Trabalhos publicados:

As Desertas - Monografia de um grupo de ilhotas. As Selvagens - Monografia de um grupo de ilhotas. 0 - 2.ª edição — Publicação comemorativa do quadricentenário da cidade. Os alicerces para a história militar da - Conferencias no quartel do R. I 27. Ascendência, naturalidade & mudança de nome de João Fernandes Vieira - Bosquejo histórico. As Migalhas - 2.ª Edição. - Contos e esbocetos. Um ponto de História Pátria - Conferências no quartel do R. I. 27 História Militar da Madeira - Ensaio documentado. Corografia elementar do arquipélago da Madeira - Noções mínimas. Homenagem a João Fernandes Vieira - Discurso na inauguração do seu monumento. Madeira-1801-02; 1807-1814 — Notas e documentos sobre a ocupação inglesa. Santo António de Lisboa bosquejado na Madeira - No VII centenário da sua glória. A Madeira e as Praças de África - Esforço antigo madeirense. As da Madeira - Colecção de monografias. Notícia histórico-militar sobre a Ilha do Porto Santo – Memória apresentada à comissão de História Militar. Ecos da «Maria da Fonte na Madeira» - História Local. Moedas, Selos e Medalhas na Madeira - Elementos para os coleccionadores Os Peixes dos mares da Madeira - Em colaboração com Adolfo Noronha. Fasquias da Madeira – Retalhos locais As aves do arquipélago da Madeira - Indígenas e de passagem

Em 1912, publicamos a «Corografia Elementar do Arquipélago da Madeira» contendo umas ligeiras noções de História e Ciências da Natureza.

A Junta Geral Autónoma do Distrito do Funchal, julgando útil esse conhecimento, dirigiu-nos um ofício, ao qual, de bom grado e desinteressadamente acedemos, autorizando uma segunda edição da nossa corografia, que sofreu as modificações julgadas necessárias para a sua actualização, e vai acrescida de alguns mapas representativos do grupo das nossas ilhas.

1.ª Parte - Corografia Histórico-Política

Descoberta. — Em 1418, ofereceram-se ao infante D. Henrique para dobrarem o cabo Não, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz, que depois de longa tormenta e perdido o rumo da viajem, depararam com uma pequena ilha, a que puseram o nome de Porto Santo, por lhes ter servido de porto de salvação.

Voltando ao reino a dar conta de tamanho sucesso, empreenderam de novo a derrota no ano imediato. Chegaram, ao Porto Santo e seguiram depois, para sudoeste, a desvendar umas brumas que dali se avistavam e eram formadas por uma nova terra, toda coberta de arvoredo, a que puseram o nome de Madeira, descoberta no dia 2 de Julho de 1419.

Estas ilhas eram despovoadas e sem indício de terem sido anteriormente habitadas. Só depois de 1420, é que o infante D. Henrique empreendeu a colonização das primeiras descobertas.

Capitanias. — D. Henrique doou a ilha do Porto Santo, a um fidalgo de sua casa, Bartolomeu Perestrelo, e dividiu a Madeira entre os descobridores. A parte oeste desta ilha, entre a Ponta da Oliveira e a Ponta do Tristão, formou a capitania do Funchal, doada a João Gonçalves Zarco, e a parte leste, a capitania de Machico, doada a Tristão Vaz. A ilha do Porto Santo formou uma só capitania.

A sucessão dos donatários era por hereditariedade varonil. Enfraquecido o seu poder pela criação dos municípios e abatido no domínio filipino, em que uma autoridade superior de nomeação régia superintendia em todo o ar- quipélago, foi de todo extinto no tempo de D. Maria I.

Municípios e Vilas. — Na sede das capitanias foram instituídos os municípios. Do Funchal, foram separados os da Ponta do Sol em 1501, de Machico em 1502, o de Santa Cruz em 1515, sendo estes lugares erectos, em vilas com seu foral.

O lugar de S. Vicente, ao norte da Madeira, só foi elevado a vila em 1745 e o de Ribeira Brava em 1928. Com a divisão concelhia, em cada cabeça de concelho há uma câmara municipal.

Cidade. A vila do Funchal foi elevada à categoria de cidade por D. Manuel I, em 1508, pela sua importância crescente, e é a única do arquipélago. Tem por armas cinco pães de açúcar, em campo verde, dispostos como as quinas portuguesas. Ornavam o escudo duas plantas de cana-de-açúcar, sendo depois uma delas trocada por um ramo de vinha com cachos.

Povoação. Os primeiros povoadores da Madeira e Porto Santo foram fidalgos e gente de , especialmente do Algarve; estrangeiros, uns nobres outros mercadores, a quem o infante e depois os donatários concederam terras que foram trabalhadas por escravos negros, mouros, e das ilhas Canárias. Nas fazendas povoadas surgiram as capelas e morgadios. As principais capelas foram sede das freguesias, e as terras de vínculo, quase abandonadas pelos morgados, passaram a ser exploradas pelos colonos livres, mediante um contrato chamado de colónia.

Clero. O governo espiritual do arquipélago foi dado por D. João I à Ordem de Cristo, tendo os gerais desta Ordem a sua jurisdição até o reinado de D. Manuel I, em que os bens do Mestrado foram incorporados à coroa.

Em 1514, por bula do papa Leão X, foi criado o bispado do Funchal, que tinha jurisdição sobre todas as descobertas e conquistas. A instâncias de D. João III, foi elevado a arcebispado, tendo por sufragâneas as dioceses de Angra, Cabo Verde, S. Tomé e Goa. No mesmo reinado voltou a bispado, pelos grandes inconvenientes de superintender em tão vastos domínios.

Organização eclesiástica. O arquipélago da Madeira forma um bispado ou diocese sufragânea do patriarcado de Lisboa, e está dividido em 50 paróquias.

Organização administrativa. A Madeira e Porto Santo constituíram uma província ultramarina até 1771, em que as ilhas entraram no número de províncias do reino, e em 1834 tomaram o nome de ilhas adjacentes, ficando o arquipélago da Madeira dividido em 7 concelhos: — Funchal, Santa Cruz, Machico, S. Vicente, Calheta, Ponta do Sol e Porto Santo.

Em 1835, foram criados mais três: Câmara de Lobos, Porto do Moniz e Santana, e em 1914, o da Ribeira Brava. Constitui um só distrito, dividido em onze concelhos.

O concelho do Funchal está dividido em 9 freguesias: 4 urbanas - é, Santa Maria Maior, S. Pedro e Santa Luzia; e 5 suburbanas - Santo António, S. Marimbo, N.ª S.ª do Monte, S. Roque e S. Gonçalo. Pertencem-lhe também as Ilhas Desertas e Selvagens.

O concelho de Câmara de Lobos, 4: Câmara de Lobos, Estreito de Câmara de Lobos, Quinta Grande e Curral das Freiras.

O concelho da Ribeira Brava, 4: Ribeira Brava, Campanário, Serra de Agua e Tábua.

O concelho de Ponta do Sol, 3: Ponta do Sol, Madalena do Mar e Canhas. O concelho da Calheta, 8: Calheta, Arco da Calheta, Estreito da Calheta, Prazeres, Paul do Mar, Jardim do Mar, Fajã da Ovelha e Ponta do Pargo.

O concelho do , 4: Porto Moniz, Achadas da Cruz, Ribeira da Janela e .

O concelho de S. Vicente, 3: S. Vicente, Ponta Delgada e Boa Ventura.

O concelho de Santana, 5: Santana, S. Jorge, Arco de S. Jorge, Faial e S. Roque do Faial.

O concelho de Machico, 3 freguesias e parte de outras 2: Machico, Caniçal, Porto da Cruz, Santo António da Serra (parte), e Agua de Pena (parte).

O concelho de Santa Cruz, 4 freguesias e parte de outras 2: Santa Cruz, Gaula, Caniço, Camacha, Santo António da Serra (parte), e Agua de Pena (parte).

O concelho do Porto Santo constitui uma só : Porto Santo.

O distrito do Funchal teve uma Junta Geral de administração formada pelos procuradores dos concelhos de 1837 a 1886. Em 1901, com a autonomia administrativa, foi novamente criada a Junta Geral do Distrito.

Actualmente, há em cada distrito um governador civil; nos concelhos, um administrador; e nas paróquias, um regedor.

Organização judicial. Os donatários, por si, ou pelos seus ouvidores, administravam justiça nas suas capitanias, segundo as Ordenações do Reino. Nos municípios presidia um juiz ordinário e os seus despachos tinham apelação para o corregedor. No Funchal presidia à câmara, um juiz de fora.

Segundo as diferentes legislações, foram criados vários magistrados e juntas de justiça.

Da comarca do Funchal (1/ classe) acham-se separadas as de Santa Cruz, Ponta do Sol e o julgado municipal de S. Vicente.

Pertencem à comarca do Funchal, a freguesia do Campanário, os concelhos do Porto Santo, Funchal, Câmara de Lobos e Santana, exceptuando a freguesia de S. Roque do Faial. Pertencem à comarca de Santa Cruz, os concelhos de Machico e Santa Cruz e mais a freguesia de S. Roque do Faial.

Pertencem à comarca de Ponta do Sol, os concelhos de Ponta do Sol, Calheta, Porto Moniz, S. Vicente e Ribeira Brava, menos a freguesia do Campanário.

Na sede do distrito há um juízo, subdividido em duas varas, com competência criminal, cível e comercial, e um Tribunal do Trabalho.

A Madeira faz parte do distrito judicial da Relação de Lisboa.

Organização Militar. Os donatários eram os chefes da gente de guerra — besteiros e espingardeiros — defendendo as suas capitanias con- tra o ataque dos inimigos e corsários. O principal morador de cada povoação tinha o nome de capitão-cabo e dirigia a defesa local. Em 1515, vieram de Portugal os primeiros bombardeiros, dirigidos por um condestável, tendo a seu cargo a artilharia.

A primeira organização dum exército nacional aparece com as ordenanças da Madeira, em 1559, adaptadas às condições topográficas do arquipélago. Todos tinham obrigação de ter armas, conforme a sua condição. D. Sebas- tião organizou as vigias, sistema militar e fiscal com o fim de vigiar as costas marítimas, de que ninguém era isento. Durante o domínio filipino foi o arquipélago ocupado por destacamentos de forças castelhanas.

Depois da Restauração de Portugal, foi criada a tropa de soldo. Em 1641, foi organizada no Funchal uma companhia paga de 100 homens. As tropas auxiliares guarneciam as fortalezas.

Na organização militar de 1784, foram criados três terços auxiliares, convertidos depois em regimentos de milícias, com as suas sedes no Funchal, Calheta e S. Vicente. As ordenanças ou tropas de 3.ª linha foram divididas em 14 capitanias-móres. De 1801 a 1802 e de 1807 a 1814, o arquipélago foi ocupado por tropas inglesas. Em 1834, foram extintas as milícias e as ordenanças. Contingentes de diferentes corpos foram periodicamente destacados para a Madeira. Em 1863, foi criado o batalhão de caçadores 12, com quartel no Funchal. As forças de infantaria constituíram um regimento e actual mente um batalhão independente.

Comando Militar da Madeira. A autoridade militar foi separada da autoridade administrativa em 1835, e tomou os nomes de governador militar e comandante militar.

Estão subordinados ao comando militar da Madeira o batalhão de infantaria, o distrito de recrutamento e reserva, bateria de artilharia e uma secção de reformados.

Fortificações. As primeiras fortificações na Madeira foram feitas no reinado de Manuel I, depois de incorporada à coroa, a Ordem de Cristo. Iniciaram-se os muros de defesa da cidade do Funchal, dominados por um torreão e baluarte.

Depois do saque dos corsários era 1566, que desembarcaram na Praia Formosa e atacaram a cidade pelos lados de norte e leste, foram melhorados os muros de defesa com uma estância em N.ª S.ª do Calhau, apoio leste das muralhas.

A costa entre o Funchal e Câmara de Lobos estava guarnecida com pequenos fortes. No domínio filipino foram ultimados os muros da cidade e iniciadas as fortalezas de S. Tiago e S. João do Pico, os fortes de S. Felipe e Penha de França, no Funchal; S. Roque, em Machico; e o do Pico, no Porto Santo.

Depois da Restauração foi construído o reduto de Santo António da Alfândega, saliente na cinta das muralhas da cidade, e a fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, sobre um ilhéu a oeste da baía.

As muralhas da cidade tinham 7 portões, sendo o principal, o dos Varadouros.

Alfândegas. O primitivo sistema de arrecadação dos direitos foi por meio de arrendamento. Tiveram alfândega, Funchal, Machico, Porto Santo e Santa Cruz; e pequenas estações fiscais, denominadas calhetas, foram estabelecidas em Câmara de Lobos, Ribeira Brava, Ponta do Sol, Madalena e Calheta.

D. Manuel I mandou fazer a alfândega grande do Funchal e só por ela poderia ser despachado o açúcar. Pelas diferentes reformas, ficou subsistindo apenas a alfândega da cidade.

O serviço fiscal interno e externo era desempenhado por guardas da alfândega, hoje confiado à guarda-fiscal, e a fiscalização marítima competia ao alcaide do mar.

A alfândega do Funchal, pela sua importância, ocupa o terceiro lugar nas alfândegas portuguesas e o seu rendimento é superior ao das três alfândegas dos Açores.

A importação é de cereais, tecidos de algodão, linho e lã, gasolina, petróleo, azeite, sal, géneros de mercearia e botequim, cortiça, aduela, vidros, louça, telha, material mecânico e obra de cutelaria, etc.

A exportação principal consiste em bordados, vinho, açúcar, obras de vimes, frutas, cebola, manteiga, vaginha (vagens verdes de feijão), ovos, trabalhos de embutidos, etc.

Organização fiscal. Os negócios fiscais estiveram a cargo de diferentes entidades que tinham o nome de contador, procurador e pro- vedor. Houve depois um depositário geral e ainda uma Junta da Real Fazenda.

As repartições de fazenda distritais e concelhias funcionaram sob a direcção do governador civil e do administrador do concelho até 1849, sendo depois respectivamente dirigidas pelos delegados do tesouro e escrivães de fazenda.

Pela actual organização, em cada distrito há um director de finanças e em cada concelho, um chefe de repartição de finanças.

Guarda-fiscal. Para a fiscalização marítima e terrestre há no Funchal uma companhia da guarda-fiscal, subordinada ao Ministério das Finanças.

Capitania do porto. Compete-lhe a polícia marítima, o estabelecimento do fundeadouro dos navios, a matrícula das embarcações de tráfego, barcos de pesca, etc. e superintende no litoral marítimo.

Junta Autónoma das Obras do Porto do Funchal. Criada em 1913, para melhoramento do cais e execução do porto de abrigo.

Comando Distrital de Polícia e Segurança Pública do Funchal. Abrange todo o distrito. Actualmente compete ao seu comandante as funções de administrador do concelho do Funchal.

Além da polícia distrital de segurança pública, existe a polícia repressiva de emigração clandestina.

Agricultura. As culturas principais são a cana-de-açúcar e a vinha, por mais produtivas e remuneradoras. Produz também cereais, legumes, batatas, hortaliças, etc. A cultura dos cereais é demasiado pequena, sendo importado mais do dobro da produção para o consumo.

A configuração do terreno e o suporte das terras em pequenos tabuleiros nas encostas, não permitem o arado, e a cava é feita a braço, com a enxada. O aspecto da vegetação é um dos mais pitorescos: num solo fértil, protegido por um clima temperado, brotam e desenvolvem-se plantas de mui diferentes regiões. As terras são na maior parte de regadio. Os terrenos marginais das ribeiras e lugares encharcados produzem o inhame. As hortaliças e a fruta aparecem em pouca abundância no mercado. As encostas que não são de regadio produzem o pinheiro, cuja principal aplicação é para combustível.

Contrato de colónia. Este regime de propriedade em parceria agrícola nasceu do desprezo dos morgados pelas suas terras, dando-as a trabalhar aos colonos livres, com a condição de partirem entre si os produtos. O dono do terreno chamou-se senhorio e o trabalhador caseiro, a quem pertencem as bemfeitorias urbanas e rústicas. O contrato de colónia vária conforme a maior ou menor fertilidade do terreno e conforme os costumes locais radicados de longa data. O colono não pode edificar casa nem palheiro sem licença do senhorio. Em muitas terras o senhorio é também o dono das bemfeitorias.

Levadas. São canais que conduzem a água para a irrigação das terras de lavoura, sendo nalgumas de passagem nos povoados, aproveitada a sua força motriz para as azenhas. As primitivas levadas foram feitas para regar os canaviais de açúcar, estendendo-se depois à agricultura em geral.

Heréo era o antigo nome do colono das terras regadias e designa actualmente o proprietário ou societário de qualquer porção de água duma levada.

Serviço agrícola. Compreende os serviços agronómicos, pecuários e florestais do distrito.

Os serviços agronómicos, — desenvolvimento, e aperfeiçoamento da agricultura — estão a cargo do agronomo.

Os serviços pecuários, — criação e desenvolvimento dos gados e serviços médicos inerentes — estão a cargo do intendente de pecuária.

Os serviços florestais — arborização das serras e conservação das matas — estão a cargo do agrónomo. Os serviços da antiga Junta Agrícola da Madeira (1911 a 1919) passaram a cargo da Junta Geral do Distrito.

Serviços sanitários. Na sede do distrito há um inspector de saúde e em cada concelho um delegado de saúde.

Os serviços de sanidade marítima estão confiados a um inspector de sanidade marítima e um guarda-mór de saúde.

Obras públicas. Estão a cargo da Junta Geral e das Câmaras Municipais. Pertencem à Junta Geral as estradas nacionais, os edifícios do Estado, levadas da Junta, portos de pequena cabotagem etc.

Pertencem ás Câmaras Municipais as estradas concelhias, arruamento das povoações, serviço de iluminação e prover a habitação dos professores primários etc.

Comércio. Logo depois da povoação o primeiro comércio foi de e produtos vegetais, uns de aplicação na medicina, outros na indústria da tinturaria e corrimento: funcho, pastel, sangue-de-drago, urzela, sumagre.

Tendo o infante D. Henrique mandado introduzir as canas da ilha Sicília e bacelos da ilha de Cândia, iniciou-se o comércio do açúcar e do vinho.

O Funchal foi o centro de todo o movimento comercial das descobertas e o porto obrigado dos navios de África e da índia, até aonde se estendia a jurisdição eclesiástica do arcebispado.

O comércio das madeiras foi muito importante no século XV: tábuas, traves, mastros, — serrados em engenhos ou serras de agua — empregados especialmente nas construções navais.

O comércio do açúcar atingiu o seu auge no século XVI, sendo suplantado pela concorrência da América.

O comércio do vinho levantou-se da queda do açúcar e mais o favoreceu a íntima aliança entre Portugal e a Inglaterra, sendo esta nação o seu melhor mercado de consumo.

Nos meados do século XIX, a vinha caiu em quase total destruição, dando ressurgimento à cana-de-açúcar de novas castas que avassala os terrenos cultiváveis. Debelado o mal da vinha, são estes dois produtos as fontes principais de riqueza, mormente pelos direitos da Alfândega que afastam do mercado o açúcar estrangeiro.

O comércio interno é, em regra, a retalho; por grosso, é feito entre a cidade e os pequenos centros — vilas e lugares — para a revenda dos géneros de primeira necessidade. O comércio externo consiste na exportação dos produtos da sua indústria, na importação, fornecimento aos vapores no porto do Funchal.

Indústria. Os moinhos de cereais e fornos públicos só os donatários os podiam ter. O exclusivo de algumas indústrias, como saboaria, preparo de tintas, óleo de baga de louro, foi dado como merco a certos fidalgos.

O fabrico do açúcar, apesar dos pesados tributos de que era sobrecarregado, atingiu enormes proporções, dando origem à confeitaria e conserva de frutos.

As pequenas indústrias, como sejam as de curtumes e tecidos de lã e linho, são primitivas e fornecem em parte o calçado e vestuário para a gente do campo.

Há fábricas de açúcar e aguardente, cerveja, bebidas gasosas; moagens, massas alimentícias, pão, manteiga, queijo, conservas; fundição, serragem, fornos de cal, telha, ladrilhos, mosaicos e tubos de cimento, olarias; velas, sabão; chapéus de palha; tabaco, etc. A indústria dos bordados e obras de vimes é de grande exportação.

Instrução. Primitivamente esteve a instrução pública a cargo do clero e professores particulares. - O primeiro mestre-escola ensinava na Sé, no reinado de D. Manuel I.

No tempo de D. Sebastião, foi fundado o Seminário, onde havia um professor de gramática, e os Jesuítas ensinavam no seu Colégio, latim e retórica, nas aulas do pátio.

Em 1772, foram criadas as primeiras escolas públicas a cargo do Estado. Houve depois um curso de geometria e desenho para os militares e uma aula de francês e inglês para os seculares. A Escola Médico-Cirúrgica do Funchal foi estabelecida em 1836 e terminou em 1910.

A Escola Normal para habilitação ao magistério primário (1900 a 1919) passou a Escola Primária Superior e foi extinta.

O Liceu Nacional foi criado em 1836 e tem a categoria de Central. E misto e denominado «Jaime Moniz».

Além do curso geral (5. ° ano) tem os cursos complementares de letras e ciências, que habilitam aos cursos superiores.

A Escola Industrial António Augusto de Aguiar foi convertida em Escola Industrial e Comercial, em 1925, com quatro cursos industriais— serralharia, mecânica, marcenaria, embutidos, costura e bordados — e um curso complementar de comércio. A instrução primária, distribuída pelas escolas, em quase todas as freguesias, está subordinada a um Círculo Escolar, com o respectivo inspector.

População. Nos primeiros tempos o incremento da população teve várias oscilações, dependentes em especial do socorro de gente ás praças de África, epidemias e assalto dos corsários ás povoações, ficando por duas vezes o Porto Santo quasi despovoado.

Uma ideia da sua evolução é assim expressa no começo dos séculos: Ano 1500 15.000 habitantes » 1600 30.000 » » 1700 50.000 » » 1800 90.000 » » 1900 150.000 »

Pelo censo da população de 1930, a ilha da Madeira tem 209.111 habitantes e a ilha do Porto Santo 2.490.

A população dos concelhos é a seguinte: Funchal 68.003 almas Santa Cruz 24.707 » Calheta 21.960 » Câmara de Lobos 21.814 » Machico 17.463 » Ribeira Brava 16.343 » Ponta do Sol 13.190 » Santana 10.910 » S.Vicente 9.663 » Porto Moniz 5.058 » Porto Santo 2.490 » Total: 211.601

Superfície das duas ilhas, em quilómetros quadrados:

Ilha da Madeira...... 740,62 » do Porto Santo...... 42,17

Procuradores e Deputados. Os senados enviavam antigamente procuradores à Corte para tratarem de assuntos de interesse para as Câmaras, sobre o pagamento de impostos, regalias, fortificação, etc.

D. João IV deu representante permanente em Cortes à Madeira, com assento na primeira bancada, por ter sido a primeira colónia que o reconheceu, sendo o Senado do Funchal quem elegia esse deputado.

Depois do estabelecimento do governo representativo, os deputados eleitos pela Madeira têm variado conforme as legislaturas.

Em face da actual Constituição, existem duas Câmaras:

— a Assembleia Nacional, constituída por noventa deputados eleitos pela Nação. — a Câmara Corporativa, formada pelos representantes dos diferentes interesses profissionais e corporativos. Os municípios da Madeira e Porto Santo elegem um deputado à Câmara Corporativa.

2.ª Parte - Histórico-Natural - Zoologia

Mamíferos. Apenas se encontravam na Madeira, quando foi descobertas, a foca e o morcego. Vertebrados introduzidos — o boi, a cabra, o cão, o carneiro, o cavalo, o coelho, o gato, o porco e o rato. Todos estes animais adquiriram menor corpulência e outros característicos devido ao meio, como por exemplo: o coelho do Porto Santo, a cabra das Desertas, etc. No mar, encontram-se de passagem os seguintes cetáceos: baleia, boca de panela, boto e tuninha.

Aves. No arquipélago da Madeira têm sido observadas mais de 200 espécies de aves, 41 das quais fazem ninho na região, aparecendo as outras em épocas determinadas ou acidentalmente de arribação.

Aves de rapina. — Coruja, francêlho, gavião e manta.

Pássaros. — Andorinha-do-mar, andorinha da serra, bisbis, canário, cigarrinho, correcaminho, lavandeira, melro preto, papinho, poupa, pardal, pardal espanhol, pintarroxo, pintassilgo, tentilhão, tutinegra e lutinegra de papo branco. Columbídeos. — pombo claro, pombo negro da serra e pombo da rocha. Galináceos. — codorniz, perdiz; havendo antigamente lambem pavão, faisão e galinha da Guiné, no estado selvático. Pernallas. — galinhola e rolinha da praia. Palmtpedes. — anjinho, boieiro ou patagarro, cagarra, calcamar, freira, gaivota, garajau, pardau, pintainho e roque-de-castro. São peculiares à Madeira o bisbis, o tentilhão e o pombo negro da serra. Galinhas, gansos, patos, perus, etc. são aves domésticas introduzidas.

Répteis. — a lagartixa, a osga da Selvagem, a tartaruga. Batráquios. — a rã dos charcos e a rãsinha das árvores. Peixes. — Os mares da Madeira são abundantes de variado peixe, contando-se para cima de 300 espécies.

São sedentários: abrótea, alfonsim, badejo, besugo, bicuda, boca-negra, bodião, boga, boqueirão, caneja, cão, carneiro, castanheta, cherne, choupa, coelho, congro, dobrada, escolar, freira, galo, garoupa, goraz, guelro, mero, morêa, pargo, pescada, requème, salema, salmonete, sargo, seifia, solha, tainha, trombeta, etc.

Das grandes profundidades: a espada e alguns dos chamados peixes de azeite. São migratórios: agulha, anchova, arenque, atum, cavala, chicharro, dourado, enchareu, gaiado, romeiro, sardinha, etc. Nas poças das ribeiras encontra-se o eiró. Da profusão enorme dos invertebrados (mais de 3.000) têm merecido especialmente a atenção dos naturalistas, os seguintes grupos: Moluscos, (de corpo mole)

Terrestres. Mais de 300: — caracóis, lesmas etc.

Marinhos. Mais de 400: choco, lula, polvo, etc; búzios, caramujos, lapas, etc. Artrópodes (de corpo dividido em segmentos moveis). Insectos. Cerca de 2.000: — Carocha, rãrã, joaninha, etc. tendo um estojo com asas; — Abelha, formiga, vespa, etc., com asas membranosas; — Moscas, varejas, etc., com duas asas; — Borboletas, borboletão, a caveira, a traça, etc., de asas escamosas; — O tira-olhos, etc. de quatro asas rendadas de nervuras; — Grilos, baratas, cigarros etc., com asas cruzadas ou sem elas; — Percevejo, pulgão, cochonilha, bicho frade, etc., que são sugadores. Miriápodes (com grande numero de patas) conhecem-se mais de 10: centopeia, vaquinha ou bicho da frieza, etc. Aracnídeos (com 8 patas). Estão estudados mais de 100. A maior aranha existe na Deserta Grande. A mordedura da aranha preta do Porto Santo é bastante venenosa. Uma das aranhas conhecidas é impropriamente chamada tarântula. Crustáceos (geralmente com 10 patas) terrestres mais de 20: bicho-conta (14 patas) etc. Marinhos: mais de 250: camarão, caranguejo, caranguejola, craca, lagosta, etc. Vermes (de corpo mole e anéis semelhantes) mais de 50: Terrestres minhoca, etc.; De agua doce: sanguessuga, etc. Marinhos: minhoca do mar, etc. Equino dermes (de esqueleto calcário com picos) ouriços, estrelas-do-mar, etc.

Flora

A flora primitiva do arquipélago, de que se encontram vestígios em algumas camadas fósseis, manteve-se sob o nosso clima, e esses vegetais, em grande parte, se encontram actualmente.

Um grande número, porém, de espécies, sendo comuns à Europa e América e, ainda algumas ao continente africano, foram primitivamente introduzidas, propositada ou acidentalmente, e encontrando um meio próprio ao seu desenvolvimento, se naturalizaram rapidamente. Na Madeira podem ser estabelecidas quatro zonas de vegetação: litoral, meia encosta, serra, e altitudes, todas elas definidas por várias plantas que as caracterizam.

Pela natureza especial do Porto Santo e seu pouco relevo, a vegetação desta ilha não apresenta a opulência da Madeira e a sua divisão em três zonas não é perfeitamente distinta.

Nas Desertas e Selvagens, quase despidas de espécies arbustivas, apenas se pode considerar a zona inferior ou próxima ao mar, e a superior, mais afastada. Existem no arquipélago da Madeira, mais de 900 fanerogâmicas (plantas com flores e frutos) indígenas ou aparentemente indígenas, sendo 200 o número aproximado, das que se acham bem naturalizadas. Das angiospérmicas (plantas com sementes fechadas num ovário) umas são dicotiledóneas (plantas com 2 cotilédones ou folhas primordiais) e outras monócotiledóneas (plantas com 1 cotilédone). Fetos, musgos, cogumelos, algas, etc. são plantas que não dão flor.

As principais árvores e arbustos indígenas são: aderno pau branco alindres perado azevinho piôrno barbusàno sabugueiro cedro sanguinho codêço seixo dragoeiro teixo faia til folhado tintureira fuste te tramazeira ginjeira brava urze durázia loureiro urze molar marmulano uveira mocàno vinhático murta zimbreiro oliveira

As únicas árvores introduzidas que têm verdadeira importância na arborização florestal da Madeira são o pinheiro e o castanheiro. Disseminadas por vários pontos, (estradas, quintas, etc.) encontra-se: acácia grevílea álamo jacarandá araucária lodão bastardo árvore de incenso ou sementeira azinheira magnólea carvalho plátano castanheiro da índia pimenteira da índia choupo pinheiro manso eucalipto tília figueira da índia etc.

A acácia, a árvore do paraíso e a tamareira, são as únicas essências abundantes no Porto Santo. Na Deserta Grande, encontra-se algumas figueiras e pinheiros.

As frutas mais abundantes na Madeira são: abacates castanhas ameixas cerejas amoras damascos anonas figos aracás goiabas bananas jambos laranjas pucegos maçãs peras mangos peros maracujás romãs marmelos tabaibos morangos uvas nêsperas etc nozes

As poucas árvores de fruto cultivadas no Porto Santo são: amendoeiras pereiras amoreiras pereiros figueiras romeiras

Encontram-se na Madeira: abóboras (cabaças, bogangas) acélgas, alfaces, alhos, batatas (semilhas), batatas-doces, cebolas, cenouras, coentro, chicharos, couves, ervilhas, espinafres, favas, feijões, nabos, pepinos, pepinelas, pimentos, rabanetes, salsa, etc.

Produz o Porto Santo vinha; trigo, milho, cevada, centeio, lentilha, chicharos, favas; couves, abóboras, alhos, melancias e melões.

As espécies industriais que costumam ser utilizadas na Madeira são as seguintes: o linho, planta têxtil; a açafroa, a ruivinha, plantas tinturiais; a cana sacarina, o lúpulo, o sorgo, o tabaco, plantas económicas, etc.

As plantas forraginosas madeirenses mais abundantes são: o amor de burro, a aveia, o azevem, o balanço, a cabreira, o capim, o feno, a grama, a leituga, os trevos, a trevina, a serralha etc.

Geologia

O Arquipélago da Madeira surgiu do Atlântico por acções vulcânicas submarinas que formaram longos bancos, sobre os quais foi continuada essa actividade em dois períodos distintos.

No primeiro período formou-se a cratera do Curral das Freiras, duma soberba majestade, estalada nas suas convulsões.

No segundo período, de menor actividade vulcânica, formaram-se pequenas crateras dispersas que consolidaram toda a massa rochosa e as suas lavas alteram o recorte das ilhas.

Algumas dessas pequenas crateras mostram ainda a sua configuração, como as lagoas do Porto Moniz, Fanal, Santo António da Serra e do Pico da Cancela (Caniçal).

Grande número dos cones vulcânicos apre sentam vestígios de antigas crateras, outros são formados por um amontoado de escórias. As rochas mais antigas encontram-se no vale do Porto da Cruz. Os calcáreos de origem marinha, — em S. Vicente (no norte da Madeira), no Porto Santo, especialmente no Ilhéu da Cal, e na Selvagem Grande. As rochas mais abundantes são os basaltos e as traquites.

Os basaltos apresentam-se em massas de cores escuras ou acinzentadas, com a forma de blocos, laminas, ou colunas contíguas.

As traquites, em massas menos consistentes, de cores claras, com predomínio do cinzento.

Conglomerados são a reunião de diversos materiais, escórias, pequenos calhaus, etc., aglutinados pela infiltração das águas carregadas de diferentes substâncias.

Os conglomerados apresentam várias cores e quando são bastante compactos e resistentes, constituem as cantarias empregadas em cons- truções.

Terminada a acção vulcânica de formação, os agentes modificadores da crusta do arquipélago são os ventos, chuvas, águas correntes, mar, etc.

O vento e o mar depositaram as areias do Porto Santo, formando uma extensa praia que abafa uma outra bem mais antiga, onde se encontram inúmeros fósseis.

As chuvas e águas correntes produzem o trabalho erosivo de infiltração e agastamento dos cursos de água que na ocasião das cheias acarretam pesados materiais e dão origem às quebradas nas vertentes.

Fósseis. Encontram-se depósitos de vegetais fósseis em S. Jorge e Porto da Cruz. Algumas vezes, estes estão substituídos pelas suas formas.

Depósitos conquilíferos, (especialmente conchas), aparecem na Piedade (Caniçal), S. Vicente, Porto Santo, Bugio e Selvagem Grande.

Clima

O clima da Madeira é um dos mais afamados de todo o mundo pela sua benignidade, sem saltos bruscos entre as máximas e mínimas temperaturas. A intensidade da luz, a suavidade das brisas, a ausência das poeiras, a elevada percentagem de ozono, constituem um clima privilegiado para o bem-estar da vida.

A uniformidade da sua temperatura provem-lhe de serem banhadas estas ilhas por um dos ramos da Corrente do Golfo que lhe proporciona vapor aquoso, abrigando-as do calor próprio da sua latitude, formando os ne- voeiros entre 600 e 700 melros de altitude, a chamada zona de condensação. Na Madeira, quase se podem distinguir o clima marítimo, o clima da montanha e o clima das altitudes. A temperatura média à sombra no Funchal é de 16-° na primavera, 21.° no verão, 20.° no Outono e 15.° no Inverno, o que corresponde a uma média anual de 18.°, e a humidade relativa varia entre 00 e 69 por cento, havendo durante o ano uma média de 78 dias de chuva. Nos meses de Novembro a Março, sucede quase todos os anos, cair granizo nas serras da Madeira, conservando-se entre 3 a 15 dias. O clima do Porto Santo é mais quente que o da Madeira, em média geral de 1 grau, nas poucas observações feitas. Os ventos dominantes são do N., soprando raras vezes um vento quente de E. S. E. conhecido pelo nome de leste, dando origem a elevadas temperaturas. No Funchal, existe uma estação meteorológica, estabelecida na fortaleza de S. Lourenço.

3.ª Parte - Corografia-Física

Situação Geográfica

0 Arquipélago da Madeira compõe-se das ilhas habitadas da Madeira e Porto Santo e de dois subgrupos de pequenas ilhas despovoadas: as Desertas e as Selvagens.

Está situado no Oceano Atlântico entre 30.° e 33.°-7'-50" de latitude norte e 15-52' e 17.°-15'-47" de longitude oeste do meridiano de Greenwich.

Os pontos extremos do arquipélago são:

N.— O Ilhéu de Fora ou Rocha do Nordeste, a nordeste da ilha do Porto Santo. S. — O Ilhéu Pequeno, do subgrupo das Selvagens. E- — A Selvagem Grande. W.* — A. Ponta do Pargo, na ilha da Madeira.

Geograficamente consideradas, as ilhas Selvagens pertencem mais propriamente ao arquipélago das Canárias, por mais próximas, porém, pertencentes ao distrito do Funchal.

As distâncias que separam os portos são as seguintes, expressas em milhas: Funchal - Lisboa...... 535 » Santa Maria (Açores)...... 480 » Cabo Cantim (África)....350 » Tenerife (Canárias)...... 240 Selvagem Grande ...... 148 » Porto Santo...... 40,6 » Ilhéu Chão (Deserta).....19

O mar da Travessa, assim chamado, entre a Madeira e Porto Santo, mede 27 milhas.

Faróis. — Existem os seguintes:

2.ª ordem: Ponta de S. Lourenço e Ponta do Pargo nos extremos E. e W. da Madeira e Ilhéu de Cima (Porto Santo). * Uma convenção internacional estabeleceu a letra W para designar oeste.

6.ª ordem: Fortaleza do Ilhéu, Machico, Câmara de Lobos e Ribeira Brava. 8.ª ordem: Porto de Cima (Porto Santo).

Madeira

É a ilha principal do arquipélago. Apresenta uma forma alongada, tendo no maior comprimento E.-W. 57 qm. entre a Ponta de S. Lourenço e a Ponta do Pargo, e na maior largura N.-S. 22 qru., entre a Ponta de S. Jorge e a Ponta da Cruz, abrangendo uma superfície de 741 qrrr.

Orografia. O relevo da Madeira está intimamente ligado com a sua formação geológica. Atravessa a ilha uma cadeia de montanhas proximamente na direcção E-W que a divide em duas regiões: Costa do Norte e Costa do Sul. Desta serrania longitudinal se destacam alguns ramais secundários descendo para o norte, oeste e para o sul.

A Costa do Sul ainda se divide em Costa de Cima, — do Funchal para leste; e Costa de Baixo — do Funchal para oeste.

Os principais contrafortes desta cordilheira são definidos: na Costa do Norte — pela Penha de Águia e o Cortado de Santana; na Costa do Sul — pela Ponta do Pargo, o Cabo Girão e o Cabo Garajau.

Os pontos mais elevados deste sistema orográfico encontram-se ao centro da referida serrania dominada pelo Pico Ruivo.

Os picos principais são:

No concelho de Santana Pico Ruivo 1861 m. » das Torrinhas 1794 » » do Canário 1596 » » do Poiso 1412 »

No concelho de Machico Pico Suna 1134 m

No Concelho de Santa Cruz Pico das Abóboras 1222 m. « da Silva 1108 m

No concelho do Funchal Pico do Arieiro 1810 m. « Santo António 1700 » « da Neve 1633 » « do Arrebentão 1144 »

No Concelho do Câmara de Lobos

Pico Grande 1657 m. « dos Bodes 1150 » « da Cruz 975 »

No concelho da Ribeira Brava

Pico do Folhado 1293 m.

No concelho da Ponta do Sol

Pico da Urze 1417 m.

No concelho da Calheta

Pico da La meirinha 1261 m. « dos Melros 1263 » « Gordo 1264 »

No concelho do Porto Moniz

Pico Bonito 1123 m. » da Lagoa 1090 »

No concelho de S. Vicente

Pico da Torrinha 1825 rn. » dos Estanquinhos 1617 » » do Paul 1639 »

O declive das montanhas é em alguns lugares muito forte e desce mais rapidamente pelo lado do norte, onde a costa é de altos pedrados e inóspita.

Quando a inclinação é suave forma as lombadas; em sendo pouco sensível, constitui as achadas e estas tomando grande extensão, formam os planaltos. As pequenas planícies cultivadas denominam-se várzeas.

Planaltos. — Os principais são: o do Paul da Serra, a 1100 metros de altitude, lugar solitário e despovoado, tendo 7 qm. de comprimento por 4 de largura; e o de Santo António da Serra, a 700 m., onde assenta a freguesia do mesmo nome.

As principais lombadas são:

Lombada das Vacas, em S. Vicente; Primeira Lombada, em Ponta Delgada; Lombada Velha, na Ponta do Pargo; Lombada dos Marinheiros, na Fajã da Ovelha; Lombada dos Cedros, no Paul; Lombada do Esmeraldo, na Ponta do Sol.

As principais achadas são:

Achadas da Cruz, que constituem a freguesia do mesmo nome; Achadas, no Porto do Moniz; Achada da Lagoa, na Ribeira da Janela; Achada Grande, nos Prazeres; Achada do Gramacho, em Santana.

Fajãs. Assim se dominam as terras provenientes das quebradas, formando pequenos tabuleiros, quer no interior, quer junto aos rochedos do litoral das ilhas.

As principais fajãs são:

Fajã da Ovelha, que constitui a freguesia do mesmo nome; Fajã Grande, na Ponta do Pargo; Fajã do Mar, no Arco da Calheta; Fajã dos Padres, na Quinta Grande; Fajã da Areia, em S. Vicente.

Os principais cabos são:

Cabo Girão, um dos promontórios mais altos e escarpados, entre Câmara de Lobos e a Ribeira Brava.

Cabo Garajau, no extremo leste da baía do Funchal; Penha de Águia, na freguesia do Porto da Cruz.

As principais pontas são:

Ponta da Cruz, em S Martinho; Ponta da Oliveira e da Atalaia, no Caniço; Ponta de Santa Catarina, em Santa Cruz; Ponta da Queimada, em Machico; Ponta do Cortado, no Faial; Ponta de Santana, de S. Jorge e Delgada, nas freguesias respectivas; Ponta do Tristão, no Porto Moniz; Ponta do Pargo, na freguesia do mesmo nome; Ponta do Jardim, no Jardim do Mar; Ponta da Galé, no Estreito da Calheta; Ponta do Sol, na freguesia do mesmo nome.

Os principais ilhéus são:

Ilhéu de Fora, no extremo da Ponta de S. Lourenço, no qual está o farol; Ilhéu do Gorgulho, no concelho do Funchal; Ilhéu Mole, e os da Ribeira da Janela, no concelho do Porto Moniz; Ilhéus de S. Jorge e do Faial, no concelho de Santana; Ilhéu do Porto da Cruz, no concelho de Machico; Os ilhéus da Pontinha, no porto do Funchal, estão unidos por um molhe.

Hidrografia. - As ribeiras são principalmente alimentadas pelas águas de escoamento e por isso sujeitas a cheias nas invernias, produzindo estragos nos terrenos marginais, e tornam-se temporárias, secando o leito na estiagem.

As que são alimentadas pelas águas de infiltração são permanentes, e as mesmas, em diferentes pontos do percurso, são aproveitadas para as levadas.

As principais ribeiras são:

A Ribeira da Janela que é a maior, cavada num soberbo desfiladeiro, com origem nas vertentes do Rabaçal; as do Seixal, Ponta Delgada, S. Vicente, S. Jorge, Faial e Porto da Cruz, na costa norte; a Ribeira de Machico que desce da Portela e atravessa a vila de Machico; as ribeiras de Santa Cruz, Porto Novo e do Caniço, na Costa de Cima; as ribeiras de João Gomes, Santa Luzia e S. João, que atravessam a cidade do Funchal; a Ribeira dos Socorridos que vem das Torrinhas pelo Curral das Freiras e desagua a leste de Câmara de Lobos; a Ribeira dos Frades, Ribeira Brava, da Ponta do Sol, Madalena, S. Bartolomeu, na Costa de Baixo.

As principais baías são:

Baía do Funchal, de Machico, da Abra (na Ponta de S. Lourenço) e do Porto da Cruz.

As principais enseadas são:

Câmara de Lobos, Ribeira Brava, Ponta do Sol, Madalena, Calheta, Paul do Mar, Porto Moniz, S. Vicente, Ponta Delgada, S. Jorge, Faial e Caniçal nas freguesias respectivas; Lugar de Baixo, na Ponta de Sol; Pesqueiro na Ponta do Pargo; As praias são formadas de calhau rolados e penedos, destituídas quase completamente de areia.

Porto Santo

Está situada a nordeste da Madeira. Apresenta uma forma alongada, tendo cerca de 12 qm. E - W. entre a Ponta Branca e a do Furado e de 6 qm. N - S. entre a Fonte da Areia e a Vila, * abrangendo uma superfície de 42 qm.2

Orografia. A ilha do Porto Santo divide-se em três regiões: oriental ou montanhosa; central ou plana; ocidental ou acidentada;

A região central e mais pequena fica compreendida entre o cabeço de Bárbara Gomes e Fonte da Areia, ao norte; Ribeiro Salgado e Ribeira da Vila, ao sul. *O antigo nome de Vila Baleira caiu em desuso.

Na região oriental ficam os seguintes picos: Pico do Facho 507 m. « da Gandaia 491 » « da Juliana 454 » « do Castelo 441 » « Branco 423 » e ainda os picos do Concelho, dos Maçaricos e de Baixo.

Na região ocidental:

Pico de Ana Ferreira . . 277 m. » do Facho da Malhada 204 » » do Calhau da Malhada 181 » A região central é ocupada pelo

Campo de Baixo « de Cima « das Areias

As principais pontas são:

Ponta Branca e dos Frades, a leste; Ponta da Cruz e dos Varadouros, ao norte; Ponta do Furado, a oeste.

Os principais ilhéus são:

Ilhéu de Fora, ao norte; Ilhéu de Cima, onde está o farol, a leste; llheu de Feiro e ilhéu de Baixo ou da Cal, a oeste; O ilhéu de Cima e o de Baixo, estão situados nos extremos da praia do Porto Santo.

Hidrografia. A ilha do Porto Santo é escassa de águas. Em sobrevindo as estiagens, morrem as culturas e é um ano de fome. A principal nascente é a da Fontinha, de cuja água se faz exportação, pelas suas propriedades medicinais.

As principais ribeiras são: Ribeira da Vila e Ribeiro Salgado, ao sul; Ribeiro da Serra de Dentro e Ribeiro dos Frades a leste.

O principal porto é o da vila, com uma linda e extensa praia de areia; de pequena importância são o das Cagarras e dos Frades a leste.

Ilhas Desertas

O sub-grupo das Desertas compõe-se do Ilhéu Chão, Deserta Grande e Ilhéu do Bugio.

Ficam situadas ao sul da ponta de S. Lourenço, e estendem-se no prolongamento para o sul umas das outras.

O ponto mais ao norte é um rochedo de forma cónica, chamado a Rocha do Navio. O Ilhéu Chão tem 1850 m. de comprimento, 460 de largura e uma planície com a altitude de 60 m.

A Deserta Grande tem 14 qm. de comprido por 1850 m. na maior largura. O Ilhéu do Bugio tem 6 qm. de comprimento por 900 m. na maior largura. De rochas escarpadas e de difícil acesso são separadas estas ilhotas por boqueirões ou pequenos braços de mar.

Ilhas Selvagens

O subgrupo das Selvagens compõe-se da Selvagem Grande, Ilhéu Grande e Ilhéu Pequeno.

A Selvagem Grande apresenta uma forma circular recortada de pequenas abras, tendo o diâmetro médio de 2.300 111. e uma superfície aproximada de 5 qm Esta ilhota eleva-se para o centro, repartindo-se em duas colinas: a dos Tornozelos e a da Atalaia, distando do extremo sul das Desertas 132 milhas.

O Ilhéu Grande fica a sudoeste da Selvagem. De forma alongada, mede apenas 2 qm. de extensão, rodeado de grande numero de escolhos e um extenso areal.

A uma milha a oeste, demora-lhe o Ilhéu Pequeno, muito pouco elevado, alongando-se nuns 1.200 metros, contornado igualmente de areal e extensos baixios.