PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA RELATÓRIO DIAGNÓSTICO Subproduto B - Relatório Consolidado VOLUME 1

GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO URBANO E HABITAÇÃO - SEDHAB

GERALDO MAGELA PEREIRA COMISSÃO ESPECIAL DE ACOMPANHAMENTO DO PRO- Secretario de Estado de Desenvolvimento Urbano e CESSO DE ELABORAÇÃO DO PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB Habitação

RAFAEL CARLOS OLIVEIRA Graco Melo Santos Adriano de Lima Silva Secretario-Adjunto de Desenvolvimento Urbano e Ha- Supervisor Geral Administração Regional da Candangolândia - RA XIX (titular) Diretoria do Conjunto Urbanístico Tombado de Brasília bitação Maria Elena Neiva Gentil Lídia Adjuto Botelho Administração Regional da Candangolândia - RA XIX (suplente) FERNANDA FIGUEIREDO GUIMARÃES Coordenadora Técnica Diretoria do Conjunto Urbanístico Tombado de Brasília Adriana Leite Figueiredo Lago Subsecretaria de Planejamento Urbano Administração Regional do Sudoeste/Áreas Octogonais (titular) Raniere Teixeira Soares GRACO MELO SANTOS Diretoria do Conjunto Urbanístico Tombado de Brasília (titular) Simone do Prado Dias Diretor do Conjunto Urbanístico Tombado de Brasília Administração Regional do Sudoeste/Áreas Octogonais RA XXII (su- Dulce Blanco Barroso plente) Diretoria do Conjunto Urbanístico Tombado de Brasília (suplente) José Delvinei Luiz dos Santos Simone Rose Malty Subsecretaria de Patrimônio Histórico e Cultural /SeCult (titular) Diretoria do Conjunto Urbanístico Tombado de Brasília (suplente) REJANE JUNG VIANNA Jônatas Nunes Barreto Subsecretaria de Patrimônio Histórico e Cultural /SeCult (suplente) Executora do Contrato N.º 014/2009 Marcone Martins Souto Diretoria de Informação Urbana/SEDHAB Eduardo Pierroti Rossetti Superintendência IPHAN/DF (titular) CLÉCIO NONATO REZENDE Mara Souto Marquez Suplente da Executora Diretoria de Desenvolvimento Urbano Local/SEDHAB Ana Clara Giannecchini Superintendência IPHAN/DF (suplente) Hanna Reitsch von Daudt Möhn Administração Regional de Brasília - RA I (titular) José Lima Simões Leandro Magalhães Mariani Departamento de Trânsito – DETRAN/DF (titular) Administração Regional de Brasília - RA I (suplente) Ivo Cláudio de Souza Rosangela Diniz Noblat Departamento de Trânsito – DETRAN/DF (suplente) Administração Regional do Cruzeiro - RA XI (titular) Rafael Martins Mendes Maria Rosangela Cavalcante Barroso Companhia Imobiliária de Brasília -TERRACAP (titular) Administração Regional do Cruzeiro – RA XI (suplente) Bruno Tamm Rabello Companhia Imobiliária de Brasília -TERRACAP (suplente) EQUIPE TÉCNICA

Supervisor Geral: Arq. Dr. Décio Rigatti – CREA/RS 025.806

Coordenador Geral: Arq. Me. Rafael Brener da Rosa – CREA/RS 116.871

Subcoordenador Geral: Arq. Marco Schmidt – CREA/RS 116.994

Equipe Técnica Especializada: Arq. Me. Luiz Merino de Freitas Xavier – CREA/RS 073.584-D Arq. Me. Caroline Kuhn – CREA/RS 135.173 Eng. Civil Eveline Pedott – CREA/RS 130.121 Eng. Civil Esp. Maria Izabel Brener da Rosa – CREA/RS 006.264

Consultora Sênior: Arq. Dra. Briane Panitz Bicca – CREA/RS 162.506-D

Consultoria Jurídica: Bel. Me. Maria Etelvina Bergamaschi Guimaraens – OAB/RS 015.823

Assistente Geral: Arq. Sandra Helena Lehnen Becker – CREA/RS 163.032

Colaboradores: Arq. Me. Gabriela Tenório – CREA/DF 008.629-D Arq. Alice Rauber Gonçalves – CREA/RS 143.549 Arq. Elisa Piccoli Ortiz – CREA/RS 087.209

Acadêmicos de Arquitetura: Angélica Magrini Rigo Bruna Turmino Krause Everton Barth Juliana Pádua Natália da Silveira Arruda Roberto Pucci Flores Rochelle Schneider

Acadêmicos de Geografia: Isabel Rekowsky DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I APRESENTAÇÃO

APRESENTAÇÃO

O presente Relatório tem como objetivo Produto 3: DIAGNÓSTICO: uso e ocupação do solo, identificando os atributos apresentar o Diagnóstico da área de abrangên- Subproduto A: Relatório Preliminar do conjunto urbanístico tombado e seus elemen- cia do Plano de Preservação do Conjunto Urba- tos estruturadores; as características e compor- nístico de Brasília, em atendimento ao contrato Subproduto B: Relatório Consolidado tamento das escalas; a situação atual dos Seto- nº 390.008.208/08 efetuado entre o Governo do res, apresentada em fichas correspondentes a Distrito Federal e a empresa RS Projetos Ltda., cada setor urbano; as Áreas/Setores/Espaços do Produto 4: PROGNÓSTICO assinado em 15 de maio de 2009, atende o es- Plano Piloto de 1957 a serem complementados; tabelecido no Termo de Referência constante do Subproduto A: Relatório Preliminar uma análise das tendências de transformação do Edital de Licitação lançado em 05 de novembro Subproduto B: Relatório Consolidado uso do solo na área tombada; uma compilação de 2008. Da licitação foi vencedora a empresa RS dos principais planos e projetos existentes para Projetos Ltda. a área; a influência de grandes equipamentos na area protegida e se encerra com uma análise das O trabalho como um todo objetiva a prepa- Produto 5: PROJETO DE LEI COMPLEMEN- características da área tombada por grau de signi- ração do Plano de Preservação do Conjunto Ur- TAR: versão preliminar ficação específica (valor patrimonial). banístico de Brasília – PPCUB, cujo produto final é composto pelo Projeto de Lei Complementar e O Capítulo 03 apresenta as características da Produto 6: MEMÓRIA TÉCNICA PARA O PPSH pela Memória Técnica do Plano, sendo a sua ela- morfologia urbana, especialmente os aspectos boração dividida em produtos e subprodutos, a fundiários, a Base Cartográfica dos setores e en- serem apresentados em três etapas, nos prazos Produto 7: RELATÓRIO FINAL DO PLANO: dereçamento, o zoneamento de uso atual, a tra- estabelecidos no Cronograma Geral, de acordo ma viária, as tipologias edilícias e os espaços não com Termo de Referência, intitulados: Subproduto A: Projeto de Lei Complementar do ocupados. PPCUB O Capítulo 04 apresenta a análise da paisa- Subproduto B: Relatório Final e Memória Técnica gem urbana e dos espaços públicos da área tom- Produto 1: PROJETO BÁSICO DE ELABORA- do PPCUB bada. ÇÃO DO PLANO Subproduto A: Plano Geral de Trabalho – PGT O Capítulo 05 apresenta o arcabouço jurídico O presente trabalho é parte do Produto 3: para o PPCUB. Subproduto B: Programa de Participação da Po- DIAGNÓSTICO, Subproduto B: Relatório Con- O Capítulo 06 trata dos aspectos tributários e pulação – PPP solidado, contendo os volumes 1, 2 e Anexos, e financeiros. se estrutura a partir da abordagem das categorias definidas no Termo de Referência, anexo ao Edi- O Capítulo 07 discute a estrutura institucional Produto 2: SISTEMATIZAÇÃO DOS INSTRU- tal. de planejamento e gestão do GDF relacionada MENTOS URBANÍSTICOS com a preservação do conjunto urbano de Brasí- O Capítulo 01 apresenta o esboço histórico Subproduto A: RA XI, RA XIX e RA XXII lia. da ocupação urbana de Brasília da fundação a Subproduto B: RA I 2010, acompanhado de mapas. O Capítulo 08 apresenta dados e informações socioeconômicas (estrutura populacional, dinâmi- O Capítulo 02 trata das questões relativas ao ca populacional densidade populacional). PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

O Capítulo 09 trata dos aspectos sociais: do bem tombado (idem, p. 16). Depreende-se equipamentos e serviços. do enunciado acima que , em base aos estudo e análises efetuados, será delimitada no PPCUB a O Capítulo 10, apresenta os aspectos físico- área de abrangência que melhor corresponder à -ambientais e infra-estrutural, com especial ênfase necessidades da preservação do Conjunto Urba- na qualidade ambiental urbana e na infra-estrutura nístico de Brasília. urbana. O Capítulo 11 trata dos aspectos desenvolvi- mento econômico. O Capítulo 12, traz dados habitacionais e do mercado imobiliário. O Capítulo 13 trata do sistema viário, trans- porte e circulação.

Segundo o Edital de Licitação, à área de abrangência do Plano de Preservação do Conjun- to Urbanístico de Brasília, pertence a totalidade do território das seguintes Regiões Administrativas: Plano Piloto – RA I, Cruzeiro – RA XI, Candan- golândia – RA XIX e Sudoeste/Octogonal – RA XXII, somando 487,73 km², representada na Figu- ra A.1. Integra esse território a área tombada do Conjunto Urbanístico de Brasília, com superfície de 112,25 Km². Insere-se na abrangência do PPCUB a Área de Tutela do bem tombado, entendida, “como Área de Interesse Patrimonial – AIP, cujos limites procuram referenciar o estabelecimento das suas relações de vizinhança, de modo a salvaguardá-lo de ações tendentes a descaracterizar sua concep- ção, visibilidade, ambiência e manutenção física” (Edital de Licitação – Concorrência nº 001/2008 – EC/CPL, p. 16). A Área de Interesse Patrimonial delineada no Edital de Licitação encontra-se ex- pressa na Figura A.2, “cujos contornos da área protegida, de entorno e influência deverão ser confirmados, alterados ou aperfeiçoados para que produzam os efeitos desejáveis na proteção DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I APRESENTAÇÃO

Figura A.1. Área de abrangência do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília.

Fonte: Termo de Referência para contratação do PPCUB. Brasília, dezembro de 2007. PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura A.2. Área de Interesse Patrimonial.

Fonte: Termo de Referência para contratação do PPCUB. Brasília, dezembro de 2007. LISTA DE FIGURAS

Figura A.1. Área de abrangência do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília 7 Figura A.2. Área de Interesse Patrimonial 8 Figura I.1. Processo histórico x apropriação da obra por seus usuários 28 Figura 1.1. Mapa de ocupação urbana do Distrito Federal em 1964. 39 Figura 1.2. Mapa de ocupação urbana do Distrito Federal em 1975. 42 Figura 1.3. Mapa com localização das propostas de áreas residenciais de Lúcio Costa 46 Figura 1.3. Mapa de ocupação urbana do Distrito Federal em 1990. 47 Figura 1.4. Mapa de ocupação urbana do Distrito Federal em 2000. 50 Figura 1.5. Mapa de ocupação urbana do Distrito Federal em 2005. 52 Figura 1.6. Mapa síntese da ocupação urbana do Distrito Federal no período de 1965 a 2009 53 Figura 2.1 Quadro esquemático dos documentos referenciais para a preservação de Brasília. 60 Figura 2.2. Croquis da concepção urbana de Brasília 78 Figura 2.3. Escala Monumental 79 Figura 2.4. Escala Residencial 79 Figura 2.5. Escala Gregária 79 Figura 2.6. Escala Bucólica 79 Figura 2.7. Croquis ilustrando a superquadra, a unidade de vizinhança e a arborização de entorno das superquadras. 80 Figura 2.8. Croquis ilustrando a Plataforma Rodoviária, o Setor Central, a Praça dos Três Poderes, o Eixo Monumental (Esplanada dos Ministérios) e a Torre de TV, respectivamente. 81 Figura 2.9. Superquadras: foto aérea 82 Figura 2.10. O Eixo Monumental 82 Figura 2.11. Exemplar de Arquitetura de Brasília: o Congresso Nacional 82 Figura 2.12. Exemplar de Arquitetura de Brasília: a Catedral 83 Figura 2.13. Centro Urbano de Brasília: a Plataforma Rodoviária 83 Figura 2.14. o interior das Superquadras 83 Figura 2.15. os Acampamento Pioneiros 84 Figura 2.16. Parque da Cidade 84 Figura 2.17. a construção da capital 84 Figura 2.18. Lago Paranoá 84 Figura 2.19. a visão do horizonte e do céu de Brasília 84 Figura 2.20. Imagem do aeroporto em direção à Águas Claras 86 Figura 2.21. Imagem da urbanização nas proximidades do Lago Norte, Taquari 86 Figura 2.22. Imagem de satélite do sítio e identificação da Bacia Hidrográfica do Rio Paranoá 86 Figura 2.23. Principais maciços de áreas verdes identificas na Bacia do Paranoá 86 Figura 2.24. Campo visual definido a partir da rodovia DF-01 na saída do sítio pela ponte JK (cota 1075m) 87 Figura 2.25. Campo visual definido no monumento da Ermida Dom Bosco (cota 1010m) 88 Figura 2.26. Campo visual a partir da Represa Paranoá (cota 1125) 89 Figura 2.27. Campo visual a partir da Área Militar da rodovia EPCT(cota 1165m) 90 Figura 2.28. Campo visual gerado a partir do mirante da Torre de TV (cota 1120+75m) 92 Figura 2.29. Praça dos Três Poderes 93 Figura 2.30. A Esplanada dos Ministérios e o comércio ambulante 93 Figura 2.31. O Setor Cultural Sul: edificações recentemente implantadas 93 Figura 2.32. O Eixo Monumental e as instalações temporárias (toldos e quiosques) 94 Figura 2.33. O Eixo Monumental e o Centro de Convenções Ulysses Guimarães 94 Figura 2.34. A Feira da Torre de TV 94 Figura 2.35. Construção de coberturas, formando o 7o pavimento. 95 Figura 2.36. Ampliação das projeções das edificações 95 Figura 2.37. Aumento da área construída no pavimento térreo com o fechamento dso pilotis. 95 Figura 2.38. Variações tipológicas nas Superquadras 400 96 Figura 2.39. Variações tipológicas nas Superquadras 400 e Reforma de fachadas com aplicação de grafismos. 96 Figura 2.40. Entrequadra não ocupada 96 Figura 2.41. Ampliação das edificações do Comércio Local Sul (puxadinhos) 98 Figura 2.42. Uso de estacionamento das Superquadras para atendimento do Comércio Local 98 Figura 2.43. Comércio da W3 (fundos) 98 Figura 2.44. Acessibilidade ao Comércio Local Norte 99 Figura 2.45. Comércio da W3 (frente) 99 Figura 2.46. Alteração de uso das edificações (SHIGS) 100 Figura 2.47. Ampliação das edificações no recuo de jardim (SHIGS) 100 Figura 2.48. Ocupação de área pública (áreas verdes e vias peatonais) 100 Figura 2.49. Desníveis acentuados entre os setores, dificuldade de acesso. 101 Figura 2.50. A descontinuidade da plataforma no Setor Bancário 101 Figura 2.51. O estacionamento no pavimento superior da Plataforma Rodoviária 101 Figura 2.52. Setor de Grandes Áreas Sul (esquerda) e SHIGS Quadras 700. 102 Figura 2.53. Setor de Grandes Áreas Sul (esquerda) e Parque da Cidade. 102 Figura 2.54. Empreendimento habitacional na orla do Lago Paranoá. 102 Figura 2.55. Recuo da edificação em relação ao lago 103 Figura 2.56. Exemplar de edificação do acampamento pioneiro, Vila Planalto 103 Figura 2.57. Edificação com alteração de gabarito, Vila Planalto 103 Figura 2.58. Vila Telebrasília: alteração de gabarito (3o pavimento) 104 Figura 2.59. Exemplar de edificação do acampamento Pioneiro, Candangolândia 104 Figura 2.60. Candangolãndia: ocupação de área pertencente ao Jardim Zoológico. 104 Figura 2.61. Candangolândia: alteração de gabarito, 4o pavimento. 105 Figura 2.62. Varjão e Vila Weslian Roriz, respectivamente 105 Figura 2.63. Cruzeiro: ocupação de passeio público 106 Figura 2.64. Cruzeiro: ocupação de vias peatonais 106 Figura 2.65. Cruzeiro Novo: cercamento e gradeamento dos pilotis 106 Figura 2.66. Sudoeste: assentamento das edificações no solo 107 Figura 2.67. Faixa de emolduramento entre SQSW 301 e o Comércio Local. 107 Figura 2.68. Noroeste: imagem eletrônica do empreendimento divulgadas na internet 107 Figura 2.69. Mapa com localização das propostas de áreas residenciais de Lúcio Costa 108 Figura 3.1. Alterações do Plano Piloto desde a implantação 113 Figura 3.2. Prancha única constante da proposta de Lúcio Costa para o Plano Piloto de Brasília 114 Figura 3.3. Plano Piloto de Brasília - 1960 115 Figura 3.4. Localização dos Planos e Projetos divulgados pela SEDHAB 119 Figura 3.5. Plano Geral do Parque Burle Marx 120 Figura 3.6. Parque Burle Marx: ligações transversais 121 Figura 3.7. Feira de Artesanato de Brasília: Torre de TV proposta orginal 121 Figura 3.8. Praça do Povo - perspectiva geral 122 Figura 3.9. Reconstrução do Estádio Mané Garrincha 122 Figura 3.10. Novo Terminal Rodoviário - perspectiva geral 122 Figura 3.11. VLT Brasília: proposta do projeto e perspectivas gerais 123 Figura 3.12. Revitalização Setores Centrais: Setor Comercial Norte (SCN) 124 Figura 3.13. Revitalização Setores Centrais: Setor Hoteleiro Norte (SHN) 125 Figura 3.14. Revitalização Setores Centrais: Setor Médico Hospitalar Norte 126 Figura 3.15. Revitalização Setores Centrais: Setor de Rádio e Televisão Norte 126 Figura 3.16. Áreas de abrangência do Programa de Revitalização da Avenida W3 127 Figura 3.17. Revitalização da Avenida W3: Calçada atual 128 Figura 3.18. Revitalização da Avenida W3: Proposta de calçada acessível 128 Figura 3.19. Revitalização da Avenida W3: Proposta do uso do Subsolo 128 Figura 3.20. Revitalização da Avenida W3: W2 situação atual 129 Figura 3.21. Revitalização da Avenida W3: Simulação da W2 requalificada 129 Figura 3.22. Revitalização da Avenida W3: Proposta para os becos - alternativa 1 (elementos de proteção solar) vista da via W3 sul 129 Figura 3.23. Revitalização da Avenida W3: Proposta para os becos - alternativa 2 (pergolados e arborização) vista noturna 130 Figura 3.24. Revitalização da Avenida W3: Situação atual do estacionamento da SCLRN 130 Figura 3.25. Revitalização da Avenida W3: Proposta para estacionamento e calçada da SCLRN 130 Figura 3.26. Revitalização da Avenida W3: Situação atual das edificações 131 Figura 3.27. Revitalização da Avenida W3: Proposta para organização dos letreiros da Avenida W3 131 Figura 3.28. Revitalização da Avenida W3: Estação tipo com plataforma central, em frente às Entrequadras Sul 131 Figura 3.29. Revitalização da Avenida W3: Cruzamentos 131 Figura 3.30. Revitalização da Avenida W3: Adequação da via, em função da plataforma do VLT 132 Figura 3.31. Setor Noroeste, vista geral 132 Figura 3.32. Implantação de equipamento comercial (shopping), Setor de Clubes Esportivos Sul (SCES) 140 Figura 3.33. Extremidade da Asa Norte, Setor Hospitalar Local Norte (SHLN) e Setor de Habitações Coletivas Norte (SHCN) 140 Figura 3.34. Extremidade da Asa Sul, Setor Hospitalar Local Sul (SHLS) e Setor de Habitações Coletivas Sul (SHCS) 140 Figura 3.35. Poligonal definida pelo Grupo de Trabalho para a Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Natural de Brasília (GT Brasília - 1986) 142 Figura 3.36. Poligonal definida pelo Decreto Distrital n. 10.829/87, pelo Tombamento Federal (1990) e pela Portaria n. 314/92 do IPHAN 143 Figura 3.37. Definição da Área de influência patrimonial pelo Edital do PPCUB 144 Figura 3.38. Bens patrimoniais IPHAN e DePHA 146 Figura 3.39. Mapeamento dos blocos residenciais da Asa Sul construídos no período de 1958 e 1980, cujas características tipológicas e morfológicas mantêm os princípios expressos por Lúcio Costa no relatório do Plano Piloto. 148 Figura 3.40. Mapeamento dos blocos residenciais da Asa Norte construídos no período de 1958 e 1980, cujas características tipológicas e morfológicas mantêm os princípios expressos por Lúcio Costa no relatório do Plano Piloto. 149 Figura 3.41. Quadro comparativo de poligonais definidas em diversos documentos 151 Figura 3.42. Quadro de Atributos Configurativos 154 Figura 4.1. Exemplo de malha identificada na Candangolândia 160 Figura 4.2. Exemplo de malha identificada no Cruzeiro 160 Figura 4.3. Exemplo de malha identificada no Cruzeiro Novo 160 Figura 4.4. Exemplo de malha identificada nas Octogonais 161 Figura 4.5. Exemplo de malha identificada nas Superquadras 161 Figura 4.6. Traçado viário do Plano Piloto e seu entorno 161 Figura 4.7. Exemplo de blocos residenciais sobre pilotis, (pilotis + 6 pavimentos) SHCS 162 Figura 4.8. Exemplo de blocos residenciais sobre pilotis, (pilotis + 3 pavimentos) SHCS 162 Figura 4.9. Exemplo de blocos residenciais sobre pilotis, (piotis + 6 pavimentos) SHCSW 162 Figura 4.10. Exemplo de blocos residenciais sobre pilotis, (piotis + 3 pavimentos) SHCSW 162 Figura 4.11. Exemplo de blocos residenciais sobre pilotis, (pilotis + 2 pavimentos) SHIGS 162 Figura 4.12. Exemplo de blocos residenciais sobre pilotis, (pilotis + 4 pavimentos) SHCES 162 Figura 4.13. Exemplo de blocos residenciais geminados, Setor de Residências Econômicas Sul (Cruzeiro) 163 Figura 4.14. Exemplo de blocos residenciais geminados, Setor Militar Urbano (SMU). 163 Figura 4.15. Exemplo de blocos residenciais geminados, Setor de Habitações Individuais Geminadas Sul (SHIGS) 163 Figura 4.16. Exemplo de habitações individuais, Vila Telebrasília 163 Figura 4.17. Exemplo de habitações individuais, Vila Planalto (VLPA) 163 Figura 4.18. Exemplo de habitações individuais, Candangolândia (CAND) 163 Figura 4.19. Exemplo de comércio geminado, Setor de Habitações Coletivas Sudoeste, Comércio Local 164 Figura 4.20. Exemplo de comércio geminado, Setor de Habitações Coletivas Sul, Comércio Local 164 Figura 4.21. Exemplo de comércio geminado, Setor de Habitações Coletivas Norte, Comércio Local 164 Figura 4.22. Exemplo de tipologia Palaciana, Esplanada dos Ministérios (EMO) 164 Figura 4.23. Exemplo de tipologia Palaciana, Congresso Nacional, Praça dos Três Poderes (PTP) 164 Figura 4.24. Exemplo de tipologia Palaciana, Palácio do Itamaraty, Esplanada do Ministérios (EMI) 164 Figura 4.25. Exemplo de Torres do Centro Urbano, Setor Bancário Sul (SBS) 165 Figura 4.26. Exemplo de Torres do Centro Urbano, Setor Comercial Sul (SCS) 165 Figura 4.27. Exemplo de Torres do Centro Urbano, Setor Comercial Sul (SCS) 165 Figura 4.28. Exemplo de edificação excepcional, Torre de TV, Esplanada da Torre (ETO) 165 Figura 4.29. Exemplo de edificação excepcional, Conjunto Nacional, Setor de Diversões Norte (SDN) 165 Figura 4.30. Exemplo de edificação excepcional, CONIC, Setor de Diversões Sul (SDS) 165 Figura 4.31. Exemplo de edificação de serviço e institucional, Setor de Edifícos Públicos Norte (SEPN) 166 Figura 4.32. Exemplo de edificação de serviço e institucional, Setor de Edifícos Públicos Norte (SEPN) 166 Figura 5.1 Mapa com a definição da localização da nova capital do Brasil do quadrilátero do Distrito Federal 170 Figura 5.2. Parque da Cidade (SRPS) 172 Figura 5.3. Mapa de localização de Parques e Praças 173 Figura 5.4. Eixo Monumental, em direção leste 178 Figura 5.5. Eixo Monumental, em direção oeste 178 Figura 5.6. Superquadras, Asa Sul 179 Figura 5.7. Foto aérea dos Setores Centrais 180 Figura 5.8. Setor Bancário Sul 180 Figura 5.9. Orla 182 Figura 5.10. Lago Paranoá 182 Figura 5.11. Setor Hospitalar Local Norte, a esquerda. 183 Figura 5.12. Setor de Recreação e Esportivo Norte 183 Figura 5.13. Exemplos de fachadas localizadas ao longo da avenida 3 Norte 188 Figura 5.14. Exemplos de fachadas localizadas no Setor de Comercio Local Sul 189 Figura 5.15. Passeio público ao longo da W3 Sul, SHIGS 191 Figura 5.16. Galeria dos Estados 191 Figura 5.17. Acesso a passagem subterranea de pedestres no Eixo Rodoviário-Residencial 192 Figura 5.18. Comércio Local Norte 192 Figura 5.19. Plataforma Rodoviária 192 Figura 5.20. Setor Bancário Sul 192 Figura 6.1. Mapa dos coeficientes de aproveitamento máximos indicados no PDOT e espacializados na Bacia Hidrográfica do Paranoá 222 Figura 6.2. Mapa das Áreas de Conservação registradas no DF. 223 Figura 6.3. Mapa de zoneamento de uso, conforme PDOT de 2008. 224 Figura 6.4. Mapa de coeficientes construtivos para o setor indicados pelo PDL Candangolância. 225 Figura 6.5. Mapa da aplicação dos Coeficientes de Aproveitamento indicados nas NGBs por setor do CUB 226 Figura 6.6. Mapa da aplicação da Altura das edificações indicada nas NGBs por setor do CUB 227 Figura 6.7. Mapa da aplicação das Taxas de Ocupação indicadas nas NGBs por setor do CUB 228 Figura 13.1. Próprios e Quitados 340 Figura 13.2. Próprios em Aquisição 340 Figura 13.3. Alugados 340 Figura 13.4. Cedidos por Empregador 340 Figura 13.5. Cedidos de Outra Forma 340 Figura 13.6. Outra Condição de Ocupação 340 Figura 13.7. Rendimento nominal mensal inferior a 1/2 SM 342 Figura 13.8. Rendimento nominal mensal de 1/2 a 1 SM 342 Figura 13.9. Rendimento nominal mensal de 1 a 2 SM 342 Figura 13.10. Rendimento nominal mensal de 2 a 3 SM 342 Figura 13.11. Rendimento nominal mensal de 3 a 5 SM 342 Figura 13.12. Rendimento nominal mensal de 5 a 10 SM 342 Figura 13.13. Rendimento nominal mensal de 10 a 15 SM 343 Figura 13.14. Rendimento nominal mensal de 15 a 20 SM 343 Figura 13.15. Rendimento nominal mensal acima de 20 SM 343 Figura 13.16. Densidade de imóveis por hectare 344 Figura 13.17. Setor de Clubes Esportivos Norte: edifícios residenciais de 3, 4 e 5 pavimentos 345 Figura 13.18. Área acima da EPIA: edifícios residenciais de 10 pavimentos com pilotis 345 Figura 13.19. Setor de Habitações Coletivas Noroeste: edifícios residenciais de 6 pavimentos com pilotis 345 Figura 14.1. Mapa da Rede Viária Estrutural do Distrito Federal. 351 Figura 14.2. Mapa das linhas de Metrô do Distrito Federal (em operação e futuras expansões) 353 Figura 14.3. Mapa de Mobilidade diária 355 Figura 14.4. Conflito no sistema viário básico 358 Figura 14.5. Obstáculos Físicos 359 Figura 14.6. Rede Cicloviária do Distrito Federal 362 Figura 14.7. Áreas críticas de estacionamento no Plano Piloto 363 Figura 14.8. Relação entre áreas de estacionamentos e áreas parceladas na área tombada de Brasília. 364 Figura 14.9. Estratégias de Estruturação Viária, de Implantação de Pólos Multifuncionais, de Dinamização de Espaos Urbanos e de Revitalização de Conjuntos Urbanos. 366 Figura 15.1. Espacialização das demandas da população por temas 374 LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 2.1 Lotes de Entrequadras da Asa Sul: ocupação 97 Gráfico 2.2 Lotes de Entrequadras da Asa Norte: ocupação 97 Gráfico 2.3 Lotes de Entrequadras: situação de propriedade 97 Gráfico 2.4 Lotes privados: ocupação 97 Gráfico 3.1. Lotes de Entrequadras: uso/atividade 133 Gráfico 3.2. Lotes de Entrequadras da Asa Sul: situação de propriedade 134 Gráfico 3.3. Lotes de Entrequadras da Asa Norte: situação de propriedade 134 Gráfico 3.4. Lotes públicos: ocupação 134 Gráfico 3.5. Lotes privados: ocupação 134 Gráfico 12.1. Área licenciada de alvarás de construção residencial em cada ano, em regiões administrativas selecionadas 334 Gráfico 12.2. Área licenciada de alvarás de construção não-residencial em cada ano, em regiões administrativas selecionadas 334 Gráfico 14.1 - Percentual de viagens por modo de transporte segundo a classe de renda dos usuários do Distrito Federal - 2000 355 LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1. População recenseada (1959 / 1960 / 1964) 38 Tabela 1.2. População recenseada (1964 / 1970 / 1980) 40 Tabela 1.3. Evolução da população de Brasília e cidades do entorno (1960/2000) 48 Tabela 2.1. Portaria no 314/92, IPHAN e Decreto no 10.829/87 - Atributos do sítio e seus valores. 64 Tabela 9.1. População de regiões administrativas selecionadas 263 Tabela 9.2. População e variação populacional de regiões administrativas selecionadas 264 Tabela 9.3. Frequências relativas de população por grupos de idade no Distrito Federal 265 Tabela 9.4. Frequências relativas de população por grupo de idade em regiões administrativas selecionadas 265 Tabela 9.5. População em idade ativa e freqüências relativas de empregados, desempregados e pessoas sem ocupação remunerada no Distrito Federal e em regiões administrativas selecionadas 266 Tabela 9.6. Frequências relativas de famílias por grupos de renda familiar mensal, em salários mínimos, no Distrito Federal 267 Tabela 9.7. Frequências relativas de famílias por grupos de renda domiciliar mensal, em salários mínimos, no Distrito Federal e em regiões administrativas selecionadas 267 Tabela 9.8. Freqüências relativas de famílias por grupos de renda familiar mensal, em salários mínimos, no Distrito Federal 268 Tabela 9.9. Freqüências relativas de população por classes de escolaridade, em anos de estudo, no Distrito Federal e em regiões administrativas selecionadas 268 Tabela 9.10. Freqüências relativas de população por classes de escolaridade, em anos de estudo, no Distrito Federal 269 Tabela 9.11. Freqüências relativas de população por lugar de nascimento (DF ou outra UF, na RA onde reside ou em outra RA) 272 Tabela 9.12. Freqüências relativas de população por tempo de residência no Distrito Federal – regiões administrativas selecionadas 273 Tabela 9.13. População nascida em estados selecionados, por sexo, residente no Distrito Federal 274 Tabela 9.14. Frequências relativas de população não-nascida e residente no Distrito Federal, por grupos de idade 274 Tabela 9.15. Frequências relativas de população residente, por motivo de mudança, no Distrito Federal e em regiões administrativas selecionadas 276 Tabela 9.16. População residente, área e densidade populacional, Distrito Federal e regiões administrativas selecionadas 277 Tabela 9.17. População residente, área de setores com uso residencial e densidade populacional, regiões administrativas selecionadas 278 Tabela 9.18. População residente, número de domicílios e média de pessoas por domicílio, Distrito Federal e regiões administrativas selecionadas 279 Tabela 9.19. Frequências relativas de tipos de domicílio, Distrito Federal e regiões administrativas selecionadas 280 Tabela 9.20. Freqüências relativas de domicílios por intervalos de área construída, Distrito Federal e regiões administrativas selecionadas 281 Tabela 10.1. Número de unidades de saúde públicas (distritais) por categoria, em regiões administrativas selecionadas, 2007 288 Tabela 10.2. Número de unidades de saúde particulares por categoria, em regiões administrativas s elecionadas, 2004 288 Tabela 10.3. Número de unidades escolares por categoria, em regiões administrativas selecionadas, 2007 291 Tabela 10.4. Número de unidades de ensino por categoria, em regiões administrativas selecionadas, 2009 291 Tabela 10.5. Número de matrículas na Rede Pública Estadual, em regiões administrativas selecionadas, 2009 292 Tabela 10.6. Número de equipamentos de segurança pública, em regiões administrativas selecionadas. 296 Tabela 10.7. Frequências relativas de equipamentos de abastecimento, segundo grupos de regiões administrativas do DF 298 Tabela 10.8. Frequências relativas de equipamentos de cultura, segundo grupos de regiões administrativas do DF 300 Tabela 11.1. Frequências relativas dos domicílios por forma de abastecimento de água em regiões administrativas selecionadas 309 Tabela 11.2. Frequências relativas dos domicílios por forma de esgotamento sanitário em regiões administrativas selecionadas 310 Tabela 11.3. Frequências relativas dos domicílios por tipo de destino de resíduos sólidos, em regiões administrativas selecionadas 311 Tabela 11.4. Frequências relativas dos domicílios por oferta de infra-estrutura urbana, no Distrito Federal e em regiões administrativas selecionadas 313 Tabela 11.5. Frequências relativas dos domicílios com iluminação pública, no Distrito Federal e em regiões administrativas selecionadas 315 Tabela 11.6. Frequências relativas dos domicílios com telefone, no Distrito Federal e em regiões administrativas selecionadas 316 Tabela 12.1. Frequências relativas do número de pessoas ocupadas, segundo setores de atividades econômicas, no Distrito Federal 323 Tabela 12.2. Frequências relativas da população residente, com 10 anos ou mais, por setor de atividade remunerada, em regiões administrativas selecionadas e no DF. 323 Tabela 12.3. Frequências relativas do número de pessoas ocupadas, segundo formas de inserção, no Distrito Federal. 325 Tabela 12.4. Frequências relativas da população residente, com 10 anos ou mais, por posição na ocupação, em regiões administrativas selecionadas e no DF. 326 Tabela 12.5. População economicamente ativa do Distrito Federal conforme escolaridade, ocupada e desempregada. 328 Tabela 12.6. Rendimento real anual em R$ por grupo de rendimentos dos ocupados e dos assalariados no trabalho principal, Distrito Federal. 329 Tabela 12.7. Frequências relativas de pessoas com 10 anos ou mais empregadas, desempregadas e sem ocupação remunerada no Distrito Federal e em regiões administrativas selecionadas. 330 Tabela 12.8. Renda domiciliar média e taxas de desemprego total, no Distrito Federal e em regiões administrativas Selecionadas. 330 Tabela 12.9. Classificação das unidades de FASFIL, número de unidades, pessoal assalariado por setor e número médio de pessoas ocupadas por unidade no DF. 332 Tabela 13.1. Domicílio segundo regime de uso 341 Tabela 13.2. Relação de habitantes por domicílio 341 Tabela 13.3. Rendimento nominal mensal por domicílio 343 Tabela 13.4. Densidade de imóveis por hectare 344 SUMÁRIO

VOLUME 1 PROLOGO 23 INTRODUÇÃO 27

Capítulo 1 Esboço histórico da ocupação urbana 31 1.1. Os Anos JK 33 1.2. A nova Capital 34 1.3. Fase 1 - Implantação: Plano Piloto e primeiras Cidades Satélites (1955 - 1960) 35 1.4. Fase 2 - Crise da Capital (1960 - 1964) 38 1.5. Fase 3 - Golpe Militar: retomada do ritmo da construção (1964 - 1975) 40 1.6. Fase 4 - Sedimentação do Plano Piloto (1975 - 1985) 43 1.7. Fase 5 - Conurbação Plano Piloto/Cidades Satélites e Metropolização (1985 - 2000) 45 1.8. Fase 6 - Periferia difusa: a ride e o crescimento perimetropolitano (2000 - 2009) 51 1.9. A preservação de Brasília e a metropolização 54 Capítulo 2 Caracterização do sítio 57 2.1. Atributos do Conjunto Urbanístico Tombado e seus elementos estruturadores 60 2.1.1. Documentos referenciais para a preservação de Brasília e a definição de seus elementos estruturadores 60 2.1.2. A concepção urbanística de Brasília 78 2.1.3. Os valores de Brasília 81 2.2. Características e Comportamento das Escalas 85 2.2.1. O Entorno do Plano Piloto de Brasília 85 2.2.2. O Plano Piloto e suas Escalas 91 2.2.2.1. Aspectos relativos à Escala Monumental 93 2.2.2.2. Aspectos relativos à Escala Residencial 95 2.2.2.3. Aspectos relativos à Escala Gregária 101 2.2.2.4. Aspectos relativos à Escala Bucólica 102 2.2.2.5. Outros núcleos habitacionais 105 2.2.2.6. Previsão de áreas residenciais 107

Capítulo 3 Dinâmica urbana 109 3.1. Do Plano Piloto de 1957 à cidade construída: transformações, setores, espaços a serem complementados 111 3.2. Tendências de transformação do uso do solo na Área tombada 116 3.3. Planos e Projetos 119 3.4. Influência de Grandes Equipamentos na Área Protegida no seu Entorno Imediato ou Área de Influência 139 3.5. Características das Áreas Tombadas 141 3.5.1. Grau de significação específica (Valor Patrimonial) 141 3.5.2. Definição de Graus ou Níveis Diferenciados de Proteção 150 Capítulo 4 Morfologia urbana 155 4.1. Base Cartográfica dos setores e endereçamento 157 4.2. Morfologia da Trama Urbana 159 4.3. Tipologia e destinação dos setores 162

Capítulo 5 Paisagem urbana 167 5.1 Breve histórico do paisagismo em Brasília 169 5.2 Áreas Verdes 171 5.3 Áreas de Lazer (praças, parques, esportes, recreação) 172 5.4 Paisagismo 174 5.5 Aspectos visuais e perspectivas de valor para a preservação 176 5.5.1. Escala Monumental 176 5.5.2. Escala Residencial 178 5.5.3. Escala Gregária 180 5.5.4. Escala Bucólica 181 5.5.4.1. Áreas entre o Plano Piloto e o Lago 182 5.5.4.2. Setores que envolvem as demais bordas da cidade 183 5.6 Mobiliário Urbano, Elementos de Sinalização Urbana, Elementos aparentes da Infraestrutura Urbana 185 5.6.1. Avenida W3 187 5.6.2. Comércios Locais Sul e Norte 188 5.7 Tratamento de Fachadas 190 5.8 Passeios 191

Capítulo 6 Arcabouço Jurídico 193 6.1. A competência legislativa dos entes da federação brasileira 195 6.2. As recomendações da UNESCO e ordenamento jurídico brasileiro 196 6.3. Normas incidentes sobre o Conjunto Urbanístico de Brasília 199 6.3.1. Normativas de ordem urbanística 200 6.3.1.1. Parâmetros Urbanísticos - URB, Plantas-Gabarito, GB, NGB, etc. 202 6.3.2. Normas edilícias 203 6.4. Plano Diretor Local - PDL Candangolândia 204 6.5. Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal - PDOT 205 6.5.1 Princípios e objetivos 205 6.5.2 Uso e ocupação do solo do Conjunto Urbanístico de Brasília no PDOT 205 6.6. Normas Correlatas Específicas 207 6.6.1 Outorga onerosa do direito de construir e da alteração de uso 207 6.6.2 Transferência do direito de construir 208 6.6.3 Ocupação de área pública mediante Concessão de Direito Real de Uso ou Concessão de Uso 209 6.6.4 Plano Diretor de Publicidade 209 6.6.5 Projetos Urbanísticos com Diretrizes Especiais 210 6.6.6 Regularização urbanística e fundiária 210 6.6.7 Fechamento de áreas com grades 211 6.7. O Questionamento das Normas 212 6.7.1 Recomendações - UNESCO 212 6.7.2 Diretrizes e normas de preservação 214 6.7.3 Conflitos entre as recomendações e diretrizes de preservação e as normas urbanísticas 215 6.7.3.1 Cinturão Verde 215 6.7.3.2 Áreas de pilotis e cobertura 216 6.7.3.3 Ampliação das edificações 217 6.7.3.4 Taxa de ocupação 218 6.7.3.5 Vila Planalto 218 6.7.3.6 Orla 218 6.7.4 A contestação das normas 220

VOLUME 2

Capítulo 7 Aspectos tributários e financeiros 231

Capítulo 8 Estrutura institucional de planejamento e gestão 237 8.1 Instâncias de Preservação do CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA 239 8.1.1 Instância Internacional de Preservação 240 8.1.1.1. Monitoramento sistemático da conservação dos bens 241 8.1.2 Instância Federal de Preservação 242 8.1.2.1 Poder Executivo 242 8.1.2.2 Ministério Público 242 8.1.3 Instância Distrital 243 8.1.3.1 Secretaria de Estado de Cultura e DePHA 244 8.2 Grupos de Trabalho Institucionais 246 8.2.1 GT Brasília (1981-1988) 246 8.2.2 Comissão Técnica (1988-1989) 246 8.2.3 Grupo de Trabalho Conjunto - GTC (1992-1995) 246 8.2.4 Trabalhos conjuntos 246 8.3 Estrutura de Planejamento e Gestão 247 8.3.1. Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Meio Ambiente - SEDUMA 247 8.3.2. Regiões Administrativas - RAs 247 8.3.3. Estrutura Distrital - órgãos que atuam sobre o Conjunto Urbanístico de Brasília 248 8.3.3.1. NOVACAP 248 8.3.3.2. Companhia Imobiliária de Brasília - TERRACAP 248 8.3.3.3. Agência de Fiscalização do Distrito Federal - AGEFIS 248 8.3.3.4. Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal - CAESB 248 8.3.3.5. Companhia de Desenvolvimento Habitacional - CODHAB/DF 248 8.3.3.6. Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos - IBRAM 249 8.3.3.7. Procuradoria-Geral 249 8.3.3.8. Companhia de Planejamento do Distrito Federal - CODEPLAN 249 8.3.3.9. Secretaria de Transportes 249 8.4 Conselhos e Comissões Distritais 250 8.4.1. Conselho de Arquitetura, Urbanismo e Meio Ambiente 250 8.4.2. Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural do Distrito Federal 250 8.4.3. Conselho Técnico de Preservação de Brasília como Patrimônio da Humanidade 250 8.4.4. Conselho de Gestão da Área de Preservação de Brasília 250 8.4.5. Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal - CONPLAN 250 8.4.6. Conselho de Unidades de Planejamento Territorial do Distrito Federal 253 8.4.7. Conselhos Locais de de Planejamento Territorial e Urbano 253 8.5 A estrutura institucional no planejamento e na gestão da área tombada 255 8.5.1. As recomendações da UNESCO e a estrutura institucional 255 8.5.2. O diagnóstico realizado durante a elabração do PDOT 255 8.5.3. O papel exercido pela estrutura na preservação do conjunto tombado 258 8.5.4. Fatores institucionais da deterioração da área tombada 259 8.5.4.1. Quanto aos instrumentos de gestão da área: 259 8.5.4.2. Quanto aos mecanismos de gestão da área tombada: 259 8.5.4.3. Quanto às políticas públicas 260

Capítulo 9 Dados e informações socioeconômicas 261 9.1 Estrutura Populacional 263 9.1.1 População Residente 263 9.1.2 População por grupo de idade 264 9.1.3 População em idade ativa 266 9.1.4 População por grupos de renda 267 9.1.5 População por escolaridade 268 9.2. Dinâmica Populacional 270 9.3. Densidade Populacional 277

Capítulo 10 Aspectos socias: equipamentos e serviços 285 10.1 Saúde 287 10.2. Educação 290 10.3. Assistência e Promoção Social 294 10.3.1 Política de Assistência Social 294 10.3.2 Programa de Segurança Alimentar e Nutricional 295 10.3.3 Equipamentos vinculados ao Atendimento ao Trabalhador 295 10.4. Segurança 296 10.5. Abastecimento 298 10.6. Serviços Funerários 299 10.7. Cultura, Esporte e Lazer 300 10.7.1 Equipamentos Culturais 300 10.7.2 Equipamentos de Esporte e Lazer 301 Capítulo 11 Aspectos físico-ambientais e infraestrutural 303 11.1. Qualidade Ambiental Urbana 305 11.1.1. Caracterização do território 305 11.1.2. Transformações territoriais 305 11.1.3. A qualidade ambiental urbana e o planejamento territorial 306 11.2. Infra-estrutura Urbana 309 11.2.1. Abastecimento de água 309 11.2.2. Esgotamento e instalações sanitárias 310 11.2.3. Resíduos sólidos e serviços de limpeza urbana 311 11.2.4. Drenagem urbana 313 11.2.5. Ajardinamento e manutenção de áreas verdes 314 11.2.6. Rede elétrica e iluminação pública 314 11.2.7. Telefonia 316

Capítulo 12 Aspectos do desenvolvimento econômico 317 12.1. Atividades Econômicas 319 12.1.1. Aspectos gerais do desenvolvimento econômico e da política de desenvolvimento do Distrito Federal 319 12.1.2. Setores econômicos no Distrito Federal 320 12.2. Estrutura Ocupacional 322 12.2.1. Empregos e setores de atividades econômicas 322 12.2.2. Empregos e posição na ocupação 324 12.3. Emprego e Renda 327 12.4. Turismo 331 12.5. Terceiro Setor 332 12.5.1. Setores econômicos nas regiões administrativas de abrangência do Plano de Preservação 333 12.5.2. O desenvolvimento econômico e o planejamento territorial 335

Capítulo 13 Dados habitacionais 337 13.1 Domicílio Segundo Regime de Uso (próprio, alugado, cedido e outros) 340 13.1.1 Relação Habitantes por Domicílio 341 13.1.2 Densidade: número de domicílios, segundo tamanho dos imóveis, considerando as faixas 341 13.2 Espaço Residencial por Diferentes Classes de Renda 342 13.3 Densidade de Imóveis por Hectare 344 13.4 Tipologia dos imóveis novos postos à venda 345 13.4.1 Tamanho médio dos imóveis postos à venda 345 13.4.2 Preço Médio de Venda dos Imóveis por m², por Setores e Área da Cidade 345 13.4.3 Mudança de Domicílios (% de Pessoas sobre Total da População, de Acordo com Motivo) 345 13.4.4 Demandas Existentes por Tipo, Tamanh do Imóvel e Classe de Renda 345 13.4.5 Áreas em Estudo para Formulação de Novas Propostas de Projetos por Setor 345 Capítulo 14 Sistema viário, transporte e circulação 347 14.1 Estrutura viária 349 14.1.1. Estrada-Parque Indústria e Abastecimento 350 14.2. Meios/modalidades de circulação 352 14.3. Áreas com maiores fluxos de veículos 354 14.3.1 Maiores mobilidades internas (origem-destino), por modo de transporte, considerando motivos de deslocamentos em função do trabalho e estudo e modo de transporte 354 14.4. Grau de motorização 356 14.5 Acessibilidade de pessoas portadoras de necessidades especiais - PPNEs 356 14.6. Pontos críticos - áreas de ocorrência de acidentes de carros e com pedestres com maior frequência 357 14.7. Pontos de estrangulamento, áreas com problemas físicos (por local e tipo de conflito), entraves legais, etc. 359 14.8. Demandas mais significativas 360 14.9. Áreas em estudo para formulação de novas propostas e projetos 361 14.10. Estacionamentos 363 14.11. Circulação de pedestres 365

Capítulo 15 Sintese do Processo Participativo 367 15.1 Descrição do Processo 369 15.2 Avaliação do Processo 371 15.3 Demandas da População via processos junto à SEDHAB 373

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 375 REFERÊNCIAS 383

ANEXOS

Anexo I Cronologia da ocupação urbana de Brasília 391 Anexo II Quadro 1: Normas federais incidentes sobre o Distrito Federal 409 Anexo III Quadro 2: Normas distritais incidentes sobre a gestão e o planejamento urbano no Distrito Federal 413 Anexo IV Quadro 3: Normas urbanas incidentes sobre o Conjunto Urbanístico de Brasília 425 Anexo V Participação da população: processos protocolados junto à SEDHAB 461 Anexo VI Participação da população: proposições das reuniões preparatórias, plenárias e audiência pública 489 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I PRÓLOGO

PRÓLOGO

A produção daquilo que se entende por “um tinente a ser ocupado. A interiorização, contudo, precisava se mostrar moderna em relação à Mo- lugar” depende de múltiplas variáveis, das quais malgrado a atração do Eldorado, se arrastou com narquia: em 1898, Ouro Preto é desbancada por são essenciais o tempo transcorrido e os aconteci- lentidão nos quatro primeiros séculos, sendo pon- Belo Horizonte e em 1936, Goiânia tomará o lugar mentos que lhe são vinculados. A consolidação de tuada por sucessivos gestos cuja força simbólica da cidade de Goiás, antiga capital do Estado. Duas um lugar só se manifesta com o passar do tempo e serviu como fermento à vontade de acelerá-la. cidades novas, modernas ao seu tempo, planeja- com o que ali acontece. O lugar é o inverso do es- das e construídas em curto espaço para serem ca- A intenção de transferência da Capital para o paço. O lugar só se constitui em base a toda uma pitais dos seus estados. interior data do século XVIII, com os temores do ordem de determinações históricas e geográficas, Marquês do Pombal de uma invasão estrangeira. A idéia da nova capital se tornava palpável. enquanto o espaço, por si só, é indeterminado. A Inconfidência Mineira incluiu-a entre seus princí- Juscelino Kubitschek a assumiu como causa e, Empregar a categoria “lugar” para um determina- pios, assim como D. João VI cogitou afastá-la da para elaborar o projeto, chamou o arquiteto Oscar do sítio implica em não poder ignorá-lo, preterí-lo costa. A primeira constituição imperial, de 1824, Niemeyer, colega de equipe de Lúcio Costa no e substituí-lo, por ser ele único e insubstituível. Sua por vontade de José Bonifácio, se comprometeu projeto do Ministério da Educação no Rio de Janei- identidade própria, resultante da passagem do com a construção de uma capital continental, as ro – quando ambos conviveram com Le Corbusier tempo, das imposições do ambiente natural, da seguintes cartas magnas, já então republicanas. –, e depois, em 1939, no projeto do Pavilhão Brasi- ocupação humana e do significado que lhe con- A Missão Cruls, enviada ao Planalto Central pelo leiro da Exposição Universal de Nova York. feriram gerações de moradores e viajantes, soma- presidente Floriano Peixoto em 1892, resultou a de- dos, constitui o que pode ser definido como sendo Para Juscelino, construir Brasília era dar asas marcaço do “Quadrilátero Cruls”. E a sugestão, do o Espírito do Lugar. ao seu espírito empreendedor. De Vargas lhe vinha paisagista francês Antoine Glaziou de construção a determinação de infletir a rota do país rural e su- O espírito daquilo que depois tomaria a forma de um lago, aproveitando a depressão do Rio Pa- balterno e ingressar na era da industrialização e da de Brasília foi sendo forjado desde muito cedo na ranoá. Em 1922 foi erguido o marco comemorativo autodeterminação. história do Brasil, amadurecendo junto com as vi- do centenário da Independência, instalado junto à cissitudes pelas quais passou o país. Ainda no final povoação de Planaltina, situada no território onde, No plano internacional, com o fim da Segunda do século XVII, o retrato do Brasil pela expressão de 34 anos depois, começaria a ser erguida a nova Guerra Mundial o horizonte era de paz e desenvol- um dos nossos primeiros historiadores, Frei Vicen- Capital. A escolha do Sítio Castanho, em 1954, um vimento. As perspectivas do país eram otimistas. te do Salvador, era o de “caranguejos arranhando dos cinco indicados para a localização da Capi- No governo JK o economista Celso Furtado dava a costa”, evidenciando o risco que à época repre- tal Federal segundo o relatório da empresa norte- sustentação a um novo pensamento econômico sentava para uma nação (colônia, à época, mas a -americana Donald Belcher, foi o epílogo dessa enquanto o educador Anísio Teixeira centrava seus mais rica dentre as colônias portuguesas) ter a sua longa busca até chegar à localização precisa da esforços em reforçar o papel da educação nessa população concentrada apenas no litoral. Havia capital. Esses passos foram, lentamente, aprontan- nova proposta de nação. Era um tempo enérgico e que entrar continente adentro para expandir o terri- do um esplêndido berço para Brasília: a depressão criativo para o Brasil e o país se fazia novo e se via tório da Coroa Portuguesa. Disso tinha-se consci- do Rio Paranoá, caudatário da extensa bacia que, com novos olhos. Literatura, poesia, pintura, escul- ência nos primeiros tempos da colonização, tanto depois de percorrer milhares de quilômetros, desá- tura, fotografia, cinema, teatro, música, nas artes assim que as expedições lusas foram avançando gua no Rio da Prata. tudo era inovador. Para os intelectuais vanguardis- pelo território sempre mais para oeste, muito além tas a idéia de que havia uma cultura a descobrir A esse tempo, as emergentes lideranças urba- dos limites impostos pelos sucessivos compromis- desse lado do oceano também era nova. Os mo- nas do país iam substituíndo as oligarquias rurais, sos firmados com a Coroa Hispânica. Entre a costa vimentos políticos de base popular, de trabalhado- arrancando-lhes o comando político. A República atlântica e a Cordilheira dos Andes havia um con- res rurais, estudantes e sindicalistas, que haviam PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB sido sufocados e perseguidos pelos longos anos júri, por ser [...] “o único plano para uma capital ad- de Brasília incapacitou e aniquilou grande núme- da ditadura do Estado Novo, voltavam agora suas ministrativa do Brasil [...] com o espírito do século ro de trabalhadores, como registram as pesquisas demandas para a redução das desigualdades e XX: é novo; é livre e aberto; é disciplinado sem ser sobre as condições nas frentes de obras das em- pela redemocratização. rígido.” presas construtoras. Esse era o espírito do país quando a decisão Com a logística armada, logo os tratores ras- Em base às diferenças de condições de traba- da construção de Brasília, foi dada a público no gavam o cerrado, traçando sobre ele os longos lho se forjaram as alcunhas de “candangos”, para discurso da campanha presidencial proferido em braços do que seriam os eixos viários principais, os trabalhadores braçais, e de “pioneiros” para os Jataí, sudoeste de Goiás, não muito distante do sí- característicos do projeto para o Plano Piloto de quadros da administração pública e das empresas. tio da futura capital. Lúcio Costa, momento mágico registrado pelas Os candangos viviam nos acampamentos da NO- lentes do fotógrafo oficial, Mário Fontenelle. O país VACAP e das empreiteiras: solteiros”, “casados”, Brasília começava a constituir ali seu próprio ia sendo tomado pela idéia da construção da nova “chefes de turma”, “mestres”, e “engenheiros”, espírito, depois dilatado em potência e complexi- capital. O Plano de Metas de Juscelino, cujo slo- com alojamentos para os primeiros e casas para dade pela saga da construção da cidade. Deba- gan era “50 anos em 5”, tinha nela sua face mais os demais, de diferentes categorias e comodida- tes, discordâncias e protestos no Rio de Janeiro visível e midiática. des. Essa forma de organização da vida e do traba- foram pouco eficazes para brecar as medidas pre- lho em acampamentos, foi desaparecendo,devido paratórias para o início do processo de construção A construção, em uma escala nunca vista no sua remoção ao final das obras, com exceção da da nova capital. Em poucos meses, o avião pre- país, demandou a atração de mão de obra de to- Vila Planalto e da Vila Telebrasília, que subsistiram sidencial pousava na sede da Fazenda do Gama, dos os quadrantes, promovida pelas empresas de graças à organização de sua população. próximo da qual foi erguido em dez dias o Cateti- construção, as empreiteiras, em sua maioria de nho – o “Palácio de Taboas”, lugar de residência e Minas e do Rio de Janeiro. A arregimentação de A emulação do entusiasmo era forte. Visitando de despacho da equipe de governo. operários nos grotões do país provocou em si um o canteiro de obras de Brasília em 1959, o intelec- efeito de cisão das estruturas tradicionais de mui- tual e escritor francês André Malraux, então Ministro Estradas, e precárias, só as havia até Aná- tos desses lugares, dominados pelas oligarquias da Cultura, cunhou a expressão “Capital da Espe- polis, também ponto final da ferrovia. Materiais e, via de regra, mergulhados na pobreza. Os ho- rança”, captando o espírito que a impulsionava, essenciais para as primeiras instalações eram tra- mens se iam, e suas famílias, depois de um tempo, igualmente inspirador da “Sinfonia da Alvorada”, zidos por via aérea, ao mesmo tempo à abertura seguiam sua rota. Mesmo diante da precariedade composta por Tom Jobim e Vinícius de Morais, a das estradas. Em setembro de 1956 era lançado inicial, Brasília representava, e efetivamente foi, um pedido de Juscelino. o concurso para o projeto urbanístico da nova ca- futuro melhor para essa massa antes sem perspec- pital, no qual concorreram 26 equipes. Niemeyer Tudo em Brasília seria diferente: novo jeito de tivas. Para quem vinha da carência absoluta, es- desenhava o primeiro hotel - Brasília Palace - e a morar, de circular, um sistema de ensino inovador, a colas, hospitais, cantinas, eram grandes avanços residência presidencial – Palácio da Alvorada – am- comunicação entre pessoas originárias de rincões e para muitas dessas famílias, seus filhos foram a bos localizados em cota correspondente à orla do distantes, a mútua curiosidade pelos distintos mo- primeira geração resgatada do analfabetismo. que viria a ser o lago Paranoá. Alvoroço e novidade dos de viver, os falares, a música, cozinha, todos mobilizando profissionais de todo o país para apre- Mas na base da construção de Brasília esta- abertos a esse novo mundo de oportunidades que sentar suas propostas à decisão de um qualificado vam condições de trabalho penosas, trabalho inin- Brasília lhes apresentava. júri internacional . Estudos e pesquisas regionais terrupto, jornadas de 18 horas e ao final, de até 24 Enquanto Capital nacional, centro das deci- embasavam muitas das proposições, antevendo a horas, de modo a cumprir o prazo para a inaugu- sões do país, Brasília espantava quem a visitasse, repercussão da construção da nova capital sobre ração, marcada para 21 de abril de 1960. Erguida especialmente por sua feição incomum: os edifí- aquele extenso território desocupado. Lúcio Costa à força, sobretudo, do trabalho braçal, pela pouca cios destinados aos três poderes, o Congresso Na- venceria o certame com um projeto claro, inteligível maquinaria e equipamentos disponíveis, pela ine- cional, os Palácios e os Ministérios, concentrados e exeqüível, mas principalmente, como o definiu o xistência de segurança do trabalho, a construção DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I PRÓLOGO em um único eixo, longo e largo, exibiam formas cotidiano na nova cidade e, pouco a pouco, vão venções, aproximando-a de padrões de relação arrojadas, nunca dantes vistas, cujas estampas a se forjando hábitos próprios, depois enraizados na mais modernos, nos quais nomes tradicionais de imprensa passou a divulgar pelo país afora e no cultura local, no que veio a ser o modo de viver família pouco contavam, e em que a crescente exterior, fazendo com que penetrasse o imaginário brasiliense ou de viver em Brasília. São inúmeros miscigenação entre as etnias, a acelerada redução dos brasileiros e estrangeiros. O orgulho pela nova os componentes dessa trama em que tudo é ino- do número de filhos por família e o crescimento da Capital, o reconhecimento do que representava a vador, não apenas o ambiente físico do novo ur- escolaridade dão a medida da mudança. façanha da sua construção, enquanto comprova- banismo e da nova arquitetura, plantados na nova No terreno da espiritualidade, a mística de Bra- ção da energia, criatividade e capacidade de su- paisagem urbana que brota, veloz. Tudo é surpre- sília e do Planalto Central como lugares eleitos que peração dos brasileiros, era a sua marca. sa para aqueles que, trazendo as referências de sobreviveriam a quaisquer catástrofes, dá origem origem, se defrontam com a cidade nova e nela Também as novas formas de morar causavam à instauração e atração de uma multiplicidade de transitam, trabalham e convivem, em um ambiente surpresa. Os apartamentos funcionais recebiam crenças e credos, convivendo com as religiões tra- social e natural que lhes é desconhecido, inventan- mobília padronizada, em estilo moderno, pé-de- dicionais, na forma de uma sociedade altamente do um novo modo de viver. -palito, contando com o que era necessário para sincrética, representada exemplarmente pela figu- as famílias recém chegadas enfrentarem esse novo Há paradigmas a incorporar em todos os âm- ra de Tia Neiva, no Vale do Amanhecer. Procuran- começo. O inovador modo de viver, em Superqua- bitos: nas relações sociais, nas relações de traba- do dar vazão a novas formas de convivência, mais dras, o sistema de ensino de turnos integrais, ex- lho, na relação com a natureza e com o clima, na voltadas a aprofundar a relação com a natureza, perimentado pela primeira vez, a ênfase nas artes educação e na saúde. É oferecido ensino universal e a uma maior compreensão entre as pessoas, e nas atividades físicas, a abundância de espaço e público para crianças e jovens provenientes de disseminam-se comportamentos sociais de perfil público, o clima seco, propício para a vida ao ar lugares e situações sociais diferenciados. É univer- holístico, como os cultivados pela Universidade livre, isso tudo comparece nos relatos das famílias sidade pública, instaurada em moldes inovadores, da Paz, que vão desde um maior cuidado com a dos funcionários transferidos para Brasília; aí co- sob orientação de Paulo Freire e Darci Ribeiro, que saúde e com o corpo, até a atitude de despender meça uma caminhada para forjar a brasilianidade. tinha como prática o aprendizado amplo e holísti- seu tempo livre em um maior contato com a nature- A poeira vermelha é uma constante, assim como co dos conhecimentos. Na UnB conviviam jovens za. Esta se oferece quase ilimitada, o que, aliado à o movimento incansável dos tratores revolvendo a professores e jovens alunos de todas regiões do temperatura estável, sempre amena, aos 300 dias terra pelas trilhas abertas em meio ao cerrado. Um país, empenhados em implantar um currículo aber- de sol anuais e a uma abóboda celeste derramada tempo de acúmulo de realizações e de construção to, voltado para a experimentação. a 360 graus, convida ao gozo do espaço aberto. de uma nova identidade para o país, assim como Do acesso à educação e à saúde e das opor- O relativo isolamento inicial reforçou a convi- para “candangos” e “pioneiros”. tunidades fartas de trabalho resulta uma mobilidade vência com a natureza nas áreas mais próximas à A prodigalidade de espaço público resultante social vertiginosa, impensável nos locais de origem capital e com a região Centro Oeste. Com o Lago do desenho de Brasília, que aos poucos foi sendo dos indivíduos e sem precedentes no país, com Paranoá sempre presente na paisagem, os habi- coberto pelo verde dos gramados, e o sombrea- mudanças radicais se processando entre a gera- tantes de Brasília frequentam o Parque Nacional, do tão característico da sua farta arborização, são ção dos trabalhadores que vieram construir Brasília com suas piscinas de água mineral; a Chapada dela tão indissociáveis quanto a visada desimpedi- e a dos seus filhos, permitindo que pais sem ne- dos Veadeiros, assim como as cidades históricas da avançando sem limites até os largos horizontes, nhuma escolaridade vissem seus filhos atingirem do ciclo do ouro, Goiás e Pirenópolis. A topogra- como seu céu, sempre cambiante, desenhando o a Universidade, não raramente alocados em car- fia, plana ao primeiro olhar, se mostra curiosa e pano de fundo para a sua arquitetura modernista, reiras de Estado. A presença de um contingente variada e o cerrado interessante para os amantes como o próprio espírito desbravador daqueles que representativo de pessoas sem familias, aliada à da aventura. No próprio território do Distrito Fede- vieram “construir um mundo novo”! distância do controle social de origem, exerceu ral há canhadas, colinas e grutas que vão sendo sobre a sociedade um papel libertador das con- conhecidos e explorados. Esse também é o caso A partir de 21 de abril de 1960 se instaura o PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB dos rios das três bacias hidrográficas, com suas Desde o início, as Feiras Livre Populares de arte total” ou como dela disse o crítico Mário cachoeiras, e do Araguaia, mais distante. Tudo re- das cidades satélites foram pontos de referência Pedroza, “síntese da interação das artes”. Legado força a consciência do brasiliense para com a pro- e encontro para conterrâneos que longe da terra da mentalidade arejada do seu tempo, grandes teção à natureza. Com a predominância do espaço de origem buscavam cultivar seus costumes, sua escultores têm suas obras pontuando os espaços público aberto e arborizado sobre o lote privado e música e sua culinária, nelas encontrando do que públicos de Brasília, como Bruno Giorgio e Alfredo fechado, a vida de relação no ambiente acolhedor alimentar suas lembranças; em Brasília, São João Ceschiatti. Os painéis azulejados de Athos Bulcão das Superquadras propicia insuspeitas facilidades é a quadra mais animada, inspirada pelo Boi do preenchem coma animação dos seus grafismos a para o encontro. Como desejava Lúcio Costa, tudo Teodoro, originário do Maranhão. A Casa do Canta- amplitude dos espaços construídos. está à mão, próximo, facilitando a convivência. dor da Ceilândia, tradicional em acolher os repen- A luz aguda do Planalto e o impacto visual tistas, contribuiu para a continuidade dessa arte A abertura da população para a inovação é um da abóboda celeste, aliados a sua grande esca- e o Clube do Choro fez renascer a tradição dos dos traços. Além da medicina alternativa em todas la fazem de Brasília uma cidade cenográfi ca por chorões, trazida do Rio de Janeiro. ; o aprendizado as suas variantes e das técnicas cognitivas, das natureza, pronta para ser captada pela fotografia das diversas expressões musicais é oferecido pela terapias individuais e coletivas, todas as formas e pela imagem em movimento .Tendo como refe- Escola de Música, pertencente à rede pública e de de práticas corporais são acolhidas e criam seus rência o Festival de Cinema de Brasília, que pauta excelência. Inaugurando a prática da música em nichos em Brasília. Sedenta de conhecimentos, a produção nacional, Brasília possui alto índice de espaço aberto, enfrentando o isolamento imposto a cidade possui inúmeros centros de pesquisa: o salas de cinema por habitante, enquanto o teatro pela censura da ditadura, a juventude de Brasília CPAC da Embrapa, fazendas experimentais, esco- é enriquecido por uma atividade cuja gênese vem instituiu os Concertos Cabeça, berço do rock bra- las agrícolas, o Jardim Botânico e uma variedade do esforço pioneiro da atriz Dulcina de Moraes em siliense, expressando as escolhas pessoais e so- de parques naturais, capitaneado pelo Parque Na- oferecer formação teatral a sua juventude inquie- ciais da sua geração, cujas centenas de bandas cional, com uma extensão de 33 mil hectares de ta. Esta também encontrou no grafite uma forma animaram o cenário do país nos anos 1980-90, cerrado tangenciando o Plano Piloto. privilegiada de expressão, cujo foco histórico foi o com lideranças reflexivas como Renato Russo, os Centro Cultural da Quadra 508 Sul da W3. As cidades de Brasília, desde as mais antigas, Paralamas do Sucesso e o Capital Inicial, entre ou- Brazlândia e Planaltina, testemunhas dos velhos tros. A língua brasiliense nesses primeiros 50 anos Para o cidadão brasileiro sua capital nacional caminhos de mulas da Bahia a Minas Gerais, até já é um misto dos falares brasileiros, tornando-se é carregada de chavões. Verdades que dói reco- as mais recentemente instaladas, vão forjando a inidentificável um sotaque específico, mas facilitan- nhecer e inverdades que não fazem sentido para sua identidade. Junto ao Plano Piloto, o Cruzeiro, do assumir o dos outros. Na cidade capital há sem- quem vive o dia a dia de Brasília. Há controvérsias denominada inicialmente de “Gavião”, o Gama, pre gente chegando e partindo devido à rotativida- sobre Brasília ser ou não a síntese do Brasil. Nela originária da Fazenda do Gama, Sobradinho, a ci- de de quadros do Executivo, do Legislativo e do há lugar para a riqueza excessiva, para a pobre- dade serrana, uma das primeiras a acolher os tra- Judiciário, sem contar com as trocas nos corpos za aviltante, há lugar para diplomatas e indígenas, balhadores e funcionários deslocados do Rio de diplomáticos sediados nas embaixadas de 113 pa- para o atraso e a inovação, extremos em perma- Janeiro. Taguatinga, conquistada pela teimosia dos íses ali representados. nente confronto. Há, apesar e acima de tudo, um candangos, reduto dos operários com famílias, se- forte sentimento de pertencimento a essa cidade- No tocante às artes, o pensador alemão Max guida do Guará, da Ceilândia, formada da reunião -capital, a esse país e de ser cidadão do mundo Bense considera que em Brasília há uma predo- de moradores de vários pontos do DF; o Paranoá, sem sair do Quadrilátero. minância da escultura sobre as demais artes, deri- originária do acampamento de construção da bar- vando daí uma das suas características, reforçada Para uma cidade, os primeiros 50 anos são ragem e da primeira usina de geração de energia. pelo efeito escultórico de cada uma das expres- tempos de constituição. O espírito de Brasília se A essas vieram se reunir as mais recentes: Santa sões da arquitetura modernista, pousadas no ce- constrói no amálgama do que é o País com essa Maria, São Sebastião, Riacho Fundo, Recanto das nário urbano monumental, na qualidade de “obra sua experiência ímpar, aberta para o novo. Emas. DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

“Não menos evidente é o fato de que – por a sua transmissão para o futuro. Esta definição é todas as razões – a capital é histórica de nas- plenamente aplicável como pressuposto de base cença, o que não apenas justifica, mas exige para o entendimento do processo metodológi- que se preserve, para as gerações futuras, as co de intervenção em objetos de valor histórico, características fundamentais que a singulari- como Brasília, quando interpretado no seu sentido zam”1 mais amplo. Lúcio Costa Preliminarmente, há que entender o termo Considerando a particularidade do sitio histó- “restauração” como uma ação sobre a obra (res- rico a ser preservado, é importante destacar o fato tauração, conservação, complementação). Seu do Plano Piloto de Brasília, como aponta Lúcio emprego na teoria brandiana busca o ato de res- Costa em “Brasília Revisitada”, ter nascido histó- tauração como um processo científico, situado rica, tratando-se de um objeto singular, capital do em um determinado lugar e momento temporal, país, construída segundo um projeto representati- o qual exige uma série de ações prévias à inter- vo do espírito do seu tempo, inserida em território venção que permitam o reconhecimento das pro- de grande extensão e crescente complexidade. priedades físicas da obra no momento de sua A elaboração de um Plano de Preservação nes- criação (instância estética) assim como as incor- te contexto pressupõe uma dimensão conceitual porações e os acréscimos ocorridos ao longo do especial, que estruture o método de abordagem e tempo (instância histórica), conseqüências estas balize as decisões tomadas ao longo do processo da passagem da obra no tempo desde sua cria- sob a ótica da preservação, objetivo principal do ção até o momento da ação restauratória. É neste trabalho que aqui se desenvolve. Entretanto, tendo sentido que a teoria aponta a intervenção como em vista os princípios projetuais adotados para a um momento de reflexão crítica acerca do que foi concepção urbanística do Plano Piloto, que o dis- concebido originalmente no momento-gênese da tinguem das demais cidades históricas, os proce- criação da obra de arte e do que foi incorporado dimentos adotados para a normatização e gestão ao longo do tempo de sua existência, sendo estes da sua proteção deverão ser os adequados para últimos vestígios os que testemunham a “instância o caso de Brasília. A seguir descrevem-se os pres- histórica” os quais devem ser considerados partes supostos teóricos que sustentam a abordagem do constituintes da obra. tema em questão e as razões da sua aplicação. O que se pretende essencialmente com este a) Aspectos conceituais para a abordagem procedimento é evitar o que poderia ser definido do problema como “repristinação”, ou seja, a falsa restauração Brandi (2002) entende a restauração como do objeto de acordo com uma suposta originali- o momento metodológico de reconhecimento da dade estética que jamais existiu, pelo simples fato de que toda obra de arte é constituída de matéria obra de arte em sua consistência física e em sua 1 COSTA, Lucio. Brasília Revisitada, 1985/1987. Anexo I do dupla polaridade estética e histórica, com vistas e portanto sujeita à ação do tempo, tanto como Decreto nº 10.829/1987 - GDF e da Portaria nº 314/1992 – agente de deterioração física quanto como agente IPHAN. 27 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB no processo de sedimentação cultural dos povos parte constituinte, e por conseqüência atribuindo- e seus reflexos na apropriação da obra em si. -lhe o valor decorrente do processo histórico da passagem do tempo e de sua importância como Também é importante salientar que Brandi registro da apropriação da obra pelos seus suces- aconselha que em uma restauração, para o “trata- sivos usuários. Devido a sua contemporaneidade, mento das lacunas”, seja adotada a clara diferen- esta abordagem do objeto artístico-histórico se ciação das partes novas em relação às originais constitui em pressuposto conceitual apropriado mas sem com isso comprometer o sentido de uni- para tratar do problema da preservação de bens dade, indispensável ao atendimento da “instância arquitetônicos e urbanísticos de valor patrimonial estética”, em concordância com os princípios da com características dinâmicas como são as cida- Carta de Veneza (ICOMOS, 1964). des em geral, e Brasília, em particular, com vistas Assim, o que se observa na teoria brandiana a sua transmissão para as gerações futuras. é o entendimento de que a unidade estética da obra deve ser preservada no seu sentido global, b) Recomendações internacionais para de forma a ser entendida e percebida na sua to- preservação, gestão e planejamento de sítios talidade, mas que cada intervenção, complemen- históricos: as Cartas Patrimoniais tação ou restauração deverá ter a marca de seu tempo, diferenciada e caracterizada enquanto tal “Conjunto histórico é todo o grupo de cons- no sentido de não se constituir “falsos históricos”. truções e de espaços, inclusive de lugares ar- Observa-se também a necessidade de definição queológicos e paleontológicos, que constitu- do que foi efetivamente incorporado à obra como am um assentamento humano tanto em meio

Figura I.1. Processo histórico x apropriação da obra por seus usuários Reflexões do Plano Momento Gênese Situação Atual Reflexões do Plano Cenários Futuros Descaracterizações da proposta original 1960 Elaboração PPCUB - 2010 200n... Assimilação dos princípios Incorporação de elementos novos à configuração urbana

Instância Estética Instância Estética x Instância Histórica

Instância Histórica Momento 1 Momento 2Momento 3 Momento n... Atributos de Configuração Urbana Leitura dos Atributos do Sítio (Concepção Urbanística) (Interação entre os componentes materiais e Fonte: RSP, 2010. imateriais que definem o “espírito do lugar”) 28 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I INTRODUÇÃO

urbano quanto em meio rural e cuja coesão e A relação entre os diversos espaços urbanos, planejamento urbano tem como fator essencial o valor são reconhecidos desde o ponto de vis- edifícios, espaços verdes, e livres; reconhecimento e formulação de oportunidades e ta arqueológico, arquitetônico pré-histórico, A forma e aspectos dos edifícios (interiores e riscos no sentido de garantir um equilibrado de- histórico, estético ou sociocultural” exteriores), definidos através de sua estrutura senvolvimento do processo de desenho destas Carta de Nairobi (1976) e volume, estilo, escala, materiais, cor e de- áreas, assim como a indicação de que a base coração; para as intervenções estruturais é uma análise Embora a Carta de Atenas (1931) seja consi- As relações entre a Cidade e seu entorno, derada o marco inicial das orientações conceitu- bem que seja natural ou criado pelo homem; compreensiva do sítio para identificar valores e ais internacionais sobre quanto à preservação de As diversas funções da Cidade, adquiridas no significados. monumentos e sítios históricos, a Carta de Veneza curso da história.” (ICOMOS, 1986) Outro aspecto significativo é a referência ao (1964) é o primeiro documento a tratar da idéia alcance das decisões tomadas no processo de de “entorno” de monumentos históricos. A Carta A Carta de Toledo/Washington aponta para planejamento urbano destas áreas, quando reco- de Paris (1972) amplia o conceito de preservação, um dos elementos fundamentais e estruturadores menda uma investigação dos seus efeitos a longo inserindo a idéia de “lugares” como patrimônio dos sítios históricos e de sua percepção, ou seja, prazo e propõe a sustentabilidade das interven- cultural, mas efetivamente a primeira definição de a questão da preservação da imagem do sítio a ções como parte integrante do processo de pla- “conjunto histórico” somente aparece nos anos partir da definição de seus atributos essenciais, de nejamento, a qual visa à proteção do tecido urba- 1970 com a Carta de Nairóbi (1976), citada acima. forma a assegurar sua legibilidade e autenticida- no histórico, a matéria construída e o contexto no de. A incorporação do conceito de “entorno”, qual se insere. “lugares” e “centros históricos” nas cartas patri- O Memorando de Viena tem como foco prin- No que tange às diretrizes de preservação, moniais é um dos registros da tomada de cons- cipal a gestão das “paisagens urbanas históricas”, este documento detém-se especialmente sobre ciência entre os anos 1960 e 1970 acerca da ne- inscritas ou propostas para inscrição na Lista do as novas inserções e sua relação com o contexto, cessidade de preservação dos monumentos em Patrimônio Mundial. Neste documento, retoma-se recomendando o respeito aos atributos que defi- seu contexto mais amplo e da necessidade de a idéia do reconhecimento do caráter dos sítios nem a escala do lugar, particularmente as alturas e recuperá-los em seus atributos físicos. Até então, históricos através da composição entre os seus volumes, no sentido de minimizar impactos sobre toda a reflexão teórica sobre preservação e seus atributos físicos, tais como usos e padrões urba- os elementos históricos que o compõe. Coloca rebatimentos práticos estava centrada no objeto e nos, organização espacial, relações visuais, to- também o desenho dos espaços públicos como em suas relações com o entorno imediato. A idéia pografia, vegetação, assim como a micro-escala um dos componentes essenciais para a mitigação de “sítio histórico”, da Carta de Nairobi, será de- (mobiliário, pavimentação) e demais elementos dos efeitos negativos do tráfego e dos estaciona- senvolvida na Carta de Toledo/Washington no que constituintes o espaço urbano. mentos sobre o território. Outro aspecto importan- tange à definição de seus atributos configurativos, Este documento, além de referendar os as- te para o objeto do PPCUB é o que o Memorando onde se encontram algumas diretrizes conceituais pectos já levantados na Carta de Toledo/Washing- de Viena considera como “principio geral”: a re- que dizem respeito aos valores a serem preserva- ton, aborda a questão do impacto do desenvol- comendação de enquadramento da proporção e dos nestes sítios: vimento urbano contemporâneo sobre os sítios do desenho aos padrões preexistentes (históricos) urbanos com significado histórico, ampliando a nas novas inserções. “Art 2 – Os valores a conservar são o caráter noção de paisagem urbana histórica para além A Carta de Foz do Iguaçu (2008) insere na histórico da cidade ou conjunto e a soma de dos conceitos tradicionais de “centro histórico”, elementos materiais e espirituais que determi- discussão teórica acerca da preservação de sítios alcançando o território e sua paisagem como con- nam a sua imagem, especialmente: históricos o conceito de “espírito do lugar” e a ne- A forma urbana definida pelo desenho e par- texto de proteção e preservação. Neste sentido, cessidade de sua preservação, no que é referen- celamento; no que se refere às diretrizes de base para a con- dada pela Declaração de Quebec (2008): servação destes sítios, aponta que o processo de 29 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

“A noção de “Espírito do Lugar” está vincula- pelo relevo, vegetação e componentes caracterís- preservação no âmbito internacional no que tange da à interação dos componentes materiais e ticos; uma instância antrópica, responsável pela à abordagem do problema, ao reconhecimento do imateriais dos entornos naturais e/ou construí- consideração das intervenções do homem sobre Sítio e de seus valores e atributos e, mais especi- dos pelo ser humano. Se trata de um aspecto a natureza, incluindo as edificações, os traçados ficamente, a algumas recomendações referentes essencial, já que por sua mesma definição um urbanos e as modificações realizadas sobre a pai- ao processo de planejamento urbano dos sítios de “lugar” não é qualquer espaço, mas um espa- sagem natural. valor patrimonial. ço caracterizado pela sua singular identidade. Neste sentido, o “espírito” é um alento vital Estas instâncias se complementam no con- Outro elemento importante a ser considera- que expressa tal identidade, resultando da re- ceito de paisagem cultural, na medida em que a do no Diagnóstico é a participação da socieda- lação entre uma determinada cultura e o sítio paisagem urbana se associa de modo indelével de. A partir da participação popular compilam-se em que se desenvolve. Entre os elementos aos processos sociais e históricos, estes sim res- as demandas levantadas através das dinâmicas componentes ou com participação no “Espíri- ponsáveis pela estruturação da memória espacial realizadas durante as Reuniões Plenárias e con- to do Lugar”, se identificam os seguintes: As características do entorno geográfico e do e do sentido dos lugares. sultas, previstas no Programa de Participação da meio natural; População – PPP, interpretando os resultados e O patrimônio natural sacralizado através dos “... entende-se que o patrimônio material dos verificando seus rebatimentos em cada categoria significados dados pelas comunidades; sítios urbanos é um produto de ações em analisada previamente. O modo particular e que tem se desenvolvido, sociedade, que ele se caracteriza por estar Considerando a natureza das informações a através do tempo, a relação entre as comuni- em permanente construção e dialoga inces- dades e o meio natural, expressada nas pai- santemente com saberes, fazeres e demais serem levantadas e analisadas, e sua interferên- sagens culturais, cidades, espaços urbanos e atividades, afetos e rituais que marcam os re- cia no Plano a ser elaborado, para cada categoria rurais; lacionamentos entre os indivíduos. Apresen- de análise utiliza-se de métodos específicos rela- Os lugares apropriados pelo ser humano, tais tando-se em concretude física e perceptível, cionados ao tema em pauta. Assim, introdutoria- como os espaços abertos urbanos e rurais, o patrimônio material dos sítios urbanos faz mente às analises, se descreve sucintamente os cenários da vida comunitária e suas manifes- da forma seu principal atributo, por meio do métodos aplicados e as fontes de obtenção dos tações espirituais; qual não apenas se expõe à contemplação e dados utilizados. Cada item de análise do diag- Os espaços construídos que expressam um informa sobre a vida social nele corrente, mas, nóstico constitui-se de um texto descritivo, segui- também, interage com os que nele se encon- modo particular de resolver as necessidades do de mapas e material gráfico pertinente com- para o desenvolvimento da vida humana”. tram. Portanto, entendemos que a forma dos plementado com conclusões gerais, ou seja, os (ICOMOS, 2008) sítios urbanos não é uma instância passiva e neutra, mas um elemento vivo que também seus rebatimentos na área de estudo que podem age – permitindo, possibilitando, facilitando e ou não vir seguida de indicativos à preservação. A reflexão constante nestes dois documentos induzindo, ou inibindo, restringindo e impossi- Por fim, ressalta-se que o enfoque adotado insere a “dimensão imaterial” como um compo- bilitando práticas sociais que não prescindem nas análises tende a observar os elementos sob nente da imagem do lugar, sugerindo uma abor- da espacialidade.” (IPHAN, 2001) a ótica da preservação do sítio em questão, le- dagem que se aproxima sensivelmente dos con- vantando os aspectos que interferem, ou podem ceitos de “Paisagem Cultural” e de “Paisagem Deste modo, reconhecendo o alcance do Pla- interferir, na imagem da cidade ou nos aspectos Urbana”, fundamental para a produção das dire- no de Preservação de um sítio como Brasília, Patri- que a estruturam a sua Concepção Urbanística – trizes de preservação do Sítio histórico em ques- mônio da Humanidade, é imprescindível conside- principal elemento a ser preservado, a qual a ele- tão, Brasília. Quando nos referimos à paisagem rar como pano de fundo à metodologia do trabalho ge como patrimônio histórico tombado em nível urbana, estamos tratando de duas instâncias inter- a reflexão sobre os conceitos contidos nas Cartas Distrital, Federal, e inscrita na Lista do Patrimônio -relacionadas e que contribuem para conferir iden- Patrimoniais. Este entendimento permitirá sintoni- Cultural da Humanidade (UNESCO). tidade aos lugares: uma instância natural, formada zar o PPCUB com o arcabouço teórico acerca da 30 Capítulo 1

Esboço histórico da ocupação urbana

DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 1 - ESBOÇO HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA

1.1. Os Anos JK

O Brasil era apresentado, nos anos 1950, A consolidação da chamada sociedade de estabeleceu em torno do ano de 1958 com o sur- como um país diante de uma encruzilhada histó- massa no Brasil trouxe consigo a expansão dos gimento da “Bossa Nova”. A indústria do disco rica. De um lado, o Brasil rural, o passado agrário meios de comunicação. O rádio cresceu no início em franca expansão logo divulgaria a produção a ser superado e, de outro, o Brasil urbano–indus- dos anos 50. Houve um aumento da tiragem dos musical dos maiores nomes desse movimento: o trial, que apontava a modernidade. O passado era jornais e revistas, e popularizaram-se as fotono- compositor Antônio Carlos Jobim e o cantor João visto como imobilismo e atraso, e a suposição de velas, lançadas no início da década. No cinema, Gilberto. A consonância da bossa nova com o que as forças do novo seriam vencedoras fazia as populares chanchadas, comédias musicais espírito moderno que o governo Juscelino Kubits- parte da cultura que tomava corpo naqueles anos. produzidas pela Atlântida, empresa criada nos chek pretendia imprimir ao país levou o presidente Não por acaso os movimentos culturais mais rele- anos 40, tiveram seu auge nos anos 50, e seus a convidar Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Mo- vantes da década estavam atrelados às idéias de atores foram consagrados pelo público. O teatro rais a compor Brasília, sinfonia da Alvorada, para moderno e de novo: arquitetura moderna, bossa de revista, que também misturava humor e músi- que fosse executada na inauguração da nova ca- nova, cinema novo. Assim, no âmbito mais amplo ca, fazia bastante sucesso. As revistas ilustradas pital da produção cultural brasileira, Brasília articula-se semanais, com circulação nacional, tiveram seu Todos estes movimentos, de forma indepen- a um momento de intensa renovação artística e período áureo durante os anos JK, com a introdu- dente ou articulada, acabaram por aprofundar e com expressiva projeção internacional. ção de uma nova estética na distribuição das fo- revisar o que fora feito até então, movidos pela tografias. A revista O Cruzeiro (do Rio de Janeiro) O fim da Segunda Guerra Mundial implicou o crença na construção de uma nova sociedade – deu espaço a grandes reportagens onde a cor e estímulo à penetração da cultura norte-americana fosse ela industrial, fosse ela centrada na valori- as imagens eram dominantes. A revista Manchete nos países latino-americanos e no Brasil. Reforça- zação do elemento nacional e popular abraçando (também do Rio) foi grande divulgadora das pro- do pela prosperidade econômica norte-america- expressões artísticas e estéticas inovadoras. Essa postas desenvolvimentistas de JK e valorizou o na, difundia-se em todo o mundo ocidental um es- foi a marca do processo de renovação estética slogan “50 anos em 5”. pírito de otimismo e de esperança, um novo modo em curso ao longo da década de 1950. Por ou- de viver propiciado pela produção em massa de O entusiasmo pela possibilidade de construir tro lado, o vigor do movimento cultural encontrava bens manufaturados de uso pessoal e doméstico. algo novo implicou o surgimento e/ou o impulso a eco junto a setores das camadas médias urbanas No Brasil, essas transformações foram se conso- vários movimentos no campo artístico. Eram no- em franca expansão, sobretudo universitárias, sin- lidando ao longo da década de 1950 e alteraram vas formas de pensar e fazer a arte e a cultura. tonizadas com o espírito nacionalista da época, e o comportamento da população que habitava os Na literatura, a década de 1950 marca a renova- com a crença nas possibilidades de desenvolvi- grandes centros urbanos. Consolidava-se a socie- ção da cena literária com a publicação das obras mento do país. dade urbano-industrial, sustentada por uma políti- de Clarisse Lispector, João Guimarães Rosa e ca desenvolvimentista que se aprofundaria ao lon- do Movimento Concretista. No campo das artes go da década, e com ela um novo estilo de vida, plásticas a renovação foi deslanchada a partir da difundido pelas revistas, pelo cinema – sobretudo realização, em 1951, da I Bienal Internacional de norte-americano – e pela televisão, introduzida no São Paulo, e a formação em São Paulo do Grupo país em 1950. concretista Ruptura, em 1952 e no Rio de Janeiro, do grupo Frente, fundado em 1954, formado por Lygia Clark, Lygia Pape e Hélio Oiticica. A renovação da música popular brasileira se 33 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

1.2. A nova Capital

A idéia de mudar a capital e construir um novo vê o início de outra vertente, tendo como centro Brasil direcionado para o interior e integrado esta- difusor São Paulo, denominada “brutalismo”, cuja va presente na pauta política desde pelo menos o linguagem associava o emprego do concreto apa- século XIX e especialmente desde a Constituição rente à idéia da estrutura como definidora da for- de 1891. Um ciclo de construções de cidades-ca- ma, maior peso e horizontalidade (BASTOS, 2007). pitais, como Belo Horizonte no fim do século XIX Brasília não ficará imune a esta vertente, inclusive (projeto de Aarão Reis) e de Goiânia, inaugurada com exemplares projetados por . em 1940 (projeto de Atílio Corrêa Lima), compõem Brasília foi construída, portanto, num momento parte do processo de interiorização do Brasil, da importante de inflexão da arquitetura brasileira, de civilização de seus sertões. busca de novas linguagens e, nesse sentido, a ci- dade foi além de tudo o que representa do ponto Nos anos 40, quando JK foi prefeito de Belo de vista simbólico, histórico e político, um canteiro Horizonte, observa-se ali o início da modernização de experimentações arquitetônicas. da cidade, com a implantação do bairro da Pam- pulha. Juscelino ficou conhecido como o “prefei- to-furacão” pela quantidade e rapidez das obras que fez durante sua gestão. Foi também em Belo Horizonte que começou sua associação com Os- car Niemeyer, que iria se repetir em Brasília. Este período, entre as décadas de 1940 e 1950, coincide com uma fase gloriosa da arqui- tetura brasileira, com grande repercussão interna- cional, a partir, sobretudo da exposição no MoMA em janeiro de 1943, cujo catálogo, Builds tornou-se um portfólio da produção nacional. Se- gundo Bastos (2007), a construção de Brasília coincidiu com um momento de transformação na arquitetura brasileira. Brasília é o ápice da expres- são da chamada “Escola Carioca”, marcada em termos formais, pela “leveza, sinuosidade, vin- culação ao clima pelo uso de protetores solares, integração das artes com o emprego de murais cerâmicos e esculturas”. (BASTOS, 2007). Tal ar- quitetura havia atingido consagração internacional através da obra de Oscar Niemeyer, Afonso Edu- ardo Reidy, M.M.M. Roberto, Jorge Moreira, Lúcio Costa, entre outros. A década de 1950, porém, já 34 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 1 - ESBOÇO HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA

1.3. Fase 1 - Implantação: Plano Piloto e primeiras Cidades Satélites (1955 - 1960)1

Com a posse do governo JK, estabelece-se – e com Belo Horizonte, ligação com o Rio de Janeiro, uma nova ordem política centrada na moderniza- passando por Luziânia e Cristalina. A estrada para Aná- ção, industrialização e urbanização do país. O Pla- polis é iniciada em maio de 1957 e terminada em junho no de Metas 1956-1961, um ambicioso programa de 1958. A estrada para Belo Horizonte (BR-040) inicia- setorial de JK, suportado por investimentos pú- -se em 1957 com conclusão em 1959. blicos e privados, implanta grandes obras de in- Para o canteiro de obras da cidade afluíram inten- fraestrutura, transporte, energia e comunicações, sos movimentos migratórios, principalmente do Nor- indústrias básicas e de bens de consumo durá- deste. Nos primeiros anos a população passa de 500 veis, além da construção da nova Capital, Brasília. pioneiros em fins de 1956 para 12.700 habitantes em Originalmente Brasília não constava das 30 metas 1957; 64.314 habitantes em 1959, chegando a 127.000 que compunham o Plano. Brasília só entrou no fi- em 1960, quando da inauguração da cidade (Paviani, 1985). O alojamento desta população incluía três áreas nal, como um acréscimo, passando a ser a meta principais: número 31 e logo se tornou a “meta–síntese”. Ao longo do governo ela assumiu a função de con- densar o programa de JK e de simbolizar a idéia ‡ o acampamento da Novacap, implantado de que era possível dar um salto no tempo e reali- em 1956, divido em dois alojamentos: o QG da zar “50 anos em 5.” Novacap, ou “Velhacap”, com os escritórios, es- A implantação do Plano Piloto veio precedida de cola e residências para a equipe administrativa e uma logística do governo Juscelino Kubitschek em ter- técnica e a Candangolândia, onde estavam aloja- mos de desapropriações, criação de acessos e estrutu- dos seus 1200 operários. ração das equipes de implantação e planejamento. Já ‡ os alojamentos, escritórios e depósitos em 1955 são iniciados os processos de desapropria- ções das terras do quadrilátero goiano. Logo se iniciam dos Institutos de Previdência (IPASE, IAPB, IAPE- os trabalhos em rodovias e ferrovias, tendo a cidade TC, IAPC, IAPI, CAPFESP, FCP, CEF), responsá- de Anápolis como principal base logística. As ligações veis pela construção das unidades residenciais ferroviárias que comunicariam Brasília com Belo Hori- da Asa Sul da cidade. Organizavam-se em nove zonte (através do prolongamento da E. F. Central do acampamentos que delimitavam os lugares das Brasil, partindo de Pirapora) e São Paulo iniciaram-se superquadras. Os alojamentos da Fundação Casa em janeiro de 1957, mas o primeiro trem chega a Brasí- Popular (FCP) já foram construídos como ocupa- lia apenas em 1968. Assim sendo, a fase “heróica” da ção permanente e ocupavam o local das casas construção de Brasília se deu através de acessos ro- geminadas do SHIGS da W3, projetadas por Os- doviários e nos primeiros tempos através dos acessos car Niemeyer. O conjunto destes acampamentos aeroviários. Diversos campos de pouso foram constru- ídos já a partir de 1955 até a construção do aeroporto abrigava 8737 pessoas. comercial, entre 1956 e 1957. ‡ os acampamentos das empreiteiras parti- Em termos rodoviários, os primeiros trabalhos fo- culares, situados no entorno dos anteriores, sen- ram no sentido de providenciar a ligação com Anápolis do que o maior localizava-se na Praça dos Três – principal ponto de conexão com São Paulo e Santos Poderes, com 7000 pessoas. Este tem seu início 1. Consultar no Anexo 1 a cronologia da ocupação. 35 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB em 1957 para a construção do Palácio Presiden- nalmente para a transferência da Vila Amaury, mas para servir de residência aos seus diretores. Em cial e o Hotel de Turismo, antes mesmo do con- posteriormente tornou-se residência de funcioná- 1959 foram construídas casas para oficiais da Ae- curso. A estes acampamentos pioneiros, juntam- rios públicos; ronáutica, devido à proximidade da Base Aérea. -se os acampamentos das construtoras Rabello e ‡ Gama, com projeto de Paulo Hungria Ma- Em 1957 inicia-se a implantação dos eixos Pacheco Fernandes. Em 1958, são remanejados chado, inspirado no projeto classificado em tercei- rodoviários e as avenidas transversais; em 1958, pela Novacap para uma área mais distante para ro lugar para o concurso de Brasília (BRITO, 2009) prosseguem os arruamentos na Asa Sul e em desocupar a área das obras. Na nova localidade, foi implantada em 1960 para a transferência dos 1959 foi concluída a plataforma no cruzamento com o início das obras do Congresso Nacional, do assentamentos do centro e da Vila Planalto. dos eixos rodoviário e monumental, incluindo dez Palácio da Justiça e do Supremo Tribunal Federal, viadutos, a rodoviária e a plataforma superior (BRI- formou-se um aglomerado de vinte e dois acam- TO, 2008). Em termos de infraestrutura, na data da pamentos que ficou conhecido como Vila Planalto Além destas três cidades-satélites, deve-se inauguração de Brasília já estão implantadas gran- (BRITO, 2008). Um outro acampamento operá- citar o caso do Setor de Residências Econômicas de parte das estradas-parque que fazem parte do rio independente foi montado nas proximidades Sul (SRES), conhecido como Cruzeiro Velho, cria- Plano Rodoviário do Distrito Federal: Estrada Par- da Usina Hidrelétrica do Paranoá em meados de do em 1958 pela equipe de Lúcio Costa para abri- que Contorno (EPCT), Estrada Parque Dom Bosco 1957. gar funcionários públicos federais. Seu isolamento e suas casas térreas brancas de um pavimento (EPDB), Estrada Parque Taguatinga (EPTG), Estra- A zona comercial que atendia a esta popu- em fita fizeram com que ficasse conhecido nos da Parque Acampamento (EPAC), EPNB, Estrada lação era uma área temporariamente reservada primeiros anos como “Cemitério”, apelido depois Parque do Torto (EPTT), Estrada Parque Península para a iniciativa privada, que supria os pioneiros substituído por “Gavião” e finalmente “Cruzeiro” (EPPN), Estrada Parque Paranoá (EPPR), Estrada de bens e serviços. Essa zona ficou conhecida em função da proximidade com o local da celebra- Parque Indústria e Abastecimento (EPIA) e Estrada como Cidade Livre, embora fosse oficialmente de- ção da primeira missa de Brasília (BRITO, 2009). Parque Ipê (EPIP) (BRITO, 2008). nominada Núcleo Bandeirante. No tocante ao Plano Piloto, este período mar- Já desde a sua inauguração, Brasília apresen- Outra população formava, simultaneamente ca o que alguns consideraram a “fase heróica” de ta uma segregação de atividades e pessoas não aos acampamentos oficiais, favelas ou invasões, Brasília, com a construção do Catetinho (1956), ligadas a sua monofunção político-administrativa, nas adjacências. As ações de remoção e reassen- do Palácio da Alvorada, do Brasília Palace Hotel incluindo-se aí os próprios trabalhadores que a tamento dos habitantes dos povoamentos ilegais (1957) e dos principais monumentos do Plano Pi- construíram. Sua sede, o Plano Piloto, não com- deram origem às primeiras cidades-satélites auto- loto, como o Palácio do Planalto, o Supremo Tribu- portava e mesmo impedia a diversificação produ- rizadas: nal Federal, a Esplanada dos Ministérios e o Tea- tiva e grandes afluxos populacionais, gerando um modelo espacial regional polinucleado, com nú- ‡ Taguatinga, implantada de forma apres- tro Nacional (todos iniciados em 1958) e do início cleos isolados e distanciados do centro principal. sada e apenas como um “plano geral de lotea- da construção do Congresso Nacional (1959). As O Plano Rodoviário do Distrito Federal, através do mento” em 1958, para a transferência da Vila Sara primeiras superquadras surgem neste período, as sistema de estradas-parque reforçou esta segre- Kubitschek e de diversas outras ocupações pos- SQS 105, 106 e 107 e as SQN 403/404 e 405/406 já gação através da implantação da Estrada Parque teriores. Devido a sua localização junto a um dos em 1957. Entre 1958 e 1960 predominam as cons- Contorno (EPCT) sobre a linha de divisa da Bacia principais acessos do norte para a cidade, tornou- truções das superquadras da Asa Sul. A elas se do Paranoá, formando um anel viário em torno da -se ponto de fixação de migrantes; agregam desde 1959 os loteamentos dos Lagos – Setores de Habitações Individuais Sul (SHIS) e cidade “central”, resguardando-o. Internamente à ‡ Sobradinho, objeto de urbanização e in- Norte (SHIN) – e do setor de mansões Park Way EPCT, a Estrada Parque Indústrias Abastecimento fraestrutura superior à média do período e com (SMPW). A implantação do Lago Sul teve início (EPIA), delimita ainda mais o núcleo central, iso- projeto assinado pelo colaborador de Lucio Costa, com a construção de casas pela Companhia Ur- lando a leste o Plano Piloto, Cruzeiro e os lotea- Paulo Hungria Machado em 1960, foi criada origi- banizadora da Nova Capital do Brasil (NOVACAP) mentos dos Lagos Sul e Norte. 36 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 1 - ESBOÇO HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA

Ao final do período, em 1960, a configuração da mancha urbana da Capital revela uma aglome- ração concentrada na região sudoeste do Distrito Federal, tendo a estrada Brasília–Anápolis como principal eixo dinamizador, com a Asa Sul em fase de consolidação, o Núcleo Bandeirante como cen- tro comercial principal da cidade, o Aeroporto em construção e Taguatinga como uma das principais cidades-satélite.

37 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

1.4. Fase 2 - Crise da Capital (1960 - 1964)

Após a inauguração, Brasília deixa aos pou- Em decorrência deste quadro, apesar dos cial Colina Velha e a Concha Acústica (1963) e a cos de ser um canteiro de obras para assumir o fortes influxos migratórios, percebe-se no período construção do Aeroporto internacional de Brasília papel de um centro de oferta de empregos em uma falta de políticas e recursos específicos volta- (1965). diferentes níveis e categorias, inclusive não-espe- dos para a habitação social. Daí decorre o aumen- Neste período, a análise da área mancha cializadas, reforçando a vinda de novas levas de to contínuo das habitações informais. As cidades- urbana do Plano Piloto demonstra a ocupação migrantes. Em 1960, a cidade já estava integrada -satélite têm crescimento altíssimo, muito superior prioritária no sentido sul. Apesar do avanço con- ao sistema rodoviário nacional, com a conclusão ao observado no Plano Piloto. Taguatinga passa siderável da ocupação da Asa Norte, incluindo-se de estradas ligando Brasília a Anápolis, Belo Ho- de 26.111 habitantes em 1960 para 68.947 em a construção do Campus da UnB e parte da W3 rizonte, São Paulo e Belém. Entre 1960 e 1964, a 1964. Núcleo Bandeirante e Sobradinho dobram Norte, destaca-se a ocupação da Asa Sul, das su- população do Distrito Federal duplicou, passando sua população em cinco anos. perquadras 700 Sul, ao longo do eixo da W3 – que de 141.742 para 268.315 habitantes, crescendo a No Plano Piloto, destaca-se no período a im- se transforma no principal eixo comercial do perío- uma taxa média de 14,4%. plantação do campus da Universidade de Brasí- do – do Setor Comercial Sul, do Eixo Monumental Segundo Paviani (1985), nestes anos a ci- lia (1962), o início da construção da Catedral de Leste. Também já se encontram ocupados o Cru- dade apresentou desníveis na continuidade da Brasília, do Palácio do Itamaraty e do Ministério zeiro Velho e alguns pontos do Lago Sul. Tagua- construção civil e na economia local em razão das da Justiça (1962). As construções residenciais tinga, Núcleo Bandeirante, Gama e Sobradinho crises políticas no governo federal. A sucessão na concentram-se ainda quase exclusivamente na crescem consideravelmente. presidência de Juscelino por seu opositor político, Asa Sul, sobretudo através do acréscimo de no- Jânio Quadros, resultou uma redução drástica no vos blocos às superquadras já urbanizadas. Este ritmo das obras e disseminam-se boatos a respei- período marca o início da urbanização dos seto- to do cancelamento da transferência da Capital. res centrais, com a construção do Touring Club, Além disto, a partir de então se sucedem graves da Sede do Banco do Brasil e do BNDES (1962) crises políticas, iniciando-se em 1961, com a re- e da Sede do Banco Regional de Brasília (1965). núncia de Jânio Quadros, seguida, em 1964, pelo Outros equipamentos importantes do período são: Golpe Militar. o Jardim Zoobotânico (1961), o conjunto residen-

População Tabela 1.1. População recenseada (1959/1960/1964) Localidade 1959 1960 1964 Plano-Piloto 23.834 68.665 90.582 Núcleo Bandeirante 15.751 21.033 40.235 Taguatinga 3.677 26.111 68.947 Sobradinho - 8.478 19.205 Gama - - 27.524 Planaltina 2.245 2.917 4.223 Zona rural 18.807 14.538 17.599 Total 64.314 141.742 268.315 Fonte: Brito, 2009. 38 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 1 - ESBOÇO HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA

Figura 1.1. Mapa de ocupação urbana do Distrito Federal em 1964.

Fonte: RSP, 2010.

39 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

1.5. Fase 3 - Golpe Militar: retomada do ritmo da construção (1964 - 1975)

A partir do golpe militar em 1964 e a implanta- cutor do Plano de Habitações do DF. Este período sidencial Indústria e Abastecimento; a segunda, ção do regime militar, o ritmo construtivo será reto- é marcado por uma ferrenha política de controle Ceilândia (1969), contígua a Taguatinga, destinada mado, com a renovação do interesse das Forças e remoções de invasões, levada a cabo pela Co- a receber parte das invasões da Vila IAPI, Tenório, Armadas pelas questões de integração e seguran- missão Permanente de Controle de Invasões, cria- Esperança, Colombo, Morros do Querosene e do ça nacional. Intensificam-se as obras de infraes- da em 1965 (BRITO, 2009). Associando-se a esta Urubu, Curral das Éguas, Placas das Mercedes e trutura e as transferências de órgãos e funcioná- política repressiva está o Código Sanitário, criado Bernardo Sayão. (BRITO, 2009). Ainda em 1969, a rios do Rio de Janeiro. Este ritmo será reforçado pela Lei Federal nº 5.027, de 1966, que impõe res- SHIS inicia as obras do Guará II, destinado a rece- nos primeiros anos da década de 1970, quando trições à expansão da área circundante ao “Plano ber parte dos removidos da Vila Tenório e da Vila o país passa por um período de grandes inves- Urbanístico de Brasília”, recomendando o controle IAPI. Segundo Brito (2009), trata-se de um rompi- timentos (o chamado “milagre econômico”), que da implantação de núcleos habitacionais dentro mento da modelagem de ocupação em arquipé- coincide com os anos mais fechados da ditadura de um “anel sanitário”, composto pelos limites da lago que visava a conservação da cidade central militar (1970 – 1973). Bacia do Paranoá. Em 1969 é criada a Campanha como uma unidade física isolada. Além destas de Erradicação de Invasões (CEI). novas cidades, a SHIS promove significativas No âmbito habitacional, a partir de 1964, com ampliações das ocupações existentes, especial- a criação do Banco Nacional de Habitação (BNH) Apesar destas políticas segregacionistas, as mente Taguatinga Norte e Taguatinga Sul, Gama, e do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), a po- duas primeiras novas cidades-satélite criadas, Sobradinho, Planaltina (com o reassentamento de lítica de remoções e a produção de habitação po- Guará I e Ceilândia, estabelecem lógica espacial barracos da Velhacap, Setor Militar, de Sobradinho pular se intensificam, através da criação no Distrito distinta das cidades anteriores (Taguatinga e So- e da Área Alfa) e Brazlândia (transferência da Vila Federal, primeiramente, da Sociedade de Habita- bradinho), localizando-se contínuas à área já ocu- Ibratinga ou Vietcong). Ao final do período está ções Econômicas de Brasília (SHEB), e posterior- pada e não dentro da lógica de “arquipélago”. A lançada a base do eixo de crescimento mais dinâ- mente, da Sociedade de Habitação de Interesse primeira, Guará I (1967), localiza-se dentro dos mico de Brasília nos anos seguintes, estabelecido Social (SHIS), fundada em 1966 como órgão exe- limites da EPCT, em área contígua ao Setor Re-

População Tabela 1.2. População recenseada (1964/1970/1980) Localidade 1964 1970 1980 Plano-Piloto 90.582 243.163 293.210 Núcleo Bandeirante 21.033 11.268 32.282 Taguatinga 68.947 109.452 192.938 Sobradinho 19.205 42.553 69.094 Gama 27.524 75.914 139.016 Guará - 24.864 85.507 Ceilândia - 84.205 286.955 Planaltina 4.223 21.907 47.364 Brazlândia 734 11.507 22.504 Zona rural 17.599 21.700 37.904 Total 249.847 646.533 1.206.774 Fonte: Brito, 2009.

40 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 1 - ESBOÇO HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA entre Taguatinga e o Plano Piloto. de segregação das novas ocupações para fora construídos o Palácio do Buriti e o Iate Clube de deste limite. Brasília. Na primeira metade da década de 1970 Em decorrência desta política acentuada de é construída a Estação Rodoferroviária (1970), remoções e periferização da população de baixa A partir de 1970, incrementam-se as trans- a primeira etapa do Conjunto Nacional (1971), a renda, Brasília chega à década de 1970 com 66% ferências de órgãos públicos do Rio de Janeiro Sede da Caixa Econômica Federal, o Edifício De- da sua população urbana residindo na periferia. e esforços são feitos para estimular a vinda das nasa e o Superior Tribunal Militar (1972), o Centro Taguatinga permanece como o núcleo mais popu- embaixadas mais importantes (Alemanha, Bélgi- de Convenções e o Setor Esportivo (1973), os edi- loso, com 109.452 habitantes, seguido de Ceilân- ca, Japão, Espanha, Grã-Bretanha), “com o que fícios Camargo Correa e Morro Vermelho, a Sede dia (84.205) e Gama (75.914). Esta distribuição da Brasília ganhou um contingente com forte poder do DNER e a Ponte das Garças (1974). Além disto, população força os trabalhadores a estabelecer aquisitivo e vida social diplomática que lhe faltava” este é um período intenso na construção das em- um movimento pendular diário entre Plano Piloto (PAVIANI, 1985). baixadas: Alemanha (1970), Japão e (1971) e e cidades-satélite. Em 1970, a população do Plano Piloto atinge Colômbia (1972). Em 1973 é fundada a Companhia Imobiliária 243.163 habitantes, valor que não sofrerá grandes Na região do Lago Sul, em 1966 foi acrescido de Brasília – TERRACAP, marcando o início efe- alterações desde então. A partir dessa década, o Setor de Habitações Isoladas ou Residência dos tivo do mercado imobiliário em Brasília. Até en- percebe-se que esse setor da cidade está em vias Ministros. O Setor de Chácaras foi acrescentado tão, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital de estabilização em termos de população residen- em 1966, mesmo ano da construção do Centro – NOVACAP passava os “direitos de ocupação” te. De fato, no Plano Piloto, as atividades constru- Comercial Gilberto Salomão, inaugurado em 1968, dos imóveis diretamente aos novos moradores tivas concentram-se ainda nas superquadras da marcando o início da oferta de comércio e serviços ou vendia projeções a Institutos de Previdência Asa Sul (iniciados os trabalhos nas superquadras no bairro até então exclusivamente residencial. ou órgãos públicos. O monopólio das terras em ímpares, especialmente nas quadras 700, arrua- mãos de uma empresa pública marca o mercado mentos internos e pavimentação dos eixos prin- Neste período, a análise da área mancha ur- imobiliário de Brasília desde então. Como a terra cipais e paralelos). Entretanto, intensifica-se a im- bana de Brasília indica crescimento considerável passou a ser disponibilizada para a iniciativa priva- plantação e ocupação da Asa Norte. Além disto, no sentido Sudoeste, com a criação das novas da essencialmente através de leilões e licitações, consolida-se o Setor Gráfico, o Cruzeiro Novo e cidades-satélites Guará e Ceilândia, além do cres- os preços passaram desde o início a atingir um o Setor Residencial Indústrias de Abastecimento cimento da área ocupada de Taguatinga. No Plano valor muito alto, restringindo a participação de em- (SRIA), destinado inicialmente a populações de Piloto, consolida-se a Asa Sul, avança a urbaniza- presas de pequeno e médio porte neste mercado. baixa renda. Com traçados já definidos, manti- ção do Setor de Embaixadas Sul e surge o Cruzeiro (CAMPOS, 1996). veram-se as obras viárias na Esplanada dos Mi- Novo. Além disto, é implantado o Setor Esportivo e nistérios, Setores Bancário Sul, Comercial Sul, de avança a ocupação dos setores centrais. Na Asa Em termos de ações de planejamento urba- Autarquias, Militar Urbano, Hospitalar Sul e Eixo Norte a ocupação é mais intensa ao longo da W3 no, a década de 1970 é um período de intensa Monumental. Destaca-se no período a implanta- e na área da UnB, havendo ainda muitas super- produção de planos setoriais, planos integrados ção da primeira ponte ligando o Setor de Clubes quadras não implantadas. O Lago Sul encontra-se e de projetos específicos, muitos deles colocando Esportivos Sul e a Península Sul (Lago Sul). Na consideravelmente ocupado e a porção noroeste em pauta concepções de cidade que ainda hoje Asa Norte, intensificam-se as construções de blo- do Lago Norte já está implantada. Ocorre no pe- estão em debate. Em 1970 é elaborado o Plano cos residenciais, nas SQN 407, 408, 410, 415 e ríodo vultosos investimentos de infraestrutura na Diretor de Água, Esgoto e Controle da Poluição nas quadras 700 (SHCGN). área rural, especialmente eletrificação e estradas (PLANIDRO), que propõe o modelo de planeja- de penetração, o que vai propiciar nas décadas mento do território orientado pela definição do No período, destaca-se no Plano Piloto a seguintes, segundo Brito (2009), a ocupação do contorno da Bacia do Paranoá como área de con- inauguração da Torre de TV, do Edifício CONIC entorno rural por loteamentos e condomínios, mui- tenção do crescimento contínuo e, indiretamente, (SDS), do Palácio do Jaburu e o início da constru- ção da Ponte Costa e Silva (1967); em 1969, são tos dos quais irregulares. 41 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 1.2. Mapa de ocupação urbana do Distrito Federal em 1975.

Fonte: RSP, 2010.

42 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 1 - ESBOÇO HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA

1.6. Fase 4 - Sedimentação do Plano Piloto (1975 - 1985)

Neste período Brasília se consolida como Ca- jetivando valorizar as cidades-satélite e promover sentamentos urbanos no aglomerado de Brasília, pital da República. Não se verificam crises políti- o desenvolvimento rural. Estavam sendo lançadas o que não ocorria desde 1970 após a locação cas que acarretem atrasos na construção da cida- as bases para a criação de uma região metropo- de Ceilândia. Primeiro foi Samambaia (1981), em de. Nesta década, Brasília emerge como grande litana de Brasília. No final dos anos 1970, o Plano seguida Riacho Fundo (1983) e as Quadras Eco- cidade e ultrapassa o primeiro milhão de habitan- Estrutural de Organização Territorial (PEOT), de nômicas beirando a Estrada Parque Taguatinga tes: passa de 516.896 habitantes em 1970 para 1977, irá instaurar uma outra vertente de plane- (1986). Entretanto, na primeira metade da década 895.958 em 1975, 1.138.835 em 1980, chegando a jamento contraposta à do PLANIDRO, de 1970, de 1980, reduz-se consideravelmente a oferta de 1.495.815 em 1985 (PAVIANI, 1985). Esta popula- contrária à manutenção do sistema disperso de imóveis populares pela SHIS, em decorrência da ção está desigualmente distribuída: em 1970, 45% cidades e recomendando a ocupação de tecido política do governador Aymeé Lamaison de res- da população do Distrito Federal habita o Plano contínuo, especialmente ao longo de áreas infra- ponsabilizar a oferta de habitações pelos altos ín- Piloto; em 1980, apenas 27%. Ao final do perío- estruturadas e vinculando o crescimento ao esta- dices de migrações. do Brasília já se consolida como uma das gran- belecimento de redes integradas de transporte. A Em termos de produção de moradias para des cidades brasileiras e o maior aglomerado do partir de 1979, as intervenções em rodovias priori- estratos de maior renda, neste período o merca- Centro-Oeste. zaram eixos direcionados a divisas interestaduais, do imobiliário foi dominado pela atuação de três caso das obras na BR 080 (acesso para a cidade Segundo Brito (2008), “a intensificação da ati- grandes grupos imobiliários – Encol, OK e Paulo de Padre Bernardo – GO) e na BR 040, principal vidade de transferência da máquina administrati- Octávio – dentre os quais o primeiro tinha o quase ligação com o Sudeste. va da para Brasília foi um dos fatores que ajudou monopólio da produção de imóveis residenciais a manter um crescimento populacional bastante Segundo Brito (2008), até o final da década de no Plano Piloto. O marco inicial foi a criação de um elevado na década de 1970. E esse fortalecimen- 1970, foram construídas milhares de habitações setor residencial completo, com a alienação de 55 to da condição de centro administrativo do país com recursos do Sistema Financeiro de Habitação projeções, denominado Sector Octogonal, com passou a contribuir também para que o setor pú- (SFH) em Brasília. “mas as casas levantadas em projeto aprovado em 1974, mas cujas primeiras blico e de serviços ganhassem algum peso frente parcelamentos nas cidades-satélites, negociadas construções se dão no início da década de 1980. à construção civil, ainda mantido como ramo mais pela Sociedade de Habitações de Interesse Social Na década de 1980, a demanda crescente forte das atividades locais e de maior importância (SHIS), respondiam de forma restrita à vasta de- por moradia de classe média possibilitou o des- na economia da cidade”. Para a autora, os altos manda, passando distante de uma solução con- locamento espacial da atividade imobiliária para índices demográficos vinculavam-se também à creta.” Assim sendo, o déficit em habitações po- as cidades satélites mais dinâmicas, Taguatinga e tendência nacional à urbanização e ao fato de que pulares permaneceu alto. Em 1982, se somavam Guará. Em Taguatinga se presenciou um processo a Capital Federal estabelece-se como uma alter- mais de setenta mil pessoas residindo em assen- de verticalização da área mais central. No início nativa de destino dos migrantes junto com o Rio tamentos informais na Capital. Segundo a autora, dos anos 1980 verifica-se o registro do incremen- de Janeiro e São Paulo. (BRITO, 2008). “nessa contabilidade entravam ainda núcleos an- to dos condomínios privados de classe média, tigos surgidos nos anos iniciais da construção de Em termos de ações de planejamento urba- construídos em zona rural, sobretudo ao longo Brasília que, ainda naquela década, não haviam no, em 1975 o Programa da Região Geoeconô- da BR-040 em direção a Luziânia, São Sebastião, sido regularizados (BRITO, 2008). mica de Brasília (PERGEB), promove a criação de Paranoá, Sobradinho e Planaltina. A tendência de estradas de penetração e de ligação interestadual. O quadro referente à habitação social muda crescimento ao longo do eixo Sudoeste, integra- O programa pretendia orientar a expansão de Bra- na década seguinte. Nos primeiros anos da dé- da a um sistema de transporte de massa, pós – sília, concebendo três áreas de intervenção, ob- cada de 1980, voltaram a ser incluídos novos as- PEOT, se consolida na década com a construção 43 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB de Samambaia, junto a Taguatinga, em 1981, e Brasília já apresentava os resultados do modelo não ocupando todos os vazios existentes. Porém Riacho Fundo, avizinhado ao Núcleo Bandeiran- de crescimento em tecido contínuo, em que pese no inicio dos anos oitenta, a locação de Samam- te, em 1983. Em 1982 é implantado o Programa o aglomerado ainda se encontrar bastante disper- baia, nas proximidades de Taguatinga; do Ria- de Assentamento populacional de Emergência so, com diversos vazios entre o centro urbano e cho Fundo, próximo ao Núcleo Bandeirante, e (PAPE), que teve como grupo executivo o Gepafi, as cidades-satélites criadas com Brasília. Mas o das Quadras Econômicas da EPTG, próximas ao que introduz uma nova estratégia para o tratamen- crescimento da área urbanizada na área do Plano Guará, “deram os primeiros passos para uma fu- to da questão das invasões. O Programa priorizou Piloto havia avançado, com uma expansão signi- tura conurbação das áreas locadas no quadrante a urbanização de assentamentos informais ou a ficativa da mancha urbana no território delimitado sudoeste”(BRITO, 2008, p.165). Assim, a autora transferência para terrenos avizinhados, dentre pela Bacia do Paranoá. percebe que naquele período a cidade inicia o eles a Vila Metropolitana, Candangolândia, Vila processo de superação do modelo polinuclear e Segundo Brito (2008), em 1985 o Plano Piloto Planalto, QE 38 do Guará e a Vila Maricá do Gama. inicia a obedecer a vetores ditados pelos novos já havia perdido o contorno da forma de uma ae- corredores de transporte entre os dois pólos de- Ao final do período, consolida-se a dicotomia ronave, mográficos do território – Plano Piloto e Taguatin- espacial entre o Centro e a Periferia, interligados, (...) espraiando-se com a urbanização das ga. mas profundamente distintos. As cidades-satélite, grandes áreas circundantes, se alinhavando até então mal equipadas e mal infraestruturadas, ao Setor de Indústria e Abastecimento e, a passam a receber investimentos e se adensam partir dele, integrando-se ao Guará I e II. No continuadamente. Segundo Brito (2009), a partir sentido sul, o Núcleo Bandeirante, Candan- de 1978 a Caesb, com recursos do PLANASA, golândia e Setor de Mansões Park Way passa- inicia a implantação e ampliação de redes de in- vam a configurar uma única área urbanizada. fraestrutura em Brazlândia, Núcleo Bandeirante, Para muito além das Asas Sul e Norte, a ocu- Taguatinga e Gama. pação ultrapassava agora também os limites inicialmente previstos para o Lago Sul e para No Plano Piloto, destaca-se no período a o Setor de Mansões Park Way. Em meados da construção da Sede do Banco Central e da Rei- década de oitenta, o avanço da mancha cen- toria da UnB (1975), da segunda fase do Hospital tral para leste (com a ocupação das bordas Sarah Kubitschek (1976), do Quartel General do do antigo caminho para a barragem do Para- Exército e do Edifício da Petrobrás (1977). No iní- noá - a Estrada Parque Dom Bosco (EPDB) cio da década de 1980, são inaugurados o Me- já alcançava as bordas da EPCT. Além disso, os parcelamentos no eixo sul, estruturados morial JK (1981), o Memorial dos Povos Indígenas pelo trajeto da EPIA, em muito excediam aos (1982) e o Panteão da Pátria (1985). Neste perí- contornos estabelecidos nos planos iniciais, odo destaca-se ainda o paisagismo do Parque o mesmo ocorrendo com a urbanização do da Cidade (1978), a construção das embaixadas Lago Norte, ocupado até a ponta da penínsu- de Portugal e México (1975), da Espanha (1976), la. Ainda nesta última região, mostrava-se sig- Itália (1977) e Grã-Bretanha (1979). No setor resi- nificativo também o assentamento do Varjão, dencial este período marca a redução de novas margeando a Estrada Parque Paranoá (EPPR). construções na Asa Sul, à medida que este setor (BRITO, 2008, p. 164). se consolida, permanecendo mais intenso o ritmo de construções na Asa Norte. Segundo a autora, a mancha urbana de 1986 não ultrapassou as fronteiras externas da fase an- Ao final do período, a ocupação urbana de terior, tendo crescido internamente, mesmo que

44 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 1 - ESBOÇO HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA

1.7. Fase 5 - Conurbação Plano Piloto/Cidades Satélites e Metropolização (1985 - 2000)

Este período é marcado pelo início do pro- movidos pelo setor privado no entorno do Distrito Destaca-se no período a inscrição do Plano cesso de redemocratização do país, cuja primeira Federal, reforçando a expansão da área periférica. Piloto pela UNESCO, como Patrimônio da Huma- fase ficou conhecida como Nova República, quan- Paralelamente, empreendem-se ações de conso- nidade. do foram restabelecidas eleições diretas para pre- lidação dos assentamentos no local em que se Em 1987 é publicado o estudo “Brasília Revi- sidência da República, Câmara e Senado Federal, encontravam. sitada”, uma proposta de Lúcio Costa para expan- prefeituras municipais e para o Distrito Federal. Em 1986 é extinto o Banco Nacional de Habi- são do Plano Piloto através de novas áreas habita- Na década de 70/80 a população do DF cres- tação (BNH) reduzindo-se a capacidade de ma- cionais, das quais, já em 1988 inicia-se o processo ceu em torno de 8,15% ao ano. Em 1980/91, esse nutenção do padrão de financiamento de mora- de ocupação do Setor Sudoeste. O plano Brasília percentual caiu para 2,84% e em 1991/2000 che- dias em grande escala pelo Sistema Financeiro Revisitada propôs a criação de seis novas áreas gou a 2,79%. Entretanto, não se pode afirmar que de Habitação (SFH). Isto força a oferta de terrenos habitacionais: Bairro Oeste Sul (Área A); Bairro o DF perdeu seu poder de atração populacional: semiurbanizados em vez de programas oficiais Oeste Norte (Área B), Quadras Planalto (Área C); o fluxo migratório é que se dirige na sua quase to- de casas populares (BRITO, 2008). À extinção do Quadras da EPIA – SHEP (Área D), Asa Nova Sul talidade para o entorno goiano do Distrito Federal, BNH em 1986 se somaram dificuldades de ordem – SHB (Área E) e Asa Nova Norte (Área F). Destas onde municípios como Luziânia, Santo Antonio do macroeconômicas que deflagraram severa infla- intenções originais resultaram na construção do Descoberto, Planaltina de Goiás e Padre Bernar- ção que perdurou até o inicio dos anos 1990. Dis- conjunto de quadras econômicas do Guará, feitas do crescem explosivamente e iniciam processos to resultou a diminuição significativa de recursos segundo anteprojeto do próprio Costa e a manu- de conurbação com as cidades satélites. A partir e de investimentos públicos, sobretudo aqueles tenção da Vila Planalto. Os demais setores implan- de meados da década de 1980 se estrutura uma direcionados à habitação e infraestrutura. A atua- tados destinaram-se a estratos de renda mais alto. organização metropolitana tendo Brasília como ção no campo da habitação passou à responsabi- Em 1988, além do Sudoeste, o Taquari – situado destino diário de emprego para um contingente de lidade dos governos locais e as políticas urbanas no Lago Norte entre as margens da Estrada Par- mão de obra não especializada que habita além tiveram que ser bastante adaptadas ao novo con- que Paranoá (EPPR) e a Estrada Parque Indústria do Distrito Federal. A área periférica de Brasília en- texto. Os novos parcelamentos oficiais em Brasília e Abastecimento (EPIA) – já estavam ocupados globa hoje 22 municípios localizados nos estados não foram mais acompanhados de unidades ha- por parcelamentos privados. Com o Plano teve de Goiás e Minas Gerais, cuja população estima- bitacionais. Além disso, mudanças de governo no reforço para que seu processo de regularização da em 1980 era de 1.519.981 habitantes, passan- período pós-emancipação marcaram novas orien- fosse iniciado em meados da década de 1990. do em 1991 a 2.161.709 habitantes e no ano 2000 tações políticas com sérias conseqüências na ex- O Distrito Federal iniciou a década de noven- chega a 2.958.196. pansão de Brasília. ta com um milhão e seiscentas mil pessoas em Com a “Nova República” reduz-se significati- Além da expansão explosiva de assenta- suas terras. Segundo Brito (2009), a “expansão do vamente a produção de habitações populares em mentos populares, o período é marcado por um aglomerado, (...) resultava da inserção de uma sé- Brasília. A presença de áreas informais nos domí- processo de parcelamento privado destinado à rie de novos assentamentos, fruto da urbanização nios da Capital reduz-se no período graças à fis- “condomínios rurais” de classe média ocupando conduzida, e de uma expressiva ocupação espon- calização intensa. O governador José Aparecido propriedades agrícolas concedidas a particulares tânea que se posicionou, preferencialmente, em empreende um programa denominado “Entorno pela Terracap para arrendamento, mas que são áreas rurais de Brasília, resultando em grande am- com Dignidade”, erradicação de favelas e expul- indevidamente parceladas e vendidas no entorno pliação das fronteiras da mancha urbana”. Nes- são de sua população não mais para a periferia do Plano Piloto. te período, constituem-se dois pólos claramente do Distrito Federal, mas para assentamentos pro- configurados: o Plano Piloto, abrigando os empre- 45 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB gos e serviços e Taguatinga, centro demográfico pelo preenchimento dos vazios. Daí decorre o pro- tando posteriormente nos loteamentos irregulares. da metrópole. O adensamento do corredor Tagua- cesso de conurbação do Plano Piloto a nordeste No final dos anos 1990, encontra-se ocupa- tinga - Plano Piloto foi recomendação explícita dos com Sobradinho, a leste com o Paranoá, ao sul, do o Setor Sudoeste, toda a margem nordeste do planos oficiais de expansão. com Gama e a oeste com Taguatinga e Ceilândia. Lago Paranoá, Vicente Pires, Colônia Agrícola Sa- A partir de 1995, o novo governo prioriza a Outro fator importante no período foi o repas- mambaia, inicia-se a implantação do bairro Águas ocupação de vazios urbanos, dentro do ideário se de terras públicas por parte da Fundação Zoo- Claras (projeto do escritório Zimbres & Reis), fruto dos planos territoriais, “Brasília Revisitada” e do botânica por meio de contratos de concessão de da implantação do metrô em 1994, conciliando Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), o uso para exploração agrícola (arrendamentos ru- transporte de massa e verticalização, com prédios qual consagra a ocupação do quadrante sudoeste rais), cuja ocupação foi se consolidando ao longo previstos originalmente com 12 pavimentos, hoje e a interligação dos assentamentos mais antigos dos anos como chácaras/sítios de recreio e resul- com um número bem mais elevado de andares.

Figura 1.3. Mapa com localização das propostas de áreas residenciais de Lúcio Costa.

Fonte: Brasília Revisitada, 1985/87.

46 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 1 - ESBOÇO HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA

Figura 1.4. Mapa de ocupação urbana do Distrito Federal em 1990.

Fonte: RSP, 2010.

47 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Ano Tabela 1.3. Evolução da população de Brasília e Regiões Administrativas e cidades do entorno (1960/2000) Municípios do Entorno do DF 1960 1970 1980 1991 2000 Brasília 92.761 279.295 410.999 458.556 528.842 Plano Piloto 71.728 243.163 293.210 262.264 198.422 Lago Sul - - - - 28.137 Lago Norte - - - - 29.505 Cruzeiro 51.230 63.883 Guará - 24.864 85.507 97.374 115.385 Núcleo Bandeirante 21.033 11.268 32.282 47.688 36.472 Candangolândia - - - - 15.634 Riacho Fundo - - - - 41.404 Gama 811 75.914 139.016 153.279 322.546 Gama 811 75.914 139.016 153.279 130.580 Santa Maria - - - - 98.679 Recanto das Emas - - - - 93.287 Taguatinga 27.315 109.452 479.893 719.969 751.933 Taguatinga 27.315 109.452 192.938 228.249 243.575 Ceilândia - - 286.955 364.289 344.039 Samambaia - - - 127.431 164.319 Brazlândia 734 11.507 22.504 41.119 52.698 Sobradinho 10.217 42.553 69.094 81.521 128.789 Planaltina 4.651 21.907 47.364 90.185 147.114 Paranoá-Jardim 5.253 4.589 8.038 56.465 119.224 DISTRITO FEDERAL 141.742 545.217 1.176.908 1.601.094 2.051.146 Luziânia 23.247 32.832 92.814 243.183 508.338 Luziânia 23.247 27.869 80.089 207.674 141.082 Cidade Ocidental - - - - 40.377 Novo Gama - - - - 74.380 Valparaíso de Goiás - - - - 94.856 Santo Antônio do Descoberto - 4.963 12.725 35.509 51.897 Águas Lindas de Goiás - - - - 105.746 Padre Bernardo 4.637 8.581 11.811 16.500 21.514 Planaltina 6.339 9.032 16.172 40.201 78.187 Água Fria de Goiás - - - - 4.469 Planaltina (São Gabriel de Goiás) 6.339 9.032 16.172 40.201 73.718 TOTAL 34.223 50.445 120.797 299.884 608.039 Fonte: IBGE 2009.

48 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 1 - ESBOÇO HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA

Também nesta época se dá a ocupação dos con- do Distrito Federal - RIDE, em 1998. domínios do Lago Oeste, o Setor de Mansões de No Plano Piloto, destaca-se a consolidação Sobradinho II, Entrelagos, o Vale do Amanhecer, da Asa Norte, com padrões construtivos muitas Recanto das Emas, Condomínio Mônaco. vezes inferiores aos instalados na Asa Sul. Na Segundo Brito (2009), o preenchimento de Praça dos Três Poderes, é construído o Espaço espaços entre as cidades-satélites e o Plano Piloto Lúcio Costa. Outros prédios importantes do perí- alterou significativamente a ocupação urbana da odo são: o Mercado das Flores (1986), a Catedral Capital no período. Em 1995, Taguatinga e Ceilân- Militar (1991), o Superior Tribunal de Justiça (1993) dia interligavam-se à Samambaia e Riacho Fundo e o Instituto Rio Branco (1999). Ao final do período que constituíam uma única ocupação às margens estão implantados as Quadras Econômicas, atual da estrada de Anápolis (BR 060). Também a ex- Conjunto Habitacional Lúcio Costa (1986), o Setor tensão entre este grupo de cidades e o centro ur- Sudoeste (1988), Águas Claras (1992) e está con- bano já se apresentava bastante preenchida com solidada a ocupação do Lago Norte, da margem o avanço dos bairros em torno do eixo da EPTG. sudeste do Lago Paranoá e do Park Way. A mancha de área ocupada, apesar dos grandes vazios ainda existentes no entorno do Plano Pilo- to, expressa o resultado do crescimento contínuo, com o núcleo central perdendo o seu contorno definido e conurbando-se às cidades-satélite. No final da década de 1990 surgiram novos bairros a partir de loteamentos clandestinos, dentre eles: Setor Habitacional Boa Vista, Setor Habitacional Jardim Botânico e Setor Habitacional São Bartolo- meu, sendo realizados ao longo do tempo estudos para sua regularização, a qual só agora começa a se efetivar. Outro eixo extremamente dinâmico para os parcelamentos privados foi a BR 020, ligação do Plano Piloto com Sobradinho e Planaltina. O pri- meiro trecho, entre o Colorado e o acesso à pri- meira Região Administrativa, foi ocupado por condomínios de classe média, e o segundo, mais próximo a Planaltina, por domicílio de população de renda menor. Ao final da década, a influência do DF já atin- gia municípios dos estados de Goiás de Minas Gerais. Esta realidade é formalizada através da criação da Região Integrada de Desenvolvimento

49 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 1.5. Mapa de ocupação urbana do Distrito Federal em 2000.

Fonte: RSP, 2010.

50 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 1 - ESBOÇO HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA

1.8. Fase 6 - Periferia difusa: a Ride e o crescimento perimetropolitano (2000 - 2009)

Em 2000, a população da Capital já superava Nos últimos dez anos, destaca-se a constru- dois milhões de habitantes. Passados dez anos ção de alguns prédios e monumentos significati- dessa contagem, tal número está próximo a dois vos em Brasília, como o Centro de Apoio ao Inca- milhões e meio, em 2010. A rede de influência de pacitado Físico do Hospital Sarah Kubitschek no serviços e dos empregos ofertados em Brasília-DF Lago Norte (2000), a Ponte Juscelino Kubitschek e não se restringe apenas às Regiões Administra- a Procuradoria Geral da República (2002), o Com- tivas do DF nem às vinte e duas cidades do en- plexo Empresarial Brasil XXI (2003), a Biblioteca e torno, se estendendo por municípios dos estados o Museu Nacional de Brasília no Eixo Monumen- de Goiás e Minas Gerais, numa área formalizada tal (2006), o Shopping Iguatemi no Lago Norte, a como a Região Integrada de Desenvolvimento do nova Rodoviária Interestadual, a nova Assembléia Distrito Federal e Entorno (RIDE) em 1998. Juntas, Legislativa do Distrito Federal, a expansão do Brasília e RIDE, superam a casa dos três milhões Centro de Convenções, entre outras. e meio de pessoas em estimativa do ano de 2007. Ao longo desses anos, foi significativa a ex- Segundo Brito (2008), “pesquisas recentes pansão da mancha urbana, mas também o cres- do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística cimento pela ocupação dos interstícios urbanos, (IBGE) revelam que a influência do Distrito Fede- rompendo com o modelo rarefeito e polinucleado ral tem seus limites avançados para muito além da urbanística inicial. da RIDE. (...) Estende-se pelas redes de Cuiabá O quadrante sudoeste foi o mais ocupado do (MT), de Porto Velho (RO) e de cidades distantes quadrilátero. Suas terras conectadas com as re- em mais de 600km, como Barreiras e Bom Jesus giões sul e sudeste e com as cidades de Goiás da Lapa, na Bahia.” foram, desde sempre, as mais valorizadas para A partir de 1995, com a entrada em vigor da a urbanização. Após receber as cidades-satélite política de ocupação de vazios urbanos, houve pioneiras, formou-se nessa região o conjunto de significativa mudança nos moldes de expansão. maior peso demográfico de Brasília. Atualmente, Essa conduta, endossada pelos planos territo- bem mais integrado ao grupo Plano Piloto, Cruzei- riais seguintes, fez com que a cidade, ao menos ro, Guará, Núcleo Bandeirante, Candangolândia, a surgida por meio de obras oficiais, passasse a Park Way e Lagos Sul e Norte - também localiza- crescer ainda mais significativamente por dentro do predominantemente naquele quadrante - vem de limites físicos preestabelecidos, em uma ten- constituindo um grande conglomerado em tecido tativa de conter a ocupação ainda maior de área cada vez mais contíguo. rural e de otimizar o uso da infra-estrutura existen- te. Foram feitas expansões no Guará, Ceilândia e Samambaia e intensificaram-se também as me- lhorias de setores ocupados por condomínios e loteamentos privados.

51 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 1.6. Mapa de ocupação urbana do Distrito Federal em 2005.

Fonte: RSP, 2010.

52 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 1 - ESBOÇO HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA

Figura 1.7. Mapa síntese da ocupação urbana do Distrito Federal no período de 1965 a 2009.

Fonte: RSP, 2010.

53 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

1.9. A preservação de Brasília e a metropolização

Brasília caminhou do povoamento quase nulo satendidos por essa política habitacional acorriam quena parcela do Acampamento do Paranoá, da dos anos 1950 à metrópole de 2011. Nesse per- aos novos loteamentos no cinturão externo do DF, época da construção da represa da qual resultou curso acompanhou o que ocorreu nas que já eram ainda ao longo das rodovias. Também cresciam o Lago Paranoá, relocado como cidade do Para- grandes cidades do Brasil na primeira metade do as cidades da escassa rede urbana de mais anti- noá e do Varjão, relocado recentemente. século XX: Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Belo ga fundação, situadas nos estados de Goiás e Mi- A opção pela baixa densidade populacional Horizonte, Salvador... nas Gerais: Luziânia, Formosa, Pirenópolis, Unaí, no interior da bacia que acolhe o Plano Piloto de e a recém criada Planaltina de Goiás...Entre elas Partindo do zero, seu crescimento se deu em Brasília foi uma atitude planejada que nasceu com e os limites do DF teve lugar o maior adensamen- taxas exponenciais, acompanhando o que ocorreu a instalação da capital, persistindo com a sua con- to populacional, em base aos novos loteamentos, no país. O Brasil viveu uma transformação radical solidação. Na contramão desse controle, nas dé- não mais que arruamentos rasgados no cerrado. naquelas décadas em que passou da condição cadas de 1980- 1990, proliferaram e continuam a de país rural a país urbano, tendo hoje 70% da sua Sobre a ocupação populacional da Bacia do ser instalados os condomínios para assentamen- população vivendo em cidades. A metropolização Paranoá, o que interessa especialmente para o to habitacional dos estratos altos e médios. Mas de Brasília não é um fenômeno isolado e muito PPCUB é resgatar os efeitos da demarcação pre- também os estratos populares encontram opções menos a escala de crescimento populacional se coce de amplas reservas naturais, no entorno ime- de habitação em condomínios, especialmente no eleva acima daquela das demais cidades metro- diato do Plano Piloto de Brasília, especialmente quadrante norte, muitos em base à ação de gri- polizadas no país. Apenas a velocidade desse presente na visualização da sua linha do horizon- leiros, valendo-se do descontrole dos registros processo foi superior ao das demais devido ser te, entre as quais o Parque Nacional de Brasília, cartoriais de propriedade, das lacunas deixadas ela uma cidade nova-capital, tendo recebido con- na sua origem com 33 mil hectares, as reservas da quando da desapropriação das terras para cria- tingentes populacionais de todo o país, especial- UnB, da EMBRAPA, o Jardim Zoológico, as bacias ção do DF e ainda, beneficiando-se do vácuo de mente das áreas deprimidas, atraídos pelas opor- de captação e proteção de mananciais da CAESB, fiscalização, deixando como saldo todo o tipo de tunidades de trabalho, moradia e disponibilidade a reserva Cabeça de Veado, o Jardim Botânico, dificuldades para a regularização de uma massa de serviços públicos. as áreas militares, do aeroporto, a maioria ainda de propriedades irregulares, apropriadas e transa- na década de 1960. Essa política de proteção de cionadas pela população. O assentamento de populações no quadri- reservas naturais da Bacia do Paranoá resultou no látero do DF a partir de 1957, cuja extensão era A política de assentamento habitacional pra- que então se denominou o “cinturão verde”. então considerada suficiente, foi extrapolado mui- ticada nos anos 1970- 80, muito restritiva para os to precocemente. Os anos 1970 inauguraram o Dos antigos acampamentos restaram pou- estratos populares, empurrou aa parte mais pobre transbordamento populacional com os primeiros cos: a Cidade Livre, berço da urbanização no DF, da demanda para a coroa exterior ao DF, onde assentamentos externos ao seu perímetro, dis- teve seu arruamento regularizado como Núcleo apenas uma ou duas urbanizações compactas e postos ao longo das vias de acesso a Brasília. Já Bandeirante, a Candangolândia, acampamento projetadas contrastam com a generalizada ocu- então, diante da indisponibilidade de locais plane- da NOVACAP, passou a cidade satélite, o Acam- pação de baixa densidade, desprovida da maio- jados para assentamento das famílias dos traba- pamento do Paranoá foi transferido para um local ria dos serviços urbanos requeridos para pela lhadores da indústria da construção que ergueu próximo, e fixados os Acampamentos da Vila Pla- população. Nessa coroa constituem-se novos Brasília ocorreu a invasão de terras devolutas em nalto e da Telebrasília. municípios, como é o caso de Águas Lindas, no vários pontos do DF, cujos moradores foram de- quadrante sul. A pressão dessa população sobre As novas cidades satélites foram assentadas pois reassentados em cidades satélites, das quais o Plano Piloto tem dois principais vetores, um con- fora da bacia do Paranoá, à exceção de uma pe- Ceilândia foi a de maior escala. Mas os muitos de- seqüência do outro: a concentração de empregos 54 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 1 - ESBOÇO HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO URBANA nele persistente, tendo em vista o cumprimento de obra dos demais serviços públicos e privados especialmente agrícola, proveniente do norte do das funções de capital federal e a consequente instalados no DF e sua coroa metropolitana, ao DF. necessidade de deslocamento diário para o Plano contrário de ser obrigação única do governo do Fica patente pelos elementos trazidos por Piloto, seja em transporte público seja em veículos DF, é obrigação da nação. O fenômeno da metro- essa análise sucinta que a metropolização da re- privados. E o segundo, a escassez de transpor- polização é universal e se dá em torno da oferta gião do DF atrai e produz fluxo de circulação in- te público de qualidade empurrando a população de oportunidades, sendo positivo na medida em compatíveis com a preservação de Brasília, e que para o uso do automóvel, que em boa parte aflui que essa atração encontre resposta nos serviços para alcançar a amenização dos seus efeitos, se diariamente pela manhã ao Plano Piloto e dele se públicos oferecidos para a população, sendo as depende de medidas amplas e com custos apre- retira ao final da tarde, congestinando as vias de oportunidades de ir e vir fundamentais, na qua- ciáveis. acesso nesses dois períodos, com consequentes lidade de direito dos cidadãos, por meio da ga- incômodos e custos para a população além do rantia de modalidades diferenciadas de transporte Como foi dito antes, a metropolização, por si desperdício de tempo e da energia dispendidos. público, com acessibilidade universal garantida. só, atrai população e atividades até se aproximar A descentralização dos emprego é, ha décadas, do ponto de saturação do seu funcionamento. A Para a geração dos efeitos caóticos da metro- uma plataforma das políticas públicas da adminis- permanecer o atual quadro, o anel periférico ao polização de Brasília reúnem-se a concentração tração local , parcialmente bem sucedida. DF, despossuído de planejamento e serviços, se- dos empregos , a alta taxa de motorização, incen- guirá na atual trajetória de filtrar e absorver os flu- Mas é inerente à função de capital federal , tivada ou potencializada pela falta de opões de xos populacionais dos mais desvalidos, cabendo que além dos funcionários dos três poderes e re- transporte público eficiente para uma população ao DF, com diversas estratégias de absorção, aco- presentações estaduais, de empresas privadas e distribuída em um vasto território, com baixas den- lher os estratos mais privilegiados, com crescen- organizações de todo o tipo, reúne as administra- sidades de ocupação. A reversão desse quadro te pressão dos primeiros, em detrimento do bom ções ou representações das 121 empresas pú- passa pela oferta de transporte público de qualida- funcionamento do conjunto metropolitano. blicas federais, além das legações diplomáticas e de, com modalidades diversas, disseminado pelo o comércio e os serviços ali instalados. Todas as território. Sem descurar do incentivo à descentra- cidades capitais concentram emprego. É sua fun- lização do emprego, objetivo permanente da polí- ção acolher a administração do país. A resposta tica pública distrital. Essa pauta é uma constante para o mau funcionamento da circulação para e dos planos diretores do DF. O atingimento dessas em Brasília ocorre devido à ausência de opções metas exige o comprometimento do governo fede- de transporte público eficientes. Desde a coroa ral, no entendimento de que em persistindo o atual metropolitana até o centro dos três poderes. Trata- quadro, a eficiência da administração de Estado -se da cidade sede do governo federal e as ne- se verá cada vez mais comprometida. cessidades acarretadas pelo crescimento dessa Ainda quanto à circulação, outro vetor em função, que são visíveis pelo estabelecimento de crescimento, resultante da metropolização de Bra- novos órgãos e crescimento dos já instalados, de- sília, é o fluxo de mercadorias, em grande escala, vem ser solucionadas sob pena de afetar as fun- destinado a atender a sua demanda, transporta- ções centrais para as quais a cidade foi criada, do via rodoviária, o que contribui para o carrega- no atendimento da administração pública de todo mento do sistema viário da capital e sua região. o país. Fornecer transporte público de qualida- Tendo em vista a rede rodoviária federal atravessar de para que os funcionários públicos federais e Brasília, a malha viária de Brasília e sua região é do DF possam exercer suas funções a contento, sobrecarregada com a circulação de veículos de assim como para as suas famílias e para a mão grande porte, transportando a produção regional, 55

Capítulo 2

Caracterização do sítio

DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

Para a realização desta etapa do Diagnóstico foi utilizado, como método de trabalho, a pesquisa e a consulta aos estudos e material produzido, dis- poníveis, já oficialmente publicados sobre Brasília, os relatórios de Monitoramento da UNESCO e do ICOMOS, levantamentos de campo, reuniões com os órgãos setoriais, promovidas pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do DF (SE- DHAB), reuniões nas Administrações Regionais (RAs), assim como reuniões com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Também foram analisados os resultados da con- sulta à população, realizada por meio de eventos públicos – reuniões preparatórias, plenárias e au- diência pública – realizadas ao longo desta etapa. Desta forma, buscou-se compilar as informa- ções essenciais à compreensão dos aspectos re- lativos ao conjunto urbano tombado identificando os elementos primordiais que fundamentam a sua concepção, como também aqueles elementos ou intervenções que o descaracterizam ou que não contribuem para a preservação da integridade desse conjunto urbanístico.

59 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

2.1. Atributos do Conjunto Urbanístico Tombado e seus elementos estruturadores

2.1.1 Documentos referenciais para a pre- lise, além do Relatório do Plano Piloto de Lúcio servação de Brasília e a definição de seus ele- Costa, fazem parte: a proposta brasileira dirigida mentos estruturadores à UNESCO para inscrição de Brasília na relação do Patrimônio Mundial (1986), o Decreto Distrital O Sítio de Brasília tem sua proteção asse- nº 10.829/1987 e a Portaria de Tombamento Fede- gurada nas instâncias institucionais através de ral nº 314/92 do IPHAN, representados na figura documentos oficiais que sintetizam os valores, abaixo segundo as instâncias relacionadas à pre- princípios e qualidades que a distinguem como servação do sítio: patrimônio da humanidade, patrimônio histórico A seguir serão identificados em cada um dos nacional e distrital. A análise destes documentos documentos os atributos do conjunto urbanístico de referência visa extrair delas os atributos pas- tombado e seus elementos estruturadores, sen- síveis de preservação de Brasília, assim como as do sua análise realizada com enfoque cumulati- diretrizes para a sua preservação que tenham sido vo, buscando avaliá-los enquanto um conjunto ou não implantadas e/ou aplicadas. de instrumentos de proteção ao sítio em estudo, Dos documentos de referência para esta aná- incluindo sua função enquanto instrumentos de Figura 2.1 Quadro esquemático dos MARCO REFERENCIAL Relatório do Plano Piloto de Brasília documentos referenciais para a preservação de Brasília. INSTRUMENTOS DE Brasília Revisitada 1985/87 PROTEÇÃO DO SÍTIO

Inscrição de Brasília no Patrimônio Mundial da UNESCO

Decreto Distrital n. 10.829/87

Portaria n. 004/90 do IPHAN

Portaria n. 314/92 do IPHAN

RECOMENDAÇÕES Brasília 57-85: do plano piloto ao Plano Piloto

Relatórios de Monitoramento de Brasília - UNESCO

Relatórios, Estudos e Propostas Federais e Distritais Fonte: RSP, 2010. 60 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO gestão do mesmo, apontando sombreamentos da lógica de apropriação do território (topografia desse eixo o grosso dos setores residenciais. e eventuais lacunas. Sistematizou-se o seu con- e meio natural); a indicação do traçado urbano, [...] teúdo de forma a identificar os atributos do Sítio definido a partir da estrutura viária principal até a 5 — O cruzamento desse eixo monumental, considerados valores patrimoniais permanentes, micro-escala; a descrição das propriedades do de cota inferior, com o eixo rodoviário-residen- assim como eventuais diretrizes ali contidas para parcelamento urbano, uso e ocupação do solo cial impôs a criação de uma grande plata- forma liberta do tráfego que não se des- a preservação dos mesmos. (funções) e a descrição de gabarito e morfologia tine ao estacionamento ali, remanso onde básica das edificações, assim como em alguns se concentrou logicamente o centro de diver- a) Relatório do Plano Piloto de Lúcio casos a localização precisa dos equipamentos sões da cidade, com os cinemas, os teatros, Costa: públicos e dos edifícios referenciais à estruturação os restaurantes etc. A proposta do Plano Piloto (1956) apresenta- do lugar. Do Relatório extraem-se também as rela- [...] da por Lúcio Costa, de maneira sintética, por meio ções entre os espaços urbanos, espaços verdes 8 — Fixada assim a rede geral do tráfego au- de textos e croquis, a “Concepção Urbanística de e livres e os edifícios, descritos, caso a caso, ou tomóvel, estabeleceram-se, tanto nos setores centrais como nos residenciais, tramas autô- Brasília” em seus atributos fundamentais, fazen- através de analogias. nomas para o trânsito local dos pedestres do deste documento um marco referencial para a A seguir, encontra-se um extrato do Relatório a fim de garantir-lhes o uso livre do chão, preservação de Brasília. do Plano Piloto de autoria de Lúcio Costa conten- 9 – [...] Destacam-se no conjunto os edifí- Trata-se do lançamento da idéia, composto do grifada a citação dos atributos e valores para a cios destinados aos poderes fundamen- por um memorial descritivo detalhado e ilustrado, preservação do Plano Piloto de Brasília: tais que, sendo em número de três e autôno- mos, encontraram no triângulo eqüilátero, contendo os conceitos que a regem, e uma pran- “Relatório do Plano Piloto de Brasília vinculado à arquitetura da mais remota anti- cha contendo desenho apresentando, em gran- Lucio Costa guidade, a forma elementar apropriada des linhas, a proposta rebatida sobre o terreno para contê-los. dado pelo Concurso, a qual veio a ser desenvolvi- [...] [...] da durante a implantação de Brasília, conforme a Dito isto, vejamos como nasceu, se definiu e A perspectiva de conjunto da esplanada intenção de Lúcio Costa, expressa na introdução resolveu a presente solução: deve prosseguir desimpedida até além da ao Relatório: 1 — Nasceu do gesto primário de quem as- plataforma onde os dois eixos urbanísti- sinala um lugar ou dele toma posse: dois ei- cos se cruzam. “Não pretendia competir e, na verdade, não xos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, 10 — Nesta plataforma onde, como se via an- concorro, — apenas me desvencilho de uma o próprio sinal da cruz. teriormente, o tráfego é apenas local, situou- solução possível, que não foi procurada mas 2 — Procurou-se depois a adaptação à to- -se então o centro de diversões da cidade [...] surgiu, por assim dizer, já pronta. Compareço, pografia local, ao escoamento natural das o pavimento térreo do setor central desse não como técnico devidamente aparelhado, águas, à melhor orientação, arqueando-se conjunto de teatros e cinemas manteve-se pois nem sequer disponho de escritório, mas um dos eixos a fim de contê-lo no triângulo vazado em toda a sua extensão, salvo os como simples maquis do urbanismo, que não eqüilátero que define a área urbanizada. núcleos de acesso aos pavimentos superio- pretende prosseguir no desenvolvimento da 3 — E houve o propósito de aplicar os prin- res, a fim de garantir continuidade à pers- idéia apresentada senão eventualmente, na cípios francos da técnica rodoviária — inclu- pectiva, e os andares se previram envidraça- qualidade de mero consultor.” sive a eliminação dos cruzamentos — à dos nas duas faces para que os restaurantes, Podem-se reconhecer no Relatório todos os técnica urbanística, conferindo-se ao eixo clubes, casas de chá etc., tenham vista, de aspectos relevantes para a caracterização de um arqueado, correspondente às vias naturais um lado para a esplanada inferior, e do outro para o aclive do parque no prolongamento do sítio histórico sugeridos pela Carta de Toledo/Wa- de acesso, a função circulatória tronco, com pistas centrais de velocidade e pistas laterais eixo monumental e onde ficaram localizados shington (ICOMOS, 1986), tais como os atributos para o tráfego local, e dispondo-se ao longo os hotéis comerciais e de turismo e, mais aci- de desenho e parcelamento, definidos através ma, para a torre monumental das estações 61 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

radioemissoras e de televisão, tratada como de recreio, os balneários e núcleos de pesca À época do pedido de inscrição de Brasília elemento plástico integrado na composição poderão chegar à beira d’água. O clube de integravam a lista da UNESCO 247 bens, entre na- geral. Golf situou-se na extremidade leste, contíguo turais e culturais em todo o mundo, nenhum deles [...] à Residência e ao hotel, ambos em constru- moderno. O Brasil possuía, então, seis bens ins- 15 — Percorrido assim de ponta a ponta esse ção, e o Yatch Club na enseada vizinha, en- critos no Patrimônio da Humanidade: as cidades eixo dito monumental, vê-se que a fluência tremeados por denso bosque que se estende históricas de Ouro Preto e Olinda, o centro his- e unidade do traçado, desde a praça do até à margem da represa, bordejada nesse Governo até à praça Municipal, não exclui trecho pela alameda de contorno que intermi- tórico de Salvador, o Santuário de Bom Jesus de a variedade, e cada setor, por assim dizer, tentemente se despreende da sua orla para Matosinhos, as ruínas de São Miguel das Missões vale por si como organismo plasticamen- embrenhar-se pelo campo que se pretende e o Parque Nacional de Iguaçu, esse juntamente te autônomo na composição do conjunto. eventualmente florido e manchado de arvore- com o parque do lado argentino das cataratas; os [...] do.” (COSTA, 1956) 5 primeiros sendo protegidos por tombamento fe- 16 — Quanto ao problema residencial, ocor- deral, sob guarda do IPHAN e o último sob tutela reu a solução de criar-se uma seqüência O Relatório assume um papel basilar quando do IBAMA. contínua de grandes quadras dispostas, em considerado como uma referência para a elabora- ordem dupla ou singela, de ambos os lados ção de diretrizes de preservação de Brasília, assim Alicerçado nos estudos levados a efeito des- da faixa rodoviária, e emolduradas por uma como para a resolução de alguns problemas iden- de 1981 pelo Grupo de Trabalho para a preserva- larga cinta densamente arborizada, árvo- tificados, ao longo do presente documento. ção do patrimônio cultural e natural de Brasília – o res de porte, prevalecendo em cada quadra GT Brasília , composto por representantes da Fun- determinada espécie vegetal, com chão gra- Em síntese, o Relatório do Plano Piloto pode dação Pró-Memória/MinC, GDF e UnB – foi prepa- mado e uma cortina suplementar inter- ser considerado do marco inicial para a preser- rado por aquele GT, no correr do ano de 1986, o mitente de arbustos e folhagens, a fim de vação de Brasília, ao descrever claramente seus dossiê contendo o pedido de candidatura brasilei- resguardar melhor, qualquer que seja a posi- atributos fundamentais, inegavelmente apropria- ra à inscrição da sua capital e levado à análise do ção do observador, o conteúdo das quadras, dos em sua essência e efetivamente implantados visto sempre num segundo plano e como que WHC- UNESCO e do seu o organismo assessor, o e os quais hoje, ainda encontram-se preservados ICOMOS. O parecer deste é sucinto e caracteriza amortecido na paisagem em sua maior parte. O Relatório é muito mais que [...] o sítio por meio de uma síntese de seus valores um instrumento de proteção e gestão do sítio, ele Dentro destas ‘‘super-quadras’’ os blocos re- fundamentais e atributos configurativos. Do pare- sidenciais podem dispor-se da maneira mais é o ponto de partida, uma fonte primária para a cer destacam-se os seguintes pontos: variada, obedecendo porém a dois princí- preservação dos valores e atributos a serem pre- pios gerais: gabarito máximo uniforme, servados, localizando-se em uma instância hierár- Concepção: talvez seis pavimentos e pilotis, e sepa- quica superior. O Relatório do Plano Piloto consti- ‡ Brasília vista como conjunto representativo ração do tráfego de veículos do trânsito tui-se como um parâmetro de base para a análise do patrimônio histórico, cultural, natural e urbano de pedestres, mormente o acesso à escola comparativa em qualquer diagnóstico ou avalia- moderno; primária e às comodidades existentes no inte- ção, a qualquer tempo, quando da elaboração de rior de cada quadra diretrizes de proteção, gestão ou tutela da Área, ‡ Representação de um ideal urbano fun- [...] sendo imprescindível a sua consideração como damentado na separação das funções, na libera- 20 — Evitou-se a localização dos bairros resi- referência no âmbito do Plano de Preservação do ção dos vastos espaços naturais, e no traçado de denciais na orla da lagoa, a fim de preservá- grandes vias de comunicação, bem distintas da -la intata, tratada com bosques e cam- Conjunto Urbanístico de Brasília. pos de feição naturalista e rústica para rua tradicional; os passeios e amenidades bucólicas de ‡ Dois eixos cruzando-se em ângulo reto. toda a população urbana. Apenas os clu- b) Inscrição de Brasília na Lista do bes esportivos, os restaurantes, os lugares Patrimônio Cultural da Humanidade UNESCO ‡ Superquadras semi-autônomas graças às 62 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

áreas comerciais, de lazer e espaços verdes, igre- O Centro de Patrimônio Mundial da UNESCO natural ou cultural. Na 11ª Reunião Ordinária do jas e escolas. concluindo o parecer do ICOMOS, recomendou o Comitê do Patrimônio Mundial, em Paris, Brasília prosseguimento de uma política de conservação foi inscrita na relação de bens patrimônio da Hu- ‡ Tipologia residencial: 6 andares sobre pi- das características da criação urbana de 1956 no manidade, no dia 7 dezembro 1987, na categoria lotis. DF do Brasil, tendo demandado que uma legisla- de bem cultural, sob os critérios: No conjunto urbano destacam-se especial- ção brasileira fosse providenciada para preservar mente a: as características urbanísticas e arquitetônicas da (i) representar uma obra artística única, uma ‡ Obras de Oscar Niemeyer; cidade de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Esta exi- obra prima do gênio criador; e (iv) ser um exemplar marcante de um tipo de gência visava dar efetividade à proteção, mediante ‡ A Praça dos Três Poderes e seus três edi- construção ou conjunto arquitetônico que fícios principais; a adoção de legislação do próprio país, como re- ilustre um estágio significativo da história.” quisito para a inscrição de Brasília como Patrimô- ‡ A Esplanada dos Ministérios; nio da Humanidade. A exigência foi parcialmente Na mesma reunião foi anunciado o convite ‡ A Catedral Metropolitana; atendida pelo governo do Distrito Federal que, do governo brasileiro para realização da reunião ‡ A Paisagem Monumental; por meio do Decreto n. 10.829, de 14 de outubro do Comitê do Patrimônio Mundial - WHC de 1988 de 1987, protegeu o Plano Piloto de Brasília. Este em Brasília, o que ocorreu em dezembro seguinte, ‡ Os testemunhos históricos – acampamen- ato encaminhado à UNESCO, acompanhado de tendo a reunião sido sediada no Ministério de Re- tos pioneiros, Planaltina, Brazlândia, e as oito ve- compromisso do Governo Federal de encaminhar lações Exteriores – Palácio Itamaraty. lhas fazendas. ao IPHAN o pedido de tombamento federal com a maior brevidade, foi aceito como garantia pelo Além do Plano Piloto, o País solicitou a ins- Comitê de Patrimônio Mundial. c) Decreto nº 10.829/87-GDF e Portaria nº crição dos bens representativos do território e da 314-IPHAN trajetória histórica da nova Capital: Note-se que a área protegida pelo ato distrital não incluiu a proteção da zona periférica ao Plano Dentre os documentos de gestão e proteção ‡ as antigas fazendas e povoações tradicio- Piloto, o Lago Paranoá e sua margem oposta até do sítio analisados, o Decreto nº 10.829/87 e a nais preexistentes, o limite da Bacia do Rio Paranoá, nem os demais Portaria n. 314/92 do Instituto do Patrimônio His- ‡ os acampamentos pioneiros das obras e bens propostos para inscrição no dossiê encami- tórico e Artístico Nacional (IPHAN) estabelecem as nhado à UNESCO. O tombamento distrital, ainda diretrizes principais de proteção em nível distrital e ‡ as paisagens dos ecossistemas represen- identificou como parâmetros de preservação as federal hoje em vigor para a área do “conjunto ur- tativos da natureza do Distrito Federal. escalas monumental, gregária, residencial e bucó- bano construído em decorrência do Plano Piloto, A proposta de preservação do Plano Piloto lica de Brasília, como veremos adiante. vencedor do concurso nacional para a nova capi- tal do Brasil”. abrangia três zonas, com distintos graus de pro- Na seqüência, o Comitê do Patrimônio Mun- teção: dial exarou parecer definitivo, manifestando-se Primeiramente, é importante destacar que ‡ zona de proteção absoluta, cobrindo o favorável à inscrição da capital, deixando, porém a estrutura tanto da Portaria quanto do Decreto Plano Piloto; expressa a urgência da instituição de normas de- baseia-se na “preservação das características finitivas de preservação e demandando que nelas essenciais das quatro escalas distintas em que ‡ zona tampão, onde a predominância dos as demais categorias de bens fossem beneficia- se traduz a concepção urbana da cidade: a mo- espaços verdes estaria garantida; das. A inscrição de um bem sem o tombamento numental, a residencial, a gregária e a bucólica”. ‡ zona periférica, incluindo o lago artificial e federal foi uma exceção na prática da UNESCO, No relatório do Plano Piloto não é feita menção às as suas margens, quase que inteiramente constru- de exigir que a proteção nacional precedesse o escalas. Esta definição é estabelecida por Lucio ídas com conjuntos residenciais. pedido de inscrição de qualquer bem, fosse ele Costa em Brasília 57-85, onde são mencionadas 63 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB apenas três escalas (residencial, monumental e Escala Monumental: a gregária); a escala bucólica é mencionada pela Portaria n. 314/92: Decreto n. 10.829/87: primeira vez por Lúcio Costa em Brasília Revisita- “A escala monumental, concebida para conferir à ci- Além dos elementos constantes da Portaria, o Decreto da. As quatro escalas foram oficialmente assumi- dade a marca efetiva da capital do País está configu- contém os seguintes aspectos: das tanto pelo Decreto n. 10.829/87 quanto pela rada no Eixo Monumental, desde a Praça dos Três Po- Portaria do IPHAN. deres até a Praça do Buriti” A Praça dos Três Poderes deverá ser preservada em Art. 3º - III - Os terrenos do canteiro central verde são Percebe-se que esta última tem sua estrutura sua integridade (edificações, espaços abertos e ele- considerados non-aedificandi nos trechos compreen- equivalente à do Decreto n. 10.829/87, inclusive mentos escultóricos que a complementam assim como didos entre o Congresso Nacional e a Plataforma Ro- no que tange a sua redação. Desta forma é perti- as referências integradas: Sedes do Palácio Itamaraty e doviária e, entre esta e a Torre de Televisão e, no Trecho da Justiça) não ocupado entre a Torre de Televisão e a Praça do nente analisar o conteúdo destes documentos em Buriti; conjunto, a partir de sua estrutura, identificando os O Canteiro Central: preservação absoluta do canteiro atributos do sítio e seus valores, conforme listados central, vedada a construção acima do nível do solo a seguir: existente, garantindo visibilidade ao Conjunto Monu- mental; Preservação dos monumentos, do entorno e acessos aos prédios; As áreas compreendidas entre a Esplanada dos Minis- térios e a Plataforma Rodoviária ao sul e ao norte do canteiro central, e que constituem os Setores Culturais Sul e Norte, destinam se a construções publicas de caráter cultural; Escala Residencial: Portaria n. 314/92: Decreto n. 10.829/87: Superquadras: único acesso veicular, faixa verde de 20 Além dos elementos constantes da Portaria, o Decreto Tabela 2.1. Portaria no 314/92, IPHAN e Decreto no metros (densamente arborizada) em todo o seu perí- contém os seguintes aspectos: 10.829/87 - Atributos do sítio e seus valores. metro; Quadras 102 a 116, 202 a 216 e 302 e 316: 6 pavimen- “só será permitida a venda das projeções, permane- tos e pilotis livres de construções; cendo de domínio público a área remanescente” Quadras 402 a 416: 3 pavimentos e sobre pilotis livres “nos setores de Habitação Individual Sul e Norte só se- de construções. rão admitidas residências unifamiliares, comércio local e equipamentos de uso comunitário” Taxa de Ocupação = 15% para unidades habitacionais, terreno da Superquadra, incluindo a faixa verde (cor- responde 26% do total). Permitidas pequenas edificações de uso comunitário: máximo 1 pavimento. Nas áreas denominadas Entrequadras: destinadas a edificações de uso comum: ensino, esporte, recreação e atividades culturais e religiosas. Eixo Rodoviário-Residencial: Fonte: RSP, 2010. Portaria n. 314/92: Decreto n. 10.829/87: continuação 64 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

Tombadas as características originais, mantido o cará- Nada Consta. De uma maneira geral, ambos os documen- ter rodoviário; tos podem ser considerados equivalentes em seu conteúdo técnico, tanto conceitual quanto prescri- Quanto à Escala Gregária: tivo no que tange às recomendações de preser- Portaria n. 314/92: Decreto n. 10.829/87: vação, embora os efeitos legais os coloquem em A escala gregária com que foi concebido o centro de Conteúdo idêntico. instâncias institucionais distintas. Brasília em torno da intersecção dos Eixos Monumental e Rodoviário fica configurada na Plataforma Rodoviá- Destaca-se no que tange à definição concei- ria e nos Setores de Diversões, Comerciais, Bancários, tual e no reconhecimento dos atributos urbanísti- Hoteleiros, Médico-Hospitalares, de Autarquias e de cos do Sítio que estes documentos referenciam- Radio e Televisão Sul e Norte.” -se diretamente ao Relatório do Plano Piloto e a Na Plataforma Rodoviária: preservação na integridade estrutural e arquitetônica original, incluindo as praças e Brasília Revisitada, sendo o primeiro a principal setores de fronte aos Setores de Diversões Sul e Norte; fonte para a definição dos atributos configurativos Definição da cota máxima de coroamento nos setores do sítio, e o segundo no que tange ao caráter pro- de Diversões Sul e Norte com a cota máxima existen- positivo. Na leitura da cidade que embasa estes te; documentos perpassa o sentido de proteger as Nos demais setores: gabarito não uniforme e cota má- características fundamentais da concepção urba- xima de 65m e o mantenimento das atividades pre- nística original do sítio. dominantes preconizadas no Relatório do Plano Pilo- to. Percebe-se não haver incongruências ou in- compatibilidades entre ambos e que estes abor- Quanto à Escala Bucólica: dam o sítio através de nova lógica, as escalas. Por Portaria n. 314/92: Decreto n. 10.829/87: outro lado, nenhum dos documentos analisados “A escala bucólica, que confere a Brasília o caráter de Conteúdo idêntico. apresenta uma definição clara desta nova lógica, cidade-parque, configurada em todas as áreas livres, no que tange aos seus atributos configurativos, contiguas a terrenos atualmente edificados, ou institu- cionalmente previstas para edificação e destinadas à ou seja, a caracterização morfológica das escalas preservação paisagística e ao lazer” que defina claramente a sua imagem (desenho e Preservação da cobertura natural do cerrado nativo traçado, características do parcelamento, usos, ti- sendo que as demais áreas arborizadas na forma de pologia de seus espaços públicos, morfologia e bosque com particular ênfase às araucárias no entorno relações espaciais), assim como a sua delimita- da Praça dos Três Poderes; ção físico-territorial. Manter acesso público à orla em todo o perímetro com exceção do que já está registrado; Destaca-se também que ambos os docu- Atividades esportivas: edificações com cota máxima de mentos objetivam dispor apenas sobre o limite coroamento 7m (exceção de ginásios cobertos); físico descrito preliminarmente, não abrangendo Hotéis de turismo: cota máxima de 12m; o entorno mais amplo de inserção do Plano Pilo- Anexos dos Ministérios, não podendo ultrapassar as to no contexto do território. Mesmo considerando cotas máximas dos anexos existentes (1987); apenas estes limites, pode-se identificar também Setores institucionalizados são todas as partes da ci- que as definições ali presentes visam resguardar dade referidas no memorial do P. Piloto ou criadas pela o sítio de uma maneira ampla e genérica, pois não Administração durante a implantação da nova capital chegam a detalhar de maneira aprofundada o uso (de 1950 a 1960). e ocupação do solo das áreas abrangidas. 65 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

d) Monitoramento sistemático da de modo a socorrer os sítios em dificuldades ou pados de qualquer edificação devido seu impor- conservação de Brasília pela UNESCO atingidos por catástrofes, financiando todo o tipo tante papel para o caráter do Plano Piloto, impli- de iniciativas que venham em proveito da preser- cando na aplicação de legislação federal e distrital O reconhecimento internacional de um bem vação e do desenvolvimento dos sítios Patrimônio estabelecendo impedimento de construir, salvo na qualidade de Patrimônio da Humanidade pela Mundial. É apresentada a seguir uma condensa- nas áreas definidas por Lúcio Costa em 1987, in- UNESCO traz consigo conseqüências simbólicas ção dos relatórios das missões da UNESCO/ICO- cluídas nas medidas de proteção; e práticas devido à alteração do seu estatuto no MOS, relativas a Brasília, buscando deles extrair ‡ especial atenção à manutenção da integri- plano internacional, incidindo em responsabilida- as análises e recomendações julgadas úteis para dade das quatro escalas descritas na proposta de des novas tanto para o país demandante quanto os trabalhos de elaboração do Plano de Preserva- Lúcio Costa para o Plano Piloto de 1956 e garanti- para o nível de governo local responsável direto ção do Conjunto Urbanístico de Brasília – PPCUB. pela sua perenidade. Os olhos da comunidade das pela legislação de proteção; internacional voltam-se para ele, tendo em vista Primeiro monitoramento de Brasília pela ‡ quanto à escala gregária, o informe subli- a proeminência que adquire no cenário mundial. UNESCO - 1993 nha a necessidade de criar áreas de interatividade O país passa a ter como interlocutora uma comu- no coração da cidade, com a finalidade de preen- nidade científica e técnica preocupada e vigilante Seis anos após a inscrição de Brasília na rela- cher os vazios, avaliado como sendo o aspecto para a condição de conservação daquele patri- ção do Patrimônio Mundial, em 1993, a UNESCO mais vulnerável de Brasília, devido ‘à mesma não mônio sendo implantado, um sistema de acom- organizou a primeira missão de monitoramento, possuir um centro estruturado que reforce a socia- panhamento sistemático por monitoramento da a cargo do arquiteto colombiano Hermán Samper bilidade natural da sua população que, ao contrá- evolução da situação da sua concepção em rela- Gnecco, expert em arquitetura e urbanismo moder- rio, utiliza os centros comerciais como lugares de ção ao momento da sua inscrição, acionado pelo nos, tendo trabalhado com Le Corbusier na obra reunião; Centro de Patrimônio Mundial/UNESCO. de Chandigarth, Índia. Essa missão foi uma opor- ‡ melhorias no transporte público que cubra tunidade para que os órgãos conjuntamente res- A condição de conservação do bem, descrita as necessidades da população; melhoria dos ca- ponsáveis pela preservação e o desenvolvimento no dossiê do pedido de inscrição passa a ser o minhos para a circulação de pedestres, dificultado de Brasília discutissem os problemas enfrentados patamar de base, conforme fixado pela UNESCO, pelas grandes distâncias que é preciso percorrer para a conservação das suas características. As a partir desse momento, sendo responsáveis, so- para atravessar a cidade, dividida em quadro pe- recomendações do informe da Missão são: lidariamente, os governos federal e local pela sua los eixos Rodoviário e Monumental, induzindo o conservação. ‡ a necessidade de coordenação entre os uso de veículos particulares; organismos federal e distritais para analisar as As avaliações sistemáticas aliam a base con- ‡ complementação do complexo cultural da questões relativas à preservação, planejamento, e ceitual das resoluções e cartas de princípios nos Esplanada dos Ministérios, onde foi construído o novos projetos para a cidade. Esta necessidade vários âmbitos de atuação cultural da UNESCO às Teatro Nacional, sem o que Brasília se encontraria se evidenciou, no caso dos projetos para o trem visitas de campo, oferecendo aos Estados-Parte desprovida do que necessita para ser uma cidade subterrâneo, cujas análises foram independentes diagnósticos e recomendações consistentes, de capital completa: urbs e civitas, segundo as pala- em nível local e federal, dificultando um consenso; molde a orientar a preservação dos sítios do Patri- vras de Lúcio Costa; mônio Mundial. A cooperação da UNESCO com os ‡ permanência do cinturão verde ao redor ‡ necessidade de contar com projetos de Estados-membros, por intermédio do WHC e dos do Plano Piloto como zona non aedificandi, a fim maior alcance, apontando para a conservação organismos assessores, vai além das missões de de garantir a individualidade formal do Plano Pi- ambiental de Brasília, incluindo a questão do Lago monitoramento, podendo incluir assistência técni- loto, isolando-o do crescimento urbano nos seus Paranoá, porquanto o lago possuir grande poten- ca local e recursos de um Fundo financeiro, cons- arredores; cial para oferecer oportunidades de descanso à tituído por doações e participações dos países, ‡ manutenção de espaços urbanos desocu- 66 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO população e incremento do turismo – ambos as- ‡ ampliação de edificações em alguns seto- te da área de proteção do entorno do Plano Piloto, pectos importantes para fomentar as visitas à ca- res; apresentadas quando da candidatura de Brasília pital – assim como para satisfazer as grandes de- e consideradas entre os compromissos do Brasil ‡ construções em espaços livres; mandas de emprego; o lago continua sendo uma para sua inscrição”. parte isolada da paisagem, mesmo depois dos ‡ modificações na rede viária. Passando à análise das escalas empregadas então recentes trabalhos de descontaminação. No seu Resumo Executivo, o relatório chama como parâmetros para as medidas de preserva- atenção para o fato de que Brasília é protegida, e ção constantes do Decreto Distrital e da Portaria Segundo monitoramento de Brasília pela não só o Plano Piloto. do IPHAN, pondera que “o impacto de novas cons- UNESCO - 2001 truções no Eixo Monumental deveria ser cuidado- Sua recomendação geral é: Uma segunda missão de monitoramento foi samente avaliado e controlado,” isso em base à enviada pela UNESCO,em final de 2001, motivada “A elaboração de Plano Diretor para as áreas observação do efeito negativo na paisagem dos pelo resultado preocupante da análise pelo Comi- protegidas que reconheça e assegure ple- prédios institucionais de grandes proporções que tê de Patrimônio Mundial sobre o andamento de- namente a preservação dos valores da ci- “introduziram alterações ao aspecto original de al- sordenado do processo de ocupação de Brasília. dade, envolvendo todos os níveis relevantes guns espaços públicos.” Ainda na escala monu- de autoridade, organizações profissionais e mental recomenda a relocação da Feira da Torre A missão foi composta por dois especialistas indivíduos, setores da sociedade civil.” Assim por afetar a harmonia da paisagem da cidade, e arquitetos e urbanistas, Herman Van Hooff, Con- como a “implementação de uma estrutura por situar-se abaixo da notável peça de arquitetura selheiro do Patrimônio Mundial na América Latina legal e institucional para a proteção e o ge- projetada por Lúcio Costa. e Caribe, da UNESCO e Alfredo Conti, Vice-pre- renciamento da cidade e do estado geral da sidente Regional do ICOMOS , membro sua conservação.”, para o quê assinala que Na escala residencial assinala que “Projetos do Núcleo do Plano Montreal do ICOMOS para “os documentos de proteção de 1987 (DF) para construção nos telhados ou no nível dos pi- o Patrimônio do Século XX, membro do Comitê e 1990/1992 (IPHAN), assim como o traba- lotis poderiam provocar certo grau de alteração”, lho levado a cabo pelos grupos de trabalho Internacional de Especialistas em Urbanismo do também sublinha a inversão dos acessos aos co- inter-institucionais (GT Brasília, 1980-1987; GT mércios locais na Asa Sul, chamando atenção para DOCOMOMO, professor da Universidade de Bue- conjunto, 1992-1995) deverão servir de base o seu papel de pontos espontâneos de encontro. nos Aires, chefiada pelo primeiro. para a realização do trabalho, que deverá ser tratado com a devida urgência.” Mais adiante, analisando a via W3 pondera que O relatório inicia sublinhando os princípios do “Essa via forma o limite entre as Super Quadras e ideário do urbanismo moderno aplicado em Brasí- O Relatório destaca de que o ICOMOS, na as áreas reservadas para casas geminadas. Um lia, ou seja: sua qualidade de organismo assessor, apesar do dos lados é ocupado com estruturas comerciais ‡ a separação das funções; parecer favorável à inscrição de Brasília como Pa- no térreo e habitações nos andares superiores. O trimônio da Humanidade, chamara atenção para o outro lado, que corresponde às casas geminadas ‡ a liberação de vastos espaços naturais; fato de que ” (...) os padrões definidos por Costa foi totalmente alterado, tanto na escala (novos ‡ o traçado de grandes vias de comunica- e Niemeyer foram infringidos em grande extensão. formatos foram adicionados) como na aparência, ção; Estruturas mais altas em certos setores, constru- visto que ambas foram transformadas. Atividades ções em espaços abertos, modificações na rede comerciais foram também introduzidas em algu- ‡ a rejeição do funcionalismo primário do es- viária e outras transgressões alteraram gravemen- mas casas. Como resultado, a paisagem da via tilo internacional ”em proveito de soluções melhor te uma paisagem monumental inicialmente de W3 e das áreas residenciais não parece pertencer adaptadas à situação brasileira”. grande qualidade.” E anotava que “não foi estipu- a uma cidade rigorosamente planejada, mas an- Aponta os três principais problemas constata- lada qualquer data específica no que se refere às tes a um tipo de área residencial onde a paisagem dos em relação à preservação de Brasília: medidas de proteção às zonas tampão, essa par- urbana é o resultado de intervenções individuais. 67 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

O estado dos edifícios comerciais é heterogêneo e relação original entre o Plano Piloto e os subúrbios No item Dispositivos de Planejamento, em varia de aceitável a relativo mau estado de conser- verdes.” referência ao PDOT em vigor à época, comen- vação. Existe um projeto do GDF para revitalizar a ta que o Plano Piloto é definido como “ área de A ocupação das margens do Lago Paranoá via W3 e melhorar a qualidade de sua paisagem. consolidação”, e sublinha “o pouco espaço nele no setor de hotéis, próximo ao Palácio da Alvora- Em caso algum, as alterações às casas gemina- conferido à proteção de Brasília, que se limita ao da, motivou considerações sobre “A utilização de das podem ser consideradas irreversíveis.” artigo 20, “com referência à aplicação do decre- alguns edifícios como residências permanentes, to 10.829/87 e à Portaria 314/92. Com exceção A respeito da escala gregária, no Eixo Monu- formando condomínios privados, constitui uma dessas, não são feitas considerações específicas mental comenta que a “A construção de edifícios séria alteração ao zoneamento de Brasília. Tam- para a preservação e conservação do Plano Pilo- culturais foi proposta para ser realizada de forma bém deve-se mencionar que, próximo às margens to.” Entre outras propostas do PDOT para a con- a completar o setor e consolidar Brasília como um do lago, estão as ruínas do hotel projetado por solidação da área do Plano Piloto, é encorajada a importante centro cultural nacional.” Niemeyer, um dos primeiros edifícios de Brasília. ocupação de áreas vagas com o desenvolvimento (...) A Missão considera que deveria ser conside- Ainda aponta para os efeitos da alteração da de infra-estrutura. Este ponto pode ser delicado, rado um projeto que tivesse em consideração o altura máxima dos edifícios em 1987 de 45 para visto muitas dessas áreas pertencerem à escala significado histórico do edifício.” 65 m, “resultando mais propriamente em uma pai- bucólica da área protegida.” sagem heterogênea da cidade (...) Esta situação Referentemente à Vila Planalto pondera que, Na seqüência, o relatório analisa o item das resultou em uma certa falta de homogeneidade na apesar da Vila já não representar um claro teste- obras e projetos com impacto (potencial) sobre paisagem da cidade.” munho da sua aparência original, tendo perdido os valores do Patrimônio Mundial, iniciando pela muito da sua autenticidade, recomenda que a si- Chama atenção que “Um outro problema, criação de um anel viário em torno de Brasília tuação requer um controle estrito, por causa de observado principalmente nos setores comerciais (Lei complementar 362/01). “Este projeto pode- seu significado histórico e seu potencial de impac- e administrativos, é que a demanda por estacio- ria causar uma mudança significativa na estrutura to sobre a escala bucólica.” namentos levou os veículos a ocuparem a quase do território do DF. O anel viário, incluindo futuras totalidade dos espaços entre os edifícios que, em No que tange o Parque da Cidade, tendo concentrações populacionais, poderia compro- alguns casos, foram planejados como jardins ou em vista ocupações indevidas por edificações de meter seriamente as áreas protegidas (o Parque áreas verdes. Tudo isso contribui para a baixa qua- grande porte recomenda: “No futuro, a incorpora- Nacional ocupa uma superfície considerável em lidade do espaço urbano, em uma cidade em que ção de novas funções e a construção de novos uma das regiões incluídas na Lei). Não estão in- a harmonia e a ordem supostamente se encon- edifícios no parque deverão ser desencorajadas.” cluídas na lei provisões acerca da preservação de tram.” Nas considerações gerais sobre a conserva- áreas naturais e culturais.” Também aponta para o mau estado de con- ção da autenticidade de Brasília no item Fixação, Também é objeto de preocupação o item refe- servação do conjunto CONIC (SDS). “O edifício registra preocupação com a situação encontrada: rente à autorização para ocupação de partes dos do lado sul encontra-se em avançado estado de “a condição das áreas circundantes pode ser des- telhados em edifícios residenciais, quando 40% deterioração física e funcional, algo que se torna crita como uma das alterações mais significativas de construção nas coberturas, o que é conside- evidente pelo grande número de escritórios e lojas quando comparadas à situação original. Até o rado “uma alteração à autenticidade do projeto e vazias para alugar.” presente (2001), a situação não é extremamente do aspecto da cidade.”, e avalia que “isso pode- perigosa; as medidas de proteção devem ser defi- Em relação à Escala Bucólica, no tocante à ria causar alteração considerável na característica nidas e implementadas como prioridade, de modo expansão da ocupação além das áreas do “Bra- original de espaço aberto dos setores residenciais a evitar a perda de autenticidade e de integridade sília Revisitada”, recomenda: “Seria desejável não e deveria, por isso, ser reconsiderada.” na relação da cidade com os seus subúrbios na- planejar novas áreas urbanas de modo a manter a Passando ao item referente aos limites do sí- turais.” 68 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO tio do Patrimônio Mundial e zona tampão, se pro- ao futuro desenvolvimento conjunto da cidade e abrangente entre todos produzidos até o momen- nuncia “Os limites do sítio do Patrimônio Mundial do DF.Atualmente, a cidade se encontra novamen- to, como resultado das missões da UNESCO e do parecem lógicos, visto incluírem o Plano Piloto e te em uma fase crítica de mudança, tal como ocor- ICOMOS. as áreas verdes circundantes. A Missão consi- reu quando o conceito original de Lúcio Costa foi O prólogo ao relatório lastreia-se na vasta dera que não devem ser propostas alterações a transformado em realidade (de 1957 em diante) produção de textos, sobre os mais diversos as- esta questão. Deve-se ressaltar, no entanto, que e quando foi revisitado pelo mesmo e se tornou pectos, do próprio autor do Plano Piloto, para nela a zona tampão foi proposta no dossiê original de um monumento protegido e sítio do Patrimônio apontar uma via segura, na busca de respostas candidatura de 1987 e que foi feita uma referência Mundial, em 1987. O desafio agora consiste em às questões colocadas pelo desenvolvimento de específica a essa questão no relatório do ICOMOS orientar a cidade através do processo de mudan- Brasília: “Para abordar a reflexão sobre o Plano Di- de 1987. A Missão considera como prioridade má- ça com sensibilidade e visão e uma profunda retor e de Desenvolvimento Sustentável de Brasí- xima definir e implementar uma zona tampão que compreensão e reconhecimento das suas carac- lia, Cidade Patrimônio da Humanidade, penso que inclua tanto a área a ser construída como a natural, terísticas e valores. (...) A situação critica deveria é necessário reportar-se permanentemente aos como meio de proteção não só da própria cidade, ser considerada como uma oportunidade para re- textos fundadores. Estou convicto de que muito mas também de parte da paisagem que forma os pensar o desenvolvimento futuro da cidade e dos freqüentemente as respostas aos problemas que limites visuais dos espaços da cidade. Essa zona seus arredores e para integrar as inevitáveis e de- a cidade apresenta hoje se encontram nos textos tampão deve ser incluída nos instrumentos de pla- sejáveis mudanças de uma cidade em desenvol- de Lucio Costa, que contêm sempre orientações nejamento e gerenciamento técnico-legais.” vimento na preservação dos valores urbanísticos, sobre os procedimentos a seguir para permitir que arquitetônicos e paisagísticos de Brasília.Para que Chegando às Conclusões e Recomendações, a cidade evolua de acordo com o desejo e o espí- isso seja possível, será necessário envolver todos diz o relatório: “Como conclusão geral, é possível rito de seu criador e os cuidados a serem tomados os escalões superiores das autoridades, organiza- afirmar que, apesar de que algumas alterações fo- com o desenvolvimento de uma cidade Patrimô- ções profissionais e indivíduos, bem como os dife- ram e ainda são introduzidas no conceito original, nio da Humanidade. Lucio Costa diz que o Plano rentes setores da sociedade em um processo que Brasília mantém atualmente (2001) as caracterís- Piloto de Brasília é “uma concepção já traduzida conduza a preparação e adoção do Plano Diretor ticas essenciais que fazem da mesma, talvez, o em termos de projeto urbano e não um estudo para a área protegida, que reconheça plenamente mais notável testemunho de construção do Século preliminar, um ‘partido’ da urbanização, acompa- e assegure a preservação dos valores da cidade.”. XX e um exemplo de proeminente valor universal nhado de uma série de diretivas gerais relativas da combinação de urbanismo, arquitetura, com- ao uso e à ocupação do solo.” E continua: “Lucio Monitoramento promovido pelo Comitê posição paisagística e belas artes. As mudanças Costa assinala que se procedeu dessa forma, de Brasileiro do ICOMOS - 2001 ocorridas na própria cidade e nos subúrbios alte- certo modo queimando etapas, é “porque o obje- ram partes do conceito original, mas, no momen- O Comitê Brasileiro do ICOMOS, por seu tivo do concurso para a criação de Brasília era a to, ainda não, ao ponto de torná-lo inelegível ao turno, promoveu uma missão de monitoramento mudança da capital – e não a elaboração de um status de Patrimônio Mundial.(...) No entanto, al- em maio de 2001, levada a efeito pelo arquiteto projeto – em três anos.” (Lúcio Costa em Memória gumas mudanças e desenvolvimentos já exerce- e urbanista Raoul Pastrana, argentino de origem, Descritiva do Plano Piloto). A proposta de Lucio ram impacto negativo e, caso ocorram mais mu- e professor de arquitetura na Sorbonne, Paris. A Costa para Brasília é um projeto urbano, portan- danças indesejáveis, o resultado poderia ser que este elaborou seu relatório de agosto de 2001, to, em sua mente, imediatamente pré-operacional. as características notáveis que tornam Brasília “Patrimônio Cultural e Dinâmica Urbana”, segui- Os textos que apresentam e explicitam o Plano Pi- única se percam. Por isso, e considerando a es- do de dois outros datados de 2004. Trata-se de loto são diretivas para a realização do projeto e cala territorial e a pressão que as cidades satélites um conjunto de análises pormenorizadas, abran- acompanhamento de sua evolução, o que consi- e outros subúrbios exercem sobre o Plano Piloto, gendo um amplo espectro de questões relaciona- dera necessário e que prevê. “Complementação, deveria ser dedicada atenção especial e urgente das ao desenvolvimento da cidade, sendo o mais preservação, adensamento e expansão urbana”,

69 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB são os termos que figuram em subtítulo ao tex- ‡ o problema da circulação dos veículos e cial por localizações inteligentes dos tipos de mo- to de Lucio Costa, já em 1985. E continua: ...“o do tráfego; radia adaptados; importante ao se pensar na complementação, na ‡ o lugar dos pedestres na cidade; ‡ colocar no mercado moradias de qualida- preservação, no adensamento ou na expansão de de, bem localizadas, com alugueis moderados. Brasília não é perder de vista a postura original, ‡ o problema da moradia em termos de ti- é estar-se imbuído de lucidez e sensibilidade no pos e localização, O autor argumenta que nas suas visitas e nas trato dos problemas urbanos”. (Lucio Costa: carta ‡ a evolução dos imóveis nas superquadras; reuniões e entrevistas pode captar a existência de ao Governador J. A. de Oliveira.) No documento uma “grande demanda entre jovens e adultos sem ‡ o comércio, as atividades econômicas e a de 1985, já nos primeiros parágrafos, Lucio Costa muitos recursos. É preciso buscar satisfazê-la na produção; evoca a juventude da cidade (... “uma cidade no cidade e não em sua periferia. E assinalou: lem- início de sua existência”), sua vitalidade, vontade ‡ os transportes públicos; bremos as palavras de Lucio Costa a propósito de expansão e constata que a cidade preenche dos esforços a serem empreendidos para ofere- ‡ a evolução da população, seu envelheci- suas áreas ainda não ocupadas. cer “condições dignas de moradia para todos”, mento, Entretanto, não lhe escapa a contradição ine- apontando que “A moradia do homem comum há ‡ sua monocategorização progressiva, rente à relação entre crescimento urbano e per- de ser o ‘monumento símbolo’ de nosso tempo”. manência do testemunho original; Lucio Costa ‡ a emigração. Também é enfático sobre a questão do meio pergunta-se como assegurar a preservação de ambiente: “atribuímos importância fundamental Brasília sem impedir a dinâmica própria “a uma No relatório da missão, o autor concentra as à preservação e à valorização do território como cidade tão jovem”, in Brasília Revisitada, 1985-87. suas reflexões em três problemas sobre os quais meio natural. A noroeste e a sudoeste de Brasília No parágrafo seguinte, Lucio Costa evoca a não foi chamado a se pronunciar: Plano Piloto, o Parque Nacional, o Parque do Gua- menos evidente necessidade de preservar as ca- ‡ o Plano Diretor rá e o Jardim Zoológico, o Jardim Botânico e as racterísticas fundamentais que singularizam a ci- áreas de uso rural constituem, no entorno imediato dade. Entre essas características encontra-se, em ‡ as Áreas Comerciais da cidade, reservas naturais excepcionais de valor primeiro lugar, a definição de Brasília como cidade ‡ as Margens do Lago: a área dos clubes. inestimável. Porém, temos a impressão que a pre- parque. sença da cidade é percebida pelos planejadores O autor é enfático em recomendar a elabora- O autor do monitoramento enumera alguns que trabalham no Plano Estratégico como um cor- ção de um Plano Estratégico do Distrito Federal, dos problemas que a curta história da cidade já te, um parêntese entre essas duas zonas “natu- preconizando que o mesmo tenha como área de aponta e para os quais o Plano Diretor de Brasília rais”. Nossa posição é bastante diferenciada. Pen- estudo um território mais amplo, coincidindo com deverá apresentar solução: samos que, no próprio espírito do projeto de Lucio a abrangência regional da área de influência do Costa para Brasília, a cidade parque desejada por ‡ o relacionamento da cidade com o Distrito DF, assim como uma política habitacional para ele deve prolongar, deve afirmar esse eixo vegetal Federal, e no perímetro da cidade, que mesmo as- essa ampla região. nordeste–sudoeste. Uma cidade edificada em um sim não chegam a ser “problemas internos”. Para o Plano Piloto, recomenda uma política parque, uma cidade parque. Abordar as relações ‡ o adensamento e o crescimento; habitacional específica que com os seguintes ob- entre esses dois territórios tão estreitamente inter- ‡ o tratamento do espaço público e das jetivos: dependentes no espírito de uma melhor e mais agressões sofridas; forte interpenetração entre eles só pode mudar ‡ participar da solução do problema na cida- fundamentalmente as orientações prospectivas de ‡ as margens do Lago Paranoá, de multiplicando as ofertas e a variedade de tipos; cada um dos dois Planos.” ‡ as mudanças de uso e lazeres da cidade; ‡ contribuir para reduzir a estratificação so- Passando a fora à introdução ao relatório de 70 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO monitoramento, e refletindo sobre as escolhas do No tocante aos procedimentos adotados pela gional...”, maneira elegante de lembrar que esse concurso público do Plano Piloto de Brasília, o au- UNESCO para a análise dos bens de caráter ur- plano regional que não existe deverá ser feito.” tor assinala que dois especialistas em reconstru- bano, cita o item 27 da Convenção do Patrimônio No referente à relação de Brasília com as de- ção de cidades destruídas pela II Guerra Mundial Mundial, lembrando que este divide as cidades mais cidades do DF diz: fizeram parte do júri para a escolha do projeto de em três categorias: Brasília: Sir William Holford, arquiteto inglês, do Mi- “Os meios de transporte coletivo começam a nistério da Habitação e do Planejamento e André. ‡ cidades mortas; atender o conjunto do território do DF. A prolife- Sive, arquiteto francês, conselheiro do Ministério ‡ cidades históricas vivas; ração de edificações tipo “torre” construídas nas da Reconstrução e de Habitação, amadurecidos cidades-satélite, além da profunda mudança que ‡ cidades novas do século XX. na gestão da complexidade de construção de ci- introduzem na paisagem horizontal de Brasília, dades. E, por essa razão, aptos a bem analisar as Para essa última categoria o texto da Conven- são fruto e testemunho da especulação fundiária propostas do concurso na sua condição de exe- ção indica: que não achou campo propício no Plano Piloto. qüibilidade. As formas que tomam as contradições fundiárias, “Sua organização urbana original permanece especuladoras, políticas, sociais produzem outros Agora passando à questão da inscrição de bastante legível e sua autenticidade segura, mas frutos que se denominam marginalização, exclu- bens na relação do Patrimônio Mundial, no tocan- seu futuro está comprometido por sua evolução, são, emigração. te às bases conceituais aplicadas pela UNESCO em grande parte incontrolável. É evidente que o para a preservação das cidades, traz à luz as re- problema existe, mas trata-se de buscar e implan- 2. O processo de produção da cidade, em- comendações de Nairóbi, de 1976, relativas à sal- tar meios para evitar que a evolução seja sinônimo preendedores e executores: qualidade e pertinên- vaguarda dos conjuntos históricos e seu papel na de degradação ou de degradação irreversível“ cia do método. vida contemporânea. “Salvaguardar e integrar os Para introduzir a questão de Brasília Patrimô- Sobre a proposta, assinala que em texto de conjuntos históricos na vida coletiva é um dever; nio Histórico Nacional e Cultural da Humanidade, Lucio Costa, de 1967, aparecem três das escalas, que os conjuntos históricos devem ser considera- o autor se vale do documento “Brasília Revisita- a monumental, a gregária e a residencial. A 4a dos em sua globalidade, como um todo coeren- da (1985/87), no qual Lúcio Costa coloca uma escala aparece em Brasília Revisitada. te que compreende tanto as atividades humanas questão que também é um desafio: “por um lado, quanto as edificações.” Referindo-se à aplicação do proposto no Re- como crescer assegurando a permanência do latório do Plano Piloto Lúcio Costa, diz: A noção de patrimônio a ser preservado e testemunho da proposta original; de outro, como valorizado assim ampliada conceitualmente, ex- preservar sem cortar a pulsão vital inerente a uma “Por vezes, a interpretação feita para a aplica- trapola os limites nacionais para torna-se mun- cidade tão jovem.” (in: Brasília, subsídios para o ção dos textos, vai além da vontade expressa pelo dial – Patrimônio da Humanidade, como indica no dossiê UNESCO, novembro 2001, p.1) autor. Pensamos, em particular, na aplicação res- 1º parágrafo da introdução das orientações para tritiva das recomendações referentes a determina- Para a leitura de Brasília no monitoramento a implementação da Convenção do Patrimônio das funções (hotéis, escritórios, comércios)...” são estabelecidos oito critérios, cada qual com- Mundial: “O patrimônio cultural e natural faz parte posto pelo enunciado do critério as referências à O autor propõe a elaboração de um Plano Di- dos bens inestimáveis e insubstituíveis não ape- Carta de Atenas e a sua aplicação a Brasília, quais retor de Salvaguarda e de Desenvolvimento Sus- nas de cada país, as de toda a humanidade. A sejam: tentável (PDSDD) do Plano Piloto e a implantação perda por degradação ou desaparecimento de de um plano de ação para estimular a integração qualquer desses bens eminentemente preciosos 1. As relações da cidade com seu território: social no seio do PP. “Recomendações específi- constitui empobrecimento do patrimônio de todos No Relatório do Plano Piloto Lúcio Costa diz cas para publicidade, para o Parque da Cidade, os povos do mundo.” que ela “não será decorrência de planejamento re- para as áreas centrais do PP, os comércios, o Pro- jeto Orla, para o trânsito e estacionamento e outro 71 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB para projetos pontuais, deveriam ser contempla- que a evolução da cidade poderá tomar. Porém, 1967, quando foram autorizados os primeiros ter- dos no PDSDD, em articulação com seus objeti- é preciso ainda que a instituição se cerque de raços com equipamentos coletivos, sendo que a vos.” E conclui: “A excepcional riqueza e varieda- profissionais em condições de conceber esses partir de 1999 é admitido uso privado. de de patrimônio urbano do Brasil, a diversidade projetos. Para isso, um pouco mais adiante, mas No item “A política habitacional” o autor cita de situações de ordem social, cultural, econômi- sempre no mesmo ponto, Lúcio Costa propõe um que nos documentos oficiais sobre a política ha- ca, geográfica, histórica tornam o país uma antolo- dispositivo de financiamento para cobrir as des- bitacional do DF são três as formas de ação: pro- gia urbana. Os instrumentos e os meios humanos pesas do projeto, no intuito de facilitar o convite dução, reabilitação, regularização de situações e técnicos que existem no país, as experiências a determinados arquitetos como a abertura de ilegais, sendo que a maioria dos projetos está lo- de gestão urbana em curso no exterior nos levam concursos para a urbanização ou edificação das calizada no triângulo Plano Piloto, Ceilândia, Santa a crer que Brasília pode ser terreno propício para quadras que não fossem projetadas pela Divisão Maria, Setor “O”, atualmente o de mais denso po- possível renovação no modo de desenvolver e de de Arquitetura da própria Companhia.” voamento, e aponta para a determinação da po- gerir a cidade contemporânea.” 4. A qualidade do Habitat e a qualidade da lítica habitacional em reforçar o eixo ligando Cei- 3. O Estatuto do solo urbano e os meios le- oferta de uso. lândia, Taguatinga, Samambaia e Guará ao Eixo gais de intervenção em contexto urbano. Residencial Sul do Plano Piloto. Sob o título “Os problemas habitacionais”, Sobre esse tema o autor aponta: são apontados três problemas a serem tratados: 5. A cidade como local de cultura e de comu- nicação “Uma instituição ad hoc: a TERRACAP admi- ‡ apart-hotéis do setor de clubes norte, pro- nistra a questão do solo em Brasília e em parte do pondo a aplicação rigorosa do regulamento do Nesse item o consultor assinala que “O pro- DF. A excepcional extensão do solo público está setor; jeto de fundação de uma nova cidade deveria ser adaptada a sua gestão e manutenção? Ela o é, em a oportunidade de reflexão sobre as condições todo caso, em relação aos objetivos explícitos de ‡ o uso incorreto do espaço entre os pilotis de acesso ao conhecimento, por quem, quando e Lúcio Costa de criar uma cidade parque.” E traz nas co-propriedades: em Brasília Revisitada, Lú- onde. Respostas a essas questões deveriam sur- Lúcio Costa em Brasília Revisitada: “Do estrito e cio Costa assinala, no item 4 a “proibição de bar- gir dos novos relacionamentos de toda a ordem, fundamental ponto de vista da composição urba- reiras nas áreas cobertas de acesso aos imóveis entre eles o espacial, entre instituições de forma- na chegou o momento de definir e de delimitar a (pilotis) e dos estacionamentos cobertos ou não. ção redefinidas e a cidade.” futura “volumetria” espacial da cidade, ou seja, a O regulamento vigente, entretanto, permite Cita o Dr. Ernesto Silva, em sua História de relação entre o verde das áreas que serão manti- que 40% da superfície do solo do pilotis seja ocu- Brasília: “Sempre defendemos a tese de que era das in natura, (ou cultivadas como campos, arvo- pada. E o volume construído pode ser utilizado impossível repetir, nessa cidade moderna, os redos ou bosques), e o branco das área a serem como hall de acesso, circulações verticais princi- mesmos métodos arcaicos ainda existentes no construídas. Chegou o momento, digo mal – o últi- pais e de serviço, anexos, serviços gerais, depósi- ensino brasileiro (p.227).”, sendo que o mesmo mo momento, diria melhor – de ainda ser possível tos e residência do porteiro, de superfície inferior autor conta também que um esforço considerável avivar esse confronto e de assim preservar, para ou igual a 40 m².” (Lei n. 2.325/11/02/99, SEDUH, foi mobilizado em benefício da reforma do ensino sempre, a feição original de Brasília como cidade- SUDUR, DIDUR,GESUL). em Brasília. E a esse respeito argumenta que “As -parque, o “fácies” diferenciador da capital em re- superquadras atualmente ainda desocupadas no lação às demais cidades brasileiras.” Com referência ao regulamento referente à Eixo residencial Norte, propriedade da Universida- criação do sétimo andar, cita que foi autorizada Sobre a qualidade dos projetos: de, oferecem um terreno ideal para tentar uma ex- por lei do DF a construção sobre coberturas dos periência de início de descentralização dos locais “O estatuto público do solo em Brasília per- imóveis de seis pavimentos equivale a criar um 7º de ensino da Universidade. Por uma universidade mite à municipalidade arbitrar sobre as formas andar. O uso das coberturas vem evoluindo desde de proximidade, aberta a todos.” 72 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

Determinado número de edifícios com voca- maior número possível de interlocutores.” E en- dos como exemplo o Hipermercado Extra na extre- ção cultural deverá ainda ser construído em locais caminha a questão para o futuro Plano Diretor de midade da Asa Norte e o Centro Comercial Píer 21, para eles reservados no Eixo Monumental: mu- Preservação e de Desenvolvimento. no Setor de Clubes Esportivo Sul. Nos dois casos, seu, biblioteca,etc. Formulemos votos para que a a agressão ao espaço urbano fica caracterizada Referentemente à Avenida W3, diz que esta decisão de realizar esses projetos seja a oportuni- [...] pelo efeito da massa edificada, o acúmulo de merece um item especial. “Nos últimos anos a dade de concursos públicos, e porque não de um tráfego e estacionamento para clientes e fornece- qualidade dos comércios decaiu, o estado das concurso internacional?” dores, impacto à paisagem urbana, etc. “Já que construções , por falta de manutenção, degrada- sua presença, função e configuração são legais, é 6. As atividades produtivas, serviços e comér- -se e o espaço público é submetido a numerosas necessário que outra lei conserte o que a primeira cio na cidade. agressões. autorizou. O Píer 21 é uma afronta à cidade. Creio Sob o título “A Indústria”, a preocupação se A Avenida W3 Norte, em particular (onde se que a punição deve ser exemplar e proporcional à volta para o Setor de Indústria e o Setor de Arma- legalizou o aumento de altura das edificações de gravidade do delito.” zenagem e Abastecimento Norte (SAAN) por “seu 8 para 12 m) essa situação atingiu um nível de po- Quanto aos comércios locais, desejados por volume dos transportes pesados no sistema viário luição visual significativo. Moradores e visitantes todos, podem se converter em importante fator de de escala regional. vivem mal essa situação. Um projeto de revitaliza- degradação ambiental e da qualidade da vida em ção deveria ser lançado imediatamente. Espera- “Se há consenso sobre a importância de sua si, no que tange seus reflexos sobre a vizinhança, -se que suas bases sejam definidas no âmbito do presença para a economia regional, discute-se, e aponta como conseqüências gerais de degra- Plano Diretor de Brasília.” em compensação, sua localização e o tratamen- dação: to dado; é preciso rever sua articulação com o Também são objeto de observação “as guari- Plano Piloto. O parque industrial e sua necessária tas, os quiosques e os trailers”. ‡ concentração por atividades, criando-se transformação e expansão, devem ser objeto de assim uma polarização sobre uma única atividade “As funções de serviço que prestam são ine- reflexão global sobre os objetivos, os meios e os no ambiente residencial, provocando um salto de gáveis: os clientes aí estão para testemunhar. Os efeitos do crescimento dentro do espírito do de- escala; a monofuncionalidade é sempre nociva à problemas que colocam estão relacionados ao senvolvimento sustentável. Quando da reflexão, qualidade do meio ambiente; local onde se encontram instalados e à tendên- no âmbito da revisão do PDOT será preciso pre- cia a se tornarem cada vez mais fixos e maiores. ‡ carga e descargas de mercadorias realiza- ver o lugar que caberá inevitavelmente às áreas Algumas vezes cumprem a função de moradias, das fora dos locais e horários previstos; produtivas como motor de desenvolvimento de como é o caso de alguns pontos de táxi nas Su- suas zonas de influência. O que significa, prever ‡ veículos em maior número do que em rela- perquadras.... o problema merece uma reflexão a possibilidade de implantar outras funções urba- ção àqueles de uma atividade comum de fornece- global sobre a multiplicação de objetos diversos nas, serviços, comércio, equipamentos, moradias, dores e clientes; e variados que anarquicamente poluem o espaço educação, saúde, assistência jurídica, etc. que da cidade. O problema do comércio ambulante é ‡ idas e vindas freqüentes entre as lojas do não deixarão de expressar a vontade de participar a sua deplorável tendência ao sedentarismo. Uma mesmo grupo são assimiladas à apropriação do da germinação da cidade, que constitui sempre fiscalização adaptada e sanções incontornáveis espaço da rua; fonte de emprego.” permitiriam a implementação progressiva de solu- ‡ ruídos, odores e detritos não são tratados A respeito dos “Comércios Locais”, recomen- ções alternativas, a serem previstas no Plano Dire- na fonte; da que “No âmbito do estudo do Plano Diretor, tor de Brasília.” ‡ lixo residual não é tratado por tipo e/ou trata-se de estabelecer escala correta, de defi- Os centros comerciais são qualificados como quantidade; nir claramente e consensualmente objetivos, de problemas graves. Entre esses dois são aponta- implantar parâmetros e de associar à reflexão o ‡ estacionamento de caminhões e automó-

73 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB veis é obstruidor e anárquico; de um grupo internacional de reflexão sobre o lu- na medida em que estes últimos, “desde o início gar do carro como meio de transporte na cidade dos anos 50 estimam que os princípios enuncia- ‡ placas e painéis publicitários de tamanhos do Século XXI.” dos na Carta de Atenas, datados historicamente e quantidades “desmesurados”; e criticados, não podiam, por si só, constituir uma 8 – A originalidade e o testemunho da propos- ‡ concentração de público em determinado orientação unívoca do novo urbanismo do Século ta urbanística. período da semana e/ou do ano gerando senti- XX.” mento de expropriação” nos moradores; O consultor discorre sobre a originalidade da O consultor lembra que Lúcio Costa conhe- proposição urbanística de Brasília, sua vocação ‡ área de serviço, estoque e preparação cia um certo número de membros do Team X e e sua gestão, além de referenciá-la às correntes ocupam de modo definitivo o espaço público. suas críticas à Carta de Atenas não lhe eram des- urbanísticas suas contemporâneas, reportando-se conhecidas. Diz ele: “Peter Smithson, encontrado ao Relatório do Plano Piloto e à Carta de Atenas, 7 - O tráfego na cidade. em Veneza em agosto de 2001, confirmou-me o para afirmar que “A proposta constitui um testemu- interesse que para o movimento moderno o Team A análise foca o posicionamento de vários nho do urbanismo de sua época e uma contribui- X teve, desde seus primórdios, pela “experiência” autores sobre a circulação veicular, a disputa de ção original à reflexão, senão uma resposta, sobre de Brasília. Ele encontrou Lúcio Costa várias ve- espaço entre o automóvel e o pedestre na cidade a cidade.” e a legitimidade do segundo em balizar o compor- zes. Ele próprio e Alison, sua mulher e arquiteta, tamento do primeiro. A Carta de Atenas é referida, Cita o arquiteto Rem Koolhaas, em seu artigo fundadores do movimento brutalista inglês, visita- no seu posicionamento favorável ao pedestre e da revista Projeto n. 133, pg. 34, no qual afirma: ram Brasília com seus filhos, em 1966, por ocasião nos pontos que respondem à proposta de Brasília. “Penso que Brasília foi, sem dúvida, o mais com- da realização do projeto para a embaixada da O relatório analisa a crescente presença do carro pleto manifesto sobre a cidade contemporânea.” Inglaterra. Suas lembranças são as de uma cidade nas vias e em número de 2 ou 3 por apartamento, O autor considera que “a criação de uma quase sem vegetação (!) onde as edificações de nos térreos ou nas garagens das super quadras. nova capital é a oportunidade e uma reflexão so- Oscar Niemeyer, isoladas no espaço, tinham difi- Diz ele: “O entorno próximo às super quadras acu- bre as estruturas de poder nacional e municipal, culdade em compor uma paisagem urbana.” sa o golpe: os espaços verdes correm o risco de sua organização e as relações que deveriam ser Em “ Cidades Lineares”, Pastrana aponta im- encolher para deixar lugar para os carros, a cir- mutuamente mantidas com os cidadãos. ...” portantes referências “na cidade linear de Soria y culação se intensifica. As crianças continuam em Mata (ou as teorias dos arquitetos russos para as segurança ? E busca outros depoimentos: “A cidade- -projeto, construção política, necessita de uma cidades socialistas, de 1930) inspirando a organi- Nota, de passagem, que “a proposta de liga- política transparente e de abertura para assegurar zação do eixo residencial. O sistema das ilhas ha- ção coberta habitável que deveria ligar os edifícios seu funcionamento democrático.”(J.F. Tribillon). bitacionais ou “super quadras” de um e de outro dos ministérios lamentavelmente não foi realiza- O autor conclui: “O que significa dizer, informar lado da via de circulação é oriundo, pelo menos, da.” E sugere uma circulação mecânica, tipo cal- e conscientizar, responsabilizar, associar os cida- da mesma linguagem formal e, no máximo, da çada rolante, de forma anelar, que poderia servir dãos à gestão da cidade. As intervenções sobre o mesma orientação teórica da cidade linear.” todos os ministérios e áreas comerciais a partir da espaço, qualquer que seja sua natureza e escala, E continua: “Para reforçar essa hipótese, hoje Estação Rodoviária. quer sejam estratégicas ou operacionais, urbanas admitida por todos, a proposta de Lúcio Costa de Entre as recomendações está a de abordar a ou territoriais, dão lugar a uma consulta prévia da ligar as cidades satélites ao Plano Piloto encon- questão do carro, com urgência. população e posterior controle por ela.” tra testemunho em Brasília Revisitada. A proposta consistia em construir eixos residenciais ao longo “Brasília goza de renome e prestígio suficien- No item “referências” à concepção do projeto das vias de circulação ligando Brasília às cidades- tes no mundo para ser ouvida e para que se jun- de Brasília, traz a Carta de Atenas e o reconhecido -satélites, para alojar a população de baixa renda tem a ela, caso decida lançar um apelo à criação grupo de arquitetura contemporâneo, o Team X, 74 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO da cidade-capital.” damento.” Esse projeto parece-me corresponder deiam: a partir da Praça dos Três Poderes a leste, ao que Lúcio Costa propõe no ponto 22 do seu a Esplanada dos Ministérios, na qual se enxerta o Segundo o autor, nas “cidades européias” Relatório do Plano Piloto, no tocante ao estatuto átrio da catedral, os setores culturais, a plataforma Lucio Costa buscou inspiração “nos Mall dos in- do solo, um dos aspectos mais inovadores de sua de lazer, cercada, ao nível do solo pelos setores gleses, mas o croquis que ilustra os volumes fala proposta para Brasília. comerciais, bancários e profissionais, para atingir de um fórum de palmeiras imperiais proposto em a Praça da Municipalidade e a Torre de Televisão. 1936 por Le Corbusier.” Brasília é uma “cidade verde” no sentido que Cada um desses espaços e seus encadeamentos Le Corbusier atribuiu a esses termos. No ponto 35 Apresentando a plataforma das áreas de lazer têm características próprias, cada um é um local da Carta de Atenas, capitulo Lazer, o subtítulo re- da cidade, no ponto 10 do relatório do Plano Pilo- urbano em si, de grande visibilidade e legibilida- comenda: “preciso exigir uma mudança de textura to, Lúcio Costa refere-se a “uma mistura, em ter- de. Trata-se de uma sucessão de “centros” consti- para o tecido urbano, as aglomerações tornar-se- mos adequados, de Picadilly Circus, Time Square tuindo um sistema. O sistema de centros urbanos -ão “cidades verdes.” E analisa que “Ao contrá- e Champs Elisées.” Pouco adiante o consultor co- proposto pelo projeto não é unicamente axial nem rio das cidades jardim, onde o parcelamento é menta que Lúcio Costa “ descreve um dispositivo linear. A catedral e seu átrio são uma peça urbana, privado e muito compartimentado, as superfícies arquitetônico para colocar em relação as diversas que constitui um evento, que altera o sistema line- verdes serão consagradas às atividades comuns, salas de espetáculo, como na Rua do Ouvidor, no ar. Ao norte, um pouco mais a oeste, como se se prolongamento da habitação ou então, eventual- Rio de Janeiro ou as vielas venezianas. Menção tratasse de um desvio na simetria, o Teatro Nacio- mente e em parte, para hortas. No texto Brasília alguma é feita, nesses dois trechos, aos princípios nal e sua esplanada constituem outra peça urbana Revisitada, Lúcio Costa define a cidade como “ci- dos CIAMS ou da carta de Atenas.” maior que produz o mesmo efeito. A Esplanada dade parque” derramada e concisa, traçado urba- dos Ministérios, espaço mais amplo do sistema, Igualmente, traça um paralelo da proposta de no distintivo da Capital.”(p.12) Brasília com os “Princípios de Ebenezer Howard e em parte devido à dilatação introduzida durante a “cidade parque”. “Ora, os princípios filosóficos Segundo o autor do relatório: da “Europa, Es- sua realização (mais 300 m entre empenas), é ain- da cidade jardim teorizados por Ebenezer Howard, tados Unidos e China, vieram respectivamente, os da legível como espaço urbano, apesar da relativa que permitiram a realização de duas cidades, Le- “english greens”, as rodovias e os terraplenos, que perda de urbanidade.” inspiraram o sistema de esplanadas que, a partir tchworth (1904) e Welwyn (1920) não me parecem No item “A utopia aberta“, o consultor analisa da Plataforma Rodoviária, descem em direção à ter servido de referência a Brasília.” Na proposta os antecedentes de Brasília, concluindo que: “a Praça dos Três Poderes. Assim Lúcio Costa nos de Ebenezer Howard, assinalada por L.Munford, cidade mergulha suas raízes na história da arqui- revela como sua memória, tal como uma ponte destacam-se dois dos seus princípios: tetura e do urbanismo brasileiros do Século XX” e estendida entre os três continentes, faz com que a segundo sua apreciação “ Lúcio Costa sente-se ‡ a manutenção de um cinturão permanente história esteja presente na sua futura capital.” antes de tudo arquiteto brasileiro.” de terreno não-edificado consagrado à agricultu- Dedicando-se a analisar o Eixo Monumental, ra, fazendo parte integrante da cidade. O “cinturão “Uma análise final, feita in situ, mostra que o consultor se propõe a “olhar de forma crítica a permanente de terreno não edificado” existe em Brasília é, hoje, uma cidade em transformação, proposta urbana contida no eixo monumental, que Brasília, ainda que não tenha sido destinado para uma cidade cheia de potencialidades, uma cida- segundo ele, não reproduz o esquema do eixo ro- o uso agrícola; aliás, a memória descritiva de Bra- de adolescente. Brasília não é uma utopia, Brasí- doviário residencial, por entender que não é a via sília não menciona a agricultura. lia é uma cidade contemporânea, reflexo de uma que o estrutura e para isso lança mão de autores sociedade e de uma cultura em plena afirmação, ‡ a propriedade inalienável e o controle reconhecidos como Kevin Lynch e se apóia na cidade feita de sucessos e fracassos, cidade livre permanente da totalidade do espaço urbano nas consistente tese de Antonio Carlos Carpintero: “O e aberta, cidade capital.” mãos da própria municipalidade que dispõe dele eixo é constituído por uma série de espaços urba- em benefício de particulares por meio de arren- nos, locais públicos que se sucedem e se enca- Quando analisa o “Método de trabalho do

75 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Projeto”, abre com uma citação de Le Corbusier para identificar essa ligação da cidade com a his- cidade que assuma, à diversidade e ao número em Aujourd’hui (prefácio à reimpressão da Carta tória da sua produção: sempre crescente de habitantes que lhe pedem de Atenas, de 6 de setembro de 1957): “Doravante, a cidade nunca mais será consi- que acolha, à variedade dos modos de vida que derada em separado do movimento de urba- obriga os projetos dos quais são portadores a “Uma mutação imensa, total, conquista o nização que a faz surgir e cuja origem encon- evoluir continuamente(...) e seleciona as constan- mundo: a civilização maquinista instala-se na de- tra-se na divisão técnica e social do trabalho” tes que “atravessam” todos esses critérios, como sordem, no improviso, nos escombros... Há um três princípios “agregadores”: século que isso dura! Mas um século também em O autor se refere à concepção de cidade que a nova seiva sobe ...... Um século em que os como processo do qual se conhece apenas o ‡ o caráter dinâmico da cidade; clarividentes trouxeram idéias, noções e formula- ponto de partida, por não se tratar de “um sis- ‡ o lugar dos cidadãos enquanto atores da ram propostas... Um dia talvez chegará...”. tema fechado, mas uma obra aberta, coletiva, vida da cidade; em evolução, permeável às transformações da Em 3 de maio do mesmo ano, lembra Pas- sociedade.” Sendo assim, entende que “Brasília ‡ a dimensão eminentemente política do trana, havia começado a construção de Brasília. é uma cidade em transformação e está longe de fato urbano. Situado em seu contexto histórico, o projeto de estar concluída.” E interroga: “Porém, qual cidade É enfático em assegurar que é preciso “outra Brasília é obra de um homem, de um artista, de pode pretender estar pronta?” concepção da política, outra consideração para a um humanista culto e generoso que, como muitos coisa pública”, apregoando que “o desejo de boa outros colegas seus no mundo, sente-se portador Sobre as influências contidas no projeto de governança é uma aspiração popular, que a po- esclarecido da mensagem que a cultura de sua Brasília, chama atenção sobre “o não-alinha- lítica não seja uma mercadoria, que não seja um época deseja transmitir por intermédio da cidade. mento do autor a uma escola: ela constitui uma síntese, (...) solidamente enraizada na história produto de troca.” O consulltor acentua “A lucidez e a inteligên- da arquitetura moderna e da produção da cida- Ao observar a evolução e o movimento de cia de Lucio Costa, seu engajamento profissional, de no Brasil. Proposta global e dinâmica, Brasília Brasília, assegura ser preciso “encontrar instru- sua adesão à democracia, seu apego ao Brasil e o representa em 1957 uma ilustração única no seu mentos idôneos para orientar e evitar dessa forma amor com que olha viver seu povo estão presentes gênero, assim como o testemunho das correntes a deriva. Erros foram cometidos, alguns podem na Memória Descritiva de seu projeto e em Brasília que atravessam a reflexão e a produção da cida- parecer irreparáveis, mas gostaria de dizer que Revisitada.“ Entretanto, o autor do monitoramento de nessa época. É importante lembrar aqui que, nenhum o é.” não deixa de lembrar que “um único movimento, o além de sua forma física, Brasília é a ilustração da Quanto aos “problemas que identificamos na Team X, trouxe consigo a reflexão e práticas sobre maneira como os arquitetos da época concebiam análise da situação de Brasília, não possuem to- o lugar a ser reservado aos moradores na concep- seu papel social e como trabalhavam.” ção e na vida da cidade. A distinção feita por Lucio dos a mesma natureza, nem a mesma gravidade: Costa ao falar de Brasília urbs, cidade funcional, e Segundo a sua avaliação “Quarenta anos é é preciso ponderá-los e hierarquizá-los para poder civitas, cidade capital (quarto parágrafo da Memó- muito pouco tempo para uma cidade: podemos operar sobre as escolhas estratégicas. Os Planos ria Descritiva do Concurso de Brasília), está pro- dizer que assistimos à sua gênese” e propõe “um que Brasília – Plano Piloto e Distrito Federal neces- vavelmente relacionada com o que acabamos de debate permanente sobre o futuro de Brasília Pa- sita, poderão, então, ser formulados. trimônio Cultural da Humanidade.” evocar a propósito do Team X.” E encerrando, afirma que “As potencialidades No item seguinte, “Encaminhamento do pro- Na “Conclusão” Pastrana relaciona a cida- de adequação da cidade são, desde sua concep- jeto e gestão urbana”, ao falar sobre a originali- de com a realidade contemporânea e a extensão ção por Lucio Costa, consideráveis. É preciso atu- dade da proposta de Brasília, o consultor diz que crescente das suas contradições. “Estas contra- alizá-las e para isso existem instrumentos; é preci- “é questão de vocação, de gênese, do projeto de dições aumentam em relação diretamente pro- so dotar-se de todos os meios para implantá-los e gestão”, e se vale das palavras de Henri Coing porcional ao número das funções que se pede à levá-los por vontade política a serviço de um pro-

76 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO jeto consensual para Brasília, Plano Piloto, cidade ‡ solicita ao Estado-Parte a manter informa- ‡ a extensão da Vila Planalto; contemporânea Patrimônio da Humanidade.” do o Comitê do Patrimônio Mundialdo andamento ‡ a ausência de zonas tampão com regula- da elaboração do Plano Diretor de Brasília. Recomendações do Comitê do Patrimônio mentação específica; Recomendações do Comitê do Patrimônio Mundial em 2003 e 2004 ‡ a alteração das áreas comerciais e; Mundial em 2009 O relatório da segunda missão de monito- ‡ a ausência de um Plano Diretor. ramento foi objeto de informação ao WHC, e de O WHC solicitou ao governo brasileiro relató- discussões nas reuniões do Comitê do Patrimônio rio sobre a situação de conservação de Brasília em Na súmula da apreciação do Comitê do Pa- Mundial de 2003 e 2004. 2008, que tratasse das demandas da instituição trimônio Mundial sobre a situação de Brasília é desde 2001. O relatório, elaborado pelo IPHAN, foi A ata da reunião de 2003 - 27COM 7B.85 - transmitida a informação encaminhada pelo es- recebido em março de 2009. Brasília (Brésil) encaminhada ao governo brasi- tado brasileiro sobre “A possível aprovação do leiro informa sobre o relatório enviado pelo Brasil Na 33ª reunião do WHC, em Sevilha, em junho PDOT pela Câmara Distrital e suas implicações (IPHAN), reconhece o engajamento das autorida- de 2009, dando seguimento ao monitoramento da sobre a área protegidas e suas zonas tampão. A des brasileiras em favor da preservação dessa ci- situação de Brasília, tendo por base os documen- esse respeito “O Estado-Parte informa que a apro- dade moderna em desenvolvimento, que poderia tos das missões da UNESCO e do ICOMOS Brasil vação do PTOT é esperada para março de 2009 e servir de referência para a conservação de bens e as resoluções de 2003 e 2004, o Comitê do Pa- que seguindo-se a sua implementação medidas análogos em todo o mundo, sendo a seguinte a trimônio Mundial aponta como o principal proble- adicionais seriam adotadas para o sítio protegido. decisão do Comitê: ma da capital a pressão urbana que pode afetar o Um Plano de Preservação do Plano Urbanístico de Plano Piloto original que garantiu a inscrição de Brasília, que cobre o sítio protegido, encontra-se ‡ encoraja o Estado Parte a continuar a ela- Brasília na Lista do Patrimônio Mundial e assinala em preparação pela Secretaria de Desenvolvi- boração do plano diretor e a participação de todos a ausência de um Plano Diretor. mento Urbano e Meio Ambiente do DF. Este será os níveis da administração, as organizações pro- o Plano de Organização da área protegida e sua O Comitê se refere à ameaça que poderia re- fissionais e os diferentes setores da sociedade no implementação está prevista para junho de 2009. “ processo de proteção e gestão da cidade; presentar o PDOT: Diante dessa informação, o Comitê assinala “Um relatório sobre questões de conserva- ‡ solicita ao Estado-Parte a apresentar um que os documentos correspondentes aos projetos ção de Brasília, encaminhado por uma entidade relatório de evolução referente à concepção, ado- técnicos desses Planos ainda não foram submeti- da sociedade civil (ONG), foi recebido pelo WHC ção e posta em prática do plano diretor, antes dos ao WHC, demandando informações sobre o em julho de 2008. E a avaliação das informações de fevereiro de 2004, de modo que o Comitê do estágio em que se encontra a preparação da regu- recebidas acarreta preocupação sobre as ações Patrimônio Mundial possa examinar o estado da lamentação das zonas tampão ao redor da área que poderiam ser implementadas no quadro do conservação de Brasília na sua 28a secção, em protegida, como requerido pela missão de 2001,” Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), 2004, sendo que essa decisão foi adotada sem e registra que “ Um estudo preparatório foi ela- que estava na ocasião sendo examinado para discussão pelos membros do Comitê. borado pelo IPHAN e submetido à consultas das aprovação pela Câmara Legislativa do DF. A decisão de 2004, diante da informação do agências de desenvolvimento e meio ambiente do estado brasileiro de que estava em andamento a A entidade considera que as iniciativas dele DF. Consultas mais alargadas são requeridas para concepção e elaboração de um plano diretor de resultantes poderiam potencialmente criar impac- encontrar o equilíbrio entre as necessidades de preservação da área protegida de Brasília, resu- to visual e afetar a integridade de Brasília, cha- conservação, as normas ambientais e o desenvol- me-se a dois itens: mando a atenção para os seguintes pontos: vimento econômico e social do DF.” ‡ encoraja o reforço da cooperação entre o ‡ a criação de novas áreas urbanas junto ao Quanto a impedir impactos visuais sobre Bra- IPHAN e o GDF e Lago Paranoá, localizadas no Plano Piloto original; sília, o Comitê recomenda que: 77 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

‡ as zonas tampão estejam formalmente es- toramentos tendo Brasília como objeto, conclui-se Figura 2.2. Croquis da concepção urbana de Brasília tabelecidas; que há uma posição amadurecida pela UNESCO/ ICOMOS sobre os limites das mudanças que a ‡ o desenvolvimento urbano e as normas capital pode absorver sem comprometer suas ca- para as construções na área protegida deverão racterísticas essenciais. Diante disso, a Organiza- ser controlados legal e administrativamente pelo ção vem sinalizando que irá desempenhar a sua DF em coordenação com o IPHAN de forma a im- influência em nível internacional para manter as pedir tais impactos visuais sobre Brasília. qualidades da proposta de Lúcio Costa, garantin- São requisitadas pelo Comitê informações do, com isso, que a cidade se conserve como um sobre os seguintes projetos: Patrimônio Cultural da Humanidade. ‡ soluções de transporte na via W3, ‡ Parque da Enseada, 2.1.2 A concepção urbanística de Brasília

‡ Concha Acústica (Orla Project) O Plano Piloto de Brasília foi tema do Concur- Diante destas questões o Comitê encoraja o so Nacional promovido em 1956 para a escolha Estado Parte a finalizar a delimitação das zonas do projeto que iria definir a nova capital. Foi vence- tampão e a submeter a sua nova delimitação ao dor, entre 26 concorrentes, o projeto do Arquiteto WHC, acompanhada da cartografia apropriada e Lúcio Costa, um dos expoentes dos Congressos quadro legal de proteção, para exame do Comitê Internacionais de Arquitetura Moderna – CIAM do Patrimônio Mundial. (1928 – 1956), os quais influenciaram o debate acerca dos rumos da arquitetura e do urbanismo Assim, também registrou os projetos em ela- em nível mundial. boração para o território de Brasília, solicitando, em base ao parágrafo 172 das normas operacionais, Segundo Raoul Patrana, consultor da Unes- que o estado parte submeta à revisão pelo WHC co para o monitoramento de 2003, “para abordar e órgãos assessores, para apreciação do Comitê a reflexão sobre o Plano Diretor e de Desenvolvi- do Patrimônio Mundial os documentos técnicos mento Sustentável de Brasília, Cidade Patrimônio do Projeto Orla, do desenvolvimento da Vila Pla- da Humanidade, [...] é necessário reportar-se per- nalto, as soluções de transporte para a via W3 e as manentemente aos textos fundadores. [...] muito mudanças no uso do solo das superquadras. Soli- freqüentemente as respostas aos problemas que citou ao estado parte três cópias do Plano Diretor, a cidade apresenta hoje se encontram nos textos o mais rápido possível, para a análise do WHC e de Lucio Costa, que contêm sempre orientações órgãos assessores. E concluiu solicitando ao esta- sobre os procedimentos a seguir para permitir que do parte que submeta ao WHC, até 1º de fevereiro a cidade evolua de acordo com o desejo e o espí- de 2010, um relatório detalhado sobre o estado de rito de seu criador e os cuidados a serem tomados conservação de Brasília e sobre o progresso fei- com o desenvolvimento de uma cidade Patrimônio to na implementação das recomendações acima, da Humanidade. “ para o exame do Comitê do Patrimônio Mundial, A concepção urbanística do Plano sistematiza na sua 34ª secção, em junho de 2010, em Brasília. e explora as principais correntes de pensamento Após esse percurso pelos relatórios de moni- urbanístico do período, que incluem os princípios Fonte: Relatório do Plano Piloto, Lúcio Costa 78 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

Figura 2.3. Escala Monumental da Carta de Atenas – mas também a sua crítica –, ‡ escala gregária, representada pelas áreas a reflexão sobre os princípios do movimento Ci- de comércio, serviço e lazer do centro da cidade; dades Jardim, cotejados com a concepção dos ‡ a escala bucólica, representada pelo cintu- espaços abertos do Movimento Moderno, de onde rão verde no entorno do Plano Piloto, pelas áreas resulta a proposta original de uma “Cidade Par- ao longo do Lago Paranoá e pelos interstícios sem que”. ‡ O Movimento Moderno propunha alguns ocupação, seja nas superquadras, seja nas outras princípios para projetos de cidades, os quais fo- áreas públicas não edificadas. ram amplamente aplicados em Brasília: A concepção urbanística de Brasília se ex- ‡ Separação entre as quatro funções urba- Figura 2.4. Escala Residencial pressa por dois eixos que se cruzam, o Eixo Mo- nas: habitação, tempo livre, trabalho e circulação numental e o Eixo Rodoviário-Residencial, res- - verificado no zoneamento de atividades de Bra- ponsáveis pela estruturação de todo o conjunto, sília; entendida esta pela maneira como as atividades ‡ Utilização de elementos simples que, as- urbanas se localizam no território e como se rela- sociados ou repetidos, resultam em soluções cionam entre si. complexas – exemplos são as asas residenciais O Eixo Monumental foi proposto como o ele- de Brasília, unidades residenciais, blocos residen- mento de marcação do espaço simbólico e de re- ciais, superquadras e unidades de vizinhança; presentação da cidade-capital nacional. Este eixo ‡ Definição limite de população – que para - que articula a Praça dos Três Poderes, a leste, Figura 2.5. Escala Gregária Brasília foi estabelecido entre 300 e 500.000 ha- à Estação Ferroviária, a oeste - é composto por bitantes; setores distintos, unificados pelo largo eixo linear com seu canteiro central gramado. ‡ Definição de limites precisos de urbaniza- ção, como proposto pelo movimento da Cidade O setor leste do Eixo Monumental, que vai da Jardim – que em Brasília seria obtido pelo anel de Praça dos Três Poderes até o centro urbano foi área verde circundante; concebido para ser um dos cenários mais distinti- vos de Brasília. A Esplanada dos Ministérios seria ‡ Utilização da técnica rodoviária como téc- definida pela implantação das sedes ministeriais, nica urbanística - aspecto proeminente do Plano dispostas simetricamente em ambos os lados do de Brasília. Figura 2.6. Escala Bucólica eixo, com grandes distâncias entre as empenas A aplicação de tais princípios em Brasília, dos edifícios de ministérios opostos. A Esplanada ajustando-os à necessidade de uma capital nacio- culminaria com a Praça dos Três Poderes, onde nal e cidade nova resultou numa concepção que seriam instaladas as sedes do Poder Executivo identifica quatro escalas: (Palácio do Planalto), Poder Judiciário (Supremo ‡ a escala monumental, ressaltando os es- Tribunal Federal) e Poder Legislativo (Congresso paços simbólicos e de representação de uma ca- Nacional). pital nacional; A disposição simétrica e repetida dos ministé- ‡ escala residencial, enfatizada na solução rios cria uma perspectiva imponente para os ele- Fonte: Banco de Imagens, SEDUMA. dada à superquadra: mentos focais dispostos na Praça dos Três Pode- 79 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB res, em especial o Congresso Nacional. logo após, foi concebida para abrigar diversas Figura 2.7. Croquis ilustrando a superquadra, a funções como o setor esportivo, a Praça Municipal unidade de vizinhança e a arborização de entorno Ao longo do Eixo Rodoviário-Residencial, nas e a zona dos quartéis contando, no centro do Eixo, das superquadras. asas Sul e Norte, são dispostas as áreas desti- com um importante marco referencial da cidade, nadas à moradia, organizadas pela repetição de a Torre da TV, de onde, a partir do seu mirante, é uma solução-tipo: a Superquadra e a Unidade possível visualizar a totalidade do Plano Piloto. de Vizinhança. A superquadra corresponde a um quadrilátero de aproximadamente 280 por 280 As áreas a leste das asas Sul e Norte, em di- metros onde são implantados os blocos residen- reção ao Lago Paranoá, foram previstas para a ciais isolados e circundados por amplas áreas implantação das Embaixadas e Legações Estran- verdes. A Unidade de Vizinhança compreende geiras, também com uma ocupação rarefeita e de o grupamento de quatro superquadras, na qual baixa altura e, ainda mais próximos ao Lago Para- são implantados os equipamentos comunitários noá, os setores de residências individuais. básicos: escola, igreja etc. Entre as unidades de A oeste das superquadras e em seu lado vizinhança são implantadas as áreas comerciais oposto e ao longo de uma via de serviço, a W3, locais, em vias que permitem as ligações transver- estariam situados o comércio atacadista, as gara- sais ao Eixo Rodoviário-Residencial. gens e oficinas, sendo que a área posterior deve- Embora a concepção da superquadra admita ria ser destinada a uma ampla área para horticul- a variedade na disposição dos blocos residenciais, tura, pluricultura e pomar que, somadas ao Jardim dois princípios gerais deveriam ser atendidos: Botânico, ao sul do Plano e o Jardim Zoológico, ao norte atuariam como o início dos espaços li- ‡ gabarito máximo uniforme, sendo sugeri- vres propostos e que, a exemplo das cidades jar- do seis pavimentos sobre pilotis e; dins, atuariam como elementos de contenção ao ‡ separação do tráfego de veículos do de crescimento e, ao mesmo tempo, como área de pedestres, tendo em vista a segurança no acesso amortecimento, reforçando o reconhecimento do às atividades locais. desenho e da identidade do Plano Piloto no seu local de implantação e da sua escala bucólica. O cruzamento entre o Eixo Monumental e o Eixo Rodoviário-Residencial forma o centro da ci- É necessário referir, ainda, que o Plano Piloto dade, contendo os setores de diversões, hoteleiro, contempla outros aspectos e detalhes. A descri- cultural, comercial, bancário, de escritórios, que ção aqui feita, no entanto, limita-se aos aspectos serão responsáveis pela estruturação da escala que se considera essenciais. gregária proposta pelo Plano e “uma ampla pla- A implantação de Brasília, ao longo do tem- taforma, liberta do tráfego que não se destine ao po, impôs alterações. Foram ocupadas áreas não estacionamento ali” (COSTA, 1956) onde, no seu previstas no Plano original, sendo que muitas de- nível inferior, deveria ser implantada a plataforma las foram indicadas em 1987 por Lúcio Costa, no da Estação Rodoviária interurbana. trabalho intitulado Brasília Revisitada, o qual foi A parte oeste do Eixo Monumental, que se expressamente referido tanto na portaria federal conclui na Estação Ferroviária e com um setor de quanto no decreto distrital de proteção. Em rela- atacados e de pequenas indústrias implantadas ção ao adensamento e expansão urbana para fins Fonte: Relatório do Plano Piloto, Lúcio Costa 80 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

Figura 2.8. Croquis ilustrando a Plataforma Rodoviária, o Setor Central, a Praça dos Três Poderes, o Eixo de moradia no interior do Plano Piloto, a implanta- Monumental (Esplanada dos Ministérios) e a Torre de TV, respectivamente. ção de novas áreas residenciais como o setor Su- doeste/Octogonal, o Setor Noroeste e, na margem leste do Lago Paranoá, as asas novas Sul e Norte. De outro lado, merecem destaque as ocupa- ções previstas com caráter provisório, implantadas para fazer frente às necessidades decorrentes das obras de construção de Brasília e que deveriam ser desocupadas após a sua implantação, como os acampamentos de obra, mas que permane- cem na estrutura urbana de Brasília, como a Vila Planalto, a Candangolândia e a Vila Telebrasília. Em face de seu significado, da referência à iden- tidade de Brasília e de sua formação, tais setores foram identificados como patrimônio cultural a ser preservado e incluídos no conjunto tombado.

2.1.3 Os valores de Brasília

a) As Superquadras

Dentre as criações urbanísticas de Brasí- lia, consagrou-se a superquadra como uma das inovações mais bem sucedidas, em face de seu resultado na qualidade do ambiente e do espaço urbano. As Superquadras, compostas por blocos hori- zontais, com altura uniforme sobre pilotis, resultam num espaço altamente agradável, voltado para o pedestre, com ampla predominância de jardins, sombras e permeabilidade visual. Cada quatro quadras formam unidades de vizinhança, atendi- das em suas interfaces por comércio local e equi- pamentos comunitários, como escolas, cinemas e igrejas. O conceito da superquadra amadurece e adapta as concepções urbanísticas do século XX e criou em Brasília uma escala de convivência e de bairro que se contrapõe e complementa a escala Fonte: Relatório do Plano Piloto, Lúcio Costa monumental. Com o passar do tempo, o conceito 81 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB de superquadra sofreu reinterpretações nas novas odo o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, Figura 2.9. Superquadras: foto aérea áreas residenciais construídas junto ao Plano Pi- a Igreja Nossa Senhora de Fátima, o Brasília Pala- loto, especialmente no Setor Sudoeste, em que o ce Hotel e o Catetinho. As fases mais recentes da conceito de superquadra se ressente da ausên- arquitetura brasileira também se encontram bem cia de elementos importantes, como a densa faixa representadas na cidade, como o Brutalismo, com arborizada emoldurando as quadras. No Cruzeiro ênfase na estrutura e o largo emprego do concre- Novo e nas Áreas Octogonais, foi mantida a lógi- to aparente. Nesta linha, destacam-se a Reitoria e ca dos blocos isolados, com altura constante, no Biblioteca da UnB, mas também a obra de Oscar entanto a livre circulação de pedestres no térreo e Niemeyer do início dos anos 60 flerta com a “ma- o caráter aberto, sem gradis, da proposta original, neira bruta”, em especial a Catedral e o Palácio do não foram observados. Itamaraty. Por fim, encontram-se na cidade diver- sos exemplares do Pós-Modernismo, High Tech, b) Os Conjuntos Urbanísticos do Eixo entre outros. Além disto, a cidade possui contri- Fonte: SEDUMA, banco de imagens Monumental buições de importantes arquitetos brasileiros e es- O conjunto de prédios, vias e espaços aber- trangeiros, estes atuando especialmente na cons- Figura 2.10. O Eixo Monumental tos que configuram o Eixo Monumental, além de trução das diversas embaixadas de Brasília. sua função administrativa e institucional, tornou-se d) O sentido de Unidade e de Ordenação o símbolo de Brasília, do poder político do país e, mais, da arquitetura moderna brasileira. Seu Brasília, por ser uma cidade projetada e pla- ponto focal é o Congresso Nacional, realçado, por nejada, apresenta entre seus valores a capacidade um lado, pela perspectiva barroca formada pela de transmitir um sentido de ordenação e de equi- seqüência dos blocos dos ministérios e, por ou- líbrio na articulação dos seus diversos setores. A tro, pela composição clássica triangular da Praça horizontalidade dos eixos residenciais se contra- dos Três Poderes, abrindo-se para as margens do põe à verticalidade do Eixo Monumental; a densi- lago Paranoá ao longe. Articula-se a este espaço dade dos setores centrais contrasta com o ritmo o Centro Civil Urbano e a Torre de TV, que pontuam firme da esplanada dos Ministérios; os comércios Fonte: SEDUMA, banco de imagens verticalmente a silhueta do Eixo Monumental, sem locais interrompem e delimitam o jogo geométri- Figura 2.11. Exemplar de Arquitetura de Brasília: o jamais comprometerem a importância hierárquica co da disposição dos blocos das superquadras. Congresso Nacional do Congresso Nacional. Todos estes elementos criam um sentido raro na maior parte das cidades brasileiras de coordena- c) A arquitetura de Brasília ção e unidade na diversidade que se configura num traço distintivo de Brasília. Além disto, é um Brasília é uma das principais expressões do raro exemplo no Brasil de uma cidade concebida Movimento Moderno Internacional de Arquitetu- e implantada como um todo, bem delimitada e cir- ra. No contexto brasileiro, foi construída no perí- cunscrita e, acima de tudo, com intenções proje- odo áureo da arquitetura modernista, abrigando tuais expressas. algumas das mais importantes obras da chama- da “Escola Carioca”, caracterizada por um estilo e) O tratamento dos Espaços Abertos leve, fluido, transparente e que tem como exemplo maior a obra de Oscar Niemeyer. São deste perí- Lucio Costa concebeu Brasília como uma ci- Fonte: SEDUMA, banco de imagens 82 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

Figura 2.12. Exemplar de Arquitetura de Brasília: a dade-jardim. A denominada “escala bucólica” do das colinas que formam a bacia do Lago Paranoá. Catedral Plano Piloto inclui o contorno das áreas centrais Esta linha de cumeada configura um contorno por um anel verde composto pelos parques, seto- de praticamente 360º em volta do Plano Piloto e res de clubes, de embaixadas, pela área da UnB, cria uma ambiência única, que permite um diálo- que delimitam e qualificam o conjunto. Interna- go constante entre o sítio e o território. Como se mente aos setores residenciais e administrativos, trata de uma borda relativamente baixa e unifor- as áreas ajardinadas contribuem grandemente me, ela destaca admiravelmente a dimensão do para a o efeito plástico da cidade: os jardins das céu, que, em Brasília, parece abraçar a cidade. A superquadras criam pequenas praças e recantos sua própria disposição permite apreciar de muitos coloridos e sombreados; os extensos gramados pontos estes limites, seja a partir de espaços pú- do Eixo Monumental enfatizam sobriamente o blicos centrais, como a torre da TV, a rodoviária ou conjunto arquitetônico; a arborização do eixo ro- a Praça dos Três Poderes, seja no sentido oposto, Fonte: SEDUMA, banco de imagens doviário cria movimento e diversidade nos deslo- desde as principais entradas da cidade. camentos em velocidade. A massa de vegetação Figura 2.13. Centro Urbano de Brasília: a Plataforma h) Brasília como Local de Encontro de Rodoviária que se implantou dentro e no entorno de Brasília e o uso crescente das espécies do cerrado é parte Culturas do Brasil importante do valor que representa o paisagismo Para Lúcio Costa, Brasília é “uma síntese do para o conjunto urbano de cidade. Brasil, com seus aspectos positivos e negativos”. f) O Lago Paranoá Brasileiros de todos os estados contribuíram para uma mescla impressionante de culturas, de hábi- O sistema hídrico de Brasília tem como prin- tos, de sotaques, imprimindo identidade e caráter cipal elemento o Lago Paranoá, represado a par- popular à sofisticação do espaço moderno e ra- tir de quatro riachos tributários: Riacho Fundo, cionalista. Feiras populares ocupam os espaços Gama, Torto e Bananal. O suave relevo da bacia monumentais, botequins se instalam nos comér- do Paranoá foi altamente determinante para a cios locais, festas de rua, grupos de rock e uma Fonte: SEDUMA, banco de imagens configuração da proposta vencedora do Plano Pi- incrível diversidade religiosa se espalham pelos loto, cujo formato de “aeroplano” se acomoda em prédios e espaços do Plano Piloto, atestando a Figura 2.14. o interior das Superquadras suas margens. As asas residenciais se afastam do saudável apropriação da cidade pelos brasileiros. Lago deixando a borda reservada para passeios e amenidades da população. As baixas densida- i) O Esforço Histórico da Construção de des construtivas e as atividades rarefeitas (clubes, Brasília balneários, restaurantes) permitem que dos pon- tos mais altos da cidade se usufrua das vistas em Nos anos 50, era visão corrente que o Brasil se direção ao lago. encontrava diante de uma encruzilhada histórica, entre o mundo rural, “subdesenvolvido e atrasa- g) A Visão do Horizonte e do Céu do”, e a modernidade do mundo industrial. Cons- truída em três anos, Brasília representou a ânsia Um dos traços distintivos de Brasília é a pos- de o Brasil superar este atraso da forma mais rápi- sibilidade de se observar desde o interior da cida- da possível. A nova estética da cidade simboliza- Fonte: RSP, banco de imagens de a linha do horizonte, formada pelas encostas va a autonomia técnica, a força do planejamento 83 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB tecnocrático, a introdução de novos conceitos de Figura 2.15. os Acampamento Pioneiros Figura 2.16. Parque da Cidade morar e viver, ou seja, um caminho exemplar para o desenvolvimento do país. Para esta saga foram mobilizadas massas de trabalhadores vindos de todos os cantos do Brasil. A população passou de 500 pioneiros em fins de 1956 para 127.000 pes- soas em 1960, quando da inauguração da cidade. Acomodados em acampamentos projetados ou em ocupações informais, os candangos represen- tam o que Lucio Costa chamou de “um milagre”, uma cidade brotando da terra vermelha e reta, vi- sando algo além, “um gesto de lúcida coragem e Fonte: RSP, banco de imagens Fonte: SEDUMA, banco de imagens confiança no Brasil definitivo”.

j) Os Acampamentos e as Ocupações Figura 2.17. a construção da capital Figura 2.18. Lago Paranoá Populares Brasília guarda ainda resquícios dos acam- pamentos operários e dos primeiros conjuntos de habitação popular construídos ainda antes de sua inauguração. No primeiro caso, destaca-se a Vila Planalto, resultado de diversos acampamentos de empreiteiras e a Candangolândia, antigo acampa- mento da Novacap, ambos protegidos. Também se encontram setores residenciais populares, cuja morfologia se contrapõe à solução das superqua- dras, optando por residências unifamiliares, de um Fonte: SEDUMA, banco de imagens Fonte: SEDUMA, banco de imagens pavimento, muitas em fita. Estes setores, como o Cruzeiro Velho, o Setor de Habitações Individuais Figura 2.19. a visão do horizonte e do céu de Brasília Geminadas Sul (700 Sul) e Coletivas e Geminadas Norte (700 Norte) garantiram ao Plano Piloto diver- sidade morfológica, além de assegurar a memória dos pioneiros na construção da Capital.

Fonte: SEDUMA, banco de imagens 84 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

2.2. Características e Comportamento das Escalas

Para os fins dessa análise e tendo em vista ser nível do mar – descortina-se o Plano Piloto e boa sendo que os resultados obtidos são acompanha- seu objetivo chegar às medidas de preservação parcela da paisagem natural envoltória, amplian- dos de registro fotográfico apresentando as vistas da área tombada e do seu entorno, é fundamen- do-se esse domínio visual na medida em que se oferecidas nesses pontos, em todas as direções. tal que, antes de serem discutidas as questões atingem cotas mais elevadas, até chegar à cume- internas ao Plano Piloto, tendo as escalas como ada ou o divisor de águas entre a Bacia do Para- a) A visualização da paisagem do Plano balizas, o entorno do Plano seja apresentado, já noá e as bacias colindantes, ao longo da qual, em de Brasília desde o seu exterior que representa o grande pano de fundo que dá muitos pontos de mirante, a visão é panorâmica sustentação paisagística e urbanística à área tom- e total. Entretanto, essa paisagem da depressão da bada e cuja obrigação de preservação é reiterada Bacia do Paranoá, com suas encostas suaves em Os maciços dessa bacia são dois: um pelo nos relatórios das missões da UNESCO. parte ainda cobertas pelo cerrado, já se rompeu norte, cujas cotas ascendem até os 1285m, esten- em vários pontos e em uma escala superior àque- dendo-se da imediação do desvão da barragem 2.2.1. O Entorno do Plano Piloto de Bra- la de possível correção com plantio de maciços de do Paranoá até a face oeste do Parque Nacional sília vegetação de porte. de Brasília e outro, a partir dali, na direção sul- A faixa envoltória do Plano Piloto de Brasília -sudeste, que vai da cota mais baixa, de 970m, O rompimento mais evidente é constatado a é definida por duas áreas espacialmente diferen- elevando-se até os 1245 m, fechando o contorno Sudoeste, com a presença da massa de edifica- ciadas, quais sejam aquela mais afastada, que vai do anfiteatro da bacia do Paranoá. ções das Águas Claras, em uma medida até então até o limite da Bacia do Rio Paranoá e aquelas si- desconhecida no DF, com alturas inadequadas, tuadas na proximidade imediata do Plano. O papel Para a melhor visualização dos efeitos dessas despontando na linha do horizonte próximo, e im- de ambas é igualmente fundamental para a pre- diferenças de cota na visualização da paisagem primindo uma nota fortemente destoante no que servação do Conjunto Urbanístico do Plano Piloto. da Bacia do Paranoá, aplicou-se o procedimento era uma paisagem equilibrada, ainda mais agu- das isovistas que, em termos simplificados, com- A primeira dessas áreas é conformada pelos çada pelo aparecimento de uma massa edificada preende a utilização de algumas técnicas a partir terrenos situados abaixo da linha de cumeada da similar no Guará, e agora também junto ao Park das quais são obtidas as superfícies que são visí- Bacia do Rio Paranoá, estendendo-se até as mar- Shopping (SAI/SO). A proximidade imediata do veis em qualquer ponto adotado como referência gens do lago Paranoá, de cuja manutenção como Plano Piloto está sendo invadida por essa inter- e escolhido segundo particularidades que apre- extensa área com predomínio do verde depende, ferência que confronta com a paisagem onde, até sentam, num ângulo de 360º ao redor de cada em grande medida, a preservação da individuali- bem pouco, predominavam edificações baixas e um desses pontos ou estações. Este procedimen- dade e, portanto, da clareza da leitura do desenho derramadas na natureza, forma, até bem pouco, to é adotado pelos Inventários de Configuração do Plano Piloto na paisagem circundante, bem tão característica de ocupação das áreas constru- dos Espaços Urbanos – INCEU do IPHAN para como das visuais de fora para o Plano Piloto e do ídas na Bacia do Paranoá e no entorno do Plano a caracterização dos sítios históricos nos aspec- seu interior para a paisagem que o envolve. Piloto. Além disso, esta intensa verticalização em tos relativos às suas conexões visuais. Uma vez área interna à Bacia do Paranoá, de ponto de vista O fato da Bacia do Paranoá ser uma depres- que são consideradas tanto as áreas livres como da imagem da cidade pode se confundir com a são semicircular no formato de um anfiteatro ofe- as obstruções visuais – edificações, vegetação, propria estrutura do Plano Piloto, competindo visu- rece essa dupla condição privilegiada do descor- desníveis do terreno, etc. – estas técnicas, para o almente com o centro urbano projetado por Lucio tinamento da paisagem em todas as direções. Por caso da análise de Brasília, foram utilizadas como Costa para o cruzamento dos eixos Monumental e essa razão, em qualquer posição com cota supe- forma de representar a amplitude das visuais obti- Rodoviário. rior à cota 1000 – a cota do Lago em relação ao das em quatro diferentes pontos desse anfiteatro, 85 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

A Leste, a cidade satélite do Paranoá, espe- Figura 2.20. Imagem do aeroporto em direção à Figura 2.22. Imagem de satélite do sítio e cialmente devido à massa construída do seu hos- Águas Claras identificação da Bacia Hidrográfica do Rio Paranoá pital, desponta também de maneira inapropriada, abrindo naquela direção um flanco que descarac- teriza a paisagem do Paranoá. A Nordeste, a nova torre de telecomunica- ções, com o peso da sua massa, sobressai na horizontalidade da linha plana da cumeada, que- brando novamente a sua harmonia. Mais adiante, a Noroeste, chama atenção a aglomeração anár- quica do Posto Colorado e seu entorno construído. Na extremidade do Lago Norte, já nas proxi- midades do assentamento do Varjão, a criação de um Centro de Atividade - CA do Lago Norte com problemas morfológicos e tipológicos está desfi- gurando a paisagem. Este problema é especial- mente perceptível internamente ao Plano Piloto, devido a altura das edificações, sua proximida- de, acrescida da falta de vegetação que provoca aridez destoante do perfil verde do Plano Piloto. Figura 2.21. Imagem da urbanização nas Figura 2.23. Principais maciços de áreas verdes Para quem percorre a pista de contorno do lago proximidades do Lago Norte, Taquari identificas na Bacia do Paranoá Paranoá, em direção ao Plano Piloto, é flagrante na paisagem a desconformidade daquela massa construída em relação ao espírito que rege a urba- nização do Lago Norte. Esse avanço de massas edificadas sobre o Plano Piloto penetra preponderantemente pelo seu flanco Sudoeste, direção da maior concen- tração da urbanização de Brasília e se prolonga em direção Norte, tangenciando o Plano Piloto, conduzido pela EPIA, com sua ocupação desor- ganizada, onde as vilas do Torto e Weslian Roriz irrompem com uma ocupação indevida sobre o território original do Parque Nacional. Esses se configuram como sendo os princi- pais pontos de rompimento observados na pai- sagem envoltória de Brasília, conflitantes com a sua concepção urbanística, a qual se centra numa Fonte: RSP, 2010 Fonte: RSP, 2010 86 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

Figura 2.24. Campo visual definido a partir da rodovia DF-01 na saída do sítio pela ponte JK (cota 1075m)

Fonte: RSP, 2010 87 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 2.25. Campo visual definido no monumento da Ermida Dom Bosco (cota 1010m)

Fonte: RSP, 2010 88 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

Figura 2.26. Campo visual a partir da Represa Paranoá (cota 1125)

Fonte: RSP, 2010 89 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 2.27. Campo visual a partir da Área Militar da rodovia EPCT(cota 1165m)

Fonte: RSP, 2010 90 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO particular relação de fundo-figura para a sua per- picia uma visão ampla da paisagem, tanto próxi- UNESCO apontam para absoluta obrigatoriedade cepção, conforme já mencionado anteriormente. ma quanto longínqua, na qual o Lago Paranoá tem de manutenção desse compromisso pela Nação papel de absoluto destaque, mas que, especial- e pelo Governo do Distrito Federal.A ameaça à le- São duas as barreiras topográficas vegetadas mente a linha de cumeada da Bacia do Paranoá, gibilidade do Plano Piloto se configura tanto pela de contenções a esse avanço da ocupação do ter- verde e horizontal, no alto do seu anfiteatro, en- perda de escala do conjunto quanto pela perda ritório no entorno do Plano Piloto de Brasília: na quadra e culmina. paulatina da percepção de que ele é o centro ur- face Norte, o Parque Nacional de Brasília e, as Sul bano de Brasília, de acordo com a proposta de e Sudeste, a sucessão de unidades de conserva- Como dito acima, no mesmo plano de rele- Lúcio Costa, caracterizada pela maior verticalida- ção de flora e fauna, somadas à encosta vegetada vância que a Bacia do Paranoá na configuração de dos setores contíguos ao cruzamento dos ei- que se estende no Sudeste, em direção à represa de Brasília está a relação do Plano Piloto com a xos Monumental e Rodoviário, contrastando com do Paranoá. faixa que o circunda, tanto aquela da orla do lago a horizontalidade do restante do conjunto. Esta Paranoá voltada para a cidade e sua extensão Ambas as barreiras ainda conseguem manter, horizontalidade vai sendo rompida e com ela se até encontrar as asas sul e norte, quanto, na face em boa medida, a integridade dessa paisagem, rompe o entendimento da lógica do Plano Piloto oposta, a faixa situada entre as asas e a via EPIA. tão característica de Brasília, especialmente do em relação ao seu entorno imediato e à paisagem contorno do Plano Piloto. Entretanto, o ritmo das Quando da inscrição de Brasília no Patrimônio que lhe é circundante. agressões perpetradas aponta para um enfraque- Mundial, pela UNESCO, o compromisso do gover- Desta forma, a preservação do entorno da cimento desta paisagem. Quanto à função dessas no brasileiro foi o de manter protegido o cinturão área do Plano Piloto justifica-se tanto pela neces- barreiras para o equilíbrio ambiental da região, a verde de Brasília, em dois âmbitos, ambos aten- sidade de conformação da imagem do sítio atra- proteção das nascentes da Bacia do Paranoá com dendo o preceito da dominância da escala bucóli- vés da sua relação de fundo-figura quanto pela sua cobertura vegetal é condição essencial para ca na paisagem: necessidade de suporte ambiental que a mesma a sobrevivência do próprio lago, bem como para oferece à própria Bacia do Paranoá, a qual com a manutenção da umidade da atmosfera nessa ‡ o 1º externo ao Plano Piloto, mas a ele o acúmulo de massas edificadas e ocupação hu- região onde a estação seca se faz presente de intrinsecamente ligado e fundamental para a sua mana tende a ser comprometida no que tange aos modo marcante. leitura, conformado pela sua área envoltória cor- respondendo a Bacia do Paranoá, incluída aí a su- seus atributos físicos. b) A visualização da paisagem do Plano perfície do Lago; de Brasília desde o seu interior ‡ o 2º interno à área protegida e represen- 2.2.2. O Plano Piloto e suas Escalas Já para quem está no interior do Plano Pilo- tado pela orla do lago, pela área da UNB, a área Uma vez descrita a concepção urbanística do to, devido à predominância das áreas abertas em de continuidade verde a partir da Praça dos Três Plano Piloto de Brasília e os princípios de sua es- relação às superfícies ocupadas por construções, Poderes em direção aos palácios do Jaburu e Al- trutura urbana e identificados os valores que lhe resultante da baixa densidade construtiva que o vorada, a área das embaixadas sul e norte, todas são pertinentes e que justificam a preservação do caracteriza, é freqüente a vista fluir sem encontrar permitindo resguardar a individualidade do traça- Conjunto Urbanístico, as análises que se seguem barreiras, desimpedida, permitindo a visualização do das Asas Sul e Norte e do Eixo Monumental e buscam identificar as principais questões e pro- dos generosos espaços livres internos e da paisa- os dois parques, Sarah Kubitschek, a Sul e Bur- blemas nas diversas escalas consideradas, além gem circundante, até alcançar a linha do horizonte le Marx, a Norte, separando pelo Oeste as asas das descaracterizações que foram sendo introdu- e de um amplo arco da abóbada celeste. Esta é das demais ocupações, como o Setor Sudoeste, zidas ao longo do tempo e que, em alguma medi- uma característica dominante da criação de Lúcio Octogonal, as Quadras Econômicas, os Cruzeiros da, ameaçam a integridade da concepção urba- Costa que, junto com o seu traçado, torna ímpar Velho e Novo e o Setor Militar Urbano. nística, tal como proposta. o assentamento do Plano Piloto de Brasília no seu território. A encosta suavemente descendente pro- Todos os relatórios de monitoramentos da Estas análises se baseiam nos levantamen- 91 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 2.28. Campo visual gerado a partir do mirante da Torre de TV (cota 1120+75m)

Fonte: RSP, 2010 92 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO tos diretos efetuados em todos os setores que conjunto urbano foi deslocado para leste, e com Figura 2.29. Praça dos Três Poderes compõem a área de abrangência do PPCUB, bem isso, os setores de habitações individuais foram como nas contribuições trazidas pela população, deslocados para a margem oposta do lago. Con- recolhidas durante as reuniões realizadas até o tudo, tendo em vista que a posição da Estação momento. Ferroviária e da rodovia para caminhões (EPIA) permaneceram inalteradas, a extensão do Eixo Primeiramente, é importante destacar que a Monumental foi ampliada. Como resultado desse definição das escalas é posterior ao Relatório do deslocamento, a distância entre a Rodoviária e a Plano Piloto de 1957, sendo esta abordagem ado- Estação Ferroviária foi praticamente duplicada. tada a partir do texto de Lucio Costa “O urbanista defende sua capital”, que consta na obra “Brasília, A Praça dos Três Poderes, implantada sobre 57/85”. Ali são mencionadas apenas três escalas: terrapleno no formato de um triângulo eqüilátero, a residencial, a monumental e a gregária. As co- obedece às disposições contidas no Relatório do nhecidas e já consolidadas quatro escalas do Pla- Plano Piloto, mas, a despeito da ênfase dada à no Piloto de Brasília, incluindo a escala bucólica, forma elementar do triângulo equilátero, a mesma Figura 2.30. A Esplanada dos Ministérios e o constam da obra de Lucio Costa “Brasília Revisita- não se percebe ao nível do observador, para quem comércio ambulante da – 1985/87”. Estas escalas passam a constituir a praça é uma esplanada retangular, com piso de a partir de então a base para a maior parte das pedra portuguesa branca. Ao longo dos anos, a descrições da estrutura urbana propostas para o praça recebeu acréscimos: o Mastro da Bandeira Plano Piloto de Brasília. Nacional, a Fundação Oscar Niemeyer (1988), o Espaço Israel Pinheiro, o Panteão da Pátria e da 2.2.2.1. Aspectos relativos à Escala Mo- Liberdade Tancredo Neves (1986) e o Espaço Lu- numental cio Costa (1992). Tais elementos, a despeito de suas qualidades plásticas individuais, do ponto Como espaço simbólico de representação, o de vista da paisagem, rompem um dos objetivos Eixo Monumental de Brasília desempenha exem- expressos no Relatório do Plano Piloto, qual seja o plarmente a função para a qual se destina, ape- de deixar livre a vista a leste da praça em direção sar de algumas inserções recentes, prejudiciais ao cerrado e ao lago Paranoá. Figura 2.31. O Setor Cultural Sul: edificações do ponto de vista do Conjunto. O trecho entre a Confrontando-se com a proposta original, recentemente implantadas Plataforma Rodoviária e a Praça dos Três Poderes, a primeira e principal modificação da Esplanada apesar de não totalmente concluído, é um espaço dos Ministérios deu-se em decorrência da solução consolidado em termos de imagem e quaisquer adotada por Niemeyer para o Congresso Nacio- novas intervenções requerem extremo cuidado e nal, cuja plataforma transversal ao eixo, alongada, rigorosas avaliações por parte dos órgãos respon- resultou em alargamento considerável da Espla- sáveis. nada. O extenso gramado tornou-se naturalmente Da concepção original do Plano à implanta- palco de manifestações populares, atividade para ção efetiva da cidade, no que diz respeito espe- a qual se vocaciona. Entretanto, as estruturas tem- cificamente à Escala Monumental, algumas alte- porárias – toldos, tendas, palcos – que constante- rações se verificaram. No desenvolvimento do mente se armam ali desfiguram um dos espaços Plano, em função das observações do júri, todo o mais simbólicos da nação, devendo reassumir seu Fonte: RSP, banco de imagens. 93 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB caráter de excepcionalidade, e para isso, transferir que Lucio Costa imaginou “numa praça autôno- Figura 2.32. O Eixo Monumental e as instalações as estruturas provisórias para outro local. ma disposta lateralmente, não só por questão de temporárias (toldos e quiosques) protocolo, uma vez que a Igreja é separada do Es- Outra modificação, na seqüência dos blocos tado, como por uma questão de escala, tendo-se ministeriais, refere-se à não-construção de mar- em vista valorizar o monumento, e ainda, principal- quise prevista para articular a circulação entre tais mente, por outra razão de ordem arquitetônica: a blocos e abrigar pequenos cafés, lanchonetes, perspectiva de conjunto da esplanada deve pros- bancas de jornais, etc. Como conseqüência, dian- seguir desimpedida até além da plataforma onde te da ausência de equipamentos e serviços de os dois eixos urbanísticos se cruzam”. (Relatório atendimento ao setor, pequenos comércios foram do Plano Piloto). instalados no interior dos prédios dos ministérios ou em quiosques improvisados, em prejuízo da A Plataforma da Torre de TV, ao nível do pe- diversidade do espaço público, além de compro- destre, é um dos mirantes criados com os terra- metimento da leitura e da apreensão da composi- plenos sucessivos do Eixo Monumental, além de ção monumental, onde o improviso se contrapôs localizar-se estrategicamente situada entre os se- Figura 2.33. O Eixo Monumental e o Centro de Convenções Ulysses Guimarães à disciplina intencionada. tores centrais. É um dos locais com grande poten- cial de agregação e encontro na cidade. Sua feira Finalizando a Esplanada e articulando-se com de artesanato transformou-se num ponto de refe- a plataforma rodoviária, encontram-se os Setores rência simbólico, estando sendo transferida para Culturais que, além de fazerem parte do centro cí- local adjacente, devendo o espaço aos pés da vico e administrativo, vinculam-se ao Setor de Di- Torre receber tratamento paisagístico adequado. versões, previsto sobre a plataforma. A implanta- ção dos equipamentos nos Setores Culturais não No primeiro trecho do Eixo Monumental Oeste teve prioridade no período da construção da cida- localiza-se o Setor de Divulgação Cultural, onde de, apenas o Touring Club e o Teatro Nacional são se encontram o Centro de Convenções e outras contemporâneos à fundação de Brasília. Recente- edificações, como a Casa do Teatro Amador, o mente, dois novos equipamentos foram inseridos Clube do Choro e o Planetário. Entre os anos de no Setor, a Biblioteca Nacional e o Museu da Re- 1965 e 1969, Oscar Niemeyer elaborou um projeto Figura 2.34. A Feira da Torre de TV pública. Em termos paisagísticos, não observam completo para o Setor, compreendendo diversos as recomendações do Relatório do Plano Piloto equipamentos e ambientes voltados às artes e ao de que este espaço tivesse um caráter de espa- lazer. Contudo, somente parte do projeto foi exe- ços verdes tratados, tendo sido implantados so- cutada e, ainda assim, com modificações. Resulta bre uma vasta bandeja de cimento sem espaços que a dinâmica deste espaço pode ser ampliada, de estar e encontro. Resta no lado norte do Setor possuindo grande potencial de animação, por en- Cultural uma área livre, que poderia ser reservada contrar-se entre equipamentos significativos como as atividades culturais e de lazer eventuais que se o Centro de Convenções, a Torre de TV e os seto- dão normalmente sobre o gramado da Esplanada res hoteleiros. Quanto ao Centro de Convenções, dos Ministérios. Apesar de complementarem fun- posicionado em sentido transversal ao Eixo e ocu- cionalmente a área central de Brasília com equi- pando quase toda a sua largura, sinaliza a neces- pamentos culturais necessários, introduziram uma sidade de controlar os bloqueios físicos e visuais competição visual com a Catedral Metropolitana, ao longo do canteiro. Fonte: RSP e SEDUMA, banco de imagens. 94 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

Na Praça do Buriti – a Praça Municipal do Da forma como foram concebidos e depois Figura 2.35. Construção de coberturas, formando o Relatório do Plano Piloto, projetada sob orienta- implantados os espaços da Escala Monumen- 7o pavimento. ção de Lucio Costa, estão os órgãos do Gover- tal decorrem hoje problemas que devem ser en- no do Distrito Federal: o Palácio do Buriti (edifício frentados no escopo do PPCUB. É sabido o valor sede, auditório e anexo, 1969), o Tribunal de Con- que possuem os espaços abertos e os vazios na tas (1969); e o Tribunal de Justiça (1969), todos configuração desta Escala. Entretanto, em alguns projetados por Nauro Esteves. Vinculados a ela, pontos, devido à magnitude dos afastamentos e à a oeste, estão o Memorial dos Povos Indígenas falta de tratamento dos espaços livres, percebem- (1981) e o Memorial JK (1981). É uma praça com -se grandes descontinuidades em seu tecido ur- tratamento paisagístico, que cumpre a função de bano. Destaca-se neste sentido o trecho do Eixo agregação ao mesmo tempo em que se adéqua Monumental e seu respectivo canteiro central si- ao caráter monumental do local em que se insere. tuado entre a Plataforma Rodoviária e a Torre de TV. Trata-se de uma vasta área cuja configuração As áreas situadas entre o Plano Piloto e a EPIA remete à escala monumental, cortada por duas foram consideravelmente alteradas em relação ao Figura 2.36. Ampliação das projeções das pistas, cada uma com seis faixas de rolamento, que se previa no Relatório do Plano Piloto. Na por- edificações com largo canteiro central gramado, escassamen- ção sul, previa-se espaço para feiras, circo, even- te arborizado e com problemas de acessibilidade. tos, em área contígua ao extremo oeste do Setor Hoteleiro Sul, e o Jardim Botânico, contíguo ao ex- Outra situação se dá na interseção do com- tremo oeste do Eixo Monumental. Na porção norte plexo viário do Eixo Rodoviário-Residencial com estavam previstos: a Sociedade Hípica, o Setor os setores centrais, onde está a Plataforma Ro- Esportivo, o Jardim Zoológico e quartéis, estes lin- doviária. Ali, o fluxo diário de pedestres é intenso, deiros à via Epia, em frente à Estação Ferroviária. porém a forma com a área é atingida por vias e Em 1964, parte da área originalmente destinada viadutos, retira da mesma a necessária hierarquia ao Jardim Botânico foi vendida ao Correio Brasi- dos pedestres sobre os automóveis neste setor. liense, dando início ao futuro Setor de Indústrias As áreas intersticiais entre as vias são tratadas Gráficas. Posteriormente ali se instalou o serviço como áreas verdes, assumindo características de meteorologia e o Parque da Cidade (Setor de inerentes à escala bucólica, porém, muitos são os Figura 2.37. Aumento da área construída no Recreação Pública Sul). Mais a oeste, foi implan- problemas relativos à integração entre os setores, pavimento térreo com o fechamento dso pilotis. tado o Cruzeiro Velho. ao trânsito de pedestres e aos desníveis e às bar- reiras encontrados na travessia desse eixo. O Setor de Recreação Pública Norte, que compreende ginásio de esportes, estádio de fute- 2.2.2.2. Aspectos relativos à Escala Re- bol, autódromo, camping e demais equipamentos sidencial esportivos, foi situado mais a oeste, no lugar do Jardim Zoológico. O Setor Militar Urbano, inicial- a) As Superquadras mente previsto em áreas de ambos os lados do Eixo Monumental, foi reunido de um lado só, no Em relação às superquadras, principal res- ramo norte da cidade, e com dimensões bem su- ponsáveis pelo sentido de unidade no Plano Pi- periores às propostas originalmente. loto, uma série de alterações recentes vem con- tribuindo para o rompimento gradual da noção de Fonte: RSP, banco de imagens. 95 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB conjunto, bem como dos princípios compositivos A falta de um projeto conjunto para as novas Figura 2.38. Variações tipológicas nas Superquadras idealizados por Lúcio Costa. Foram examinadas a superquadras, associada à permissividade das 400 seguir alterações formais introduzidas em empre- normas urbanísticas implica em descuido com a endimentos recentes, a utilização de tipologias de implantação e a relação com relevo, eliminando blocos residenciais diferenciadas e descaracteri- o sentido de área livre e desimpedida no térreo, zações decorrentes de recuperações e reformas obstruída em vários casos por garagens aparen- das edificações. tes que, efetivamente, ficam ao nível do solo, ao invés dos pilotis. A disposição das edificações, a percepção dos cheios e vazios e a horizontalidade do seu O aumento da volumetria das edificações em conjunto vêm sendo modificadas no tempo e mes- virtude da lei 388/01 (atual 755/07) criou uma apro- mo ameaçando o sentido de conjunto no espaço ximação maior entre as edificações, aumentando da superquadra. A disposição nos blocos mais a densidade edificada e reduzindo a participação recentes difere dos blocos mais antigos, desde a das áreas livres. As projeções-tipo, de elegantes Figura 2.39. Variações tipológicas nas sua implantação até o seu volume, acabamento retângulos alongados, estão se descaracterizan- Superquadras 400 e Reforma de fachadas com e cor. do, tornando-se cada vez mais largas, distancian- aplicação de grafismos. do-se da relação proporcional dos volumes que As principais alterações identificadas, introdu- compõe a tipologia originalmente pensada para zidas principalmente em empreendimentos recen- as Superquadras. tes – mas não apenas – referem-se aos terraços que são fechados, transformando-se em 7º andar; Aos aspectos citados acima somam-se as o aumento da área construída por pavimento; o tentativas formais ou informais de cercamento das aumento da área fechada nos térreos (pilotis) e o edificações, produzido um paulatino rompimento consequente aumento da massa edificada por su- do conceito de cidade-parque e de unidade de vi- perquadra; os gradeamentos ou cercamentos de zinhança em favor de morfologias que enfatizam edificações; o descuido com a adequação à topo- as unidades isoladas, como usual em outras cida- grafia do sítio - problema este desde a implanta- des, perdendo-se os valores da unidade formal da ção de Brasília (SQS 204, 304 e 103) -, e o posicio- quadra, distintiva de Brasília. Figura 2.40. Entrequadra não ocupada namento descuidado do nível das garagens, com Outro aspecto a ser destacado é a constru- seus efeitos negativos ao nível dos pilotis. Todos ção de tipologias diferenciadas em algumas su- estes desvirtuamentos estão sendo responsáveis perquadras, as habitações coletivas econômicas por crescentes descaracterizações do conceito (quadras 400), que apresentam ocupação dos tér- de superquadra como proposto por Lucio Costa, reos. Em geral, tratando-se de unidades menores mesmo com as variações por ele previstas. e utilizadas em menor escala, compensam pelas Em relação às edificações, há uma perda gra- suas proporções o modo como são implantadas dual do sentido dos pilotis – uma área vazada ao no interior dos espaços livres, mantendo grandes nível dos térreos que permite a sua transposição afastamentos entre si no interior de amplos espa- sem barreiras e a fruição das áreas livres, dando ços verdes. Essas tipologias têm assegurado uma sentido ao conceito de cidade-parque proposta possibilidade de variação nas categorias de renda para Brasília. que podem ter acesso à moradia no interior do Pla- Fonte: RSP, banco de imagens. 96 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO no Piloto, abrindo espaço para estratos de popula- dencial e contribuindo com espaços de centralida- Gráfico 2.1 Lotes de Entrequadras da Asa Sul: ção de menores ingressos. Outras variações, com de local, lazer e sociabilidade. ocupação o uso de pilotis em prédios com alturas menores, As atividades presentes nas entrequadras também auxiliam na formação de espaços ricos vão desde escolas, creches, comércio, serviços, de variedade tipológica no interior do conjunto das Ϯϯй EĆŽ clubes, áreas esportivas, sedes de instituições, ŽĐƵƉĂĚŽ superquadras, o que representa uma diversidade delegacias, equipamentos de saúde, cinemas, tipo-morfológica positiva na aparente padroniza- KĐƵƉĂĚŽ bibliotecas, templos, entre outros, tendo sempre ção presente nos setores residenciais. ϳϳй como princípio que estas atividades devam ser A gradativa deterioração das edificações ao complementares à habitação e com um atendi- longo do tempo tem suscitado necessidade de mento voltado aos moradores das superquadras Gráfico 2.2 Lotes de Entrequadras da Asa Norte: trabalhos de recuperação e reformas. Em muitas da Unidade de Vizinhança considerada. ocupação delas busca-se recuperar as condições originais, Um dos principais problemas diagnosticado é mas em outras são empregados materiais inade- o fato de que um número significativo de espaços EĆŽ quados para a tipologia arquitetônica de Brasília, destinados às entrequadras não se encontram ϰϰй ŽĐƵƉĂĚŽƐ que descaracterizam as edificações. Esse é o efetivamente ocupados, especialmente na Asa KĐƵƉĂĚŽƐ caso dos revestimentos cerâmicos, cuja utiliza- ϱϲй Norte. ção, somados os grafismos com eles executados, tanto nas empenas cegas quanto nas fachadas Além disso, levantamento da SEDUMA (2007) principais, produzem efeitos que confundem a lei- indica que a maior disponibilidade de áreas nas Gráfico 2.3 Lotes de Entrequadras: situação de entrequadras refere-se às áreas públicas, já que tura dos prédios além de produzir forte impacto na propriedade paisagem. as áreas privadas encontram-se mais intensamen- te ocupadas. b) As Entrequadras É importante considerar dois aspectos em ϯϴй WƌŝǀĂĚĂ O papel das entrequadras na estrutura urba- relação à atual situação das entrequadras. Pri- ϲϮй WƷďůŝĐĂ na de Brasília, como parte integrante das asas re- meiramente, a disponibilidade de áreas públicas sidenciais, é exposto pelo próprio Lúcio Costa em em quantidade muito superior à privada assegura “Lucio Costa, o urbanista defende sua Capital”: que ao longo do tempo possam ser implantadas atividades de interesse dos moradores das unida-  “Cada conjunto de 4 dessas superquadras Gráfico 2.4 Lotes privados: ocupação (...) constitui uma área de vizinhança com os des de vizinhança, completando paulatinamente a seus complementos indispensáveis – escolas ocupação das áreas ainda disponíveis nas asas ϭϭй primária e secundária, comércio, clube, etc. residenciais. Em segundo lugar, é evidente que o EĆŽ – entrosando-se assim umas às outras em tipo de atividade a ser implantada se modifica ao ŽĐƵƉĂĚŽ toda a extensão do referido eixo.” (Brasília 57- longo do tempo, já que as necessidades da popu- 85,1985) KĐƵƉĂĚŽ lação variam de acordo com as mudanças socio- ϴϵй Assim como os comércios locais, que se- econômicas e culturais. No entanto, é importante riam responsáveis pelo atendimento de quatro ter como parâmetro que as atividades presentes superquadras, as entrequadras cumprem papel ou a serem implantadas nas entrequadras devem decisivo no conceito de Unidade de Vizinhança, ser de interesse e de atendimento da população agregando complexidade funcional ao setor resi- das unidades de vizinhança, como atividades Fonte: SEDUMA, 2007. 97 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB complementares à habitação. Assim, é importante c) Comércios Locais Figura 2.41. Ampliação das edificações do que sejam evitadas atividades cuja abrangência Comércio Local Sul (puxadinhos) supere demasiadamente esta escala, já que impli- O desenvolvimento do comércio local locali- cam em impacto grande e não esperado no que zado nas superquadras, como parte integrante da se refere ao movimento veicular e nos espaços ne- proposta de Unidade de Vizinhança tem apresen- cessários à movimentação e estacionamentos, já tado alguns problemas ao longo do tempo. O pri- problemáticos hoje. meiro aspecto, que vai repercutir no funcionamen- to dessas áreas, diz respeito à concepção inicial A definição de uma política clara quanto aos do Plano Piloto, a partir do qual as unidades de novos usos necessários para a complementação comércio e serviços teriam seu acesso principal das entrequadras e os modos de destinação de pelo interior das superquadras, sendo que a via áreas é urgente e necessária sob diversos aspec- destinada a veículos e também para o abasteci- tos. Primeiramente, a disponibilidade de áreas nas mento passaria pelos seus fundos. Esta idéia de entrequadras, ao contrário de ser um problema em reversão da lógica consolidada na história urba- Figura 2.42. Uso de estacionamento das si, deve ser considerada como um recurso para o na a partir da qual, ao longo de um eixo, as ati- Superquadras para atendimento do Comércio futuro. Assim, será possível ajustar os novos usos vidades comerciais se implantam frente a frente, Local às novas necessidades da população que utiliza não vingou para o comércio local, assim como esses equipamentos, fundamentalmente diante não vingou para as atividades localizadas ao lon- das modificações no quadro demográfico verifi- go da Avenida W3. Esta mudança produziu dois cado como tendência a partir dos últimos censos problemas: primeiramente, os fundos tiveram que como, por exemplo, o envelhecimento da popula- ser adaptados para se transformarem em acessos ção. Por outro lado, mantido o pressuposto con- principais das atividades e, em segundo lugar, as ceitual destas áreas como de complementação antigas frentes que se abriam para o interior das das atividades necessárias nas superquadras, de- superquadras foram transformadas em fundos e, verão ser evitados os usos não compatíveis com com o tempo, em áreas expandidas para depósi- a abrangência, que deve ser local e não para o to e serviços dos estabelecimentos, criando uma conjunto da cidade. Além disso, deve-se evitar relação com as áreas residenciais a um só tempo Figura 2.43. Comércio da W3 (fundos) a monofuncionalidade dessas áreas, permitindo negativa e não esperada. que atividades variadas enriqueçam o quadro de disponibilidade de usos e das vivências decorren- Mais recentemente, os fundos dos comércios tes. locais foram regrados por normas distritais (LC 766, de 19/06/2008), visando padronizar seu as- É de se referir a este respeito, as diversas pecto visual, sua relação com as superquadras, Ações Civis Públicas que estão em curso relacio- especialmente o tamanho dos avanços ocupados nadas às superquadras. Duas ações referem-se à para o interior das mesmas. invasão de áreas públicas em entrequadras (pro- cessos números 00003907/95 e 00003909/95). Como cada unidade de vizinhança foi produ- Em outra ação, é argüida a inconstitucionalidade zida em períodos distintos, a solução dada para o de doações, sem licitação, de áreas públicas em comércio local também apresentou soluções dis- entrequadras a diversas entidades religiosas (pro- tintas. Onde os projetos apresentavam uma maior flexibilidade, como em boa parte da Asa Sul, a cesso ADI 2004 00 2 008193-1). Fonte: RSP, banco de imagens. 98 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

Figura 2.44. Acessibilidade ao Comércio Local reversão frente e fundos foi mais fácil e, urbanis- dualizados como tamanho, expansão, etc., sejam (Norte) ticamente, menos traumática. Situação diversa é pensadas dentro de uma perspectiva que leve em encontrada em parte da Asa Norte onde a implan- consideração tanto a tipologia comercial, quanto tação de uma tipologica diferente, embora não o porte das atividades e o impacto sobre a mobili- repita o problema da relação frente-fundos, cria dade, associados necessariamente aos aspectos descontinuidades físicas importantes ao longo da de acessibilidade das vias onde se localizam em via de acesso. relação ao conjunto urbano de Brasília. Outro aspecto que merece destaque em re- lação ao comércio local é sua mudança de esca- d) Setores Comerciais da W3 la. Se, no início, a proposta era que as atividades A proposição inicial de Lucio Costa para a de comércio e serviços fossem complementares denominada Avenida W3, tal como consta no Re- à habitação e, portanto, sua abrangência seria latório do Plano Piloto, centrava-se na idéia de praticamente limitada à Unidade de Vizinhança uma avenida que serviria de limite entre as asas onde se localizavam, com o tempo essas ativida- residenciais e as áreas livres previstas a Oeste, des foram se sofisticando e, ao invés de atende- como forma de delimitação do Plano Piloto. Deste rem uma clientela local, atendem uma população modo, era compreensível sua característica de via muito maior, como no caso de restaurantes, bares, de serviços, ocupada apenas ao longo de um dos casas noturnas, etc. É possível que o crescimen- seus lados. Com a importância da avenida e com to do Plano Piloto na direção transversal – setores a expansão verificada nas ocupações tanto a Les- acrescido (SGAS/N, SCRLN, SEPS, Parque da Ci- te quanto ao Oeste das asas residenciais, logo a dade, Cruzeiro/Octogonais/sudoeste) acarretaram via W3 muda de característica, concentrando um a intensificação do fluxo de passagem na direção comércio de porte e as atividades passam a se transversal, por meio das vias dos comércios lo- voltar diretamente para a avenida, ao contrário do cais. O principal problema decorrente desta mu- previsto pelo Plano. dança de escala é o movimento de veículos que ocasiona e a incapacidade de serem supridas va- Com as mudanças das tipologias comerciais, Figura 2.45. Comércio da W3 (frente) gas adequadas para estacionamento de clientes. a introdução de grandes centros de compras, ao Este problema, associado ao papel de atravessa- mesmo tempo em que a expansão da ocupação mento perpendicular ao Eixo Rodoviário por essas urbana se estende para áreas cada vez mais dis- vias onde se localiza o comércio local está cada tantes do Plano Piloto, modificando os níveis de vez mais grave e, atualmente, a falta de vagas acessibilidade da avenida W3, a avenida começa para estacionamento está fazendo com que a de- a enfrentar um período de perda de importância, a manda esteja se interiorizando nas superquadras, qual passa a ser objeto de debates e demandas criando conflitos com os moradores que reagem por modificações. com medidas restritivas de acesso e circulação Uma série de fatores apontam para esta des- veicular e com criação de áreas controladas para vitalização, como o fechamento de atividades e os estacionamento. imóveis vazios, a má conservação dos imóveis, É necessário que as áreas de comércio local dos passeios e do mobiliário urbano, a excessi- Fonte: RSP, banco de imagens. das superquadras, além dos seus aspectos indivi- va ênfase nos letreiros como forma de chamar a 99 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB atenção para as atividades. ar com os requerimentos das atividades desem- Figura 2.46. Alteração de uso das edificações penhadas no lado oposto, associados à atividade (SHIGS) Por outro lado, a via apresenta algumas qua- residencial. Essas ambigüidades constituem-se lidades a serem destacadas, como a unidade vo- em aspectos relevantes para o sucesso ou não lumétrica que a caracteriza e a arborização dos das iniciativas de revitalização da Avenida W3. passeios e canteiros. A introdução de atividades residenciais nos pavimentos superiores, pode contribuir para enfrentar a já citada escassez de e) Setor de Habitações Individuais oferta residencial popular na cidade. Geminadas Sul - SHIGS Em 2002 foi realizado um concurso de idéias As também denominadas de “Quadras 700”, para a revitalização da W3, com coordenação do desenvolvem-se entre as avenidas W3 Sul e W4 IAB/DF, saindo vencedora a equipe coordenada Sul, apresentando habitação unifamiliar com ca- pelo arquiteto Frederico Flósculo Barreto. O pro- sas de até dois pavimentos e habitação multifami- jeto de revitalização vencedor atua nos temas de liar, com prédios de dois pavimentos sobre pilotis. Figura 2.47. Ampliação das edificações no recuo de jardim (SHIGS) participação comunitária e ecologia social. A vegetação é um dos elementos marcantes no Entre os problemas da W3, encontram-se os Setor, em corredores, praças, parques infantis e apontados pela pesquisa do SINDHOBAR de Bra- jardins. Foram observados na análise alguns as- silia, onde se constata que: “em 2009, na W3 Sul, pectos que descaracterizam o Setor tais como o 79 comércios pararam de funcionar e na W3 Norte aumento da altura das edificações e o seu avanço 47, sendo que 12 estabelecimentos foram fecha- sobre áreas públicas destinadas à circulação, seja dos só na quadra 506 Sul.” em passeios ou em passagens destinadas à cir- culação de pedestres. Já a Secretaria de Estado de Desenvolvimen- to Urbano e Meio Ambiente – SEDUMA explicita as O padrão das edificações hoje é bastante bases para o Programa de Revitalização da Ave- variado. Estas eram originalmente padronizadas nida W3, programa este de caráter mais integra- e foram ao longo do tempo sendo alteradas por do, com medidas que abrangem o tratamento do reformas e ampliações que não estabelecem rela- ções com a Avenida W3 e a Avenida W4. Figura 2.48. Ocupação de área pública (áreas espaço público e privado, circulação e transporte, verdes e vias peatonais) mobiliário urbano, entre outros. Observa-se uma pressão para a ocupação No processo de revitaliação da via, algumas com comércio e serviços nas residências unifa- de suas particularidades deverão ser enfrentadas, miliares, especialmente naquelas voltadas para a tais como a falta de bilateralidade de ocupação, Avenida W3, onde trechos expressivos encontram- a qual afeta a visibilidade entre as atividades e a -se volumetricamente descaracterizados. Mesmo sinergia responsável pelo efeito multiplicador de assim, em amplas porções da W3, principalmente movimento que normalmente ocorrem em ruas na Asa Sul, o caráter residencial é mantido pela deste tipo. Além disso, as ações com um caráter tipologia das edificações e pela morfologia do se- mais global, como sua inserção como eixo impor- tor. É de se supor que, após a revitalização da W3 tante de transporte coletivo novo com o VLT, se e implantação do VLT, este setor de residências não cuidadosamente implantadas podem conflitu- venha a sofrer pressão ainda maior do mercado por alterações do que aquelas apresentadas hoje. Fonte: RSP, banco de imagens. 100 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

2.2.2.3. Aspectos relativos à Escala Gre- que caracterizam a ocupação da escala residen- Figura 2.49. Desníveis acentuados entre os setores, gária cial, ao longo das asas norte e sul. No entanto, há dificuldade de acesso. questões a serem consideradas aqui: a) Os Setores Centrais Os diversos tipos de soluções urbanísticas e A Escala Gregária constituía-se, segundo o arquitetônicas adotadas para os espaços livres e Relatório do Plano Piloto, além dos Setores de comuns muitas vezes impõem dificuldades nas Diversões e da própria Plataforma Rodoviária, de transições e continuidades entre os espaços, prin- quatro grandes “quarteirões”: “[...] dois grandes cipalmente para os pedestres. A falta de tratamen- núcleos destinados exclusivamente ao comércio to paisagístico dos espaços de circulação e estar, – lojas de magazines – e dois setores distintos, a deficiente sinalização de percursos e acessos, o bancário-comercial e o dos escritórios para pro- os desníveis e barreiras são desafios à plena ca- fissões liberais, representações e empresas [...]” racterização destes setores como local de encon- Integram os setores centrais de Brasília, a tro e permanência. Plataforma Rodoviária, os Setores Bancários, de Figura 2.50. A descontinuidade da plataforma no A presença de vazios entre elementos já im- Setor Bancário Autarquias, Comerciais, de Diversões, Hotelei- plantados define interrupções de relações e de ros, Médicos-Hospitalares e de Rádio e Televisão, concepção. Por exemplo, as plataformas que uni- localizados na parte sul e norte do Plano Piloto. ficam os elementos edificados vencem desníveis Esses setores fazem parte da denominada esca- de terreno bastante consideráveis e, às vezes, são la gregária, que se caracteriza por espaços mais interrompidas por vazios expressivos, frequente- densamente utilizados, propícios ao encontro, nos mente utilizados como vias de serviço ou estacio- quais são permitidos usos diversificados e onde namentos e que, mesmo quando em caráter pro- foi prevista a verticalização da paisagem. visório, impedem a fruição da unidade pretendida. Os elementos construídos nesses setores, Estas áreas vazias são estratégicas na possibili- aliados às atividades ali instaladas e ao sistema de dades de tratar de forma integrada estes setores. circulação de veículos e pedestres, deveriam pro- A plataforma superior da Estação Rodovi- piciar as condições de agregação e urbanidade ária foi transformada em um estacionamento de características dos centros urbanos. Essa escala Figura 2.51. O estacionamento no pavimento grandes proporções, diferentemente do definido superior da Plataforma Rodoviária configura-se em torno do ponto de interseção dos por Lucio Costa no seu Relatório do Plano Pilo- dois eixos que estruturam a malha urbana – Monu- to. Como elemento chave da articulação entre os mental e Rodoviário –, ou seja, na região que cir- setores do centro urbano que lhe são contíguos, cunda a Estação Rodoviária, elemento igualmente esta área exige um tratamento urbanístico à altu- estruturador da cidade. ra do seu papel simbólico para a Capital Federal, Do ponto de vista formal, cumprem bastan- como seu Centro, no sentido de criar condições te bem seu papel de marcação desse Centro na de conforto e segurança para que efetivamente paisagem, pela verticalidade dominante apresen- sirva como local de permanência e conexão e não tada pelas edificações que integram seu conjunto como uma árida barreira física. e pela a variedade de alturas contrastante com a regularidade e a horizontalidade das edificações Fonte: RSP, banco de imagens. 101 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

2.2.2.4. Aspectos relativos à Escala Bu- setor de Grandes Áreas avança com forma irregu- Figura 2.52. Setor de Grandes Áreas Sul (esquerda) cólica lar em direção ao Parque da Cidade e cria grandes e SHIGS Quadras 700. Quando Lucio Costa concebeu o Plano Piloto bloqueios entre o parque e a Asa. No caso da Asa de Brasília como uma cidade-parque, ele definiu Norte, problema semelhante se repete em relação a paisagem natural como um elemento norteador ao Parque Burle Marx. da configuração espacial da cidade que planeja- Na extremidade norte da Asa Norte, a im- ra, mas não situou claramente o uso bucólico no plantação de um do setor hospitalar contíguo às zoneamento urbano proposto. A natureza estaria superquadras, composto por prédios em altura e presente em todas as áreas da cidade, apresen- porte crescentes, vem suprimindo gradativamen- tando-se com características diferenciadas para te os espaços intersticiais entre o final do tramo se compatibilizar as três outras escalas. O Relató- superior da asa e o setor hospitalar, os quais têm rio mostra que Brasília foi concebida por meio de sido ocupados pelos estacionamentos desses “uma técnica paisagística de parques e jardins”, a estabelecimentos hospitalares. Tal situação está fim de manter a paisagem natural dentro da cida- descaracterizando o sítio, no que tange à noção Figura 2.53. Setor de Grandes Áreas Sul (esquerda) de, e por isso foi denominada de cidade-parque. de escala das asas, inserindo um tecido urbano e Parque da Cidade. Mais tarde, Lucio Costa afirmou em Brasília Revi- que se destaca demais na paisagem, além de não sitada: “A intervenção da escala bucólica no ritmo guardar relação entre as funções originais previs- e na harmonia dos espaços urbanos se faz sentir tas e as que ocorrem hoje, que assumem carac- na passagem, sem transição, do ocupado para o terísticas regionais mais do que locais e a sua in- não-ocupado – em lugar de muralhas, a cidade se compatibilidade com o sistema viário existente. É propôs delimitada por áreas livres arborizadas”. necessário impedir o seu crescimento continuado, Os desvirtuamentos do conceito da escala rever o porte dessas edificações, suas relações bucólica são muitos e se dão em várias frentes. com as funções a serem desempenhadas, bem A seguir, serão identificados os principais proble- como seus impactos no sistema viário e na pai- mas. No Capítulo 5 – Paisagem / Espaços Aber- sagem. tos, a problemática é retomada. Nas imediações do Setor Hospitalar Local Figura 2.54. Empreendimento habitacional na orla a) Ocupação dos espaços livres e verdes Norte, referido no item anterior e também na con- do Lago Paranoá. tinuidade da Asa Norte, explorando a acessibili- Os limites pensados por Lucio Costa para as dade definida pela proximidade da EPIA e com o superquadras e unidades de vizinhança ao longo conjunto da área do DF foram instalados grandes das asas, tanto no sentido leste quanto no oeste, equipamentos com força atratora de movimento foram muito ultrapassados ao longo do tempo por de veículos e pedestres elevada, como o Carre- ocupações de atividades originalmente não pre- four, o Big Hipermercado e o Boulevar Shopping vistas no Relatório do Plano Piloto, sendo estas in- (STN). Estes grandes empreendimentos foram im- corporadas ao longo da implantação da proposta plantados sem ter sido observada uma adequada ao território. separação da Asa Norte, e em áreas que deveriam No caso da Asa Sul, para além dos setores cumprir exatamente o papel de elementos de tran- destinados às habitações unifamiliares a oeste da sição entre o Plano Piloto e as áreas que lhe são W3 – o SHIGS - a faixa praticamente contínua do contíguas. Fonte: RSP, banco de imagens. 102 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

Figura 2.55. Recuo da edificação em relação ao lago b) Faixa lindeira ao Lago Paranoá Localizada na faixa entre o Plano Piloto e a orla do Lago, a Vila Planalto, antigo acampamento Toda esta área, ao ser parcelada em 1960 remanescente da época da construção de Brasília pela Novacap, não previu a servidão de contorno e tombado pelo Governo do Distrito Federal em ao longo do Lago como sugerida por Lucio Costa, 1988. O tombamento estabeleceu critérios para permitindo que naqueles setores localizados nas a preservação das características essenciais que margens houvesse ocupações atingindo a borda conferem à Vila o caráter único e peculiar, dentre do Paranoá. A inexistência de vias ou calçadas de eles: a preservação da característica de mimetiza- acesso aos lotes também deixou as margens do ção da Vila na paisagem, por meio da manutenção Lago pouco acessíveis ao público e, ao mesmo de sua vegetação; a criação de área de tutela non- tempo, vulneráveis a ocupação irregular das áreas -aedificandi, com preservação da cobertura vege- públicas lindeiras aos lotes. tal do cerrado nativo; a manutenção da identidade A partir de empreendimentos de grande por- de cada um dos acampamentos constituintes da Figura 2.56. Exemplar de edificação do Vila, com a preservação do traçado urbano origi- acampamento pioneiro, Vila Planalto te, sejam hoteleiros ou de flats, a orla do Lago Pa- ranoá tem apresentado grandes extensões priva- nal e a preservação dos pontos de encontro e dos tizadas, impedindo o acesso contínuo à mesma. espaços de valor simbólico e referencial para a As regras de ocupação em vigor em seus efeitos população e a historia do conjunto. Atualmente, o sobre a paisagem e o uso da orla contrastam com núcleo sofre pressões para o adensamento, com aquelas empregadas nas primeiras construções, crescimento em altura e invasões nas áreas publi- tendo como referência a solução dada por Nie- cas. Também é bastante preocupante a pressão meyer quando da construção do Brasília Palace para ocupação da área de tutela, que foi propos- Hotel, a qual considera a permeabilidade física e ta como uma grande faixa verde que garantisse a visual ao longo do terreno, resultado da baixa taxa proteção paisagística das visuais entre o Palácio de ocupação do térreo. Assim, é pertinente obser- da Alvorada e a Praça dos Três Poderes. Grande var os seguintes aspectos, como as principais al- parte das casas já apresenta o segundo e terceiro terações nestes setores: pavimento, de modo que a paisagem é bastante Figura 2.57. Edificação com alteração de gabarito, edificada, enfraquecendo a fisionomia bucólica. Vila Planalto ‡ a escala de inserção dos elementos novos na paisagem é excessiva, não assegurando uma As transformações recentes apresentadas articulação dos prédios entre si e desses com a na Vila Planalto, principalmente no porte e altura orla. das habitações, produzem um efeito negativo no conjunto em, no mínimo, quatro aspectos listados ‡ as as alturas limites e as taxas de ocupa- abaixo: ção permitidas criam bloqueios visuais incompa- tíveis com o lugar e com o sentido da escala bu- ‡ Reduz a visibilidade das edificações origi- cólica. nais dos acampamentos ainda existentes e que requerem ações urgentes para a sua preservação. ‡ os recuos laterais exigidos são insuficien- tes para garantir a permeabilidade necessária. ‡ Altera a escala do conjunto na paisagem, criando um destaque não esperado e não dese- jado. Fonte: RSP, banco de imagens. c) Vila Planalto 103 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

‡ A médio e longo prazos, o aumento da sidencial com população de baixa renda, com a Figura 2.58. Vila Telebrasília: alteração de gabarito área construída e o aumento da altura das edifi- presença de habitações unifamiliares com conser- (3o pavimento) cações, pela localização privilegiada no Plano Pi- vação precária e às vezes em estado de degrada- loto, promoverão uma expulsão da população que ção. Apresenta uma alta densidade de ocupação caracteriza a área e tende a se transformar, por dos espaços. Os problemas apresentados por gentrificação, mais uma área residencial de alta está área são semelhantes àqueles que se verifi- renda, contrário aos objetivo da própria manuten- cam em outros setores com mesmas característi- ção e tombamento que é, também o de assegurar cas, como: a presença de variedades de rendas nos setores residenciais do Plano Piloto. ‡ O aumento da intensidade de ocupação tem comprometido os espaços públicos, seja ‡ A eliminação das alturas excessivas, o im- por ocupações irregulares que avançam sobre pedimento de alterações da estrutura fundiária da os passeios ou com a ocupação das áreas livres, Vila e uma fiscalização rigorosa, são ações neces- principalmente na borda do setor. sárias e urgentes para a preservação da vila en- Figura 2.59. Exemplar de edificação do quanto paisagem urbana e também social. ‡ Decorrente do nível de ocupação, as áreas acampamento Pioneiro, Candangolândia livres para recreação e a ausência ou precariedade d) Vila Telebrasília de arborização é comum aos passeios públicos, às poucas praças e ao interior dos quarteirões. A Vila Telebrasília está localizada no final da ‡ Algumas residências começam a intro- Asa Sul, entre o Lago Paranoá e a via L4 Sul. Sua duzir um terceiro pavimento, caracterizando uma ocupação caracterizou-se por um sistema de lotes expansão vertical numa área cuja ocupação hori- de grandes dimensões, habitações de madeira e zontal é a regra. algumas chácaras, com cultivo de árvores frutífe- ras e a criação de animais domésticos. O proje- e) Candangolândia to de regularização aprovado tomou como prin- cípio respeitar o padrão existente de ocupação A Candangolândia, apesar do seu papel e do acampamento original, adotando um modelo visibilidade no conjunto tombado, teve seu pro- Figura 2.60. Candangolãndia: ocupação de área urbano que se assemelha ao das cidades tradi- cesso de ocupação ao longo do tempo marcado pertencente ao Jardim Zoológico. cionais, em que a função da rua não se restringe por descaracterizações que requerem especial apenas a circulação, mas também e um local de atenção, para que se proponham diretrizes que lazer, encontro e estar. Os condicionantes do tra- reduzam ou minimizem o seu impacto sobre a çado urbano – a vegetação existente, a estrutura paisagem, em especial no que se referem aos se- principal do sistema viário e os marcos simbólicos guintes aspectos: – definiram o desenho das vias e dos quarteirões. Como uma área contida em seus limites nor- A massa vegetal mais densa levou a conforma- te, leste e sul por áreas de preservação perma- ção de um parque urbano na porção sudoeste do nente ou reservas naturais, o assentamento tem acampamento; outras massas de menor tamanho apresentado ocupações que invadem e compro- originaram praças e largos. metem essas áreas, principalmente na Área de A Vila Telebrasília corresponde a uma área re- Preservação Permanente do Arroio no interior do Fonte: RSP, banco de imagens. 104 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

Figura 2.61. Candangolândia: alteração de gabarito, Jardim Zoológico de Brasília. em setembro de 2001 teve uma proposta de Lei 4o pavimento. Complementar para sua fixação e regularização Embora o limite de altura seja de dois pavi- (PLC 1371/2001) que prevê a alienação dos lotes mentos, é grande e distribuído na área da Can- para os ocupantes. dangolândia o número de edificações que apre- sentam um terceiro e até um quarto pavimento, Ambas as ocupações se desenvolvem no refletindo-se na paisagem. interior do Parque Nacional, ao longo de um dos principais córregos formadores do Lago Paranoá A expansão das edificações, em muitos ca- na extremidade norte do Plano Piloto. sos, extrapola os limites dos terrenos, invadindo a área destinada ao sistema viário, sendo comum Os precedentes de ocupação urbana em a simples eliminação de passeios públicos para a áreas de preservação e outras áreas públicas ampliação de edificações. ocorrem sempre na presunção de regularização, independentemente da classe social que aten- Como acampamento pioneiro, um dos valo- dem. Destaca-se que politicas de regularização res da área refere-se exatamente a esse caráter. fundiária tais como a exemplificada no caso da No entanto, os remanescentes ainda existentes se Vila Weslian Roriz, podem ter como resultado final encontram em mau estado de conservação e com Fonte: RSP, banco de imagens. a falta de preocu pação com a fixação dos mora- risco de desaparecimento. Figura 2.62. Varjão e Vila Weslian Roriz, dores, coma possibilidadae de funcionar como respectivamente É necessária a inclusão da Candangolândia repassador de propriedade urbana a ocupantes em programa de regularização urbanística que que, antes e após a regularização, negociam os reverta, em base a critérios comuns, os abusos imóveis normalmente no mercado, o que tende a atualmente verificados. Do mesmo modo, o acer- reproduzir para sempre o problema de moradia ao vo do acampamento ainda existente, necessita de invés de resolvê-lo. urgente trabalho de restauração e redefinição de A preocupação com a ocupação de áreas am- uso para viabilizar sua manutenção como teste- bientalmente sensíveis como estas decorre da falta munho da construção de Brasília. de controle sobre os processos de sua ocupação, f) Vila do Torto e Weslian Roriz as expansões que se sucedem e o descompasso com a infra-estrutura requerida para minimizar os A Vila do Torto e a Vila Weslian Roriz são duas efeitos danosos sobre o meio ambiente que este ocupações que ocorreram no interior do Parque tipo de ocupação do solo acarreta. Nacional, nas proximidades da Via EPIA e da Granja do Torto. 2.2.2.5. Outros núcleos habitacionais A Vila do Torto foi formalmente regularizada em 1998 (Lei complementar nº 169, de 31 de de- a) Cruzeiro e Cruzeiro Novo zembro de 1998) para servir como área habitacio- Embora a proximidade existente entre esses nal para funcionários da Secretaria da Agricultura, dois assentamentos, pelas peculiaridades de pro- do Jardim Zoológico e do Jardim Botânico de Bra- jeto e das transformações implementadas, dife- sília numa área de aproximadamente 18 hectares. rem entre si sob diversos pontos de vista, como Fonte: Google Earth, 2010. Já a Vila Weslian Roriz, é uma ocupação que, comentado a seguir: 105 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

‡ A área do Cruzeiro, originalmente com denciais implantada no interior do Plano Piloto na Figura 2.63. Cruzeiro: ocupação de passeio público habitações unifamiliares em pequenos lotes, tem forma de sete condomínios fechados, com dife- apresentado um problema semelhante ao da Can- rentes soluções arquitetônicas e de arranjo interno dangolândia, com edificações que tanto sobem e com a previsão de um oitavo na área central do em altura quanto extravasam os limites dos lotes setor, os quais são cercados por um anel viário. correspondentes, ocupando espaço público des- Tanto pela forma de uso do solo, como das suas tinado ao sistema viário, limitando ou eliminando relações urbanas, podemos destacar o que se- passeios e, em alguns casos, inclusive parte de gue: leitos de vias. ‡ A implantação de condomínios fechados ‡ O Cruzeiro Novo, baseado em edificações de forma circular no interior de uma área circun- de habitação coletiva, teve seus espaços públicos dada por importantes vias produz a geração de vinculados às edificações – pilotis e entorno – pau- extensas áreas residuais no exterior. Um interior latinamente cercados e incorporados como áreas de uso privativo extremamente bem cuidado con- privativas dos edifícios e eliminando a permeabi- trasta com a falta de acabamento que ocorre nas Figura 2.64. Cruzeiro: ocupação de vias peatonais lidade prevista pelo projeto. Muitas vezes, esses áreas externas e públicas. cercamentos destinam-se ao estacionamento de ‡ A noção de resíduo é incorporada pelos veículos no interior dessas áreas, problema que próprios moradores, que repassam ao sistema se estende às poucas áreas livres ainda remanes- público – externo aos condomínios – os problemas centes. que deveriam ser resolvidos internamente, como a Muito embora essas áreas, mantidas as suas deposição do lixo e o depósito de materiais e equi- volumetrias, traçados e se impedido os abusos re- pamentos de utilização dos condomínios. centemente verificados, tenham um papel menos sensível no que se refere à visibilidade geral do ‡ Essas áreas residuais e sem tratamento Plano Piloto e a área de maior interesse para a pre- adequado, acabam por receber atividades não servação, é necessário equacionar os problemas previstas e de grande porte, como trailers e co- 2 internos que se têm mostrado como questões de mércio informal em edificações de até 120 m . grande relevância para a população destas áreas. ‡ A situação mais grave é devida previsão Figura 2.65. Cruzeiro Novo: cercamento e A inserção da área do Cruzeiro num programa de de construção do oitavo condomínio no interior gradeamento dos pilotis regularização urbanística e da área do Cruzeiro do setor, com o dobro do número de pavimentos Novo num projeto de recuperação e revalorização existentes nos demais condomínios, passando de dos espaços públicos – que são de muito má qua- 6 para 12 pavimentos. Isto representa um grave lidade atualmente –, bem como um monitoramen- risco, pela introdução de elementos de porte ex- to mais sistemático das ocupações e transforma- cepcional em área sensível do Plano Piloto, mar- ções verificadas são medidas importantes tanto cando a paisagem de modo negativo frente à uni- para o conjunto do Plano, quanto e principalmen- dade morfológica caracteriza tanto o setor quanto te, para a população envolvida. o restante do Plano Piloto e, cuja verticalização, ao b) Octogonal contrário do previsto por Lúcio Costa, utiliza este recurso como modo de marcação e referência da O Setor de Habitações Coletivas Octogonais área central, tem como única justificativa o aumen- foi uma experiência urbanística para setores resi- Fonte: RSP, banco de imagens. 106 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

Figura 2.66. Sudoeste: assentamento das to da área construída, sem nenhuma relação com a partir da análise do projeto divulgado, assim edificações no solo o conjunto do Plano ou com os aspectos de sua como o do Setor Sudoeste, também se inspira concepção urbanística, objeto de preservação. de modo incompleto, utilizando-se parcialmen- te de modelos compositivos característicos das c) Sudoeste Superquadras.O aspecto mais preocupante rela- cionado a esta área é a densidade de ocupação Trata-se de um setor residencial com bom es- prevista e a falta de tratamento das bordas que, tado de conservação que, embora baseado em ao contrário das superquadras, não prevê o uso princípios semelhantes aos utilizados nas super- intensivo da vegetação, mais grave no limite do quadras, com a proposição de edificações de seis empreendimento frontal ao Parque Burle Marx. ou de quatro pavimentos sobre pilotis, não possui a mesma estrutura de superquadra e unidade de Frise-se que a localização da área comercial, Fonte: RSP, banco de imagens. vizinhança, como nas Asas Residenciais do Plano seguindo uma ocupação linear ao longo da EPIA, Piloto. Pode-se destacar os seguintes aspectos: volta-lhe às costas, sem que fique claro o trata- Figura 2.67. Faixa de emolduramento entre SQSW mento dos espaços livres entre estes e a aveni- 301 e o Comércio Local. ‡ Ao contrário do que ocorre de modo claro da, trata-se de uma ARIE - área de relevante inte- nas superquadras sul, a vegetação tanto interna e resse ecológico, criada por exigência dos orgãos externa às quadras quanto nas vias é pouco sig- ambientais. Note-se, ainda, que o projeto prevê nificativa. impacto extremamente negativo para o parque ‡ É possível encontrar edificações com a Burle Marx, com a previsão de duas vias públicas presença do sétimo pavimento, o que passa a al- de atravessamento, uma para transporte coletivo terar a altura padrão e a modificar a paisagem. e outra para transporte individual, conectando di- retamente o Setor Noroeste à Asa Norte. Com tal ‡ Vizinho à área residencial encontra-se o previsão o parque fica seccionado em três setores setor de indústrias e gráficas, em estado de de- distintos com importantes entraves à continuidade Fonte:Administração Regional do Sudoeste/ gradação, o que parece se originar da perda de e à fruição do mesmo, repassando a uma área pú- Octogonal. função dessa área e pode indicar para programas blica o ônus das ligações do empreendimento ao de revitalização, com ou sem alteração de uso. Figura 2.68. Noroeste: imagem eletrônica do restante da cidade. empreendimento divulgadas na internet ‡ Na 1ª Avenida, que concentra a maioria dos lotes destinados ao comércio local, os con- 2.2.2.6. Previsão de áreas residenciais gestionamentos são constantes; As áreas indicadas para habitação por Lúcio ‡ Atualmente cada condomínio do setor co- Costa, fora do Plano Piloto, como sugerido no do- nhecido como “Setor Econômico” executa seu cumento de 1987, Brasília Revisitada, foram por próprio estacinamento, tendo em vista que a URB ele pensadas para a implantação de moradias 147/88 não previa regras para a sua definição. econômicas, sendo essa a justificativa da sua pro- posta. No entanto, essas novas áreas têm sido, em sua maioria, ocupadas por empreendimentos d) Noroeste voltados para os estratos de alto poder aquisitivo, reproduzindo a lógica da elitização de que sem- Fonte: http://www.ecodesenvolvimento.org Área residencial em fase de implantação, que 107 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB pre foi criticado o Plano Piloto projetado por Lúcio Costa. Das seis áreas propostas por Lúcio Costa para habitação, uma delas foi construída, em uma pequena parcela, a das quadras econômicas ao longo da Estrada Parque Taguatinga (EPTG). Outra foi implantada em sua integralidade, o Setor Sudoeste, em sua maioria com prédios de alto padrão, mas tendo um Setor de Quadras Eco- nômicas, nas proximidades do Cruzeiro e outra Figura 2.69. Mapa com localização das propostas de áreas residenciais de Lúcio Costa ainda está sendo implantada, o Setor Noroeste, de altíssimo padrão. Quanto aos setores não implantados, aquele correspondente à localização da Vila Planalto, de- vido à fixação da Vila, foi inviabilizado. Da propos- ta de Brasília Revisitada restam ainda os setores Asa Nova Norte, para quadras econômicas e con- juntos geminados (habitação popular), quadras (pilotis e 4 pavimentos) e lotes individuais, e Asa Nova Sul, com proposta de implantação de qua- dras menores, pilotis e 4 pavimentos. Somando às fortes restrições ambientais a uma ocupação compacta, o valor de mercado do solo nessas duas localizações por si só, inviabiliza a implantação ali de habitação popular ou similar. Assim sendo, resulta que as áreas efetivamente implantadas (setores Noroeste e Sudoeste) não alcançaram o seu objetivo descrito em Brasília Re- visitada de inserir novos estratos sociais na área do Plano Piloto. Ressalta-se que a não implanta- ção da área C sobre a Vila Planalto garantiu a per- manência desta área, remanescente da ocupação pioneira da construção de Brasília.

Fonte: Brasília Revisitada, 1985/87 108 Capítulo 3

Dinâmica urbana

DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA

3.1. Do Plano Piloto de 1957 à cidade construída: transforações, setores, espaços a serem complementados

No início da construção de Brasília, o Plano outro lado da Av. W3, tomando o lugar das hortas Monumental, e da habitação para os funcionários, Piloto começa a ser implantado em um território, para ali previstas originalmente por Lúcio Costa. construídas pelos Institutos IAPI, IAPTEC, e outros, a bem dizer, desocupado, espraiando a sua forma Assim, também, foi instalado mais um renque de o impulso de ocupação para outras atividades foi alongada em meio ao cerrado intocado. Na con- quadras a leste do Eixo Rodoviário, ditas “provisó- sendo transmitido à iniciativa privada, que, grada- cepção de Lucio Costa, apresentada nos croquis rias”, as 400, destinadas a funcionários federais. tivamente foi suprindo a demanda de comércio e do Relatório do Plano Piloto, os eixos que se cru- A mesma necessidade originou o atual setor Cru- serviços. zam formam a figura de um triângulo, no qual está zeiro. A crescente demanda de casas individuais, Nos primeiros tempos, para obter densidade contida toda a cidade. Uma face desse triângulo originalmente previstas para as orlas norte e sul, a que lhe permitisse um mínimo de funcionamento correspondeu depois à via que delimita o Plano a leste do lago na proposta de Lúcio Costa, foram e um incipiente aspecto de urbe era necessário oeste – a via EPIA – indo do cruzamento com os transferidas para a sua face oposta, constituindo implantar o maior número possível de atividades. riachos Vicente Pires, ao sul, e Bananal, ao nor- os Lagos Sul e Norte. Área era o que de mais farto havia para oferecer te e, a partir desses dois pontos, seguindo pela Entretanto, seja porque as premissas do ur- a quem se dispusesse a ali construir. Foi esse o cota 1000 da orla do lago Paranoá, para formar os banismo moderno assim o determinassem, seja espírito de Brasília em sua gênese. O Eldorado outros dois outros lados do triângulo. No vértice porque a disponibilidade sem limites do território era a imagem para quem a via de fora. O espírito inferior do triângulo estavam o Palácio da Alvorada facultasse, seja, ainda, porque acertadamente o desbravador, motor da construção da nova capital e o Brasília Palace Hotel, dados do Concurso e já sistema viário e o arruamento do Plano Piloto fo- em meio a um descampado, com possibilidades em início de construção. Fora dele ficavam, à épo- ram implantados por inteiro para impedir posterior ilimitadas, perdurou ao longo dos decênios que se ca da construção da cidade, a pista de pouso, o desvirtuamento do traçado, era impactante nesse sucederam. Catetinho, a Cidade Livre, a estrada para Anápolis período inicial a dispersão do assentamento, in- e pouco mais. A debilidade da iniciativa privada nos primei- versamente proporcional à expectativa dos seus ros decênios, aliada ao baixo valor imobiliário das Por orientação de Willian Hollford, membro construtores e moradores, que pelo fato de serem terras do Distrito Federal, não atraiam o empresa- do júri do concurso, a proposta de Lúcio Costa foi provenientes de cidades compactas, com dese- riado nacional de maior peso. A instauração da deslocada para mais próximo da linha do futuro nho tradicional, ansiavam por se sentir assegura- Ditadura Militar trouxe instabilidade política, tendo lago, diminuindo com isso o território por ela ocu- dos dos limites dessa nova cidade por suas aveni- sido mesmo posta em cheque a continuidade da pado, que lhe parecera demasiadamente extenso. das e edificações. A nova paisagem que ia sendo construção da capital. O certo é que durante os construída, com a marcante horizontalidade das No interior do triângulo, os setores de ativi- dois decênios iniciais, talvez motivada por esta edificações distribuídas no terreno, com fartas áre- dades, organizados ao longo dos eixos Monu- falta de pressão da iniciativa privada ou mesmo as vazias, e ainda in natura, estava longe de con- mental e Rodoviário, deixavam amplas áreas sem governamental, a cidade foi sendo implantada tribuir para assegurar aos moradores esse sentido destinação. Com o início da construção surgiram mantendo as linhas da sua concepção, o que se de ancoragem, de pertencimento e orientação no demandas como a de uma via para a entrada de deve também à excepcional qualidade do projeto novo território. Ocupá-la, humanizá-la, eram as materiais destinados às obras das superquadras de Lúcio Costa, aliada à força simbólica da nova palavras de ordem, quase se poderia dizer, a todo residenciais, origem da av. W3, onde se instalaram capital representando o Brasil moderno. o custo. os primeiros depósitos de materiais de construção. Já do meio para o final dos anos 1970, com A necessidade de transferir do Rio de Janeiro fun- Em contraposição às construções afetas ao a consolidação definitiva de Brasília, se fizeram cionários federais antes mesmo da inauguração, arcabouço institucional da Capital da República e sentir os efeitos de um primeiro boom imobiliário, fez surgirem quadras de residências em fita do do Distrito Federal, concentradas ao longo do Eixo 111 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB ainda tímido se comparado com a situação atu- Como consta na Introdução do presente diag- de espaços ou áreas livres a serem ou não edi- al. Acenderam-se as “luzes de alerta” do órgão nóstico, para que fosse aceita a proposta de ins- ficadas, haja vista que ela não contém o detalha- nacional de preservação, a então Fundação Pró- crição de Brasília na condição de Patrimônio Mun- mento necessário a esta função e que ao longo de -Memória que, em final de 1979, reuniu os agentes dial, o governo brasileiro se comprometia com a sua implantação houve adaptações inerentes ao da cultura do governo do Distrito Federal e da Uni- UNESCO a manter a cidade na condição descrita processo de construção. versidade de Brasília, na forma de um Grupo de no dossiê que acompanhava o pedido, tratando Embora hajam alterações posteriores no de- Trabalho, para traçar medidas para a preservação tão somente de aperfeiçoá-la. senho da cidade tais adaptações conformaram de Brasília, ao que se sucedeu, em 1986, o pedi- Nesse tempo já se completara em grande o desenho principal, consolidado a partir do ano do brasileiro de inscrição de Brasília como bem parte a ocupação do Plano Piloto, seja pelos se- de 1960 e registrado na planta da inauguração Patrimônio da Humanidade, acolhido pela UNES- tores institucionais, seja por aqueles destinados de Brasília. Desta forma, considera-se esta planta CO no ano seguinte. O cumprimento da exigência à habitação e outras funções necessárias, tendo como sendo a planta-base para preservação de do Comitê do Patrimônio Mundial, da UNESCO de sido preenchidos os vazios da concepção original Brasília, pois nela constam as alterações decor- que o país instituísse a proteção do Plano Piloto de Lúcio Costa, mas deixando livres as extensas rentes do ajuste da concepção original contida no de Brasília foi um marco, com o tombamento de áreas verdes ali previstas. Relatório do Plano Piloto à inserção no território. Brasília como patrimônio do Distrito Federal e da Nesta planta constam as alterações mencionadas Nação. Esses atos deram concretude ao gesto Com relação ao papel desempenhado pelo anteriormente, consolidando os setores acrescen- antecipatório do presidente Juscelino Kubitschek, Relatório do Plano Piloto de Lúcio Costa, de 1957, tados à proposta original e conformando o dese- em 1960, quando em bilhete de próprio punho, so- para a ocupação dos espaços resultantes da sua nho definitivo da cidade de Brasília. licitou ao presidente do IPHAN o tombamento de implantação, verifica-se que o mesmo respondeu Brasília, argumentando que uma arremetida imo- ao que foi demandado pelos termos de referência Da análise do Relatório constata-se que algu- biliária poderia desvirtuar a concepção da cidade. do concurso público. A concepção de cidade e mas das suas propostas não foram efetivamente seus princípios ficam ali estabelecidos de manei- implantadas ou o foram parcialmente, algumas A preocupação do presidente Kubitschek, no ra inequívoca. Quanto à distribuição da cidade no das quais são relacionadas a seguir: início da década de 1960, revelou-se premonitó- espaço, nele estão localizados os principais ele- ria, pois, já no final dos anos 1970, a especulação mentos definidores do seu caráter e da sua fisio- ‡ Do Relatório consta a proposta de sobre- imobiliária mostrava seus efeitos adversos para a nomia, sem a intenção delimitar com precisão as levação das pistas do Eixinho, não executada, integridade da capital. Problema que se acentuou áreas a serem ocupadas. resultando daí a falta de conexão dos setores de ao longo do tempo, como ficou registrado no pa- diversão e cultural (Teatro – Conjunto Nacional e recer do ICOMOS – Conselho Internacional de Mo- Sua importância como marco referencial à Touring Club – Conic); numentos e Sítios quando da análise do pedido preservação de Brasília, reside justamente em brasileiro de Inscrição no Patrimônio Mundial, em definir os atributos fundamentais da concepção ‡ Na Asa Norte deixou de ser construída a 1986: urbanística, os quais foram efetivamente implan- comunicação entre o Setor Bancário Norte e Se- Na ausência de qualquer plano regulador e de tados e por sua vez devem ser respeitados. De tor Comercial Norte, correspondente à Galeria dos um código de urbanismo, as normas definidas maneira geral, trata-se de um Plano que busca Estados no Setor Sul; por Costa e Niemeyer foram transgredidas na a apropriação de um território e a construção de ‡ As atividades previstas na face oeste da maior desordem: edifícios mais altos que de- uma paisagem, sendo que o “vazio” se constitui avenida W3 (hortas e pomares) cederam lugar aos veriam, em alguns setores, construções em em um dos elementos definidores da idéia de ci- setores SHIG, SEP e SGA; espaços livres, modificações na rede rodo- dade proposta por Lucio Costa. viária, etc..., alteraram muito seriamente uma ‡ A gradação dos estratos de renda dos paisagem monumental possuidora de uma A proposta para o Plano Piloto não pode ser moradores do Plano Piloto não se estabeleceu grande qualidade inicial. interpretada como parâmetro para identificação conforme previsto na proposta original de Lucio 112 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA

Costa, havendo sim gradações de renda, mas concentrando-se nas faixas mais elevadas da so- ciedade; ‡ Os dois setores destinado a casas indivi- duais entre as Asas e o Lago foram substituído por Lucio Costa pelos setores residenciais dos lagos sul e norte; ‡ No texto Relatório havia a previsão de um segundo cemitério na ala norte, o qual também não foi implantado; ‡ Do Relatório consta uma construção linear, em forma de barra, unificando os ministérios entre si e conformando praças entre eles; ‡ E por último, em um dos croquis do Rela- tório comparece o esboço do que seria uma co- bertura unindo os Setores de Diversão Sul e Norte. Verifica-se que pelo grau de generalidade da proposta do Plano Piloto de 1957 seria equivoca- do assinalar áreas ou espaços passíveis de aden- samento ou ocupação, cabendo reconhecer o seu caráter abrangente enquanto definidor da sua concepção, o qual permite identificar suas linhas de força, resgatando seus princípios e diretrizes, com o objetivo de contribuir para a qualificação urbana e o reforço da sua imagem. A ocupação de novas áreas no interior do Pla- no Piloto de forma fragmentada e sem um vínculo claro com os princípios da concepção urbanística proposta por Lúcio Costa no Relatório do Plano Piloto está na origem de muitas das descaracte- rizações observadas ao longo do presente diag- nóstico.

Figura 3.1. Alterações do Plano Piloto desde a implantação

Fonte: SEDUMA 2010. 113 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 3.2. Prancha única constante da proposta de Lúcio Costa para o Plano Piloto de Brasília

Fonte: Relatório do Plano Piloto 114 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA

Figura 3.3. Plano Piloto de Brasília - 1960

Fonte: Revista Brasília. ArPDF 115 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

3.2. Tendências de transformação do uso do solo na Área tombada

Brasília cumpre seus primeiros 50 anos com vão se tomando muito raras. Cada vez mais gem de uma questão de fundo amplamente de- significativas alterações do seu Plano Piloto e do entulhadas, as cidades dispõem de poucos batida de há muito, mas com pouca repercussão seu ambiente natural e construído. Em persistindo espaços livres. Os raros que ainda resistem real na distribuição espacial dos investimentos: a a situação verificada nos últimos decênios, é de vêem parcelas de sua área ir sendo tomadas excessiva concentração dos mesmos no Plano esperar, em ritmo acelerado, o desaparecimento para instalação de empreendimentos alheios Piloto de Brasília e vizinhança. Soma-se o incre- às verdadeiras funções de uma praça ou jar- dos espaços livres que a cercam, aqueles cuja dim. Oscar Niemeyer compreendeu muito mento dos postos de trabalho nos órgãos dos três ocupação não era prevista quando da inscrição bem a necessidade de preservar vazios ur- poderes da República está o crescimento do valor de Brasília na relação do Patrimônio da Humani- banos para assegurar um local para congre- do solo nesta área. dade da UNESCO, em 1987, conforme analisado gar a população em momentos cívicos ou de O Distrito Federal, com sua população em capítulo 3.8 Características das áreas tombadas: tensão social. Contrário a protestos dos que crescimento, dada pelo Censo, como dois mi- por grau de significação específica (valor patrimo- clamam por plantio de árvores no Memorial da lhões e quatrocentos e sessenta mil habitantes nial), do presente diagnóstico. América Latina, preferiu mantê-la sem qual- quer obstrução. As áreas livres devem perma- (2.460.000), dos quais 90% reside fora do Plano Frise-se que a preservação desta área é apon- necer como tal para que a população possa Piloto, evidentemente tem necessidades crescen- tada como essencial pelo Comitê do Patrimônio dispor de locais para se reunir ou onde possa tes de habitação e de equipamentos urbanos, a Mundial da UNESCO, constando dos sucessivos inventar novas diversões que não têm que ser serem supridos seja por ampliação dos serviços já relatórios de monitoramentos daquela organiza- obrigatoriamente planejadas. Definir uma úni- instalados seja por novos equipamentos. Somada ção, conforme Introdução deste Diagnóstico. ca forma de utilização é impedir que outros às ampliações dos serviços já instalados no Plano usos espontâneos se manifestem livremente, Piloto e entorno, constata-se a propensão a situar Carlos Fernando Delphin, especialista do é castrar a capacidade da cidade de se auto na capital parte significativa das novas atividades, IPHAN para paisagem e jardins históricos, em re- inventar em novas utilizações que estarão fazendo com que concorram para ela novos pos- cente parecer sobre esta questão, assim se pro- sempre surgindo. Essas áreas podem servir a tos de trabalho, acarretando o conseqüente acrés- nuncia: usos alternados e espontâneos; pela manhã as crianças brincam, jogam bola de gude, cimo de circulação veicular. “incapacitada para avaliar com segurança o tomam sol; à tarde joga-se futebol, a noite Em se tratando de uma cidade com limites valor do vazio, nossa cultura tem permitido namora-se ou se olha o céu. De onde mais territoriais claramente definidos, como dito antes, que sejam ocupadas, plantadas ou obstruí- contemplar o firmamento em uma grande me- e restando do seus estoque imobiliário escassos das muitas áreas em que o vazio é o maior trópole? Em junho surgem barraquinhas, fo- lotes ou projeções por construir no Plano Piloto, valor, sempre com graves prejuízos para os gueiras. Em outros meses, outras festividades bens culturais a elas associados. Uma área li- ou mesmo solenidades. Mesmo a iluminação cresce a pressão no entorno do Plano Piloto, por vre é uma tentação para um arquiteto que nela artificial deve ser cautelosa para não retirar um meio da elevação dos índices construtivos, das al- deseja imprimir a marca de sua criatividade; aspecto natural cada vez mais raro nas cida- turas das edificações, ou ainda da mudança de para um paisagista que deseja transformá-la des que é o escuro. Onde mais se poderia usos. em um jardim, enchendo-a de espécies ve- estar no escuro ao ar livre numa grande me- Por ser da essência da concepção do Plano getais; para políticos que em troca de votos trópole?”. de camelôs, transformam os parques em ca- Piloto a abundância de áreas verdes internas e en- melódromos. Essas áreas, que têm múltiplas Em Brasília, se pode afirmar, isso ainda é pos- voltórias, essas dele fazem parte intrínseca. sível. e informais vocações, muitas variando confor- Sendo o Plano Piloto o bairro central do tecido me a estação, o mês, o dia e mesmo a hora, Entretanto, é impossível escapar da aborda- urbano do Distrito Federal, comportando em torno 116 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA de 10% da população total da nucleação maior, chek teve construído em seu interior um centro de visitada, incorporada aos Tombamentos do Plano a pressão pelo incremento da ocupação urbana, eventos de grandes proporções, atrator de tráfe- Piloto de Brasília, em nível federal e distrital, para concentra-se no Plano Piloto e na sua vizinhança. go, exigindo amplas áreas de estacionamentos, e a instalação de população de menores ingressos uma instalação de segurança policial que desfigu- nas áreas por ele indicadas para expansão habita- Constata-se que as políticas de descentra- ra o caráter bucólico do mesmo. cional, de modo a atingir uma situação mais equili- lização de atividades para outras regiões admi- brada de perfil de renda da população foi aplicada nistrativas não tivera os esperados reflexos na Outra redução de área antes integrada à es- nas quadras econômicas do setor Sudoeste. redução do emprego no Plano Piloto e nas suas cala bucólica, nesse caso aliada à mudança de proximidades. O fato é que este não foi projeta- uso do solo, verifica-se na extremidade superior A forte pressão por aumento de oferta de ha- do para receber semelhante carga de circulação da Asa Norte, por ter a mesma sido ocupada por bitação tem criado distorções, caso dos hotéis e veicular e a sua possibilidade de ofertar vagas de comércio de grande porte, e flats residenciais, flats da Orla do Lago Paranoá, cuja venda de no- estacionamento para a massa de veículos particu- cujo efeito é diluir os limites da ponta da asa, dei- vas unidades caracteriza os imóveis como de uso lares que para ela afluem. Tudo aponta, e, para a xando a mesma de ser claramente marcada pela residencial, altamente valorizados. fundamental instalação de transporte público nas transição direta das quadras 100 e 300 para a área Essa pressão se estende, ainda ao Setor de modalidades VLT e metrô, - estudos e projetos verde, ainda mais reduzida pela extensão dos es- Clubes, com edificações residenciais, assim como avançam nesse sentido -, carecendo-se ainda de tacionamentos do setor hospitalar. O correspon- outros usos desconformes, adensando essa que estabelecimento de medidas para a concomitan- dente Setor Hospitalar na Asa Sul, devido ao de- é, por excelência, uma faixa onde é imprescindível te limitação do parqueamento de automóveis nas masiado adensamento do uso do solo apresenta resguardar características bucólicas, como apon- áreas mais sensíveis do Plano Piloto. colapso na circulação e estacionamento de veícu- tado em todos os documentos referenciais sobre los, com reflexos na sua vizinhança. Para ilustrar as mudanças de uso do solo o caráter de Brasília. ocasionadas pela pressão antes descrita, são Já no caso da alteração de uso verificada nas Assim também o Pier 21, por sua densidade enunciados alguns casos, a título exemplificativo. edificações das quadras residenciais 700 na W3 de ocupação do terreno e função comercial. Caso Sul, restritas às quadras mais próximas aos seto- Aparentemente sem maior efeito, a ocupação também do Setor de Atividades - CA junto à entra- res centrais, tem origem na pressão exercida por intermitente, mas contínua, do canteiro central do da do Lago Norte em direção ao Varjão, abrigando essa localização, devida à expansão das ativida- Eixo Monumental - a partir da Plataforma Rodo- blocos habitacionais em sua grande maioria, se des de prestação de serviços. viária - para eventos de grande porte e de dura- constituindo em uma massa construída compac- ção relativamente prolongada, caracteriza seu uso Como diagnosticado, constata-se a altera- ta, com densidade até então inexistente na proxi- inapropriado e indevido. Esta ocupação interfere ção do uso do solo das Superquadras Norte de midade imediata do Plano Piloto. em um dos pontos mais representativo de Brasília, construção mais recente, com o “inchaço” dos Ainda sobre o mesmo eixo, a criação de provocando desorganização da paisagem naque- blocos mais recentes, cuja forma, proporção e quarteirão habitacional para alta renda, junto ao le espaço carregado do simbolismo da capital da implantação em nada se assemelham aos blocos Parkshopping (SAI/SO), está em desconformida- nação e um dos mais sensíveis da escala bucóli- característicos das Superquadras até a época da de com o uso do setor. ca. inscrição de Brasília no Patrimônio Mundial. Nos demais casos, as estratégias de cercamento dos O uso sistemático do solo livre e mesmo dos No caso do Centro de Convenções que em terrenos ao redor das projeções com vegetação, locais ajardinados, para o estacionamento de au- já sendo uma barreira transversal seccionando o grades ou floreiras, reduzem o uso público e a livre tomóveis se constitui em uma das mais recorren- canteiro central do eixo, viu reforçada essa condi- circulação dos pedestres, um dos preceitos das tes situações de conflito com a norma de uso do ção com a recente reforma. superquadras. solo no Plano Piloto, sendo um fator de degrada- Na sua proximidade, o Parque Sara Kubits- ção da ambiência urbana. A ocupação do espaço A orientação de Lúcio Costa em Brasília Re- 117 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB disponível nas áreas de maior densidade de uso vez com um maior de carga a transportar e, con- do-os mais adequados às necessidades dos seus comercial, residencial e institucional, cria barreiras sequentemente de veículos cruzando Brasília por usuários, contribuindo para estender o uso do ao reduzir a área disponível para a circulação dos sua margem. A EPIA acumula a circulação veicu- setor para além dos horários das autarquias, dos pedestres, e limita a sua liberdade de ir e vir, tendo lar local, um volume importante de ônibus ligando bancos e do comércio. A necessidade de deslo- em vista que os mesmos são obrigados a trans- as cidades satélites com o Plano Piloto, aos quais camentos vê-se reduzida nos setores em que é por as barreiras de automóveis em linha ao longo se soma esse transporte pesado, para o que é seu admitida a instalação de usos complementares. das ruas ou em extensas áreas dominadas por desenho atual é inadequado. Aumenta a cada dia Não apenas os setores centrais, mas também o estacionamentos. Pela mesma razão, a acessibi- o perigo representado por um acúmulo de veícu- Setor de Indústrias Gráficas pleiteia a mesma flexi- lidade de pessoas portadoras de necessidades los de portes e destinos diversos, sem nenhuma bilização, tendo em vista a sua monofuncionalida- especiais se vê drasticamente reduzida e sua cir- separação dos mesmos por categorias, conviven- de que dificulta o dia a dia dos seus usuários. Em culação quase que inviabilizada. Por fim, o uso do do com o cruzamento de pedestres, em função outros setores, também é sentida essa necessida- solo com estacionamentos indiscriminados afeta das paradas de ônibus ao longo do trajeto mais de de complementações dos usos principais com a visibilidade da cidade e modifica a sua paisa- carregado da via. serviços variados. gem drástica e negativamente, criando barreiras O Terminal Rodoferroviário, situado à margem Para encerrar, uma questão basilar se coloca à visão ampla e desimpedidas, característica de da EPIA, pontuando o final do Eixo Monumental, para o futuro do Plano Piloto: os 50 anos comple- Brasília. correspondente a oeste do que a Praça dos Três tados por Brasília em 2010 correspondem a uma A crescente ocupação do solo, antes livre e Poderes é a leste, desempenha um papel mar- fração ínfima do tempo de vida de uma cidade. verde, para a ampliação do sistema viário, em ex- cante na composição urbanística do Plano Piloto. A ocupação de seus espaços além do limite co- pansão exponencial, acarreta desvirtuamento do A desativação da função rodoviária, a qual será locado para manter-se a sua integridade, limitará espírito do Plano Piloto de Lúcio Costa. Pistas e transferida para o novo terminal, junto da linha as condições de manejo para seu melhor usufruto viadutos em vários níveis alteram o ambiente e do metrô de ligação com as cidades a sudoes- pelas gerações futuras. conflitando, em muitos casos, com os usos lindei- te, ainda no alinhamento da EPIA, aponta para a O acima citado especialista do IPHAN, Carlos ros, em desarmonia com o espírito da cidade. A questão da destinação não só do edifício da Ro- Fernando Delphin, compartilha dessa preocupa- situação na via EPIA, na sua face leste, é o melhor doferroviária como de toda a extensa área que lhe ção: retrato desse domínio descontrolado da circulação é posterior. Observe-se que a recente construção veicular sobre qualquer outro uso, especialmente de ferrovias no país, aponta para a possibilidade Também para as cidades, o vazio é um ele- em detrimento dos usos confrontantes, habitacio- de reativação do transporte ferroviário no país. A mento essencial. A cidade é um recipiente e, nais, particularmente sensíveis aos inconvenientes localização estratégica da sua capital no Centro quanto mais vazios possuir, mais será capaz da poluição, do ruído e da agressividade do pró- Oeste, região de farta produção agrícola e nela da de poder abrigar novas atividades. O vazio prio movimento contínuo e pesado da massa de rede ferroviária, poderá apontar para a viabilidade permite a contemplação do horizonte nas ci- veículos. Sendo perigosa e penosa a transposição da retomada desse uso histórico, o que recomen- dades. Permite a percepção de seu patrimô- nio cultural. dessas barreiras pelos transeuntes, a travessia é da cautela no tratamento das áreas de modo a inviável para as pessoas com deficiência. manter a sua disponibilidade. A EPIA desempenha o papel de rodovia de Por outro lado, relativamente ao zoneamento caráter regional e mesmo nacional, por ligar um de usos, constata-se a gradativa flexibilização de extenso território, em ambas as direções, norte e usos, entre aqueles compatíveis com o uso princi- sul, especialmente para o transporte de carga de pal do setor, especialmente nos setores hoteleiro, longa distância. A expansão da economia agrícola bancário e de autarquias, tal como aventava Lúcio na região do cerrado reverte em um volume cada Costa no documento Brasília Revisitada, tornan- 118 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA

3.3. Planos e Projetos

No âmbito da proposta do PPCUB, o conhe- cimento dos Planos e Projetos existentes é etapa fundamental no sentido de elaborar compatibili- zações, evitar conflitos e potencializar benefícios. Evidentemente que, tendo em vista o objetivo pre- cípuo do Plano em questão, os planos e projetos deverão ser avaliados sob a ótica da preservação, no sentido de que ajustes e adequações sejam feitos com o objetivo final da conservação do Con- junto Tombado.

Figura 3.4. Localização dos Planos e Projetos divulgados pela SEDHAB

Fonte: RSP, 2010 119 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 3.5. Plano Geral do Parque Burle Marx 1 - Parque Burle Marx: Plano de Ocupação passagem de transporte público, em desnível, contendo travessias protegidas para pedestres e Data do projeto: fevereiro de 2008 ciclistas. Autoria do projeto: Jaime Lerner Associa- A proposta divide o parque em duas áreas: dos uma abrigando atividades múltiplas (setor 2) e ou- tra contendo remanescentes do cerrado (setor 1) Localização: acima das Grandes Áreas Nor- te, lindeiro ao Setor de Habitação Coletiva Noroes- Da proposta não consta uma planta conten- te. O Parque é parte integrante do empreendimen- do a localização dos equipamentos, das vias de to da Área de Expansão Urbana Noroeste. circulação, dos corredores ecológicos de ligação das áreas remanescentes de cerrado com o Par- Extensão do Parque: 280,91 ha, parte me- que Nacional de Brasília e o Lago Paranoá. nor contendo cerrado nativo. O setor 1 contém equipamentos a serem ex- Licenciamento ambiental: o licenciamen- plorados por locação. to ambiental para a criação do Setor Habitacio- nal Noroeste o IBAMA condicionou a criação do Esse, como o Parque da Cidade, tem função Parque Burle Marx à apresentação de plano de de isolar as asas Sul e Norte do restante do tecido manejo conforme Lei Complementar 265/1999, urbano do Plano Piloto, de modo a manter a in- e implantação do parque concomitante ao SHN; dividualidade do traçado urbanístico da proposta a conexão de um dos binários viários no sentido de Lúcio Costa. Ambos são colchões de amorte- leste-oeste com o sistema viário da Asa Norte, cimento, integrantes da escala bucólica. Entretan- com travessia em desnível no interior do parque, to, devido a sua faixa conter outros equipamentos proporcionando o trânsito livre de pedestres e ci- junto do Eixo Monumental, esse parque possuía clistas; garantir corredores ecológicos, para trân- originalmente uma área mais estendida no sentido sito da fauna, para conectividade entre as áreas norte, mas que agora recentemente perdeu par- remanescentes de cerrado no interior do parque cela importante com a construção do Setor de Ha- à(s) futura(s) ARIES, o Parque Nacional e o Lago bitação Coletiva Noroeste,. voltado para o Parque Paranoá.; anel viário perimetral ao parque para ve- do qual se beneficia por contigüidade imediata e ículos até os estacionamentos periféricos e moto- cujas Lagoas de drenagem se encontram dentro rizado de bombeiros e segurança à Unidade, pri- do parque. vilegiando deslocamento de pedestres e ciclistas. Diferentemente do Parque da Cidade, cuja Apreciação em base ao documento apresen- circulação veicular percorre tão somente sua pe- tado pelo autor do projeto: Trata-se de um Plano riferia, no caso do Parque Burle Marx esse é sec- de Ocupação contendo um estudo preliminar para cionado em dois pontos por vias destinadas ao o parque. No Plano de Ocupação apresentado tráfego veicular, um deles, inclusive franqueado não se encontra menção à elaboração do Plano para veículos de transporte coletivo com destino o de Manejo do Parque. setor Noroeste, desde a W3 norte. Essa travessia enfraquece o espírito do parque , inserindo no seu Cruzando o parque são previstas duas passa- âmago uma função alheia e conflitiva com a conti- gens para circulação de veículos, uma delas para Fonte: JLAA, 2008. nuidade linear do Parque. 120 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA

2 - Espaço Cultural e Turístico da Torre de TV: marquise. O complexo inclui sanitários, centro mé- Figura 3.6. Parque Burle Marx: ligações transversais revitalização da Feira de Artesanato e Espla- dico, segurança, depósitos e serviços. O projeto, nada da Torre orçado em cerca de R$50.000.000,00 enfrenta crí- ticas por parte da população pelo fato de inserir-se Data do projeto: 2008 em ponto delicado da estrutura urbana de Brasília, Autoria do projeto: MS Ayrton Arquitetos, com alto impacto sobre a percepção do conjunto com alterações da SEDUMA tombado. Localização: Torre de TV, Eixo Monumental 4 - Reconstrução do Estádio Mané Garrincha O projeto original previa mapear, quantificar e Data do projeto: 2008 qualificar o Espaço Cultural e Turístico da Torre de Autoria do projeto: Castro Mello Arquitetura Televisão, com o objetivo de torná-lo um centro de Esportiva referência da cultura brasiliense e brasileira, como também um potencial ponto de partida para a pro- Localização: Setor de Recreações Públicas dução associada e o turismo no Distrito Federal. O Norte – SRPN projeto previa, além da relocação da Feira de Arte- Após a conclusão das obras de ampliação, o sanato para um ponto mais ao Oeste da Torre de Estádio Mane Garrincha passará a ter uma capa- TV, o tratamento paisagístico da esplanada a Les- cidade total de 76.264 pessoas, seguindo as re- te, tratando o entorno da fonte luminosa, tratada comendações do Caderno de Encargos da FIFA, como anfiteatro. Esta última ação foi vetada, res- para os jogos de abertura e final da Copa do Mun- tringindo a obra a relocação dos artesãos. Mesmo do. A Arena oferece espaços para o público em Fonte: JLAA, 2008. este segundo projeto sofreu alterações e adequa- geral, autoridades, e instalações para a imprensa. ções no sentido de alargar os passeios externos e criar um espaço de centralidade. A obra inclui O estádio Mane Garrincha tem atualmente um estacionamento, amplo e adequado ao público Figura 3.7. Feira de Artesanato de Brasília: Torre de sanitários públicos, vestiários, estacionamento. TV proposta orginal freqüentador dos eventos. Vagas cobertas com fa- cilidade de acesso a todos os setores do estádio, 3 - Estudo para construção da Praça do Povo áreas para manobra e circulação dos veículos Data do projeto: 2008 e ônibus de acordo com as exigências técnicas, Autoria do projeto: Oscar Niemeyer espaços privativos para imprensa, “Vips”, carros oficiais e serviços são características que foram Localização: Setor Cultural Norte, entre o Te- contempladas no projeto. Fonte: SEDUMA, 2008. atro Nacional e a Esplanada dos Ministérios. O Estádio contará com um Posto Policial cen- A proposta é a criação de um espaço ade- tral alem dos postos avançados distribuídos jun- quado para abrigar os eventos que atualmente to às circulações de público nas arquibancadas ocorrem nos gramados da Esplanada dos Minis- (disponibilizado ao poder público) equipados com térios, dimensionada para cerca de 40.000 pesso- salas de atendimento e contará com espaço para as. Composta por uma casca principal para even- detenção. O Estádio terá também um serviço de tos e espetáculos, possui também dois espaços segurança privada em número necessário para anexos, um auditório e um circo, ligados por uma garantir a tranqüilidade dos eventos. 121 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 3.8. Praça do Povo - perspectiva geral 5 - Construção do novo Terminal Rodoviário ra Legislativa do Distrito Federal (http://www.cl.df. Data do projeto: 2007 gov.br/cldf/noticias/lago-norte-pode-ter-recursos- -para-segunda-ponte), a rejeição ao projeto, por Autoria do projeto: Reis Arquitetura parte da população, que seria de cerca de 75% Localização: SHEP / SPO em 1991, seria de 25% em 2002, de acordo com pesquisa popular efetuada pelo Deputado do DEM A nova rodoviária de Brasília localiza-se ao Leonardo Prudente. No entanto, durante as reuni- lado da Estação Parkshopping (SAI/SO) do Metrô. ões plenárias realizadas para a etapa de diagnós- O novo Terminal está dimensionado com 32 plata- tico, apenas foram relatadas posições contrárias formas, sendo assim, aumentará a integração en- à obra. tre o sistema de transporte. Atenderá 2.5000.000 embarques/ano ou até 600 partidas/dia. O edifício É necessário examinar o projeto da ponte sob é composto por dois volumes: uma grande cober- o ponto de vista do impacto para a região direta- Fonte: SEDUMA, 2008. tura metálica do terminal e a plataforma de embar- mente afetada pela construção, ou seja, acessos Figura 3.9. Reconstrução do Estádio Mané Garrincha que e desembarque com 32 baias cobertas. nas proximidades da UNB, o Setor de Mansões e a Península e, principalmente, sob o ponto de vis- 6 - Estudo para implantação da Ponte do Lago ta da alteração da acessibilidade da península em Norte relação ao Plano Piloto e restante do DF. A idéia da construção de uma ponte ligando Estudos desenvolvidos por Holanda, F.; Me- a Asa Norte do Plano Piloto à península, cruzando deiros, V., e Ribeiro, R. em 2008 mostram que a o Setor de Mansões, teria sido proposta ainda por nova ponte amplia a acessibilidade geral de toda Lúcio Costa. a região e aumenta a acessibilidade da penínsu- la em relação ao DF. Com isto, do ponto de vista “Em 1976 foi feito o primeiro desenho por Os- car Niemeyer, que prevê não uma, mas duas do percurso da ponte, significa a geração de um pontes que dariam acesso à península pela enorme movimento de passagem que corta o Se- Asa Norte, de um lado, e pelo Setor de Man- tor de Mansões Norte, com as implicações decor- Fonte: Castro Mello, arquitetura esportiva, sões, de outro. A primeira delas ligaria as QLs rentes para a atual área residencial. De outro lado, 2008. 8 e 10 ao Setor de Clubes Norte, na altura da a nova ponte significa dar condições de acessibili- Universidade de Brasília —UnB, em um per- dade e de valorização imobiliária significativa para Figura 3.10. Novo Terminal Rodoviário - perspectiva curso de 1km. A segunda sairia entre os con- toda a região da península norte. geral juntos 4 e 7 do SHIN QL 7 e iria até a SMLN ML 3, numa distância de 650m.”(Site da Adminis- A experiência tem demonstrado que as pro- tração Regional do Lago Norte XVIII) postas feitas por Lúcio Costa têm sido apropria- das segundo as conveniências. A autoria da idéia O Projeto Básico de Implantação do Sistema de Lucio Costa é tida como aspecto decisório Viário de Acesso à Ponte do Lago Norte, segun- para a construção da nova ponte. Já o fato de que do a empresa responsável pelo projeto, já esta- Lúcio Costa tenha previsto a ocupação do outro ria concluído (http://www.prismabr.com/projetos/ lado do Lago Paranoá da península por moradias sistema-viario-acesso-ponte-lago-norte.html). econômicas não comparece em nenhuma discus- Segundo informações divulgadas pela Câma- são e, como em outras experiências recentes em Fonte: SEDUMA, 2008. 122 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA

Brasília, as novas áreas de urbanização próximas cionadas ainda. A primeira delas é relacionada Figura 3.11. VLT Brasília: proposta do projeto e ao Plano Piloto ou mesmo no seu interior, como o com o percurso, em sua maior parte, ao longo da perspectivas gerais Noroeste, tenderão a ser exploradas pelos setores Avenida W3, no seu canteiro central, que hoje é de renda mais alta, o que contradiz a proposição intensamente arborizado e que a implantação do de Lucio Costa para a ocupação da chamada por VLT deve ocasionar o corte em massa dessa ve- ele de Nova Asa Norte. getação e que não corresponde às informações constantes das ilustrações do projeto. 7 - VLT Brasília A segunda questão é relacionada com os im- A proposta de implantação de uma linha pactos urbanísticos propriamente ditos do trem, de Trem Leve sobre Trilhos em Brasília encontra especialmente: exemplos similares, inclusive cruzando centros A necessidade de implantação de fiação aé- históricos como em Roma, Amsterdam, Bruxelas, rea numa cidade onde toda a rede elétrica é sub- entre outros. Em Brasília, a linha do VLT está pre- terrânea. vista para ligar o Aeroporto Internacional e a extre- midade da Asa Norte, passando por importantes O tipo de tratamento a ser dado no percurso terminais de transporte, por meio de três etapas que, ao longo da avenida W3, passa por áreas distintas: residenciais de baixa densidade em uma das late- rais da avenida. Primeira etapa: deve ligar o Terminal Sul ao Shopping Brasília (SCN), pela Avenida W3, pas- A possibilidade de serem geradas mais bar- sando pelo Shopping Pátio Brasil (SCS) e, por reiras físicas ao longo de todo o percurso e, no- meio de um rebaixamento dos trilhos, passar sob tadamente, na passagem pelo Eixo Monumental. o Eixo Monumental, conforme mostra o Destaque A falta de clareza ainda sobre as formas de 1 da imagem da direita. relações, travessias e tratamento dos espaços Segunda Etapa: deve ligar o Shopping Bra- públicos ao longo do todo o percurso do trem. sília (SCN) ao Terminal Norte, na extremidade da 08 - Plano de Ação para a Vila Planalto Asa Norte, também ao longo da W3. Terceira Etapa: deve ligar o Terminal Sul ao Data do projeto: maio de 2009 Aeroporto Internacional, passando por trás do Jar- Autoria do projeto: SEDUMA, GDF. dim Zoológico. Apreciação: o plano foi elaborado pelo GT Como meio de transporte coletivo urbano, o criado em 10/2008 para PROPOR SOLUÇÕES VLT tem-se mostrado muito eficiente e perfeita- PARA SANAR DESCONFORMIDADES IDENTIFI- mente adaptado ao dia-a-dia dos moradores e CADAS PELO Relatório do Plano de Verificação usuários ao redor do mundo. da SUCO-Subsecretaria de Controle Urbano/SE- As questões trazidas para os debates durante DUMA. O GT levou em consideração os resulta- as reuniões plenárias e preparatórias do diagnós- dos do Seminário “Vila Planalto em Proposta”, de tico do PPCUB dizem respeito a algumas preo- 11/2008, reunindo órgãos do GDF. cupações que não parecem perfeitamente equa- O Plano é complexo, meticuloso, exaustivo e Fonte: SEDUMA, 2008. 123 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 3.12. Revitalização Setores Centrais: Setor bem concatenado. Define as responsabilidades fazem parte da denominada escala gregária, que Comercial Norte (SCN) e os papéis dos órgãos envolvidos nas soluções se caracteriza por espaços mais densamente uti- apontadas e o prazo para sua resolução. Admite lizados, propícios ao encontro, nos quais são per- que o poder público abandonou a Vila, daí provin- mitidos usos diversificados e onde foi prevista a do a degradação do seu ambiente e as irregulari- verticalização da paisagem. dades ali praticadas. Por um lado, o fluxo de pessoas, bens e servi- No Plano compete ao PPCUB traçar as dire- ços durante os dias úteis da semana nos setores trizes a serem estabelecidas para a preservação centrais reflete a vitalidade das áreas onde, entre- da Vila; especialmente, a avaliação do tombamen- tanto, a mobilidade encontra-se bastante prejudi- to da mesma, procurando adaptá-lo às circuns- cada. Para os pedestres, o espaço livre público tância presentes. carece da manutenção e implantação de calça- das adequadas à circulação dos diferentes tipos Há no Plano uma lacuna importante quanto à de freqüentadores dessas áreas. Além disso, a recuperação da qualidade urbana e arquitetônica arborização e a iluminação pública são insuficien- da Vila, a ser resgatada. tes para garantir adequada qualidade ambiental Estão fora do Plano as relações e impactos urbana. A atração de enorme quantidade de veí- da vizinhança sobre a Vila, sua extensão. culos para esta área implica a presença de gran- Inexiste menção a fontes de recursos para a des bolsões de estacionamento e a utilização de execução do que é proposto cujos componentes, áreas improvisadas, promovendo a degradação como redes de drenagem de águas pluviais e progressiva do espaço livre público e a obstrução rede de esgoto, são onerosos. sistemática do sistema viário de acesso aos se- tores e às edificações, para os pedestres e para O trabalho não é acompanhado por plantas os veículos de serviços públicos (bombeiros, am- ou quaisquer ilustrações sobre a área tombada e bulâncias, veículos de manutenção de redes de área de tutela. Tudo indica, haverá a contratação infra-estrutura), implicando situações de perigo e de vários dos produtos necessários para embasar insegurança a muitas áreas. Por outro lado, os se- as ações de regularização da situação fundiária tores centrais caracterizam-se pelo esvaziamento da Vila, como inventários e análises da situação à noite e nos finais de semana, como resultado da atual. Com alguns aperfeiçoamentos, o Plano para setorização de funções e da proibição do uso re- a Vila Planalto poderia servir como o modelo para sidencial nas normas de uso do solo dos setores. a Telebrasília e em parte para a Candangolândia. Como conseqüência, a prostituição, o comércio de drogas ilícitas transformam estes espaços em 09 - Programa de Revitalização dos Setores ambiente marginalizado e evitado pela população Centrais, GDF, SEDUMA, 2009 a) Setores Centrais Norte Integram os setores centrais a Plataforma Rodoviária, os Setores Bancários,de Autarquias, Diferentemente dos correspondentes na Asa Comerciais, de Diversões, Hoteleiros, Médicos- Sul, os Setores Comercial, Hoteleiro, Médico- -Hospitalares e de Rádio e Televisão, localizados -Hospitalar e Rádio e Televisão Norte foram im- na parte sul e norte do Plano Piloto. Esses setores plantados mais tardiamente. Observam-se, ainda, Fonte: SEDUMA, 2008. 124 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA muitos lotes por construir, além de muitas constru- para comércio e prestação de serviços. O SCN-A Figura 3.13. Revitalização Setores Centrais: Setor ções em andamento, de modo que carecem de apresenta um trecho próximo ao Eixo Rodoviário Hoteleiro Norte (SHN) calçadas, arborização, iluminação pública e mobi- Norte, que abriga lotes contíguos com altura má- liário urbano, além da implantação de trechos do xima de 58,00m (cinqüenta e oito metros). Cons- sistema viário. tam ainda seis lotes isolados com área de 900m² (novecentos metros quadrados) e outros seis lotes A inadequação das espécies ao espaço e com área de 1.600 m² (um mil e seiscentos metros uso urbano pode comprometer a segurança dos quadrados), nos quais são permitidas edificações transeuntes, a estética e a harmonia dos espaços, com 9,00m (nove metros) e 48,00m (quarenta e além de colocar em risco a integridade das plan- oito metros), respectivamente. O SCN-B apresen- tas e provocar situações de desconforto. O projeto ta dois lotes de grandes dimensões que abrigam de paisagismo, quanto ao elemento vegetal, deve centros comerciais. O desenho urbano parece ter considerar a largura das calçadas e canteiros, ca- sido concebido no sentido de franquear o interior racterização das vias, presença de fiação aérea e do setor ao fluxo de pedestres. Entretanto, a au- redes subterrâneas de infra-estrutura, recuo das sência de urbanização, com espaços qualificados construções, tipologia das construções, caracte- de convívio, e a ocupação por estacionamentos rísticas do solo, clima da região, orientação solar, informais, dificultam o fluxo de pedestres. Em sua atividades predominantes, levantamento da arbo- maioria, as edificações não apresentam abertu- rização existente, para então eleger as espécies ra no térreo, com pouca interação com o espaço mais indicadas, os locais corretos e a disposição público. As projeções menores que deveriam ser adequada para sua implantação. ocupadas por comércio de apoio, abrigam, em Pode-se observar que os automóveis não res- sua maioria, instituições governamentais. peitam os limites e invadem as vagas frontais ou calçadas. Na maioria dos estacionamentos, o ele- c) Setores Hoteleiro Norte mento vegetal é ausente ou apresenta porte ina- Nas extremidades do setor são previstos dequado. Além disso, observa-se que o espaço grandes lotes destinados a complexos hoteleiros, público é utilizado prioritáriamente pelo veículo, com altura máxima de 65,00m (sessenta e cinco como consequencia da falta de delimitação de metros). Na parte central encontram-se lotes e vagas, dos canteiros inutilizados, das dimensões projeções isolados destinados a hotéis com ga- reduzidas da coroa de plantio na base das árvores barito que variam de 3 pavimentos até 38,00m e da extensa área impermeabilizada com asfalto. (trinta e oito metros) de altura, complementados por lotes de pequenas dimensões destinados a b) Setores Comercial Norte restaurantes, boates e postos de abastecimen- O Setor Comercial Norte (SCN) é compos- to de combustíveis. O sistema viário é articulado to de duas partes fracionadas pela Avenida W3, com os setores lindeiros, com vias dispostas no denominadas como SCN - parte A, para a fração sentido norte/sul, que garantem boa acessibili- localizada entre o Eixo Rodoviário Norte e a W3 dade ao local. Para as projeções, é permitida a e como SCN – parte B, para a fração localiza- construção de “embasamento”, que se constitui da entre a W3 e o Setor de Grandes Áreas Nor- em edificação em lâminas horizontais ao nível do te (SGAN). De maneira geral, apresentam o uso pavimento térreo e sobreloja para ampliação das Fonte: SEDUMA, 2008. 125 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 3.14. Revitalização Setores Centrais: Setor áreas de atendimento e de serviços do hotel. Não banístico desses Setores previa a separação do Médico Hospitalar Norte foram previstos caminhamentos contínuos para fluxo motorizado do fluxo de pedestres, deixando pedestres ou mesmo espaços públicos de conví- o sistema viário em subsolo e criando uma es- vio. Apresenta deficiência de vagas para estacio- planada de pedestres no nível térreo, que corres- namento em superfície. ponde ao nível do sistema viário de acesso aos Setores Bancários. O projeto urbanístico cria lotes d) Setor Médico-Hospitalar Norte com maior dimensão no subsolo e, a partir do tér- Neste setor foram previstos dois grandes lo- reo, menor dimensão e maior altura, configurando tes, com altura máxima de dez metros, separados torres. Esta solução urbanística não foi implemen- por três lotes de menores dimensões, com previ- tada até o presente, por requerer a construção são de até onze pavimentos. São permitidas, de de todas as edificações previstas. Sendo assim, maneira geral, atividades relacionadas à saúde. constatam-se inúmeros obstáculos e grande di- Os lotes maiores localizados nas extremidades ficuldade para a circulação de pedestres. Além do setor são cercados, o que se configura como disso, as construções “em subsolo” ocupam qua- barreira aos transeuntes. Há deficiência na urbani- se a totalidade do lote, mas não são geminadas. zação dos espaços públicos, carência de mobiliá- Em geral, foi feita a opção por criar os acessos rio urbano e grande demanda por estacionamen- motorizados e garagens nas divisas entre lotes, to, em virtude do caráter das atividades do setor. criando falhas entre as bases do nível térreo. A Apresenta uma unidade imobiliária desocupada. implantação da esplanada enfrenta grande dificul- dade construtiva relacionada com a união entre as e) Setor de Rádio e Televisão Norte bases, já que as edificações não foram construí- O projeto de parcelamento do Setor de Rádio das simultaneamente, gerando a descontinuidade e Televisão Norte (SRTVN) apresenta apenas cin- do térreo. Além disso, muitas edificações atribuem Figura 3.15. Revitalização Setores Centrais: Setor de usos aos pavimentos em subsolo que requerem Rádio e Televisão Norte co lotes, que podem abrigar edifícios com altura máxima de 25,00m (vinte e cinco metros), com ga- boas condições de ventilação e iluminação. O re- leria coberta no pavimento térreo configurada pelo cobrimento do térreo conflitará com as exigências recuo de dez metros exigido em relação aos limi- de segurança e salubridade. tes do lote. O uso predominante é para estúdios e emissoras de rádio e televisão, permitindo-se 10 - Revitalização da Avenida W3 - Documento comércio de apoio e escritórios de profissionais Técnico, GDF, SEDUMA, 2009 liberais. Existe um lote não edificado e uma par- “Com base nas determinações do art. 113 da te dos estacionamentos previstos também não foi Lei Complementar 803 de 2009 - Plano Diretor de implantada, o que agrava as condições de urbani- Ordenamento Territorial, o Programa de Revitali- zação do setor. zação da Avenida W3 está destinado a combater as causas da degradação crônica do patrimônio f) Setores Bancário Norte e Sul ambiental urbano. A grande problemática verificada nos Setores As propostas de intervenção têm como refe- Bancário Norte e Sul diz respeito às numerosas rência os estudos apresentados no Concurso Na- Fonte: SEDUMA, 2008. descontinuidades entre os edifícios. O projeto ur- cional de Idéias e Estudos Preliminares de Arquite- 126 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA tura e Urbanismo para a Revitalização da Avenida Requalificação das calçadas voltadas para a W3, realizado em 2002. W3: O Programa de Revitalização da Avenida W3 ‡ reforma da pavimentação e do mobiliário compreende o Setor de Edifícios de Utilidade Pú- urbano existentes, criando condições adequadas blica Norte – SEPN, Setor Comercial Local Resi- para a livre circulação e acessibilidade. dencial Norte – SCLRN, Entrequadras Sul – EQS ‡ cria-se faixa de serviço de largura de 500, Setor Comercial Residencial Sul – SCRS e Se- 1,00m, sobre a qual serão fixadas as peças de tor Comercial Residencial Norte – SCRN e via W2, mobiliário urbano, incluindo novo modelo de gola na Região Administrativa do Plano Piloto. de árvore e um elemento capaz de reunir em um só objeto diversas funções como sinalização, ilu- a) Antecedentes minação e lixeira. A calçada deverá apresentar O programa está estruturado em intervenções ainda uma Faixa Livre, destinada exclusivamente à sobre o espaço público, em diretrizes para a re- livre circulação de pedestres, desprovida de equi- qualificação das edificações, na revisão das nor- pamentos urbanos ou de infra-estrutura, de mobi- mas de uso do solo e na implantação do sistema liário, de rebaixamento de guias para acesso de de transporte coletivo, buscando parcerias entre veículos ou de qualquer outro tipo de obstáculo ou investimentos públicos e privados. interferência permanente ou temporária. Sobre a Faixa livre deverá ser adotada sinalização de piso b) Estrutura do Programa de Revitaliza- podotátil, de modo a definir rota acessível a pes- ção da Avenida W3 soas com deficiência física. ‡ Em 2002, o GDF assinou convênio com o Instituto dos Arquitetos do Brasil para realização Novo desenho urbano para a W2: do Concurso Nacional de Idéias e Estudos Preli- ‡ aumento da área de calçadas na extensão minares de Arquitetura e Urbanismo para a Revita- da Via W2 sul, tanto ao longo dos estabelecimen- lização da Avenida W3 - 22 projetos de todo o País tos comerciais do Setor Comercial Residencial Sul (5 prêmios e várias menções honrosas). (Quadras 500), como ao longo das Superquadras ‡ Em 2004/2005, o Programa de Transpor- 300 Sul; te Urbano / Programa Brasília Integrada prevê um ‡ deslocamento da faixa de rolamento; corredor exclusivo para transporte coletivo na Ave- nida W3. ‡ definição e organização de áreas de esta- cionamento em ambos os lados da Via W2; e ‡ Em 2007, propõe-se o modal Veículo Leve sobre Trilhos para o corredor exclusivo da Avenida ‡ instalação de novos elementos de ilumi- W3. nação pública, mobiliário urbano e sinalização, adequados aos parâmetros de acessibilidades e Figura 3.16. Áreas de abrangência do Programa de ‡ Em 2009, o PDOT estabelece a Estratégia Revitalização da Avenida W3 arborização. de Revitalização de Conjuntos Urbanos e indica a Avenida W3 como área prioritária de intervenção. Intervenção sobre as entrequadras sul e norte: Fonte: Revitalização da Avenida W3 - Documento b.1)Intervenção sobre o Espaço Público ‡ Sugere-se a transformação da área em um Técnico, GDF, SEDUMA, 2009. 127 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 3.17. Revitalização da Avenida W3: Calçada espaço livre público, que poderá incorporar esta- 1(um) ano. atual belecimentos comerciais, serviços ou o uso cole- O Projeto de Requalificação de Fachada de- tivo no térreo e em dois pavimentos superiores, verá apresentar: com a liberação do uso do subsolo para estacio- namentos. ‡ localização, dimensionamento e tipo de fi- ‡ A proposta visa oferecer alternativas de xação dos letreiros de identificação dos estabele- estacionamento ao usuário do comércio existen- cimentos em todo o bloco, em conformidade com te, mediante a revitalização do espaço no entorno o Plano Diretor de Publicidade II; dos principais pontos de acesso ao transporte co- ‡ modelos ou tipos de quebra-sol, toldos, letivo. grades, telas, passíveis de utilização no bloco; Intervenção sobre entreblocos (becos W3 ‡ solução conjunta para o bloco para reco- Figura 3.18. Revitalização da Avenida W3: Proposta sul): brimento de condensadoras de ar condicionado, de calçada acessível ‡ A proposta para revitalização dos becos exaustores e chaminés; da via W3 busca a requalificação do espaço públi- ‡ padrões para varandas, no caso daquelas co através da oferta de serviços que complemen- aprovadas pela administração pública ou das per- tem as atividades do local. Para que isso ocorra, mitidas pela legislação; é proposta a reorganização espacial dos serviços identificados em cada beco, respeitando o dimen- O Projeto de Requalificação de Fachada sionamento mínimo adequado às áreas de passa- servirá como parâmetro complementar para a gem de pedestres e criando novas áreas de per- aprovação do projeto de arquitetura de todos os manência para usuários, qualificando os serviços módulos ou lotes que componham o bloco. oferecidos naquele local. Propõe-se a redução do IPTU aos contri- Figura 3.19. Revitalização da Avenida W3: Proposta Proposta para estacionamentos e calçadas buintes que realizarem investimentos de requa- do uso do Subsolo SCRLN (700 norte); lificação dos imóveis situados na região-alvo, como forma de incentivo à execução das melho- ‡ Propõe-se a ampliação da calçada e da rias nas edificações da Avenida W3. ilha entre a W3 e o estacionamento mediante a supressão da fita de vagas paralela à via. Reco- ‡ O incentivo será limitado a 50% do IPTU, menda-se ainda a destinação da área ampliada referente ao imóvel objeto do investimento e pres- da calçada para o plantio de árvores de pequeno supõe investimentos mínimos de R$ 20.000,00 e porte. terá duração de 5 (cinco) anos contado da apro- b.2) Requalificação das Edificações vação do projeto de investimentos. ‡ Para a obtenção do incentivo, os proprie- Caberá aos proprietários das unidades imo- tários de imóveis em blocos com Projeto de Re- biliárias inseridas no SCRN, SCRLN, SCRS a qualificação de Fachada aprovado deverão com- definição de uma solução única para a fachada provar a intenção de realizar as melhorias, com a Fonte: Revitalização da Avenida W3 - Documento dos blocos, a ser apresentada na forma de Pro- apresentação do cronograma de obras. Uma vez Técnico, GDF, SEDUMA, 2009. jeto de Requalificação de Fachada em prazo de concedido o benefício, o início das obras deverá 128 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA ocorrer no prazo máximo de 90 dias, sob pena de ‡ estimular a implantação de residências na Figura 3.20. Revitalização da Avenida W3: W2 perda do benefício concedido. Avenida, garantindo a segurança informal neces- situação atual sária à reabilitação da área; b.3) Revisão das Normas de Uso do Solo ‡ estender os usos permitidos na norma, Problemática verificada: permitindo: ‡ Exigência de vagas de estacionamento I - Comercial de bens e Serviços, incluindo ho- para módulos com 5 m de testada. téis, pousadas e pensões exceto comércio varejis- ta de combustíveis e lanternagem; ‡ Normas que não contemplam muitos dos usos implantados (correios, agências bancárias, II- Coletivo ou institucional, nas atividades de cursos seriados, igrejas, entre outros). educação complementar, de saúde, entidades as- Figura 3.21. Revitalização da Avenida W3: Simulação sociativas, entidades recreativas culturais e des- ‡ Subsolos aflorados que não são unidades da W2 requalificada portivas e administração pública, serviços sociais, imobiliárias independentes: seu uso é vinculado organismos ; ao térreo, e sua numeração predial. III – Industrial, nas atividades de confecção de Premissas para a proposta de regularização artigos do vestuário e acessórios; edição, impres- dos usos na Avenida W3 – impacto de pólos ge- são e reprodução das gravações e fabricação de radores de viagens sobre a circulação: produtos de padaria, confeitaria e pastelaria. ‡ A regularização dos usos da Avenida W3, IV- residencial; bem como a introdução de novas atividades impli- ca no aumento do volume de viagens geradas ou ‡ condicionar a instalação de supermerca- dos ou hipermercados, em módulos remembra- atraídas por determinado empreendimento. Quan- Figura 3.22. Revitalização da Avenida W3: Proposta dos dos blocos das quadras 500, à instalação, do a área é bem servida por transporte coletivo, para os becos - alternativa 1 (elementos de proteção como no caso da Avenida W3, a regularização ou internamente ao lote, de área de carga e descarga solar) vista da via W3 sul alteração de usos gera pouco impacto sobre o sis- e de estacionamento compatível com a área cons- tema viário. truída ao lote. ‡ À exceção do ensino seriado, verifica-se ‡ permitir que a área de estacionamento o reduzido impacto da permissão de atividades das novas unidades imobiliárias criadas nas en- geradoras de viagens na circulação da Avenida, trequadras seja considerada no computo de va- devendo-se, apenas, orientar a questão da de- gas de estacionamento para os estabelecimentos manda por estacionamentos que estas atividades nas quadras adjacentes, desde que o proprietário exigem, remetendo ao definido na legislação em do estabelecimento comprove propriedade, co- vigor. -propriedade ou participação em condomínio que adquiriu a unidade imobiliária de entrequadra. Propostas preliminares: ‡ dispensar da exigência de vagas de esta- ‡ estender o uso do térreo ao primeiro sub- cionamento prevista na legislação os estabeleci- solo, desde que respeitados os parâmetros de ilu- mentos que não configurem pólos geradores de Fonte: Revitalização da Avenida W3 - Documento minação e ventilação previstos no COE. tráfego, que ocupem até 3 módulos na SCRS. Técnico, GDF, SEDUMA, 2009. 129 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 3.23. Revitalização da Avenida W3: Proposta b.4) Implantação do Sistema de Transpor- interferência com as intervenções propostas no para os becos - alternativa 2 (pergolados e te Programa de Revitalização da Avenida W3. arborização) vista noturna Foi elencado um conjunto de recomendações por técnicos da SEDUMA, DETRAN, e Secretaria b.5) Ações a serem empreendidas de Transportes, com o objetivo de garantir a boa A revitalização da Avenida W3 sul depende de inserção do sistema de transporte no espaço ur- um conjunto de ações, tanto de iniciativa do poder bano que destacamos a seguir: público, como de iniciativa privada. ‡ Durante o período de transição, a opera- Elaboração e revisão de legislação: ção do ônibus na avenida W3 deverá ocorrer na faixa de rolamento à direita do sentido da via, com ‡ Revisão do Decreto 28.134, de 12 de julho pontos de ônibus readequados, facilitando a inte- de 2007, no que diz respeito à colocação de pu- gração modal. blicidade sobre as marquises da Avenida W3 sul Figura 3.24. Revitalização da Avenida W3: Situação atual do estacionamento da SCLRN ‡ Embora seja necessária a eliminação dos ‡ Elaboração de Projeto de Lei complemen- retornos da Avenida W3, é fundamental a perma- tar que estabelece o Programa de Revitalização nência dos cruzamentos existentes. da Avenida W3, criando os incentivos fiscais, de- finindo as diretrizes de uso e ocupação do solo ‡ A implantação do VLT não poderá reduzir para a área, conforme propostas anteriormente as dimensões das calçadas existentes, uma vez mencionadas. que a arborização lateral constituirá importante fator na manutenção do microclima da avenida, Obras uma vez retiradas as árvores do canteiro central. Parcerias com a iniciativa privada ‡ Deverão ser plantadas mudas de médio porte ao longo da via do VLT, a fim de recuperar o 11 - Projeto de Revitalização da Orla do Lago aspecto paisagístico da área a médio prazo. Paranoá ‡ Deverá ser acomodada a diferença de ní- Autoria do projeto: SEDUMA, GDF. vel entre ambos os lados da Avenida, sendo ne- Objetivo: fornecer elementos para a formu- Figura 3.25. Revitalização da Avenida W3: Proposta cessário refazer as vias laterais à via do VLT. lação de políticas públicas para a implantação de para estacionamento e calçada da SCLRN ‡ A reforma das calçadas ao longo da Ave- um pólo cultural e ações voltadas para as ativida- nida W3, de acordo com os parâmetros definidos des de lazer. pela SEDUMA, deverá ocorrer concomitantemente O Projeto de Revitalização compreende dois à implantação do VLT. conjuntos de situações às quais será dado trata- ‡ A reestruturação da via W2 deverá fazer mento diferenciado, quais sejam: parte das obras de implantação do VLT. a) (Fase I) Pólos já em atividade: ‡ As subestações da CEB localizadas nos ‡ Barragem do Paranoá; becos da Avenida W3 sul deverão ser relocadas conforme sugerido pela SEDUMA. ‡ Ermida Dom Bosco; ‡ As subestações do VLT não deverão criar ‡ Pontão do Lago Sul; 130 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA

‡ Prainha; extenso território, propondo um sistema de ocu- Figura 3.26. Revitalização da Avenida W3: Situação pação para a área, integrando-a por meio de um atual das edificações ‡ Piscinão do Lago Norte. sistema viário e prevendo usos complementares b) (Fase II) Pólos propostos entre si, dos quais a cidade é carente, como uma área destinada às sedes dos organismos interna- ‡ Concha Acústica (píer, quiosques, MAB, cionais, uma voltada para acolher instalações de Sala Sinfônica, Praça, Parque, Centro Comercial, Figura 3.27. Revitalização da Avenida W3: Proposta divulgação científica/técnica, entre outros. O pro- Museu da Igualdade Racial); para organização dos letreiros da Avenida W3 jeto ora apresentado volta-se para a orla do lago ‡ Lacustre Sul (Parque do anfiteatro natural Paranoá. do Lago Sul, requalificação da área da escola de No seu conjunto, a proposta contém um rees- Asa Delta – Morrote, requalificação da área do Pe- tudo da ocupação dos terrenos da borda pública lotão Lacustre, piers, espaços de jogos e espor- da orla do lago, prevendo a recuperação de locais tes); Figura 3.28. Revitalização da Avenida W3: e de equipamentos existentes e degradados, as- Estação tipo com plataforma central, em frente às ‡ Parque da Enseada; sim como aponta para intervenções em diferen- Entrequadras Sul ‡ Beira Lago; tes pontos da mesma, com caráter diversificado, prevendo a instalação de equipamentos a serem ‡ Pier do Braguetto e Parque Vivencial Lago construídos e geridos sob responsabilidade da Norte (passarelas, decks para pescaria, aproxima- iniciativa privada. ção à beira do Lago); Tendo em vista tratar-se de uma extensa rela- ‡ Porto Brasília. ção de projetos, são apontados no presente diag- ‡ Pólo Gastronômico de Brasília (39 edifica- nóstico apenas os pontos que, segundo a equipe, ções de 400m² x 4 pavimentos + garagem com necessitam de uma apreciação detida e uma revi- uso misto; bares e restaurantes tradicionais de são, quando for o caso, assim como um adequa- Brasília; escritórios e ateliers); ção da proposta, abrangendo os seguintes itens, discriminados segundo as pranchas onde apare- Figura 3.29. Revitalização da Avenida W3: ‡ Estações de Transbordo – Bateau Mouche cem: Cruzamentos (terrenos adjacentes ao Clube Nipo com piers, es- tacionamentos e casa de espetáculos); Prancha 11: Setorização de Brasília-Plano de Lúcio Costa. ‡ ARIE do Bosque / QL10 – expansão do Pontão do Lago Sul (pistas de cooper e ciclovias); No Plano de Lúcio Costa inexite o Setor de Uso Mixto, com hotéis, residências , clubes e sho- ‡ Sistema Náutico de Circuito Viário (circuito ppings. Essa área abranage , hoje, clubes, entre náutico, roteiros turísticos, esportes e eventos, la- os quais da aeronáutica e da Imprensa. Especial- zer no Lago). mente usos residenciais são vedados nessa área; A presente proposta de revitalização, con- Prancha 13: novamente comparecem áreas tratada pela EMBRATUR, retoma o Projeto Orla, de uso mixto, para as quais valem as considera- elaborado em 1995, também por encomenda da ções acima; EMBRATUR e parcialmente implantado pelo GDF Fonte: Revitalização da Avenida W3 - Documento Prancha 14: Integração do projeto orla-fases: até 1998. O primeiro Projeto Orla abrangia um Técnico, GDF, SEDUMA, 2009. 131 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 3.30. Revitalização da Avenida W3: Tratando-se, boa parte dos pontos escolhidos Vicente Pires se fazem sentir ao que se soma a Adequação da via, em função da plataforma do VLT para integração desembocaduras dos manan- proximidade imediata com a Usina de Tratamento ciais formadores do Lago Paranoá, o seu poten- de Esgoto da Asa Sul. A ocorrência de formação cial de exploração é limitado pela normativa am- de algas em grande quantidade verificou-se em biental federal e distrital, assim como, em alguns alguns períodos de anos passados, atestando a caso, estudos e projetos para a despoluição dos necessidade de tratamento ambiental que redu- mesmos, com proteção das margens dos corpos za a poluição das águas naquela secção do Lago d’água a montante; Paranoá. Pranchas de 23 a 32 Polo Turístico: apresenta Pranchas 68 em diante: os projetos se resu- uma ocupação do solo demansiado densa em edi- mem a lançamento da idéias de uso, sem maior ficações, mesmo que as alturas sejam aparente- aprofundamento, nem imagens sugestivas das ar- mente compatíveis com o ambiente e a paisagem quiteturas. da orla. Entetanto, como se trata de um estudo de massa, se faz necessária atenção redobrada para 12 - Entrequadras do Plano Piloto. Levanta- a qualidade das edificaç~eos e o resultado do im- mento, Diagnóstico e Proposições de Regu- pacto da sua volumetria na paisagem.O projeto larização deve analisar as interferências dos equipamentos Data: 2004 - 2006 já construídos e previstos na sua vizinhança dire- ta, como é o caso dos apart-hoteis , cuja densida- Autoria do projeto: GDF, SEDUMA. de e uso residencial ferem a norma de uso para a Este estudo procede ao levantamento e diag- orla, já tendo sido objeto de atenção do presente nóstico das Entrequadras do Plano Piloto, identifi- diagnóstico;. cando a situação segundo as categorias: Prancha 33: a proposição de marquises para a área posterior à Concha Acústica mostra-se ‡ Situação de ocupação e uso; adequada às suas finalidades; ‡ Situação de propriedade; Prancha 35 Polo Concha acústica: : entende- ‡ Atividades previstas; Figura 3.31. Setor Noroeste, vista geral -se que a proposta da implantação de quiosques recupere aqueles ali implantados, com êxito no ‡ Planta registrada; original Projeto Orla; ‡ Normas de Edificação, e Prancha 53 Polo 10 – Parque do anfiteatro ‡ Área do lote. natural do Lago Sul: verifica-se a extensas super- fícies impermeáveis propostas, em oposição á re- O levantamento demonstrou que 23% dos lo- comendação ambiental de conferir permebilidade tes de entrequadras da Asa Sul e 56% dos da Asa máxima nas ocupações desse tipo; Norte encontram-se desocupados (39% no Plano Prancha 63 Polo 10 –Polo Gastronômico de Piloto como um todo). Percebe-se que, na Asa Sul, Brasília: trata-se de área na qual a poluição das a proporção de lotes ocupados é bem maior que águas do lago provenientes do despejo do riacho na Asa Norte – nesta, a maioria dos lotes ainda Fonte: www.agenciabrasilia.df.gov.br está desocupado. Essa situação tem provocado 132 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA indesejável descontinuidade no ambiente urbano, Na comparação entre as normas de uso vi- Gráfico 3.1. Lotes de Entrequadras: uso/atividade deixando vazios entre as Superquadras, em de- gentes e os usos encontrados no levantamento de ϱй ϭй trimento de sua integração por meio dos equipa- campo, observou-se que, dos 86 lotes ocupados ϲй mentos urbanos. nas Entrequadras do Plano Piloto, a maioria apre- ƉƌĞǀŝƐƚĂƐ senta os usos/ atividades previstos nas normas. ĂĨŝŵ Quanto à situação de propriedade das unida- ϭϰй des imobiliárias, no total, 88 terrenos são públicos No que tange à forma de fechamento dos ƉƌĞǀŝƐƚĂͬĂĨŝŵ e 53 privados. 62% dos lotes da Asa Sul são públi- lotes, uma característica definidora do parcela- ƉƌĞǀŝƐƚĂͬŽƵƚƌĂ ϳϰй cos e 38% são privados. A proporção se mantém mento das Entrequadras, o cercamento dos lotes ŽƵƚƌĂ na Asa Norte: 63% dos lotes são públicos e 37% transformou-se em prática comum, prejudicando privados. a fruição pelos transeuntes do que deveria confi- gurar-se como uma praça pública, cujas barreiras Confrontando a situação de propriedade dos Fonte: Entrequadras do Plano Piloto. Levantemento, seriam reduzidas ao mínimo possível. imóveis com os dados sobre ocupação, tem- Diagnóstico e Proposições de Regularização. GDF, -se que, entre os lotes de propriedade privada, Ocorreram modificações do sistema viário e SEDUMA, 2006. a maioria está ocupada, ou seja, com edifícios do parcelamento para facilitar a circulação dos construídos nos lotes. Importa observar que tais automóveis, como na via W2, que foi retificada, construções nem sempre ocupam todo o terreno, em alguns pontos implantando estacionamentos, restando potencial a ser utilizado visando dar a prioridade ao automóvel sobre o pe- destre. Já entre os lotes públicos ou pertencentes à Terracap, a situação é diferente, pois há gran- A diminuição da permeabilidade – da possi- de quantidade de lotes desocupados. A título de bilidade de se cruzar livremente os espaços – das exemplo, todos os 17 lotes ainda ociosos da Asa Entrequadras é um dos problemas encontrados. Sul são de propriedade pública. Os equipamentos esportivos existentes em Dentre os equipamentos previstos pelas nor- lotes para este fim estão deteriorados e subutili- mas para as Entrequadras, as Escolas-Parque e zados. os edifícios de culto religioso são os que contam com maior quantidade de lotes. As áreas dos lo- 13 - Setor Noroeste tes de Escolas-Parque estão entre as maiores das O Setor Noroeste, assim como o Setor Sudo- Entrequadras, somadas todas as unidades imo- este, é um segmento urbano previsto por Lucio biliárias para este fim, porém, ao contrário dos Costa em Brasília Revisitada (1985/1987), como templos religiosos, poucos lotes escolares estão parte das expansões residenciais de Brasília ali ocupados – há 28 lotes previstos em todo o Plano propostas, sem entretanto, cumprir a função a que Piloto, mas apenas 5 Escolas-Parque construídas se destinava na proposta do mesmo: acolher um e em funcionamento – o que sublinha a sensação perfil populacional de estratos de ingressos mais de descontinuidade do ambiente urbano, em de- reduzidos. Ambos ocupam o amplo espaço livre, trimento de sua unidade e de seu desenho con- imediatamente posteriores e lindeiros aos par- ciso, que deveria unir as partes da “unidade de ques Sara Kubitschek e Burle Marx. vizinhança” com construções e tratamento paisa- gístico. O projeto do arq. Paulo Zimbres dispõe no

133 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

 Gráfico 3.2. Lotes de Entrequadras da Asa Sul: espaço 20 superquadras tendo como limite Leste horizontalidade do seu conjunto vêm sendo modi- situação de propriedade o futuro Parque Burle Marx e Oeste uma linha de ficado no tempo e mesmo ameaçando o sentido extensos blocos comerciais, parte do mesmo pro- de conjunto no espaço da superquadra. A dispo- jeto. As quadras são agrupadas em unidades de sição nos blocos mais recentes difere dos blocos ϯϴй WƌŝǀĂĚĂ quatro, separadas entre si por comércios locais. mais antigos, desde a sua implantação até o seu Os limites Norte e Sul da faixa residencial são ocu- volume, acabamento e cor. ϲϮй WƷďůŝĐĂ pados por áreas verdes, apresentadas como futu- Existem hoje, segundo Ficher (2003) duas ca- ras expansões do Parque Burle Marx. Uma ampla tegorias principais de blocos residenciais com ca- faixa entre a área já em obras para a instalação do racterísticas distintas e bem marcadas. Os blocos  setor Noroeste e a EPIA momentaneamente sem Gráfico 3.3. Lotes de Entrequadras da Asa Norte: “antigos” em geral têm feição de lâminas horizon- proposta de uso , é mantida vazia, deixando rever situação de propriedade tais em que predominam componentes retilíneos e futura expansão do bairro. ortogonais, fachadas de vidro, elementos de que- As áreas comerciais locais foram modificadas bra-sol e coberturas planas, sendo representativo ϯϳй WƌŝǀĂĚĂ em relação ao modelo implantado nas Asas Sul e da arquitetura brasileira dos anos 1950; - onde os Norte. As quadras comerciais são constituídas por apartamentos são vazados ou semi-vazados. Já WƷďůŝĐĂ ϲϯй blocos quadrados, distribuídos no centro de um os blocos “recentes” são mais recortados - even- binário de vias locais, aumentando o numero de tualmente com detalhes curvos -, e possuem um lojas com frente para as vias. maior efeito de cheios e vazios, devido ao advento  das sacadas. Neles predominam os componen- Gráfico 3.4. Lotes públicos: ocupação 14 - Superquadras: tempo e espaço. Propos- tes “pesados”, reduzindo as superfícies de vidro tas de dispositivos, legais para pilotis e co- e desfavorecendo sua percepção como volumes berturas puros. Seus apartamentos em geral não são va- EĆŽ Data do projeto: 2005 zados. Devido à expressão das coberturas nas fa- ϰϰй ŽĐƵƉĂĚŽƐ chadas, são também mais altos.(FICHER, 2003). ϱϲй KĐƵƉĂĚŽƐ Autoria do projeto: GDF Percebe-se ao longo da Asa Residencial Nor- A situação de ocupação das Superquadras te, um processo muito lento de implantação das se resume da seguinte forma: das 120 superqua- faixas verdes de emolduramento e do tratamento  dras projetadas no Plano Piloto, 60 estão na Asa paisagístico interno. A porcentagem de implanta- Gráfico 3.5. Lotes privados: ocupação Norte e 60, na Asa Sul, 02 superquadras na Asa ção dessas faixas nas 58 superquadras (duas for- Norte sofreram alteração de uso (Lei n.° 556 de mam o parque Olhos D’ Água) e a seguinte: 07/10/93, Decreto 15.900 de 12/09/94), 01 super- ϭϭй EĆŽ quadra, também na Asa Norte, ainda não foi im- Quantidade Implantação ŽĐƵƉĂĚŽƐ plantada, e 30 superquadras estão com a edifica- KĐƵƉĂĚŽƐ ção das projeções incompletas (05 na Asa Sul e 06 superquadras 0% (inexistente) ϴϵй 25 na Asa Norte). Somam-se, portanto, 1503 pro- 11 superquadras 25% (um lado) jeções projetadas, com 714 na Asa Norte e 789 na 03 superquadras 50% (dois lados) Asa Sul. (fig. 9) Fonte: Entrequadras do Plano Piloto. 02 superquadras 75% (três lados) Levantemento, Diagnóstico e Proposições Segundo Ficher (2003), a disposição das 36 superquadras >75% (completas) de Regularização. GDF, SEDUMA, 2006. edificações, a percepção dos cheios e vazios e a 134 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA

O fato da faixa verde não ser implantada con- por todos os moradores do bloco, individual, uti- dualizada ligada ao 6º (sexto) pavimento, no pa- tribui, em conjunto com a falta de um tratamento lizada apenas pelo apartamento imediatamente drão de apartamento duplex. paisagístico nas áreas verdes internas das super- abaixo da laje, e mista, quando existem os dois São consideradas irregularidades os avanços quadras da Asa Norte, na não configuração deste tipos citados. de construção no afastamento de 2,5 m com per- espaço enquanto lugar de vivência. Nas superquadras norte, do total de 78 pro- golados, toldos, etc.. Nestes termos, tal como foi recomendado no jeções com cobertura, a maior parte é individual, Assim, das 78 coberturas existentes na Asa Relatório do Plano Piloto de Brasília, sua implan- com 39%, em seguida vêm as coletivas com 33% Norte, 71% possuem irregularidades, sendo que a tação deveria ter sido anterior e não posterior ao e depois as mistas com 28%. maior parte está na faixa 200 com 48%, em segui- processo de construção dos blocos, como foi e é Ainda na Asa Norte, 13% das projeções utiliza da vem a faixa 300 com 35% e depois a faixa 100 constatado. a cobertura, sendo que quase a metade das proje- com 13%. Ou seja, a faixa 200, mesmo sendo a Com relação às superquadras da Asa Sul (60 ções com cobertura estão na faixa 200, vindo de- que tem menor número de projeções construídas, superquadras), embora todas tenham suas fai- pois a faixa 300, e a faixa 100. A faixa 200, além de ainda é também a que possui maior número de xas verdes implantadas, praticamente todas as possuir o maior número de coberturas, comporta coberturas ocupadas, maior número de cobertu- faixas verdes implantadas carecem de projeto e ainda 56% das coberturas individuais, 42% das ras por tipo e maior número de irregularidades nas acompanhamento adequado para a verificação coletivas e 36% das mistas. Situação diferente da coberturas. do desempenho de sua vegetação (tipo de árvo- encontrada na faixa 300, por exemplo, que possui Algumas irregularidades devem ser desta- re, espaçamento). Grande parte desta vegetação 38% das individuais, 31% das coletivas e 27% das cadas, como os “kits-piscinas” (piscina + deck), introduzida no início da construção de Brasília, era mistas, portanto, mais homogênea. encostados no limite da projeção e que levam originária de outros biomas, observando-se inclu- A faixa 400, apesar de ser a que possui maior a um acréscimo nos guarda-corpos acima dos sive um processo de envelhecimento precoce em número de projeções construídas e projetadas, é 1,50m regulares. Também foram verificados con- algumas espécies. a que possui menor número de coberturas e, evi- flitos com relação à ocupação de 40% da área da A ausência de projeto e acompanhamento dentemente, menor número de irregularidades. projeção, sendo constatado algumas vezes em adequado repete-se para as superquadras da Asa cada cobertura individual uma ocupação de 40% Quanto às irregularidades das coberturas, Norte. da projeção, e não com relação a área total da percebe-se que as informações acima citadas de- cobertura como estabelece a legislação vigente. Com relação à ocupação das coberturas, as correm em grande parte, do fato das quadras das Ainda foram constatados avanços até o limite da duas asas juntas somam 35 (trinta e cinco) super- faixas 300 e 200 não terem sido ocupadas ime- projeção ou até mesmo além dele, quando do quadras que possuem projeções construídas com diatamente, como ocorreu com a faixa das 400, aproveitamento das áreas de concessão para va- utilização da cobertura. Na Asa Sul são apenas por exemplo, e justifica o fato da maior parte das randas ou torres de circulação, sendo ignorados 12 (doze) superquadras que possuem projeções coberturas estar situada na faixa 200. os afastamentos mínimos exigidos. com construção de cobertura e na Asa Norte são Devido a faixa 200 ter sido a última a iniciar 23 (vinte e três). Na época em que foi aprovada a Há situações em que as alturas das constru- sua ocupação, não houve situação propícia à legislação que permitia a utilização de coberturas ções, somadas às concessões das torres de cir- construção de tipologias uniformes e ordenadas. a Asa Sul já estava praticamente completa, o que culação, constituem pontos de destaque em con- A legislação atual, que permite a ocupação de explica a maior incidência da ocupação das co- flito com os demais blocos da quadra. Também 40% dos pilotis e das coberturas, já estava apro- berturas na Asa Norte. foi constatado a elevação das torres de circulação vada. Por sua vez, abrindo-se a possibilidade de vertical, que ultrapassam em grande altura o cor- As coberturas foram classificadas por tipo uso coletivo, misto ou individual das coberturas, po da edificação, e são justificadas como neces- de ocupação em coletiva, que pode ser usada seria generalizada sua utilização de forma indivi- sárias para atender as novas tecnologias.

135 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Apesar da maior parte das irregularidades ocupação permitida para a ocupação dos pilotis é edifícios são implantados sem projeto de urbani- serem encontradas nas coberturas individuais comprovadamente alta, diante dos princípios de zação, ou seja, sem asfalto, grama, arborização, (“duplex”), foi possível verificar a existência de um livre circulação, fácil acessibilidade e de alta per- meio-fio, calçadas, inclusive com a rede de ener- número significativo de irregularidades nos perí- meabilidade visual, concebidos para os espaços gia elétrica aérea. Uma situação que permanece metros das coberturas coletivas. Constatou-se que públicos no interior das superquadras. Para isto por tempo indeterminado, o que leva a soluções o grande problema não é somente conseqüência também contribui a utilização como barreiras de de paisagismo individualizado para cada bloco, da permissão da utilização das coberturas, tendo jardineiras, cercas vivas e guarda-corpos. perdendo-se o planejamento do conjunto. sido verificado os seguintes agravantes: Os usos encontrados nos pilotis das pro- Algumas novas permissões previstas em lei ‡ a falta de implementação de todo o pro- jeções foram: casa do zelador, escritório, lixeira, acarretam a descaracterização dos princípios da cesso de fiscalização, pois somente a notificação salão de festas (múltiplas utilidades), copa, sa- superquadra, e que por isso devem ser revistas, diminui a credibilidade e o poder de persuasão nitários, sala de jogos, depósito de materiais de tais como, o avanço desnecessário sobre a deste efetivo, imprescindível na condução correta limpeza, bicicletário, sala de reuniões, biblioteca, área pública das torres de circulação externas da implantação dessas ocupações; brinquedoteca, sala de ginástica. A diversidade de ao edifício, um elemento a mais a obstruir a usos é surpreendente e essas atividades concor- circulação dos pedestres permitida pela NGC ‡ a falta de conhecimento e consciência da rem com a proposta da Unidade de Vizinhança, 021, COE/1989, e as concessões de uso, au- comunidade moradora das superquadras sobre na qual as atividades de lazer e de encontros da como se deve tratar um lugar de relevante impor- comunidade teriam lugar nas entrequadras, onde torizadas pela Lei Complementar nº 388, de tância cultural e arquitetônica; foram previstos os clubes de vizinhança, os espa- 01/06/2001. As concessões em subsolo, para ‡ e as falhas existentes na legislação que ços de convívio, os cinemas e os locais de culto, ampliação de garagens, que avançam sobre não deixa claro, em alguns itens, como deve se dentre outros. a área pública fora da projeção, resultam na dar a ocupação desses espaços. Outro problema é o superdimensionamento impermeabilização do solo no entorno da edi- ficação, assim como da superquadra. Ainda a Quanto à situação dos pilotis nas superqua- das áreas construídas para cada uso, a exemplo área pública das quadras perdem em termos dras, os mesmos foram classificados como de das guaritas que têm ocupado grande área dos permeabilidade alta, média e baixa. pilotis (muitas vezes com mais de 6 m2), inclusive de continuidade, visto que a extensão de aflo- com sanitário exclusivo para o zelador, bem como ramentos e de taludes em superfície devido ‡ alta permeabilidade: até 25% de ocupa- os acessos às prumadas, que têm se transforma- às garagens em subsolo, constituem-se em ção; do em “salas de estar”, com uma média aproxima- barreira impedindo a franca acessibilidade em 2 ‡ média permeabilidade: de 26% a 30% de da de 9 a 10 m . toda superquadra. ocupação; Foi constatada a prática da implantação de No que diz respeito à concessão de uso ‡ baixa permeabilidade: acima de 30% de taludes que criam desníveis com relação ao en- aérea, essa legislação possibilita o rebatimen- torno. De acordo com a concepção original, as ocupação. to de unidades domiciliares para ambos os quadras deveriam ser niveladas ou ocupadas com o aproveitamento de desníveis por meio de terra- lados, alterando a disposição original de plan- A alta densidade de ocupação nos pilotis plenos, devidamente coordenados com as edifi- tas vazadas, ocasionando confrontação de fa- corresponde a dificuldades na circulação e na vi- cações, buscando sempre a livre circulação, bem chadas nos blocos paralelos. Essa disposição sualização do entorno. Fato constatado mesmo como a sua adequação à utilização pública dos de fachadas interfere na privacidade dos mo- quando os pilotis são ocupados de acordo com o espaços da superquadra. radores e impede o usufruto de espaços aber- que prevê a legislação que permite 40% de ocupa- tos e arborizados, privilégio e garantia a todos ção. Ao que se conclui que mesmo a atual taxa de Nas quadras de construção mais recente, os 136 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA os moradores de qualquer superquadra. O mil pessoas citado no documento Plano de Ocu- No que se refere à preservação do Plano Pi- aumento da área construída das edificações pação, das quais 205 mil flutuantes e 176 mil re- loto e seu entorno, a proposta contida no Plano e da impermeabilização do solo em superfí- sidentes em 44 mil unidades residenciais. Apesar de Ocupação do eixo Interbairros apresenta riscos cie - devido tanto à concessão aérea como do de não haver menção ao volume de veículos parti- severos na medida em que implica em conflitos os subsolo - acarretou a diminuição das áreas li- culares gerado, dado o número previsto de unida- princípios para tanto adotados, quais sejam: des residenciais, pode-se estimá-lo próximo a 40 vres e arborizadas que se estruturavam como mil veículos, parte dele a ingressar diariariamente ‡ reforça o adensamento da ocupação no bosques e que estão sendo substituídas por no PP. interior da Bacia do Paranoá; jardins de caráter privativo, perdendo a carac- ‡ altera a paisagem do entorno do PP; terística de conjunto da cidade-parque. O percurso proposto para o eixo Interbairros se inicia na extremidade sul do Plano Piloto, articu- ‡ tende a carrear para o sistema viário do 15 - Interbairros: plano de ocupação (versão lado à Av. W3 Sul , e, à seguir, por meio de duas Plano Piloto, já saturado, um volume ainda maior II - 01/2008) novas vias cortando transversalmente o Setor Mi- de veículos particulares; litar Urbano Sul em direção à EPIA. Trecho desta ‡ implica em ampliação da EPIA em um tre- O Plano de Ocupação do eixo Interbairros na tem sua ampliação é prevista para suportar o novo cho já sobrecarregado da mesma e a abertura de versão analisada propõe a abertura de um novo fluxo nos acessos ao eixo Interbairros que se ini- duas novas vias seccionando o Setor Militar Sul, eixo de assentamento de atividades, atravessan- cia propriamente no limite do PP, junto à EPIA, na já na área tombada, para, a seguir lançar parte do do o quadrante sudoeste do DF, paralelo à EPTG, altura do Mercado Carrefour Sul, seguindo até a seu fluxo veicular na via W3 Sul. combinando habitação, com comércio, serviços estação de metrô de Samambaia. e uso institucional, acompanhados da respectiva Constata-se que o percurso do transporte por Devido os compromissos nacionais e interna- rede viária troncal posicionada ao centro do mes- ônibus em faixa exclusiva ao longo da via Inter- cionais assumidos coma preservação de Brasília mo, caracterizando-o e, acompanhando parcial- bairros ao chegar ao Plano Piloto não se encontra e seu entorno paisagístico, a Bacia do Paranoá mente o percurso do metrô de superfície, conten- explicitado, com a dificuldade adicional de não ha- não comporta maior adensamento. Já é consenso do ainda previsão de ligações transversais com a ver, no sistema viário do limite sul do PP vias que entre os técnicos, os políticos e a população do rede existente. Vindo do PP, no percurso paralelo comportem corredor de ônibus com pista exclusi- DF é de que a melhoria da fluidez de tráfego no ao da cidade de Águas Claras, a via Interbairros va, com exceção da extensão da L2 Sul, lindeira entorno do PP e no seu interior depende da oferta se afasta do metrô, deixando-o a sua direita. Trata- ao Zoológico, recentemente ampliada. de opções de transporte de massa e pela redução -se de proposta com pontos em aberto, como a do transporte individual. Fica pouco evidenciada implantação de faixa exclusiva de transporte co- Observa-se ainda que as obras viária de eficiência das soluções de deslocamento da po- letivo, com estações de embarque a cada 500m maior vulto previstas no eixo Interbairros concen- pulação propostas no Plano de Ocupação do uma da outra e estações tubo de integração com tram-se no interior da Bacia do Paranoá, com duas eixo Interbairros. Metrô, e outras pendentes das decisões sobre im- importantes transposições sobre a linha do Metrô, plantação de outros projetos viários, entre eles a além do eixo seccionar o Parque do Guará em No que diz respeito ao modelo de ocupação instalação do VLT na Av. W3 Sul. dois pontos. urbana, a criação de um ou vários novos pólos de atividades externos à Bacia do Paranoá, compre- As previsões de população abrangida pelo Quanto aos projetos de redes em geral, en- endendo áreas habitacionais e correspondentes projeto variam de 1 milhão, número contante no tre elas as de captação de água e tratamento de postos de trabalho, que permitam um novo equilí- documento composto por lâminas /slides conten- efluentes e seus respectivos custos, ainda não fo- brio em relação à atual concentração do emprego do a proposta de parcelamento organizado em 4 ram incorporados ao projeto, não sendo mensio- no PP é imprescindível para a sustentabilidade do trechos, das quais ½ milhão na Bacia do Paranoá, nadas as previsões de demanda e possibilidades DF, assim como para a preservação do Plano Pilo- sendo 250 mil pessoas em cada trecho, para 415 de captação. 137 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB to e seu entorno. O modelo adotado para a urba- ta ao propor as manchas habitacionais do Brasília nização do DF é, desde sua gênese, nuclear, com Revisitada, destinadas a reduzir o desequilíbrio de distanciamento entre as cidades, ao contrário de oportunidades para que os estratos de mais bai- uma urbanização contínua em extensão na forma xos ingressos residam na capital do país. de corredor. A adoção do modelo de urbanização de Águas Claras veio de encontro a essa opção, deixando flagrante a sua incompatibilidade com a cultura urbanística consolidada do DF, por resultar em uma massa edificada contínua, em altura, na forma de um paredão, o que fere a paisagem do DF e especialmente da Bacia do Paranoá, marca- da até então pela horizontalidade da sua ocupa- ção, traço de configuração resultante de opção do urbanismo modernista e consagrado pelos tombamentos federal e distrital assim como pela inscrição de Brasília na categoria de Patrimônio da Humanidade. Um novo eixo de ocupação em densidade e altura, criando uma longa cortina de prédios altos com picos de edificações de até 30 pisos, ferirá ainda mais e agredirá a placidez característica da paisagem do entorno do PP. Se reforçaria com essa opção de ocupação urbana a polarização vi- sual criada por essas cortinas, contínuas e densas, em contraposição ao verdadeiro centro da capital, o Plano Piloto. Esse equívoco já se faz presente hoje na medida em que os visitantes, diante da semelhança da densidade construtiva de Águas Claras com as urbanizações correntes das gran- des cidades, se sentem confusos e questionam onde se situa mesmo o centro da capital do país. Outrossim, em base às informações ofere- cidas pelo Plano de Ocupação, é apresentado o volume exponencial de lotes a serem negociado com a iniciativa privada e os valores obtidos. Na medida em que esses números são fruto de pata- mares aproximados de valorização do PP, a serem praticados ao longo do Eixo da Interbairros, seria frustrada, mais uma vez, a intenção de Lúcio Cos- 138 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA

3.4. Influência de Grandes Equipamentos na Área Protegida no seu Entorno Imediato ou Área de Influência

Considera-se aqui o impacto da implantação Terminais de transporte, como é o caso da- o que impõe um grau de dificuldade maior no seu de grandes equipamentos sobre a área protegida. quele em conclusão na sequência da extremida- uso. O antigo terminal, além de se situar em local Incluem-se, neste caso, equipamentos que afetam de da Asa Sul, também se enquadram nesta si- de grande acessibilidade local e regional, localiza- a área protegida e entorno, tanto pela função de- tuação pela sua escala, necessidade de grandes va-se em situação de eqüidistância em relação ao sempenhada e grau de atratividade da atividade, áreas de estacionamento e a quantidade de fluxo Plano Piloto. quanto pelas formas de ocupação do solo. veicular que atraem. Equipamentos de grande porte e com impac- No primeiro caso, com referência à Asa Nor- No caso da extremidade da Asa Sul, a grada- to significativo na atratividade de pessoas e veícu- te, podemos destacar atividades de grande porte tiva elevação dos gabaritos, a exagerada massa los devem passar por critérios rigorosos para sua que geram um intenso movimento veicular, como construída e a densidade do setor hospitalar, acar- localização, evitando conflitos potenciais e interfe- é o caso do Big Hipermercado, o Carrefour, o retam a quebra da relação antes harmoniosa em rências negativas para o conjunto do Plano. Boulevar Shopping (STN), na extremidade da Asa. relação às quadras residenciais da W3, além de Além do porte dessas edificações e do movimento inviabilizarem seu sistema de circulação. gerado, grande parte da superfície não utilizada Pela sensibilidade das áreas ao longo do pela edificação é utilizada para estacionamento de Lago Paranoá e nos limites do Plano Piloto dese- veículos, transformando-as em áreas áridas e que, nhado por Lúcio Costa, é fundamental tratar as pela escala e localização, confundem e interferem novas intervenções de modo especial, por meio na leitura do Plano Piloto e dos seus limites. A mes- de localização adequada, taxas de ocupação bai- ma situação ocorre ao longo do Lago Paranoá, em xas, porte das edificações, limitação de áreas para empreendimentos como o Pier 21, o qual, afora a estacionamentos ao ar livre, tratamento com vege- edificação de grande porte, é constituído por ex- tação das áreas livres de edificação, etc. para que, tensas áreas de estacionamento, tanto na sua par- mesmo quando necessários, esses equipamen- te frontal, quanto na dos fundos, prolongando-se tos não produzam conflito pelo seu funcionamento quase até a orla do lago. Este tipo de ocupação e pelo seu impacto na paisagem, principalmente – que encontra semelhanças com alguns clubes em relação a sua preservação. e outros empreendimentos que ocuparam intensi- vamente suas áreas - bloqueia a possibilidade de O impacto desses equipamentos extrapola as permeabilidade da cidade para seu lago e tende a suas áreas de abrangência imediata e se mani- interromper as áreas de acesso da população ao festam em áreas mais distantes. Caso típico é a lago ao longo da sua margem. tendência anunciada na área da Candangolândia de implantação de hotéis para explorar a localiza- A elevação exagerada do gabarito e a volu- ção da nova rodoviária interestadual junto à es- metria pesada das edificações do Setor Hospita- tação do metrô na extremidade da Asa Sul. É de lar Norte, acarretando não só sua presença maci- se referir, também, que este novo terminal não se ça na paisagem, aliada à atração de um volume encontra, como o antigo terminal na extremidade maior de veículos, acarretam conflitos na extremi- do Eixo Monumental, ao longo dos eixos de maior dade da asa norte, em patente desacordo com a acessibilidade do Distrito Federal (Holanda, 2008), proposta original. 139 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 3.32. Implantação de equipamento comercial (shopping), Setor de Clubes Esportivos Sul (SCES)

Figura 3.33. Extremidade da Asa Norte, Setor Hospitalar Local Norte (SHLN) e Setor de Habitações Coletivas Norte (SHCN)

Figura 3.34. Extremidade da Asa Sul, Setor Hospitalar Local Sul (SHLS) e Setor de Habitações Coletivas Sul (SHCS)

Fonte: Google Earth, 2010 140 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA

3.5. Características das Áreas Tombadas

Considerando os objetivos do PPCUB e deste valoração aqui proposta, a qual será necessaria- Área de Interesse de Preservação (AIP) diagnóstico, enquanto momento de valoração e mente contrastada com a situação atual do bem É a zona de preservação periférica deste con- crítica da situação atual da área tombada e de seu tombado no percurso de tempo decorrido. junto, onde as medidas de proteção são me- entorno, a definição de valores, graus e níveis de nos rígida”. O Dossiê do Grupo de Trabalho para a Pre- proteção é um momento metodológico importan- servação do Patrimônio Cultural de Brasília e sua Incluídos nestas três áreas encontram-se lis- te. Ressalta-se que esta será uma análise prelimi- inscrição como Patrimônio Cultural da Humanida- tados pelo GT Brasília elementos testemunhas re- nar, devendo ser observadas as particularidades de (1986) definiu o conjunto do Patrimônio Histó- presentativos da etapa inicial de Brasília – primeira de cada setor no sentido de identificar especifi- rico, Natural, Cultural e Urbano de Brasília como metade dos anos 60 – os quais o Dossiê sugere cidades, assim como avaliar os instrumentos de o espaço projetado para tornar-se a nova capital uma proteção legal rígida. Trata-se das obras pri- reconhecimento do sitio aplicáveis, adaptando-os do Brasil, bem como os elementos testemunho de mas da Arquitetura e da Arte Modernas: o Palácio caso a caso. O que se propõe neste momento da cada etapa da história e do processo de ocupa- da Alvorada, o Palácio do Planalto, a Catedral, o etapa do Diagnóstico é a definição da lógica para ção do território do Distrito Federal e da constru- centro histórico da Universidade de Brasília, cer- a identificação dos graus de valoração e estrutura- ção da cidade. to número de “superquadras” do primeiro período ção das Zonas e Níveis diferenciados de proteção, e, no Setor de Embaixadas, diversos exemplares A seguir transcrevemos a caracterização pro- a serem realizados no desenvolvimento da Etapa da arquitetura internacional. Entre estas obras, posta no documento para os diversos espaços de Prognóstico. incluem-se também os projetos de Niemeyer e de que compõem o conjunto de Brasília: A seguir procede-se à identificação do grau Lucio Costa, os jardins de Burle Marx assim como de valoração específica, nos termos do Edital da obras de arte de qualidade internacional. Licitação, para no sub capítulo seguinte identificar- “Visando sua proteção jurídica, este espaço No que diz respeito ao entorno do Plano Pi- foi dividido em três zonas de proteção que -se os níveis propostos de proteção. loto, o GT – Brasília identifica como elementos a correspondem aos diferentes níveis de con- serem preservados os exemplares vernaculares 3.5.1 Grau de significação específica (Va- trole: anteriores à construção da Capital, os acampa- lor Patrimonial) Área de Interesse Especial de Preserva- mentos operários e os sítios naturais suplementa- A inscrição de Brasília na lista de Patrimônio ção (AIEsp) res às três áreas de proteção, conforme transcrito da Humanidade alicerçou-se nos estudos levados Trata-se do Plano Piloto, nome dado à zona a seguir: a efeito desde 1981 pelo Grupo de Trabalho para projetada por Lúcio Costa para tornar-se a a preservação do patrimônio cultural e natural de sede da nova capital do Brasil. É o objeto prin- cipal de proteção dentro do conjunto urbano. “O VERNACULAR Brasília – o “GT Brasília”, composto por represen- O centro histórico de Planaltina (1859) tantes da Fundação Pró-Memória/MinC, GDF e Área de Amortecimento (AAm) (...) UnB – cujo Dossiê, preparado no correr do ano São as quatro zonas adjacentes à AIEsp cuja O centro histórico de Brazândia (1933) de 1986, descreve os atributos fundamentais a se- função é a de preservar o Plano Piloto, de ma- (...) rem preservados e contém o pedido de candida- neira a conservar as características fundamen- As antigas fazendas existentes no território do tura brasileira à inscrição da sua capital, levado à tais do desenho original. Neste caso, as AAm DF análise do WHC- UNESCO e do seu o organismo observarão os temas contraste em relação ao (...) Sobradinho, Monjolo Jardim, Capão dos assessor, o ICOMOS. Este documento, pela sua Plano Piloto, realizando ao mesmo tempo a Porcos, Bela Vista, Gama, Curralinho e Ponte profundidade, servirá de ponto de partida para a transição com a Área de proteção periférica. Alta. 141 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

OS ACAMPAMENTOS OPERÁRIOS (...) Vila Planalto, Vila Metropolitana, com sua igreja Nossa Senhora de Fátima, o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira, Candan- golândia com sua igreja São José Operário, a escola Júlia Kubitschek, Saturnino de Brito, Torto e DVO.

OS SÍTIOS NATURAIS São uma parte integrante do patrimônio his- tórico, natural, cultural e urbano de Brasília enquanto sítios integrantes ou suplementares às três áreas de proteção. Os sítios mais im- portantes são: o Parque Nacional de Brasília, a Reserva Biológica de Águas Emendadas, a Reserva Biológica do IBGE, a Reserva Bioló- gica Cabeça de Veado (Jardim Botânico), a Área de Proteção do entorno do São Bartolo- meu e a Área de Proteção do Entorno do Des- coberto. Propõe-se a inclusão a este conjunto de uma série de outras áreas no sentido de criar um sistema de áreas naturais preserva- das: Área da Bacia dos cursos d’água Gama e Cabeça de Veado; Áreas ligadas ao Lago Paranoá; Áreas da Bacia do Rio Maranhão e outras áreas de reserva para completar as que já existem e incluir também todos os tipos de paisagem; Áreas de Amortecimento para as reservas que já existem; Plano de Parques de Brasília (Plano Piloto e Cidades Satélites). Em 1987, como resultado do relatório do GT Brasília, elaborou-se o Anteprojeto da Lei de Pre- servação do Patrimônio Histórico, Natural e Urba- no de Brasília. Esse anteprojeto contemplava com

Figura 3.35. Poligonal definida pelo Grupo de Trabalho para a Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Natural de Brasília (GT Brasília - 1986)

Fonte: RSP, 2010 142 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA medidas de preservação específica a totalidade dos bens representativos do patrimônio cultural do Distrito Federal, considerados fundamentais para a compreensão do processo de implanta- ção e desenvolvimento da cidade. O anteprojeto divide o conjunto urbano de Brasília em áreas a serem preservadas segundo diferentes níveis de proteção. No entanto, optou-se por restringir a proteção apenas ao Plano Piloto, regulamentando o artigo 38 da Lei Federal nº 3.751, de 13 de abril de 1960 (conhecida como Lei Santiago Dantas), por meio do Decreto nº 10.829, do GDF, redigido pelo arquiteto Ítalo Campofiorito, em outubro de 1987. Esse Decreto traz como anexo o documento Brasília Revisitada, no qual o próprio Lucio Cos- ta expôs diretrizes para adensamento e expansão urbana no entorno imediato do Plano Piloto. Apro- veitando-se do texto do Decreto nº 10.829/87, a Portaria nº 4, de 13 de março de 1990, da SPHAN, regulamentou o tombamento do conjunto urbanís- tico do Plano Piloto de Brasília. Essa Portaria foi substituída pela Portaria nº 314, de 8 de outubro de 1992, vigente até hoje. Uma análise comparativa entre as áreas de proteção propostas no Dossiê transcrito e as áre- as efetivamente tombadas nas esferas distrital e federal torna-se necessária para diagnosticar se os graus de significação identificados pelo GT Brasília foram efetivamente observados na legisla- ção de proteção em vigor. A seguir apresentamos o Mapa (Figura 3.36) com as poligonais de tombamento do Conjunto

Figura 3.36. Poligonal definida pelo Decreto Distrital n. 10.829/87, pelo Tombamento Federal (1990) e pela Portaria n. 314/92 do IPHAN

Fonte: RSP, 2010 143 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Urbanístico de Brasília, conforme consta no Edital do PPCUB: O conjunto Urbanístico Tombado, em amare- lo, corresponde à totalidade das Regiões Adminis- trativas do Plano Piloto – RA I, do Cruzeiro – RA XI, da Candangolândia – RA XIX e do Sudoeste/ Octogonal – RA XXII. Comparativamente às áreas de preservação propostas pelo Dossiê, o Conjunto Urbanístico Tombado corresponde à totalidade da Área de Interesse Especial de Preservação (AIEsp) e das quatro Áreas de Amortecimento (AAm). A não di- ferenciação entre estas duas categorias dentro do Conjunto Urbanístico Tombado é um aspecto a ser considerado no PPCUB, uma vez que esta situ- ação não expressa as necessárias diferenças de controle entre a RA I e as demais RAs incluídas no perímetro tombado. A ausência da delimitação de uma área de entorno para o Conjunto Urbanístico de Brasília é uma deficiência em relação aos níveis de prote- ção previstos no Dossiê, que previa uma Área de Interesse de Preservação (AIP), periférica às duas áreas anteriores. O Termo de Referência do PP- CUB admite como ponto de partida a conforma- ção da Área de Interesse Patrimonial delineada na figura 3.37, cujos contornos da área protegida, de entorno e influência deverão ser confirmados, al- terados ou aperfeiçoados para que produzam os efeitos desejáveis na proteção do bem tombado. Para isso, deve ser considerado que a definição

Figura 3.37. Definição da Área de influência patrimonial pelo Edital do PPCUB Fonte: SEDUMA, 2008. 144 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA dos limites internos e externos da Área de Interes- Além da definição das três áreas de proteção, ‡ a Casa de Chá, se Patrimonial: o Dossiê indica a necessidade de preservação ‡ o Pombal, dos “elementos testemunhas” representativos da a) deve referenciar no território os espaços, etapa inicial de Brasília – a primeira metade dos ‡ o Espaço Lucio Costa, lugares, pontos, cones visuais, linhas e panora- anos 60. Dos bens explicitamente citados pelo mas (amplitude e linhas do horizonte) que podem ‡ os Ministérios e anexos, Dossiê, encontram-se atualmente tombados indi- influenciar na visibilidade, harmonia e integração vidualmente: ‡ o Palácio da Justiça, à paisagem do Conjunto Urbanístico protegido, bem como as áreas que comportam funções ur- ‡ o Palácio da Alvorada, ‡ o Palácio do Itamaraty e anexos, banas que impliquem na “perturbação” do seu ‡ o Palácio do Planalto, ‡ o Panteão da Liberdade e da Democracia equilíbrio físico, econômico ou social; Tancredo Neves, ‡ a Catedral Metropolitana e b) deve ser pensada e proposta com base: ‡ o Teatro Nacional Cláudio Santoro, ‡ as Unidade de Vizinhança 107/307 e i. nas análises, inventários e outras investiga- 108/308 Sul. ‡ o Quartel General do Exército, ções técnicas, que demonstrem e explicitem, com ‡ a Residência do Vice-Presidente da Repú- clareza, os parâmetros e critérios que avalizam As ações de tombamento de prédios ou blica (Palácio do Jaburu), sua demarcação e relações com a vizinhança; conjuntos isolados, tanto por parte do IPHAN-DF ‡ o Memorial JK, ii. nas características do tombamento, na pos- quanto pelo DePHA têm procurado responder a sibilidade de revisão da poligonal de proteção e necessidade de atribuir graus de significação ‡ o Memorial dos Povos Indígenas, no estabelecimento de graus diferenciados de va- específicos a determinados exemplares. Assim, ‡ o Conjunto Cultural da Funarte, lor patrimonial, que implicam em restrições tam- encontram-se também tombados pelo IPHAN os bém diferenciadas quanto aos aspectos morfoló- bens listados a seguir: ‡ o Espaço Oscar Niemeyer, gicos, tipológicos, paisagísticos e de ambiência ‡ o Catetinho, ‡ o Conjunto Cultural Sul (Museu e Bibliote- para cada grau de proteção; ca, incluindo os espaços entre os prédios) e ‡ a Placa comemorativa oferecida a Rui Bar- iii. na consideração das necessidades do de- bosa / Senado Federal. ‡ o Prédio do Touring Club do Brasil. senvolvimento econômico, da dinâmica urbana e dos interesses da população quando do estabele- O conjunto de obras de Oscar Niemeyer, in- O DePHA, por sua vez, tombou individual- cimento de princípios de preservação do patrimô- cluindo: mente os seguintes dos bens indicados pelo Dos- nio cultural na área vizinhança do bem tombado; siê para preservação: ‡ o Conjunto Arquitetônico do Palácio do Al- iv. na manutenção das principais visadas e ‡ a Casa da Fazenda Gama, perspectivas dos monumentos e do conjunto ur- vorada (Capela e demais edificações), ‡ o Centro de Ensino Metropolitana, bano, bem como dos parques, mirantes e eixos ‡ a Capela Nossa Senhora de Fátima, visuais, inclusive como critério para a análise de ‡ o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira ‡ a Praça dos Três Poderes, projetos e definição de diretrizes deintervenção. – HJKO (Museu Vivo da Memória Candanga), ‡ o Congresso Nacional e anexo, Além dos elementos citados ateriormente ‡ a Igreja São José Operário, como base, a definição da poligonal de interesse ‡ o Museu da fundação de Brasília, ‡ a Igreja Nossa Senhora de Fátima – Igre- patrimonial também deverá considerar a legisla- ‡ o Palácio do Planalto, jinha e ção de uso e ocupação do solo do DF, em vigor há muito tempo, em especial o PDOT/2009. ‡ o Supremo Tribunal Federal, ‡ a Vila Planalto. 145 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

VILA PLANALTO

UNIDADE DE VIZINHANÇA 107/307 E 108/308 SUL

PRAÇA DOS TRÊS PODERES

CONJUNTO URBANÍSTICO TOMBADO

146 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA

Figura 3.38. Bens patrimoniais IPHAN e DePHA Além destes bens, encontram-se tombados de superquadras do primeiro período de Brasília, pelo Distrito Federal: as quais encontram-se identificadas em levanta- 01 - Palácio do Alvorada mento de Ferreira & Gorovitz (2007). Nos mapas 02 - Palácio do Jaburu ‡ a Árvore do Buriti, 03 - Espaço Oscar Niemeyer 3.39 e 3.40, a seguir, foram mapeados os blocos 04 - Panteão da Pátria e da Liberdade 05 - Casa de Chá ‡ a Catedral Metropolitana de Brasília, residenciais das Asas Sul e Norte contrunídos no 06 - Espaço Lúcio Costa período de abrangência do trabalho citado, ou 07 - Museu da Cidade ‡ o Cine Brasília, 08 - Palácio do Planalto seja, entre 1958 e 1980, e cujas características 09 - Congresso Nacional ‡ a Escola Classe 308 Sul, tipológicas e morfológicas mantêm os princípios 10 - Supremo Tribunal Federal 11 - Pombal ‡ a Ermida Dom Bosco, expressos por Lúcio Costa no Relatório do Plano 12 - Palácio da Justiça Piloto. Tal levantamento deverá servir para uma fu- 13 - Ministério: Bloco R e Anexo 14 - Ministério: Bloco U ‡ a Escola Parque 308 Sul, tura definição de graus diferenciados de proteção 15 - Ministério: Bloco Q 16 - Ministério: Bloco P e Anexo ‡ a Igreja São Geraldo, dentro dos setores residenciais. 17 - Ministério: Bloco O e Anexo 18 - Ministério: Bloco N e Anexo ‡ o Memorial JK, Também carecem de proteção os exemplares 19 - Ministério: Bloco M e Anexo da arquitetura internacional existentes no Setor de 20 - Ministério: Bloco L e Anexo ‡ a Igreja São Sebastião, 21 - Ministério: Bloco K Embaixadas, especialmente a Embaixada da Re- 22 - Ministério: Bloco J 23 - Catedral Metropolitana de Brasília ‡ o Museu do Catetinho, pública Eslovaca, de Ustav Vystayby e Hlav Prahy; 24 - Ministério: Bloco A da Alemanha, de Hans Sacharoun; do Japão, de 25 - Ministério: Bloco B ‡ o Museu Histórico e Artístico de Planaltina, 26 - Ministério: Bloco C Fumihiko Maki; do México, de Teodoro González 27 - Ministério: Bloco D e Anexo ‡ o Museu da Cidade, de Léon e Abraham Zabludowsky; de Portugal, de 28 - Ministério: Bloco E e Anexo 29 - Ministério: Bloco F e Anexo ‡ a Pedra Fundamental, Ramalho Chorão; da Espanha, de Rafael Leoz; da 30 - Ministério: Bloco G e Anexo Itália, do Studio Nervi; da Grã-Bretanha, de A.A. 31 - Palácio do Itamaraty e Anexos 32 - Museu Nacional (Conjunto Nacional) ‡ o Relógio de Taguatinga, Couts e da França, dos estúdios de Le Corbusier. 33 - Biblioteca Nacional (Conjunto Nacional) 34 - Touring Club do Brasil ‡ a Revista Brasília, Algumas obras de Oscar Niemeyer da dé- 35 - Teatro Dulcina de Moraes 36 - Teatro Nacional ‡ o Teatro Dulcina de Moraes e Acervos Fo- cada de 1960 e 1970 também não se encontram 37 - Feira de Artesanato da Torre de TV protegidas individualmente em nenhuma instân- 38 - FUNARTE: Teatro Plínio Marcos tográfico, Textual e Cênico da Atriz, 39 - FUNARTE: Galeria Fayga Ostrower e marqise cia, tais como o Brasília Palace Hotel, o Espaço 40 - FUNARTE: Sala Cássia Eller ‡ as Unidade de Vizinhança 107/307 e Cultural 508 Sul, o Hospital de Base do DF, a Con- 41 - Clube do Choro de Brasília 108/308 Sul. 42 - Memorial dos Povos Indígenas cha Acústica, a Fundação Educacional do DF, a 43 - Memorial JK Associação da Cultura Franco-Brasileira, a Ponte 44 - Quartel General do Exército O conjunto dos bens tombados individual- 45 - Teatro Pedro Calmon Costa e Silva e a Estação Rodoferroviária. 46 - Monumento à Caxias mente pelo IPHAN e pelo DePHA está identifica- 47 - Praça dos Cristais 48 - Cine Brasília do na Figura 3.38 - Mapa dos bens patrimoniais Na mesma situação encontram-se os pro- 49 - Igreja Nossa Senhora de Fátima (Igrejinha) IPHAN e DePHA. jetos arquitetônicos de Lucio Costa em Brasília, 50 - Escola Parque 308 Sul como a Plataforma Rodoviária e a Torre de TV. Dos 51 - Escola Classe 308 Sul Percebe-se que o conjunto de bens individu- 52 - Clube de Golfe de Brasília jardins de Burle Marx existentes em Brasília, ainda 54 - Associação Recreativa e Cultural Unidos do Cruzeiro almente tombados dá conta apenas parcialmente não se encontram protegidos individualmente o 55 - Feira Permanente do Cruzeiro dos elementos testemunhas indicados pelo GT- 56 - Igreja São José Operário Jardim Zoológico, a Praça dos Cristais e o Parque 60 - Hospital Juscelino Kubitschek -Brasília, havendo ainda diversas lacunas a sanar, da Cidade. como o Centro Histórico da Universidade de Bra- Fonte: RSP, 2010. sília e especialmente um número mais significativo 147 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 3.39. Mapeamento dos blocos residenciais da Asa Sul construídos no período de 1958 e 1980, cujas características tipológicas e morfológicas mantêm os princípios expressos por Lúcio Costa no relatório do Plano Piloto.

Fonte: dados: Ferreira & Gorovitz, 2007; mapeamento: RSP, 2010. 148 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA

Figura 3.40. Mapeamento dos blocos residenciais da Asa Norte construídos no período de 1958 e 1980, cujas características tipológicas e morfológicas mantêm os princípios expressos por Lúcio Costa no relatório do Plano Piloto.

Fonte: dados: Ferreira & Gorovitz, 2007; mapeamento: RSP, 2010. 149 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

3.5.2 Definição de Graus ou Níveis Dife- e garantir de fato em cada setor, parte ou trecho, b) área de entorno: área contígua à área renciados de Proteção os atributos físicos que interessam à preservação protegida, onde o modo de urbanização e a de sua imagem. escala das construções possam interferir na A avaliação dos instrumentos de proteção ao ambiência, visibilidade e integração na paisa- Conjunto Urbanístico de Brasília em vigor, especial- Para a o estabelecimento desta categorização gem; mente a Portaria do IPHAN nº 314/92 e o Decreto de zonas, áreas, setores deve-se partir preliminar- c) área de influência: área onde o uso Distrital nº 10.829/87, demonstra que de maneira mente dos estudos, levantamentos e inventários do solo está diretamente articulado ao uso do geral eles a exercem de forma ampla e genérica. já existentes que identificam os atributos citados – solo da área protegida. (grifos nossos). assim como identificar os bens e atributos que por Estes instrumentos baseiam-se na lógica das Es- No caso específico de Brasília, é importante ventura não tenham sido apontados. A portaria nº. calas, porém não apresentam delimitação físico- considerar neste momento o histórico da preser- 299/2004 do IPHAN, que regula a criação de Plano -territorial nem as descrevem detalhadamente em vação na cidade e refletir acerca do material já de Preservação dos Sítios Históricos – PPSH, em seus atributos físicos. Desta forma, as áreas abar- produzido até o momento no que diz respeito ao seu Art. 11, aponta os inventários como instrumen- cadas pelas normativas estão classificadas com o estabelecimento de zonas diferenciadas de prote- tos metodológicos fundamentais de conhecimen- mesmo nível de proteção, independentemente do ção. Da análise das diversas propostas de prote- to e identificação no desenvolvimento dos PPSH: valor de seus atributos físicos materiais e imate- ção existentes para Brasília e dos instrumentos de riais, de suas particularidades enquanto integran- Art.11 – Para o desenvolvimento do PPSH se- proteção em vigor, nenhum segue exatamente a tes de um Conjunto Histórico ou de sua hierarquia rão utilizados, de modo adaptado a cada si- classificação anterior. na apreensão do mesmo. tuação, os seguintes instrumentos de conhe- cimento e pesquisa produzidos pelo IPHAN: Conforme visto anteriormente, o Dossiê ela- É importante salientar que os diversos con- Inventário Nacional de Bens Imóveis em Sítios borado pelo GT Brasília (1986), base para a inscri- juntos urbanos que compõem os sítios históricos Urbanos Tombados (INBI-SU); ção de Brasília na Lista do Patrimônio da Humani- apresentam muitas vezes características distintas Inventário de Configuração de Espaços Urba- dade pela UNESCO, apontava para a definição de que interferem diretamente na percepção do es- nos (INCEU); zonas diferenciadas de proteção denominadas: paço. Tais características, decorrentes dos atri- Inventário de Bens Arquitetônicos (IBA); butos físicos, como a malha e o parcelamento, a Inventário Nacional de Referências Culturais ‡ Área de Interesse Especial de Preservação volumetria das edificações, a linguagem formal, (INRC); (AIEsp); o mobiliário urbano e os demais elementos que Também a mesma Portaria no que se refere ‡ Área de Amortecimento (AAm) e compõe as “cenas urbanas”, permitem a apreen- às zonas de proteção em seu Art. 8º, parágrafo 3º, são da forma da cidade (KOHLSDORF, 2001), a ‡ Área de Interesse de Preservação (AIP). aponta a definição de três zonas básicas a serem qual, em conjunto com os aspectos imateriais do estabelecidas de acordo com o nível de proteção Também o GT Conjunto (1995), quando da sítio, compõem aquilo que chamamos o “espírito das áreas do sítio e na relação entre o sítio e seu elaboração do Anteprojeto de Lei para a preser- do lugar”. entorno: vação de Brasília, identificava as áreas segundo Mesmo levando em consideração as peculia- níveis de proteção diferenciados. Tal diferenciação ridades de Brasília e de sua dinâmica, a utilização Parágrafo 3º - A partir da Área Urbana de In- tinha por objetivo resguardar a imagem do Plano teresse Patrimonial deverão, para fins instru- destes critérios físicos para a definição de níveis Piloto, garantindo a legibilidade de seus atributos mentais, ser caracterizadas três áreas básicas diferenciados de proteção parece adequada. Este contíguas: físicos em contraste com as novas ocupações e a entendimento conduz, primeiramente, à identifi- a) área protegida: a área tombada em relevância daqueles dentro do conjunto histórico cação e classificação destes atributos, e em um nível federal e demais áreas tombadas em como um todo. segundo momento, à hierarquização destes no outros níveis, caso ocorram e que não corres- No entanto, quando do tombamento de Bra- sentido de definir níveis diferenciados de proteção pondam à área federal; sília, o Decreto Distrital restringiu a proteção ao 150 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA

Figura 3.41. Quadro comparativo de poligonais definidas em diversos documentos.

01 - Poligonal definida pelo Grupo de Trabalho para a Preservação do Patrimônio Histórico Cultural e Natural de Brasília (GT Brasília - 1986)

02 - Poligonal inscrita na Lista do Patrimônio Mundial (1987).

03 - Poligonal definida pelo Tombamento Federal (1990) e pela Portaria n. 314/92 do IPHAN

04 - Poligonal definida pelo documento “Critérios de Preservação para o Conjunto Urbanístico do Plano Piloto de Brasília (GT Conjunto - IPDF/DePHA/ IPHAN 1996)

151 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB perímetro do Plano Piloto, no que foi referendado cumeada. Internamente a esta área, a faixa deli- relações geométricas entre seus planos de pare- pela Portaria nº 314/92 do IPHAN – o que fragili- mitada desde o perímetro tombado até a linha de des, pisos e eventuais tetos, assim como pelas zou a proteção do Sítio, considerando que todas cumeada da bacia do Paranoá é de grande rele- características de composições dos mesmos. As as áreas abarcadas pela poligonal encontram-se vância para a percepção do sítio, pois estabelece unidades morfológicas são o repertório básico de classificadas sob o mesmo valor de significação uma relação configurativa direta de fundo-figura composição de qualquer cidade. É nelas que ocor- patrimonial. com a área tombada. Nesta área estão inseridos rem os deslocamentos dos indivíduos e, portanto, o Parque Nacional de Brasília e áreas do Taquari, é por elas que percebemos os sítios urbanos. Elas Daí a importância de se resgatar a classifi- assim como as zonas à Sudoeste do Plano Pilo- contêm os “lugares”, meio pelo qual cidades e cação das áreas propostas pelo GT Brasília e GT to. Considerando a sua amplitude, esta área, para suas partes se oferecem à nossa apreensão di- Conjunto como ponto de partida para a definição fins analíticos e de identificação da situação atual, reta. Seus tipos são sínteses de todos os demais das áreas e níveis de proteção do PPCUB, avalian- deve ser segmentada, pois se configura morfolo- elementos de categorias, configurados e relacio- do os seus limites e abrangência tendo por base a gicamente de maneira distinta, especialmente, o nados de modo específico. As unidades morfoló- situação atual do sítio em conjunto com a poligo- quadrante Sudoeste. Estas áreas deverão ter me- gicas também indicam ou contêm as relações en- nal indicada no Termo de Referência do PPCUB. canismos de proteção e de controle previstos na tre esses atributos geométricos e um determinado Avaliando-se o conjunto das propostas de de- Lei de Uso e Ocupação do Solo – Luos, em com- papel simbólico ou função original, exercida por limitação apresentadas anteriormente, percebe-se plementação àqueles já previstos no PDOT. determinada área livre pública da cidade. que a poligonal de disciplinamento não abrange As áreas atualmente tombadas pela Portaria Desta forma, propõe-se a categorização dos as áreas denominadas “de influência” que relacio- e pelo Decreto abrangem uma poligonal maior da- atributos de configuração das unidades morfológi- nam o bem a seu entorno, previstas no PPSH, e no quela proposta pelo GT Brasília como Área de In- cas do sítio com base no Manual de Aplicação do caso de Brasília, as áreas localizadas para além teresse Especial de Preservação (AIEsp) e Área de Inventário de Configuração dos Espaços Urbanos da linha de cumeada da Bacia do Paranoá. Tal Amortecimento (AAm). Foram acrescidas as áreas – INCEU (KOHLSDORF, 2001) e também levando zona tem relevância para a caracterização da linha a Oeste do Eixo Monumental até a orla do Lago em consideração aos critérios expostos na Carta do horizonte, elemento marcante da paisagem de e a faixa a Oeste da EPIA, incluindo Setor Militar de Toledo/Washington (1986), sendo estes com- Brasília e parte fundamental de sua concepção ur- Urbano, Cruzeiro e Candangolândia. Entretanto, postos de quatro categorias básicas: banística. Esta lacuna se reflete nas interferências toda a área incluída nesta poligonal hoje encon- que esta linha de cumeada vem sofrendo ao longo 1. Malha: desenho e traçado viário; traa-se sob o mesmo nível de proteção. dos anos, prejudiciais à percepção da paisagem 2. Parcelamento Urbano: Macro (quadra) e do Conjunto Tombado e seu entorno. No sentido de garantir a legibilidade da ima- Micro (projeções/lotes); gem do sítio e definir níveis diferenciados de pro- Assim, propõe-se como estratégia analítica o teção internos a esta área, é necessário analisar 3. Espaços Urbanos: mapeamento dos campos visuais a partir da Torre os atributos de configuração urbana identificando de TV, ponto estratégico da concepção urbanísti- a) aspectos físicos: desenho e características o seu valor para a composição das unidades mor- ca da cidade, inserido na Área Central e em cota físicas (mobiliário, pavimentação, vegetação, es- fológicas que compõe estas áreas. elevada que permite uma visão abrangente do tra- culturas); çado e volumetria de Brasília. Segundo Kohlsdorf (2001), as unidades mor- b) aspectos imateriais: valor patrimonial/histó- fológicas correspondem a tipos de áreas livres Percebe-se que o campo visual corresponde rico; públicas, sejam elas destinadas à circulação, à em linhas gerais à cumeada da bacia do Paranoá. permanência ou a ambas atividades (como, por c) uso; Entretanto, o cone visual gerado, ao ser relacio- exemplo, ruas, praças, vias, avenidas etc.), e re- nado com a altimetria das zonas abrangidas – ní- 4. Edificações: presentam a configuração de seu espaço como vel do solo predominante –, ultrapassa a linha de a) aspectos físicos: volumetria, proporção 152 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 3 - DINÂMICA URBANA entre cheios e vazios, linguagem, características com o conceito proposto por Lucio Costa, devem físicas; ser preservados em sua total integridade física e de uso, tendo proteção máxima em todos as b) aspectos imateriais: valor histórico/patri- suas categorias configurativas. monial; Desta forma, desta análise configurativa es- c) uso; tabelecem-se duas diferentes zonas de pre- Tais categorias deverão ser abordadas deta- servação, as quais se caracterizam por níveis lhadamente nas suas propriedades compositivas distintos de proteção em setores da cidade, es- identificando o nível de proteção a ser dado em tabelecidas em conformidade com a concepção cada uma delas, de acordo com o seu grau de urbanística, devendo ser objeto de diretrizes de importância para preservação da concepção preservação diferentes. urbanística de Brasília. Desta forma, pode-se A discussão feita anteriormente remete a estabelecer um zoneamento do sítio definindo um mapeamento preliminar que visa atender ao níveis diferenciados de proteção, que devem ser disposto na Portaria nº. 299/04 do IPHAN para a estabelecidos a partir da identificação na necessi- elaboração dos PPSH, considerando também os dade de proteção dos atributos inventariados das estudos e propostas dos Grupos de Trabalho ci- unidades morfológicas. tados, como ponto de partida para a definição de A partir desta metodologia, setores residen- zonas segundo níveis de proteção diferenciados. ciais no interior do Plano Piloto como Superqua- dras e Setor Sudoeste teriam um tratamento di- ferenciado no que se refere a proteção de seus atributos, em função do papel desempenhado no conjunto do Plano. Avaliando a situação atual do Sítio, percebe- -se que uma parte dos setores, em geral os mais recentes, não correspondem a alguns dos atribu- tos vinculados à concepção urbanística original de Brasília (tais com a proporção volumétrica das edi- ficações, relação entre cheios e vazios), desvirtu- ando o conceito original do Plano. Nesse sentido estes setores devem constituir-se em unidades de preservação com nível de proteção menor no que tange às edificações, ao passo que no que tan- ge aos atributos de traçado e parcelamento, por exemplo, devem permanecer intactos, pois neste quesito estão de acordo concepção urbanística da cidade. Já em outros setores, que tenham seus atributos urbanísticos em perfeita concordância

153 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 3.42. Quadro de Atributos Configurativos UNIDADE MORFOLÓGICA

ZONAS DE PRESERVAÇÃO DE ACORDO COM O NÍVEL DE PROTEÇÃO

1 - Máximo (Proteção Integral em todos os atributos configurativos) 2 - Médio (a definir atributos configurativos) 3 - Mínimo (a definir atributos configurativos)

Fonte: RSP, 2010 154 Capítulo 4

Morfologia urbana

DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 4 - MORFOLOGIA URBANA

4.1 Base Cartográfica dos setores e endereçamento

Neste item são abordados os aspectos re- A área de abrangência do Plano de Preser- MIN (Setor de Garagens Ministeriais), SAFN (Setor ferentes à morfologia da área de abrangência do vação do Conjunto Urbanístico de Brasília é com- de Administração Federal Norte), SDN (Setor de PPCUB, a base cartográfica e o endereçamento. posta por 92 setores. Nestes setores foram iden- Diversões Norte), SDS (Setor de Diversões Sul), tificados 10 tipos de endereçamento, conforme UNB (Universidade de Brasília), ERN (Eixo Ro- Os tipos morfológicos que compõe a área de listagem abaixo: doviário Norte), ERS (Eixo Rodoviário Sul), SHLN abrangência já foram caracterizados anteriormen- (Setor Hospitalar Local Norte), SMAN (Setor de te pelo trabalho GT Brasília o qual compõe o Dos- Múltiplas Áreas Norte), SIT (Setor de Invernada do siê elaborado para a Inscrição de Brasília na Lista a) Setor Torto), SMU (Setor Militar Urbano), SPO (Setor Po- do Patrimônio Mundial servindo com base para a licial), SHIP (Setor Hípico), EMO (Eixo Monumen- carcaterização a ser realizada neste Diagnóstico. Compreende os setores cujo tipo de ende- reçamento é determinado apenas pelo nome do tal), PQEB (Parque Estação Biológico). De um modo geral os padrões morfológicos setor. Em geral, são reservas ecológicas, parques, de malha e tipos edilícios presentes nos setores áreas de proteção ou setores isolados: ARIE (San- c) Setor - Quadra - Lote de Brasília ainda encontram-se preservados nos tuário de Vida Silvestre Riacho Fundo), AVPR (Área atributos básicos que configuram a imagem dos Verde de Proteção e Reserva), GMT (Granja Mo- SAAN (Setor de Armazenamento e Abaste- setores, apesar de apresentar descaracterizações delo do Torto), PFR (Plataforma Rodoviária), PQEN cimento), SAFS (Setor de Administração Federal de altura e gabarito assim como outras situações (Parque Ecológico Norte), PQNB (Parque Nacio- Sul), SAUN (Setor de Autarquias Norte), SAUS já caracterizadas anteriormente neste relatório. nal de Brasília), SMC (Setor Militar Complementar), (Setor de Autarquias Sul), SCN (Setor Comercial Ambos os padrões morfológicos (predomi- SPP (Setor Palácio Presidencial), SPVP (Setor de Norte), SGO (Setor de Garagens Oficiais), SHLS nantes) compõe uma imagem singular, sendo Preservação da Vila Planalto), ZOO (Jardim Zoo- (Setor Hospitalar Local Sul), SHN (Setor de Hote- composta de pontuações (marcos e elementos lógico), SHLSW (Setor Hospitalar Local Sudoeste). leiro Norte), SHS (Setor de Hoteleiro Sul), SRTVN referenciais) e predominâncias de tecido urbano (Setor de Rádio e TV Norte), SGAN (Setor de Gran- des Áreas Norte), SGAS (Setor de Grandes Áre- de tipos variados, ambos já consolidados que es- b) Setor - Lote truturam a imagem do lugar a ser preservado. as Sul), SEPN (Setor de Edifícios Públicos Norte), EMI (Esplanada dos Ministérios), ETO (Es- SEPS (Setor de Edifícios Públicos Sul), SCS (Setor planda da Torre), PFB (Plataforma Ferroviária de Comercial Sul), SCEN (Setor de Clubes Esportivos Brasília), PTP (Praça dos Três Poderes), SAM (Se- Norte), SCES (Setor de Clubes Esportivos Sul), tor de Administração Municipal), SCTN (Setor Cul- SBS (Setor Bancário Sul), SIG (Setor de Indústrias tural Norte), SCTS (Setor Cultural Sul), SDC (Setor Gráficas), SMHN (Setor Médico Hospitalar Norte), de Difusão Cultural), SMHS (Setor Médico Hospi- SHCES (Setor de Habitações Coletivas Econômi- talar Sul), SMIN (Setor de Mansões Isoladas), SR- cas Sul), SHCSW (Setor de Habitações Coletivas TVS (Setor de Rádio e TV Sul), STN (Setor Terminal Sudoeste), SHCAO (Setor de Habitações Coleti- Norte), STS (Setor Terminal Sul), PMU (Praça Mu- vas Octogonais). nicipal), SEN (Setor de Embaixadas Norte), SES (Setor de Embaixadas Sul), SRPN (Setor de Recre- d) Setor - Conjunto - Lote ação Pública Norte), SRPS (Setor de Recreação PQEAT (Parque de Exposição Agropecuária Pública Sul), SHTN (Setor de Hotéis Norte), SG- do Torto), SMAS (Setor de Múltiplas Áreas Sul).

157 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

e) Setor - Acampamento - Rua - Lote VPLA (Vila Planalto)

f) Setor - Conjunto - Quadra CES (Cemitério Sul)

g) Setor - Conjunto - Quadra - Lote SHCNW (Setor de Habitações Coletivas No- roeste)

h) Setor - Quadra - Bloco SBN (Setor Bancário Norte), SHCSW (Setor de Habitações Coletivas Sudoeste)

i) Setor - Quadra - Bloco - Lote SHCN (Setor de Habitações Coletivas Norte), SHCS (Setor de Habitações Coletivas Sul), SHIGS (Setor de Habitações Individuais Geminadas Sul), SHCGN (Setor de Habitações Coletivas Gemina- das Norte), SRES (Setor de Residências Econô- micas Sul).

j) Setor - Quadra - Conjunto - Lote SOFN (Setor de Oficinas Norte) e CAND (Can- dangolândia).

158 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 4 - MORFOLOGIA URBANA

4.2. Morfologia da Trama Urbana

a) Plano Piloto As linhas principais apresentam, geralmen- ção viária, como a eliminação de cruzamentos e a te, relações geométricas primárias e simétricas, destinação específica do trânsito. Entretanto, a ra- Segundo relatório do GT Brasília, o traçado utilizando um pequeno número de elementos de dical separação existente entre veículos e pedes- de malha do Plano Piloto está consubstanciado na composição. Deste arcabouço partem linhas de tres, representa a separação entre possibilidades idéia do cruzamento de dois eixos em ângulo reto, composição menos rígidas (livres) que se voltam de circulação e permanência. para unidades territoriais menores no interior da a partir da qual Lúcio Costa desenvolveu o projeto “O cruzamento desse eixo monumental, de área (Superquadras e Quadras) ou abandonam do Plano Piloto: cota inferior, com o eixo rodoviário-residencial” este contexto, em direção a outros setores habita- “Nasceu do gesto primário de quem assinala (...). “Desse modo e com a introdução de três tre- cionais (Lagos, Cruzeiro, Áreas Octogonais, etc.) um lugar ou dele toma posse: dois eixos cru- vos completos em cada ramo do eixo rodoviário ou de apoio (Clubes, Indústria e Abastecimento, zando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio si- e outras tantas passagens de nível inferior, o trá- Aeroporto, etc.). nal da cruz. Procurou-se depois a adaptação fego de automóveis e ônibus se processa tanto à topografia local, ao escoamento natural das Observada como sistema de comunicações na parte central quanto nos setores residenciais águas, à melhor orientação, arqueando-se um urbanas, a malha do Plano Piloto coloca alguns sem qualquer cruzamento. Para o tráfego de ca- dos eixos a fim de contê-lo no triângulo eqüi- látero que define a área urbanizada”. (COSTA, impasses: minhões estabeleceu-se um sistema secundário ibid, ibid, § 1 e 2). ‡ a forte hierarquia é fator de extrema segre- autônomo com cruzamentos sinalizados mas sem gação física, categorizando definitivamente as ins- cruzamento ou interferência alguma com o siste- Este partido teve seu detalhamento e implan- tâncias local e global; ma anterior, salvo acima do setor esportivo” (...). “Fixada assim a rede geral do tráfego automó- tação minuciosamente acompanhados, apresen- ‡ o caráter linear foi potencializado, somen- tando-se hoje como talvez o maior exemplo à vel, estabeleceram-se, tanto nos setores centrais te possibilitando ligações transversais diretas em como nos residenciais, tramas autônomas para o escala urbana de fidelidade a um plano original; distâncias muito grandes; este processo alterou-se, porém, nas ramificações trânsito local dos pedestres, a fim de garantir-lhes locais (como no interior das Superquadras, por ‡ o desenho viário facilita os deslocamen- o uso livre do chão” (...). “Estes núcleos e setores exemplo) e em algumas reformas mais recentes, tos, mas também, as altas velocidades; suas vias são acessíveis aos automóveis diretamente das que implantaram novas ligações em nível (trevos e funcionam, sempre, como barreiras e nunca como respectivas pistas, e aos pedestres por calçadas viadutos) e áreas de estacionamento. elementos de costura entre dois trechos adjacen- sem cruzamento, e dispõem de autoportos para tes; estacionamento em dois níveis, e de acesso de A malha é caracterizada como uma estrutura serviço pelo subsolo correspondente ao piso in- ‡ a superfície viária é das mais altas que se ortogonal, linear em ambos os sentidos, fortemen- ferior da plataforma central”. (COSTA, ibid,. ibid, § conhece, contribuindo portanto para a elevação te hierarquizada e com um eixo de simetria no sen- 5, 7, 8, 11). tido Leste-Oeste. do valor do solo em Brasília; Finalmente, o elemento de maior carga sim- ‡ há uma absoluta divisão de circulações A composição da malha é extremamente har- bólica da malha é de difícil percepção no espaço para pedestres e veículos que sempre privilegia moniosa devido ao balanço estabelecido pelo par real, ao nível do solo: conforme atesta a pesqui- estes últimos, a ponto de não haver, muitas vezes, unidade-variabilidade, baseado na repetição de sa de imagem realizada, o cruzamento dos Eixos possibilidades peatonais. relações simples (paralelismo associado ao orto- Monumental e Rodoviário Norte/Sul tem papel gonalismo) da qual derivam elementos diferencia- Por um lado houve na proposta original uma secundário na formação de referencial simbólico. dos (linhas sinuosas complexas). série de indicações que confirmam a hierarquiza- (VIANNA, M; 1985). Estes problemas não devem, 159 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB porém, comprometer a preservação das caracte- setor, e conectadas a essa, polígonos octogonais, Figura 4.2. Exemplo de malha identificada no Cruzeiro rísticas fundamentais da malha, mas conduzir a cujas vias internas locais e privativas dos condo- correções acessórias, tais como: mínios dão acesso às edificações ‡ a característica de hierarquização viária Já no Sudoeste, a morfologia do tecido re- pode manter-se, mas ser enfraquecida para con- produz parcialmente o princípio da superquadra e tornar os efeitos de barreira, fortalecendo o dire- da unidade de vizinhança em termos de escala e cionamento e facilitando sua transposição; formas de ocupação, principalmente ao longo da ‡ a característica de linearidade não se alte- Primeira Avenida. ra se realizar até duas ligações transversais dire- tas no contexto das Asas; d) Candangolândia

‡ as características de composição da ma- A malha viária é caracterizada pelo uso de lha não se alteram se as vias sofrerem correções alças, produzindo um sistema descontínuo, refor- em suas larguras e raios de giro, e se forem incor- çando a hierarquização do espaço urbano. O con- poradas às mesmas possibilidades para pedes- junto é articulado por uma via de atravessamento tres. – Rua dos Transportes – principal ligação com a b) Cruzeiro via EPIA (Estrada Parque de Indústria e Abasteci- mento) e um anel maior interno – Rua de Contorno. O Cruzeiro possui dois tipos de malhas viárias Essas duas vias estruturam espacialmente o local. que diferenciam espacialmente os setores que o compõe. O Cruzeiro Velho, destinado a habita- Figura 4.1. Exemplo de malha identificada na Figura 4.3. Exemplo de malha identificada no Cruzeiro ções unifamiliares, possui sua malha estruturada Candangolândia Novo em uma via principal em forma helicoidal (RE-01) a partir da qual partem vias locais, lineares e des- contínuas, para acesso às unidades habitacionais. O Cruzeiro Novo, destinado a habitações co- letivas, é caracterizado por vias de atravessamen- to formando um zigue-zague entre os edifícios e as demais são interrompidas por equipamentos ou pequenos espaços públicos. O sistema viário, apesar da sua aparente regularidade geométrica, produz um espaço bastante fragmentado, sem definição hierárquica entre as vias.

c) Sudoeste / Octogonal Assim como no Cruzeiro, a região Sudoeste/ Octogonal, também apresenta uma malha diferen- ciada em cada setor. As Octogonais são definidas por uma via de contorno, a qual também delimita o 160 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 4 - MORFOLOGIA URBANA

Figura 4.4. Exemplo de malha identificada nas Figura 4.6. Traçado viário do Plano Piloto e seu entorno Octogonais

Figura 4.5. Exemplo de malha identificada nas Superquadras

Fonte: RSP, 2010 161 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

4.3. Tipologia e destinação dos setores

De acordo com o relatório do GT Brasília, fo- enfatizada pelos pilotis, mas existem volumes as- mantendo simetria ao menos em um sentido. ram identificadas algumas tipologias edilícias ao sentados diretamente sobre o solo. Essa tipologia incide no Plano Piloto, bem longo do Plano Piloto. Dentre eles encontram-se: De volumetria simples, não apresenta ne- como nos bairros do Cruzeiro, Sudoeste e Octo- nhum elemento aparente (exceto caixas de cir- gonal, diferenciando pela altura, conforme segue a) Blocos residenciais sobre pilotis culação pontuando o topo). Quanto às fachadas, abaixo: A volumetria desse grupo é de um paralele- tendem a representar elementos geométricos, de pípedo retangular alongada, às vezes, assumindo fácil apreensão, definição de zoneamento e ritmo, versões tendendo a um quadrado. Sua altura é

Figura 4.7. Exemplo de blocos residenciais sobre Figura 4.9. Exemplo de blocos residenciais sobre Figura 4.11. Exemplo de blocos residenciais sobre pilotis, (pilotis + 6 pavimentos) SHCS pilotis, (piotis + 6 pavimentos) SHCSW pilotis, (pilotis + 2 pavimentos) SHIGS

Figura 4.8. Exemplo de blocos residenciais sobre Figura 4.10. Exemplo de blocos residenciais sobre Figura 4.12. Exemplo de blocos residenciais sobre pilotis, (pilotis + 3 pavimentos) SHCS pilotis, (piotis + 3 pavimentos) SHCSW pilotis, (pilotis + 4 pavimentos) SHCES 162 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 4 - MORFOLOGIA URBANA

b) Blocos residenciais geminados

Residências com um ou dois pavimentos, mesmo bloco. Característico das quadras 700, casas absolutamente iguais, muito próximas uma cujos primeiros exemplares foram construídos de bairro Cruzeiro Velho. Situação semelhante ocorre às outras, comportando-se como módulo de um forma homogênea constituindo de módulos de um no trecho residencial do Setor Militar Urbano, com mesmo bloco, apesar da existência de afastamen- tos laterais entre as unidades.

Figura 4.13. Exemplo de blocos residenciais geminados, Figura 4.14. Exemplo de blocos residenciais geminados, Figura 4.15. Exemplo de blocos residenciais geminados, Setor de Residências Econômicas Sul (Cruzeiro). Setor Militar Urbano (SMU). Setor de Habitações Individuais Geminadas Sul (SHIGS) c) Habitações Individuais Não geminadas, são edificações de 1, 2, 3 bitacional, formado pelas habitações individuais bém situadas nos bairros periféricos do Lago Sul, pavimentos de grande variabilidade arquitetônica. não geminadas, com edificações de maior porte e Lago Norte, Mansões e Setor de Mansões Isola- Ainda existe um terceiro grupo dentro, do tema ha- grande variação de linguagem arquitetônica, tam- das Norte.

Figura 4.16. Exemplo de habitações individuais, Vila Figura 4.17. Exemplo de habitações individuais, Vila Figura 4.18. Exemplo de habitações individuais, Telebrasília Planalto (VLPA) Candangolândia (CAND) 163 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

d) Comércio geminados

Projeção retangular dos blocos e o alinha- um só tempo a partir de um mesmo projeto, mas variações tipológicas dentro do grupo de comér- mento dos módulos em paralelepípedos, a exem- apresentam hoje certa individualidade em virtude cio geminado, entre as Asas Sul e Norte. plo das casas geminadas, foram construídos a da introdução de elementos acessórios. Existem

Figura 4.19. Exemplo de comércio geminado, Setor de Figura 4.20. Exemplo de comércio geminado, Setor de Figura 4.21. Exemplo de comércio geminado, Setor de Habitações Coletivas Sudoeste, Comércio Local Habitações Coletivas Sul, Comércio Local Habitações Coletivas Norte, Comércio Local

e) Tipologias Palacianas

Apresenta variações em sua volumetria, são empenas cega, tendo portanto, enfatizada a sua desenhados a partir de elementos geométricos volumetria com características de elementos es- simples, simétricos e repetitivos e por vezes por culturais isolados nas perspectivas do conjunto.

Figura 4.22. Exemplo de tipologia Palaciana, Esplanada Figura 4.23. Exemplo de tipologia Palaciana, Congresso Figura 4.24. Exemplo de tipologia Palaciana, Palácio do dos Ministérios (EMO) Nacional, Praça dos Três Poderes (PTP) Itamaraty, Esplanada do Ministérios (EMI) 164 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 4 - MORFOLOGIA URBANA

f) Torres do Centro Urbano

Sua volumetria resulta quase sempre em composições das fachadas. paralelepípedos de proporções esbeltas, apre- sentando tão somente elementos acessórios nas

Figura 4.25. Exemplo de Torres do Centro Urbano, Setor Figura 4.26. Exemplo de Torres do Centro Urbano, Setor Figura 4.27. Exemplo de Torres do Centro Urbano, Setor Bancário Sul (SBS) Comercial Sul (SCS) Comercial Sul (SCS)

g) Excepcionais

Exemplos de Tipologias Excepcionais

Figura 4.28. Exemplo de edificação excepcional, Torre Figura 4.29. Exemplo de edificação excepcional, Figura 4.30. Exemplo de edificação excepcional, de TV, Esplanada da Torre (ETO) Conjunto Nacional, Setor de Diversões Norte (SDN) CONIC, Setor de Diversões Sul (SDS) 165 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

h) Galpões Industriais

São exemplares típicos de arquitetura fabril, produzidos segundo princípios morfológicos que privilegiam as grandes proporções, coberturas proeminentes, importantes na configuração da vo- lumetria, e fachadas dominadas pela vedação.

i) Edificações de serviços e institucionais

Localizados em vários pontos do Plano Piloto, ção máxima do solo e pelas atividades exercidas são edificações com volumetria bastante variadas, em seus respectivos lotes: escolas, templos, ór- determinada em partes pelos índices de ocupa- gãos públicos.

Figura 4.31. Exemplo de edificação de serviço e Figura 4.32. Exemplo de edificação de serviço e institucional, Setor de Edifícos Públicos Norte (SEPN) institucional, Setor de Edifícos Públicos Norte (SEPN) 166 Capítulo 5

Paisagem urbana

DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 5 - PAISAGEM URBANA

5.1 Breve histórico do paisagismo em Brasília

A localização do sítio para a implantação de várias espécies típicas do bioma. jeto, cada quadra residencial teria uma espécie Brasília foi antecedida por extensos estudos, aná- vegetal. O DPJ optou por variar as espécies para Quando da construção da cidade, a pressa lises e levantamentos físico-ambientais. Subsidia- garantir que, em caso de morte de alguma, ou- para erguer a nova capital e a ausência de um ram a definição da localização da nova capital do tras continuassem de pé. No início dos anos 1980, projeto de paisagismo que acompanhasse o pla- Brasil e do quadrilátero do Distrito Federal, a Mis- quando a cidade ainda sofria as conseqüências no urbanístico arrasaram a população de árvores são Cruls (1894), a Missão Polli Coelho (1948) e o do desastre de 1975/1976, começou-se o plantio nativas existentes. A premente necessidade de ar- Relatório Belcher (1955). Este último realiza estu- de árvores frutíferas. Jaqueiras, mangueiras, aba- borizar o cerrado levava a plantar-se o que havia dos pormenorizados de cinco sítios considerados cateiros, jambeiros, sapotizeiros, pés de graviola, nos viveiros da Novacap devido à urgência em dar adequados para receber a nova capital contem- tamarindos foram plantados no Parque da Cidade. sombra à cidade que ia sendo aberta. plando topografia, drenagem, classificação de Desde os anos 1980, técnicos do DPJ cole- solos, geologia, microclima, hidrografia, abaste- Em pouco tempo o cerrado reagiu a tais prá- tam sementes de árvores nativas do cerrado e ten- cimento de água, fornecimento de energia, trans- ticas. Logo no começo da década de 1970, entre tam produzi-las em viveiro para as mudas possam portes e acidentes naturais para fins de recreação. 1971 e 1972, um ataque de pragas matou grande ser transplantadas para áreas urbanas do Distrito número de cássias e de outras espécies exóticas. A escolha da área para a localização da nova Federal. Além das 75 espécies devidamente de- Depois de várias tentativas de para controlar o fe- capital recaiu sobre o sítio situado entre o ribeirão senvolvidas, há outras 75 em fase de pesquisa. nômeno, o Departamento de Parques e Jardins, Bananal e o córrego Riacho Fundo, sendo então Hoje são 75 espécies do cerrado espalhadas pelo DPJ, da Novacap decidiu pedir ajuda ao Instituto definidos os limites do Distrito Federal com super- DF. Segundo cálculos da DPJ, para cada 10 das Biológico de São Paulo. As espécies exóticas en- fície de cerca de 5,8 mil km2. 4 milhões de árvores plantadas no DF sete são tretanto continuaram a morrer até uma grande epi- nativas. O quadrilátero do Distrito Federal está total- demia ocorrida entre 1975 e 1976. Neste curto pe- mente inserido no domínio do bioma Cerrado, ca- ríodo, praticamente toda a população de árvores racterístico da porção central do país. A paisagem adultas plantada pelo Departamento de Parques e do cerrado é bastante heterogênea, com forma- Jardins morreu. ções florestais, savânicas e campestres, que se A partir de então se estabeleceu uma nova po- desenvolvem de acordo com as características do lítica para o paisagismo na cidade, decidindo-se solo e a proximidade com corpos d’água. O cerra- privilegiar mudas de espécies nativas. Entretanto, do também dispõe de vasta diversidade biológica, não apenas o cerrado era um bioma muito pouco tanto de flora como de fauna, com mais de 160 mil estudado àquela altura, como não havia qualquer espécies, muitas delas endêmicas. experiência conhecida de desenvolvimento de No Distrito Federal encontra-se ampla cole- mudas. As principais dificuldades enfrentadas, re- ção das variações fitofisionômicas da vegetação latadas na época, eram referentes à obtenção de do Cerrado, desde áreas com predomínio de gra- sementes, principalmente das matrizes originárias míneas e arbustos pequenos e esparsos (Campo do habitat natural. Cerrado), até matas fechadas com árvores de A partir de então, o DPJ passou a proceder grande porte (matas ciliares e de interflúvio). A fau- diferentemente das recomendações de Lucio na nesta região é bastante diversificada e abriga Costa para a arborização do Plano Piloto. No pro- 169 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

46 00’00” 46 00’00” Figura 5.1 Mapa com a definição da localização da nova capital do Brasil do quadrilátero do Distrito Federal. 14 00’00” 14 00’00” POLI COELHO Alto Paraíso de Goiás Posse

Niquelândia Uruaçu Alvorada do Norte Flores de Goiás

São João D’ Aliança

Sítio D’ Abadia

Barro Alto

Padre Bernardo

QUADRILÁTERO CRULS Planaltina de Goiás Formosa

Sobradinho Brazlândia Planaltina Brasília Cabeceiras Jaraguá Pirenópolis Corumbá de Goiàs Taquatinga

São Francisco de Goiás Gama

Petrolina de Goiás Alexânia

Abadiânia Luziânia Anápolis Unaí

Leopoldo de Bulhôes GOIÂNIA Silvânia Vianópolis Cristalina

RETÂNGULO BELCHER 17 00’00” 17 00’00”

50 00’00” 50 00’00” Fonte: Atlas do Distrito Federal

170 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 5 - PAISAGEM URBANA

5.2 Áreas Verdes

A utilização de índices de área verde tem sido criados posteriormente ao Plano Piloto. Entretan- amplamente utilizada para quantificação e avalia- to, mais que em qualquer outra cidade brasileira, ção da vegetação intra-urbana. Entretanto, a falta as áreas verdes, a chamada “escala bucólica”, é de consenso quanto às terminologias e classifi- fundamental para a identidade e a estruturação cações a serem adotadas constitui-se como um de Brasília. Aqui, o verde permeia as construções, problema para a elaboração e cálculo dos índices envolvendo-as e penetrando. As áreas abertas de vegetação. Um dos indicadores mais utilizados assumem funções típicas do modernismo, como para análise da distribuição espacial da vegetação envoltório e realce das edificações, como comple- intra-urbana é o Índice de Áreas Verdes (IAV). Para mentação do sistema viário e dos deslocamentos o cálculo do IAV, considera-se a relação entre o motorizados, como delimitação precisa da área total de áreas verdes públicas da área urbana e a urbana construída. densidade populacional, levando-se em conside- Assim, em Brasília, os canteiros, gramados, ração três categorias de áreas verdes: canteiros, áreas abertas dos quarteirões assumem função praças e parques urbanos com áreas de influên- ativa no sistema de espaços abertos, devendo ser cia de 500, 800 e 3.000 metros, respectivamente. valorizados e preservados. Neste sentido, deverão Para o Brasil é reconhecida, em termos de IAV, a ser computados nos cálculos de áreas verdes to- recomendação do estabelecimento de metodolo- tais da cidade. gias que permitam obter o índice mínimo de 15 m2/hab. de áreas verdes destinadas à recreação, recomendado em 1996 pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU, 1996). No entanto, a metodologia mais utilizada para o cálculo do IAV considera o produto da divisão entre o somatório das áreas verdes e o número de habitantes, resul- tando em um cálculo simplificado, sendo este índi- ce sempre dependente de fatores demográficos. Dessa forma, o IAV pode ser elevado em determi- nadas localidades não pela quantidade de áreas verdes, mas pela reduzida quantidade populacio- nal no local. Na maior parte das cidades, as praças e par- ques constituem elementos básicos da estrutura- ção urbana, hierarquizando e pontuando as diver- sas partes da cidade. Em Brasília este processo se dá de forma diferenciada, uma vez que as pra- ças são em pequeno número, os parques foram

171 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

5.3 Áreas de Lazer (praças, parques, esportes, recreação) Figura 5.2. Parque da Cidade (SRPS)

A Capital Federal possui parte de seu território Apesar da importância da escala bucólica sob alguma forma de proteção ambiental e conta e do verde no dia-a-dia da cidade, Brasília não com 68 parques criados por decretos. A maioria dispõe de muitas praças formais, uma vez que a desses parques ainda não foi totalmente implanta- proposta urbanística priorizou as áreas livres cir- da nem possui equipamentos que proporcionem cundantes e envolventes a todos os setores, mais opções de lazer ou visitação para os moradores. do que espaços de lazer “clássicos”, delimitados como praças públicas. Mesmo assim, a cidade O Parque da Cidade Sarah Kubitschek, com apresenta alguns importantes projetos de espa- 400 ha, é o parque urbano por excelência de Bra- ços cívicos e de convívio, como a Praça dos Três sília e atrai milhares de freqüentadores. Já há pro- Poderes, a Praça do Buriti, a Praça dos Cristais jeto para a implantação do Parque Burle Marx, que (oficialmente Praça Duque de Caxias), a Praça irá complementá-lo na Asa Norte, em área simétri- Portugal e a Praça Santos Dumont, diante do Ae- ca. Esses parques podem ser ligados através do roporto Internacional. Nos setores residenciais, foi Setor Esportivo para assim constituir uma ligação implantada na Asa Norte, nas SQN 403 e 404, o verde ao longo das duas asas. Parque Olhos d’Água, muito utilizado pela popu- O Parque Nacional, localizado a oeste da Ro- lação local. Na Asa Sul, existe desde a década dovia DF – 003, destaca-se por sua extensão e de 1970 a praça entre as SQS 705 e 706. No Eixo importância para o ambiente da cidade. Também Monumental, além da Praça dos Três Poderes e conhecido como Parque da Água Mineral, devido do Buriti, podem-se destacar dois outros espaços: as suas nascentes, possui área de 30 mil ha. a Esplanada da Torre, parcialmente em reformula- Devem ser citados o Jardim Zoológico, a Es- ção com a transferência da sua feirinha de artesa- tação Ecológica do Jardim Botânico, especializa- nato para um ponto mais a oeste, e o largo gra- da na vegetação do cerrado, além de fazendas mado diante do Congresso Nacional, oficialmente experimentais e viveiros de plantas pertencentes denominado Praça da Cultura e da Cidadania. à Universidade de Brasília, ao Distrito Federal e Por fim, a cidade dispõe de uma série de par- a agências de pesquisas, como a EMBRAPA e o ques administrados pelo IBRAM, dos quais se lo- IBAMA. calizam na área do Plano Piloto, além do Parque A Estação Ecológica de Águas Emendadas Ecológico Burle Marx (Ecológico Norte) e do Par- é um parque que se localiza junto às nascentes que Ecológico e de Uso Múltiplo Olhos D´Água, já das três maiores bacias hidrográficas do país: do citados, o Parque das Aves, o Parque de Uso Múl- Rio Amazonas, do Rio São Francisco e do Rio da tiplo da Asa Sul, o Parque de Uso Múltiplo Vila Pla- Prata. Também integram o sistema de proteção nalto, o Parque de Uso Múltiplo da Enseada Norte ambiental do DF e de seu entorno a Reserva Eco- (Parque Enseada), o Parque Ecológico e Vivencial lógica do IBGE, a área de Interesse Ecológico Ca- da Candangolândia, o Parque Pioneiros, o Parque petinga / Taquara, a Área de Proteção Ambiental Urbano Bosque do Sudoeste, Parque de Uso Múl- Gama e Cabeça-de-Veado e o Santuário de Vida tiplo das Sucupiras (Parque Recreativo Sucupira). Silvestre do Riacho Fundo. Fonte: SEDUMA, banco de imagens, 2009. 172 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 5 - PAISAGEM URBANA

Figura 5.3. Mapa de localização de Parque e Praças

Fonte: SEDUMA, banco de imagens, 2009. 173 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

5.4 Paisagismo

O projeto de paisagismo tem como objetivo tras localidades do País e do exterior. No entanto, vias, vermelha e azul; além das zíneas, com uma coordenar os espaços com o elemento vegetal, nem todas se adaptaram ao clima e ao solo. Estas grande variedade de cores. Os canteiros, nessa utilizando-o para a orientação da circulação de foram sendo erradicadas aos poucos e substituí- época, são regados diariamente. pedestres e identificação de áreas de estar e lazer. das, ao longo dos anos, pelas espécies mais ade- A Novacap está catalogando todas as árvores quadas à região. Em Brasília, o Departamento de Parques e do Plano Piloto, identificando-as por nome, locali- Jardins prioriza o plantio de espécies arbóreas so- O Distrito Federal tem atualmente cerca de 4 zação e distância de uma para as outras. O resul- bre as espécies arbustivas e ornamentais, valori- milhões de árvores plantadas. Dessas, quase 15% tado desse processo permitirá, futuramente, um zando a utilização de espécies nativas da região, são frutíferas, que foram plantadas pelo Departa- planejamento de arborização mais eficiente. encontradas nos viveiros da Novacap e respeitan- mento de Parques e Jardins (DPJ), como amorei- São 12 espécies de árvores nativas do Cerra- do as espécies existentes tombadas pelo Decreto ra, jaqueira, mangueira, abacateiro, nespereira, do tombadas como Patrimônio Ecológico do DF. n.º 14.783, de 17 de junho de 1993. joá, jenipapeiro, sapucaia. Mas as nativas, cagai- Copaíba (Copaifera langsdorffii Desf.), sucupira- teira, jatobá, baru araticum e pequi, são espécies O plantio direto pela população de árvores no -branca (Pterodon pubescens Benth), pequi (Ca- facilmente encontradas também. Essas árvores espaço público, sem a orientação do órgão res- ryocar brasiliense Camb), cagaita (Eugenia dysen- garantem a presença de aves e pássaros em ple- ponsável, trouxe para a cidade uma série de in- terica DC), buriti (Mauritia flexuosa L.f.), gomeira no centro da Capital. A NOVACAP, porém, tem o convenientes e de problemas. A inadequação das (Vochysia thyrshoidea Polh), pau-doce (Vochysia cuidado de não plantar árvores frutíferas próximas espécies ao espaço e uso urbano pode compro- tucanorum Mart.), aroeira (Astromium urundeuva aos blocos residenciais, para não favorecer o apa- meter a segurança dos transeuntes, a estética e a (Fr.All), Engl.), embiruçu (Pseudobombax longi- recimento de morcegos dentro dos apartamentos. harmonia dos espaços, além de colocar em risco florum Zucc.), perobas (Aspidosperma spp.), ja- a integridade das plantas e provocar situações de A Novacap possui dois viveiros. O Viveiro I carandás (Dalbergia spp.) e ipês (Handroanthus desconforto. foi criado em 1960 e produz arbustos, palmáce- spp.), são imunes ao corte. Só podem ser retira- as, herbáceas e flores, folhagens e plantas orna- das em casos de extrema necessidade, mediante Em muitos casos, percebe-se que a escolha mentais, com produção mensal de um milhão de compensação ambiental. dos elementos vegetais desconsiderou a largura unidades, utilizadas no plantio dos canteiros orna- das calçadas e dos canteiros, a caracterização São, ainda, imunes ao corte os espécimes mentais da cidade. O outro, o Viveiro II, foi funda- das vias, a presença de fiação aérea e redes sub- arbóreo-arbustivos que apresentam as seguintes do em 1971 para produção de mudas de árvores, terrâneas de infra-estrutura, o recuo das constru- características: com capacidade total de 300 mil unidades/ano, no ções, a tipologia das construções, a caracterís- momento, podendo ser ampliado. ‡ As espécies lenhosas nativas ou exóticas ticas do solo, clima da região, orientação solar, raras, porta-sementes as atividades predominantes, elegendo espécies Nos viveiros, são realizadas pesquisas agro- pouco indicadas, locais incorretos e disposição nômicas e experimentações de novas espécies de ‡ As espécies lenhosas de expressão histó- inadequada para sua implantação. árvores e flores que se adaptem às condições cli- rica, excepcional beleza ou raridade máticas e de solo do Distrito Federal. Brasília possui árvores de espécies tão varia- ‡ Todas as espécies lenhosas em terreno das quanto às das florestas tropicais. Isto se deve No período de estiagem são utilizadas muitas cuja declividade seja superior a 20% aos Programas de Arborização, iniciados logo espécies coloridas, como as de cor branca e lilás, ‡ Todas as espécies lenhosas localizadas após a construção da Capital, quando foram plan- camomila amarela, cravos multicolores, dálias, flo- em áreas de preservação permanente, de reserva tadas várias espécies exóticas originárias de ou- cos, perpétuas, petúnias variadas, impatiens, sál- 174 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 5 - PAISAGEM URBANA ecológica e de instabilidade geomorfológica sujei- poda, em área particular, é realizada pelo proprie- tas à erosão. tário com autorização da NOVACAP.

Sementes de árvores e arbustos nativos são coletadas a um raio de 500 km de Brasília, em ex- pedições realizadas semestralmente por equipes do DPJ. Já as sementes de flores são colhidas nos canteiros floridos da cidade. As expedições visam buscar novas espécies nativas que resistam me- lhor à época seca e aos solos característicos de nossa região. Após esse processo, as sementes são encaminhadas ao Viveiro de produção de mu- das. A área gramada localizada no Plano Piloto é parte estratégica da Escala Bucólica. Além de sua importância paisagística, está entre seus princi- pais papéis evitar a erosão do solo e proteger as redes de água e esgoto. A manutenção dos gra- mados consiste, basicamente, na poda de grama e no controle de doenças e pragas, principalmen- te cupins e formigas. O controle de cupinzeiros e formigueiros é realizado durante todo o ano. Na poda de grama são utilizados equipamentos com sistema de reciclagem do material cortado, que é triturado, eliminando a necessidade de raste- lamento e transporte da massa verde resultante. Depois de podado e triturado é automaticamente distribuído sobre o gramado, voltando na forma de matéria orgânica. Roçadeiras manuais costais fa- zem o serviço de acabamento do gramado após a passagem das roçadeiras motorizadas. Esse ser- viço é feito durante o período chuvoso. O corte e a poda de árvores seguem uma po- lítica de intervenção mínima, baseada no Decreto nº 14.783 de 17 de junho de 1993, que dispõe so- bre o tombamento de espécies arbóreas-arbusti- vas. Os serviços de poda, em área pública, são realizados após a vistoria de um engenheiro flo- restal, mediante a solicitação da comunidade. A 175 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

5.5 Aspectos visuais e perspectivas de valor para a preservação

O modelo morfológico de Brasília sintoniza- paisagismo para o conjunto urbano de cidade. 5.5.1 Escala Monumental -se com os preceitos da Manière de penser No que concerne ao projeto original da cidade l’urbanisme de Le Corbusier, e segue os princípios tal como apresentado no Relatório do Plano Piloto, O conjunto de espaços que configuram a Es- da Carta de Atenas. Entretanto, Lucio Costa es- Kohlsdorf (2002) destaca algumas características cala Monumental de Brasília, além de sua função tava sintonizado com outras correntes urbanísti- e princípios propriamente modernistas dos espa- administrativa e institucional, adquiriu com o pas- cas, especialmente o movimento Cidade-Jardim, ços públicos ali presentes, os quais contrastam sar do tempo uma imagem fortíssima que a trans- do qual utilizou diversos conceitos, como o da com a maneira tradicional de organizar as áreas formou em símbolo de Brasília, do poder político Unidade de Vizinhança, por exemplo. Além disto, livres nas cidades brasileiras: do país e, por vezes, da própria arquitetura moder- refere-se expressamente no Relatório do Plano Pi- na brasileira. A escala monumental foi intencional- loto a influências de outros contextos culturais que mente buscada por Lucio Costa como o principal ‡ grandes dimensões das áreas livres públi- teria utilizado para organizar os espaços abertos elemento de composição para conferir à cidade cas; da cidade, como os terraplenos orientais, o “mall” a marca de efetiva capital do país. O Eixo Monu- inglês, a técnica rodoviarista americana, os espa- ‡ predomínio de uma única atividade nos mental, principalmente em sua parte leste, onde ços centrais inspirados em pontos consagrados edifícios lindeiros ao espaço público; se encontram os centros cívicos e administrativos de aglomeração, como Picaddily Circus, Times ‡ internalização de atividades comunitárias; federais é definido por uma elaboração formal Square e Champs Elisées. O resultado em termos precisa. Uma série de plataformas de tamanhos e paisagísticos é uma síntese particular e original ‡ acesso indireto aos edifícios, pois suas níveis diferenciados cria “lugares” por meio da uti- destas diversas influências. portas não abrem diretamente para o espaço pú- lização de sucessivos terraplenos. Seu ponto focal blico. (KOHLSDORF, 2002). Lucio Costa concebeu Brasília como uma é o Congresso Nacional, realçado de um lado pela cidade parque. A chamada “escala bucólica” do perspectiva barroca formada pela seqüência dos Plano Piloto inclui o contorno das áreas centrais Por outro lado, Brasília, tal como foi implan- blocos dos ministérios, e do outro pela composi- por um anel verde composto pelos parques, seto- tada, não corresponde integralmente às idéias ção clássica triangular da Praça dos Três Poderes, res de clubes, de embaixadas, pela área da UnB, de Lucio Costa, dado o caráter preliminar de seu abrindo-se para as margens do lago Paranoá, ao que delimitam e qualificam o conjunto. Interna- projeto, e às inúmeras modificações sofridas pelo longe. Articula-se a este espaço o Centro Civil Ur- mente aos setores residenciais e administrativos, mesmo, logo após o concurso e durante os 50 bano e a Torre de TV, que pontuam verticalmen- as áreas ajardinadas contribuem grandemente anos da cidade. Além disto, a cidade não se con- te a silhueta do Eixo Monumental, sem entretan- para a o efeito plástico da cidade: os jardins das teve na área prevista, tornando-se polinucleada, to comprometerem a importância hierárquica do superquadras, criando pequenas praças e recan- composta por diversos tipos de tecido urbaniza- Congresso Nacional. tos coloridos e sombreados; os extensos grama- do, que incluem as configurações vernáculas de Em contraposição aos espaços cívicos do dos do Eixo Monumental, enfatizando sobriamen- Planaltina e Brazlândia, as configurações típicas Setor Leste, a Praça Municipal completa o Eixo te o conjunto arquitetônico; a arborização do eixo de periferia das cidades satélites, a morfologia Monumental a Oeste. Para essa praça, hoje Pra- rodoviário, criando movimento e diversidade nos dos acampamentos de obra que persistiram, a ça do Buriti, Lucio Costa previu a instalação dos deslocamentos em velocidade. A massa de ve- configuração das favelas. (KOHLSDORF, 2002) edifícios-sede do governo local: a Prefeitura, a Po- getação que se implantou dentro e no entorno de A seguir procede-se a uma análise mais deta- lícia Central, o Corpo de Bombeiros e a Assistên- Brasília e o uso crescente das espécies do cerra- lhada dos aspectos paisagísticos na área do Pla- cia Pública. do é parte importante do valor que representa o no Piloto, por escala. 176 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 5 - PAISAGEM URBANA

Da concepção original do Plano à implanta- palco de manifestações populares, atividade para dão normalmente sobre o gramado da Esplanada ção efetiva da cidade, no que diz respeito espe- a qual se vocaciona. Entretanto, as estruturas tem- dos Ministérios. cificamente à Escala Monumental, algumas alte- porárias – toldos, tendas, palcos – que constante- A Plataforma da Torre de TV, ao nível do pe- rações se verificaram. No desenvolvimento do mente se armam ali desfiguram um dos espaços destre, é um dos mirantes criados com os terra- plano, em função das observações do júri, todo o mais simbólicos da nação, devendo reassumir seu plenos sucessivos do Eixo Monumental, além de conjunto urbano foi deslocado para leste, de for- caráter de excepcionalidade e encontrando outro localizar-se estrategicamente situada entre os se- ma que os setores de habitações individuais foram espaço próximo para se instalar no dia-a-dia. tores centrais. É um dos locais com grande poten- deslocados para a margem oposta do lago. Con- Outra modificação, na seqüência dos blocos cial de agregação e encontro na cidade. Sua feira tudo, tendo em vista que a posição da Estação ministeriais, refere-se à não-construção de mar- de artesanato transformou-se num ponto de refe- Ferroviária e da rodovia para caminhões permane- quise prevista para articular a circulação entre tais rência simbólico, estando sendo transferida para ceu inalterada, a extensão do Eixo Monumental foi blocos e abrigar pequenos cafés, lanchonetes, local adjacente, devendo o espaço aos pés da ampliada. Como resultado desse deslocamento, a bancas de jornais, etc. Como conseqüência, dian- Torre receber tratamento paisagístico adequado. distância entre a Rodoviária e a Estação Ferroviá- te da ausência de equipamentos e serviços de ria foi praticamente duplicada. No primeiro trecho do Eixo Monumental Oeste atendimento ao setor, pequenos comércios foram localiza-se o Setor de Divulgação Cultural, onde A Praça dos Três Poderes, implantada sobre instalados no interior dos prédios dos ministérios se encontram o Centro de Convenções e outras terrapleno com formato de um triângulo eqüiláte- ou em quiosques improvisados, em prejuízo da edificações, como a Casa do Teatro Amador, o ro, obedece às disposições contidas no Relatório diversidade do espaço público, além de compro- Clube do Choro e o Planetário. Entre os anos de do Plano Piloto, mas, a despeito da ênfase dada metimento da leitura e da apreensão da composi- 1965 e 1969, Oscar Niemeyer elaborou um projeto à forma elementar do triângulo equilátero, a mes- ção monumental, onde o improviso se contrapôs completo para o Setor, compreendendo diversos ma não se percebe ao nível do observador, para à disciplina intencionada. equipamentos e ambientes voltados às artes e ao quem a praça é uma esplanada retangular, com Finalizando a Esplanada e articulando-se com lazer. Contudo, somente parte do projeto foi exe- piso de mosaico português branco. Ao longo dos a plataforma rodoviária, encontram-se os Setores cutada e, ainda assim, com modificações. Resul- anos, a praça recebeu acréscimos: o Mastro da Culturais que, além de fazerem parte do centro cí- ta atualmente em um espaço pouco dinâmico e Bandeira Nacional, a Fundação Oscar Niemeyer vico e administrativo, vinculam-se ao Setor de Di- pouco apropriado pela população e turistas, pos- (1988), o Espaço Israel Pinheiro, o Panteão da Pá- versões, previsto sobre a plataforma. A implanta- suindo grande potencial de animação, por encon- tria Tancredo Neves (1986) e o Espaço Lucio Cos- ção dos equipamentos nos Setores Culturais não trar-se entre equipamentos significativos como o ta (1992). Tais elementos, a despeito de suas qua- teve prioridade no período da construção da cida- Centro de Convenções, a Torre de TV e os setores lidades plásticas individuais, do ponto de vista da de, apenas o Touring Club e o Teatro Nacional são hoteleiros. paisagem, rompem um dos objetivos expressos contemporâneos à fundação de Brasília. Recente- no Relatório do Plano Piloto, qual seja o de deixar Na Praça do Buriti – a Praça Municipal do mente, dois novos equipamentos foram inseridos livre a vista a leste da praça em direção ao cerrado Relatório do Plano Piloto, projetada sob orienta- no Setor, a Biblioteca Nacional e o Museu da Re- e ao lago Paranoá. ção de Lucio Costa, estão os órgãos do Gover- pública. Em termos paisagísticos, não observam no do Distrito Federal: o Palácio do Buriti (edifício Confrontando-se com a proposta original, as recomendações do Relatório do Plano Piloto sede, auditório e anexo, 1969), o Tribunal de Con- a primeira e principal modificação da Esplanada de que este espaço tivesse um caráter de espa- tas (1969); e o Tribunal de Justiça (1969), todos dos Ministérios deu-se em decorrência da solução ços verdes tratados, tendo sido implantados so- projetados por Nauro Esteves. Vinculados a ela, adotada por Niemeyer para o Congresso Nacio- bre uma vasta bandeja de cimento sem espaços a oeste, estão o Memorial dos Povos Indígenas nal, cuja plataforma transversal ao eixo, alongada, de estar e encontro. Resta no lado norte do Setor (1981) e o Memorial JK (1981). É uma praça com resultou em alargamento considerável da Espla- Cultural uma área livre, que poderia ser reservada tratamento paisagístico, que cumpre a função de nada. O extenso gramado tornou-se naturalmente as atividades culturais e de lazer eventuais que se 177 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 5.4. Eixo Monumental, em direção leste agregação ao mesmo tempo em que se adéqua Monumental e seu respectivo canteiro central situ- ao caráter monumental do local em que se insere. ado entre a Plataforma Rodoviária e a Torre de TV. Trata-se de uma vasta área cuja configuração re- As áreas situadas entre o Plano Piloto e a Epia mete à escala monumental, cortada por duas pis- foram consideravelmente alteradas em relação ao tas, cada uma com seis faixas de rolamento, com que se previa no Relatório do Plano Piloto. Na por- largo canteiro central gramado, escassamente ção sul, previa-se espaço para feiras, circo, even- arborizado. Antes da implantação do conjunto de tos, em área contígua ao extremo oeste do Setor viadutos que interliga os ramos sul e norte da via Hoteleiro Sul, e o Jardim Botânico, contíguo ao ex- W3, tal área era tratada como um parque, equipa- tremo oeste do Eixo Monumental. Na porção norte da e arborizada, mais confortável e utilizada pela estavam previstos: a Sociedade Hípica, o Setor população. Esportivo, o Jardim Zoológico e quartéis, estes lin- deiros à via Epia, em frente à Estação Ferroviária. Outra situação se dá na interseção do com- Em 1964, parte da área originalmente destinada plexo viário do Eixo Rodoviário-Residencial com ao Jardim Botânico foi vendida ao Correio Brasi- os setores centrais, onde está a Plataforma Rodo- Figura 5.5. Eixo Monumental, em direção oeste liense, dando início ao futuro Setor de Indústrias viária. Ali, o fluxo diário de pedestres é intensís- Gráficas. Posteriormente ali se instalou o serviço simo, porém a forma com a área é atingida por de meteorologia e o Parque da Cidade (Setor de vias e viadutos, retira da mesma a necessária hie- Recreação Pública Sul). Mais a oeste, foi implan- rarquia dos pedestres sobre os automóveis neste tado o Cruzeiro Velho. setor. As áreas intersticiais entre as vias são tra- tadas como áreas verdes, assumindo caracterís- O Setor de Recreação Pública Norte, que ticas inerentes à escala bucólica, porém, muitos compreende ginásio de esportes, estádio de fute- são os problemas relativos à integração entre os bol, autódromo, camping e demais equipamentos setores, ao trânsito de pedestres e aos desníveis e esportivos, foi situado mais a oeste, no lugar do às barreiras encontrados na travessia desse eixo. Jardim Zoológico. O Setor Militar Urbano, inicial- mente previsto em áreas de ambos os lados do Eixo Monumental, foi reunido de um lado só, no ramo norte da cidade, e com dimensões bem su- 5.5.2 Escala Residencial periores às propostas originalmente. Da forma como foram concebidos e depois Segundo a definição de Lucio Costa no Re- implantados os espaços da Escala Monumen- latório do Plano Piloto, na escala residencial, as tal decorrem hoje problemas que devem ser en- superquadras inauguraram uma “nova maneira de frentados no escopo do PPCUB. É sabido o valor viver, própria de Brasília e inteiramente diversa das que possuem os espaços abertos e os vazios na demais cidades brasileiras”. As seqüências de configuração desta Escala. Entretanto, em alguns grandes quarteirões, de planta quadrada, dispos- pontos, devido à magnitude dos afastamentos e à tos ao longo de ambos os lados do Eixo Rodoviá- falta de tratamento dos espaços livres, percebem- rio e emoldurados por uma larga cinta de árvores -se grandes descontinuidades em seu tecido ur- frondosas transformou-se em um dos elementos bano. Destaca-se neste sentido o trecho do Eixo mais fortes da imagem da escala residencial de Fonte: SEDUMA, banco de imagens, 2009. Brasília. 178 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 5 - PAISAGEM URBANA

As superquadras estão organizadas em duas Quanto à situação dos pilotis nas superqua- Figura 5.6. Superquadras, Asa Sul áreas simétricas com relação ao Eixo Monumen- dras, percebe-se uma progressiva perda da per- tal e distribuídas ao longo do Eixo Rodoviário em meabilidade dos espaços comuns. A alta densida- quatro faixas: a oeste, as faixas 100 e 300; a leste, de de ocupação nos pilotis conduz a dificuldades inicialmente a faixa 200, com edifícios de seis pa- na circulação e na visualização do entorno. Fato vimentos, e, posteriormente, a faixa 400. constatado mesmo quando os pilotis são ocu- pados de acordo com o que prevê a legislação A disposição das edificações, a percepção que permite 40% de ocupação. Ao que se conclui dos cheios e vazios e a horizontalidade do seu que mesmo a atual taxa de ocupação permitida conjunto vêm sendo modificado no tempo e mes- para a ocupação dos pilotis é comprovadamente mo ameaçando o sentido de conjunto no espaço alta, diante dos princípios de livre circulação, fá- da superquadra. A disposição nos blocos mais cil acessibilidade e de alta permeabilidade visual, recentes difere dos blocos mais antigos, desde a concebidos para os espaços públicos no interior sua implantação até o seu volume, acabamento das superquadras. Para isto também contribui a e cor. utilização como barreiras de jardineiras, cercas vi- Percebe-se ao longo da Asa Residencial Nor- vas e guarda-corpos. te, um processo muito lento de implantação das Os usos encontrados nos pilotis das proje- faixas verdes de emolduramento e do tratamento ções são os mais variados: casa do zelador, escri- paisagístico interno. O fato da faixa verde não ser tório, lixeira, salão de festas (múltiplas utilidades), implantada contribui, em conjunto com a falta de copa, sanitários, sala de jogos, depósito de mate- um tratamento paisagístico nas áreas verdes inter- riais de limpeza, bicicletário, sala de reuniões, bi- nas das superquadras da Asa Norte, na não confi- blioteca, brinquedoteca, sala de ginástica. Essas guração deste espaço enquanto lugar de vivência. atividades concorrem com a proposta da Unida- Nestes termos, tal como foi recomendado de de Vizinhança, na qual as atividades de lazer no Relatório do Plano Piloto de Brasília, sua im- e de encontros da comunidade teriam lugar nas plantação deveria ter sido anterior e não posterior entrequadras, onde foram previstos os clubes de ao processo de construção dos blocos, como é vizinhança, os espaços de convívio, os cinemas e constatado. os locais de culto, dentre outros. Com relação às superquadras da Asa Sul (60 Foi constatada a prática da implantação de superquadras), embora todas tenham suas faixas taludes que criam desníveis com relação ao en- verdes implantadas, praticamente todas carecem torno. De acordo com a concepção original, as de projeto e acompanhamento adequado para quadras deveriam ser niveladas ou ocupadas com a verificação do desempenho de sua vegetação o aproveitamento de desníveis por meio de terra- (tipo de árvore, espaçamento). Grande parte des- plenos, devidamente coordenados com as edifi- ta vegetação introduzida no início da construção cações, buscando sempre a livre circulação, bem de Brasília era originária de outros ecossistemas, como a sua adequação à utilização pública dos observando-se inclusive um processo de envelhe- espaços da superquadra. cimento precoce em algumas espécies. Nas quadras de construção mais recente, os Fonte: SEDUMA, banco de imagens, 2009. 179 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB edifícios são implantados sem projeto de urbani- Comerciais, de Diversões, Hoteleiros, Médicos- Figura 5.7. Foto aérea dos Setores Centrais zação, ou seja, sem asfalto, grama, arborização, -Hospitalares e de Rádio e Televisão, localizados meio-fio, calçadas, inclusive com a rede de ener- na parte sul e norte do Plano Piloto. Esses setores gia elétrica aérea. Uma situação que permanece fazem parte da denominada escala gregária, que por tempo indeterminado, o que leva a soluções se caracteriza por espaços mais densamente uti- de paisagismo individualizado para cada bloco, lizados, propícios ao encontro, nos quais são per- perdendo-se o planejamento do conjunto. mitidos usos diversificados e onde foi prevista a verticalização da paisagem. Algumas novas permissões previstas em lei acarretam a descaracterização dos princípios da Segundo Goulart e Leitão (2010), os elemen- superquadra, e que por isso devem ser revistas, tos construídos nesses setores, aliados às ativida- tais como, o avanço desnecessário sobre a área des ali instaladas e ao sistema de circulação de pública das torres de circulação externas ao edifí- veículos e pedestres, deveriam propiciar as con- cio, um elemento a mais a obstruir a circulação dos dições de agregação e urbanidade características pedestres, e as concessões de uso, autorizadas dos centros urbanos. Essa escala configura-se em Figura 5.8. Setor Bancário Sul pela Lei Complementar nº 388, de 01/06/2001. As torno do ponto de interseção dos dois eixos que concessões em subsolo, para ampliação de gara- estruturam a malha urbana – Monumental e Ro- gens, que avançam sobre a área pública fora da doviário –, ou seja, na região que circunda a Esta- projeção, resultam na impermeabilização do solo ção Rodoviária, elemento igualmente estruturador no entorno da edificação, assim como da super- da cidade. Segundo Rossetti (2009), a Plataforma quadra. Ainda a área pública das quadras perde Rodoviária de Brasília é o cerne do Plano Piloto em termos de continuidade, visto que a extensão de Lucio Costa, ponto articulador de três escalas, de afloramentos e de taludes em superfície devido a residencial, a monumental e a gregária, funda- às garagens em subsolo, constituem-se em bar- mental na articulação topográfica de todo o Plano. reira impedindo a franca acessibilidade em toda Concebida originalmente como um espaço so- superquadra. fisticado e elegante, equipado com casa de chá, ópera, ambientes referenciados numa urbanida- O aumento da área construída das edifica- de cosmopolita, foi amplamente apropriada pela ções e da impermeabilização do solo em super- população periférica, ponto de convergência das fície - devido tanto à concessão aérea como do cidades satélites, de onde decorre uma dinâmica subsolo - acarretou a diminuição das áreas livres e intensa e também um desgaste físico devido a sua arborizadas que se estruturavam como bosques e utilização ininterrupta e à falta de conservação. que estão sendo substituídas por jardins de cará- ter privativo, perdendo a característica de conjunto A Escala Gregária constituía-se, segundo o da cidade-parque. Relatório do Plano Piloto, além dos Setores de Diversões e da própria Plataforma Rodoviária, de quatro grandes “quarteirões”: “[...] dois grandes 5.5.3 Escala Gregária núcleos destinados exclusivamente ao comércio – lojas de magazines – e dois setores distintos, Integram os setores centrais a Plataforma o bancário-comercial e o dos escritórios para pro- Rodoviária, os Setores Bancários, de Autarquias, fissões liberais, representações e empresas [...]” Fonte: SEDUMA, banco de imagens, 2009. 180 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 5 - PAISAGEM URBANA

Segundo Goulart e Leitão (2010), o fluxo de peitam os limites e invadem as vagas frontais ou Ainda no que diz respeito à urbanização e ao pessoas, bens e serviços durante os dias úteis da calçadas. Na maioria dos estacionamentos, o ele- paisagismo desses setores, será preciso solucio- semana nos setores centrais reflete a vitalidade mento vegetal é ausente ou apresenta porte ina- nar problemas advindos da própria concepção das áreas onde, entretanto, a mobilidade encon- dequado. Além disso, observa-se que o espaço urbana. A urbanização das áreas centrais, implan- tra-se bastante prejudicada. Para os pedestres, público é utilizado prioritariamente pelo veículo, tadas em platôs, anula a modelagem natural do o espaço livre público carece da manutenção e como conseqüência da falta de delimitação de sítio e configura obstáculos à livre movimentação implantação de calçadas adequadas à circulação vagas, dos canteiros inutilizados, das dimensões de pedestres entre os setores. Nos limites do Se- dos diferentes tipos de freqüentadores dessas reduzidas da coroa de plantio na base das árvores tor de Autarquias Sul, por exemplo, estendem-se áreas. Além disso, a arborização e a iluminação e da extensa área impermeabilizada com asfalto. altos taludes cuja transposição é difícil. Estes lo- pública são insuficientes para garantir adequada cais demandam intervenções paisagísticas visan- A ausência de urbanização, com espaços qualidade ambiental urbana. A atração de enorme do a proporcionar maior conforto aos transeuntes qualificados de convívio, e a ocupação por es- quantidade de veículos para esta área implica a e melhorar seu aspecto visual. tacionamentos informais, dificultam o fluxo de presença de grandes bolsões de estacionamento pedestres, para os quais não foram previstos ca- e a utilização de áreas improvisadas, promoven- minhamentos contínuos. Em sua maioria, as edifi- do a degradação progressiva do espaço livre pú- cações apresentam pouca interação com o espa- 5.5.4 Escala Bucólica blico e a obstrução sistemática do sistema viário ço público. de acesso aos setores e às edificações, para os Segundo Gusmão (2010), quando Lucio pedestres e para os veículos de serviços públicos Uma problemática considerável verificada Costa concebeu o Plano Piloto de Brasília como (bombeiros, ambulâncias, veículos de manuten- especialmente nos Setores Bancário Norte e Sul uma cidade-parque, ele estava definindo que a ção de redes de infra-estrutura), implicando situa- diz respeito às numerosas descontinuidades en- paisagem natural era um elemento norteador da ções de perigo e insegurança a muitas áreas. Por tre os edifícios. O projeto urbanístico desses Se- configuração espacial da cidade que planejara, outro lado, os setores centrais caracterizam-se tores previa a separação do fluxo motorizado do mas ele não situou claramente o uso bucólico no pelo esvaziamento à noite e nos finais de semana, fluxo de pedestres, deixando o sistema viário em zoneamento urbano proposto. A natureza estaria como resultado da setorização de funções e da subsolo e criando uma esplanada de pedestres presente em todas as áreas da cidade, apresen- proibição do uso residencial nas normas de uso no nível térreo, que corresponde ao nível do sis- tando-se com características diferenciadas para do solo dos setores. Como conseqüência, a pros- tema viário de acesso aos Setores Bancários. O se compatibilizar as três outras escalas. O Relató- tituição, o comércio de drogas ilícitas transformam projeto urbanístico cria lotes com maior dimensão rio mostra que Brasília foi concebida por meio de estes espaços em ambiente marginalizado e evi- no subsolo e, a partir do térreo, menor dimensão “uma técnica paisagística de parques e jardins”, a tado pela população e maior altura, configurando torres. Esta solução fim de manter a paisagem natural dentro da cida- urbanística não foi totalmente implementada até o Diferentemente dos Setores Centrais vincu- de, e por isso foi denominada de cidade-parque. presente, por requerer a construção de todas as lados à Asa Sul, os Setores Comercial, Hoteleiro, Mais tarde, Lucio Costa afirmou em Brasília Revi- edificações previstas. Sendo assim, constatam-se Médico-Hospitalar e Rádio e Televisão Norte foram sitada: “A intervenção da escala bucólica no ritmo inúmeros obstáculos e grande dificuldade para a implantados mais tardiamente. Observam-se ain- e na harmonia dos espaços urbanos se faz sentir circulação de pedestres. Além disso, as constru- da hoje muitos lotes por construir, além de muitas na passagem, sem transição, do ocupado para o ções “em subsolo” ocupam quase a totalidade do construções em andamento, de modo que care- não-ocupado – em lugar de muralhas, a cidade se lote, mas não são geminadas. A implantação da cem de calçadas, arborização, iluminação pública propôs delimitada por áreas livres arborizadas”. esplanada enfrenta grande dificuldade construtiva e mobiliário urbano, além da implantação de tre- relacionada com a união entre as bases, já que Segundo Gusmão (2010), é difícil estabelecer chos do sistema viário. as edificações não foram construídas simultanea- uma poligonal para a escala bucólica, uma vez Pode-se observar que os automóveis não res- mente, gerando a descontinuidade do térreo. que o espírito bucólico deve ser sentido em toda 181 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 5.9. Orla a cidade, com suas densidades baixas, horizon- les setores localizados nas margens houvesse talidade e presença do verde. A autora propõe o ocupações atingindo a borda do Lago. A inexis- agrupamento das áreas bucólicas segundo suas tência de vias ou calçadas de acesso aos lotes principais vocações, em três grandes grupos, que também deixou as margens do Lago pouco aces- podem ser classificados da seguinte forma: síveis ao público e, ao mesmo tempo, vulneráveis a ocupação irregular das áreas públicas lindeiras aos lotes. ‡ áreas com grande vocação para o lazer, presentes nos setores que separam a cidade do Os primeiros parâmetros urbanísticos como Lago, considerando-se da via L2 para leste em di- taxas de ocupação, limite de gabarito, foram de- reção ao Lago; finidos para os lotes destinados a hotéis. Eles obedeciam aos seguintes requisitos: gabarito de ‡ áreas que devem conter o crescimento quatro pavimentos, subsolo optativo e afastamen- urbano, incluindo os setores que, ao envolver a to mínimo obrigatório de cinco metros em todas cidade pelo lado oposto, demarcam suas extremi- as divisas dos lotes. Segundo Gusmão (2010), em Figura 5.10. Lago Paranoá dades e delimitam a malha urbana; e 1976 foram aprovados os parâmetros de ocupa- ‡ áreas que emolduram as atividades coti- ção interna dos lotes para o Setor de Hotéis de dianas, onde a escala bucólica se apresenta em Turismo Sul, definindo a taxa de ocupação máxima meio às demais escalas. em 30%, depois alterado para 40%, alterando os afastamentos mínimos obrigatórios para dez me- Este último grupo de espaços da escala bu- tros e estabelecendo também uma cota de coroa- cólica encontra-se analisado ao longo das des- mento máxima relativa ao nível altimétrico do piso crições anteriormente apresentadas das demais da Praça dos Três Poderes. Para o Setor de Clu- escalas. A seguir apresentaremos uma descrição bes Esportivos, as taxas de ocupação são de 30% dos dois primeiros grupos propostos. e de pavimentação de 70%, estando o gabarito de altura definido em 9m. Atualmente, em termos de 5.5.4.1 Áreas entre o Plano Piloto e o uso, há grande ocorrência de atividades comer- ciais relacionadas a lazer, diversão e consumo. Lago Quanto aos Setores de Embaixadas, estão Esta seção abrange os seguintes setores: Se- localizados a oeste dos clubes, com suas edifi- tor de Clubes Esportivos Norte e Sul, Setor de Ho- cações bastante mimetizadas na paisagem. Não téis de Turismo Norte e Sul, setores destinados a existem fluxos visíveis de pedestres ao longo da Presidência, a Universidade de Brasília, Área Ver- área e o trafego de veículos é pouco expressivo. de de Proteção e Reserva (AVPR), Setor Palácio O conjunto de características deste setor – baixas Presidencial (SPP), Setores de Embaixadas Norte densidades, baixos gabaritos, isolamento, amplas e Sul e Setor de Mansões Isoladas Norte (SMI/Nor- áreas verdes – atendem aos pressupostos da te). Segundo Gusmão (2010), toda esta área, ao escala bucólica. O mesmo pode ser dito para o ser parcelada em 1960 pela Novacap, não previu Setor de Mansões Isoladas, com apenas 17 lotes a servidão de contorno ao longo do Lago como de 10.000m² cada, nem todos implantados, que Fonte: SEDUMA, banco de imagens, 2009. sugerida por Lucio Costa, permitindo que naque- atendem às recomendações de Lucio Costa para 182 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 5 - PAISAGEM URBANA residências unifamiliares a serem excepcional- cionais, em que a função da rua não se restringe Figura 5.11. Setor Hospitalar Local Norte, a esquerda. mente instaladas junto à orla. apenas a circulação, mas também e um local de lazer, encontro e estar. Os condicionantes do tra- Localiza-se nesta área a Vila Planalto, antigo çado urbano – a vegetação existente, a estrutura acampamento remanescente da época da cons- principal do sistema viário e os marcos simbólicos trução de Brasília e tombado pelo Governo do Dis- – definiram o desenho das vias e dos quarteirões. trito Federal em 1988. O tombamento estabeleceu A massa vegetal mais densa levou a conforma- critérios para a preservação das características ção de um parque urbano na porção sudoeste do essenciais que conferem à Vila o caráter único e acampamento; outras massas de menor tamanho peculiar, dentre eles: a preservação da caracte- originaram praças e largos. rística de mimetização da Vila na paisagem, por meio da manutenção de sua vegetação; a criação de área de tutela non-aedificandi, com preserva- 5.5.4.2 Setores que envolvem as demais ção da cobertura vegetal do cerrado nativo; a ma- bordas da cidade nutenção da identidade de cada um dos acampa- Segundo Lucio Costa, as extensas áreas li- Figura 5.12. Setor de Recreação e Esportivo Norte mentos constituintes da Vila, com a preservação vres, a serem densamente arborizadas ou guar- do traçado urbano original e a preservação dos dando a cobertura vegetal nativa, diretamente pontos de encontro e dos espaços de valor sim- contigua a áreas edificadas, marcam a escala bólico e referencial para a população e a historia bucólica. Essa cobertura vegetal compõe o cer- do conjunto. Atualmente, o núcleo sofre pressões camento verde em todas as bordas da mancha para o adensamento, com crescimento em altura urbanizada, comparecendo “sem transição, do e invasões nas áreas publicas. Também é bastan- ocupado para o não ocupado”, e responsável te preocupante a pressão para ocupação da área pela delimitação da cidade em si. Seria a marca de tutela, que foi proposta como uma grande faixa dos limites da malha urbana. verde que garantisse a proteção paisagística das visuais entre o Palácio da Alvorada e a Praça dos Nas bordas oeste do Plano Piloto, observam- Três Poderes. Grande parte das casas já apresen- -se diversas medidas de interrupção da malha ta o segundo e terceiro pavimento, de modo que a urbana ou de controle de densidades, variando paisagem é bastante edificada, enfraquecendo a de setor para setor. As extremidades norte e sul fisionomia bucólica. caracterizam-se pelo tratamento urbano, permi- tindo a ocupação por edificações de baixa altura, A Vila Telebrasília está localizada no final da em grandes lotes com baixa ou media densidade Asa Sul, entre o Lago Paranoá e a via L4 Sul. Sua de ocupação – em geral limitadas a 40% da área ocupação caracterizou-se por um sistema de lotes dos terrenos. Essas regras são válidas para as de grandes dimensões, habitações de madeira e áreas diretamente contiguas a Asa Sul – de que algumas chácaras, com cultivo de árvores frutífe- são exemplos os Setores Terminal Sul, Policial e de ras e a criação de animais domésticos. O proje- Múltiplas Atividades Sul – e a Asa Norte, destacan- to de regularização aprovado tomou como prin- do-se o Setor Terminal Norte. cípio respeitar o padrão existente de ocupação do acampamento original, adotando um modelo Na borda oeste, contigua ao Setor de Grandes urbano que se assemelha ao das cidades tradi- Áreas (quadras 900), segundo Gusmão (2010), o Fonte: SEDUMA, banco de imagens, 2009. 183 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB artifício é outro. O Parque da Cidade e o Cemité- ção das baixas alturas das edificações e adensa- rio, já plenamente implantados na Asa Sul, cum- mento da vegetação para amenizar o predomínio prem nitidamente a função de separar a mancha da massa edificada na paisagem. urbanizada da Asa Sul de uma das áreas de ex- pansão urbana identificadas por Lucio Costa em Brasília Revisitada – o Setor Sudoeste. Na metade norte, também o futuro Parque Burle Marx, que se estende ao longo das quadras 907 a 916 Norte, manterá visível a separação entre duas manchas urbanas distintas – Asa Norte e Setor Noroeste. Entre o centro urbano e a quadra 906, o Centro Esportivo (parte do Setor de Recreação Publica Norte) é quem marca, com edifícios e equipamen- tos esportivos isolados em vasta área livre, a in- terrupção abrupta da Asa Norte no sentido leste- -oeste. O cinturão verde existente na extremidade sul do Plano Piloto, afora as áreas a margem do Lago Paranoá, e completado com o Jardim Zoo- lógico, situado em local diferente do previsto por Lucio Costa, mas adequado para um equipamen- to dessa natureza. A Asa Norte é finalizada em dois setores com densidade incompatível com as prescrições de Lucio Costa para as bordas da cidade: os Seto- res Hospitalar Local Norte e Terminal Norte são tão densamente ocupados que anulam o efeito de percepção da escala bucólica, a “passagem, sem transição, do ocupado para o não ocupado”, que configuraria os limites de Brasília. A região da Candangolândia encontra-se inserida no corredor verde formado ao longo do Córrego Riacho Fundo e seus tributários: Córre- go Guará e Córrego Vicente Pires. Esse corredor é de importância estratégica no que se refere às ações de recuperação e preservação do Lago Pa- ranoá, embora esteja distante das suas margens. Atualmente tombada e protegida pela legislação de preservação do Patrimônio Cultural do Distrito Federal com recomendações quanto a manuten- 184 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 5 - PAISAGEM URBANA

5.6 Mobiliário Urbano, Elementos de Sinalização Urbana, Elementos aparentes da Infraestrutura Urbana

Os elementos que equipam o espaço público ‡ Iluminação e energia (postes); d) Mobiliário Urbano especial: são considerados o conjunto formado pelo mobili- ‡ Comunicação (telefones públicos, redes São considerados todos os elementos que ário urbano e os elementos das redes de infra-es- de distribuição); dependem de estudos especiais e projetos espe- trutura aparentes nos logradouros públicos, como cíficos para sua implantação, visando seu desem- postes da rede de energia elétrica, iluminação pú- ‡ Segurança (hidrantes) e penho funcional e paisagístico. São constituídos blica e telefonia, hidrantes e outros. ‡ Transportes (abrigos de ônibus e táxis). por elementos de: Qualquer elemento do mobiliário urbano de- ‡ conforto e apoio ao lazer (bancos, bebe- verá estar em harmonia com a paisagem do local, b) Mobiliário Urbano complementar: douros, equipamentos infantis, equipamentos es- não podendo interferir visualmente em espaços São todos os elementos que complementam portivos); abertos de configuração especial, como praças, o espaço público em termos de qualidade e são ‡ ornamentação e complementação da pai- visuais urbanas significativas, espaços públicos de localização flexível, adaptáveis aos condicio- sagem (fontes, chafarizes, vasos e floreiras, prote- de configuração marcantes, e em relação às edifi- namentos paisagísticos e ambientais e aos ele- tores de árvores, esculturas, grades e parapeitos, cações ou espaços tombados. mentos básicos. São constituídos por elementos canalizadores para pedestres); São considerados mobiliários urbanos todos de: os elementos de escala micro-arquitetônica, inte- ‡ Comunicação (caixas coletoras de cor- Em Brasília, percebe-se que o planejamento grantes do espaço urbano, cujas dimensões são reio); compatíveis com possibilidade de remoção e ou da localização dos equipamentos de mobiliário ur- relocalização e que sejam complementares às ‡ Higiene (cestos coletores, suporte para bano não obedece a uma lógica global, que inclua funções urbanas, localizados em espaços públi- apresentação do lixo ou coleta, sanitários públi- desenho e dimensionamento, manutenção, inser- cos e estejam disseminados no tecido com área cos); ção adequada no espaço público, quantificação correta, otimização e busca conceitual de reforçar de influência restrita, classificando-se em: bási- ‡ Segurança Pública (guaritas para vigilan- identidade ao mesmo tempo em que procure uma cos, complementares, acessórios e especiais. tes, cabines para policiais) necessária unidade entre os diversos elementos. a) Mobiliário Urbano básico: c) Mobiliário Urbano acessório: Percebe-se a falta de aglutinação de diversos elementos que desta forma freqüentemente inter- Caracteriza-se por assegurar ao espaço pú- São considerados os elementos não funda- ferem nas calçadas de forma desordenada, isto é blico as condições essenciais de segurança, co- mentais, cuja inserção no espaço público não sem respeitar as divisões necessárias entre áreas municação, informações fundamentais, circulação poderá causar saturação, perda da qualidade e técnicas e áreas de livre circulação. Critérios bá- de pedestres, possuindo prioridade de localização comprometimento da paisagem urbana. São com- sicos de implantação, como o agrupamento e a no espaço público. São constituídos pelos ele- postos por elementos de: associatividade de elementos (junto a paradas de mentos de: ‡ Informação (relógios digitais, termômetros, ônibus, por exemplo) não são observados. ‡ Sinalização de trânsito (placas, semáfo- medidores de poluição atmosférica); Além disto, observam-se freqüentemente si- ros); ‡ Serviços diversos (cadeiras de engraxates, tuações irregulares, como o comprometimento ‡ Informações (placas de identificação de bancas de frutas e verduras, bancas de flores, jor- do acesso às faixas de segurança para pedes- logradouros, postes toponímicos); nais e revistas, quiosques de lanches); tres e às rampas de acessibilidade; a obstrução 185 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB de acessos de emergência; a não liberação de padrão devidamente aprovado pelos órgãos VII - manter afastamento de no mínimo uma faixa de circulação livre para pedestres mí- competentes. dez metros do acostamento em relação aos nima nos passeios; a instalação em locais que trailers, quando localizados na faixa de domí- comprometem ou interferem nos pontos de ins- Quanto aos trailers, o máximo de ocupa- nio das rodovias do Sistema Rodoviário do peção e manutenção das redes subterrâneas de ção de área pública por trailer é de dez metros Distrito Federal. infra-estrutura urbana; a instalação em locais que quadrados, incluindo a área de consumo. É se constituem em obstáculo físico - visual e que O Plano de Ocupação, além de outros pa- permitida a utilização de parte da área má- interferem no ângulo de visão dos motoristas, es- râmetros definidos na regulamentação, deve: pecialmente nos cruzamentos das vias. xima descrita no caput para a colocação de toldo recolhível, com altura máxima de dois I - definir os espaços públicos onde serão Uma questão relevante em Brasília é a ques- metros e cinqüenta centímetros. instalados os trailers e quiosques, respeitados tão dos Quiosques e Trailers, normatizada pela Lei os projetos de parcelamento aprovados e re- A Lei prevê a execução de um Plano de nº.4257 de 02/12/2008. A Lei estabelece critérios gistrados em cartório competente; de utilização de áreas públicas do Distrito Federal Ocupação pela Administração Regional e por mobiliários urbanos deste tipo. aprovado pela Secretaria de Desenvolvimen- II - estabelecer a atividade econômica de Quiosque é definido como uma pequena to Urbano e Meio Ambiente no prazo máximo comercialização de produtos ou de prestação construção edificada em área pública, destinada de um ano, a partir da publicação da regula- de serviços. ao exercício de atividade econômica; o Trailer é o mentação. Tal plano deve seguir as seguintes A definição dos locais no Plano de Ocu- bem móvel acoplado a um veículo automotor, ou o orientações: pação não deve: próprio veículo adaptado destinado à comerciali- I - ser precedido de consulta às conces- zação de produtos e à prestação de serviços. I - comprometer o fluxo de segurança de sionárias de serviços públicos, a fim de pre- pedestres e veículos; A instalação dos quiosques deve obedecer ao servar a infra-estrutura existente; projeto-padrão de arquitetura que será elaborado II - prejudicar a paisagem urbana da cida- e aprovado pelo Poder Executivo, obedecendo, no II - observar o cone de visibilidade em in- de e as visuais dos conjuntos arquitetônicos mínimo, aos seguintes parâmetros construtivos: tersecções viárias; significativos; III - garantir as condições de acessibilida- ‡ A área máxima permitida de projeção III - obstruir estacionamento público. de, de acordo com a legislação vigente; da cobertura no solo, computado nessa área Em Brasília, a Lei nº 3.035, de 18 de julho de o percentual destinado à manipulação de ali- IV - manter uma faixa livre de circulação 2002 dispõe sobre o Plano Diretor de Publicidade no entorno dos quiosques e trailers tratados mentos, aos banheiros e à área de consumo, das Regiões Administrativas do Plano Piloto – RA de quinze metros quadrados na poligonal da nesta Lei, com largura mínima de dois metros I, do Cruzeiro – RA XI, de Candangolândia – RA Região Administrativa do Plano Piloto - RA I livres de qualquer barreira arquitetônica; XVIX, Lago Sul – RA XVI e do Lago Norte – RA XVIII. e de sessenta metros quadrados nas demais V - harmonizar, quando necessário, as re- Constituem objetivos do Plano Diretor de Pu- Regiões Administrativas; lações entre quiosques, trailers e demais esta- blicidade: ‡ A altura máxima permitida de três me- belecimentos comerciais; I – manter a estética da paisagem urbana por meio do ordenamento da publicidade; tros e oitenta centímetros, incluídas a cumeei- VI - respeitar o estabelecido em legislação ra e a caixa d’água não aparente. Característi- II – ordenar os meios de propaganda no espa- específica referente ao Perímetro de Seguran- ço urbano de forma que não comprometam cas diferenciadas serão definidas por projeto ça Escolar; as quatro escalas objeto de tombamento de 186 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 5 - PAISAGEM URBANA

Brasília como Patrimônio Cultural da Humani- aqueles utilizados em eventos realizados em Art. 24. Nas áreas públicas localizadas no in- dade; suas instalações, devidamente autorizados; terior das Superquadras Norte – SQN, Super- III – estabelecer parâmetros para instalação III - na Plataforma Rodoviária serão permitidos quadras Sul – SQS e nas Superquadras Su- de meios de propaganda objetivando evitar apenas os meios de propaganda na fachada doeste – SQSW, bem como nas áreas verdes os abusos e sobreposição dos mesmos; dos mesmos, utilizados para identificação dos situadas no seu entorno a uma distância de IV – normatizar a utilização de meios de pu- estabelecimentos ali instalados com ou sem 20m (vinte metros), nenhum meio de propa- blicidade em área pública de forma a evitar patrocinadores. ganda poderá ser afixado diretamente no solo. prejuízos quanto à circulação de veículos e § 1° No Setor de Diversões Norte – SDN – e no pedestres. Setor de Diversões Sul - SDS -, será admitida Art. 25. É vedada a instalação de meios de V – preservar a visibilidade do horizonte, ca- a instalação de meios de propaganda na fa- propaganda em área pública na Vila Planalto. racterística fundamental na concepção da ci- chada leste voltada para o Setor Cultural Norte dade. - SCTN – e para o Setor Cultural Sul – SCTS -; Os letreiros são fundamentais para a divulga- sendo vedados os meios de propaganda nas ção das atividades comerciais e de serviço, contri- Em relação aos diversos setores urbanos de fachadas voltadas para o Eixo Monumental. buindo para informar e orientar a população, bem Brasília, destacam-se algumas disposições: [...] como para criar uma imagem de cidade dinâmica e § 3° Nos Comércios Locais Sul - CLS -, será moderna. Entretanto, a competitividade crescente admitida a instalação de meios de propagan- Art. 15. No setor de Recreação Pública Norte – e as novas formas de divulgação tornaram alguns da para identificação dos estabelecimentos SRPN -, de Recreação Pública Sul – SRPS - e pontos da cidade extremamente conturbados, po- comerciais apenas na edificação, com ou na Universidade de Brasília - UnB -, a instala- sem patrocinadores. luídos e estressantes. O acúmulo de informações ção de meios de publicidade deverá respeitar visuais, dispostos sem critérios ou em desacordo projeto específico para cada setor, que será Art. 21. Na Zona Cívico-Administrativa de Bra- com as normas resulta na ineficácia dos veículos submetido à aprovação do órgão competen- sília e Setor Militar Urbano nenhum meio de de divulgação, criando uma paisagem confusa e te de planejamento urbano e dos órgãos de propaganda fixo no solo poderá ser afixado desordenada. proteção ao patrimônio cultural local e federal. em áreas públicas. [...] Os principais setores em que se verificam tais Art. 16. Os parâmetros para instalação de transtornos em Brasília são os setores comerciais meios de publicidade em edificações de uso Art. 22. No Setor Cultural Norte – SCTN -, Se- vinculados ao automóvel, em que é buscado o comercial de bens e serviços, industrial ou tor Cultural Sul – SCTS -, Setor de Divulgação impacto visual imediato e veloz, o que resulta em coletivo, também denominado institucional Cultural – SDC - e no Centro de Convenções grande carga comunicativa dos ambientes e ao ou comunitário, são os constantes do Anexo será permitida apenas a instalação de meios I desta Lei, respeitado o seguinte: empenho que reservam os comércios à persua- de propaganda fixos no solo na área pública [...] são dos compradores através de suas imagens e para identificação do estabelecimento instala- II - nas projeções ou nos lotes edificados de símbolos. Os principais espaços com estas carac- do na edificação sem patrocinador ou divul- uso coletivo, também denominado institucio- terísticas no Plano Piloto são a Avenida W3 e os gação dos eventos programados para o local. nal ou comunitário, localizados internamente Comércios Locais, conforme detalhado a seguir: às Superquadras de Brasília - SQS e SQN Art. 23. Nos Comércios Locais Norte – CLN -, Setor de Habitações Coletivas Sudoeste 5.6.1. Avenida W3 - e nos Comércios Locais Sudoeste - CLSW – SQSW - e nas demais áreas residenciais – será admitida a instalação de meios de pro- abrangidas por esta Lei conforme regulamen- Em Brasília, percebe-se que os estabeleci- paganda fixos no solo de médio porte, na área tação, somente serão permitidos os meios de mentos comerciais localizam-se relativamente dis- pública que circunda o lote ou projeção, para propaganda utilizados para identificação do tantes das vias e portanto cada vez mais cobertos identificação coletiva dos estabelecimentos edifício, dos órgãos, entidades e estabele- comerciais ali instalados. pelos veículos estacionados a sua porta. Assim, cimentos ali instalados sem patrocinador ou nos corredores comerciais, como a Avenida W3, 187 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB a persuasão é alcançada através da exposição de as normas definem uma galeria de 4,00 metros de Figura 5.13. Exemplos de fachadas localizadas ao símbolos representativos carregados de informa- profundidade voltada para a Avenida W3. longo da avenida 3 Norte ção. Assim, observamos os comerciantes concor- Como a altura da marquise prevista na Asa rendo entre si para se tornarem o mais persuasi- Norte é maior do que a prevista para Asa Sul, fica vos. Nesta disputa colaboram com a constituição garantida a visibilidade para os letreiros fixados de um ambiente carregado de informações onde na edificação sob a marquise, dispensando a ne- muitas vezes, ultrapassa os limites admissíveis de cessidade de outros espaços. Além disso, como informação visual.Grande parte da degradação ar- nestes blocos ocorre a maior utilização dos pa- quitetônica da Avenida W3 é atribuída à poluição vimentos superiores para módulos residenciais visual gerada pela ausência de diretrizes orde- independentes, evita-se a instalação de letreiros nadoras para exposição dos letreiros e anúncios que possam tornar-se barreiras visuais para os publicitários. A resistência em rever as normas de moradores. fixação dos letreiros contribuiu para agravar a situ- ação ao longo dos anos, prejudicando a imagem Por outro lado nos blocos EC2A, que corres- da avenida e do Plano Piloto. pondem aos blocos de dois pavimentos, lindeiros à avenida W3, situados no Setor Comercial Local Em trabalho elaborado pelo GDF (2008), a Residencial Norte (SCLRN), embora também exis- partir de um levantamento de todas as edificações ta uma galeria de 4,00 metros de profundidade localizadas nas quadras 500 sul, identificaram-se voltada para a Avenida W3, a distância com a Ave- cinco padrões predominantes de fixação de letrei- nida não cria o mesmo efeito ocorrido com os blo- ros: cos EC4. Assim, a fachada do pavimento superior ‡ Letreiro instalado sob a marquise, fixado é amplamente explorada para fixação dos letreiros na edificação de identificação. Algumas vezes, ocupa-se até o ‡ Letreiro instalado sobre a marquise, fixado espaço das janelas e varandas, prejudicando a na parte frontal da marquise ventilação dos cômodos. ‡ Letreiro instalado sobre a marquise, fixado na edificação 5.6.2. Comércios Locais Sul e Norte ‡ Letreiro instalado sobre ou sob a marqui- Estas áreas comerciais, ao largo das vias se, disposto verticalmente transversais aos eixos principais da cidade que le- ‡ Letreiro instalado na testeira da edificação vam os habitantes às superquadras, foram estabe- lecidas duas soluções de implantação. A primeira, Assim como na W3 sul, em muitos edifícios na Asa Sul da cidade, apresenta blocos retangula- da W3 norte ocorre a fixação de letreiros na fren- res implantados com sua dimensão maior paralela te da marquise. No entanto, dois fatores contri- à via. As unidades comerciais do bloco possuíam buem para que a parte inferior da marquise tam- originalmente frente para as superquadras e fun- bém seja amplamente utilizada. No acesso dos dos para a via com a função de abastecimento do blocos EC2A - corresponde aos blocos de dois comércio. O que ocorreu foi que a frente se tornou pavimentos, lindeiros à avenida W3, situados no fundo e o fundo se tornou frente. Concomitante- Setor Comercial Local Residencial Norte (SCLRN), mente, o novo fundo cresceu e invadiu a área livre Fonte: RSP, banco de imagens, 2010. 188 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 5 - PAISAGEM URBANA

Figura 5.14. Exemplos de fachadas localizadas no da superquadra e a nova frente invadiu a área de Setor de Comercio Local Sul. circulação da via debruçando nela seus grandes e numerosos letreiros. Com o propósito de amenizar os problemas inerentes desta situação apresentada, os comér- cios da Asa Norte, foram implantados com blocos quadrados, autônomos, onde as unidades comer- ciais se voltam para todos os lados. A nova dispo- sição conteve em parte os problemas relaciona- dos nas comerciais locais sul, porém as unidades comerciais ainda de tamanho reduzido, avançam no espaço livre ao seu redor invadindo o espaço. Outro problema relacionado são as unidades co- merciais posteriores e que procuram mostrar-se com seus letreiros locados junto à circulação dos carros.

Fonte: RSP, banco de imagens, 2010. 189 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

5.7 Tratamento de Fachadas

Lucio Costa via a vegetação como em ele- praticamente completa, o que explica a maior inci- mento que, além de fornecer sombra e embele- dência da ocupação das coberturas na Asa Norte. zamento para os espaços de permanência e con- Algumas irregularidades na escala residen- vívio, criava uma transição entre a arquitetura e o cial devem ser destacadas, como as piscinas com espaço aberto, unifica as escalas, permite a con- deques encostados no limite da projeção e que tinuidade entre as partes, padroniza as diferenças levam a um acréscimo nos guarda-corpos acima arquitetônicas reforçando a unidade do conjunto. dos 1,50m regulares. Também foram verificados A disposição das edificações, a percepção conflitos com relação à ocupação de 40% da área dos cheios e vazios e a horizontalidade do seu da projeção, sendo constatada algumas vezes conjunto vêm sendo modificadas no tempo e mes- em cada cobertura individual uma ocupação de mo ameaçando o sentido de conjunto no espaço 40% da projeção, e não com relação a área total da superquadra. A disposição nos blocos mais da cobertura como estabelece a legislação vigen- recentes difere dos blocos mais antigos, desde a te. Ainda foram constatados avanços até o limite sua implantação até o seu volume, acabamento da projeção ou até mesmo além dele, quando do e cor. aproveitamento das áreas de concessão para va- randas ou torres de circulação, sendo ignorados Segundo Ficher (2003) ocorrem duas cate- os afastamentos mínimos exigidos. gorias principais de blocos residenciais com ca- racterísticas distintas e bem marcadas. Os blocos Há situações em que as alturas das constru- “antigos” em geral têm feição de lâminas horizon- ções, somadas às concessões das torres de cir- tais em que predominam componentes retilíneos e culação, constituem pontos de destaque em con- ortogonais, fachadas de vidro, elementos de que- flito com os demais blocos da quadra. Também bra-sol e coberturas planas, sendo representativo foi constatada a elevação das torres de circulação da arquitetura brasileira dos anos 1950, onde os vertical, que ultrapassam em grande altura o cor- apartamentos são vazados ou semi-vazados. Já po da edificação, e são justificadas como neces- os blocos “recentes” são mais recortados – even- sárias para atender as novas tecnologias. tualmente com detalhes curvos – e possuem um No que diz respeito à concessão de uso aé- maior efeito de cheios e vazios, devido ao advento rea, a legislação possibilita o rebatimento de uni- das sacadas. Neles predominam os componen- dades domiciliares nas Superquadras para ambos tes “pesados”, reduzindo as superfícies de vidro os lados, alterando a disposição original de plan- e desfavorecendo sua percepção como volumes tas vazadas, ocasionando confrontação de fa- puros. Seus apartamentos em geral não são va- chadas nos blocos paralelos. Essa disposição de zados. Devido à expressão das coberturas nas fachadas interfere na privacidade dos moradores fachadas, são também mais altos (FICHER, 2003). e impede o usufruto de espaços abertos e arbori- Com relação à ocupação das coberturas, na zados, privilégio e garantia a todos os moradores época em que foi aprovada a legislação que per- de qualquer superquadra. mitia a utilização das mesmas a Asa Sul já estava 190 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 5 - PAISAGEM URBANA

5.8 Passeios Figura 5.15. Passeio público ao longo da W3 Sul, SHIGS

Segundo Menezes (2008), não existe no país Dentre estas descontinuidades a autora cita: uma regulamentação específica para o tratamento ‡ a disposição das passagens subterrâneas do trânsito no modo a pé. Em todas as cidades sob o Eixão; encontramos passeios e calçadas obstruídas por objetos fixos e móveis e por construções, muitas ‡ a inexistência de passeios nos viadutos; vezes causando impedimento total do trânsito de ‡ a elevação do piso térreo das edificações; pedestres. ‡ a alteração da continuidade dos caminhos Para os pedestres, o espaço livre público ca- de pedestres no interior das quadras centrais fun- rece da manutenção e implantação de calçadas cionais, com falta de encaminhamento entre as adequadas à circulação dos diferentes tipos de vias L2 e W5 e falta de conexões nos setores adja- freqüentadores dessas áreas. Além disso, a ar- centes no sentido transversal; Figura 5.16. Galeria dos Estados borização e a iluminação pública são insuficien- tes para garantir adequada qualidade ambiental ‡ falta de travessias sinalizadas e qualifica- urbana. das para o pedestre no Eixo Monumental, em nível e subterrânea. A atração de enorme quantidade de veículos para as áreas urbanas, especialmente centrais, Para a autora, um aspecto positivo da morfo- implica a presença de grandes bolsões de esta- logia do Plano Piloto para o trânsito a pé é a exis- cionamento e a utilização de áreas improvisadas, tência de uma estrutura física totalmente indepen- promovendo a degradação progressiva do espa- dente e separada da estrutura viária automotiva, ço livre público e a obstrução sistemática do siste- a qual propicia a vantagem de poder-se caminhar ma viário de acesso aos setores e às edificações, distante dos fluxos de veículos, dos ruídos. Além para os pedestres e para os veículos de serviços disto, a malha de pedestres propicia caminhos públicos (bombeiros, ambulâncias, veículos de mais curtos, variados e diretos do que os dos ve- manutenção de redes de infraestrutura), implican- ículos, obrigados a grandes voltas, por conta das do situações de perigo e insegurança a muitas técnicas rodoviárias implantadas na cidade. áreas. Entretanto, para que efetivamente se atinja Sem Brasília, segundo Menezes (2008), “ape- um grau de qualidade nos deslocamentos a pé sar de não ter sido pensada e planejada, a estru- uma série de problemas e dificuldades deverão tura de pedestres no Plano Piloto se estabeleceu ser identificados e repensados, garantindo a prio- no contexto da cidade no período de sua cons- ridade aos pedestres: trução. Mas a falta de planejamento do lugar dos caminhos de pedestres na cidade inteira e de re- ‡ Ausência de passeios contínuos, tanto na gulamentação através do desenho fez com que borda dos setores quanto em seu interior, dota- algumas descontinuidades criadas na fase de im- dos de rota acessível com auxílio de piso podo- plantação do PP tornassem irreversíveis.” tátil, adequando os espaços públicos e acessos Fonte: RSP, banco de imagens, 2010. 191 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

às edificações dos setores aos portadores de ne- Figura 5.17. Acesso a passagem subterranea de Figura 5.19. Plataforma Rodoviária cessidades especiais, de acordo com a legislação pedestres no Eixo Rodoviário-Residencial. vigente ‡ Ausência de recintos acolhedores para o convívio e repouso da população de trabalhado- res e demais usuários dos setores, especialmente centrais; ‡ Deficiência de espécies arbóreas e mau estado da cobertura gramínea; ausência de es- pécies arbóreas nos estacionamentos e de pisos drenantes; ‡ Ineficência e inadequação da iluminação urbana; ‡ - Ausência de critérios de locação e padro- Figura 5.18. Comércio Local Norte Figura 5.20. Setor Bancário Sul nização de mobiliário urbano; ‡ Ausência de intervenções viárias destina- das a melhorar a orientação espacial, a reduzir conflitos de tráfego, especialmente através da im- plantação de sinalização urbana horizontal e ver- tical; ‡ Ausência de passarelas de conexão entre edificações. ‡ Nos setores centrais ausência de galerias, passarelas, cobertura, escadas e rampas ao lon- go do caminho central - “via central de pedestre”; ‡ Falta de previsão e planejamento dos es- paços públicos livres para multiuso, que possibi- litem sua utilização eventual com pequenas feiras e exposições, apresentação de peças teatrais ou musicais, saraus musicais e poéticos sem no en- tanto fragmentá-los.

Fonte: RSP, banco de imagens, 2010. 192 Capítulo 6

Arcabouço jurídico

DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO

6.1. A competência legislativa dos entes da federação brasileira

Antes de apresentar o arcabouço jurídico in- urbanísticas ao seu entorno – Portaria nº 314 do regulação dos bens de interesse federal. cidente sobre o Conjunto Urbanístico de Brasília, IPHAN, em relação ao Conjunto Urbanístico de Com base em tais elementos, portanto, pode- é importante trazer alguns elementos que se con- Brasília. -se afirmar que tanto a União Federal quanto o sideram essenciais para a hermenêutica das nor- Ao Distrito Federal cabe estabelecer as regras Distrito Federal têm competência legislativa plena, mas, o que abrange seu exame, interpretação e específicas incidentes sobre o seu território, de desde que este observe as orientações gerais e orienta a sua aplicação. acordo com as regras gerais estabelecidas pela específicas estabelecidas na norma federal. Como primeiro elemento, lembra-se que o or- norma federal – Lei Distrital nº 47, de 2/10/1989, denamento constitucional brasileiro atribui esferas no que se refere ao patrimônio material e Lei Dis- de competência legislativa a cada ente da fede- trital nº 3977, de 29/3/2007, no que concerne ao ração. Assim, o artigo 24 da Constituição Fede- patrimônio imaterial -, bem como regulamentar ral de 1988 identifica a competência concorrente tais normas, estabelecendo os procedimentos a da União, dos estados e do Distrito Federal para serem observados, por exemplo. Com o intuito de legislar sobre a proteção do patrimônio histórico, preservar a concepção urbana do Conjunto Urba- cultural, artístico, paisagístico e turístico. Neste nístico de Brasília, foram estabelecidas as regras campo, em face da atribuição concorrente, a com- específicas de proteção pelo Distrito Federal – De- petência da União incide sobre as normas gerais, creto nº 10.829, de 14/10/1987, vigorando atual- competindo aos estados suplementar, ou seja, le- mente com as alterações constantes do Decreto gislar sobre a matéria na ausência de lei federal. É nº 12.254, de 07/3/1990. o que dispõem os parágrafos 1º, 2º, e 3º do art. A mesma orientação se dá quanto à edição 24. Conforme o §4º, deste artigo, uma vez editada de normas urbanísticas. Também nos termos do a norma federal, é suspensa a eficácia da lei es- art. 24 da CF, à União compete estabelecer as nor- tadual ou distrital no que esta for contrária àquela. mas gerais de direito urbanístico – Lei Federal nº No caso do Conjunto Urbanístico de Brasília, 10.257, de junho de 2001, o Estatuto da Cidade. em face da sua condição de bem protegido por Ao Distrito Federal compete regular o desenvolvi- ambas as instâncias, tanto a União quanto o Dis- mento urbano, com base no art. 30, considerado o trito Federal têm competência para editar normas disposto no art. 32 também da Constituição, pelo reguladoras da sua preservação. qual o Distrito Federal reúne as atribuições confe- ridas aos estados e aos municípios. Nesse sentido, à União cabe (a) estabelecer as normas gerais sobre a proteção do patrimônio, Desta forma, a aplicação plena das normas as quais incidem sobre todo e qualquer bem tom- distritais, em face da atribuição de competências bado no âmbito nacional - Decreto Lei nº 25/1937 prevista na Constituição Federal vigente, se dá a - e (b), em face do tombamento federal, compe- medida em que não haja contradição com o teor te estabelecer as regras específicas de proteção da norma federal, que no caso do conjunto tom- dos bens identificados como de interesse nacional bado, como já mencionado, não se restringe às para preservação, fixando, também, as limitações normas gerais, mas abrange a especificidade da

195 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

6.2. As recomendações da UNESCO e ordenamento jurídico brasileiro

Ao se examinar o arcabouço jurídico incidente que possa beneficiar, nomeadamente no pla- sobre o Conjunto Urbanístico de Brasília, não se no financeiro, artístico, científico e técnico. pode deixar de examinar a natureza jurídica das No ordenamento jurídico vigente, para que recomendações da UNESCO e suas repercus- as normas estabelecidas nos tratados ou conven- sões na formulação das normas de preservação. ções internacionais integrem o corpo normativo Note-se que não se pretende aqui desenvolver brasileiro é condição que seu conteúdo seja exa- com a profundidade teórica que a matéria admite minado e referendado pelo Senado Federal, pas- e requer, mas identificar os fundamentos jurídicos sando a integrar o ordenamento jurídico a partir da da posição adotada. publicação do respectivo decreto legislativo. Este Trata-se de examinar, portanto, se as reco- procedimento foi observado quanto à convenção, mendações da UNESCO devem ser entendidas a qual vigora no Brasil, como lei, a partir da publi- como normas a serem aplicadas ao Conjunto cação do Decreto Legislativo nº 80.897, publicado Urbanístico de Brasília, e como tal, de aplicação em 12/12/1977. Esta posição é adotada pelo Su- obrigatória, ou se devem ser entendidas como premo Tribunal Federal e pela doutrina, havendo simples recomendações, portanto, sem que à sua divergência doutrinária tão somente quanto a sua aplicação o poder público se encontre vinculado. hierarquia no ordenamento jurídico, sendo que a Como primeiro elemento, tem-se adesão do posição doutrinária majoritária é no sentido de que 1 Brasil à Convenção para a proteção do Patrimô- tais normas têm natureza de leis ordinárias . nio Mundial firmada em 1972, referendada pelo Desta forma, a partir do referendo do Senado Congresso Nacional. Com base nesta convenção, Federal e da publicação do decreto legislativo, as cada Estado deve indicar e delimitar os bens para obrigações e responsabilidades assumidas pelo a sua inclusão na lista do Patrimônio da Humani- Brasil na Convenção de 1972 têm conteúdo nor- dade (art. 3º), assumindo o compromisso de zelar mativo e, em face do princípio da legalidade pre- pela sua proteção: visto no art. 37 da Constituição Federal, vinculam os atos administrativos. Artigo 4º Cada um dos Estados parte na presente Con- Como conseqüência, tem-se que, em face venção deverá reconhecer que a obrigação da solicitação brasileira de inclusão de Brasília na de assegurar a identificação, protecção, con- lista do Patrimônio da Humanidade, as recomen- servação, valorização e transmissão às gera- dações emitidas pelo órgão internacional devem ções futuras do património cultural e natural orientar o conteúdo das normas nacionais de pre- referido nos artigos 1.º e 2.º e situado no seu servação. Note que o pedido de inclusão de sítio território constitui obrigação primordial. Para ou bem na lista do Patrimônio Mundial observa o tal, deverá esforçar-se, quer por esforço pró- disposto no art. 3º e o compromisso com a pre- prio, utilizando no máximo os seus recursos disponíveis, quer, se necessário, mediante a servação do bem decorre do disposto no art. 4º, assistência e a cooperação internacionais de ambos da Convenção de 1972. 1. Ver, à propósito, FERREIRA FILHO, M (2010, p. 99). 196 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO

Salienta-se, a corroborar o entendimento aqui ... esposado, que a Lei Orgânica do Distrito Fede- Art. 247. O Poder Público adotará medidas de ral identificou como condição para a formulação preservação das manifestações e dos das diversas políticas públicas a preservação da bens de valor histórico, artístico e cultural, condição de Brasília como Patrimônio da Huma- bem como das paisagens notáveis, naturais e construídas, e dos sítios arqueológicos, nidade. É o que acontece desde a elaboração do buscada a articulação orgânica com as voca- plano de desenvolvimento econômico e social do ções da região do entorno. Distrito Federal, nos termos do art. 165: ... § 2º Esta Lei resguardará Brasília como Patri- Art. 165. O plano de desenvolvimento econô- mônio Cultural da Humanidade, nos termos mico-social do Distrito Federal é o instrumen- dos critérios vigentes quando do tombamento to que estabelece as diretrizes gerais, define de seu conjunto urbanístico, conforme defini- os objetivos e políticas globais e setoriais que ção da UNESCO, em 1987.2 orientarão a ação governamental para a pro- ... moção do desenvolvimento sócio-econômico Art. 295. As unidades de conservação, os par- do Distrito Federal, no período de quatro anos. ques, as praças, o conjunto urbanístico de ... Brasília, objeto de tombamento e Patrimônio § 2º Serão consideradas ainda as seguintes Cultural da Humanidade, bem como os de- condicionantes: mais bens imóveis de valor cultural, são es- I – a singular condição de Brasília como Ca- paços territoriais especialmente protegidos e pital Federal; sua utilização far-se-á na forma da lei. II – a compatibilização do ordenamento da § 1º Cabe ao Poder Público estabelecer e im- ocupação e uso do solo com a concepção plantar controle da poluição visual no Distrito urbanística do Plano Piloto e Cidades Satélites Federal, de modo a assegurar a preservação e com a contenção da especulação, da con- da estética dos ambientes. centração fundiária e imobiliária e da expan- ... são desordenada da área urbana; Art. 314. A política de desenvolvimento urbano III – a condição de Brasília como Patrimô- do Distrito Federal, em conformidade com as nio Cultural da Humanidade; diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo IV – a concepção do Distrito Federal que ordenar o pleno desenvolvimento das funções pressupõe limitada extensão territorial como sociais da cidade, garantido o bem-estar de espaço modelar; (grifamos) seus habitantes, e compreende o conjunto de medidas que promovam a melhoria da quali- O mesmo se dá com relação à política de dade de vida, ocupação ordenada do territó- turismo (art. 183), bem como às políticas cultural rio, uso dos bens e distribuição adequada de (art. 247), ambiental (art.295) e urbana (arts. 314 serviços e equipamentos públicos por parte e 315): da população. Art. 183. Cabe ao Distrito Federal, observada a Parágrafo único. São princípios norteadores legislação federal, definir a política de turismo, da política de desenvolvimento urbano: suas diretrizes e ações, devendo: ...... IV – a manutenção, segurança e preservação 2.Parágrafo com a redação da Emenda à Lei Orgânica n° 11, de VII – promover Brasília como Patrimônio Cultu- 1996. Texto original: § 2º A lei resguardará Brasília como Patri- do patrimônio paisagístico, histórico, urbanís- mônio Cultural da Humanidade, conforme definição da UNES- ral da Humanidade; tico, arquitetônico, artístico e cultural, consi- CO, cujos critérios serão estabelecidos em lei complementar. 197 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

derada a condição de Brasília como Capital § 2º Nesta zona, o uso e a ocupação do solo Federal e Patrimônio Cultural da Humanidade; devem respeitar as normas que tratam das Art. 315. A propriedade urbana cumpre sua definições, critérios e restrições estabe- função social quando atende a exigências lecidos para preservação do Conjunto fundamentais de ordenação do território, ex- Urbanístico de Brasília, tombado como pressas no plano diretor de ordenamento ter- Patrimônio Histórico Nacional e reconhe- ritorial, planos diretores locais, legislação ur- cido como Patrimônio Cultural da Humani- banística e ambiental, especialmente quanto: dade pela Organização das Nações Uni- ... das para a Educação, Ciência e Cultura III – à proteção ao patrimônio histórico, artísti- – UNESCO. co, paisagístico, cultural e ao meio ambiente. § 3º Os índices urbanísticos adotados para os setores a serem edificados na área objeto do Com base em tais dispositivos pode-se afir- tombamento como Patrimônio Histórico Na- mar, portanto, que a Lei Orgânica ao reiterar a cional que façam parte da escala residencial condição de Patrimônio da Humanidade e ao de que tratam a Portaria nº 314, de 8 de ou- identificar a manutenção desta condição como tubro de 1992, do Instituto Brasileiro do um dos objetivos prioritários do Distrito Federal – Patrimônio Cultural e o Decreto nº 10.829, o que orientou as diretrizes estabelecidas para a de 14 de outubro de 1987, consideradas as formulação das políticas setoriais – recepcionou complementações e expansões incluídas pelo anexo do referido decreto sob a deno- as recomendações estabelecidas pela UNESCO minação “Brasília Revisitada”, serão aqueles como diretrizes orientadoras do conteúdo das nor- constantes dos referidos documentos de tom- mas incidentes sobre o Conjunto Urbanístico de bamento. (grifamos) Brasília. Observa-se que na pesquisa realizada não Note-se que, observando tal orientação, o se constatou a aprovação das recomendações da PDOT determinou expressamente, no art. 66, que UNESCO pelo Senado Federal, motivo pelo qual o uso e ocupação do solo na Zona Urbana do não podem ser identificadas como normas fede- Conjunto Tombado respeitem a condição de Pa- rais. No entanto, no âmbito distrital, em face dos trimônio Cultural da Humanidade e, portanto, as princípios estabelecidos na sua Lei Orgânica, as definições, critérios e restrições estabelecidas em recomendações emitidas pela UNESCO foram re- face de tal condição: cepcionadas como diretrizes para a preservação Art. 66. A Zona Urbana do Conjunto Tomba- do Conjunto Urbanístico de Brasília, orientando a do é composta por áreas predominantemente elaboração das normas distritais que incidem so- habitacionais de média densidade demográ- bre a área protegida. fica, conforme Anexo III, Mapa 5, desta Lei Complementar, correspondendo à área do conjunto urbano construído em decorrência do Plano Piloto de Brasília e às demais áreas incorporadas em função de complementa- ções ao núcleo original. ...

198 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO

6.3. Normas incidentes sobre o Conjunto Urbanístico de Brasília

Diante desse quadro, o ordenamento jurídico O Quadro 2 identifica a legislação distrital incidente sobre o Conjunto Urbanístico de Brasília que, desde a sua fundação, promoveu o desen- envolve as normas federais e distritais, cujo conte- volvimento urbano do Distrito Federal. Note-se údo deve, também, observar as recomendações que neste quadro foram identificadas normas que do órgão internacional. foram contestadas e declaradas inconstitucionais, as quais, porém, chegaram a ser aplicadas em Conforme os princípios democráticos ado- projetos específicos. As normas relacionadas a tados na Constituição Federal de 1988, as leis setores específicos são identificadas no Quadro 3. (normas aprovadas pelo poder legislativo) esta- belecem direitos e deveres; já os decretos (nor- Não se pretende esgotar aqui a legislação mas editadas no âmbito do poder executivo) re- distrital relacionada ao uso e ocupação do solo, gulamentam tais direitos e deveres, estabelecem em especial em face do peculiar sistema legife- o procedimento a ser adotado para a sua imple- rante do Distrito Federal, com base no qual as mentação e cumprimento3. normas urbanísticas são editadas por atos norma- tivos específicos. A pesquisa foi feita de forma a Desta forma a norma constitucional prevalece identificar, da forma mais abrangente possível, a sobre as leis latu sensu (leis complementares e leis trajetória das leis, de seu conteúdo e da prática ordinárias). As leis complementares prevalecem legislativa no Distrito Federal quanto ao Conjunto sobre as leis ordinárias e estas sobre os decretos Urbanístico de Brasília. etc. No âmbito do Distrito Federal, a norma cons- titucional prevalece sobre a Lei Orgânica, que, Nos Quadros 1 e 2 pode-se constatar o des- por sua vez, prevalece sobre as leis distritais latu locamento da competência legislativa, a partir da sensu e estas sobre os decretos e regulamentos; Constituição Federal, da esfera federal para a es- prevalecem, ainda, observada a matéria, as leis e fera distrital. normas federais sobre as leis e normas distritais, Com efeito, até 1989, a edição de normas dis- estabelecendo- se, assim um encadeamento de tritais limitava-se à edição de decretos que regula- prevalência das normas. mentavam as normas federais incidentes sobre o Os Quadros 1, 2 e 34 em anexo reúnem as Distrito Federal. Esta limitação decorria da peculiar 3. Observa-se que o Decreto-Lei nº 25/1937 vigora com força de normas incidentes sobre o Conjunto Urbanístico natureza jurídico-administrativa do Distrito Federal lei, eis que à época de sua edição era possível a regulação mediante a edição de atos do poder executivo os quais vigo- de Brasília, sendo que o Quadro 1 identifica, em até então e do estabelecimento expresso da com- ravam de imediato, salvo se rejeitados no prazo de 30 dias ordem cronológica, a legislação federal incidente petência federal para legislar sobre o Plano Piloto pelo Congresso Nacional. O silêncio implicava em aprovação por decurso de prazo e tinha como consequência a inclusão sobre o Distrito Federal e a preservação de Brasília (art. 38 da Lei Federal 3.751/1960). Note-se que a do Decreto-Lei no corpo normativo com todos os efeitos de desde a sua fundação. Estas normas orientam o reserva à iniciativa legislativa federal, no entanto, lei. O instituto veio a ser substituído pela Medida Provisória, conteúdo da legislação distrital, observada a hie- não evitou que, via edição de decretos distritais, à qual se estabeleceu sua eficácia pela lógica inversa, qual seja, vigora como se lei fosse pelo prazo determinado, e ao rarquia vigente, consideradas as esferas de com- mesmo que de forma sutil, fossem promovidas término deste, transforma-se em lei se aprovada pelo Con- petência definidas para os entes da federação, alterações na proposta retratada no Plano Piloto. gresso Nacional ou perde seus efeitos se rejeitada. bem como a divisão de poderes da democracia. 4. Os quadros referidos neste capítulo constam do Anexos deste É que, à guisa de regulamentar a norma fe- diagnóstico. 199 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB deral, foram editados decretos relativos às nor- Em contrapartida, por exemplo, no âmbito e aplicadas por meio de atos administrativos. No mas edilícias – Decreto nº 7/1960 e Decreto nº distrital foi editado o Decreto nº 3253/1976 que au- Distrito Federal, no entanto, nem sempre esta es- 596/1967, respectivamente o Código de Obras de torizou o uso privativo de 40% da área da projeção trutura foi observada, sendo que decretos e atos Brasília/COB e o Código de Edificações de Brasí- em cobertura de edifícios de habitações coletivas. administrativos, que deveriam se restringir à regu- lia. O primeiro traduz de forma inicial a concepção Neste período, ainda, várias foram as alterações lamentação e à aplicação do comando legal, es- urbana do Relatório do Plano Piloto (classificação de parâmetros urbanísticos por meio de atos ad- tabelecem o regramento de uso e ocupação do das construções, zoneamento e gabaritos de altu- ministrativos - decisões, aprovações, GBs, PRs e solo. É o caso das NGBs , NGA, NGC, decisões ra para os diversos setores) e introduz o conceito NGBs. É o que se constata na comparação dos etc. do pavimento térreo livre na legislação urbanística. Quadros 2 e 3. Os Quadros 2 e 3 arrolam, em ordem cro- O segundo estabelece praticamente todo o regra- Neste contexto, em 1987, foi editado o Decre- nológica, as normas incidentes sobre os diversos mento urbanístico incidente sobre a Região Admi- to Distrital nº 10.829, o qual, regulamentando ex- setores do Conjunto Urbanístico de Brasília: o nistrativa I, o qual refletia e detalhava as orienta- pressamente o art. 38 da Lei Federal 3.754/1960, Quadro 2 identifica as normas distritais - leis lato ções constantes do Relatório do Plano Piloto, de estabeleceu as diretrizes e orientações para a pre- sensu (leis complementares e leis ordinárias) e os Lúcio Costa, estabelecendo limites de altura para servação da concepção urbanística de Brasília. decretos - acompanhadas da observação que se os diversos setores, zoneamento de usos e ativi- Seu teor foi expressamente ratificado e recepcio- entendeu necessária à compreensão de sua im- dades etc. Tratava-se, em verdade e também, de nado no art. 3º da Lei Orgânica do Distrito Federal, portância ou contextualização no que tange à ma- norma de uso e ocupação do solo. o qual estabelece como objetivo prioritário: téria aqui tratada; o Quadro 3 arrola para cada se- O exame da trajetória adotada, no entanto, XI – zelar pelo conjunto urbanístico de Brasília, tor situado nos limites do Conjunto Urbanístico de evidencia que paulatinamente, mediante a edição tombado sob a inscrição nº 532 do Livro do Brasília, o ordenamento urbanístico estabelecido. de atos normativos (decretos, decisões, aprova- Tombo Histórico, respeitadas as definições e Algumas das normas declaradas inconstitucionais ções de projetos, de normas de gabarito etc) o critérios constantes do Decreto nº 10.829, de foram catalogadas a fim de evidenciar a trajetória regramento foi se distanciando das orientações 2 de outubro de 1987, e da Portaria nº 314, legislativa sobre o Conjunto Urbanístico de Brasí- iniciais de forma que, contraditoriamente, a reser- de 8 de outubro de 1992, do então Instituto lia. As Figuras 6.5, 6.6 e 6.7 demonstram, respec- va legislativa ao ente federal que fora estabelecida Brasileiro do Patrimônio Cultural – IBPC, hoje tivamente, a aplicação das NGBs em cada setor, como forma de proteger a concepção urbanísti- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Na- no que tange aos Coeficientes e Aproveitamento, cional – IPHAN. (Inciso acrescido pela Emen- ca original sucumbiu e teve como consequência Alturas Máximas e Taxas de Ocupação. da à Lei Orgânica nº 12, de 1996.) a absorção da competência legislativa pelo po- O exame de ambos os quadros deve con- der executivo distrital. Em outras palavras, na au- Não obstante o estabelecimento de tais dire- siderar dois momentos, tendo como divisor de sência de atuação do poder legislativo federal, o trizes, com a absorção pela Câmara Distrital das águas o advento da Constituição Federal de 1988 poder executivo distrital assumiu a competência atribuições que lhe foram conferidas na Constitui- em face da nova ordem jurídica implantada, res- legislativa. ção de 1988, a legislação que vem sendo produzi- da não refletiu a preocupação com a preservação pectivos princípios e atribuição de competências. Nota-se a absoluta ausência de norma federal da concepção urbanística de Brasília, como se Assim, na primeira fase, de 1960 a 1988 ve- reguladora do uso e ocupação do solo no Distri- verá mais adiante. rifica-se a ausência completa de leis tratando da to Federal. Com efeito, a única norma editada foi matéria. O regramento de uso e ocupação do solo a Lei nº 4766/1965, que vincula a utilização das 6.3.1. Normativas de ordem urbanística foi tratado em decretos distritais, a iniciar pelo Có- áreas do Distrito Federal a um Plano Diretor Re- digo de Obras, Decreto nº 07, de 13/6/1960. Este gional. As demais normas referiram-se à criação Como já salientado, o ordenamento jurídico decreto aprova a Consolidação das Normas, na de estruturas administrativas e à desapropriação vigente prevê a regulação do uso do solo median- qual são estabelecidas normas urbanísticas nos de imóveis. te a edição de leis, regulamentadas por decretos 200 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO capítulos iniciais: é o que se verifica nos artigos zação de projetos, e execução de todas as Superquadras, o qual refletiu os limites de altura 2º (zoneamento), 3º/4º (gabaritos de altura para obras públicas e particulares de Brasília. propostos no Relatório. Apesar de sua “adesão” cada um dos setores) e 5º (normas gerais para Art 2º - Fazem parte integrante deste Código: à concepção do Relatório do Plano Piloto, às suas construções). Na sequência, seus capítulos tra- I - o Relatório do Plano Piloto de Brasília, com diretrizes, a regulação que se segue apresenta tam de normas relacionadas às construções pro- as diretrizes concebidas pelo seu autor; algumas contradições, como será identificado no II - a planta atualizada de Brasília, com indica- priamente ditas. ções de todas as suas zonas, setores, qua- item 7 deste capítulo. Este decreto teve como destaque a inserção dras e vias Em 1977 foi editado o Decreto nº 4049, que do conceito de térreo livre em pilotis, solução ino- Art. 3º - A Cidade de Brasília é concebida e instituiu o Plano Estruturador de Organização Ter- vadora. Com base nela, a alienação das unidades ordenada em função de dois eixos que se cru- ritorial – o PEOT, incidente sobre o Distrito Federal. se com a manutenção do domínio público do solo zam: I - Eixo Rodoviário, que tem função circulató- Ainda antes da Constituição Federal de 1988 – térreo livre. Observe-se o conceito identificado ria, concentrando-se ao longo dele os resi- e com o Decreto Distrital, a Vila Planalto foi tom- no art. 3º, alínea i, que prevê a altura máxima das denciais; bada, não simplesmente como integrante do Con- edificações nas Superquadras (seis e três pavi- II - Eixo Monumental, onde estão dispostos os junto Urbanístico de Brasília, mas como conjunto mentos sobre pilotis, respectivamente para as Su- centros cívicos, administrativo e cultural. específico. Em 1988 foi criado o Conselho de De- perquadras singelas e duplas, no dizer do Relató- fesa do Patrimônio Cultural do Distrito Federal. A rio, item 16), o que, combinado com os artigos 4º, O Decreto Distrital traduziu como norma a partir de 1989 foram editados novos códigos de item 4 (altura do térreo em pilotis - 2,60m livres) e concepção urbanística do Relatório do Plano Pi- edificações, cujas regras limitaram-se à regulação 5º, inciso VII, alínea e insere o conceito de pavi- loto. Em seus artigos evidencia a concepção de- edilícia e procedimental - aprovação de projetos, mento térreo em pilotis livre: corrente do cruzamento dos dois eixos (art.3º), a obras e sua fiscalização. nomenclatura das vias (arts. 4º a 8º), dos setores e) nos prédios de apartamentos a estrutura Também foi aprovado o primeiro Plano de Di- deverá ser simples e definida. ... As vedações (art. 9º) e quadras (art. 10). Este decreto estabele- retor de Ordenamento Territorial, em 1992, seguido no pavimento térreo se limitarão aos halls de ce o zoneamento, identificando as características entrada e compartimentos para medidores de das diversas zonas e setores (art. 12 a 71), e as do segundo, em 1997 e substituído recentemente luz, gás etc; normas incidentes em cada zona e setor (arts. 76 pelo terceiro, de 2009. No âmbito das normas ge- a 13). O zoneamento estabelecido em 1967 sofreu rais, ainda, é importante referir a edição de norma Ressalta-se que esta concepção insere-se atualização em 1988, com a edição do Decreto nº reguladora da publicidade ao ar livre, da conces- nos cinco pontos propostos por Le Corbusier para 11. 297, mantendo-se, no entanto, as característi- são de áreas públicas. Em face de sua relação di- a arquitetura: planta livre, fachada livre, pilotis, te- cas iniciais. Este código compila as Normas Rela- reta com a preservação do Conjunto Urbanístico to-jardim, e aberturas horizontais. Daí sua impor- tivas às Atividades – NRA, as Normas Relativas às de Brasília, tais normas serão objeto de observa- tância na concepção urbana de Brasília. Construções – NRC – e as Normas de Edificação, ções específicas. Na mesma linha do Decreto nº 07/1960, em uso e Gabarito – NGB. O exame dos Quadros 2 e 3 demonstra o 1967, foi editado o Decreto nº 596, o qual, em Desta forma, o Decreto nº 596/1967 identifi- grande número de normas que estabelecem re- grande medida recepcionou os elementos cons- cou em linhas gerais as normas urbanísticas apli- gramentos pontuais, seja para lotes, conjunto de tantes do Relatório do Plano Piloto, convertendo-o cáveis em cada um dos setores, salientando-se o lotes ou quadras, os quais, em seu conjunto, reper- em norma de uso e ocupação do solo na sua pri- regramento de altura para os diversos setores situ- cutem de forma negativa na preservação da con- meira parte. Os artigos constantes de sua introdu- ados nos dois eixos principais – Eixo Monumental cepção urbanística do conjunto tombado. Além ção esclarecem seu conteúdo: e Eixo Rodoviário-Residencial. Frisa-se, por es- disso, o grande número de leis de efeito concreto Art. 1º - Este Código dispõe sobre zonea- sencial e determinante para a elaboração das nor- pode sugerir tratarem-se de normas editadas com mento, edificações, licenciamento e fiscali- mas posteriores, o regramento da ocupação das o fito de regularizar situações fáticas consumadas, 201 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB o que pode ensejar o estímulo à irregularidade, ‡ a altura das edificações ora é definida em que não convém ao planejamento de qualquer sí- face do número de pavimentos (exemplificando, tio urbano, e menos ainda à preservação de um subsolo, 6 pavimentos sobre pilotis e cobertura), sítio tombado. ora em face do limite de altura para a edificação (25m) ou ainda em face da cota de coroamento 6.3.1.1. Parâmetros Urbanísticos - URB, em relação ao nível do mar (1.125,00m); Plantas-Gabarito, GB, NGB, etc. ‡ a capacidade de construção dos terrenos A partir de sua fundação, e com base na Lei é definida mediante a identificação da Taxa de Federal nº 3751/1960, a regulação urbanística do Construção (200% da área do lote, por exemplo), Distrito Federal foi objeto do Decreto nº 07/1960, do Coeficiente de Aproveitamento (2,00) ou ainda que foi sucedido pelo Decreto nº 596/1967, o qual, da identificação do limite máximo de construção por sua vez vem sofrendo alterações parciais, ou por terreno (20.000m²); mesmo pontais, seja pela edição de leis e decre- tos, seja pela edição de atos administrativos com ‡ os limites de ocupação do terreno são defi- conteúdo normativo5. No entanto de uma forma nidos em face da Taxa de Ocupação (70% da área geral os parâmetros urbanísticos ali fixados per- do lote ou 100% do lote, com galeria de 4m nos manecem como pano de fundo no ordenamento limites da quadra), da indicação dos afastamen- urbanístico. tos exigidos (5m na frente, 3m nas divisas laterais e 6m nos fundos), da Taxa de Permeabilidade do Tal se constata do exame do Quadro 3, no Solo ou ainda da Taxa de Área Verde. Observa-se qual são arroladas as normas urbanísticas apli- que tais padrões incidem sobre a área do lote ou cadas por setor, sendo identificada a respectiva sobre a área da projeção; origem – lei, decreto, decisão, GB, NGB etc6, bem como as disposições específicas constantes do ‡ algumas normas identificaram os parâ- PDOT para cada setor. Tais normas estabelecem metros de altura, de construção e de ocupação, os parâmetros de uso e ocupação do solo – altura porém esta não é a regra. Ao contrário, muitas nor- (em metros ou número de pavimentos), capacida- mas regraram um ou dois dos parâmetros pesqui- de construtiva (coeficiente de aproveitamento ou sados. Mais uma vez, identifica-se a falta de pa- taxa de construção), os limites de ocupação no dronização na edição do regramento urbanístico, solo (taxa de ocupação, percentual de área verde evidenciando o tratamento caso a caso. 5. Consideram-se atos administrativos com cunho normativo, os e afastamentos exigidos), bem como os padrões No exame do Quadro 3 pode-se confirmar elaborados, aprovados e editados nos limites do poder exe- de estacionamento por setor integrante do conjun- cutivo. É o caso dos decretos e das atuais NGBs, que foram que os padrões urbanísticos, ao longo do tempo, to tombado. Observa-se que optou-se por apre- precedidas das GBs, dos PRs e das decisões dos conselhos foram sendo alterados pontualmente não somen- (Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU, sucedido pelo sentar tais parâmetros eis que, juntos, configuram CAUMA e pelo CONPLAN). Observa-se que os Decretos que te setor a setor, mas em grande medida quadra a o conteúdo da normativa urbanística, sem des- aprovaram ditos atos em geral não publicaram os parâmetros quadra ou lote a lote. E também se confirma que urbanísticos definidos nos atos, o que dificulta o conhecimen- considerar, é claro a importância do exame dos muitas destas alterações foram feitas por decisões to de seu conteúdo. demais para a elaboração do PPCUB. 6. Como já mencionado tais atos correspondem aos documen- do CAU e CAUMA, bem como pela expedição de tos emitidos pelo ente público sob as denominações: Deci- O exame dos parâmetros urbanísticos eviden- PRs, GBs, NGBs etc. Frisa-se que as alterações, são, GB, PR e NGB. O levantamento foi procedido com base cia a ausência de um padrão para a sua identifi- em muitos casos, não observaram as determina- nos documentos fornecidos pela SEDUMA/GDF. Não foram inseridos no quadro os dispositivos cuja inconstitucionalidade cação: ções das normas de preservação. Observa-se a foi declarada. 202 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO ausência de normas para alguns setores, bem nhamentos, as licenças, os projetos, os anúncios, tes sobre todo o Distrito Federal. Seu objetivo, ex- como para quadras e lotes de diversos setores. o regramento incidente sobre as construções, a presso no art. 1º, foi de disciplinar toda e qualquer fiscalização e vistorias, profissionais habilitados, obra de construção, modificação ou demolição de É importante registrar que a sistematização multas etc. edificações no Distrito Federal, bem como o licen- das normas no Quadro 3 foi feita com base na ciamento das obras de engenharia. O princípio documentação fornecida pela SEDUMA, comple- O COB vigorou até a edição do Decreto nº596, estabelecido na lei foi explicitado no art. 2º, qual mentada com a necessária pesquisa legislativa. de 12/8/1967, o Código de Edificações de Brasília seja, o de estabelecer padrões de qualidade dos A continuidade da pesquisa e dos levantamentos – RA I, que, do art. 130 ao art. 295 estabeleceu espaços edificados, satisfazendo condições míni- poderá identificar outras normas. as normas edilícias propriamente ditas: normas mas de segurança, conforto, higiene e saúde dos relativas a edificações residenciais (individuais, A sistematização das normas e seu agrupa- usuários e cidadãos. Este código, com alterações coletivas e geminadas), edificações destinadas mento no Quadro 3 possibilitou a visualização do na regulamentação, vigora até a presente data. a estabelecimentos comerciais e de serviços e contexto normativo incidente sobre o Conjunto Ur- equipamentos (casas de espetáculo, pavilhões, banístico do Brasília. A sua aplicação foi espacia- feiras, estabelecimentos de ensino, equipamentos lizada e refletida nos mapas constantes das Figu- de saúde etc). Para cada tipo de edificação, iden- ras 6.5, 6.6 e 6.7, evidenciando a necessidade da tificou dimensões mínimas, requisitos de ventila- adoção de uma regulação que, ao mesmo tempo, ção, iluminação e sanitários em geral, bem como considere as especificidades e preserve o con- equipamentos necessários e, ainda, as normas junto, a concepção urbanística, papel e atribuição incidentes sobre as respectivas obras. Do art. 296 do PPCUB, que deverá estabelecer normas para a 324, seu foco voltou-se para os logradouros pú- Conjunto Urbanístico como um todo, evitando a blicos, identificando os requisitos para a sua exe- regulação caso a caso. cução e conservação, sinalização e numeração, Observa-se que no Quadro 3 foram identifi- implantação de monumentos, mastros e letreiros. cadas, para cada setor, as Ações Civis Públicas Finalmente, do art. 325 ao art. 353, regrou o licen- propostas pelo Ministério Público do Distrito Fe- ciamento e fiscalização das edificações, tratando, deral e Territórios contra projetos/obras/usos nas nomeadamente, do licenciamento das obras (art. respectivas áreas, bem como investigações em 325 a 337), das obrigações durante a sua execu- tramitação no órgão. ção (art. 338 a 342), da conclusão (art. 343 a 349), dos profissionais habilitados (art. 346 a 349) e das 6.3.2. Normas edilícias infrações e penalidades (art. 350 a 353). A parte final do código estabelece as disposições finais e O Decreto nº 07/1960 – Código de Obras de transitórias. Brasília (COB) tratou nos capítulos iniciais de ma- téria urbanística. A partir do capítulo IV, Normas A parte relativa à regulação edilícia sofreu Gerais para as Construções, a matéria edilícia é o várias alterações: o Decreto 13.059, de 1991, es- foco. Neste capítulo são regrados a altura do pé- tabeleceu o regramento edilício para as regiões -direito de pavimentos, os muros, a inclinação de administrativas de Brasília (RA I), do Cruzeiro (RA telhado, os revestimentos e materiais, a área míni- XI) e dos Lagos Norte (RA XVIII) e Sul (RA XVI). Já ma das edificações, as aberturas etc. Os capítulos em 1998, com o advento da Lei nº2.105 e da sua subseqüentes disciplinam a iluminação e a venti- regulamentação - Decreto 19.915 -, o Código de lação, os compartimentos, as marquises, os ali- Edificações indicou as normas edilícias inciden- 203 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

6.4. Plano Diretor Local - PDL Candangolândia

O Plano Diretor Local – PDL - é o instrumento sa do direito de construir e de alteração de uso, da básico da política de desenvolvimento urbano das concessão de uso, da edificação e parcelamento diversas regiões administrativas. Para a Região compulsórios – identificando para estes os locais Administrativa XIX – a Candangolândia, foi aprova- referidos no art. 88. da a Lei Complementar nº 97, de 08/4/1998. Esta O Título IV, que apresenta as disposições lei permanece em vigor, não obstante seja anterior gerais e transitórias, no art. 90, determina a sub- ao PDOT/2009. Sua aplicação, no entanto, deve missão das questões não previstas ao Conselho observar as disposições gerais previstas no PDOT, Local de Planejamento, ao CONPLAN e à Câmara cujas normas prevalecem sobre as disposições Distrital em face da inserção na área Tombada. do PDL. Os padrões urbanísticos previstos no PDL da Frisa-se que o art. 3º do PDL identifica ex- Candangolância deverão ser revisados e adequa- pressamente o objetivo de garantir a visibilidade dos às diretrizes de preservação, assim como to- do Plano Piloto para Candangolândia e desta para das as normas que de alguma forma prejudicam o Plano Piloto impedindo a implantação de edifi- a preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília cações que constituam barreiras visuais (inc. XI), deverão ser alteradas ou revogadas, segundo as e promovendo a manutenção da sua densidade diretrizes que serão estabelecidas no PPCUB. de ocupação e o perfil urbano uniforme (inc. XIII). Para tanto, orienta o estabelecimento de parâme- tros urbanísticos compatíveis com tais objetivos (art. 4º). O PDL da Candangolândia regula, desta for- ma, o uso e a ocupação do solo. O uso do solo é regrado nos arts. 20 a 42 mediante a classificação das atividades segundo o incômodo delas decor- rente, estabelece condições para implantação de acordo com as características dos lotes. A ocupa- ção do solo é tratada nos arts. 43 a 69 mediante o regramento de parâmetros urbanísticos: coefi- ciente de aproveitamento, taxa de permeabilidade do solo, afastamentos mínimos, altura das edifica- ções, vagas de estacionamento de veículos e do- micílios por lotes. Os projetos especiais são iden- tificados no art. 70 e detalhados nos arts. 71 a 82. Os arts. 83 a 89 tratam dos instrumentos de política urbana, dentre os quais, a outorga onero-

204 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO

6.5. Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal - PDOT

6.5.1 Princípios e objetivos tombado é remetida ao PPCUB , conforme o sília Revisitada”, serão aqueles constantes disposto nos arts. 40 e 42. No entanto, o PDOT dos referidos documentos de tombamento. O Plano Diretor de Ordenamento Territorial – mantém, até o advento na norma de preserva- (grifamos) PDOT/2009, Lei Complementar nº 803/2009 tem Nesta linha, nos termos do art. 67, são diretri- por finalidade propiciar o pleno desenvolvimento ção, a aplicação das normas em vigor. zes para Zona Urbana do Conjunto Tombado: das funções sociais da propriedade urbana e rural É importante referir que o art. 66 identifica, e o uso socialmente justo e ecologicamente equi- no caput do artigo, as características do con- I – zelar pelo Conjunto Urbanístico de Brasília, bem tombado em âmbito federal e distrital; librado de seu território, de forma a assegurar o junto tombado – áreas predominantemente bem-estar de seus habitantes (art. 2º). Trata-se, II – harmonizar as demandas do desenvolvi- habitacionais de média densidade demográfi- mento econômico e social e as necessidades segundo o art. 3º, do instrumento básico da políti- ca, correspondendo à área do conjunto urba- da população com a preservação da concep- ca de desenvolvimento urbano no Distrito Federal. ção urbana de Brasília; Como tal, identifica princípios, diretrizes e orienta- no construído em decorrência do Plano Piloto de Brasília e às demais áreas incorporadas em III – consolidar a vocação de cultura, lazer, ções para a preservação do sítio tombado, e, por- esporte e turismo do lago Paranoá, mediante tanto, para a elaboração do Plano de Preservação função de complementações ao núcleo origi- criação e promoção de espaços adequados do Conjunto Urbanístico de Brasília - PPCUB. nal. Sua delimitação é objeto do parágrafo para o cumprimento de suas funções; primeiro. A vinculação do PPCUB às normas IV – promover e consolidar a ocupação urba- No art. 7º, o PDOT identifica os princípios do na, respeitando-se as restrições ambientais, ordenamento territorial do Distrito Federal, salien- decorrentes do tombamento nacional e da proteção internacional é expressa nos pará- de saneamento e de preservação da área tando expressamente, no inciso II, o fortalecimen- tombada; to do Conjunto Urbanístico do Plano Piloto de Bra- grafos 2º e 3º: V – preservar as características essenciais das sília como Patrimônio Cultural da Humanidade e, § 2º Nesta zona, o uso e a ocupação do solo quatro escalas urbanísticas em que se traduz no inciso III, o cumprimento da função ambiental devem respeitar as normas que tratam das a concepção urbana do conjunto tombado, a da propriedade urbana. Tais princípios vinculam, definições, critérios e restrições estabelecidos monumental, a residencial, a gregária e a bu- portanto, o desenvolvimento da área tombada à para preservação do Conjunto Urbanístico de cólica; sua preservação. Brasília, tombado como Patrimônio Histórico VI – manter o conjunto urbanístico da área Nacional e reconhecido como Patrimônio Cul- tombada como elemento de identificação na O PDOT indica, no art. 8º, seus objetivos e tural da Humanidade pela Organização das paisagem, assegurando-se a permeabilidade destaca a importância da preservação do conjun- Nações Unidas para a Educação, Ciência e visual com seu entorno. to tombado por meio da consolidação, resguardo Cultura – UNESCO. Parágrafo único. O Plano de Preservação do e valorização do sítio. Os arts. 9º a 11 elencam os § 3º Os índices urbanísticos adotados para os Conjunto Urbanístico de Brasília é o instru- conceitos a serem observados na preservação do setores a serem edificados na área objeto do mento de planejamento e gestão do Conjunto patrimônio cultural do Distrito Federal, os quais se tombamento como Patrimônio Histórico Na- Urbano Tombado e deverá considerar a legis- lação federal e distrital competente, observan- aplicam necessariamente ao Conjunto Urbanístico cional que façam parte da escala residencial do a especificidade do sítio urbano e a singu- de Brasília. de que tratam a Portaria nº 314, de 8 de ou- tubro de 1992, do Instituto Brasileiro do Patri- laridade de sua concepção urbanística e de sua expressão arquitetônica. 6.5.2 Uso e ocupação do solo do Conjun- mônio Cultural e o Decreto nº 10.829, de 14 to Urbanístico de Brasília no PDOT de outubro de 1987, consideradas as comple- mentações e expansões incluídas pelo anexo O PPCUB é identificado, no art. 148, como o A regulação do solo urbano no conjunto do referido decreto sob a denominação “Bra- instrumento de política urbana destinado a pro- 205 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB mover o planejamento, controle, gestão e pro- moção do desenvolvimento territorial e urbano na sua área de abrangência. No art. 153, o PPCUB é conceituado como instrumento de preservação do conjunto tombado e de definição das diretri- zes de planejamento, de controle de sua evolução espacial e de promoção do desenvolvimento eco- nômico e social, correspondendo, nos termos do parágrafo único, à legislação de uso e ocupação do solo e ao Plano de Desenvolvimento Local da Unidade de Planejamento Territorial Central. E mais pelo art. 154, o PPCUB deverá incluir:

I – os parâmetros de uso e ocupação do solo e as diretrizes de preservação e revitalização do sítio histórico urbano, que observarão a singularidade de sua concepção urbanística e arquitetônica; II – os instrumentos urbanísticos, edilícios e de gestão, inclusive programa de atuação para a área tombada; III – o sistema de gerenciamento, controle, acompanhamento e avaliação do plano.

O prazo para formulação e encaminhamento do PPCUB à Câmara Distrital foi fixado em dois anos a contar da publicação do PDOT (abril de 2011) A Figura 6.1 traduz a aplicação dos parâme- tros máximos de uso do solo previstos no PDOT para a área da Bacia do Paranoá.

206 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO

6.6. Normas Correlatas Específicas

6.6.1 Outorga onerosa do direito de III - a contrapartida do beneficiário. crozona urbana, nos termos do que determi- construir e da alteração de uso Art. 31 Os recursos auferidos com a adoção nam o art. 28, § 3º, da Lei nº 10.257, de 10 da outorga onerosa do direito de construir e de julho de 2001, e o art. 317, § 2º, V, da Lei de alteração de uso serão aplicados com as Orgânica do Distrito Federal, com a redação O instrumento da outorga onerosa é previsto finalidades previstas nos incisos I a IX do art. da Emenda nº 49, de 2007, ficam assim de- nos arts. 28 a 31 da Lei Federal nº 10.257/2001, 26 desta Lei. finidos: Estatuto da Cidade, dispositivos que regem tanto I – na Zona Urbana do Conjunto Tombado, o a outorga onerosa do direito de construir quanto a A aplicação do instrumento da outorga onero- limite máximo a ser atingido pelos coeficien- outorga onerosa de alteração de uso. Sua aplica- sa foi prevista no PDOT nos arts. 40 a 42, salien- tes de aproveitamento será definido no Plano ção, nos termos da lei federal depende da previ- tando-se: de Preservação do Conjunto Urbanístico de são no PDOT: Brasília, observado o disposto no art. 40, § 5º; Art. 40. O coeficiente de aproveitamento é a Art. 28 O plano diretor poderá fixar áreas nas relação entre a área edificável e a área do ter- A outorga onerosa também foi identificada quais o direito de construir poderá ser exer- reno, conforme segue: no art. 148, que trata dos instrumentos de orde- cido acima do coeficiente de aproveitamento I – coeficiente de aproveitamento básico; namento territorial a serem utilizados no Distrito básico adotado, mediante contrapartida a ser II – coeficiente de aproveitamento máximo. Federal, sendo objeto dos arts. 168 e 169, dispo- prestada pelo beneficiário. § 1º O coeficiente de aproveitamento básico sitivos que reproduzem a norma federal: § 1º Para os efeitos desta Lei, coeficiente de corresponde ao potencial construtivo definido aproveitamento é a relação entre a área edifi- para o lote, outorgado gratuitamente, a ser Art. 168. O Distrito Federal poderá conceder cável e a área do terreno. aplicado conforme indicado nos Anexos V e VI onerosamente a outorga do direito de cons- § 2º O plano diretor poderá fixar coeficiente de desta Lei Complementar. truir acima do coeficiente de aproveitamen- aproveitamento básico único para toda a zona § 2º O coeficiente de aproveitamento máximo to básico determinado nas áreas indicadas urbana ou diferenciado para áreas específicas representa o limite máximo edificável dos lo- neste Plano Diretor e a outorga de alteração dentro da zona urbana. tes ou projeções, podendo a diferença entre do uso nas áreas indicadas na Lei de Uso e § 3º O plano diretor definirá os limites máxi- os coeficientes máximo e básico ser outorga- Ocupação do Solo, mediante contrapartida mos a serem atingidos pelos coeficientes de da onerosamente, e será aplicado conforme prestada pelo beneficiário, conforme disposi- aproveitamento, considerando a proporciona- indicado nos Anexos V e VI desta Lei Com- ções dos arts. 28, 29, 30 e 31 do Estatuto da lidade entre a infra-estrutura existente e o au- plementar. Cidade e de acordo com os critérios e proce- mento de densidade esperado em cada área. ... dimentos definidos nesta Lei Complementar. Art. 29 O plano diretor poderá fixar áreas nas § 5º Na Zona Urbana do Conjunto Tombado, Art. 169. Lei específica de iniciativa do Poder quais poderá ser permitida alteração de uso a área edificável dos lotes continua a ser in- Executivo estabelecerá as normas e proce- do solo, mediante contrapartida a ser presta- dicada pela taxa máxima de construção ou dimentos gerais a serem observados para a da pelo beneficiário. coeficiente de aproveitamento, definidos pela outorga onerosa do direito de construir e de Art. 30 Lei municipal específica estabelecerá legislação urbanística vigente, até que o Plano alteração de uso, determinando: as condições a serem observadas para a de Preservação do Conjunto Urbanístico de I – a fórmula de cálculo para a cobrança do outorga onerosa do direito de construir e de Brasília defina a regra a ser adotada. valor de contrapartida; alteração de uso, determinando: ... II – o coeficiente de ajuste a ser inserido na I - a fórmula de cálculo para a cobrança; forma de cálculo da contrapartida; II - os casos passíveis de isenção do paga- Art. 42. Os limites máximos a serem atingidos III – os casos passíveis de isenção do paga- mento da outorga; pelos coeficientes de aproveitamento na ma- mento da outorga; 207 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

IV – procedimento para solicitação do direito des imobiliárias. mento da outorga onerosa do direito de construir de construir até o coeficiente de aproveita- § 1º Considera-se alteração de uso: fora instituído no Distrito Federal em 1996, pela mento máximo; I – a mudança do uso ou do tipo de atividade Lei nº 1.170, alterada pela Lei nº1.832 em 1998 e V – o tipo de contrapartida do beneficiário que para outro diferente daquele originalmente in- regulamentado pelo Decreto nº 19.436 em 1998; melhor satisfaça o interesse público, desde dicado nas normas vigentes para a respectiva já o instrumento da outorga onerosa de alteração que vinculada às finalidades de que trata o art. unidade imobiliária; 170 desta Lei Complementar. II – a mudança da proporção do uso ou do de uso fora instituído no Distrito Federal em 2000, tipo de atividade para outra diferente daquela pela Lei Complementar nº 294 e regulamentado Os arts. 170 a 173 tratam das contrapartidas originalmente indicada nas normas vigentes pelo Decreto nº 23.776 de 2003. para a utilização do instrumento. A outorga onero- para a respectiva unidade imobiliária; sa é, ainda, objeto dos arts. 174 e 175, enquanto III – a inclusão ao uso original indicado de 6.6.2 Transferência do direito de cons- a alteração onerosa é tratada nos arts. 176 a 177: novo tipo de uso ou atividade não previstos truir nas normas vigentes para a respectiva unida- de imobiliária. Instrumento instituído no Estatuto da Cidade, Art. 174. A outorga onerosa do direito de cons- no art. 35: truir será aplicada nos lotes onde o direito de § 2º Não se configura, para efeito de cobran- construir possa ser exercido acima do coefi- ça de outorga de alteração de uso, a transfor- Art. 35 Lei municipal, baseada no plano diretor, ciente de aproveitamento básico adotado até mação de zona rural em urbana. poderá autorizar o proprietário de imóvel ur- o limite estabelecido pelo coeficiente de apro- Art. 177. A outorga onerosa de alteração de bano, privado ou público, a exercer em outro veitamento máximo, mediante contrapartida. uso poderá ser aplicada na Macrozona Urba- local, ou alienar, mediante escritura pública, na, nos locais a serem pormenorizados na Lei o direito de construir previsto no plano diretor Art. 175. A outorga onerosa do direito de cons- de Uso e Ocupação do Solo. ou em legislação urbanística dele decorrente, truir poderá ser aplicada: Parágrafo único. Na Zona Urbana do Conjun- quando o referido imóvel for considerado ne- I – na Zona Urbana do Conjunto Tombado; to Tombado, o Plano de Preservação do Con- cessário para fins de: II – nas áreas indicadas nos Anexos V e VI junto Urbanístico de Brasília definirá as áreas I - implantação de equipamentos urbanos e onde o coeficiente de aproveitamento máximo onde poderá ser aplicada a outorga onerosa comunitários; é superior ao básico; de alteração de uso. II - preservação, quando o imóvel for conside- III – nas Áreas de Dinamização referidas no rado de interesse histórico, ambiental, paisa- Anexo II, Mapa 3 e Tabela 3C, desta Lei Com- gístico, social ou cultural; Note-se que, pelo art. 267, até a elaboração III - servir a programas de regularização fun- plementar; da Lei de Uso e Ocupação do Solo ou do Plano IV – nas áreas objeto de operações urbanas diária, urbanização de áreas ocupadas por de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasí- consorciadas; população de baixa renda e habitação de in- V – nas Áreas de Regularização de Interesse lia, poderá ser concedida a alteração de uso por teresse social. Específico. legislação específica. Este dispositivo, s.m.j., não § 1º A mesma faculdade poderá ser concedi- Parágrafo único. Na Zona Urbana do Conjun- deve ser aplicado, eis que poderá prejudicar de da ao proprietário que doar ao Poder Público to Tombado, o Plano de Preservação do Con- forma irreversível a preservação do conjunto tom- seu imóvel, ou parte dele, para os fins previs- junto Urbanístico de Brasília definirá as áreas bado. tos nos incisos I a III do caput. onde poderá ser aplicada a outorga onerosa § 2º A lei municipal referida no caput estabe- do direito de construir. Observa-se que a outorga onerosa do direito lecerá as condições relativas à aplicação da de construir e de alteração de uso foram previstos, transferência do direito de construir. Art. 176. A outorga onerosa de alteração de também, no Plano Diretor da Candangolândia, Lei O PDOT, indicou a transferência do direito de uso configura contrapartida pela alteração Complementar nº 97/1988, em seus artigos 84 a dos usos e dos diversos tipos de atividade 86. construir como instrumento a ser utilizado para a que venha a acarretar a valorização de unida- preservação de bens integrantes do patrimônio Anteriormente ao Estatuto da Cidade, o instru- cultural do Distrito Federal: 208 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO

Art. 178. A transferência do direito de construir anteriormente, em 2006, pela Lei Distrital nº 3.922. ficações. Esta questão será examinada quando da consiste na faculdade de o Poder Público, identificação dos conflitos das normas existentes mediante lei, autorizar o proprietário de imóvel em relação à preservação do PPCUB. urbano a: 6.6.3 Ocupação de área pública median- I – exercer totalmente ou em parte o seu di- te Concessão de Direito Real de Uso ou Con- 6.6.4 Plano Diretor de Publicidade reito de construir, limitado pelo coeficiente de cessão de Uso aproveitamento máximo do lote, em outro lo- O Plano Diretor de Publicidade é objeto da Lei O uso privado de áreas públicas vem sendo cal passível de receber o potencial construtivo nº 3.035/2002, que revogou a Lei nº 1918/1998. objeto de regulação distrital desde 1998. Com adicional; A matéria foi regulamentada pelo Decreto nº II – alienar, total ou parcialmente, seu direito efeito, inicialmente a matéria foi tratada pela Lei 26.624/2006. de construir, que poderá ser aplicado em lo- Complementar nº 130/1998, a qual foi substituída cais onde o coeficiente de aproveitamento pela Lei Complementar nº 388/ 2001. Ambas as Segundo o art. 1º da lei em vigor, o Plano Di- máximo do lote o permita. normas foram declaradas inconstitucionais por ví- retor de Publicidade é o instrumento básico de § 1º A transferência do direito de construir so- cio de iniciativa. orientação para instalação de meios de propagan- mente poderá ser realizada mediante prévia da nas Regiões Administrativas do Plano Piloto – Atualmente vigora Lei Complementar nº autorização do órgão gestor do desenvolvi- RA I, do Cruzeiro – RA XI, da Candangolândia – RA mento territorial e urbano do Distrito Federal, 755/2008, de iniciativa do Poder Executivo, a qual XVIX, do Lago Sul – RA XVI e do Lago Norte – RA quando o imóvel submetido à limitação do define critérios para ocupação de área pública no XVIII, o que envolve o conjunto tombado. Observa- uso do coeficiente de aproveitamento máximo Distrito Federal mediante concessão de direito real -se que pelo art. 2º, não são regrados pelo Plano for considerado necessário para fins de: de uso e concessão de uso. A matéria foi regula- Diretor de Publicidade a propaganda veiculada em I – preservação, quando o imóvel for conside- mentada pelo Decreto nº 29.590/2008. Seu regra- radiodifusão, jornais e outros periódicos, panfletos rado de interesse histórico, ambiental, paisa- mento envolve a concessão de áreas situadas no gístico, social ou cultural; e internet, a propaganda eleitoral, a propaganda solo, sub-solo e espaço aéreo, de forma gratuita ... em veículos, trailers, reboques e similares, aero- ou onerosa, sendo que neste caso, os recursos Art. 179. A transferência do direito de construir naves e embarcações bem como a sinalização de serão destinados ao Fundo de Desenvolvimento poderá ser exercida em áreas urbanas: trânsito, sinalização oficial e sinalização relativa à Urbano do Distrito Federal – FUNDURB. I – para efeito de aquisição do potencial cons- edificação, as quais se regem por lei específica. trutivo: De acordo com os arts. 3º e 4º, as áreas pú- a) na Zona Urbana do Conjunto Tombado; O art. 4º identifica os objetivos do Plano Dire- blicas podem ser concedidas para a implantação ... tor de Publicidade, dentre os quais salientam-se, de garagens, passagens, circulação vertical, va- II – para efeito de recebimento do potencial por sua importância na elaboração do PPCUB: a randas, implantação de infraestrutura e outras ins- construtivo advindo das áreas citadas no in- manutenção da estética da paisagem urbana (inc. talações. A norma estabelece as regras necessá- ciso I: I); a preservação das quatro escalas objeto de a) na Zona Urbana Consolidada; rias aos respectivos contratos de concessão (arts. tombamento de Brasília como Patrimônio Cultural b) na Zona Urbana de Expansão e Qualifica- 5º a 7º) e as condições para a ocupação (arts. 8º da Humanidade (inc. II) e a preservação da visibi- ção; e seguintes). Em face de sua amplitude, eventuais lidade do horizonte, característica fundamental na c) nas Áreas de Dinamização; alterações ou restrições à concessão de uso de concepção da cidade (inc.V). Esta lei identifica as d) nas áreas objeto de operações urbanas áreas públicas situadas na área objeto do PPCUB definições e os conceitos que utiliza (art. 5º). consorciadas; deverão ser identificadas. e) nas Áreas de Regularização de Interesse A norma estabelece os parâmetros máximos Social e Específico; A aplicação desta norma, em especial nas para a propaganda (arts. 14 a 54), sendo que, por f) nas áreas destinadas a Polos Multifuncionais superquadras, entrequadras e comércios locais, dispositivos específicos, disciplina a propaganda tem como resultado a ampliação do porte das edi- Observa-se que o instrumento fora instituído em: 209 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

‡ Lotes ou Projeções Edificados de Uso Co- ‡ Eventos -Arts. 48 a 52 II – permissão de colocação de guarita na mercial de Bens e Serviços, Industrial ou Coletivo, via principal de entrada do empreendimento, ‡ Área Protegida pela Legislação Ambiental também Denominado Institucional ou Comunitá- para controle do acesso, desde que não haja - Art. 53 rio, para os Meios de Propaganda Fixos em Edi- qualquer impedimento à entrada de policia- ficação-art. 16 ‡ Bens Móveis - Art. 54. mento, fiscalização e servidores de conces- sionária de serviços públicos, devidamente ‡ Lotes Edificados de Uso Comercial de Lei identifica as condutas proibidas (arts. 56 a identificados. Bens e Serviços, Industrial ou Coletivo, também 60) e as respectivas infrações e penalidades (arts. Os demais dispositivos da Lei disciplinam as Denominado Institucional ou Comunitário, para os 87 a 113), o procedimento administrativo para a responsabilidades do empreendedor, do condo- Meios de Propaganda Fixos no Solo – art. 17 análise, aprovação de projeto e licenciamento da mínio, bem como os requisitos para a sua aplica- ‡ Area Pública para os Meios de Propagan- publicidade (arts. 61 a 81), bem como os preços ção. Esta lei não foi revogada expressamente pelo da Fixos no Solo – art. 18 a 28 (ats.82 a 86). PDOT e incide sobre todo o território do Distrito ‡ Lotes ou Projeções Edificados de Uso Re- Federal. sidencial do Tipo Habitação Coletiva para Meios 6.6.5 Projetos Urbanísticos com Diretri- zes Especiais de Propaganda Fixos em Edificação – art. 29 6.6.6 Regularização urbanística e fundi- A Lei Complementar nº 710/2005 dispõe so- ‡ Canteiros de Obras de Lotes ou Projeções ária bre os Projetos Urbanísticos com Diretrizes Espe- de Uso Comercial de Bens e Serviços, Industrial, Posteriormente à edição do PDOT foi aprova- ciais para Unidades Autônomas – PDEU. No pa- Coletivo, também Denominado Institucional ou da a Lei Complementar nº 806/2009, que dispõe rágrafo primeiro de seu primeiro artigo esclarece Comunitário, e Residencial do Tipo Habitação Co- sobre a política pública de regularização urbanís- o conceito de Projeto Urbanístico com Diretrizes letiva para os Meios de Propaganda Fixos em Edi- tica e fundiária de unidades imobiliárias ocupadas Especiais: ficação ou no Solo – art. 30 a 33 por entidades religiosas de qualquer culto ou de § 1º Considera-se Projeto Urbanístico com Di- assistência social. ‡ Canteiros de Obras de Lotes de Uso Resi- retrizes Especiais para Unidades Autônomas Como se observa da ementa, e confirmado dencial do Tipo Habitação Unifamiliar para Meios o projeto devidamente aprovado pelo Gover- de Propaganda Fixos em Edificação ou no Solo no do Distrito Federal, para determinado lote, no art. 1º, deveria tratar-se da instituição de po- – arts. 34 a 39 regido pela diretrizes especiais constantes lítica pública de regularização, porém, o exame dos dispositivos da Lei evidencia que o conteúdo ‡ Lotes ou Projeções não Edificados de Uso desta Lei Complementar e integrado por uni- dades autônomas e áreas comuns condomi- supera este objetivo. Com efeito, os arts.2º a 6º Comercial de Bens e Serviços, Industrial, Coletivo, niais, nos termos da Lei Federal nº 4.591, de autorizam a inclusão dos imóveis arrolados nos também Denominado Institucional ou Comunitá- 16 de dezembro de 1964. anexos I, II, III, IV, VI, VII, VIII e IX da Lei, mediante rio, para os Meios de Propaganda Fixas no Solo licitação pública para a venda ou concessão de di- As Diretrizes Especiais, por sua vez, são es- -Art. 40 reito real de uso ao licitante, assegurando o direito pecificadas no art. 6º da Lei: ‡ Postos de Abastecimento de Combustíveis de preferência ao eventual ocupante. A lei, nestes para Meios de Propaganda Fixos em Edificação e Art. 6º Ficam estabelecidas as seguintes dire- casos, autoriza a desafetação e alteração de uso no Solo- art. 41 trizes especiais para os Projetos Urbanísticos dos respectivos imóveis. A regularização, propria- mente dita, é objeto do art. 7º, que determina a ‡ Faixas Afixadas na Edificação ou no Solo com Diretrizes Especiais para Unidades Autô- nomas: realização de estudos e projetos urbanísticos no -Art. 42 a 45 I – permissão de cercamento dos limites ex- sentido de viabilizar a permanência das entidades ‡ Mobiliário Urbano - Arts. 46 e 47 ternos do empreendimento, de acordo com a ocupantes dos imóveis elencados nos anexos V regulamentação a ser expedida; e X. 210 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO

Importa salientar que nos anexos à lei, os norma demonstra, ainda, que o fechamento auto- quais identificam os imóveis passíveis de aplica- rizado vai além das áreas de projeção, incluindo ção da norma, encontram-se arrolados imóveis as áreas relativas aos recuos frontais, laterais e de situados nos limites do Conjunto Urbanístico de fundo. É de se notar que, considerando a autori- Brasília: zação constante do art. 1º, fica estabelecido um passeio público de um metro e vinte centímetros, ‡ no anexo I, imóveis situados em Brasília, já que esta é a dimensão a ser observada na dis- Candangolândia, Octogonal; tância entre a grade e o meio-fio (§1º, inciso I). ‡ no anexo II, imóveis situados no Sudoeste; ‡ no anexo III, imóveis situados em Brasília; ‡ no anexo IV, imóveis situados em Brasília, Candangolândia e Sudoeste; ‡ no anexo V, imóveis situados em Brasília, Candangolândia, Cruzeiro e Sudoeste; ‡ no anexo VI, imóveis situados na Candan- golândia; ‡ no anexo VIII, imóveis situados em Brasília; ‡ no anexo X, imóveis situados em Brasília e Cruzeiro.

6.6.7 Fechamento de áreas com grades

A Lei Complementar nº 813, de 2009 autori- za expressamente o fechamento com grades das áreas verdes frontais, laterais e de fundos das pro- jeções destinadas a habitação coletiva localizadas no Setor de Habitações Coletivas Econômicas Sul – SHCES da Região Administrativa do Cruzeiro – RA XI e dá outras providências. A Lei torna regra para o setor a possibilidade prevista, pela Lei Complementar n º 710 de 2005, para Projetos com Diretrizes Urbanísticas Espe- ciais. E mais, o comando da norma evidencia tra- tar-se da instituição de um direito (ao cercamento da área verde) e não da faculdade da administra- ção pública em autorizar a conduta. O exame da 211 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

6.7. O Questionamento das Normas

A identificação dos principais problemas e UNESCO, considera-se importante referir os seus conflitos detectados no âmbito das normas de elementos essenciais. Conforme já descrito nos uso e ocupação do solo, edilícia e ambiental na itens anteriores, o monitoramento sistemático estrutura da forma urbana em relação à preserva- realizado pelo ente internacional exigiu a realiza- ção do conjunto urbanístico mostra-se relevante ção de missões, cujos relatórios embasaram as para a formulação do Plano de Preservação do recomendações emitidas para a preservação de Conjunto Urbanístico de Brasília. Os princípios e Brasília pela a UNESCO - World Heritage Center diretrizes estabelecidos nos instrumentos de pre- - WHC8. Estas recomendações identificam preo- servação, sua “moldura legal”, são referenciais le- cupações e orientam a adoção de providências gais vinculantes das normas nacionais e distritais, no sentido de manter o sítio em condições com- observadas as orientações internacionais em face patíveis com a sua manutenção na categoria de do reconhecimento de Brasília como Patrimônio Patrimônio da Humanidade. A primeira missão foi da Humanidade7. realizada em 1993 e a segunda, em 2001, sendo que em 2009, com base em relatório elaborado a É importante observar o significado do Decre- pedido da UNESCO, foram emitidas novas reco- to nº 10.829, de 14/10/87 em relação à inclusão de mendações. Brasília na lista do patrimônio mundial. Sua prece- dência em relação ao ato do órgão internacional, Dentre as recomendações oriundas da mis- bem como a sua inclusão no respectivo dossiê, são de 1993, a implementação do cinturão verde tem como consequência o compromisso com a previsto no Plano Piloto, mediante a instituição observância às diretrizes ali estabelecidas. de área non aedificandi, pode ser indicada como diretriz, em face de ser considerada essencial no Desta forma, as disposições do Decreto Dis- relatório, o qual salienta sua relevância para res- trital e da Portaria Federal, ao lado das diretrizes guardar a individualidade formal do Plano Piloto. estabelecidas tanto na Lei Orgânica do Distrito Frisa-se que a medida fora indicada já pelo Re- Federal quanto no PDOT, são aqui reconhecidas latório do Plano Piloto, com a função de isolá-lo como elementos estruturais da preservação de do crescimento urbano de seus arredores. Foi, Conjunto Urbanístico de Brasília, frente aos quais também, reiterada no pedido brasileiro de inscri- são identificados os conflitos e problemas nas nor- ção de Brasília na relação de bens do Patrimônio mas de uso e ocupação do solo. Em face de sua da Humanidade, de 1987, documento que indica recepção pela norma distrital, as recomendações a linha de cumeada das colinas da Bacia do Para- da UNESCO, como já frisado, somam-se, orien- noá como limite da área de interesse, tendo sido tando a formulação e a aplicação das normas. identificados os referenciais geográficos para a delimitação da poligonal do cinturão verde, ali de- 6.7.1 Recomendações - UNESCO nominado zona tampão. A fim de verificar eventuais conflitos das nor- 7. Resolução da 11ª Reunião do Comitê do Patrimônio Mundial, O relatório da segunda missão, de 2001, da UNESCO, de 7 dezembro 1987. mas vigentes em relação às recomendações da com base nos princípios do ideário do urbanis- 8. World Heritage Center – WHC - Centro do Patrimônio Mundial 212 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO mo moderno aplicado em Brasília - a separação casas geminadas. Essa zona tampão deve ser incluída nos ins- das funções, liberação de vastos espaços natu- trumentos de planejamento e gerenciamento Acerca da escala gregária, frisa a importância rais, grandes vias de comunicação e rejeição do técnico-legais. da manutenção da homogeneidade na paisagem, funcionalismo primário em proveito de soluções e chama a atenção para a ocupação dos espaços melhor adaptadas à situação brasileira - aponta, A Vila Planalto foi objeto de exame, o qual abertos entre os edifícios para estacionamento – como principais problemas em relação à preser- recomendou um controle estrito, em face de seu apesar de planejados como jardins ou áreas ver- vação de Brasília: significado histórico e seu potencial de impacto des -, o que contribui para a baixa qualidade do sobre a escala bucólica. ‡ ampliação de edificações em alguns seto- espaço urbano, em uma cidade em que a harmo- Note-se que, também em 2001, o comitê res; nia e a ordem supostamente se encontram. brasileiro do ICOMOS - Comitê Internacional de ‡ construções em espaços livres; Com relação à escala bucólica, reprova a uti- Monumentos e Sítios, promoveu uma missão de lização dos prédios às margens do Lago Paranoá ‡ modificações na rede viária. monitoramento, sob a responsabilidade do arqui- como residências permanentes, formando condo- teto urbanista Raul Pastrana (2001). Seu relatório Desta forma, considerando o ideário e os pro- mínios privados – uso vedado na legislação em recomenda a elaboração de um Plano Diretor de blemas identificados, como recomendação geral, vigor –, o que considera séria alteração ao zone- Salvaguarda e de Desenvolvimento Sustentável indica a necessidade da elaboração de Plano Di- amento de Brasília. Recomendou, ainda, não pla- (PDSDS) do Plano Piloto e a implantação de um retor para as áreas protegidas que reconheça e nejar novas áreas urbanas de modo a manter a plano de ação para estimular a integração social assegure plenamente a preservação dos valores relação original entre o Plano Piloto e os subúrbios no seio do Plano Piloto. Propõe, ainda, a elabora- da cidade, envolvendo todos os níveis relevantes verdes. ção de recomendações específicas para a publi- de autoridade, organizações profissionais e indiví- Esta recomendação foi corroborada nas con- cidade, para o Parque da Cidade, para as áreas duos, setores da sociedade civil. siderações gerais sobre a conservação da au- centrais do Plano Piloto, comércio, orla, para o trânsito e estacionamento e para projetos pontu- O relatório apresenta 20 medidas-recomenda- tenticidade de Brasília no item Fixação. O caráter ais. ções para os diversos setores de Brasília, dentre essencial da matéria fez com que novamente o as quais as que aqui se entendem como essen- mesmo ponto fosse identificado no item Limites Posteriormente, em junho de 2009, dando se- ciais, em cada uma das escalas, considerando-se do sítio do Patrimônio Mundial e zona tampão: guimento ao monitoramento da situação de Bra- os princípios identificados na missão. sília e com base nos documentos das missões Os limites do sítio do Patrimônio Mundial pa- da UNESCO e do ICOMOS BRASIL (2003/2004), No que se refere à escala residencial, e nela recem lógicos, visto incluírem o Plano Piloto e a pressão urbana da capital foi apontada como os blocos habitação, o relatório salienta a preocu- as áreas verdes circundantes. A Missão consi- principal problema, que poderia afetar o Plano Pi- pação com o uso de 40% das áreas de cobertura dera que não devem ser propostas alterações loto original, cujas características foram essenciais e do pavimento térreo (pilotis), considerados, res- a esta questão. Deve-se ressaltar, no entanto, que a zona tampão foi proposta no dossier para a inscrição de Brasília na lista do patrimônio pectivamente, como alteração à autenticidade do original de candidatura de 1987 e que foi feita mundial. Assinala, neste ponto, a preocupação projeto e do aspecto da cidade, e alteração consi- uma referência específica a essa questão no com a ausência de um Plano Diretor, bem como derável na característica original de espaço aberto relatório do ICOMOS de 1987. A Missão con- com os rumos do debate que envolvia a elabo- dos setores residenciais e deveria, por isso, ser sidera como prioridade máxima definir e im- ração do PDOT, relatados por entidade da socie- reconsiderado. plementar uma zona tampão que inclua tanto dade civil, em especial com relação a iniciativas a área a ser construída como a natural, como O relatório, ainda, menciona a importância da meio de proteção não só da própria cidade, que poderiam potencialmente criar impacto visual manutenção das características da W3 – limite en- mas também de parte da paisagem que for- ‡ a criação de novas áreas urbanas junto ao tre as superquadras e as áreas reservadas para ma os limites visuais dos espaços da cidade. Lago Paranoá 213 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB e afetar a integridade de Brasília: Ambos os diplomas salientam a preservação do conjunto urbano construído em decorrência do ‡ a extensão da Vila Planalto, Plano Piloto (art1º, §1º da Portaria), entendido este ‡ a ausência de zona tampão com regula- como a concepção urbana da cidade (art. 1º do mentação específica, Decreto). A partir desta premissa, foram estabe- lecidas as normas de preservação. Os elementos ‡ a alteração das áreas comerciais e essenciais identificados para as escalas podem ‡ a ausência de um Plano Diretor. ser sintetizados da seguinte forma: Para a elaboração do PPCUB, o Comitê reco- menda a formalização das zonas tampão ao redor I - Escala Monumental da área protegida, como requerido pela missão de ‡ preservação da Praça dos Três Poderes, 2001, e registra a existência de estudo preparató- nomeadamente os palácios do Planalto, do Su- rio, elaborado pelo IPHAN e submetido à consulta premo Tribunal Federal, do Congresso Nacional, das agências de desenvolvimento e meio ambien- do Itamarati e da Justiça te do Distrito Federal. ‡ preservação dos espaços não edificados Diante de todo o exposto evidencia-se em adjacentes primeiro lugar, para o ente internacional, a neces- sidade da delimitação de área no entorno do con- ‡ canteiro central verde, garantindo a plena junto tombado. Esta área abrangeria a zona tam- visibilidade ao conjunto monumental pão e/ou o cinturão verde previsto no Plano Piloto. ‡ preservação da Esplanada dos Ministé- Acrescenta-se, neste ponto, a preocupação exter- rios, admitidas edificações com um pavimento nada, referente à criação de novas áreas urbanas (mesanino) sobre pilotis no meio dos blocos e na junto ao Lago Paranoá. escala externa posterior

6.7.2 Diretrizes e normas de preservação II - Escala Residencial: A partir da edição do Decreto Distrital de 1987 a) Superquadras e das Portarias Federais de 1990 e 1992, foram estabelecidas diretrizes de preservação do Con- ‡ único acesso para transporte de automó- junto Urbanístico de Brasília, elementos essenciais vel e cercada, em todo o perímetro, por faixa de e referências para a indicação dos conflitos e pro- 20,00m de largura com densa arborização blemas da legislação urbanística incidente. Com ‡ altura uniforme (SQ 100 a 400 – habitações os atos de tombamento federal e distrital e das coletivas em prédios de 6 pavimentos tipo sobre 9 respectivas inscrições , a aplicação das diretrizes pilotis; 400 – 3 pavimentos tipo sobre pilotis) de preservação assume maior relevância, cujas normas, em face de sua identidade conceitual, se- ‡ pilotis livre de quaisquer construções que não se destinem a acessos e portarias rão examinadas em conjunto com foco nos temas 9. Inscrição Federal no Livro Tombo Histórico, sob nº 532, de nelas tratados. ‡ taxa máxima de ocupação 15% da área do 1990;Inscrição Distrital no Livro Tombo de Conjuntos Urbanos e Sítios Históricos, nº 03, fl.02, de 1991.

214 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO terreno, limitado pelo perímetro da faixa verde dos elementos constantes dos documentos que orientam a concepção urbanística de Brasília, o ‡ edificações de uso comunitário com 1 pa- Relatório do Plano Piloto e Brasília Revisitada, de vimento autoria de Lúcio Costa – este referido em ambas ‡ venda das projeções dos edifícios, perma- as normas -, conduzem, ainda, à identificação dos necendo de domínio público a área remanescente conflitos da normativa urbanística que vem sendo aplicada no Distrito Federal, em especial o PDOT, b) Entrequadras o Código de Edificações e a legislação específica incidente sobre a matéria. ‡ edificações para atividades de uso comum Neste ponto é importante esclarecer que, c) Setores de Habitação Individual Sul e Norte apesar de hierarquicamente inferior ao PDOT (lei complementar), em face do seu conteúdo e signi- ‡ edificações para uso residencial uni-fami- ficado, as disposições do decreto de tombamento liar, comércio local e equipamentos de uso comu- devem orientar a formulação das normas inciden- nitário tes sobre o conjunto tombado, eis que diretrizes de preservação expressamente assumidas pela III - Escala Gregária Lei Orgânica, como já reiterado. Salienta-se, ainda que com base no Decreto Distrital, ou fortalecido ‡ manutenção da cota até então estabeleci- por ele, deu-se a inclusão de Brasília na relação da para os setores de diversões; demais setores – do Patrimônio da Humanidade. gabarito não uniforme, observada a altura máxima de 65m. 6.7.3 Conflitos entre as recomendações e diretrizes de preservação e as normas urba- IV - Escala Bucólica: nísticas

‡ áreas non-aedificandi - todos os terrenos 6.7.3.1 Cinturão Verde contidos no perímetro tombado não edificados ou institucionalmente destinados à edificação, enten- A recomendação não foi, em linhas gerais, didas estes como os usos referidos no Relatório observada no Plano Diretor de Ordenamento Terri- do Plano Piloto, criados pela Administração duran- torial do Distrito Federal de 2009, senão vejamos. te a implantação da capital ou ainda os consagra- dos pelo uso popular; O zoneamento proposto pelo PDOT, em vez de promover o cinturão verde recomendado, difi- ‡ preservação da cobertura vegetal do cer- culta – senão impede – a sua efetivação. É o que rado nativo; se constata do confronto das figuras 6.2 (mapa ‡ acesso público à orla do lago em todo o das áreas de interesse ambiental)10 e figura 6.3 seu perímetro. (mapa de zoneamento do PDOT/2009 - zonas ru- 10. Aqui compreendidas tão somente para fins de simplificação, não desconhecendo-se as suas peculiaridades e diferenças, rais e zonas urbanas, nestas inseridas as zonas as Áreas de Interesse Ambiental propriamente ditas (AIAs), as Tais diretrizes, interpretadas e aplicadas à luz urbanas consolidadas, de expansão e qualifica- Áreas de Proteção Ambiental (APAs), os parques e as Áreas de Proteção de Mananciais (APMs). 215 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

ção, de uso controlado, o conjunto tombado e de ção, visando a preservação da cobertura vegetal as de cobertura como alteração à autenticidade contenção urbana). Acrescenta-se, ainda, a apro- do cerrado nativo. do projeto e do aspecto da cidade. Quanto à uti- fundar a dificuldade de implantação do cinturão, a lização de 40% do pavimento térreo (pilotis), esta Efetivamente, o zoneamento descrito no identificação de áreas para oferta de lotes e regu- foi indicada como alteração considerável na ca- PDOT e as estratégias estabelecidas não obser- larização fundiária (Mapa 2 do Anexo II do PDOT), racterística original de espaço aberto dos setores vam a determinação. Observa-se em contrapon- bem como de áreas para dinamização e revitali- residenciais e deveria, por isso, ser reconsiderada. to, que as normas que estabelecem princípios, zação (Mapa 3 do Anexo II do PDOT) na faixa que As normas de preservação constantes da Portaria objetivos e diretrizes do PDOT, as quais orientam corresponderia ao cinturão verde. Federal e do Decreto Distrital, por sua vez, estabe- o conteúdo das regras de ordenamento territorial, leceram que o pavimento térreo, em pilotis, deve- Desta forma, identifica-se desde logo um con- frisam a importância da preservação do Conjunto ria permanecer livre de uso, ressalvadas as áreas flito do zoneamento proposto pelo PDOT em rela- Urbanístico de Brasília. necessárias a acessos. ção à recomendação em comento. Com efeito, no elenco dos princípios que o É importante, neste ponto, mencionar que Lu- Note-se que os coeficientes máximos de regem o PDOT, estabelecido no art. 7º, é identifi- cio Costa, em Brasília Revisitada, identifica o chão aproveitamento estabelecidos para as áreas limí- cado o fortalecimento do Conjunto Urbanístico do livre e acessível a todos através do uso generaliza- trofes ao conjunto tombado - a Zona Urbana de Plano Piloto de Brasília como Patrimônio Cultural do dos pilotis como uma das características fun- Uso Controlado I e II (4,5 e 4 respectivamente, nos da Humanidade. Quanto trata de seus objetivos, damentais do Plano Piloto. Esta afirmação conduz termos do art. 42, incs. II e III), bem como para mas uma vez a preocupação está presente: no ar- à noção do domínio público do pavimento térreo a Zona Urbana Consolidada (9,0, nos termos do tigo 8º, a consolidação, resguardo e valorização e à interpretação de que a expressão projeção do art. 42, inc. IV) - estimulam a ocupação e o aden- do Conjunto Urbanístico do Plano Piloto de Brasília edifício refere-se à projeção do terreno em dire- samento nestas áreas, as quais estariam situa- como sítio urbano tombado e Patrimônio Cultural ção ao espaço aéreo e ao subsolo, excluindo-se das no entorno do Plano Piloto. Tanto no que se da Humanidade é expressa no inciso II. E quando o solo propriamente dito11. Ainda, a manutenção refere ao cinturão verde quanto à zona tampão, trata especificamente da Zona Urbana do Conjun- do uso público do pavimento térreo é identificada os coeficientes previstos se contrapõem às reco- to Tombado, a diretriz de manutenção do conjunto pelo IPHAN como um dos conceitos inovadores mendações das missões. O confronto dos mapas urbanístico da área tombada como elemento de do Movimento Modernista Brasileiro12, o que vem constantes das figuras 6.1, 6.2 e 6.3 demonstram identificação na paisagem, assegurando-se a per- corroborar o entendimento aqui esposado. claramente esta contradição. meabilidade visual com seu entorno é mais uma vez reiterada (art. 67, inciso VI). A legislação vigente, no entanto, autoriza, Relevante, também, o conflito entre a identifi- quanto ao pavimento térreo, o fechamento de 40% cação de zonas de uso controlado (I e II) e a Área Desta forma, como se vê, no que se refere da área de pilotis. Efetivamente esta autorização de Proteção Ambiental – APA do Lago Paranoá, aos princípios, objetivos e diretrizes, o PDOT não deu-se a partir do primeiro Código de Edificações, cujos limites foram estabelecidos pelo Decreto apresenta conflito com relação à recomendação Decreto n. 596/67 (art. 155 § 1º): Distrital n. 12.055/1989. Evidente conflito entre comentada. Contrariamente, no entanto, no que a norma ambiental e a norma urbanística, am- tange ao zoneamento e ao respectivo regime ur- bas distritais, considerando-se os coeficientes de banístico, ou seja, quando estabelece as normas § 1º - As áreas fechadas não poderão ultrapas- aproveitamento (4,5 e 4) propostos para as men- que deveriam dar efetividade aos princípios, dire- sar 40% da área de projeção, constituindo-se cionadas zonas. trizes e objetivos, o conflito se evidencia. de: vestíbulos, apartamento de zelador com o máximo de dois quartos, dependências para Acrescente-se o conflito frente às determina- 6.7.3.2 Áreas de pilotis e cobertura faxineiro com quarto e banheiro, depósito de ções do decreto distrital relativas à instituição de lixo e dependência ou quadro de medidores. áreas non-aedificandi sobre os terrenos não edifi- Também como problema essencial, foi identi- cados ou institucionalmente destinados à edifica- ficada pela UNESCO a utilização de 40% das áre- Este, como se vê, dispositivo inaugurou o uso 216 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO

privativo da área de térreo, praticamente ignorando O exame das normas incidentes demonstra princípio da concepção proposta. Posteriormente, que efetivamente isto se deu. A título de exemplo, as normas que se seguiram ampliaram a dimen- veja-se alguns setores: são da área privada mediante a identificação de usos não computáveis no percentual definido. ‡ Setor Comercial Sul, trecho B – aumento de altura: a altura máxima prevista em 5 pavimen- Esta concepção foi mantida nas normas sub- tos no Decreto n. 596/67 (art. 81 §3º) passou, em sequentes, Decreto n.13.019/91 (NRA 2, item 8.3) 1975, de 23m para 45m com base na Decisão n. e pela lei específica, Lei n. 2046/98, alterada pela 08/75 do CAU – Conselho de Arquitetura e Urba- Lei n.2325/99. No que tange à utilização da área nismo. Em 1994, por meio da Lei n. 816 (a qual por de cobertura a situação não é muito diferente: a sua vez foi alterada em 1996 pela Lei n. 1112/96), Decisão n 028/76 CAU e o Decreto n. 3253/76 a altura do Lote C do Setor Comercial Sul B – permitem o fechamento de 40% da área da pro- SCS/B – passou para 55m; jeção para lazer, o que não foi alterado no Decre- to n. 13.019/91 (NRA 2, item 11), nem pela Lei n. ‡ no Setor Hoteleiro Sul, a altura das edifica- 2046/98, alterada pela Lei n. 2325/99. ções prevista no código de 1967 para os lotes 1 a 5 da Quadra B passou de 5 pavimentos sobre Evidente, portanto, o conflito da legislação vi- pilotis (art. 85,§3º, letra a) para 30 metros (apro- gente e relação às normas de preservação. ximadamente 10 pavimentos) mediante Decisão Importante, ainda, alertar que a Lei Comple- n.35/77 do CAU. Note-se que nos setores hotelei- mentar n. 710/05 autoriza o cercamento dos li- ros, norte e sul, o gabarito de um pavimento para mites externos do empreendimento em Projetos restaurantes passou a ser definido pela altura de Urbanísticos com Diretrizes Especiais para Unida- 9m, mediante a Decisão n. 67/80 –CAU; des Autônomas. É o que dispõe o inciso I de seu ‡ no Setor de Autarquias Sul, a altura máxima art. 6º. Este dispositivo também se choca com o das edificações estabelecida em 10 pavimentos preceito chão livre e acessível a todos através do mais terraço (Decreto n. 596/67, art. 86, parágrafo uso generalizado dos pilotis, identificado por Lúcio único, inciso I) passou para 42m (o que significa Costa como uma das características fundamen- aproximadamente 14 pavimentos) mediante a De- tais do Plano Piloto. cisão n 066/77 – CAU; 6.7.3.3 Ampliação das edificações ‡ no Setor de Clubes Esportivos, as NGBs 23/90, 22/91, 82 e 84/96 permitem a altura máxima O relatório da segunda missão, de 2001, de 9m para as clubes esportivos, enquanto o art. aponta, também, como um dos principais proble- 12 do Dec. Distrital n. 10.829/87 e o art. 11 da Por- mas em relação à preservação de Brasília a am- taria 314/92 do IPHAN estabelecem como norma pliação de edificações em alguns setores, referin- de preservação o limite de 7m para os terrenos 11. Note-se que a anexação do documento Brasília Revisita- do-se expressamente ao acréscimo de altura na destinados a recreação e esporte a ser observada da tanto à Portaria 314/92 de IPHAN quanto ao Decreto n. escala gregária ocorrido em 1987 – de 45m para justamente com o objetivo de assegurar a perma- 10.829/87 permite a sua utilização como fonte para a interpre- tação das referidas normas. 65m – do que teria resultado uma certa falta de nência no tempo da presença conjunta das quatro 12. IPHAN, Plano Piloto 50 anos: Cartilha de\Preservação de homogeneidade na paisagem da cidade. escalas. Brasília,p.24. 217 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

6.7.3.4 Taxa de ocupação residenciais (comerciais, institucionais e indus- ‡ da cobertura vegetal do cerrado nativo, determinando a arborização dos trechos livres (II); Como antes mencionado, tanto o Decreto triais), independentemente de sua localização, Distrital como a Portaria Federal, com a finalida- em situações análogas às referidas. ‡ do traçado urbano original (III); de de preservar as características da concepção Tais permissivos alteram a proporção da ‡ da identidade, pontos de encontro e rela- urbanística do Plano Piloto, determinaram, para a ocupação da área no lote, aumentando a área da ções de vizinhança, próprias dos Acampamentos Escala Residencial - Superquadras, a manutenção projeção da edificação sobre o lote e superando da Vila (IV); da Taxa de Ocupação de 15% da área do terreno, o limite de 15% estabelecido nas normas de pre- percentual incidente sobre o perímetro delimitado servação. A alteração da proporção se dá à medi- ‡ da linguagem arquitetônica peculiar (V) pela faixa verde. É o que consta do art. 4º, inciso da em que à área da projeção prevista no projeto ‡ dos espaços de valor simbólico e referen- IV de ambos os dilomas. Evidencia-se o conflito original é somada a área oriunda da concessão cial para a população e história do conjunto da das normas aplicadas em relação a este elemen- de uso de área pública. Vila Planalto (VI) to à medida que, ao longo do tempo, foram es- Tais normas, portanto, estão em conflito com tabelecidas normas que autorizaram a utilização ‡ da sua estrutura urbana (VII) as diretrizes de preservação distritais no que se privativa de áreas públicas – no que se inserem as refere ao limite das vendas à projeção e manuten- Trata-se, desta forma, de norma que visa a áreas situadas nas superquadras, considerado o ção do domínio público sobre a área remanes- preservação da volumetria e não das edificações conceito e a norma no sentido de que somente as cente. propriamente ditas. Observa-se que a única refe- projeções são privadas. rência à preservação das unidades integrantes do Com efeito, a matéria hoje é regrada pela Lei 6.7.3.5 Vila Planalto conjunto da Vila Planalto (edificações) constava Complementar n. 755/08, que regula a utilização no inciso VII do decreto original, pelo qual era ad- privativa de áreas públicas, consideradas estas as Com relação à Vila Planalto, a segunda mis- mitida apenas a restauração das edificações em situadas no subsolo, no solo e no espaço aéreo. são recomendou um controle estrito, em face de ruínas. Esta norma foi suprimida pela alteração As disposições desta lei autorizam a concessão seu significado histórico e potencial de impacto constante do Decreto n. 11.104/1988, a qual de- gratuita de tais áreas para: sobre a escala bucólica. Note-se que, segundo termina a preservação da estrutura urbana. o relatório a Vila não representaria mais um claro ‡ no subsolo - a construção de garagens, testemunho da sua aparência original, tendo per- 6.7.3.6 Orla em até 155% da área da projeção; dido muito da sua autenticidade. Com relação à área da orla situada nos limites ‡ no solo - a construção de escadas de Observa-se que a legislação em vigor não fa- do conjunto tombado, verifica-se conflito entre a emergência e torres de circulação vertical, cinco vorece a preservação da Vila Planalto. Apesar de concepção do Plano Piloto e o estabelecido nas metros, medidos a partir do limite da projeção; tratar-se de conjunto tombado, a respectiva nor- diversas NGBs que regraram os setores situados ‡ no espaço aéreo - a construção de varan- ma, Decreto n. 11.079/88 não identifica as edifi- na Orla, bem como com relação à situação fática. das e extensão de compartimentos, no limite de cações como bens protegidos, mas o conjunto Neste ponto convém transcrever as orientações 2m² por unidade autônoma (2m x 1m, nos termos da Vila Planalto. Suas diretrizes de preservação, do Relatório do Plano Piloto, de Lúcio Costa, para do art. 10 c/c art. 12, inc. IV alínea c), sendo permi- constantes dos incisos I a VII do art. 2º, explicitam esta região: tida a sua continuidade. Note-se que a lei autoriza a preservação: 20 — Evitou-se a localização dos bairros resi- o fechamento destas varandas, garantida a per- denciais na orla da lagoa, a fim de preservá- meabilidade ou transparência visual. ‡ da característica de mimetização da Vila -la intacta, tratada com bosques e campos de Planalto na paisagem, através da manutenção de feição naturalista e rústica para os passeios A norma autoriza, também a concessão one- sua vegetação (I); e amenidades bucólicas de toda a popula- rosa para a utilização de áreas em edificações não 218 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO

ção urbana. Apenas os clubes esportivos, os 4 - Orla do lago relação a altura, frisa-se que as mesmas normas restaurantes, os lugares de recreio, os bal- O Plano-piloto refuga a imagem tradicional no variam da 4 a 12 metros para as edificações, o neários e núcleos de pesca poderão chegar Brasil da barreira edificada ao longo da água; que está em desacordo com a altura máxima fi- à beira d’água. O clube de Golf situou-se na a orla do lago se pretendeu de livre acesso a xada nas normas de preservação - de 7 metros extremidade leste, contíguo à Residência e ao todos, apenas privatizada no caso dos clubes. hotel, ambos em construção, e o Yatch Club É onde prevalece a escala bucólica. para terrenos destinados à recreação e esporte, na enseada vizinha, entremeados por denso excetuados os ginásios que poderiam alcançar bosque que se estende até à margem da re- No entanto, exame das normas editadas para 12m (art.11 da Portaria Federal e 12 do Decreto presa, bordejada nesse trecho pela alameda os setores situados na orla do lago não demonstra Distrital). de contorno que intermitentemente se des- a observância plena a tais princípios. Já o art.58 Além do conflito dos parâmetros aplicados preende da sua orla para embrenhar-se pelo do Decreto dispõe: em relação às normas de preservação, identifica- campo que se pretende eventualmente flori- do e manchado de arvoredo. Essa estrada se -se conflito entre o conteúdo da norma em vigor articula ao eixo rodoviário e também à pista Art. 58 - O Setor de Hotéis de Turismo Norte e e a situação fática, em especial com relação ao autônoma de acesso direto do aeroporto ao Setor de Hotéis de Turismo Sul compreendem uso previsto13. Com efeito, o uso residencial con- centro cívico, por onde entrarão na cidade os os lotes destinados à construção de hotéis de sagrado em apart-hotéis e mesmo em clubes não visitantes ilustres, podendo a respectiva saí- turismo, que, por suas características, utilizam encontra respaldo nas normas de preservação e da processar-se, com vantagem, pelo próprio grandes áreas livres, e se localizam próximo na concepção do Plano Piloto. eixo rodoviário-residencial. Propõe-se, ainda, ao lago artificial. a localização do aeroporto definitivo na área Observa-se, ainda, potencial conflito das interna da represa, a fim de evitar-lhe a traves- Frisa-se que, teoricamente, à época o Plano normas incidentes sobre as áreas situadas no sia ou contorno. Piloto não podia ser alterado por norma distrital, Lago Sul e Norte, bem como na margem oposta somente por norma federal nos termos do art. 38 ao Lago (Paranoá, Varjão - áreas identificadas no da Lei Santiago Dantas: PDOT como de Uso Controlado I e II) com as nor- Desta orientação extrai-se o princípio: evitar mas de preservação, eis que tais áreas deverão bairros residenciais, a fim de preservar a orla intac- Art. 38. Qualquer alteração no plano-piloto, a compor a zona tampão, bem como o cinturão ver- ta, tratada com bosques e campos para passeios que obedece a urbanização de Brasília, de- de, previstas nas normas de preservação. de toda a população. O uso privativo, assim, seria pende de autorização em lei federal. a exceção, reservada a clubes, restaurantes, luga- Nota-se, aqui, que nem o Decreto Distrital nem a Portaria Federal delimitaram o entorno da res de recreio, balneários, cuja implantação teria o E mais, a definição de taxas de ocupação que área tombada, o qual eventualmente poderia coin- objetivo de promover o uso público da área. vão de 30% até 100% do terreno estão em conflito cidir com o cinturão verde ou com a zona tampão. A descrição induz à interpretação de que com as normas de preservação e com a concep- deveriam ter sido estabelecidos padrões restriti- ção traduzida pelo autor do projeto. Lembre-se, Salienta-se, ainda, com relação à orla, que, vos para a implantação de edificações, por meio comparativamente, que a taxa de ocupação defi- apesar da legislação dos diversos setores situa- do estabelecimento de baixa taxa de ocupação, nida no Decreto 10.829/87 para as superquadras, dos na orla estabelecer afastamentos obrigatórios alta taxa de área verde e permeável, coeficiente na escala residencial, foi de 15%. O mesmo se em direção ao Lago, não há previsão de garantia de aproveitamento baixo (ou taxa de construção, diga quanto à Taxa de Construção, que foi estabe- do acesso público em todo o seu perímetro, como como consta em algumas NGBs) e também um lecida entre 60% a 200% (ou seja permite a edifica- determinado nas normas de preservação. limite de altura baixo. Além disso, pode indicar ção, em metros quadrados de 60 a 200% da área Tais são, s.m.j., os principais conflitos entre as ainda que deveria ser reservada, ao longo da mar- do terreno) para os mesmos setores. Tais taxas normas vigentes e as recomendações internacio- gem, área para circulação pública. Esta interpreta- não podem ser consideradas baixas, lembrando- nais. ção é reforçada em Brasília Revisitada: -se que se está a tratar da escala bucólica. Com 219 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Com base já na identificação de conflitos regulação do uso do solo de lote ou lotes espe- normativos que envolvem princípios e diretrizes de cíficos. Trata-se da edição de leis de efeito con- preservação para o Conjunto Urbanístico de Bra- creto, muitas delas declaradas inconstitucionais sília, o PPCUB deverá identificar diretrizes e regras por vício de procedimento. Tais leis tratavam de que promovam efetivamente a preservação do situações individuais, compreendendo alterações conjunto tombado, considerados os seus elemen- pontuais no regime de uso e ocupação solo, de- tos essenciais os quais foram determinantes para safetação e autorização para alienação. a sua inclusão no Patrimônio da Humanidade. Além das leis e dos decretos que as regu- 6.7.4 A contestação das normas lamentam, o ordenamento urbanístico do Distrito Federal prevê a regulação do uso e ocupação do A fragilidade do ordenamento resta, solo mediante a edição de NGBs (que sucede- 14 ainda,evidenciada no exame do Quadro 2 , o ram as Decisões, GBs, PRs etc) as quais fixam qual identifica, à título de observação, a declara- parâmetros de altura (ou número de pavimentos), ção de inconstitucionalidade de várias leis pelo coeficientes de aproveitamento (ou taxa de cons- Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Ditas leis, trução), taxa de ocupação dentre outros, especi- no entanto, foram regulamentadas e aplicadas por ficamente para lotes, conjuntos de lotes, quadras longo tempo, durante a tramitação da ação judi- ou setores. Estas normas constam dos Quadros cial. Observa-se, ainda, neste quadro o questiona- 2 e 3. mento da legalidade das normas mediante ações civis públicas. Enfatiza-se que a estrutura adotada para o ordenamento urbanístico, edilício e ambiental do Observa-se que exame dos argumentos Distrito Federal é de difícil sistematização e, mais constantes dos documentos divulgados pelo Mi- difícil ainda, acesso público, o que fere o princípio nistério Público do Distrito Federal e Territórios evi- da publicidade na administração pública. E mais, dencia que, como regra, o fundamento utilizado a prática da edição das diversas normas muitas 15 pelo Ministério Público foi o vício de iniciativa – o vezes compromete a legalidade de seu conteúdo que significa que não foi observada a iniciativa re- decorrente do desrespeito à hierarquia das nor- servada ao poder executivo para o envio dos pro- mas e aos limites de conteúdo. jetos de lei correspondentes. Porém, é importante registrar que várias das ações fundaram a argüi- Agrega-se, ainda, que considerando a dire- 13. O detalhado exame procedido pela SEDUMA, denominado ção de inconstitucionalidade na falta de participa- triz constante do art.2º, inciso II do Estatuto da Caracterização da Orla do lago Paranoá e o seu Modelo de Cidade - participação da sociedade (comunidade Desenvolvimento – Perímetro Tombado, realizado em 2003, ção da população interessada no seu processo evidencia contradição entre os dispositivos em vigor e a situ- de formulação, na desobediência aos princípios e entidades) no processo de formulação, imple- ação fática com relação a uso e ocupação do solo. Ver a pro- constitucionais (em especial da impessoalidade), mentação e aplicação do planejamento urbano - , pósito os mapas de altura permitida, alvarás de construção e a preocupação em facilitar a acesso público às de funcionamento, construções nos afastamentos, demandas na falta participação no planejamento urbano, no de alteração de uso, lotes com cartas de habite-se, invasões descumprimento das diretrizes de política urbana, informações deve orientar a atuação da adminis- de áreas públicas, de irregularidades de uso, dentro outros. tração, devendo-se evitar procedimentos que difi- 14. A identificação desta condição – lei inconstitucional – foi feita bem como na falta de estudos urbanísticos que com base nas informações obtidas junto à página do Minis- fundamentem as alterações constantes das res- cultem o conhecimento público das normas. tério Público do Distrito Federal e Territórios - MPDFT http:// pectivas leis. www.mpdft.gov.br. O desrespeito à hierarquia das normas se dá 15. Das 40 ações ajuizadas que versam sobre a matéria urba- Verifica-se que muitas normas dirigem-se à na hipótese do ato regulamentador da lei promo- nística, 34 tiveram este fundamento. 220 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO ver a modificação do comando legal, enquanto Esta situação se torna especialmente delicada compatibilizando as normas incidentes, promova dever-se-ia limitar a proceder o detalhamento, es- quando se trata do Conjunto Urbanístico de Bra- a preservação do patrimônio cultural protegido. tabelecer forma e procedimentos para a aplicação sília, sobre o qual incidem as normas de preser- Nesse sentido, deve necessariamente esta- da lei. vação estabelecidas na Portaria Federal - Portaria belecer as diretrizes de uso e ocupação do solo nº 314/92 do IPHAN –, no Decreto nº 10.829/87, Como exemplo de desrespeito à hierarquia para a área tombada, estabelecer o ordenamento sem deixar de considerar as recomendações da das normas, cita-se o caso do Setor Comercial de uso do solo adequado à sua preservação, de- UNESCO para a preservação da área identificada Sul, trecho B. Para este trecho o Código de Edifi- limitar o entorno da área tombada – zona tampão, como Patrimônio da Humanidade. cações de 1967, Decreto nº 596, estabeleceu, no buffer zone, área de influência – identificando as art.81, §3º, a altura máxima de 5 pavimentos. No Convém mencionar a posição adotada por diretrizes de ocupação do solo para esta área. No entanto, o ato regulamentador - Decisão do CAU Pinto (2007), no sentido da falta de amparo legal que tange à gestão da área de incidência, o PP- de 1975 - alterou o limite fixado no Decreto para ao corpo normativo urbanístico do Distrito Federal, CUB deverá orientar a criação de estrutura admi- 23m (o que corresponde a aproximadamente 7 em face da inconstitucionalidade decorrente da nistrativa adequada para a sua implementação. pavimentos) quando a edificação for destinada a ausência de Plano Diretor – o trabalho foi elabora- É de se frisar finalmente, considerando que magazine e para 45m (aproximadamente 15 pavi- do anteriormente à aprovação do PDOT/09 - e da o conjunto tombado envolve a integralidade de mentos) quando esta se destinar a escritórios. Ou- violação às normas de tombamento. quatro Regiões Administrativas, o PPCUB deverá tro exemplo é o Setor Hoteleiro Sul, quadra B, para Frisa-se que a posição aqui adotada, a qual orientar a formulação das diversas políticas seto- o qual a altura de 5 pavimentos (art. 85, §3º letra baseia-se na ordem jurídica constitucional, enten- riais do Distrito Federal (transportes, turismo, de- a do Decreto nº 596/67) passou para 30 metros de que os decretos, NGBs, decisões e atos admi- senvolvimento econômico, habitação, educação (aproximadamente 10 pavimentos) pela Decisão nistrativos devem estar adstritos ao termos do que etc). nº 35/77 do CAU. dispõem as leis e normas hierarquicamente supe- O desrespeito aos limites de conteúdo da riores, o que aqui se aplica às normas federais e norma se dá quando uma norma regulamentado- distritais. Nesse sentido, entende-se ser passível ra extrapola seus limites, criando direitos ou res- de anulação eventual NGB ou decisão que altere trições, em desobediência ao princípio da legali- conteúdo de decreto, bem como o decreto que dade (inciso II do art. 5º da Constituição Federal), altere lei distrital ou norma federal. Com base nes- em face do qual ninguém será obrigado a fazer ta orientação os conflitos e problemas foram aqui ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude identificados. de lei. Com base neste dispositivo, a regulação do Acrescenta-se que os conflitos normativos uso e ocupação do solo – e, portanto, o estabele- identificados na etapa de Diagnóstico devem ser cimento de regime urbanístico – deve se dar me- solucionados pelo PPCUB, seja mediante a altera- diante lei e, como conseqüência, a edição de atos ção, revogação ou derrogação das normas, o que normativos – em especial as NGBs – que estabe- será indicado na etapa do Prognóstico. leçam regime urbanístico específico para setores, quadras e lotes (gabarito de altura, afastamentos, O papel do Plano de Preservação do Con- taxa de ocupação e taxa de construção ou coefi- junto Urbanístico de Brasília - PPCUB, à luz dos ciente de aproveitamento), sem previsão legal não princípios e diretrizes de preservação definidos, possui caráter regulamentador, mas normativo, como já reiterado, nas instâncias internacional, extrapolando os limites legais. nacional e distrital, deverá propor a estruturação de um ordenamento urbanístico adequado, que,

221 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 6.1. Mapa dos coeficientes de aproveitamento máximos indicados no PDOT e espacializados na Bacia Hidrográfica do Paranoá

Fonte: PDOT, 2008. Mapeamento: RSP, 2010

222 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO

Figura 6.2. Mapa das Áreas de Conservação registradas no DF.

Nome dos Parques:

01 - Parque Ambiental Colégio Agrícola 02 - Parque Areal 03 - Parque Boca da Mata 04 - Parque Bosque dos Eucaliptos 06 - Parque da Cidade Dona Sara Kubitschek 07 - Parque das Aves 08 - Parque das Copaíbas 09B - Parque das Sucupiras Mód.II 10 - Parque de Uso múltiplo do Lago Norte Mód.II 11 - Parque de Uso Múltiplo dos Pioneiros - poligonal proposta 12A - Parque de Uso Múltiplo Vila Planalto 12D - Parque de Uso Múltiplo Vila Planalto 13 - Parque de Uso Múltiplo - Asa Sul - Mód.I 14 - Parque do Núcleo Bandeirantes - poligonal proposta 15 - Parque do Setor O - poligonal proposta 16 - Parque dos Jequitibás 17 - Parque Ecológico Águas Claras 18 - Parque Ecológico Bernardo Saião 19 - Parque Ecológico Burle Marx 20 - Parque Ecológico Córrego da Onça 21A - Parque Ecológico da Cachoeirinha - Área 1 21B - Parque Ecológico da Cachoeirinha - Área 2 21C - Parque Ecológico da Cachoeirinha - Área 3 22 - Parque Ecológico das Garças 23 - Parque Ecológico do DER 24 - Parque Ecológico Dom Bosco 25 - Parque Ecológico Dona Íris Solano 28C - Parque Ecológico e Vivencial Canjerama 28D - Parque Ecológico e Vivencial Canjerama 30 - Parque Ecológico e Vivencial da Lagoa Joaquim de Medeiros 31 - Parque Ecológico e Vivencial do Riacho Fundo 33 - Parque Ecológico e Vivencial Estância 35 - Parque Ecológico e Vivencial Recanto das Emas 36 - Parque Ecológico Vivencial Vila Varjão 37 - Parque Ecológico Vivencial Vila Varjão Mód.I 38A -Parque Ecológico Ezechias Heringer - Área 28 38B -Parque Ecológico Ezechias Heringer - Área 27 39 - Parque Ecológico Gatumé - poligonal proposta 40 - Parque Ecológico Irmâo Afonso Haus 41 - Parque Ecológico Lauro Müller 42 - Parque Ecológico Luiz Cruls 43 - Parque Ecológico Península Sul 44 - Parque Ecológico Saburo Onoyama 45 - Parque Ecológico São Sebastião 46 - Parque Ecológico Taquari 47 - Parque Ecológico Tororó 49 - Parque Ecológico Veredinha 51 - Parque Ecológico Vivencial Sobradinho 52 - Parque Garça Branca 53 - Parque Lago do Cortado 54- Parque Lagoinha 55 - Parque Metropolitano 56 - Parque Morro do Careca 57 - Parque Olhos d’Água 58 - Parque Recreativo de Taguatinga - poligonal proposta 60 - Parque Recreativo e Ecológico Canela de Ema 63 - Parque São Sebastião 64 - Parque Sobradinho II 65 - Parque Três Meninas 66 - Parque Urbano Bosque do Sudoeste 67 - Parque Urbano do Paranoá 69 - Parque Vivencial Denner 70 - Parque Vivencial do Anfiteatro do Lago Sul

Fonte: PDOT, 2008. Mapeamento: RSP, 2010

223 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 6.3. Mapa de zoneamento de uso, conforme PDOT, 2008.

Fonte: PDOT, 2008. Mapeamento: RSP, 2010

224 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO

Figura 6.4. Mapa de coeficientes construtivos para o setor indicados pelo PDL Candangolância.

Fonte: PDOT, 2008. Mapeamento: RSP, 2010

225 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 6.5. Mapa da aplicação dos Coeficientes de Aproveitamento indicados nas NGBs por setor do Conjunto Urbanístico de Brasília

Fonte: NGBs. Sistematização: RSP, 2010 226 DIAGNÓSTICO - RELATÓRIO CONSOLIDADO - VOLUME I CAPÍTULO 6 - ARCABOUÇO JURÍDICO

Figura 6.6. Mapa da aplicação da Altura das edificações indicada nas NGBs por setor do Conjunto Urbanístico de Brasília

Fonte: NGBs. Sistematização: RSP, 2010 227 PLANO DE PRESERVAÇÃO DO CONJUNTO URBANÍSTICO DE BRASÍLIA - PPCUB

Figura 6.7. Mapa da aplicação das Taxas de Ocupação indicadas nas NGBs por setor do Conjunto Urbanístico de Brasília

Fonte: NGBs. Sistematização: RSP, 2010 228