ANÁLISE Saiba porque é quase impossível ver o CDS à frente do PSD CDS à frente do PSD seria uma "mudança brutal" do sistema

Votos. Politólogos dizem ser muito difícil o partido de Assunção Cristas suplantar o de Rui Rio e ser a principal força de centro -direita

cas em Lisboa serve de referencial: a mobilizar o eleitorado". Aliás, a im- PAULA SÁ "Nós podemos, o PSD não é imba- plantação territorial do CDS foi tível." sempre um dos problemas do par- "É possível, mas não é nada fácil." Mas, adverte o professor da Uni- tido de Assunção Cristas, que sofreu É assim que Carlos Jalali, especia- versidade de Aveiro, há uma "dife- a sua maior erosão durante mais de lista em sistemas políticos, enqua- rença abissal das estruturas a nível uma década de liderança cavaquis- dra a ambição de Assunção Cristas nacional entre os dois partidos". ta do PSD e do país. Durante as duas em tornar o CDS o principal parti- O PSD tem uma máquina territorial maiorias absolutas de Cavaco - a de do de centro -direita em . implantada em todo o país e, mes- 1987 e a de 1991 -, o CDS encolheu Mas a acontecer, diz o politólogo, mo apesar das perdas eleitorais, de tal forma, com quatro deputados será uma "mudança brutal" do sis- está representado em força nas câ- e depois cinco, que ficou conhecido tema político português. maras municipais, o que diz "ajuda como o "partido do táxi". E é fácil perceber o porquê do Nos anos em que concorreram adjetivo "brutal", já que o CDS, sozinhos para a Assembleia da Re- mesmo nas suas melhores presta- EUROPA pública, como acontecerá em 20 19, ções eleitorais, nunca se aproxi- os centristas nunca conseguiram (à mou do PSD. Só nas primeiras elei- Rui Rio na cimeira exceção de 1976) sequer chegar à sob metade dos ções legislativas, em 1976, a do PPE no dia 22 lugares conquistados liderança de Freitas do Amaral, pelos sociais-democratas. As me- fundador do partido, conseguiu o > Rui Rio vai participar pela lhores eleições foram as de 1983, seu melhor resultado e o mais pró- primeira vez enquanto líder soba liderança de Lucas Pires, com ximo com os sociais-democratas: do PSD na cimeira do Partido 30 mandatos (PSD conseguiu 75), de de Paulo Por- com 42 deputados, num Parlamen- Popular Europeu (PPE) , a fa- e os anos liderança to então com 263 lugares, dos quais mília política dos sociais-de- tas. Em 2009, o CDS conseguiu 21 73 foram conseguidos pelo PSD de mocratas na Europa, que se deputados (81 para o PSD) e24 em Sá Carneiro {ver gráfico). realiza no dia 22, em Bruxelas. 2011 (108 para PSD). Com Manuel Carlos Jalali sublinha que As- Rio terá a oportunidade de Monteiro, em 1995, o partido recu- sunção Cristas tem "potencial" a debater com outros líderes perou do esmagamento da era ca- seu favor para fazer reforçar o peso europeus as grandes ques- vaquista e recuperou 15 mandatos do CDS, num momento em que o tões que se colocam à União no Parlamento. PSD parece não estar a capitalizar Europeia e reunir-se com Mesmo que os resultados ao nas intenções de voto em relação os eurodeputados sociais- longo da história democrática por- ao PS e, no terreno simbólico, o -democratas, entre os quais tuguesa contrariem a líder centris- facto de ter ficado à frente da can- Paulo Rangel, que é vice-pre- ta, ao pedir um CDS como princi- didata social-democrata, Teresa sidentedoPPE. pal força do centro-direita Assun- Leal Coelho, nas eleições autárqui- ção Cristas faz uma aposta sem riscos, na opinião de Carlos Jalali. "Os militantes do PSD não lhe vão cobrar se ela não ultrapassar o PSD e tudo o que conseguir é benéfico para o seu partido." Resta-lhe ten- tar convencer os eleitores deste es- pectro político de que o voto útil no CDS é o melhor para uma alterna- tiva ao PS e à esquerda. António Costa Pinto considera que o CDS "tem uma janela de " oportunidade para cativar os "de- siludidos" com a saída de Passos Coelho. Além disso, diz o investiga- dor do Instituto de Ciências Sociais

(ICS) , o facto da nova direção do PSD ainda estar relativamente dis- que este eleitorado de centro-di- muito a sua margem eleitoral . E creta e com uma mensagem ainda reita "dá por adquirida uma alian- sublinha: "Há 40 anos que a re- pouco clara para o eleitorado do ça eleitoral entre PSD e CDS se saí- presentação do centro-direita está dois centro-direita "dá margem ao CDS rem vencedores das eleições", o congelada nesses partidos, para crescer". que, refere Costa Pinto, "dá mar- com intenções de voto nos 34% e ou têm Para o politólogo, Assunção gem de crescimento ao CDS, já 35%; seja, grande margem dois. Se for Cristas também tem a vantagem que o voto no partido não prejudica para crescer os apenas à do si- de ter uma imagem que pode cap- no fundamental essa aliança". um a crescer custa outro, vão ambos tar um maior segmento de eleito- Mas o professor considera que gnifica que perder as de 2019." rado do que o clássico conservador só "perante um colapso do PSD se- eleições que costuma votar no CDS. Acresce riapensável que o CDS aumentasse PSD a olhar para o lado: CDS está a pôr-se "em bicos dos pés"

congresso Sociais-democratas dizem que ambição do CDS é irrealista e lembram que autárquicas não são legislativas

"Irrealista", "em bicos de pés", um ções internas -, que rejeita que a gamento do eleitorado tem de ser de Rio "enorme disparate". É assim que o estratégia Rui esteja a abrir feito para fora e não para dentro do CDS entre o eleitorado direita". O PSD reage à ambição expressa pelo espaço ao centro deputado enten- de centro-direita. "Rui Rio está de Cristas "ainda CDS, no congresso deste fim de se- a que Assunção não mana em Lamego, de se afirmar fazer o que é do melhor interesse percebeu qual o papel dela e do como o primeiro partido no espa- para o país a longo prazo, está a CDS. Ao longo dos tantos anos em ço do centro -direita. Entre as hos- apostar no futuro", argumenta Bra- que Paulo Portas presidiu ao CDS, tes sociais-democratas lembra-se nunca se viu entrar num congresso gança Fernandes. Já Carlos Peixo- a Assunção Cristas - em entre- a ser anunciado como o próximo que to, vice-presidente da bancada e lí- vista ao Expresso disse ver-se como primeiro-ministro de Portugal. No der da distrital da Guarda, diz que e disse ser "me- discurso de Assunção está implíci- primeira-ministra as ambições do CDS "são legíti- lhor do Rui Rio" - os resul- to que, como agora o PSD anda um que que mas", na medida em que é "legíti- tados nas autárquicas não são atrapalhado, vamos filá-los. mo sonhar". Mas são igualmente pouco É ridículo e na o ridículo transponíveis para o plano nacio- "irrealistas". "Não têm nenhum política nal. mata". tipo de adesão à realidade do com- António Fernandes, Bragança portamento eleitoral dos portu- presidente da distrital do do Críticos "culpam" direção gueses", destaca o parlamentar la- PSD, considera Cris- Mas entre os sociais-democratas que Assunção ranja. E se Cristas bateu o PSD em tas está a em bicos de também há quem admita que os "pôr-se pés", Lisboa, relegando os sociais-de- confundindo os votos autárquicos democratas- cristãos possam vir a mocratas para o lugar de terceira obteve em Lisboa, em outubro ganhar terreno, face ao posicio- que forçapolítica na capital, o vice-pre- passado, com legislativas. "São namento do PSD delineado pelo sidente do grupo parlamentar diz duas coisas diferentes, as autárqui- novo líder. "Quando o PSD desa- que "o Dr. Rui Rio não é a Dra. Teresa cas não têm nada que ver com as parece e não se afirma como alter- Leal Coelho" e que não se pode fa- eleições legislativas", diz ao DN, su- nativa, o CDS naturalmente cres- zer comparações entre eleições au- blinhando que a líder centrista ce", defende um destacado crítico tárquicas e legislativas. "está a elevar muito a Até da atual liderança social-demo- fasquia". Outro deputado da bancada, porque, defende Bragança Fer- crata. Uma tese corroborada por que não apoiou publicamente Rui nandes, no escrutínio em Lisboa outra voz crítica, na bancada par- Rio nem Santana Lopes, diz que "estiveram em causa nomes" quan- lamentar: "O CDS só pode fazer "quando o CDS quer alargar o elei- do "agora é o partido em si" que vai este discurso porque o PSD permi- torado infligindo golpes no PSD é a Ao CDS "pode sair o tiro pela tiu que isto acontecesse, por falta jogo. um enorme disparate". Para este culatra", diz o da maior de comparência. Alguém ouviu o presidente social-democrata, "cada partido distrital social-democrata-apoian- CDS dizer isto quando Passos Coe- deve fazer o seu caminho, elegen- te de nas elei- lho era líder?" susete Francisco e do sempre o PS como alvo. O alar- Marcelo espera ver Grécia entrar "numa outra fase"

Atenas. Para o Presidente, após "crise pro- funda" Portugal é exemplo de estabilidade

O mês de agosto ainda vemlonge e, "Apresenta indicadores finan- do Portugal como "exemplo de até lá, a Grécia precisa de avançar ceiros, mas também económicos e estabilidade política, com um sis- com garantias e medidas que tran- sociais que são reconhecidos pela tema político estável, com controlo quilizem Bruxelas e que permitam UE, mas por todos aqueles que financeiro interno e externo, e ao país sair com alguma suavidade dentro e fora acompanham a evo- comum crescimento económico do programa de assistência finan- lução portuguesa", afirmou, não acompanhado do crescimento do ceira, mas, em Atenas, no primeiro deixando de defender que o cami- emprego" que, na Grécia, também de três dias de uma visita de Estado, nho para a saída do programa de continua a aumentar. sido vir- , que não resgate tem um "processo Durante o encontro com a co- poupounos elogios àrecuperação tuoso". Nesse sentido, e num tom munidade portuguesa- que Mar- portuguesa no período pós-crise, que em muito se assemelhou a celo defendeu ser composta por assinalou, desde já, que o futuro umamensagem de esperança para "empreendedores" -, o Chefe do Es- para o "povo amigo" da Grécia só o povo grego, Marcelo, sempre par- tado, que na quarta-feira visita um pode ser risonho. tindo do exemplo português, con- campo de refugidos, deixou ainda "Devo reconhecer que tam- gratulou- se pelo facto de a visita de claro que Portugal "compreende e bém Grécia está num processo Estado - a primeira desde a presi- apoia o exemplo" dado pela Grécia dência de da crise e feito com o mérito do povo grego, - aconte- na gestão migratória no e dos seus responsáveis, bem en- cer num momento de "boas notí- acolhimento de refugiados. tendido, e que é um processo que cias" para os dois países, destacan- JOÃO ALEXANDRE (TSFl.emAtenas se espera que possa vir a culminar dentro de meses na passagem a outra fase", disse o chefe do Esta- do português, durante um en- contro com dezenas de membros da comunidade portuguesa, refe- rindo-se auma "fase importante para a economia, para as finanças e para a sociedade" helénica. Com portugueses e gregos a as- sistir à intervenção que decorreu num hotel junto da Praça Syntag- ma-que, em 2015, setornouopal- co principal das muitas manifesta- ções antiausteridade -, Marcelo justificou o vaticínio e lembrou que também Portugal mergulhou e conseguiu sair de uma "crise pro- funda", constatando que, se dúvi- das houvesse em relação à recupe- ração portuguesa, hoje o trabalho feito é tido como um exemplo fora Marcelo encontrou- se com a comunidade em Atenas deportas. portuguesa