Henrique Lazzarotto de Almeida.

O gênero Copella é monofilético (Netto-Ferreira, 2005) e possui nove espécies consideradas válidas. É um gênero nativo da América do Sul com distribuição ao longo do Amazonas e de outros grandes rios da América do Sul. As espécies possuem um formato alongado, com nadadeiras peitorais posicionadas abaixo do opérculo (Zarske & Géry, 2006) Copella nigrofasciata, descrita primeiramente como Pyrrhulina nigrofasciata por Meinken (1952), e reclassificada por Ortega & Vari (1986) no gênero Copella, ocorre da desembocadura do Rio Negro até os rios Marañón e Ucayali no Peru. Possui uma listra preta horizontal com uma grande quantidade de colunas de pintas vermelhas ao longo do corpo (Zarske & Gery, 2006) (Fig. 6).

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Figura 6: Fotografia em aquário de exemplar vivo de Copella nigrofasciata recém coletado na bacia do lago Amanã. Comprimento padrão aproximado 3,0 cm. Foto de Henrique Lazzarotto de Almeida.

A maior parte das informações dessas espécies é proveniente de literatura para aquaristas, ou seja, estudos com análises feitas a partir de animais em cativeiro (e.g. Riehl & Baensch, 2007; Mills & Vevers, 1989) com observações nem sempre realizadas de forma sistematizada. Quando criadas em cativeiro, espécies de peixes podem apresentar distúrbios reprodutivos, o que compromete a confiabilidade desses estudos (Zohar & Mylonas, 2001). Por isso, estudos em ambientes naturais são essenciais para analisar integralmente os aspectos reprodutivos de uma população e contribuir para sua conservação (e. g. Queiroz et al., 2008).

Coleta Foram realizadas quatro campanhas de coleta a cada três meses, cobrindo um ciclo sazonal completo no ano de 2010, em quatro momentos do pulso de inundação: Enchente (Janeiro-Fevereiro), Cheia (Abril-Maio), Vazante (Agosto-Setembro) e Estiagem (Novembro-Dezembro). Em cada coleta, foram registrados os seguintes parâmetros limnológicos: temperatura, oxigênio dissolvido (OD), pH e condutividade, e, em igarapés de terra firme, parâmetros de estrutura do habitat, como tipo de água, tipo de substrato e abertura do dossel. Os peixes foram coletados em diversos corpos d’água, incluindo igarapés de grande porte, igarapés de terra firme, lagos e a calha principal dos rios contribuintes dos principais formadores do rio Unini, entretanto, apenas indivíduos coletados em igarapés de terra firme e no rio principal foram utilizados para análise. Foram utilizados rapichés, redinhas e arrasto manual com rede multifilamento. Os peixes foram anestesiados em campo com

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mentol e fixados em formol 10% e, em laboratório, conservados em álcool 70% (Almeida, 2014).

Análises em laboratório Os indivíduos foram medidos com paquímetro digital de precisão 0,01mm. As medidas feitas foram: de comprimento padrão (CP); da ponta do focinho até o pedúnculo caudal; comprimento total (CT); da ponta do focinho até o fim da nadadeira caudal; de comprimento da cabeça (CC); da ponta do focinho até o fim do opérculo; e de altura (Alt); medido pela região que apresentava a maior altura do indivíduo. O peso total (PT) de cada indivíduo foi obtido com balança digital de 0,001g. Os peixes foram posteriormente dissecados para identificação do sexo e classificação macroscópica do estádio reprodutivo; as gônadas foram retiradas e pesadas em balança de precisão de 0,0000001 g. Os sexos dos indivíduos foram classificados macroscopicamente a partir da descrição adaptada de Brown-Peterson & Wyanski (2004), descrito na tabela 2. Essa descrição morfológica foi adaptada através da inclusão das classes de desenvolvimento gonadal de teleósteos descritas macroscopicamente para cada sexo em Brown-Peterson & Wyanski (2004). Para classificar macroscopicamente o estádio de desenvolvimento das gônadas foram avaliadas as seguintes características: grau de transparência, textura, consistência, coloração, volume ocupado na cavidade abdominal e visualização dos ovócitos (no caso das fêmeas), de acordo com classificação adaptada de Vazzoler (1996) e Brown-Peterson et al. (2011) para ovários (Tabela 3) e de Brown-Peterson et al. (2011) para testículos (Tabela 4). Devido às espécies estudadas serem de pequeno porte, não foi possível incluir características macroscópicas utilizadas nos estudos de referência, como vascularização das gônadas. No material analisado não foram encontradas gônadas em repouso ou em recuperação, logo esses estádios reprodutivos não foram incluídos na classificação. Entretanto, devido à facilidade em classificar macroscopicamente fêmeas em maturação inicial e fêmeas em maturação avançada, foi possível adicionar uma nova classe de desenvolvimento ovariano. Por isso, utilizou-se uma escala de maturação constituída por cinco estádios para fêmeas: imaturo (F1), maturação inicial (F2a), maturação avançada (F2b), maduro (F3) e desovado (F4); e quatro estádios para machos: imaturo (M1), maturação (M2), maduro (M3) e espermiado (M4).

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Tabela 2: Descrição morfológica de gônadas das três espécies estudadas, adaptado de Brown-Peterson & Wyanski (2004). Sexo Descrição

Testículos filiformes ou triangulares. Porção posterior aderida ao trato Macho digestório, porção anterior próxima à região dorsal da cavidade celomática. Em álcool, possuem coloração esbranquiçada.

Ovários com ovócitos evidentes, posicionados na região dorsal da Fêmea cavidade celomática. Em álcool, possui coloração de esbranquiçada à amarelada.

Tabela 3: Descrição morfológica de estádios de desenvolvimento ovariano para as três espécies estudadas, adaptado de Vazzoler (1996) e Brown-Peterson et al. (2011). Estádio de Descrição maturação Ovários pequenos, pouco espessos, pálidos e translúcidos, F1 (fêmea imatura) ocupando pequena porção da cavidade celomática. Ovócitos não distinguíveis individualmente a olho nu.

Ovários ocupando 1/3 da cavidade celomática, com grande F2a (fêmea em quantidade de ovócitos pequenos e brancos e alguns poucos, maturação inicial) maiores e amarelados.

Ovários ocupando grande parte da cavidade celomática, F2b (fêmea em com grande quantidade de ovócitos grandes e amarelados e, maturação avançada) em menor quantidade, ovócitos pequenos e brancos.

Ovários túrgidos, preenchendo completamente a cavidade F3 (fêmea madura) celomática, com ovócitos maduros, ou seja, grandes e amarelados com menor aderência aos ovários.

Gônada flácida, preenchendo grande parte da cavidade F4 (fêmea desovada) celomática, com poucos ovócitos maduros, não aderidos aos ovários, em seu interior.

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Tabela 4: Descrição morfológica de estádios do desenvolvimento testicular para as três espécies estudadas, adaptado de Brown-Peterson et al. (2011). Estádio de maturação Descrição

Testículos pequenos, filiformes e pouco espessos, M1 (macho imaturo) ocupando pequena porção da cavidade celomática. Coloração esbranquiçada e translúcida.

Testículos de tamanho mediano, espessos, levemente M2 (macho em maturação) achatados. Coloração esbranquiçada e opaca.

Testículos túrgidos, com conformação triangular evidente. M3 (macho maduro) Coloração esbranquiçada e opaca.

Testículos flácidos e pequenos, com coloração M4 (macho espermiado) esbranquiçada.

Para confirmação dos estádios de maturação e classificação do tipo de desova de cada espécie, foram realizadas análises microscópicas, onde foram observados as células germinativas e os corpos foliculares das gônadas femininas. Para essas análises, as gônadas foram processadas em rotina histológica que consistiu de fixação do material com solução de Bouin, desidratação com álcool, diafanização com clorofórmio e impregnação por parafina. Em seguida, o bloco de parafina sofreu cortes em micrótomo e posterior coloração por hematoxilina-eosina (HE) para, enfim, a lâmina ser observada em microscópio óptico. A classificação histológica de fases de desenvolvimento ovocitário em ovários foi utilizada de acordo com Vazzoler (1996), como demonstrado na tabela 5, com denominação das fases utilizadas em Yamamoto (1956), devido a sua ampla utilização em peixes de água doce (e.g. Agostinho et al., 1987; Takahashi et al., 2008). Outras estruturas importantes utilizadas para identificação microscópica em ovários foram os folículos pós-ovulatórios, originados a partir de folículos vazios (pós-desova) e folículos atrésicos, ou seja, ovócitos não eliminados que sofrem processo de absorção (Vazzoler, 1996). Para a análise microscópica do estádio de maturação dos ovários, foi utilizada a classificação de Vazzoler (1996), como demonstrado na tabela 6, adaptada para incluir o novo estádio de maturação sugerido para as espécies estudadas. Para fêmeas, foi preferida a classificação de acordo com Vazzoler (1996) por sua explicação minuciosa do desenvolvimento ovocitário e ovariano.

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Tabela 5: Descrição histológica das fases de desenvolvimento ovocitário em ovários, de acordo com Vazzoler (1996) e nomenclatura proposta por Yamamoto (1956).

Fase de Denominação Descrição desenvolvimento

Ovócitos com citoplasma escasso e núcleo Fase I Cromatina-nucleolar arredondado. Presentes em ovários imaturos (F1). Ovócitos com citoplasma bem definido com volume maior e núcleo menos Fase II Perinucleolar arredondado. Presentes em todos os estádios de maturidade. Ovócitos com acelerado crescimento citoplasmático e presença de deposição Formação da vesícula Fase III lipídica próximo à membrana celular. vitelínica Presentes em ovários em maturação (F2a e F2b). Ovócitos com deposição de proteínas que empurram os vacúolos para o centro da Fase IV Vitelogênese célula. O núcleo torna-se mais irregular. Presentes em ovários em maturação avançada (F2b). Ovócito com aumento rápido de tamanho, sem vesículas lipídicas, possuindo grande Maduro Fase V quantidade de grãos de vitelo. Presentes em ovários maduros (F3) e prontos para serem eliminados do folículo.

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Tabela 6: Descrição histológica dos estádios de desenvolvimento ovariano, adaptado de Vazzoler (1996). Estádio de Descrição maturação

Presença de ovócitos em cromatina-nucleolar (fase I) e F1 (fêmea imatura) perinucleolar (fase II).

Presença simultânea de ovócitos perinucleolares (fase II) e F2a (fêmea em formação da vesícula vitelínica (fase III), podendo aparecer maturação inicial) ovócitos em vitelogênese (fase IV).

Presença simultânea de ovócitos perinucleolares (fase II), F2b (fêmea em presença da vesícula vitelínica (fase III) e grãos de vitelo maturação avançada) (fase IV), podendo aparecer ovócitos maduros (fase V).

Alta frequência de ovócitos maduros (fase V), com presença F3 (fêmea madura) de ovócitos em todas as outras fases, mas ocupando menos espaço no ovário.

Aspecto desordenado, com espaços vazios entre os ovócitos. Presença de folículos atrésicos e folículos pós-ovulatórios, F4 (fêmea desovada) além de ovócitos perinucleolares (fase II), podendo ainda aparecer ovócitos de fase IV e V.

Para classificação histológica dos estádios reprodutivos dostestículos foram utilizadas as principais fases da espermatogênese: espermatogônia, espermatócito primário, espermatócito secundário e espermatozóide, como orientação para definir os estádios reprodutivos de machos, de acordo com Brown-Peterson et al. (2011). A descrição histológica dos estádios de maturação adaptada na tabela 7 possui alterações realizadas para classificar corretamente as espécies estudadas. Não foi incluído o estádio de maturação de macho espermiado (M4) devido à escassez de gônadas encontradas nesse estádio e à dificuldade em aplicar o processo histológico a elas devido ao seu tamanho diminuto.

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Tabela 7: Descrição morfológica de estádios do desenvolvimento testicular para as três espécies estudadas, adaptado de Brown-Peterson et al. (2011). Estádio de maturação Descrição

M1 (macho imaturo) Presença de grande quantidade de espermatogônias.

Presença de espermatócitos primários e secundários na M2 (macho em maturação) camada germinativa do túbulo seminífero e de espermatozóides na luz do mesmo. Grande quantidade de espermatozóides na luz dos túbulos M3 (macho maduro) seminíferos.

Para a contagem e medição dos ovócitos, ovários maduros foram colocados em eppendorfs de 1,5mL contendo solução de Gilson modificada (Simpson, 1951 apud Vazzoler, 1996) para que ocorresse a dissociação da massa interna dos ovócitos, e facilitar sua dissociação. O eppendorf foi agitado vigorosamente a cada 15 minutos para dissociação total dos ovócitos. Em seguida, os ovócitos foram transferidos para álcool 70% e examinados sob estereomicroscópio para contagem e medição com uma lente ocular micrométrica. Entretanto, posteriormente foi observado que, a dissociação dos ovócitos em formol 10%, durante a primeira semana após a coleta, era suficiente para realizar a contagem e medição dos mesmos sem a necessidade de imersão em solução de Gilson. A fecundidade foi determinada pela contagem de ovócitos em cada classe de tamanho nas duas gônadas em cada fêmea madura.

Análise de dados

Distribuição de classes de tamanho As classes de tamanho para as características de comprimento padrão (CP), peso total (PT), fator de condição e relação gonadossomática (RGS) foram definidas de acordo com o algoritmo de Sturges (e.g.Vieira, 2004): K = 1 + 3,3 x log n onde, K = número de classes e n = tamanho da amostra. E a amplitude dos intervalos das classes foi obtida pela expressão: Δv/K onde, Δv = diferença entre o maior e o menor espécime capturado.

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Foi realizado o teste de Shapiro-Wilk para confirmar a normalidade e o teste de Levene para confirmar a homocedasticidade das características supracitadas nas três espécies, e definir os testes estatísticos utilizados. O nível de significância adotado em todos os testes foi p ≤ 0,05.

Razão sexual A proporção entre os sexos foi determinada através da frequência de fêmeas e machos em relação à quantidade de indivíduos total em todo o ano e separadamente por campanha. Para verificar a existência de diferenças significativas entre a frequência de machos e fêmeas em cada espécie, foi realizado um teste qui-quadrado (χ2) (Wilson & Hardy, 2002).

Dimorfismo sexual Foram analisados possíveis dimorfismos sexuais em relação ao tamanho e razões corporais das espécies, utilizando a medida de comprimento padrão (CP), e as razões de comprimento da cabeça sobre comprimento do corpo (CC/CP), altura do corpo sobre comprimento padrão (Altura/CP) e comprimento padrão sobre comprimento total (CP/CT). Para confirmar a existência de dimorfismo sexual nas espécies, e se há diferença nas características sexuais entre as espécies, foi aplicado uma análise de variância bifatorial (ANOVA two-way) (Gotelli & Ellison, 2011) nas características supracitadas para machos e fêmeas em cada espécie.

Relação peso/comprimento Para avaliar o tipo de crescimento de cada espécie, a relação peso/comprimento foi analisada através da regressão não-linear (Gotelli & Ellison, 2011): y= a × xb onde a representa o coeficiente linear da relação peso-comprimento, e b, o coeficiente angular. O tipo de crescimento do peixe pode ser conferido através do coeficiente angular b, também conhecido como coeficiente de alometria, que representa um indicador da velocidade de inflexão da curva para atingir os valores assintóticos, ou seja, quando o crescimento em comprimento passa a apresentar um incremento irrelevante em relação ao peso (Le Cren, 1951). Os valores de “b” para peixes podem variar entre 2,5 e 4,0, mas geralmente encontram-se em torno de 3,0, representando um crescimento isométrico, isto é, peso e comprimento aumentam proporcionalmente, não ocorrendo alteração em seu formato à medida que o indivíduo cresce. No entanto, quando “b” é menor que 3,0,

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o crescimento é alométrico negativo, ou seja, o incremento maior se dá no peso, e quando “b” é maior que 3,0, o crescimento é alométrico positivo, com o incremento em comprimento mais acentuado que o peso (Le Cren, 1951). Para confirmar se há diferença entre a variação de relação peso/comprimento em machos e fêmeas intra e interespecificamente, foi realizada uma análise de variância bifatorial (ANOVA two- way) a partir dos resíduos proporcionais das espécies. Foi realizado um teste Tukey a posteriori para as comparações entre os resultados encontrados.

Comparação de tamanho corporal e peso Para verificar se houve variações significativas no tamanho corporal (CP) e peso total (PT) nas espécies estudadas ao longo do ano, foi aplicada uma análise de variância (ANOVA) com teste Tukey, como teste paramétrico, e Kruskall-Wallis, como teste não-paramétrico, entre as campanhas para estimar a diferença mínima significante. Foi gerado um box plot para ambas as características nas três espécies para analisar a variação dessas características em cada momento do pulso de inundação.

Fator de Condição O fator de condição é um indicador que reflete condições alimentares recentes dos peixes, dado pela relação entre o peso e o comprimento do indivíduo. Com base no coeficiente alométrico (b) estimado através da relação peso-comprimento, foram calculados os valores do fator de condição (K) para cada indivíduo utilizando a seguinte equação (Le Cren, 1951): K = PT/CPᵇ Para cada espécie foram testados se os períodos de pulso de inundação influenciaram o fator de condição (K) dos indivíduos através de uma análise de variância (ANOVA) com teste Tukey, como teste paramétrico, e Kruskall-Wallis, como teste não-paramétrico, visualizado através de um boxplot.

Período de reprodução Para definir o período reprodutivo das espécies, foi calculada a frequência relativa dos estádios de maturação de machos e fêmeas entre as campanhas, confirmadas através de análise histológica.

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Tamanho de primeira maturação

O tamanho de primeira maturação (L50) foi estimado baseado na distribuição das frequências relativas de adultos machos (M3/M4) e fêmeas (F2b/F3/F4) em classes de comprimento, onde o tamanho de primeira maturação é representado, graficamente, pela classe em que 50% dos indivíduos são maduros (Vazzoler, 1996).

Relação gonadossomática A relação gonadossomática foi calculada como a razão porcentual entre o peso do ovário e o peso total da fêmea, através da fórmula (Vazzoler et al., 1989): RGS = Pg/PT x 100 Onde Pg representa o peso da gônada e PT, o peso total do indivíduo. A relação gonadossomática foi comparada entre as campanhas para as três espécies através de uma análise de variância (ANOVA) com um teste Tukey para comparações múltiplas. Para visualizar a distribuição dos valores de RGS por campanha, foi realizado um gráfico de dispersão.

Fecundidade A fecundidade foi calculada através da contagem direta do número absoluto de ovócitos em cada classe de tamanho (µm) estipulada (fecundidade absoluta), e a quantidade de ovócitos em relação ao peso total do indivíduo (fecundidade relativa). Foram analisados ovários em maturação inicial (F2a), avançada (F2b) e maduros (F3) nas três espécies.

Tipo de desova As lâminas histológicas das gônadas de machos e fêmeas foram utilizadas para analisar a presença de estruturas em cada estádio de maturação, para que se pudesse confirma-los. Essa confirmação histológica foi utilizada para determinar o tipo de desova das espécies.

23

Resultados

Distribuição de classes de tamanho Foi encontrada distribuição normal para todas as características, confirmada através do teste de normalidade Shapiro-Wilk. Entretanto, foi encontrada distribuição homocedástica apenas para as características de comprimento padrão (CP) em N. trifasciatus e N. marginatus; peso total (PT) em N. marginatus; e fator de condição em N. marginatus, confirmado através do teste de Levene (Tabela 8). Para as características consideradas normais e homocedásticas, foi permitida a utilização de testes paramétricos, e para as outras características foram utilizados testes não-paramétricos nas análises.

Tabela 8: Resultado do teste de normalidade de Shapiro-Wilk e de homocedasticidade de Levene com os valores de p para as características de comprimento padrão, peso total, fator de condição e relação gonadossomática para N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata no rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão detacados em negrito. Comprimento Padrão Peso Total (PT) Fator de Condição Relação Gonadossomática (CP) (RGS) Shapiro-Wilk Levene Shapiro-Wilk Levene Shapiro-Wilk Levene Shapiro-Wilk Levene N. trifasciatus 0,93 0,053 0,86 0,043 0,33 0,038 0,12 0,000

N. marginatus 0,84 0,3 0,76 0,82 0,29 0,83 0,1 0,026

C. nigrofasciata 0,83 0,008 0,81 0,000 0,31 0,007 0,08 0,000

Razão sexual A proporção entre machos e fêmeas em cada campanha e no número total ao longo do ano não diferiu de 1:1 (p<0,05), para as três espécies estudadas (Tabela 9).

24

Tabela 9: Número de machos (M) e fêmeas (F) e razão sexual (P) de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata em cada fase do pulso de inundação ao longo do ano de 2010 na bacia do rio Unini (AM).

N. trifasciatus N. marginatus C. nigrofasciata

F M P F M P F M P 1:1 6 9 1:1 22 16 1:1 Enchente 63 43 1:1 0 3 1:1 15 16 1:1 Cheia 8 8 1:1 15 16 1:1 21 18 1:1 Vazante 61 51 1:1 14 18 1:1 16 12 1:1 Estiagem 26 29 1:1 35 46 1:1 74 62 1:1 Total 164 137

Dimorfismo sexual Durante o estudo foram mensurados 399 exemplares de Nannostomus trifasciatus, 105 de N. marginatus e 142 de Copella nigrofasciata, totalizando 646 espécimes. Foram encontradas diferenças significativas entre machos e fêmeas quanto ao comprimento padrão (CP) para C. nigrofasciata, onde machos foram maiores que fêmeas (Fig. 7), e em relação à razão entre altura (ALT) e comprimento padrão (CP) para C. nigrofasciata, onde fêmeas apresentaram um valor superior aos de macho (Fig. 10). Foi encontrada diferença de comprimento padrão (CP) entre as espécies N. trifasciatus e N. marginatus, além de diferenças nessa característica entre N. trifasciatus e indivíduos fêmeas de C. nigrofasciatia, e N. marginatus e indivíduos machos de C. nigrofasciata (Tabela 10). Foram encontradas diferenças entre os valores da razão entre comprimento da cabeça (CC) e comprimento padrão (CP) (Fig. 9 e tabela 11) entre C. nigrofasciata e as outras duas espécies. Além disso, também foi encontrada diferença entre a razão de altura (ALT) e comprimento padrão (CP) entre N. trifasciatus e N. marginatus, e entre essas duas espécies e C. nigrofasciata (Tabela 12). Não foi encontrado diferença significativa na razão de comprimento padrão (CP) e comprimento total (CC) entre os sexos e entre as espécies (Fig. 8).

25

28

27

26

25

24

(mm) 23

CP 22

21

20

19

18

17 NAT NAM CNI Fêmea Macho Espécies

Figura 7: Resultados da ANOVA bifatorial (two-way) (F= 21,454, p= 0,0000) para a medida de comprimento padrão (CP) de machos e fêmeas de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010.

Tabela 10: Valores do teste Tukey referentes à ANOVA (F= 21,454, p= 0,0000), para o comprimento padrão (CP) de machos e fêmeas de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito.

NAT NAM CNI Espécie/Sexo M F M F M F 0,0513 0,00002 0,00002 0,00002 1,000 NAT M 0,00002 0,00002 0,000037 0,2645 0,9999 0,293658 0,00002 F NAM 0,1438 0,00002 M F 0,00002 CNI

26

0,88

0,87

0,86

0,85

0,84

0,83

CP/CT

0,82

0,81

0,80

0,79 Fêmea NAT NAM CNI Macho Espécies

Figura 8: Resultados da ANOVA bifatorial (two-way) (F= 0,07182, p= 0,93071) para a razão entre comprimento padrão (CP) e comprimento total (CT) de machos e fêmeas de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010.

0,29

0,28

0,27

0,26

0,25

0,24

0,23

CP/CC CC/CP 0,22

0,21

0,20

0,19

0,18 Fêmea NAT NAM CNI Macho Espécie

Figura 9: Resultados da ANOVA bifatorial (two-way) (F= 3,0954, p= 0,04611) para a razão entre comprimento da cabeça (CC) e comprimento padrão (CP) de machos e fêmeas de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010.

27

Tabela 11: Valores do teste Tukey referentes à ANOVA (F= 3,0954, p= 0,04611), razão entre comprimento da cabeça (CC) e comprimento padrão (CP) de machos e fêmeas de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito.

NAT NAM CNI Espécie/Sexo M F M F M

F 0,863521 0,089121 0,011229 0,000020 0,000020 NAT M 0,412119 0,133866 0,000020 0,000020 0,999801 0,000020 0,000020 F NAM 0,000020 0,000020 M F 0,238160 CNI

0,23

0,22

0,21

0,20

0,19

CP/ALT ALT/CP

0,18

0,17

0,16 Fêmea NAT NAM CNI Macho Espécie

Figura 10: Resultados da ANOVA bifatorial (two-way) (F= 2,0725, p= 0,12693) para a razão entre altura (ALT) e comprimento padrão (CP) de machos e fêmeas de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010.

28

Tabela 12: Valores do teste Tukey referentes à ANOVA (F= 2,0725, p= 0,12693), razão entre altura (ALT) e comprimento padrão (CP) de machos e fêmeas de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito.

NAT NAM CNI Espécie/Sexo M F M F M

F 0,746587 0,000020 0,000020 0,001668 0,000020 NAT M 0,000020 0,000020 0,092568 0,000020

F 1,000000 0,000020 0,000020 NAM M 0,000020 0,000020 F CNI 0,034329

Relação peso/comprimento Nannostomus trifasciatus apresentou amplitude de comprimento padrão (CP) variando de 14,45 mm, em um macho, a 33,2 mm, em uma fêmea, com média de 25 mm (desvio padrão: ± 4,1) e peso total (PT) variando de 0,036g a 0,537g, ambos em fêmeas, com média de 0,2 g (desvio padrão: ± 0,11). O coeficiente “b” da relação peso/comprimento de N. trifasciatus foi de 3,07, com um R² de 0,95 (Fig. 11), considerado um tipo de crescimento isométrico com leve tendência para um crescimento alométrico positivo, ou seja, ao longo do crescimento do indivíduo, há um pequeno aumento no peso corporal em relação ao tamanho do corpo.

0,6

3,0742 0,5 y = 1E-05x R² = 0,9459 0,4

0,3

Peso (g) Peso 0,2

0,1

0 0 10 20 30 40 Comprimento Padrão (mm) Figura 11: Representação gráfica da relação peso/comprimento de N. trifasciatus na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=399).

29

Nannostomus marginatus, por sua vez, apresentou indivíduos com comprimento padrão (CP) entre 16,44 mm e 24,0 mm, ambos machos, com média de 19,5 mm (desvio padrão: ± 2,0), e peso total (PT) variando de 0,051g a 0,24g, ambos machos, com média de 0,12g (desvio padrão: ± 0,04). A espécie apresentou curva de crescimento menor que a espécie anterior, com um coeficiente “b” igual a 2,86, com um R² igual a 0,81 (Fig. 12). O crescimento dos indivíduos de N. marginatus apresentou crescimento alométrico negativo, ou seja, aumento no comprimento corporal maior do que no peso total do indivíduo ao longo de seu crescimento.

0,7

2,7951 0,6 y = 2E-05x R² = 0,9313 0,5

0,4

0,3 Peso(g)

0,2

0,1

0 0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 Comprimento Padrão (mm)

Figura 12: Representação gráfica da relação peso/comprimento de N. marginatus na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=136).

Por último, Copella nigrofasciata apresentou indivíduos com um mínimo de 15,8 mm, em uma fêmea, até um máximo de 40,5 mm (CP), em um macho, com média de 23,25 mm (desvio padrão: ± 4,9), com peso total (PT) variando de 0,01g a 0,97g, ambos machos, com média de 0,15 g (desvio padrão: ± 0,09). O coeficiente “b” encontrado na relação entre peso e comprimento foi de 2,8, com R² de 0,93, considerado crescimento alométrico negativo, similar ao de N. marginatus (Fig. 13).

30

0,7 2,7998 0,6 y = 2E-05x R² = 0,9304 0,5

0,4

0,3 Peso (g) 0,2

0,1

0 0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 Comprimento Padrão (mm)

Figura 13: Representação gráfica da relação peso/comprimento de C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=142).

Foram encontradas diferenças significativas entre os resíduos proporcionais de N. trifasciatus e C. nigrofasciata, onde, em ambas, fêmeas foram estatisticamente maiores que machos (Fig. 14). Entre as espécies, foi encontrada diferenças significativas entre C. nigrofasciata e as duas outras espécies (Tabela 13).

0,0015

0,0010

0,0005

0,0000

-0,0005

-0,0010

Resíduos ProporcionaisResíduos

-0,0015

-0,0020

-0,0025 Fêmea CNI NAM NAT Macho Espécie

Figura 14: Análise de variância bifatorial (ANOVA two-way) (F= 2,7896, p= 0,06239) da distribuição dos resíduos proporcionais de machos e fêmeas para as espécies N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010.

31

Tabela 13: Valores do teste Tukey referentes à ANOVA (F= 2,7896, p= 0,06239), comparando a distribuição dos resíduos proporcionais da relação peso/comprimento de machos e fêmeas para as espécies N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito.

NAT NAM CNI Espécie/Sexo M F M F M

0,031147 0,844649 0,988751 0,000020 0,000020 F NAT 0,030508 0,076289 0,000025 0,000020 M 0,995385 0,000020 0,000020 F NAM 0,000020 0,000020 M

CNI F 0,000290

Comparação de tamanho corporal e peso Nannostomus trifasciatus apresentou uma distribuição marcada por indivíduos maiores na estação de estiagem e enchente, com os maiores tamanhos encontrados na enchente. Indivíduos pequenos se concentraram na estação cheia, e indivíduos intermediários na estação de vazante (Fig. 15). A análise da distribuição de peso corporal dos indivíduos ao longo do ano apresentou um padrão similar (Fig. 16). O teste Tukey, através da análise de variância (ANOVA) para ambas as características, indicou diferenças significativas entre o tamanho corporal (CP) e peso total (PT) entre todas as estações do pulso de inundação (Tabela 14 e 15).

32

(mm)

Estiagem Campanha

Figura 15: Variação dos valores de comprimento padrão (CP) de N. trifasciatus, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=399).

Tabela 14: Valores do teste Tukey referentes à ANOVA (F= 49,4, p= 0,000), comparando o comprimento padrão (CP) dos indivíduos de N. trifasciatus entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito.

Campanha Cheia Vazante Estiagem

Enchente 0,000008 0,000008 0,045787

Cheia 0,000008 0,000008

Vazante 0,000009

33

(g)

Estiagem Campanha

Figura 16: Variação dos valores de peso total (PT) de N. trifasciatus, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=399).

Tabela 15: Valores do teste de comparações múltiplas referentes ao teste de Kruskal-Wallis (H= 108, p= 0,000), comparando o peso total (PT) dos indivíduos de N. trifasciatus entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito. Campanha Cheia Vazante Estiagem Enchente 0,000000 0,000000 0,005133

Cheia 0,006139 0,000001

Vazante 0,000128

Nannostomus marginatus apresentou maiores valores em comprimento padrão (CP) na enchente e, principalmente, na cheia, enquanto na vazante e na estiagem apresentou menores valores (Fig. 17). O teste Tukey indicou diferenças significativas (p<0,05) entre os valores de comprimento padrão entre enchente e vazante, enchente e estiagem, cheia e vazante e cheia e estiagem (Tabela 16). A análise para peso total dos indivíduos não mostrou diferenças significativas (p<0,05) entre as

34

estações (Fig. 18).

(mm)

Campanha Figura 17: Variação dos valores de comprimento padrão(CP) de N. marginatus, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=105).

Tabela 16: Valores do teste Tukey referentes à ANOVA (F= 6,8, p= 0,0003), comparando o comprimento padrão (CP) dos indivíduos de N. marginatus entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010.Os valores significativos estão destacados em negrito. Campanha Cheia Vazante Estiagem Enchente 0,831009 0,006706 0,002149

Cheia 0,049298 0,037869

Vazante 0,999064

35

(g)

Estiagem Campanha Figura 18: Variação dos valores de peso total (PT) de N. marginatus, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=105).

Copella nigrofasciata apresentou diferenças significativas na distribuição de comprimento padrão (CP) entre a estação de vazante e a estação de enchente (Tabela 17), além de apresentar amplitude maior de comprimento padrão na cheia (Fig. 19). A variação de peso corporal (PT) entre as campanhas apresentou o mesmo padrão (Fig. 20). O teste Tukey indicou diferenças significativasnos valores de peso total entre a campanha de enchente e vazante, e enchente e estiagem (Tabela 18).

36

(mm)

Estiagem Campanha

Figura 19: Variação dos valores de comprimento padrão (CP) de Copella nigrofasciata, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=142).

Tabela 17: Valores do teste de comparações múltiplas referentes ao teste de Kruskal-Wallis (H= 8,08 p= 0,044), comparando o peso total (PT) dos indivíduos de C. nigrofasciata entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito. Campanha Cheia Vazante Estiagem Enchente 0,943329 0,035701 0,339834

Cheia 1,000000 1,000000

Vazante 1,000000

37

Peso (g)

Estiagem Campanha

Figura 20: Variação dos valores de peso total (PT) de Copella nigrofasciata, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=142).

Tabela 88: Valores do teste de comparações múltiplas referentes ao teste de Kruskal-Wallis (H= 11,75, p= 0,083), comparando o peso total (PT) dos indivíduos de C. nigrofasciata entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito. Campanha Cheia Vazante Estiagem Enchente 0,107112 0,005867 0,647133

Cheia 1,000000 1,000000

Vazante 0,891846

Fator de Condição Para N. trifasciatus foi verificado um padrão na distribuição do fator de condição dos indivíduos ao longo do ano similar à distribuição de comprimento padrão (CP) e peso total (PT) por campanha. Ou seja, a estação de vazante apresentou exemplares com maiores valores, enquanto a cheia apresentou os menores valores (Fig. 21). O teste post-hoc indicou diferenças entre a enchente e todos os outros momentos do pulso de inundação (Tabela 19).

38

Fator de FatorCondiçãode

Campanha Figura 21: Variação dos valores de fator de condição de Nannostomus trifasciatus, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=142).

Tabela 19: Valores do teste de comparações múltiplas referentes ao teste de Kruskal-Wallis (H= 16,94, p= 0,0007), comparando o fator de condição dos indivíduos de N. trifasciatus entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010.Os valores significativos estão destacados em negrito. Campanha Cheia Vazante Estiagem Enchente 0,007657 0,042300 0,010546

Cheia 1,000000 0,582667

Vazante 0,855896

Nannostomus marginatus apresentou uma distribuição gradual ascendente ao longo do ano, com valores de fator de condição menores na enchente e, progressivamente maiores nas campanhas seguintes, com máximo na estiagem (Fig. 22). Foram encontradas diferenças significativas (p<0,05), através do teste Tukey, entre a enchente e a vazante, e entre a enchente e a estiagem (Tabela 20). É preciso destacar, no entanto, que na coleta da cheia, havia, apenas três exemplares disponíveis.

39

Fator de FatorCondiçãode

Enchente Cheia Vazante Estiagem Campanha

Figura 227: Análise de variância (ANOVA) (F= 13,68, p= 0,000) do fator de condição de N. marginatus, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=105).

Tabela 209: Valores do teste Tukey referentes à ANOVA (F= 13,68, p= 0,000), comparando o fator de condição dos indivíduos de N. marginatus entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010.Os valores significativos estão destacados em negrito. Campanha Cheia Vazante Estiagem Enchente 0,329521 0,000166 0,000139

Cheia 0,886685 0,549669

Vazante 0,420117

Por fim, para C. nigrofasciata, foi encontrada uma distribuição anual com valores de fator de condição superiores na estiagem, e valores inferiores na cheia e na vazante (Fig. 23 e tabela 21). No período de enchente foi encontrado valores com uma amplitude muito alta.

40

Fator de FatorCondiçãode

Campanha Figura 23: Variação dos valores de fator de condição de Copella nigrofasciata, por momento do pulso de inundação na bacia do rio Unini no ano de 2010 (N=142).

Tabela 21: Valores do teste de comparações múltiplas referentes ao teste de Kruskal-Wallis (H= 13,27, p= 0,041), comparando o fator de condição dos indivíduos de C. nigrofasciata entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010. Os valores significativos estão destacados em negrito. Campanha Cheia Vazante Estiagem Enchente 0,088098 1,000000 1,000000

Cheia 0,700074 0,002636

Vazante 0,185504

Período de reprodução Foram analisados os estádios de maturação gonadal de 524 exemplares, sendo 303 N. trifasciatus, 84 N. marginatus e 137 C. nigrofasciata. A distribuição de estádios de maturação de N. trifasciatus ao longo do ano mostrou que há uma maior frequência de indivíduos maduros (F3 e M3) na época de enchente do rio, além de presença de fêmeas e machos em maturação (F2a/F2b e M2), enquanto na estação cheia há maior predominância de indivíduos imaturos (F1 e M1) e machos espermiados (M4), com alguns indivíduos em maturação (F2b e M2). Na estação de vazante do rio,

41

percebe-se um aumento na quantidade de indivíduos machos em maturação (M2) e indivíduos fêmeas em maturação inicial (F2a), enquanto na estação estiagem, houve um aumento ainda maior de indivíduos machos em maturação, e de fêmeas em maturação avançada (F2b) (Fig. 24).

Campanha Campanha Figura 24: Distribuição da frequência dos estádios de maturação de fêmeas (a) (N=164) e machos (b) (N=137) de N. trifasciatus por campanha na bacia do rio Unini no ano de 2010.

Para N. marginatus foi encontrada uma distribuição de estádios de maturação ao longo do ano com maior concentração de fêmeas em maturação (F2a e F2b) e desovada (F4), e de indivíduos machos imaturos (M1) e em maturação (M2) na estação de enchente; indivíduos machos maduros (M3) na estação cheia; indivíduos fêmeas e machos imaturos (F1 e M1) na vazante; e maior concentração de fêmeas imaturas (F1), em maturação avançada (F2b) e maduras (F3), e machos em maturação (M2) e maduros (M3) na estação estiagem (Fig. 25). Uma característica bem distinta encontrada apenas em indivíduos de N. marginatus foi a presença de gônadas em estádios de maturação discrepantes no mesmo indivíduo como, por exemplo, ovário maduro (F3) e ovário imaturo (F1) (Fig. 26). Essa característica foi encontrada em, aproximadamente, 20% dos indivíduos analisados.

42

Campanha Campanha Figura 825: Distribuição da frequência dos estádios de maturação de fêmeas (a) (N= 35) e machos (b) (N= 46) de N. marginatus por campanha na bacia do rio Unini no ano de 2010.

0 5mm

Figura 926: Imagem de duas gônadas em estádios de maturação distintos (F3 à esquerda; F1 à direita) retiradas do mesmo indivíduo de N. marginatus.

Copella nigrofasciata apresentou grande quantidade de fêmeas e machos imaturos (F1 e M1) e, em menor quantidade, em maturação (F2a/F2b e M2), e poucos indivíduos machos maduros (M3) na estação de enchente. Na estação de cheia foi encontrado um aumento na frequência de indivíduos em maturação (F2a/F2b e M2) e maduros (F3 e M3), além de indivíduos imaturos (F1 e M1) que foram encontrados em menor quantidade. Na estação de vazante foram encontrados indivíduos 43

imaturos (F1 e M1), em maturação (F2a/F2b e M2), e poucas fêmeas maduras (F4) e machos espermiados (M4). Na estação de estiagem foram encontrados fêmeas e machos imaturos (F1 e M1) e em maturação (F2a/F2b e M2) (Fig. 27).

Campanha Campanha Figura 27: Distribuição da frequência dos estádios de maturação de fêmeas (a) (N= 74) e machos (b) (N= 62) de C. nigrofascita por campanha na bacia do rio Unini no ano de 2010.

Tamanho de primeira maturação A menor fêmea madura (F3) em N. trifasciatus apresentou comprimento padrão (CP) de 20 mm, enquanto o tamanho mínimo de maturidade sexual para machos (M3) foi de 19,4 mm. O tamanho de primeira maturação (L50) de indivíduos machos dessa espécie ocorreu na classe de tamanho 5, representada pelo intervalo de comprimento padrão de 21,5mm a 23,5mm (Fig. 28a), enquanto para fêmeas foi durante a classe de tamanho 7, ou seja, entre o intervalo de comprimento padrão de 25,5 mm e 27,5 mm (Fig. 28b).

44

(cm)

(cm)

Figura 28: Comprimento médio de primeira maturação gonadal para machos (a) e fêmeas (b) de N. trifasciatus na bacia do rio Unini no ano de 2010.

Para N. marginatus, verificou-se tamanho mínimo de maturidade sexual para fêmeas (F3) igual a 19,3 mm e para machos, igual a 19,8 mm. O tamanho de primeira maturação (L50) verificado para machos se apresentou na classe de tamanho 3, representada pelo intervalo de comprimento padrão (CP) de 18,3 mm a 19,3 mm (Fig. 29a), enquanto para fêmeas foi verificado L50 na classe de tamanho 4, representado pelo intervalo de comprimentoentre 19,4 mm e 20,4 mm (Fig. 29b).

45

(cm)

(cm)

Figura 29: Comprimento médio de primeira maturação gonadal para machos (a) e fêmeas (b) de N. marginatus na bacia do rio Unini no ano de 2010.

Copella nigrofasciata, por sua vez, apresentou o menor macho maduro (M3) com comprimento padrão de 22 mm, enquanto a menor fêmea madura (F3) apresentou 22,2 mm. O tamanho de primeira maturação para ambos os sexos na classe de comprimento 4, ou seja, entre os comprimentos padrões (CP) 25,1 mm e 28,1 mm (Fig. 30).

46

(cm)

(cm)

Figura 30: Comprimento médio de primeira maturação gonadal para machos (a) e fêmeas (b) de C. nigrofasciata na bacia do rio Unini no ano de 2010.

Relação Gonadossomática Foram pesadas 41 gônadas de ambos os sexos de N. trifasciatus, 38 gônadas de N. marginatus e 73 de C. nigrofasciata. A distribuição de frequências do peso das gônadas foi considerada normal e heterocedástica para as três espécies, possibilitando a aplicação de um teste não paramétrico de Kruskal-Wallis entre as campanhas. Em N. trifasciatus, não foi possível realizar as análises estatísticas necessáris devido à baixa quantidade de gônadas pesadas (H= 0,00, p= 1,00), entretanto pode-se perceber um valor de RGS mais alto na estação de enchente, em relação aos outros momentos do pulso de inundação (Fig. 31).

47

Estiagem Campanha Figura 3110: Dispersão dos valores de relação gonadossomática (RGS) de N. trifasciatus por campanha na bacia do rio Unini no ano de 2010.

Para N. marginatus observa-se uma elevação nos valores de RGS nos períodos de enchente e cheia (Fig. 32), entretanto as diferenças entre os valores médios de RGS não foram significativas (H= 8,9, p= 0,03) ao longo do ano. Para essa espécie foi utilizado como referência o peso das gônadas de machos, devido à ausência de gônadas femininas na estação de cheia.

Estiagem Campanha Figura 3211: Dispersão dos valores de relação gonadossomática (RGS) de N. marginatus por campanha na bacia do rio Unini no ano de 2010.

48

Copella nigrofasciata apresentou, visualmente, um valor de RGS superior na estação da cheia em relação às outras estações, entretanto não foram encontradas diferenças significativas (H= 6,614, p= 0,085) entre as estações do ano (Fig. 33).

Estiagem Campanha Figura 3312: Dispersão dos valores de relação gonadossomática (RGS) de C. nigrofasciata entre as campanhas na bacia do rio Unini no ano de 2010.

Fecundidade Foram contados os ovócitos de sete ovários de N. trifasciatus, seis de N. marginatus e seis de C. nigrofasciata, tanto de fêmeas maduras (F3), quanto de fêmeas em maturação (F2a/F2b). Nannostomus trifasciatus apresentou uma quantidade relativa máxima de 0,858 ovócitos/mg, e uma mínima de 0,483 ovócitos/mg, com uma média de 0,667 ovócitos/mg. Em relação à quantidade absoluta, foi encontrado uma quantidade máxima de ovócitos de 259, uma mínima de 153, e uma média de 206 ovócitos. Os ovócitos foram divididos em três classes de tamanho: classe 1, de 0 µm a 2 µm; classe 2, de 2 µm a 4 µm; e classe 3, de 4 µm a 6 µm. A distribuição de classes de tamanho de ovócitos foi gradual ao longo da maturação da gônada (Fig. 34). Para N. marginatus, as classes de tamanho de ovócitos também foram divididas conforme o padrão estipulado para N. trifasciatus, apresentando uma quantidade relativa máxima de 0,842 ovócitos/mg e uma mínima de 0,373 ovócitos/mg, com uma média de 0,586 ovócitos/mg. Foi encontrado uma quantidade absoluta máxima de 81 ovócitos, uma mínima de 58, e uma média de 58,5. As classes de tamanho estabelecidas foram iguais à da espécie N. trifasciatus (Fig. 35). As gônadas apresentaram grande quantidade de ovócitos da classe de tamanho 1, devido ao fato das

49

gônadas dessa espécie possuírem estádios de maturação distintos no mesmo indivíduo em diversos casos, como mostrado na figura 26.

% %

% Classe de tamanho Classe de tamanho %

% Classe de tamanho % Classe de tamanho

Classe de tamanho Classe de tamanho Figura 34: Frequência de classes de ovócitos (lotes) Figura 35: Frequência de classes de ovócitos (lotes) por por estádio de maturação de indivíduos fêmeas de N. estádio de maturação de indivíduos fêmeas de N. trifasciatus (N= 7) na bacia do rio Unini no ano de marginatus (N= 6) na bacia do rio Unini no ano de 2010. 2010. A legenda indica o intervalo de comprimento do A legenda indica o intervalo de comprimento do diâmetro diâmetro dos ovócitos em cada classe de tamanho. dos ovócitos em cada classe de tamanho.

50

%

% Classe de tamanho

% Classe de tamanho

Classe de tamanho Figura 36: Frequência de classes de ovócitos (lotes) por estádio de maturação de indivíduos fêmeas C. nigrofasciata (N= 6) na bacia do rio Unini no ano de 2010. A legenda indica o intervalo de comprimento do diâmetro dos ovócitos em cada classe de tamanho.

As classes de tamanho de C. nigrofasciata foram padronizados conforme as espécies supracitadas. A quantidade realtiva máxima de ovócitos encontrada em um indivíduo foi de 1,295 ovócitos/mg, e a menor, 0,643 ovócitos/mg, com uma média de 0,886 ovócitos/mg. A quantidade 51

absoluta máxima de ovócitos encontrada em um indivíduo foi de 443 ovócitos, a menor de 163 ovócitos, e uma média de 303 ovócitos. A distribuição das classes de tamanho de ovócitos foi similar à observada em N. trifasciatus, apresentando aumento progressivo nas classes de tamanho dos ovócitos à medida que ocorre o amadurecimento da gônada (Fig. 36).

Tipo de desova As análises histológicas das gônadas confirmaram a classificação macroscópica em todos os casos, tanto para machos quanto para fêmeas. Além disso, a análise histológica demonstrou que as três espécies possuem características microscópicas similares, exceto em fêmeas maduras (F3) e desovadas (F4) de N. marginatus que não puderam ser analisadas devido à fragilidade das gônadas. Os ovários de fêmeas imaturas (F1) apresentaram grande quantidade de ovócitos em fase cromatina- nucleolar (fase I) e de ovócitos em fase perinucleolar (fase II) (Fig. 37). Os ovários de fêmeas em maturação inicial (F2a) apresentaram ovócitos em fase perinucleolar (fase II) e ovócitos em formação da vesícula vitelínica (fase III) (Fig. 38), enquanto os ovários de fêmeas em maturação tardia (F2b) apresentaram, além desses tipos de ovócitos citados, ovócitos em vitelogênese (fase IV) e alguns ovócitos maduros (fase V) (Fig. 39). Em ovários de fêmeas maduras (F3) foram encontrados ovócitos em todas as fases de desenvolvimento supracitadas (fase I-V), com grande quantidade de ovócitos maduros (fase V) (Fig. 40). Ovários de fêmeas desovadas (F4) apresentaram ovócitos em fase perinucleolar (tipo II) e maduros (fase V), além de folículos atrésicos e folículos pós-ovulatórios (Fig. 41).

52

II

II I I

II

Figura 37: Vista de lâmina histológica de seção transversal de ovário de fêmea imatura (F1) de N. marginatus evidenciando ovócitos na fase cromatina-nucleolar (I) e ovócitos na fase perinucleolar (II). Coloração HE. Aumento de 40x.

53

II III

II

III

Figura 38: Vista de lâmina histológica de seção transversal de ovário de fêmea em maturação inicial (F2a) de C. nigrofasciata evidenciando ovócitos na fase perinucleolar (II) e ovócitos em formação da vesícula vitelínica (III) com vacúolos lipídicos (setas). Coloração HE. Aumento de 20x.

54

V II

IV

V II III

III

Figura 39: Vista de lâmina histológica de seção transversal de ovário de fêmea em maturação avançada (F2b) de N.trifasciatus evidenciando ovócitos na fase perniculeolar (II), ovócitos em formação da vesícula vitelínica (III), ovócitos em fase de vitelogênese (IV) e ovócitos maduros (V). Coloração HE. Aumento de 20x.

55

II

III IV II I I

V V

Figura 40: Vista de lâmina histológica de seção transversal de ovário de fêmea madura (F3) de N. trifasciatus evidenciando ovócitos na fase cromatina-nucleolar (I) e ovócitos na fase cromatina-nucleolar (I), ovócitos na fase perniculeolar (II), ovócitos em formação da vesícula vitelínica (III), ovócitos em fase de vitelogênese (IV) e ovócitos maduros (V). Coloração HE. Aumento de 20x.

56

V

II

FA

FA

Figura 41: Vista de lâmina histológica de seção transversal de ovário de fêmea desovada (F4) de N. trifasciatus evidenciando ovócitos fase perinucleolar (II) e maduros (V), folículos atrésicos (FA) e folículos pós- ovulatórios (seta). Coloração HE. Aumento de 20x.

Os testículos de machos imaturos (M1) apresentaram grande quantidade de espermatogônias (Fig. 42), enquanto testículos de machos em maturação (M2) apresentaram espermatócitos primários e secundários, além de espermatozóides na luz dos túbulos seminíferos (Fig. 43). Os testículos de machos maduros (M3) apresentaram grande quantidade de espermatozóides (Fig. 44).

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G

G

G

Figura 42: Vista de lâmina histológica de seção transversal de testículo de macho imaturo (M1) de N. trifasciatus evidenciando espermatogônias (G). Coloração HE. Aumento de 40x.

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C1 Z C2 C2 Z

C1

Figura 43: Vista de lâmina histológica de seção transversal de testículo de macho em maturação (M2) de N. trifasciatus evidenciando espermatozóides (Z) nos túbulos seminíferos e espermatócito primário (C1) e secundário (C2). Coloração HE. Aumento de 20x.

59

Z Z

Figura 44: Vista de lâmina histológica de seção transversal de testículo de macho maduro (M3) de N. trifasciatus evidenciando grande quantidade de espermatozóides (Z). Coloração HE. Aumento de 40x.

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Discussão

O modelo proposto por Winemiller (1989) nos llanos venezuelanos para análises e comparações entre os aspectos reprodutivos em peixes tropicais se mostrou útil em estudos em todo o mundo, em diversos tipos de corpos d’água, sendo o mais utilizado atualmente (e.g. Olden & Kennard, 2010; Espírito-Santo et al., 2013). Na bacia amazônica, entretanto, há poucos estudos utilizando esse modelo (e.g. Correia, 2011), principalmente para peixes de igarapés de terra firme (e.g. Cardoso, 2012). Portanto, o presente estudo, ao aplicar essa metodologia, permite comparar as informações das características reprodutivas em estudos posteriores, além de ampliar o escopo do modelo utilizado. A proporção entre machos e fêmeas não diferiu significativamente de 1:1 ao longo do ano, para as três espécies, evidenciando uma estratégia evolutivamente estável, onde o custo de produção de cada filhote é o mesmo independente do sexo (Maynard Smith, 1972). Desvios na razão sexual de 1:1 podem estar associados a diferenças na intensidade de pressões seletivas diferenciadas em machos e fêmeas, como taxa de predação (e.g. Vazzoler, 1996), podendo também resultar em dimorfismo sexual. Em peixes, a razão sexual e o dimorfismo sexual costumam estar conectados com o comportamento sexual da espécie, representado pelo cuidado parental, competição por parceiro ou pelo comportamento de corte (Kvarnemo & Ahnesjö, 1996; Jirotkul, 1999). Entretanto, o comportamento sexual das espécies dessa família é pouco documentado. Ainda que algumas espécies de lebiasinídeos tenham cuidado parental bem estudado, como Copeina arnoldi (Krekorian & Dunham, 1972), a maior parte das informações para as espécies estudadas provém de literatura para aquaristas (e.g. Sterba, 1973) e necessita de comprovação em ambiente natural. O dimorfismo sexual pode estar relacionado a espécies com fecundidades altas, quando as fêmeas usualmente apresentam maior comprimento corporal que os machos (Parker, 1992); espécies que apresentam seleção sexual, quando machos costumam ser mais influenciados (Roff, 1986); ou pode estar ligado a cuidado parental como tática reprodutiva, com comprimento corporal maior no sexo que defende a prole (Pyron, 1996). Em Characiformes, há predomínio de dimorfismo sexual relacionado a fecundidades altas, com fêmeas apresentando maior tamanho corporal que machos (e.g. Agostinho & Julio Jr., 1999). Entretanto, esse padrão não foi encontrado para as espécies estudadas, além de C. nigrofasciata ter apresentado o padrão oposto, ou seja, machos maiores que fêmeas. Isso pode ser explicado devido à baixa fecundidade das espécies, o que diminuiria a influência na 61

morfologia de fêmeas. Além disso, C. nigrofasciata apresentou diferença entre os sexos na razão de tamanho corporal entre altura e comprimento padrão, com fêmeas apresentando uma razão maior que machos, apresentando por isso, um formato menos fusiforme que machos, confirmado através da análise de peso/comprimento, que será discutido posteriormente. Esses dimorfismos não foram registrados para outras espécies da família Lebiasinidae (e.g. Netto-Ferreira, 2012), além de discordar da literatura voltada à aquariofilia, em que é informado não ocorrer variação morfológica entre machos e fêmeas (e.g. Mills & Vevers, 1989) nesse grupo. Mas Netto-Ferreira (2010) apontou diferenças sexuais nas membranas inter-radiais da nadadeira anal, mais espessas em machos adultos do que em fêmeas, característica não avaliada no presente estudo. Análises mais refinadas para outros atributos tidos como distintos entre machos e fêmeas, como coloração de espécimes vivos e presença de tubérculos nupciais (Wiley & Collete, 1970), deveriam ser feitas, já que estas características dimórficas estão presentes em outras famílias de Characiformes (Lima & Gerhard, 2001). Há poucos registros sobre a variação de tamanho, em ambiente natural, das três espécies estudadas de lebiasinídeos. A amplitude de variação do comprimento padrão de N. trifasciatus verificada na bacia do rio Unini mostrou-se próxima à apresentada por Gil & Martinez (2001) para uma população da espécie na bacia do rio Orinoco e o limite superior de ambos os estudos ultrapassa o registrado por Weitzman & Weitzman (2003), que foi de 33 mm. Para C. nigrofasciata a amplitude de tamanho foi mais estreita que a registrada por Zuchi et al. (2011) para uma população na mesma região (lago Amanã); o valor máximo, entretanto (41,6 mm) é inferior ao comprimento padrão máximo registrado para a espécie por Weitzman & Weitzman (2003), de 45 mm. Para N. marginatus, a literatura registra apenas o valor máximo de 35,0 mm de comprimento total (Weitzman & Weitzman, 2003) superior, portanto, ao registrado para a população da bacia do rio Unini (24,0 mm). Esta é a única espécie, das três estudadas aqui, incluída por Weitzman & Vari (1988) entre as 86 espécies miniaturas listadas para a América do Sul; o assunto será novamente abordado com relação ao tamanho mínimo da maturidade sexual. A relação peso-comprimento é frequentemente utilizada em comparações morfométricas entre populações (Bolger & Connolly, 1989). Foi verificado crescimento isométrico para N. trifasciatus, e crescimento alométrico negativo para N. marginatus e C. nigrofasciata, o que aponta espécies com tendência a um formato de corpo mais alongado. A relação peso-comprimento pode ser influenciada por condições ambientais, sexo e estado de desenvolvimento da espécie (Le Cren, 1951). Embora outros fatores não tenham sido investigados, no presente estudo observou-se que a relação peso-

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comprimento variou entre os sexos em N. trifasciatus e em C. nigrofasciata, com fêmeas com maior valor do que machos, ou seja, possuindo um corpo menos fusiforme. A diferença encontrada entre os valores da relação peso/comprimento entre C. nigrofasciata e as outras duas espécies se refletiu em todas as análises de dimorfismo sexual, onde essa espécie apresentou valores diferentes para todas as características analisadas. O fator de condição reflete as condições alimentares recentes do indivíduo (Vazzoler, 1996). Para N. trifasciatus foi encontrado um maior valor na vazante, enquanto N. marginatus e C. nigrofasciata apresentaram os maiores valores na estiagem. Esses resultados permitem sugerir que a primeira espéciea se beneficia da maior disponibilidade de alimento ocasionada pelo pulso de inundação, enquanto as duas últimas, evidencia a ausência de influência do pulso de inundação na disponibilidade de alimento. Através da distribuição da frequência dos estádios de maturação, é possível sugerir que a reprodução de N. trifasciatus seja sazonal (sensu Winemiller, 1989), ocorrendo durante a enchente na bacia do rio Unini. O suporte para essa conclusão é dado pela frequência de fêmeas e machos maduros na estação estiagem e de enchente, pelos maiores valores de RGS durante a enchente e pelos maiores valores de comprimento padrão e peso dos indivíduos observados nesses momentos do ano. Com a chegada da cheia ocorre uma mudança brusca nesse padrão, no qual passam a predominar indivíduos menores e com menor peso (juvenis). Essa distribuição demonstra amadurecimento gradual dos indivíduos da população ao longo do ano, com sua atividade reprodutiva se concentrando na estação de enchente. Lowe-McConnell (1999) aponta o início da enchente como o pico reprodutivo da maior parte das espécies amazônicas, principalmente Characiformes (Vazzoler & Menezes, 1992) e Siluriformes (Araujo-Lima, 1984). Isso se justifica, pois, nesse período, existe maior disponibilidade de recursos provenientes das margens e floresta alagadas, assim como uma menor pressão de predação, visto que, com o aumento das áreas dos rios e inundação das florestas, há mais abrigo disponível e maior área para os peixes se espalharem (Junk et al., 1989). Especificamente para os lebiasinídeos, esse resultado está de acordo com informações obtidas por Gil & Martinez (2001), que destacam que, na bacia do rio Orinoco, foi encontrada maior frequência de exemplares de N. trifasciatus maduros no início da temporada das chuvas. Em relação ao tamanho de primeira maturação, N. trifasciatus da bacia do rio Unini mostrou- se precoce em relação à população estudada por Gil & Martinez (2001) no rio Orinoco, em que a menor fêmea madura apresentou 27 mm e o menor macho maduro, 29 mm de comprimento padrão,

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enquanto no presente estudo foram encontrados os menores valores de comprimento padrão de 20 mm para fêmea madura, e 19,4 mm para macho maduro. No entanto, a população do rio Orinoco alcançou maiores tamanhos que os da bacia do Unini, o que justificaria sua maturação mais tardia. Nannostomus marginatus apresentou táticas reprodutivas muito distintas das outras espécies, como presença de dois picos reprodutivos, um deles durante a cheia e o outro durante a estiagem. Outro fato destoante das outras duas espécies foi a presença de vários machos e fêmeas com assimetria nas gônadas, na qual uma das gônadas se apresentava imatura, enquanto a outra se apresentava em estádio de maturação avançado. Esse padrão reprodutivo, como fecundidades baixas e repetidos eventos reprodutivos, pode ser explicado pela ausência de previsibilidade no ambiente dessa espécie, favorecendo táticas reprodutivas oportunistas (sensu Winemiller, 1989). A distribuição de comprimento e peso dos indivíduos ao longo do ano não sugere um padrão sazonal preciso, podendo-se propor que N. marginatus, por viver em um ambiente com menor previsibilidade na disponibilidade de recursos, sofre poucas pressões seletivas sazonais. Essa situação permite, à espécie, alocar a energia obtida para reprodução diversas vezes ao longo da vida (Magalhães et al., 2003), o que facilita a colonização de novos ambientes e a sobrevivência da espécie em locais imprevisíveis. Por último, C. nigrofasciata apresentou período reprodutivo único durante a cheia, quando apresentou maior valor de RGS, maior frequência de indivíduos maduros e indivíduos de maior porte. Indivíduos menores (juvenis) ocorreram na vazante, de forma similar ao padrão apresentado por N. trifasciatus, mas com um período reprodutivo iniciado posteriormente. Esse padrão de distribuição de comprimento padrão (CP) entre os momentos de pulso de inundação também foi observado por Zuchi et al. (2011) para a mesma espécie. Entretanto, esse estudo aponta dois picos reprodutivos (enchente e cheia) que não foram observados para a mesma espécie no presente trabalho. Na estrutura da população de C. nigrofasciata destaca-se a alta frequência de juvenis em todos os momentos do pulso de inundação. É interessante ressaltar o fato da espécie ocupar tanto o canal principal dos rios, quanto os igarapés de terra firme. Esse livre trânsito possivelmente dilui a pressão dos filtros ambientais de cada um desses ambientes. Por outro lado, o período reprodutivo limitou-se à estação da cheia. O menor indivíduo reprodutivo apresentou 22 mm de comprimento padrão, ao passo que o valor de L50 se encontra na classe de comprimento de 25 mm a 28 mm, o que pode indicar tratar-se de respostas individuais no recrutamento e, possivelmente, no crescimento dos componentes de uma mesma coorte.

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Nannostomus marginatus apresentou o menor tamanho de primeira maturação entre as espécies estudadas, sendo uma característica reprodutiva tipicamente oportunista, já que espécies com essa estratégia reprodutiva possuem alto investimento de energia em maturação sexual precoce para possibilitar a ocorrência de diversos surtos reprodutivos (Winemiller, 1989). O tamanho mínimo de maturidade sexual verificado para fêmeas (19 mm) é maior que o constatado em Weitzman & Cobb

(1975), no valor de 17 mm. Nannostomus trifasciatus, por sua vez, apresentou L50 superior ao encontrado para N. marginatus, possivelmente por ser a espécie que se encontra, majoritariamente, em rios principais, ou seja, ambientes com alta previsibilidade. Os indivíduos dessa espécie possivelmente precisam investir parte da energia em crescimento corporal para competir por recursos quando escassos na estiagem, alocando energia para reprodução apenas na enchente (Winemiller, 1995). A quantidade absoluta de ovócitos por indivíduo representou uma fecundidade consideravelmente baixa, compatível com uma estratégia de reprodução não migratória. Em N. trifasciatus, com uma média de 206 ovócitos, foi encontrado um valor superior à encontrada em outras espécies do gênero, como em Nannostomus eques e N. unifasciatus, com média de 53 e 90 ovócitos, respectivamente (Queiroz et al., 2008). Nannostomus marginatus apresentou fecundidade similar às essas últimas, com média de 69,5 ovócitos, mas dentre as três espécies do presente estudo, foi a de valor mais baixo. A quantidade relativa de ovócitos diferiu de forma bem similar entre as espécies, com C. nigrofasciata apresentando o maior valor (1,295 ovócitos/mg), seguido de N. trifasciatus (0,667 ovócitos/mg) e, por último, N. marginatus, com (0,586 ovócitos/mg). Essa baixa quantidade de ovócitos em N. marginatus, no entanto, se explica pela assimetria gonadal já comentada, pela qual indivíduos maduros apresentavam apenas uma das gônadas com ovócitos prontos para desova, enquanto a outra permanecia com ovócitos de menor classe de tamanho. Esse padrão pode ser uma característica de estratégia oportunista, encontrado em ambientes com variações imprevisíveis, em que as espécies adaptadas investem pouco em cada fecundação, já que poderão ocorrer outros surtos reprodutivos. A fecundidade média encontrada em C. nigrofasciata, de 303 ovócitos, foi maior que o obtido por Zuchi et al. (2011) no lago Amanã, com fecundidade média de 130 ovócitos. De acordo com Riehl & Baensch (2007), lebiasinídeos possuem fecundação externa, com ovos que podem aderir a plantas ou serem depositados no fundo. A alta frequência relativa de ovócitos na classe de tamanho 1, principalmente na espécie N. marginatus, sugere um acúmulo de ovócitos de reserva, já que esses ovócitos eram referentes ao ovócito tipo I e tipo II da histologia, ou

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seja, ovócitos não vitelogênicos. Os resultados do exame histológico das gônadas trouxeram mais informações para se discutir o tipo de desova das espécies. Exame histológico de tecidos gonadais é o método mais preciso de identificar as classes de desenvolvimento reprodutivo, principalmente de ovários (Barbieri et al., 2006). Entretanto, não há padronização de terminologia na classificação de desenvolvimento ovariano e testicular para teleósteos (Brown-Peterson, 2004). Por isso, o presente trabalho utilizou estudos de revisão de nomenclatura de descrição de desenvolvimento reprodutivo em teleósteos e foram feitas alterações necessárias para identificação nas espécies estudadas. Essas classificações adaptadas podem auxiliar estudos posteriores na identificação do desenvolvimento reprodutivo macroscópico e microscópico de espécies taxonomicamente próximas. O tipo de desova encontrado para N. trifasciatus e C. nigrofasciata pode ser considerado desova total, já que não foram encontradas gônadas semidesovadas (presença simultânea de ovócitos com vesícula vitelínica e folículos pós ovulatórios), confirmado através de análises histológicas. Foi sugerido desova parcelada para Nannostomus marginatus, por apresentar dois picos reprodutivos, baixa fecundidade e presença de grande quantidade relativa de ovócitos de menor tamanho em todos os estádios de maturação. Essa sugestão não pôde ser confirmada histologicamente devido à fragilidade das gônadas maduras e em repouso. Essa hipótese, assim como a notável peculiaridade da assimetria em diversas gônadas de N. marginatus necessita de mais estudos. Assimetria gonadal já foi relatada em algumas espécies de teleósteos, como Mugil planatus (Esper et al., 2000), Coregonus sp. (Bernet et al., 2004), espécies do gênero Oryzias (Hamaguchi, 1996), entre outros (MacGregor, 1968; Kobelkowsky, 2012). Assimetria em estruturas pareadas são sujeitas a influências genéticas e ambientais (Harrod & Griffiths, 2005), podendo ser encontrada em situações de stress ambiental (Sasal & Pampoulie, 2000) ou restrição de espaço abdominal (MacGregor, 1968). Entretanto, a assimetria devido à restrição espacial é característica de ovários maduros, já que estes ocupam um espaço muito maior na cavidade celomática que os testículos maduros. Em N. marginatus, foi encontrada assimetria gonadal tanto em ovários quanto em testículos, sendo improvável que essa característica seja resultado de restrição do espaço abdominal, dado o crescimento relativamente pequeno das gônadas masculinas nas espécies estudadas. Uma vez que a espécie congenérica, N. trifasciatus, não apresenta esse tipo de característica, pode-se inferir que a influência genética seja menor que a influência ambiental para essa idiossincrasia em N. marginatus. Portanto, provavelmente,

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a assimetria gonadal presente na espécie pode representar uma característica decorrente da imprevisibilidade do ambiente de igarapé de terra firme. De acordo com as características encontradas, pode-se diferenciar as espécies em estratégias reprodutivas distintas, com N. marginatus se diferenciando das demais ao apresentar uma estratégia mais próxima ao vértice de estratégia oportunista no contínuo do modelo proposto por Winemiller (1989), com eventos reprodutivos populacionais assincrônicos e fecundidade reduzida. Nannostomus trifasciatus e, em menor escala, C. nigrofasciata, por outro lado, se aproximam do vértice da estratégia sazonal, apresentando períodos reprodutivos e distribuição de tamanho de indivíduos previsível ao longo do ano. Essas diferenças em estratégias reprodutivas podem ser explicadas pela influência direta do pulso de inundação amazônico e a previsibilidade do ambiente em que as espécies vivem, já que o ambiente influencia diretamente as características reprodutivas das espécies (Mazzoni & Iglesias-Rios, 2002). Nannostomus trifasciatus, por ser encontrada, majoritariamente, em rios principais, com alta previsibilidade ao longo do ano, apresentou estratégia reprodutiva tipicamente sazonal, explorando a variação temporal e espacial em qualidade de habitats para aumentar a sobrevivência dos juvenis (Winemiller, 1989). Enquanto N. marginatus, por viver em igarapés de terra firme, com pouca previsibilidade ao longo do ano, apresentou estratégia reprodutiva oportunista, com habilidade de colonizar mesmo sob intensa predação ou variação imprevisível do habitat (Winemiller, 1989). Por último, C. nigrofasciata, por viver em diversos ambientes, com alta e baixa previsibilidade, apresentou características no vértice sazonal-oportunista, mas com tendência ao primeiro vértice devido à época reprodutiva bem definida. Esse compartilhamento de características entre as espécies mostra que há uma forte influência do ambiente na definição das táticas reprodutivas desses organismos. Além disso, demonstrou que diferentes estratégias podem ser selecionadas para o mesmo ambiente (Vogel, 2012).

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Conclusões

 Foi constatado dimorfismo sexual para N. trifasciatus e C. nigrofasciata quanto ao tamanho dos indivíduos, com predominância de fêmeas maiores. Não foi constatado dimorfismo na relação peso-comprimento das três espécies.  Não foram constatadas diferenças na razão sexual das três espécies ao longo do ano. Para N. trifasciatus foram verificados maiores valores de comprimento e peso na enchente e menores valores na cheia, e maiores valores de relação gonadossomática na enchente e menores na vazante. Para N. marginatus, foram registrados maiores valores de comprimento na enchente e menores na vazante, maiores valores de fator de condição na estiagem e menores na enchente, e valores de relação gonadossomática maiores na enchente e menores na vazante. Para C. nigrofasciata foram verificados valores de peso maiores na enchente e menores na vazante, e maiores valores de relação gonadossomática na cheia e menores na enchente.  Para N. trifasciatus foi verificada uma frequência maior de indivíduos maduros na enchente, fecundidade média de 206 ovócitos, desova total e tamanho de primeira maturação para fêmeas entre 19,4 mm e 20,4 mm, e para machos entre 18,3 mm e 19,3 mm. Para N. marginatus, foi obtida frequência maior de indivíduos maduros na cheia e na estiagem, fecundidade média de 69,5 ovócitos, tamanho de primeira maturação para machos e fêmeas entre 19,4 mm e 20,4 mm; o tipo de desova não foi definido. Para C. nigrofasciata, foi constatada maior frequência de indivíduos maduros na cheia, fecundidade média de 303 ovócitos, e tamanho de primeira maturação para machos e fêmeas entre 25,1 mm e 28,1 mm.  As características verificadas para N. trifasciatus sugerem estratégia reprodutiva sazonal, com época reprodutiva na enchente, como provável reflexo da previsibilidade do pulso de inundação. Para C. nigrofasciata foram constatadas características similares à N. trifasciatus, mas com valores com menor amplitude ao longo do ano, tamanho de primeira maturação (L50) menor, e época reprodutiva com ocorrência na enchente. Essas características sugerem uma estratégia reprodutiva entre o contínuo sazonal-oportunista, mas com maior proximidade ao vértice de estratégia sazonal, devido à menor previsibilidade em certos atributos da espécie. Nannostomus marginatus, por sua vez, mostrou-se mais próxima da estratégia oportunista, com características como fecundidade baixa e menor tamanho médio de primeira maturação, características próprias para se manter em ambientes com variações imprevisíveis. As 68

características reprodutivas apresentadas pelas três espécies provavelmente refletem respostas à pressão dos ambientes em que vivem.  A hipótese de que características de história de vida de espécies filogeneticamente próximas que habitam ambientes diferentes seriam distintas foi corroborada pela comparação entre a estratégia de N. trifasciatus e N. marginatus. A hipótese de que espécies filogeneticamente distantes que habitam ambientes similares possuiriam características de história de vida similares foi parcialmente corroborada pela comparação das estratégias de N. trifasciatus com C. nigrofasciata, e de N. marginatus com C. nigrofasciata, com esta última apresentando táticas reprodutivas compartilhadas às duas outras espécies.

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Considerações finais

Neste estudo estão presentes informações inéditas acerca de N. trifasciatus, N. marginatus e C. nigrofasciata, que podem tanto servir de base para futuros estudos, quanto para implementação de ações de manejo para essas espécies, já que, com a falta de conhecimento, um grande número de espécies é explorado economicamente (Queiroz & Crampton, 1999), principalmente no Rio Negro (Prang, 2001), de forma não sustentável. Por isso, informações acerca dos aspectos reprodutivos dessas espécies, que possuem grande potencial comercial, são importantes para evitar a depleção das populações, proteger os novos recrutas, criar métodos para conservação e auxiliar no manejo sustentável das espécies e da região (e.g. Queiroz et al, 2008). Além disso, a classificação e descrição morfológica adaptadas para as gônadas e para os estádios de maturação podem ser úteis em outros estudos de espécies próximas taxonomicamente ou similares morfologicamente, incentivando mais pesquisas em Characiformes de pequeno porte.

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