Leonardo D'avila De Oliveira ORDENAR O ESPIRITUAL: LETRAS E PERIODISMO CATÓLICO NO BRASIL (1928-1945) Florianópolis 2015
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Leonardo D’Avila de Oliveira ORDENAR O ESPIRITUAL: LETRAS E PERIODISMO CATÓLICO NO BRASIL (1928-1945) Tese de doutoramento submetida ao Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina sob a orientação do prof. Dr. Raul Antelo como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Literatura. Florianópolis 2015 τὸ γὰρ γράμμα ἀποκτέννει, τὸ δὲ πνεῦμα ζῳοποιεῖ pois a letra mata, e o espírito vivifica Paulo de Tarso AGRADECIMENTOS Meus maiores agradecimentos ao professor Raul Antelo pela orientação capaz de unir profundidade conceitual com liberdade de investigação e demonstrar que a maior força da pesquisa não é tanto a da certeza, mas, principalmente, a da sutileza. Este trabalho também teve como alicerces a amizade e os exemplos de Fabián Ludueña, que me fez perceber aonde as boas perguntas podem levar, e Alexandre Nodari, com quem tive o privilégio de conviver e dialogar. Sinto-me também muito grato pelas observações perspicazes dos professores Carlos Eduardo Capela e Maria Lúcia de Barros Camargo, que me levaram a enfatizar os textos estéticos nas revistas trabalhadas durante o último ano de pesquisa. Esse novo olhar desencadeou na tensão metalinguística entre espírito e letra, que embasou todo o trabalho e revelou novos caminhos muito gratificantes. É igualmente um prazer imenso ter como avaliadores os professores Eduardo Sterzi e Susana Scramim, cujas competências como pesquisadores sempre observei com admiração, tanto quanto seus posicionamentos éticos. Este trabalho também é fruto das discussões que tivemos durante as atividades programa interinstitucional (PROCAD) entre UFSC, UFRJ e UNICAMP. Considero ter sido fundamental, na caminhada acadêmica, a companhia de amigos de muitos anos, como Giordani, Betinho, Thiago e Volnei, bem como todos os cafés que tomamos juntos. Também destaco aqueles um pouco menos antigos, mas sempre queridos, como Jeanine Phillippi, Flávia Cera, Rodrigo de Barros e Diego Cervelin, João Francisco e Emília Ferreira exemplos competência, independência e irreverência. E, por fim, agradeço a amizade de pessoas com quem convivi mais recentemente, mas que já fazem parte de minha vida, entre eles, Giorgio, Bruna, Denise, Gabriel, Victor, Maiara, Joca, Luciana, Jair e Scheibe, entre muitos outros. Não poderia também me esquecer de Juliana Pereira e Stella Daudt por suas ajudas nos momentos finais deste trabalho. Aos meus pais e minha irmã, também devo uma homenagem, especialmente por me fazerem compreender a dosagem certa para valorizar a gratidão nos tempos das vacas gordas e a superação nos momentos de dificuldade. E um agradecimento especial a Elysa Tomazi, minha maior companhia nos últimos anos, por todo o carinho, amor e inspiração. Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por haver financiado esta pesquisa assim como o estágio-sanduíche de três meses em Mendoza. Por fim, a todos os funcionários das bibliotecas que utilizei, sem as quais a ampla pesquisa em periódicos ora apresentada não teria sido possível. Destaco, pois, a Biblioteca Central da Univerdade Federal de Santa Catarina, a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, a Biblioteca da Universidad Nacional de Cuyo em Mendoza, a Biblioteca Nacional de la República Argentina em Buenos Aires e a Biblioteca do Largo de São Francisco da Universidade de São Paulo. RESUMO A tese investiga as letras espiritualistas entre 1928 e 1945 em diversos textos das revistas culturais A Ordem e Vida, ambos periódicos culturais comprometidos com o catolicismo. Para tanto, foram analisados principalmente poemas, prosas poéticas, textos dramáticos, ensaios e necrológios, os quais puderam demonstrar que, no período em questão, mais do que uma literatura católica, prevaleceram diversas estéticas espiritualistas. Delas participaram escritores como Alceu Amoroso Lima, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Vinícius de Moraes, Afrânio Coutinho ou Tasso da Silveira, entre outros menos conhecidos. Nos termos mais simples possíveis, o espírito, desde a antiguidade, foi conceituado como um garantidor do sentido, ou ainda, como uma graça capaz de dispor as palavras em alguma teleologia. A leitura do conjunto desses textos demonstrou que o espiritualismo de matriz católica no Brasil reinventa um problema metalinguístico antigo entre a efemeridade da letra e a crença em lhe dar vitalidade pela graça espiritual. E, mais do que isso, o espírito na modernidade também pode ser lido como a própria ordenação dos elementos formais do texto, o que legou trabalhos poéticos muito peculiares. Entre esses tipos de ordenações destacam-se o controle das metáforas, a evasão polissêmica, a tentativa de criar uma linguagem humilde, a explicitação das alegorias, entre outras possibilidades. PALAVRAS-CHAVE: Espírito; Letras; Catolicismo; Periódicos; Ordem. ABSTRACT This thesis investigates the spiritualistic writings between 1928 and 1945 in various texts of the cultural reviews A Ordem and Vida, journals both commited to catholicism. Poems, poetic proses, dramatic texts, essays and obituaries were analysed in order to reveal that, at that particular time, several spiritualistic aesthetics predominated rather than a catholic literature. Writers such as Alceu Amoroso Lima, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Vinícius de Morais, Afrânio Coutinho or Tasso da Silveira have participated in those aesthetics among many other less known. In the simplest possible terms, the spirit, since ancient times, was conceptualized as an assurance of the meaning of the words or as the Grace able to arrange the words in a certain teleology. The reading of all these texts revealed that the Catholic spiritualism in Brazil reivented an ancient metalinguistic problem between the ephemerality of the letter and the belief to give it vitality by the spiritual Grace. And, more than that, it is shown that the spirit, in modern times, can be read as the own ordination of formal elements of the text, which has left many peculiar poetic works. Among these kinds ordination, we highlight the control of metaphors, the polysemic evasion, the attemp to create a humble language, the forced explanation of the allegories, among other possibilities. KEYWORDS: Spirit; Letters; Catholicism; Periodicals; Order. SUMÁRIO AGRADECIMENTOS 7 RESUMO 9 ABSTRACT 11 SUMÁRIO (V. 1) 13 INTRODUÇÃO 17 1. ESPÍRITO E ORDEM, ESPÍRITO E LETRA 35 1.1. O espírito na antiguidade: princípio da vida e 35 teleologia 1.2. A espiritualização do pneûma na antiguidade tardia 46 1.3. Escolasticismo e neoescolasticismos 64 1.4. Outras fontes espiritualistas: Pascal, tradicionalismo, 81 Bergson e Farias Brito 2. A VIDA ESPIRITUAL: 1928-1932 103 2.1. Tasso e Jackson nos primeiros anos de A Ordem 103 (1921-1928): intuição e ordenação 2.2. Uma revista de cultura: a opção pelo espírito 112 2.3. Morte e metamorfose 130 2.4. Eugenia espiritual 144 3. O MUNDO SOBRENATURAL: 1933-1935 159 3.1. O fantasma de Breton: Tristão de Athayde e a 159 ordenação da inteligência 3.2. Essencialismo: Ismael Nery e Murilo Mendes 169 3.3. Catolicismo e vanguardas da década de 30 189 3.4. A ordem na política: palavras, costumes e instituições 201 4. A GUERRA SANTA: 1936-1938 223 4.1.Rupturas e intercâmbios 223 4.2. O jovem guerreiro morto 234 4.3 Poesia mística entre Rio de Janeiro e Rio da Prata 255 5. A QUEDA DO CÉU: 1939-1945 265 5.1. Utopias espirituais 265 5.2. Do nudismo verbal à escatologia concreta 289 5.3. O espírito como organicidade 316 6. DO FRESCOR DA MONTANHA À BRISA MARINHA 333 7. REFERÊNCIAS 343 8. QUADRO DOS NÚMEROS DA REVISTA A ORDEM 377 9. NOTAS BIOGRÁFICAS DOS PRINCIPAIS AUTORES 379 TRABALHADOS 10. RELAÇÃO DE TEXTOS CONSIDERADOS NA ANÁLISE 393 11. ANTOLOGIA (em ordem cronológica) 453 Tristão de Athayde: Obedecendo 454 Graça Aranha: Jackson de Figueiredo: sua modernidade 456 Sergio Buarque de Holanda: Indicação 457 Jorge de Lima: Poema (dedicado a Jackson) 458 Alceu Amoroso Lima: Jackson de Figueiredo: seu lugar 459 Jorge de Lima: Poema (a Luiz Delgado) 462 Hamilton Nogueira: Problemas de política objetiva: 463 Alberto Torres e Oliveira Vianna Tristão de Athayde: Palavras aos companheiros. 473 Francisco Inácio Peixoto: Canto do afogado 477 Augusto Frederico Schmidt: Elogio a Graça Aranha 478 Pedro Dantas: P. S. (a Tristão de Athayde) 481 Tristão de Athayde: Nota (a Pedro Dantas) 483 Durval de Moraes: Aos pés do Redemptor 487 Augusto Frederico Schmidt: Canto e Mensagem 489 Vinícius de Moraes: A transfiguração da montanha 496 Mobilizemo-nos 501 José Mariz de Moraes: A esculptora Adriana Janacopulos 505 Nelson de Almeida Prado: Eugenia 508 Murilo Mendes: Poemas (Natal de 1934, Poema) 511 Ismael Nery: Eu 512 Murilo Mendes: Commentarios aos poemas de Ismael 513 Nery Afranio Coutinho: A aventura poetica contemporânea: a 521 propósito de Rimbaud, de Daniel Rops Frei Mansuetto Kohnen: O anti-Christo e Christo: 529 Nietzsche e Francisco lutam pela alma do poeta. Alberto Guerreiro Ramos: O canto da rebeldia / 551 Lamentações de um místico Alberto Guerreiro Ramos: Não 556 Durval de Moraes: Canção da Felicidade 560 Augusto Frederico Schmidt: Canto do mistério do Natal 563 Dimas Antuña: De Cruce 571 Murilo Mendes: Na comunhão dos Santos 572 Nelson de Almeida Prado: Pentecostes 575 Jacinta Passos: Oferenda 582 Lauro Barbosa: O reino de Deus 583 Jorge de Lima: Sacrum Mysterium 586 Jacinta Passos: A missão do poeta 591 Jacinta Passos: Alegria 593 Erik Peterson: Teologia do vestuário 594 Murilo Mendes: Jerusalem 602 Bons propósitos 603 Gustavo Corção: Rostos, roupas e paramentos 606 Dom Paulo Gordan: Escatologia concreta 613 Paulo Corrêa Lopes: Outono 619 Otto Maria Carpeaux: A utopia como problema religioso 620 O mistério da veste 626 Francisco Karam: Aos que voltarem 641 Dimas Antuña: Entréme donde no supe 642 17 INTRODUÇÃO A revista A Ordem, fundada em 1921, bem como sua sucursal Vida, de 1934, reuniram, por quase três décadas, diversos intelectuais e artistas em torno de um catolicismo militante. Essas publicações, vinculadas ao Centro Dom Vital do Rio de Janeiro, por sua vez, foram muito mais do que um esforço pastoral ou panfletário em defesa da religiosidade ou da moral.