Fundação Getulio Vargas Centro De Pesquisa E Documentação De
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC) Proibida a publicação no todo ou em parte; permitida a citação. A citação deve ser textual, com indicação de fonte conforme abaixo. VALLE, Renato da Cunha. Renato da Cunha Valle (depoimento, 2012). Rio de Janeiro, CPDOC/FGV, 2012. p. 53 Renato Cunha Valle (depoimento, 2012) Rio de Janeiro 2014 Transcrição Nome do entrevistado: Renato da Cunha Valle Local da entrevista: Uberlândia - MG Data da entrevista: 15 de outubro de 2012 Nome do projeto: Futebol, Memória e Patrimônio: Projeto de constituição de um acervo de entrevistas em História Oral. Entrevistadores: Bernardo Buarque (CPDOC/FGV) Transcrição: Juliana Paula Lima de Mattos Data da transcrição: 08 de novembro de 2012 Conferência da transcrição: Heitor Gomes Data da conferência: 28 de outubro de 2012 ** O texto abaixo reproduz na íntegra a entrevista concedida por Renato da Cunha Valle em 29/10/2012. As partes destacadas em vermelho correspondem aos trechos excluídos da edição disponibilizada no portal CPDOC. A consulta à gravação integral da entrevista pode ser feita na sala de consulta do CPDOC. B.H – Podemos? R.V – Vamos lá. B.H – Bom dia. Uberlândia, 15 de outubro de 2012. Depoimento de Renato da Cunha Valle para o projeto Futebol, Patrimônio e Memória, que é uma parceria entre a Fundação Getúlio Vargas e o Museu do Futebol. Conduz essa entrevista, Bernardo Buarque. Renato, Bom dia. Muito obrigado por nos receber em sua casa, fico muito feliz em estar aqui em Uberlândia com você. Eu pediria, Renato, para você começar falando a sua data e local de nascimento. R.V – Bom dia. É um prazer muito grande recebê-los aqui e dar esse depoimento. Uma coisa que irá ficar registrada para a História. Então o meu nome é Renato da Cunha Valle. Nasci no Rio de Janeiro, no dia 05 de dezembro de 1944 e desde os 12 anos eu tive essa vontade de ser jogador de futebol. Então foi uma coisa assim que eu coloquei na cabeça, um sonho, um objetivo e que eu corri atrás com unhas e dentes e respeitando a todos, 2 Transcrição sabendo que cada um tem o seu devido lugar, tem o seu caminho e, nesse mundo, eu fiz muitos amigos, graças a Deus. B.H – Renato, conta um pouquinho da sua família, da sua infância, se o seu interesse pelo futebol teve alguma influência dos seus pais. Enfim, conta um pouquinho da sua família. R.V – Bom, eu costumo falar que a minha história é mais ou menos ao contrário da história normal de todos os jogadores. Eu saí... eu nasci no Rio de Janeiro, como eu já falei, eu saí de uma família de Classe Média Alta. Meu pai militar, capitão de Mar e Guerra e eu tinha, dentro de casa, duas irmãs, uma mais nova que eu e a outra mais velha. E nós tínhamos quase que uma ordem unida dentro de casa. Então, era tudo muito rígido, uma educação muito... Que hoje eu agradeço realmente aquela educação, na época, a gente ficava meio zangado, porque era jovem, queria muita liberdade... E o meu pai gostava muito de futebol. Flamenguista, eu, aos nove anos, fui a primeira vez ao Maracanã e adorei. Depois daquele jogo, eu que fazia com que o meu pai fosse ao Maracanã. Nós íamos aos clássicos, nos sábados e nos domingos. Depois entrou o campeonato dos aspirantes também, nós íamos lá. Eu fiz meu pai chegar mais cedo... Então eu tomei um amor muito grande pelo futebol. Que eu vi grandes jogos, grandes jogadores. E eu lembro: Eu tinha 12 anos de idade, o Flamengo estava jogando contra a Portuguesa carioca e, naquele momento, eu ficava com um colega dele sentado atrás na arquibancada, eu virei para ele e disse: “Pai?”. “O que foi?” “Você vai me ver aqui, jogando no Maracanã. E eu vou jogar no Flamengo e vou jogar na Seleção Brasileira.” [Risos]. Ele falou: “Que isso, menino! Você vai estudar! Jogador de futebol não dá certo...” Não sei o quê e tal. Morreu aquele assunto ali naquela hora. Mas dali em diante, eu comecei realmente a me interessar por esporte. Eu morava juntinho da praia, então, era sempre na praia... E eu sempre tive habilidade para jogar futebol, para jogar voleibol também. Naquela época, nós tínhamos uma turma boa de companheiros, nós fundamos um timezinho de praia. E ali já começou. E o interessante é que nesse time de praia, nós tínhamos um amigo que só jogava no gol. Ele era muito bom goleiro e só jogava no gol. Eu queria ser goleiro, mas só sabia jogar na linha. Então, eles diziam: “Não, você vai jogar na linha, porque você chuta forte, cabeceia...” E eu cresci rápido também. Eu, rápido, fiquei com 1,80cm, que é o que eu tenho. E, naquela época, era alto, 1,80cm era alto. Hoje em dia, não é essa média que nós temos, não é? Então, eu era obrigado a jogar na linha. Eu fazia gol e tal, mas não era o meu objetivo. E depois as coisas foram indo e tal. O time da minha turma, do posto 6, que era o Lá vai Bola, era um time muito bom, e eu também não tinha oportunidade de jogar no gol,não tinha. Aí eu saí dessa turma, foi para a turma do posto 5 , jogávamos no time do Maravilha, que foi a primeira pessoa que acreditou em mim como goleiro, foi o Jaime, ele era o porteiro de um prédio, vascaíno 3 Transcrição doente, o time dele tinha a camisa do Vasco e ele, um dia, passando por ele na praia, ele falou assim: “Você não quer ser goleiro do meu time?” Lá chamava amador, “do amador do meu time?” Que era o primeiro time a jogar o campeonato de futebol de praia, que era 11 contra 11! Organizado, bonitinho e tudo. Eu falei: “Então eu vou jogar”. E fui para lá e, de vez em quando de tarde, ele me chamava: “Não, vamos treinar”. E a gente treinava, ele ficava chutando para mim e tudo... Então, ali, que realmente começou. Eu comecei a jogar no gol, aí o meu time da minha turma, viu eu jogando no gol, e disse: “Não, você tem que voltar para cá”. [Risos]. Aí, eu voltei e fui pro Lá vai Bola nós fomos bicampeões. E ali, no futebol de praia também, o time do Real Constant que era um time exatamente daquela rua dali do Maravilha, tinha um goleiro lá chamado Ivan, eu tenho que agradecer ao Ivan também porque foi ele que deu aquela mãozinha que toda pessoa precisa para chegar ao sucesso. Ele, goleiro também, já jogava no juvenil do Flamengo e ele indicou ao Modesto Bria, que era o olheiro do Flamengo, indicou para ver um jogo meu na praia. E, um dia, eu estava jogando. Acabou o jogo, veio um senhor falar comigo, ele era paraguaio, Modesto Brio, tinha sido tricampeão pelo Flamengo, ele se apresentou e perguntou se eu não queria treinar lá no Flamengo. Então aí começou mesmo a minha ida para o campo. Antes, eu já tinha... Essa mesma turma do Lá vai Bola, nós já jogávamos no futebol amador em Petrópolis, perto do Rio de Janeiro, a gente subia todo sábado de noite, jogávamos domingo de manhã e voltávamos. A gente jogava sábado à tarde na praia, subia , jogava domingo de manhã no campo, não é? E, ali, eu já... Lá eu comecei com 16 anos e já no final desse campeonato, eu fui convidado para jogar pela seleção Petropolitana, com 16 anos. Então, ali, eu vi que realmente poderia acontecer alguma coisa. B.H – Aham. R.V – Mas depois foi muito difícil porque, quando eu comecei e treinar no Flamengo, só a minha mãe sabia, meu pai não sabia. B.H – Foi escondido. R.V – Foi escondido. [Riso]. Então, foi uma coisa, assim, interessante, porque eu comecei a treinar e tal e eu não sabia, não tinha noção nenhuma de nada, só a minha mãe que sabia. Eu fui fazer uma excursão também - isso aí foi em 1963 – e eles pegavam jogadores, faziam uma excursão para formar o time, preparar o time de sub-20 para jogar 4 Transcrição em 1964. E aí eu tive que viajar com esse time, e eu tive que falar, mais ou menos, o que que era ao meu pai... E ele concordou, meio assim, mas foi mais ou menos [Riso]. Mas depois, quando voltou, o time se interessou, que ia começar o campeonato realmente, aí eu tive que falar com o meu pai. Eles vieram, queriam que eu assinasse aquele contrato de gaveta em que você só assinava, sem data, o contrato em branco, e eu falei que não assinava. Aí os dirigentes falaram para mim que se eu não assinasse, eu não jogava. E eu falei que se eu falasse em casa, ao meu pai, ele não me ia deixar eu jogar. Então ficou aquele impasse. Afinal, eles foram lá ao meu pai e eu tive chegar para ele e abrir o jogo: “Ó, pai, está acontecendo isso. Eles vem aqui para você assinar esse contrato, aí sim você vai dizer para eles que você não quer que eu jogue, você não vai assinar esse contrato.” E eles vão ter que deixar eu jogar porque... Vai ter que deixar. [Riso]. B.H – Agora, em 64, você já tinha 20 anos de idade, é isso? R.V – É. Em dezembro eu estava fazendo 19 para 20. B.H – Ainda assim o contrato tinha que ser assinado pelo pai? R.V – É, ainda.