Transcrição Alfredo Mostarda
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC) Proibida a publicação no todo ou em parte; permitida a citação. A citação deve ser textual, com indicação de fonte conforme abaixo. FILHO, Alfredo Mostarda. Alfredo Mostarda Filho (depoimento, 2012). Rio de Janeiro, CPDOC/FGV, 2013. 32p. ALFREDO MOSTARDA FILHO (depoimento, 2012) Rio de Janeiro 2013 Transcrição Nome do Entrevistado: Alfredo Mostarda Filho Local da entrevista: Museu do Futebol – São Paulo, SP Data da entrevista: 13 de fevereiro 2012 Nome do projeto: Futebol, Memória e Patrimônio: Projeto de constituição de um acervo de entrevistas em História Oral. Entrevistadores: Paulo Fontes (CPDOC/FGV) e Bruno Romano (Museu do Futebol) Câmera: Fernando Herculiani Transcrição: Lia Carneiro da Cunha Data da transcrição: 25 de setembro de 2012 Conferência de Fidelidade: Thomas Dreux ** O texto abaixo reproduz na íntegra a entrevista concedida por Alfredo Mostarda Filho em 13/02/2012. As partes destacadas em vermelho correspondem aos trechos excluídos da edição disponibilizada no portal CPDOC. A consulta à gravação integral da entrevista pode ser feita na sala de consulta do CPDOC. Paulo Fontes – Senhor Alfredo, o senhor podia falar para gente seu nome completo, data e local de nascimento? Alfredo Filho – Bom. Primeiramente, boa tarde. É uma satisfação muito grande estar aqui, ter atendido o pedido do Bruno, embora não conhecesse pessoalmente, mas me convidou, e eu estou sempre à disposição, no caso, quando é para se falar a respeito da minha carreira, que para mim foi muito importante. Então eu fiz uma carreira normal no futebol, mas tive que passar por muitos e muitos obstáculos. P.F. – E o seu nome completo? A.F. – Meu nome é Alfredo Mostarda Filho. P.F. – E o senhor nasceu quando? A.F. – Eu nasci no dia dezoito de outubro de 1946. P.F. – Em São Paulo? A.F. – Em São Paulo. Nasci na Penha. P.F. – Penha. Conta um pouquinho da infância do senhor, da sua família. O pai fazia o quê, a mãe. Mostarda suponho que é italiano. 2 Transcrição A.F. – É. Eu sou descendente, por parte de meu pai, de italiano e por parte da minha mãe, portugueses. Meus avós maternos eram portugueses, e paternos, italianos. Então eu, no caso... uma infância, sabe, abaixo daquilo que, normalmente, vive hoje o brasileiro. Então a gente tinha uma dificuldade muito grande em poder ter as coisas. Meu pai trabalhava, meu pai era soldador, trabalhava numa firma que fazia fogões, e minha mãe também, era tecelã, ela também trabalhava. Então eu tinha sete anos de idade, mais ou menos, eu já botava a chaleira no fogo, sabendo que a minha mãe ia chegar cinco e meia, então eu botava uma chaleira no fogo para poder ferver, que, assim que ela chegasse, ela já fazia a comida para a gente, era arroz, essas coisas todas. Então a gente sempre... E eu morava muito perto da minha avó por parte da minha mãe, então a gente tinha uma certa cobertura nesse setor. Mas foi uma infância um tanto... Para você ter ideia, eu vim ter uma bicicleta, coisa que uma criança na época adorava... menino, futebol, bola, essas coisas todas, mas não era tanto, era mais um caso de uma bicicleta, agradava muito mais uma criança. E eu vim ter uma bicicleta já com treze anos de idade. O meu tio comprou - o irmão da minha mãe- comprou uma bicicleta nova para a filha dele e aquela bicicleta antiga dela ele me deu. Até a molecada ainda brincava: “pô, a tua não tem cano, hein!”, não sei quê. E começava aquela brincadeira toda. Mas eu fui ter uma bicicleta, coisa que uma criança adora, fui ter com treze anos de idade. Então, era uma dificuldade muito grande. A gente pagava aluguel, então... Bom. Meu pai trabalhava, minha mãe trabalhava, tudo para poder no caso manter a casa, comprar o alimento para poder pagar o aluguel. P.F. – Vocês eram em quantos irmãos? A.F. – Eu tive... tenho um irmão. Ele é dois anos mais novo do que eu. E, anteriormente, minha mãe tinha tido um outro menino, e tinha, àquela época, problema de tosse comprida, aquela coisa, e acabou falecendo, por causa que se engasgou, aquela tosse, aquela coisa toda, e acabou no caso falecendo. Aí eu nasci. Depois nasceu o meu irmão. Aí minha mãe encerrou a fábrica. P.F. – E já foi na Penha que o senhor nasceu? Eles moravam já na Penha? A.F. – Isso tudo, na Penha. P.F. – E o senhor sabe como eles se conheceram, seu pai e sua mãe? 3 Transcrição A.F. – Meu pai com a minha mãe? É. O meu pai, ele gostava muito de bailes, principalmente em final de semana, essa coisa toda, e foi num clube que tinha perto da minha casa que eles acabaram se conhecendo. Começou a namorar, aquela coisa toda e acabaram... muito pouco tempo, parece que meu pai namorou um ano e onze meses, então foi um negócio meio rápido. E aí casou, embora... Meu rápido, que eu digo, é no setor de casamento, de permanecer junto, porque meio rápido é agora né? (risos) P.F. – Mas eles eram moradores ali da Penha? A sua mãe também morava ali? A.F. – É. O meu pai, ele morava na Penha, morava numa travessa... da Celso Garcia1, e a minha mãe morava mais afastado, ali perto da estação do metrô, na Penha. Então eles acabaram se conhecendo no baile, daí foi onde “rolou”. Bruno Romano – E seu pai desde pequeno te incentivava para o futebol desde pequeno ou foi uma descoberta por algum outro meio? A.F. – Não. Veja bem. O futebol em si, eu no caso joguei... comecei a praticar esporte, no caso, no União Rio Branco da Penha, que era um clube onde foi feito uma união de duas equipes que tinham: era Palmeirinha e Herói Brasil, duas equipes de várzea. E o Julio Botelho, que foi, no caso, ponta direita do Palmeiras, jogou na Itália, tudo, ele resolveu unir essas duas equipes e construiu um ginásio para que essa equipe no caso fizesse no caso um nome, passasse... mudou de nome, passou a se chamar União Rio Branco. União, pela união das duas equipes, e o União Rio Branco foi determinado o clube. Então eu, no caso de garoto, praticamente, com quinze anos de idade, eu já jogava no primeiro quadro do time do União Rio Branco. Então, primeiro quadro, eu com quinze anos, e tinha jogadores... no caso, eu jogava de beque central, e o meu quarto zagueiro tinha vinte e seis anos de idade. Então, a diferença muito grande. Então, praticamente, já eram adultos, e eu ainda era um garoto. E numa dessas, no aniversário do clube, o Julio Botelho convidou, através do Mario Travalini, que era o técnico do Palmeiras da equipe inferior, aí convidou o infantil e juvenil para jogar contra o primeiro e segundo quadro do União Rio Branco da Penha. E nós, no caso, fizemos uma partida muito boa. Foi... O jogo ficou um a um... P.F. – O jogo foi lá na Penha? 1 Refere-se à Avenida Celso Garcia. 4 Transcrição A.F. – Foi lá na Penha. Ficou um a um. E eu tive uma... fui ter um destaque muito bom no jogo, e o Jorge também, que era um lateral direito que também jogava no Rio Branco, e nós fomos, os dois, convidados para poder participar do juvenil do Palmeiras. E nós fomos. Pegávamos o ônibus, o Penha-Lapa, pegávamos na Penha, e rodava uma hora e meia, mais ou menos, para chegar no Parque Antártica, porque ele corria, pegava a avenida São João direto, essa coisa toda, então era... era uma “pauleira”. Então, normalmente, a gente treinava de quarta e sexta-feira. Então a gente começou. Então aconteceu o seguinte. O meu pai, indiretamente, ele... ele não queria que eu jogasse futebol, porque, àquela época, ainda era aquele negócio, quem dava sorte dava, estourava logo, e quem não dava sorte, então falavam: não, o cara não quer trabalhar, o cara quer... é um vagabundo, o cara quer se encostar, negócio de jogador de futebol. Então meu pai achava também que não era para mim. Ele tinha me colocado no Senai, e eu estava fazendo o curso de torneiro mecânico. Então com, no caso, as faltas que eu tinha no Senai, eu já tinha diversas... tinha recebido diversos bilhetes, que, se continuasse dessa forma, que eu iria perder essa condição de poder estudar de graça no Senai. Então ele falou: “Não. Você não vai jogar mais futebol”, não sei quê. E resolveu a me tirar, me botar na cabeça que eu não tinha que jogar mais futebol. Eu fiquei, lógico, chateado, muito magoado. Pô. Saio de uma equipe de várzea, vou jogar no Palmeiras, começo a jogar na equipe juvenil, o time foi logo, o primeiro ano, foi campeão, então eu fiquei meio chateado. Mas, naquele tempo, o pai determinava e era fim de papo. Então acontece que eu... Ele falou: “Caso você conseguir se diplomar lá no Senai, conseguir o diploma de torneiro mecânico, aí você tem uma profissão, aí você pode tentar o que você quiser; mas, pelo menos, você tem uma profissão”. Está bom. Aí foi onde eu... aí continuei estudando, essa coisa toda. E logo após, oito meses depois, eu consegui me diplomar torneiro mecânico, tudo, e eu acabei no caso optando, no caso falei: pô, eu vou voltar no caso a treinar. B.R. – Mas em algum momento você abandonou o futebol para se tornar um torneiro? A.F. – É. Eu tive um certo afastamento.