Sexta-feira 30 Outubro 2009 www.ipsilon.pt NTE ADAME A R E SEPAR DIDO DI D N EN E VEN V R VEN VE RV V E E SE ESE ES DE SE O PO P OPO O ÃO PO P PO P N EN E N E N , E N O C IC I LICO LIC LI L BLICO BLIC BLI BL B PÚ O PÚ DO PÚ P D PÚ 0 50 5 150 15 1 7150 71 7

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Com a mão na câmara Videoclips em Portugal

David Fonseca Nico Muhly Jeanne Balibar Augusto Alves da Silva Steve Reich

PASCAL GUYOT/ AFP David Cronenberg LOIC VENANCE/ AFP LOIC VENANCE/ Jacques Audiard

MIKE BLAKE/ REUTERS Francis Ford Coppola

“O Fantástico Sr. Raposo”, Peter Gabriel faz de Wes Anderson, abre o festival no dia 5 “covers” de Arcade Fire e Radiohead

O potencial orquestral das canções dos Arcade Fire e dos Radiohead não é propriamente um segredo, mas estamos para ver o que Peter Gabriel vai fazer com ele no novo álbum - o primeiro em sete anos - em que o músico britânico promete “reinterpretar radicalmente” temas daquelas bandas, mas Flash também de David Bowie, Magnetic Fields, Lou Reed e Neil Sumário Young. “Scratch My Back”, disse à BBC um colaborador de Videoclips 6 Gabriel, é um intercâmbio entre Nunca se viu tanta música Gabriel e um conjunto de em Portugal “artistas lendários” e foi gravado nos estúdios de George

David Fonseca 12 Martin em Londres. “Não é um Coppola, Cronenberg Cannes, antestreando pelo álbum de versões. São De um lado o romântico, meio os novos de Fernando reinterpretações radicais de de outro o pragmático Lopes (“Os Sorrisos do material famoso, incluindo e Audiard, o “dream Destino”, nas salas já a 12 algumas das canções mais Nico Muhly 14 de Novembro), Michael conhecidas dos últimos 40 Por favor não lhe chamem team” do Estoril Film anos”, sublinhou o compositor Haneke (“O Laço Branco”, John Metcalfe, que não quis rapaz prodígio Palma de Ouro em Cannes), dizer se este vai ser um álbum Festival Jane Campion (“Bright duplo, ou mesmo um projecto João Aguardela 18 Paulo Branco esmerou-se a sala logo a seguir, Star”) e Lars von Trier (o com dois “rounds” (do tipo: no A Associação Megafone puxar do filofax para a respectivamente a 19 e 26 de mui infame “Anticristo”, primeiro Peter Gabriel faz uma perpetua a obra versão de Paul Simon, no terceira edição do Estoril Novembro); Binoche, com Charlotte Gainsbourg segundo Paul Simon faz uma Film Festival, a ter lugar Cronenberg e Handke vêm e Willem Dafoe), todos a versão de Peter Gabriel). Steve Reich 20 entre 5 e 14 de Novembro: acompanhar retrospectivas estrear em Janeiro. Entretanto, já há uma “tracklist” Diz que Schoenberg estava Juliette Binoche, Francis das suas carreiras, que, nos Entre os doze filmes da não oficial: “Heroes” (David errado, que Boulez é para Ford Coppola, David casos da actriz francesa e do competição há um Bowie), “Street spirit” elites... (Radiohead), “The book of love” Cronenberg, Peter Handke, realizador canadiano, se português, “Duas (Magnetic Fields), “Flume” (Bon Jacques Audiard e a estrela expandem para exposições Mulheres”, o novo João Iver), “My body is a cage” Jeanne Balibar 24 porno Sasha Grey vêm ao paralelas. Binoche mostra Mário Grilo, com Beatriz (Arcade Fire), “Listening wind” Se acham que uma actriz que Estoril acompanhar o “Portraits – In Eyes”, Batarda e Débora Monteiro (Talking Heads), “I think it’s canta é um cliché, ouçam-na... certame, cujo júri será selecção de pinturas, e argumento de Rui going to rain today” (Randy Newman), “Après moi” (Regina composto por David Byrne, poemas e retratos assinados Cardoso Martins e Tereza Ricardo Adolfo 26 Spektor ou Eartha Kitt), Rui Horta, Cindy Sherman, pela actriz, enquanto Coelho, bem como duas “Waterloo sunset” (The Kinks), Depois de emigrar Manfred Eicher (o lendário Cronenberg traz novas missivas da nova “The boy in the bubble” (Paul aconteceram-lhe muitas director da ECM) e pelo “Chromosomes”, painéis vaga romena (“Police, Simon), “The Power of the coisas... como trabalhar com compositor Alexandre ampliando fotogramas de Adjective”, de Corneliu heart” (Lou Reed), Wong Kar-wai “Philadelphia” (Neil Young) e Desplat. E falta ainda filmes seus, e “Red Cars”, Porumboiu, e “First of All, “Mirrorball” (Elbow). confirmar a vinda do um “storyboard”/dossier à Felicia”, de Razvan Augusto Alves da Silva 30 fotógrafo Robert Frank. volta de um projecto nunca Radulescu e Melissa de Põe a nu a pornografi a... Tudo isto num festival que concretizado. Sasha Grey Raaf), os mais recentes de e outros absurdos da é uma espécie de “Cannes acompanha a antestreia de Alain Guiraudie e Marc sociedade actual na Costa do Estoril”, com “The Girlfriend Recha, “Moon”, a estreia Ficha Técnica muitos dos filmes Experience”, de Steven na realização de Duncan apresentados quer em Soderbergh, e Frank virá, Jones, filho de David Director José Manuel Fernandes competição quer fora de em princípio, acompanhar Bowie, e a surpresa do Editor Vasco Câmara, Inês Nadais concurso a virem igualmente a homenagem “box-office” francês do (adjunta) direitinhos da competição que lhe é dedicada. Conselho editorial Isabel ano, a comédia do Coutinho, Óscar Faria, Cristina oficial e das secções O festival abre com a desenhador Riad Fernandes, Vítor Belanciano paralelas da edição 2009 aguardada animação que Sattouf, “Les Beaux Design Mark Porter, Simon do festival de Cannes. Wes “Os Tenenbaums” Gosses”. Esterson, Kuchar Swara Coppola e Audiard vêm Anderson adaptou de Roald Os pormenores podem Directora de arte Sónia Matos apresentar fora de Dahl, “O Fantástico Sr. Designers Ana Carvalho, Carla todos ser lidos no site Noronha, Mariana Soares concurso os seus últimos Raposo” (chega às salas em oficial em www.estoril- Editor de fotografi a Miguel filmes, “Tetro” e “Um Janeiro), e fecha com “Um filmfestival.com. O tratamento das versões Madeira Profeta” (que estrearão em Profeta”, Prémio do Júri em Jorge Mourinha vai ser radical, avisa um E-mail: [email protected] colaborador de Peter Gabriel

Ípsilon • Sexta-feira 30 Outubro 2009 • 3 Flash

O retrato de duas mulheres marroquinas que Penn fez em 1971 também vai estar na National Portrait Gallery

Todos querem também admitiu ao jornal que as saudades dos Oasis serão difíceis de ser Sinatra superar. “Vou sempre ter saudades dos Oasis. Era a minha cena, Há muitos Sinatras para envergar sabem? É quem eu sou. Mas é – o “crooner”, o “ladies man”, o apenas um nome. Ainda sou eu membro do Rat Pack, o homem mesmo e posso fazer outra coisa”, com ligações à máfia, o actor, o disse ainda, como que a tentar “Chairman of the Board”... e a lista convencer-se que sem as diatribes podia continuar. Ora, com tantos com o irmão ainda será “alguém” Sinatras para se ser, há também um na música. “Tenho música em mim. punhado de actores de topo (os Nunca a deixarei para trás”. Noel, “a-listers”) que querem vestir a sua por seu turno, vai continuar a solo, pele no novo filme de Martin “a olhar para a frente” como disse Scorsese: Leonardo DiCaprio, ao “Daily Mirror”, sem pensar nos Johnny Depp, George Clooney. Oasis ou no feudo com o irmão. Todos querem ser o protagonista de Marty em 2010 e todos têm um currículo cheio de prémios, reconhecimento público e adoração Novo Clint popular. O realizador tem um favorito, lê-se na imprensa da especialidade, e ele é o seu menino Eastwood DiCaprio, o homem de “The Departed – Entre Inimigos” com já temm quem Scorsese está a terminar o muito esperado “Shutter Island” (o quarto filme que fazem juntos). Por posterer seu turno, a filha de Frank Sinatra, Tina (que detém os direitos sobre o É o último ás espólio do pai), quer ver George (eventualmentee Clooney no ecrã a emular os de trunfo, mas trejeitos do mestre de “My way”. E prognósticos sóó há ainda uma outra claque, a dos no fim do jogo) “fatos” da Universal, que produz o que a Warner filme, a torcer fervorosamente pela Miles Davis nos anos 50, Dois Gallagher, Bros. tem para pérola das Caraíbas que dá pelo Os retratos retratados em grandes planos sacar da nome de Johnny Depp. O filme em que, como nunca até aí tinha um a solo e outro manga até aos si, um “biopic” com argumento de sido feito, captavam a em grupo Oscars. A campanhapanha Phil Alden Robinson (“Sneakers – de Irving intensidade do seus olhares promocional de “Invictus”, o Heróis por Acaso”, “Campo de interiores, ou, já nos anos 2000, novo Clint Eastwood, começou Sonhos”), está a ser escrutinado Penn em a actriz Nikole Kidman, para a Os irmãos Gallagher são dados a esta semana com a divulgação antes sequer de começar a revista “Vogue” – cuja primeira zangas, amores profundos e ódios oficial do poster e do trailer do rodagem. Tudo porque se sabe da página Penn moldou mais de ainda mais arreigados. Seja filme em que Morgan Freeman tensão entre a família e o realizador, Londres centena e meia de vezes –, ou o enquanto membros dos Oasis – e faz de Nelson Mandela e Matt entre a realidade e a potencial pintor e realizador Julian quem se lembra do concerto no Damon faz do jogador de ficção, no fundo entre a versão mais O que é que há de comum entre Schnabel, em 2007, num dos Festival do Sudoeste em 2000, râguebi sul-africano François próxima da realidade que foi a Truman Capote e Marlene últimos trabalhos do fotógrafo. quando foram vaiados e corridos do Pienaar (o capitão que Mandela agitada vida de Sinatra ou o desejo Dietrich, Christian Dior e T.S. Estes e muitos outros retratos, palco, sabe do que estamos a falar –, usou como símbolo da união da família do cantor-actor de Eliot, Duke Ellington e Alfred incluindo os trabalhos que Penn seja enquanto irmãos musicais. Os nacional em 1995, no seu apresentar nos cinemas uma versão Hitchcock, Nicole Kidman e fez em Marrocos ou na Nova manos separaram-se em Agosto, primeiro mandato como mais higiénica da história. Tendo Willem de Kooning, Rudolph Guiné, vão fazer o prato forte da dando por terminada essa aventura presidente, quando a África do em conta que de Tina depende a Nureyev e Edith Piaf, Pablo grande exposição retrospectiva de mais de uma década chamada Sul organizou o campeonato do autorização para o uso da música Picasso e Harold Pinter, Igor de sete décadas de carreira que Oasis, na sequência da saída de mundo da modalidade). Nas de Sinatra no filme, o seu papel Stravinsky e Tennessee a National Portrait Gallery Noel, que quer lançar-se numa nova bolsas de apostas de Hollywood, nesta história com tantos Williams, Ingmar Bergman e (NPG) de Londres dedica aos carreira. Agora, Liam disse ao diário “Invictus” já era o provável candidatos a protagonista Julian Schnabel? Todos eles, retratos de Irving Penn a partir “The Scotsman” que também quer melhor filme do ano mesmo pode ser decisivo. E num ou noutro momento das de Fevereiro do próximo ano. fazer música. Mas não a solo. E já no antes do “trailer” em que se por falar em suas vidas, foram retratados Mais de 120 trabalhos, entre os início de 2010. “Suponho que confirma que sim, Freeman música, não por Irving Penn (1917-2009), quais várias tiragens inéditas, afastar-me de toda a coisa Oasis vai veste as famosas camisas veremos o grande fotógrafo da moda compõem esta exposição que já ser algo bom. Não quero fazer nada fluorescentes de Mandela. Nos DiCaprio, (e que fez a moda de uma estava planeada bastante tempo a solo. Quero pertencer a uma EUA, o filme chega às salas a 11 Clooney ou Depp certa forma de fazer retratos) antes da morte de Penn. “A banda.” E, adiantou ainda, de Dezembro - e a Warner a cantarolar. Seja falecido em Nova Iorque no qualidade excepcional e o “decididamente vai ser rock está a fazer figas para que o quem for que passado dia 9. brilho requintado das suas ‘n’ roll”. “Pode ser uma filme chegue aos lhe dê cara, a voz Todos eles experimentaram fotografias, mas também os merda, mas não sabemos entusiasmantes 148 será sempre “a voz” – a na pele do seu rosto ou do seu temas e as poses que abordou, até tentarmos”. Por agora, milhões de dólares (quase de Sinatra. corpo a diferença de sempre me pareceram fazer de o ex-Oasis mas sempre cem milhões de euros) de terem sido Penn um dos grandes fotógrafos Gallagher está “a relaxar bilheteira de “Gran retratados por do século XX e, até, do século em casa”, afastando-se das Torino”, e para que não Penn, e isso, em XXI”, comentou Sandy Nairne, pautas e dos instrumentos. perca no duelo um-para- muitos casos, director da NPG, aquando da Mas depois vai um com “The Lovely marcou a sua apresentação da exposição, “começar qualquer Bones”, de Peter imagem, como explicando que ela estava na coisa, talvez Jackson, com aconteceu, sua cabeça já desde 2002. A depois de estreia marcada por exemplo, exposição abre no dia 18 de Janeiro”. Quer para o Leonardo DiCaprio, George Clooney com Pablo Fevereiro e decorre até 6 de que seja algo mesmíssimo e Johnny Depp querem ser Sinatra em 2010 Picasso e Junho. diferente, mas Liam Gallagher quer ter uma banda dia.

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Consulte a agenda cultural Fnac em    

 Nunca se viutanta música em Portugal Em todo o mundo, graças ao YouTube ou ao Facebook, o videoclip renasce, afi rmando-se como território artístico autónomo. Em Portugal acontece o mesmo. Uma fornada de realizadores, com percursos e motivações diferentes, dá vida nova a um formato que parecia moribundo. Vítor Belanciano Ípsilon • Sexta-feira 30 Outubro 2009 • 7 IO B U -R S E IV V C I R N E 2 3 A sua motivação? “Faço porque IO B U acredito. Em geral não há -R 1. X-Wife S E orçamento para estas coisas, mas 2. The Weatherman IV V C I acredito que estou a documentar 3. Kap Bambino R N parte da história desde tempo”, E verbaliza a propósito dos www.vimeo.com/neutralreporter documentários que anda a fazer | com X-Wife, Manuel Cruz e com os franceses Kap Bambino. Depois, existe ainda a sua vida de músico: toca com The Weatherman e está a gravar um álbum do seu 1 projecto solitário, Wingman. E os videoclips? Não tem a certeza de quantos, mas entre os mais importantes estão Old Jerusalém, Sizo, Os Tornatos, Mind Da Gap, The Weatherman e o último dos www.neutralreporter.com X-Wife. O mais recente que o

| entusiasmou foi “Hibi no hero” dos Sour, filmado por inúmeras pessoas via webcam. Um Os canais de TV clássicos eliminaram- histórico? “Viorar vel til nos quase por completo das suas gre- loftarasa” dos Sigur Rós, com lhas de programação. A MTV, cada direcção de Stefan Arni e Siggi vez mais alicerçada em programas de Kinski. tele-realidade, reduziu a sua difusão. As editoras de música quase não têm dinheiro para eles. Muitos músicos andré olham-nos ainda pejorativamente, convencidos de que criar uma ima- gem é sinónimo de prostituição ar- tística. E os cinéfilos, quando querem tentugal denegrir um filme, argumentam que possui linguagem de videoclip, como aconteceu com o polémico e último vencedor dos Óscares, “Quem Quer Wingman. Paulo Segadães Ser Bilionário?”. foi até há semanas o baterista Os videoclips têm costas largas. São do grupo rock Vicious 5. Pedro tratados com paternalismo. Mas Maia, Rodrigo Areias e Paulo Prazeres O T R E nunca se viram tantos como agora, já fizeram parte de bandas. Joana B O R L E na Internet, no YouTube, no Vimeo, Linda estuda música desde pequena U N A nas redes sociais. Os orçamentos são e Joana Areal confessa ter um fascínio M mais reduzidos, mas há mais ideias. especial por grupos femininos, aspi- Há desejo de cinema, nalguns casos rando até a formar um. mais do que no próprio cinema. Do que todos não parecem ter Mesmo aqueles que nunca ligaram dúvidas também é que a crise da ao formato são agora seduzidos por indústria da música, as ferramentas ele. Nunca se consumiu tanto o para filmar a preços mais acessíveis, género. Tornaram-se senha de iden- e a Internet, enquanto meio difu- tidade, passam de ‘wall” em “wall” sor, alteraram por completo o nas redes sociais. Já não ilustram panorama dos videoclips. Com música. Já não querem demonstrar leituras para todos os gostos. “A nada. São objecto artístico, por si. crise da indústria e a Internet É assim em todo o mundo. Em Por- tugal também, onde as transforma- ções na indústria do entretenimento reabriram a porta da criatividade aos videoclips, formato que parecia mori- bundo. Há meses reflectíamos aqui que o novo cenário estava a propor- cionar a afirmação de uma nova gera- ção de realizadores como Patrick Daughters, Jonas & François, Encyclo- pedia Pictura ou Andreas Nilsson, herdeiros dos já firmados Spike Jonze, 1 2 Michel Gondry, Chris Cunningham, O primeiro videoclip que fez videoclips. Pelo meio Mike Mills, Anton Corbijn ou Stéphane (“Memory”) não o considera bem concretizou projectos com Sednaoui. um videoclip. Foi há dois anos, e músicos das electrónicas, como Por cá, nomes como Pedro Cláu- olha para ele como um filme seu o alemão Thomas Brinkmann ou dio, Rui de Brito ou José Pinheiro já com música de Panda Bear dos o português Vítor Joaquim. Neste não necessitam de apresentações e “Antes do YouTube Animal Collective. Depois houve momento encontra-se em são citados como referência, mas nos Legendary Tigerman e o excelente negociações para fazer um vídeo últimos anos outros têm feito traba- até se podiam fazer “She nods”, dos Sizo, que para uma nova figura da música lho válido. Falámos com sete desses www.pedromaia.net considera ser uma homenagem a de dança, o argentino Matias

novos realizadores, com percursos, coisas, mas | Harmony Korine, o realizador Aguayo. É de Vila do Conde e o aspirações e motivações estéticas dis- americano que também já realizou festival local de curtas-metragens tintas, mas outros poderiam ser acabavam foi a sua escola. Videoclip nomeados (Pedro Lino, João Pedro marcante: “Ialas salandiw”, da Moreira, Paulo Abreu, Eduardo invariavelmente No Neck Blues Band, por Tom Matos, produções Uzi Filmes, etc), na gaveta. Não havia Thayer. Diz-se desatento em de tal forma existe um estilhaçar de relação ao que se passa na actores neste território. maneira de mostrar. actualidade, mas destaca Apesar das inúmeras diferenças “Crystal cat” de Dan Deacon, entre eles, existe qualquer coisa que Agora não. É uma por Jimmy Joe Roche. os une: a paixão pela música. André pedro 3 Tentúgal é músico, tocando com Wea- revolução” 1. Legendary Tigerman therman e encontrando-se a gravar Joana Linda 2. Panda Bear o álbum de estreia do seu projecto maia 3. Sizo 8 • Sexta-feira 30 Outubro 2009 • Ípsilon Começou na direcção de arte em publicidade, foi para Nova Iorque estudar artes, esteve em Los Angeles por causa do cinema, regressou a Lisboa, ela que é do Porto, realizando publicidade, vídeo-arte, encenando teatro e preparando o primeiro filme. Pelo meio, videoclips: começou em L.A., com os Los Lobos, e quando chegou a Lisboa encontrou Kalaf + Type, One Week Project e os londrinos Selfish Cunt. Prepara-se para filmar Paco Hunter. Confessa ter fascínio por bandas femininas (Electrelane, Vivian Girls). “Queria ser baixista. Estou a convencer um amigo músico a formar uma banda de mulheres para rockarmos!” diz, mas é o cinema joana areal 1 1. Los Lobos 2. Selfish Cunt 3. Selfish Cunt 4 5 4. Kalaf + Type vel” aponta Sega- Fez mais dois videoclips para a 5. Kalaf + Type dães. “A Internet, o mesma cantora, apesar de nunca se fácil acesso à produ- terem conhecido pessoalmente. “Só ção, permitem que se comunicamos por email” explica façam coisas fantásti- Linda. “É engraçado ter confiança em cas com pouco mim, mérito da Internet e das redes 2 dinheiro. As editoras sociais de que tanto mal se fala, inclu- sabem-no e acabam sive eu. Mas a verdade é que se não por aproveitar-se disso.” fosse o MySpace nada disto teria “Escudam-se na história acontecido.” de que não existem sítios Em “River of the dirt”, o último para os passar, mas hoje a vídeo que fez para Marissa Nadler, Internet faz mais por qual- pegou em dez actores e meteu-os quer videoclip do que a TV” num autocarro. “Fiz questão de pagar 3 acrescenta Prazeres. “As coisas a todos e o que sobrou foi ridículo”, são mais canalizadas e as ban- afiança. “A não ser que a Beyoncé me das têm noção disso, de tal forma peça para fazer um vídeo, não estou que são elas que investem nos a ver como é que se pode ganhar www.joanaareal.net www.joanaareal.net vídeos, mais do que as editoras.” dinheiro com isto. Mas o mesmo se | de Hou Hsiao-Hsien, Jia Zhang-ke, A história actual dos videoclips em passa no cinema. Quem ganha Vincent Gallo ou Lynne Ramsey Portugal é uma história de baixo orça- dinheiro no audiovisual trabalha em que a motiva. O último videoclip mento: “Não me importo, por vezes, TV ou publicidade.” que a pôs em “stress” foi o vídeo de trabalhar com pouco dinheiro, para o tema do mesmo nome dos porque é aliciante estar com músicos, Vida paralela Justice, realizado por Romain mas tem de haver um mínimo e em Nenhum realizador subsiste só dos Gavras. Quando pensa num Portugal nunca há”, analisa Areal, videoclips, mas todos ganham a vida marcante lembra-se de “Rabbit In cuja primeira experiência com vide- a realizar ou a fotografar. Maia reali- Your Headlights” dos Radiohead, oclips aconteceu em Los Angeles, em za imagens para concertos, trabalha por Jonathan Glazer. 2001, com um grupo cimentado, os em cinema, faz instalações vídeo, es- Los Lobos. O orçamento era reduzido tá ligado ao Curtas Vila do Conde. para o padrão americano, mas supe- Areal faz publicidade e instalações rior à realidade portuguesa. “Foi uma vídeo, já encenou teatro, prepara o impulsionaram a criatividade”, refere experiência importante porque são primeiro filme. Tentúgal faz projec- Tentúgal. “Hoje qualquer pessoa “As editoras uma banda específica – fundamental ções em concertos, publicidade, ví- pode ter os meios para fazer um para a comunidade hispânica de L.A., deos institucionais, documentários. vídeo, as câmaras de filmar são bara- não arriscam. que representa 40 por cento da popu- Prazeres, no contexto da Droid-id, tas” aponta Segadães. “Antes do You- Escudam-se lação –, enquadrada num ambiente confecciona documentários, vídeos Tube até se podiam fazer coisas, mas que era importante que fosse reflec- institucionais, filmes. Linda e Sega- acabavam invariavelmente na gaveta” na história de tido. Hoje gosto de fazer vídeos por dães têm a fotografia. afirma Linda. “Não havia maneira de isso: gosto de perceber a banda, como Para a maior parte, os vídeos pare- mostrar. Agora não. É uma revolução. que não existem sítios se enquadra socialmente, o que quer cem ser uma etapa para a feitura de Hoje vêem-se coisas óptimas feitas dizer. É fundamental essa compreen- uma longa-metragem. Alguns, como por miúdos. Claro que existe um para os passar, são e atenção pelos músicos.” Areias, até já alcançaram esse pata- excesso de coisas, mas o tempo Experiência inicial diferente teve mar. “Os videoclips são uma reali- imporá uma selecção, separando o mas hoje a Internet Linda. Há dois anos adicionou Marissa dade paralela na minha vida” diz, que é lixo e o que vale a pena.” faz mais por qualquer Nadler, cantora pop-folk americana realçando que os que mais o satisfi- que admirava, à sua página do MyS- zeram foram aqueles onde sente Baixo orçamento videoclip do que pace. Nessa altura, a cantora fez saber desejo de cinema. “O vídeo que fiz, Mas existem efeitos colaterais. As edi- que desejava para a canção “Bird on por exemplo, para o Sean Riley, é toras escudam-se na realidade do a TV” your grave” um vídeo artístico, onde parte de um filme. Fiz uma coisa baixo custo para investirem cada vez ela não entraria. Linda, que na altura muito específica, a preto e branco, menos, argumentando, precisamen- Paulo Prazeres havia começado a fazer experiências com a qual me identifico.” te, que é possível fazer muito com com uma máquina fotográfica digital, Nas suas curtas e na longa “Tebas”, pouco. Sim, a invenção é hoje muito tentou a sorte, filmando-se a si pró- a música é omnipresente. É uma mais preponderante do que a sofisti- pria por entre imagens de rigoroso constante no seu trabalho. “A minha cação dos meios, mas não vale a pena preto e branco. “Era uma boa opor- última curta tem música do Sean romantizar. “As editoras não arris- tunidade para experimentar, fiz o Riley e a longa tinha música do Tiger- cam”, espelha Prazeres da produtora vídeo, ela gostou, mostrou à editora, man. Por norma as pessoas para Droid-id, uma das mais activas no também gostaram muito. 24 horas quem faço vídeos são as que traba- mercado. “Boas ideias, muito bara- depois, estava a receber emails da lham comigo no cinema. É como se tas, é coisa rara. Claro que existem editora a dizer que o tinham mos- fizesse vídeos dentro de filmes, ou rasgos, mas é necessário existir uma trado à MTV e que tinham gostado filmes dentro de videoclips.” No caso produção média de qualidade e isso bastante. De repente, aquilo tomou de Areias, a cumplicidade com os só se consegue com dinheiro.” proporções surpreendentes e as MTV músicos é fundamental. O último “As editoras acham que os vídeos de todo o lado transmitiam um vide- videoclip que realizou (“Life ain’t não têm expressão, mas estão enga- oclip feito a partir de uma máquina enought for you” de Legendary nadas. O YouTube é um canal incrí- fotográfica.” Tigerman) foi filmado em Roma

Ípsilon • Sexta-feira 30 Outubro 2009 • 9 O I B U R - S E V I V

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U -R S E IV V IC R N E paulo segadães Há quem o conheça no posto de baterista nos Vicious 5, o grupo 1 2 que deu por extinta a actividade há semanas. Mas aos 32 anos é mais do que isso. Estudou fotografia no ARCO, em Lisboa, e neste momento é isso que mais o ocupa. Os videoclips surgiram através da direcção de fotografia, com destaque para trabalhos ao lado de David Fonseca (“Kiss oh kiss me”, “Superstars”, “Rocket man”) ou Rui de Brito (“Poetas de karaoke” de Sam The Kid, ou “Que

“Não há regras, 1. Men Eater www.myspace.com/paulosegadaes deus?” de Boss AC). O ano passado

2. Vicious 5 | estreou-se na realização com e de tal forma “Coffee helps” dos Vicious 5 e “First season” dos Men Eater. assim é que muitos Quando lhe pedimos um vídeo marcante não tem dúvidas: videoclips “Around the world” dos Daft Punk, por Michel Gondry. Os funcionam últimos vídeos fascinantes que como pequenos viu: “Treat me like your mother” dos Dead Weather por Jonathan filmes. Já não Glazer, e “Wrong” dos Depeche www.paulosegadaes.com Mode, por Patrick Daughters. pertencem a esse | território MTV. que deseja”, refere Prazeres. Mas a regra ainda parece ser a São laboratórios” desconfiança em relação ao que Paulo Segadães fazer com a representação e a ima- gem. “Não existem regras quando traba- lho com os músicos”, verbaliza por sua vez Areal, “umas vezes são eles que têm uma ideia, outras não. Todos os processos são diferentes e a piada é essa. Gosto do trabalho com músi-

cos, de estar com eles e de os tentar IO B U -R compreender. Inspira-me, dá-me S E IV ideias, põe-me a pensar de outra V IC R N forma, com outros tempos.” E com a actriz Asia Argento. O ponto Nenhum deles fez um videoclip de partida era fazer um mini-filme sem que algo – não necessariamente Está imerso no cinema, na “com a Argento e o Paulo Furtado a música – os motivasse. Prazeres 1. Legendary Tigerman produção e na realização, há dez [Tigerman]” explica. “Quando estava aponta que é “necessário um estí- 2. Corrente/com Sean Riley anos. Aos 31, já realizou uma longa a montar, telefonei ao Furtado a mulo qualquer”, assumindo que 3. Corrente/com Sean Riley (“Tebas”), várias curtas, perguntar-lhe se avançávamos com já passou por experiências fra- 4. WrayGunn documentários e vídeo-arte. um primeiro plano de 50 segundos. cassadas. “Já tive dissabores, Andou pela escola das artes do Ter mais de quatro segundos já é do género desistir a meio, por- Porto, em som e imagem, e fez um crime. Mas ele riu-se e disse que sim. que não acreditava naquilo.” 1 curso de especialização em Ou seja, é necessário ter alguém do Areal explica que aquilo que realização em Nova Iorque. Foi outro lado que esteja disposto tam- a fascinou nos ingleses Sel- músico e editor no contexto da

bém a arriscar e que não deixe que fish Cunt foi o seu lado per- www.periferiafilmes.com editora Garagem. Em 2004 formou

a editora interfira no trabalho do formativo. “No segundo | uma companhia própria, Periferia realizador.” vídeo que fiz para eles Filmes (filmes de Edgar Pêra ou Paulo Furtado é unanimemente tirei-os do seu habitat, o João Canijo) e mais recentemente apontado como alguém que possui palco, para realçar preci- uma plataforma de produção, sensibilidade para o trabalho da ima- samente essa presença Bando à Parte. No meio de tanta gem. Percebe o seu alcance e parti- cénica, num outro con- actividade, ainda tem tempo para cipa no processo criativo. Há outras texto.” videoclips (Legendary Tigerman, excepções, principalmente entre as WrayGunn, d3ö, Sean Riley & The novas gerações (Sam The Kid ou Vale tudo Slowriders ou Bezegol). Um X-Wife são apontados como exem- Nas décadas de 80 e 90, a rodrigo videoclip marcante? “Sabotage” plos por Segadães e Tentúgal). “Há MTV simbolizava a estéti- dos Beastie Boys por Spike inclusive quem já componha a pen- ca videoclip, em que os Jonze. O último que o sar em imagens e tem ideias sobre o meios de produção eram areias impressionou: “Treat me like your mother” dos Dead Weather, por Jonathan Glazer. www.myspace.com/rodrigoareias |

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10 • Sexta-feira 30 Outubro 2009 • Ípsilon vídeo para a cantora folk Marissa Nadler. Seguiram-se mais dois para joana a mesma cantora e outros dois (Mazgani, Nicole Eitner). Quando tenta eleger um videoclip intemporal a memória linda transporta-a para uma praia: foi O som esteve lá desde sempre – aos aí que o fotógrafo Herb Ritts cinco anos começou a estudar realizou “Wicked game” de Chris música – mas desde que se lembra Isaak, com Helena Christensen. que também tentou experimentar Nos antípodas estão os últimos vídeo e cinema. Aos 29 anos o vídeos que a fascinaram: o sonho está a cumprir-se. Formou-se bizarro “Plaster casts of www.myspace.com/joanalinda em ciências da comunicação, mas a everything“ dos Liars, por

| fotografia tem falado mais alto, Patrick Daughters, e “I can be a embora os videoclips comecem a frog” dos Flaming Lips, com 1. Marissa Nadler ganhar espaço. Começou por acaso, realização do excêntrico Mark 2. Marissa Nadler através do MySpace, realizando um ‘The Cobra Snake’ Hunter. 3. Marissa Nadler www.vimeo.com/joanalinda

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clips não é fácil acontecer, até sabermos quem realiza a maior parte porque os realizadores são muitas dos vídeos é preciso investigar”, diz. vezes incógnitos do público. Foi isso que Linda fez com Sophie Mas há excepções, como o festival Muller, quando percebeu que havia ViMus, da Póvoa de Varzim, tentou uma série de videoclips (Sade, provar ao longo de dois anos, com Shakira, Beyoncé, Lily Allen) que uma programação dedicada a reali- partilhavam um universo seme- zadores de videoclips. “Quando se vê lhante. “A música não me interes- algo do Rui de Brito percebe-se que sava, mas os vídeos, não sendo coisas ele tem uma linguagem”, diz Sega- as coisas que faria, tinham qualquer dães, “o mesmo acontecendo com o coisa, um universo romântico, femi- Pedro Cláudio, que é alguém criativo, nino talvez, que me prendeu, e que que valoriza as ideias e que, com pou- me levou a ela.” cos meios, faz vídeos fantásticos.” Em Portugal também há uma nova Prazeres acentua o juízo de que os fornada de realizadores de videoclips fundamentais. Parecia existir um pa- realizadores continuam a ser secun- com vontade de serem descobertos. drão: montagem fragmentada e ace- “Não me importo, dários em relação à música: “Fala-se Provavelmente até já passámos os lerada, planos curtos justapostos, muito do Michel Gondry, do Chris olhos, no YouTube, no Vimeo ou no narrativa não-linear, multiplicidade por vezes, de Cunningham ou do Spike Jonze por- Facebook, pelas imagens em movi- visual e forte carga emocional nas trabalhar com pouco que alguém teve a ideia de juntar os mento de muitos deles e não o sabí- imagens. seus vídeos num DVD, mas para amos. Agora já não há desculpas. Actualmente, a existir alguma dinheiro, mas tem coisa, é uma fortíssima dispersão, um vale tudo onde ainda existe espaço de haver um mínimo para a sumptuosidade, mas onde o principal são as ideias. Agora são pla- e em Portugal Já perdeu conta aos videoclips 1. Toranja taformas da Internet, blogues, comu- que realizou, sozinho ou com o 2. Chullage nidades virtuais (pitchfork, stereo- nunca há” colectivo lisboeta Droid-id do qual 3. Blasted Mechanism gum, videos.antville, videostatic, Joana faz parte (exemplo: “National promonews) que ditam tendências Ghettographik”, de Chullage, foi audiovisuais, estreando, difundindo Areal produzido por ele mas realizado

E e propagando videoclips feitos com por Ricardo Tércio), mas foram N R I C meios escassos e, normalmente, dezenas. Tem 35 anos, começou V I V assentes em conceitos simples. em 1994 como assistente na E S - R “São um objecto artístico” reflecte produtora Latina Europa. “A U B I Tentúgal. “Dantes havia pragma- 1 minha escola de cinema”, resume. O tismo, agora é possível acrescentar Raramente diz “eu”, prefere o “nós” qualquer coisa à música, como se da Droid onde ele e mais sete actuassem num terreno de grande elementos fazem documentários,

experiência. Hoje um vídeo é como www.myspace.com/pauloprazeres filmes ou “spots” promocionais

uma tela em branco.” “Não há | com música em fundo. Agora vêm regras”, aponta Segadães, “e de tal aí cinco concertos filmados para a forma assim é que muitos videoclips RTP2 (Micro Audio Waves, funcionam como pequenos filmes. Terrakota, JP Simões, Dealema, Já não pertencem a esse território X-Wife) e documentários sobre MTV. São laboratórios.” “Aquilo que 2 Mão Morta e OqueStrada. A criei para a Marissa Nadler está mais ambição é o cinema – a primeira próximo da ideia de curta-metra- experiência, uma curta, “Frunc”, já gem ou da vídeo-arte do que de estreou. Quando fala de uma estética videoclip”, reflecte videoclips intemporais Linda. Areal corrobora mas realça lembra-se de “Thriller” de que o tratamento de um videoclip é Michael Jackson por John diferente: “O guião é a música e a Landis ou “Come to daddy” de banda. É necessário compreender Aphex Twin, por Chris

com quem e para quem estamos a www.youtube.com/user/DROIDid Cunningham. O último que lhe

falar.” | encheu as medidas: “Fuck you” Num período histórico em que os 3 de Lily Allen, concretizado pelo meios de produção são quase univer- colectivo francês Ab/Cd/Cd. salmente alcançáveis, todos podemos fazer um bom videoclip, tal como qualquer indivíduo pode tirar uma boa fotografia. Mas isso não faz dele um artista. É a consistência de um paulo percurso, e a afirmação de caracte- rísticas próprias, que terá de provar se estamos perante alguém com pos- prazeres sibilidades de afirmação. Nos video- O homem com duas “Betweeen Waves”, o novo disco de David Fonseca, é folk-pop psicadélica, c É o disco da independência de um tipo que ainda ouve à antiga e p

Para alguém tido como consensual, David Fonseca é um homem com mais contradições do que a sua persona pública, sem sombras e ponderada, aparenta. Não nos referimos a demónios in- ternos, antes a detalhes. Fonseca é conhecido pela sua nostalgia dos anos 80 e pelo seu apego àquela época em que uma carreira se jogava numa can- ção: ele é, por tudo o que já disse pu- blicamente sobre o assunto, um dos últimos românticos do single enquan- to arte. Mas por muito romantismo que te- nha em relação àqueles objectos re- dondos de vinil que se ouviam em 45 rotações, sabe que “há muita gente que não [o] conhece senão dos sin- gles”. É por esta razão, diz abertamen- te, que quando escolhe um single só tem uma regra: “Não repetir o single anterior”, para que quem só o conhe- ce da rádio não tenha a sensação de repetição em relação à sua obra. Aliás, num país em que fica mal ter sucesso, Fonseca é extraordinaria- mente honesto em relação aos singles: “Não há nenhuma razão específica para escolher esta ou aquela canção”, diz, acrescentando sem pudores que no caso de “Between Waves”, o seu mais recente disco a solo, escolheu “A cry for love” por achar que “tinha mais hipóteses de passar na rádio”. De um lado temos romantismo, do outro pragmatismo. O romantismo está lá: nos últimos anos o autor de “Sing Me Something New” tem edita- do “os singles com lados B, à antiga, em vinil, com remisturas e etc.” É uma forma de “tentar restabelecer de novo o contacto com o objecto”, não uma questão de dinheiro vivo e imediato, porque estes singles “têm venda es- cassa”. Mas é uma questão de gestão de carreira quando encarada no gran- de esquema das coisas – porque “estes singles têm grande alcance dentro da comunidade” que o segue. Disco de arranjador Aqui temos um homem com um pé no passado e outro no futuro. Tanto a nível musical como na contabilida- de da mercearia. No primeiro plano, o musical, o nostálgico Fonseca nunca soou tão

David Fonseca: de um lado temos romantismo, do outro pragmatismo

12šI[njW#\[_hWEkjkXhešÒfi_bed s cabeças , cheia de arranjos roubados à obscuridade pop. e pensa à moderna. João Bonifácio Música de agora como hoje: “Between Wa- que gravo isto em casa, às camadas”, não tem influências? A resposta que “Quando digo que Cá dentro, lá fora ves”, à excepção de quatro proto- explica, antes de confessar que o es- se segue é um clássico da persona sem Perguntamos-lhe se está no país erra- baladas, é um conjunto de canções túdio se tornou, entretanto, um que- sombras e ponderada: “Nunca se ga- sou português do. Se tivesse nascido nos EUA seria pop que disparam para todos os la- bra-cabeças: “O problema das cama- nha o direito a dizer que já não se tem uma estrela indie e não uma figura dos, cheias de ganchos, arranjos im- das é que se a primeira e a segunda influências. Eu estou sempre a ser in- [lá fora] sou bem mainstream que já não tem por onde prováveis, curvas e contra-curvas, a não estiverem perfeitas vai tudo abai- fluenciado. E o Byrne é uma pessoa crescer e ainda tem de levar com o alta velocidade. Mas olhe-se de perto xo à medida que acrescentas coisas. que tenho em alta estima – até foi um recebido. Desse ponto preconceito dos mesmos melómanos e esses arranjos – de xilofone, violino, E o problema do estúdio é que é mes- dos últimos concertos que vi. Se essa que glorificam tipos como Richard acordeão, guitarra slide – parecem ter mo tudo possível. Podes pôr um ele- influência se notasse na minha músi- de vista ser português Swift (de quem Fonseca é fã) enquan- vindo da folk espacial do final dos 60, fante a entrar numa canção.” ca era óptimo, porque ele nunca de- é uma mais valia. to desprezam o trabalho do antigo início dos 70, devidamente trazidas Diz que compor assim é viver “um sistiu da música, continua a maravi- líder dos Silence 4? para o presente após um tratamento bocado no caos”: no meio da quinqui- lhar-se com escrever uma canção”. No sentido comercial “Não estou no país errado”, come- pop. lharia sonora que vai guardando e ça por dizer. Depois atira com uma Pode dizer-se sem margem para produzindo tem de “conseguir sem- Clube de fãs é que não é fácil. ideia que faz sentido: “Se formos a erros que é disco de “arranjador”, pre perceber o que é que [quer] ou- Não seria menos que justo afirmar ver bem, o Richard Swift devia ser mais que disco de escritor de canções. vir”. É um processo de tentativa e que o homem é um conversador nato Já seria uma grande uma estrela e não é”. Ele admite que gosta “muito de fazer erro: “Quando soa bem sigo aquele e consegue sempre ser justo mesmo Se vivesse lá fora, admite, “se ca- arranjos” e que isso o “liga mais às caminho e se no dia seguinte continu- quando picado. Há nele uma cabeça alegria dar um lhar faria música diferente”. Por ou- canções”. ar a gostar, mantenho o caminho”. desempoeirada, sem mentalidade de concerto ou dois tro lado viver cá “traz outra coisas” Fonseca não é daqueles que acham Viver no caos implica não ter um merceeiro. Pode ser humilde e não para a sua música, coisas a que não que grandes canções são apenas aque- método cartesiano, uma fórmula má- ter atitudes de prima-dona (é-o e não nos mercados teria acesso se fosse americano. Dá las que se aguentam com guitarra e gica, pela que “todas as canções nas- tem), mas sabe como gerir o seu fu- ainda como exemplo as idas ao Texas, voz. “Essa ideia vem da moda dos ‘Un- cem de forma diferente. Exemplifica turo e gosta de ser senhor do seu na- internacionais” ao festival South By Southwest: plugged’”, lembra, “que diz que uma com “There’s nothing wrong with us”, riz. “Quando digo que sou português sou boa canção tem de ser tocada com que “nasceu de um riff de guitarra Assim, a edição de “Between Wa- “estabelecer uma comunidade” em bem recebido. Desse ponto de vista uma viola num vão de escadas. Mas que tinha muitas influências dos anos ves” adopta os modelos mais recentes que os fãs podem trocar experiências, ser português é uma mais valia. No as coisas não são obrigatoriamente 80, daquele rock descontraído da de distribuição. É lançado na recém- vídeos de concertos, comentar as tais sentido comercial é que não é fácil. assim” – para Fonseca cada vez mais época”. A canção foi crescendo à vol- criada “The Castle of Amazing Cats” canções não-oficiais. A ideia nasceu Já seria uma grande alegria dar um “o arranjo é parte integrante da can- ta disso, mas Fonseca decidiu que e distribuído em vários formatos: uma da própria experiência de Fonseca concerto ou dois nos mercados inter- ção”. queria “começar de forma mais orgâ- normal, com o disco, outra em vinil, enquanto fã: “Faço parte até hoje de nacionais”. Melómano atento, dá exemplos que nica”, pelo que foi repescar uma me- edição exclusiva no iTunes, etc. Mas um clube de fãs dos REM e ainda pa- Mas este tipo de abordagens e clas- corroboram a sua opinião. “Há pouco lodia de xilofone – “tinha sido a se- as jóias da coroa são dois formatos go as quotas. E recebo conteúdos ex- sificações, diz, não fazem sentido. tempo ouvi uma versão acústica do gunda parte adicionada à canção, em regime de pré-venda com bónus: clusivos de todo o tipo”. “Não acho que eu seja indie ou mains- ‘Paranoid Android’, dos Radiohead, logo a seguir ao riff”. Como era “a um com CD e um DVD, “Streets of “Uma das coisas que mais me atraiu tream”, atira. “A ideia de eu ser mains- sem os arranjos de guitarra, e não re- parte mais melódica” pô-la à frente, Lisbon Aocustic Live Sessions”, em em fazer isto”, continua, “é não ter tream parte de eu não ser elitista em sultava. O ‘Let Down’, dos Radiohead, “como chamariz, à antiga”. que Fonseca interpreta cinco canções intermediário”. O novo disco “já é lan- relação à forma como edito a minha é um exemplo de como uma canção Por alguns compassos a canção soa ao vivo e em locais incomuns; outro, çado em regime independente” e es- música. Eu tento de facto chegar ao pode transformar-se com os arranjos um pouco a Violent Femmes, mas de- chamado “Huge Fan Pack”, inclui o ta plataforma permite-lhe “lançar maior número de pessoas. Mas isso – sem o arranjo é uma ‘lullaby’. O úl- pois explode. “Eu queria que a canção CD, o DVD, um EP em vinil com três canções novas sempre que quiser, sem todos o fazem”. timo disco do Bill Callahan é outro se tornasse uma festa instrumental, versões inéditas do single “A Cry For depender da indústria musical”. E para que não restem dúvidas de exemplo: os arranjos condicionam o com sintetizadores, tudo, que no fim Love”, uma fotografia autografada e Havia outro problema que Fonseca como por cá temos muita poeira na que a canção é e condicionam a canção nem precisasse de voz. Es- numerada à mão, um poster desdo- espera erradicar: “De cada vez que cabeça em relação à ideia de chegar bem”. crevi as partes instrumentais como brável, uma t-shirt exclusiva. quisesse lançar um disco lá fora tinha ao maior número de pessoas e nos Em termos da escrita, este cuidado se estivesse a tocar ao vivo”. Pormenor importante: a compra de esperar pela resposta da casa-mãe concentramos no que não é essencial, com o arranjo implica ser “muito cri- Dizemos que lembra os Violent da caixa oferece acesso a concertos da Universal”. Por isso, como o seu dá o exemplo de St Vincent, mocinha terioso na escolha dos sons, muito Femmes da mesma forma que podía- exclusivos e intimistas e ainda forne- contrato com a Universal tinha aca- muito apreciável com apenas dois mesmo”, porque na prática, diz, as mos dizer que “Stop 4 a minute” tem ce um cartão de sócio do “Amazing bado, resolveu “fazer um novo tipo discos no currículo, sendo o segundo suas canções “são muito clássicas” e por lá escondido um riff que retorna Cats Club”. de contrato” em que tem “a hipótese bastante experimental (e louvável). “quando já se tem muitos discos edi- o fantasma dos Kinks à vida ou que O “Amazing Cats Club” é uma espé- de fazer contratos lá fora individuais”. No South By Southwest, conta Fonse- tados é essencial procurar outras for- “Morning tide” promove a ressurrei- cie de clube de fãs acabado de criar, Ou seja: se alguma editora, imagine- ca, “ela ainda não tinha nenhum dis- mas de chegar à canção que não as ção dos Buggles. Mais que tudo, a voz que terá acesso a concertos exclusi- mos, neo-zelandesa, quiser editar co editado e andava atrás do manager habituais, de chegar a algo mais que e alguns arranjos em “Walk away vos, lados B, “canções que sobram e “Between Waves” o sim ou o não são para lhe conseguir entrevistas e con- ao osso da canção”. Por isso procura when you’re winnig” e “This one’s so que não podem entrar no disco se- dados exclusivamente por Fonseca e tactos. É trabalho, apenas trabalho. “encontrar sons que dêem uma per- different” têm tiques do David Byrne guinte porque têm um som específico não por uma entidade inacessível e E não diminui o valor da música”, sonalidade à canção que não aquela pós-Talking Heads. E fazemos uma da altura em que foram feitas”. O que nebulosa que, sabe-se lá onde, coor- conclui o tipo que ainda ouve à antiga que ela tinha ao início”. pergunta minada a Fonseca: há ali es- permite a Fonseca “experimentá-las dena a Universal a nível mundial (e e pensa à moderna. Perde algum tempo a explicar co- sas influências, essas ligeiras pilhagens como um tubo de ensaio”. provavelmente nunca ouviu falar de- mo é que hoje compõe. “É preciso ver ou ele já ganhou o direito a dizer que A ideia do “Amazing Cats Club” é le). Ver crítica de discos págs. 48 e segs.

Òfi_bedšI[njW#\[_hWEkjkXheš13 Gosta de falar sobre tudo: música, li- servatórios, mas nunca perdeu de Pequenas grandes coisas da música religiosa renascentista dos teratura, religião, filosofia, séries de vista outras músicas, outras experi- Nico Muhly cresceu em Providence séculos XVII e XVIII. TV, novas tecnologias ou cozinha, on- ências, outras ferramentas. Quem o e formou-se na Universidade de Co- Há cinco anos, foi distinguido pe- de tem fama de arrasar. Só não lhe seguir, por exemplo, na rede social lumbia em música clássica e litera- la conhecida Juilliard School, onde chamem rapaz-prodígio, como a mais Twitter, sabe que a tecnologia, e as tura inglesa. Cantou no coro da igre- estudou também composição, e pe- influente imprensa americana fez questões filosóficas inerentes relacio- ja, começou a aprender piano aos 11 ças suas foram tocadas por orques- quando começou a dar nas vistas há nadas com os direitos de autor e a anos e desde sempre revelou um tras respeitadas como a American três anos. Aí o seu humor pode trans- propriedade intelectual o apaixo- grande fascínio por música sacra. Em Symphony Orchestra ou a Chicago figurar-se. “Irrita-me um pouco esse nam. concreto, sobre a função emocional Symphony quando tinha pouco mais tipo de nomeações. Não sou nenhum “A propriedade intelectual é o meu dessa música. “Há uma espécie de de 20 anos. No ano passado foi re- ser bizarro. Sou músico, nada tópico favorito”, conta. “Não tenho ‘narrativa escondida’ na música sa- compensado com uma noite dedica- mais.” uma posição definida sobre o assunto cra que me agrada, como se as emo- da às suas composições no Carnegie Nico Muhly, 27 anos, americano – mas é infinitamente fascinante. As ções estivessem profundamente Hall de Nova Iorque. ele gosta mais que lhe chamem nova- ideias na música são como na comida. ocultas na textura do som”, afirma, Aos 18 já tinha começado a traba- iorquino, o que faz alguma diferença Um prato londrino que aparece num tentando explicar o encantamento lhar regularmente com Philip Glass, –, faz parte de uma nova geração de menu em Minneapolis deve ser enca- compositores que se move com à von- rado com roubo ou homenagem? É Música tade entre a música clássica contem- um assunto muito, muito interessan- porânea e a cultura pop, capaz de te.” compor para ópera, dança clássica A visão transversal que revela, em ou cinema como de criar álbuns que relação à música mas não só, é facili- desafiam classificações - caso do ex- tada pelo facto de pertencer a uma celente “Mothertongue” - ou de en- geração que cresceu com ferramentas cetar colaborações com figuras como como o Google, o MySpace ou o You- Philip Glass, Antony ou Björk. Tube, que permitem a interactividade Nico Muhly Na próxima quinta-feira, no Teatro entre universos. Mas Muhly não tem sabe de onde Maria Matos, Lisboa, estará pela pri- uma visão sagrada da tecnologia. “Uti- vem - “O meu meira vez em Portugal, para um es- lizo imenso o computador, como ins- universo é o pectáculo com três músicos - “um trumento e ferramenta. Gosto de es- da música grupo de amigos” que, em conjunto, crever peças musicais – concertos clássica” - mas partilham uma editora, a Bedroom para violino, por exemplo – no com- não sabe Community, onde lançam os seus dis- putador, embora não tenham nada a exactamente cos. ver com tecnologia. Dito isto, não sei para onde vai Nico ocupar-se-á do piano e dos até que ponto a tecnologia afecta o quando teclados, Sam Amidon do banjo, da meu trabalho. Sei apenas que está lá. começa a guitarra e da voz, Ben Frost e Valgeir Mas tenho de dizer que um dos gran- compor: “O Sigurõsson das electrónicas. A “Wha- des prazeres da vida é ver Internet processo le Watching Tour”, assim se chama a numa cama de hotel: é nesses mo- envolve fazer coisa, nasceu na Islândia natal de Val- mentos que 99% das minhas ideias milhões de geir Sigurõsson (produtor de Björk, nascem”, admite. rascunhos, CocoRosie ou Múm), e são cerca de enviá-los para duas horas de celebração colectiva o lixo, e que passa pela folk americana, pela refazer, música de câmara e pela electróni- refazer e ca. refazer” Para Portugal, Muhly promete uma atmosfera “intensa e divertida”, ex- plicando que “gosta de viajar e de tocar ao vivo”, embora as digressões lhe usurpem o precioso tempo: “É assustador porque não componho de forma tão rápida como os músicos rock”, comenta. “Utilizo imenso Da música clássica o computador, para o mundo como instrumento Quando se fala dele, a divisão entre os universos da música clássica e da e ferramenta. Dito pop é recorrente. Mas Nico Muhly não tem dúvidas acerca do lugar a que isto, não sei até que pertence: “Venho de uma tradição clássica tanto como você é de Portu- ponto a tecnologia gal. Não interessa onde vive em de- afecta o meu terminado momento porque essa identidade permanecerá e será trans- trabalho. Sei apenas portada consigo. Pela mesma razão, o meu universo é o da música clássi- que está lá. Mas tenho ca.” É verdade, embora os seus dois ál- de dizer que um dos buns (“Speaks Volumes”, de 2007, e “Mothertongue”, de 2008) não sejam grandes prazeres da conclusivos nesse ponto. São discos vida é ver Internet que espelham aprendizagem clássica, mas que abrem portas a outras pale- numa cama de hotel: tas sonoras, pop, folk, electrónicas. Pelo meio existem arranjos para cor- é nesses momentos das dissonantes ou sons concretos de alguém a tomar banho, a comer tor- que 99% das minhas radas ou a fritar ovos. Certo, fez o trajecto tradicional por colégios e con- ideias nascem”

Compõe óperas, há orquestras que interpretam as suas peças, Antony e Björk b a solo e andar em digressão com um grupo de amigos que se junta quinta-feira, no M Por favor, não lhe chamem rapa

14šI[njW#\[_hWEkjkXhešÒfi_bed nos filmes e discos deste, e nos últi- Björk têm o seu dedo e colaborou nos dizer qualquer coisa de interessante, mos anos encetou inúmeras coope- últimos tempos com Bonnie Prince fico a pensar naquilo durante dias. Por rações. Antony cantou no seu primei- Billy, Rufus Wainwright, Sufjan Ste- norma é assim que chego à estrutura ro álbum e ele fez os arranjos do últi- vens, Grizzly Bear ou Owen Palett da música. Outras vezes, vejo pessoas       mo longa-duração deste, “I Am A Bird (Final Fantasy). a fazer qualquer coisa – um pequeno     Now”. Os arranjos dos três últi- Quando compõe, a última coisa em gesto, como cozinhar, por exemplo, e       mos álbuns de que pensa é nas notas que os músicos isso evoca-me a forma como toco pia-    irão tocar. Começa com fragmentos no. O processo normalmente envolve de memórias, livros, docu- fazer milhões de rascunhos, enviá-los $)* mentos, manuscritos ou para o lixo, escrever milhões de notas, simples vídeos do YouTube. e enviá-las para o lixo, e refazer, refa- “O processo começa normal- zer e refazer.” mente com um simples gesto Mas também existem influências ou com linguagem”, explica. musicais naquilo que faz, principal- “Por exemplo, se ouvir alguém mente da escola minimalista perso- nificada por Philip Glass ou Steve Rei- ch. Em simultâneo partilha algumas afinidades com figuras contemporâ- neas, não alinhadas em nenhuma ti- pologia em particular, dos The Books aos Matmos, passando por Final Fan- tasy ou Herbert, mas quando lhe pe- dimos que nos diga o que o excita hoje em dia a resposta é outra coisa: “A Islândia excita-me. A cantora fran- cesa Camille excita-me. As reedições de Chet Baker excitam-me. Pizza com

queijo e figos excita-me. Um amigo WWW.TEATROSAOLUIZ.PT que ensina matemática em Brooklyn excita-me. Não é difícil ficar excita- do!”. Nova Iorque, Nova Iorque Outra das excitações, e uma das gran-  des influências na sua música segun- do o próprio, é a sua cidade. “Amo &)

Nova Iorque mais do que qualquer   outra coisa”, diz sem hesitar. “Posso () ter estado fora, sei lá, um ano, mas, mesmo assim, quando aterro sinto- # " me emocionalmente envolvido. Uma # "!*+! !   vez, depois de ter estado três meses +!    %  em Londres, aterrei no aeroporto JFK !       " e comecei a chorar. A energia de No- va Iorque é incomparável. É a única #$%' ( % %. cidade onde se pode realmente comer 0#('(' ) / $$%' tarde, por exemplo. Paris e Londres são óptimas para se estar alguns me- ses, mas, no fim de contas, não se pode comer sushi às três da manhã. /!#" $! ! Que cidades são essas!? Nova Iorque  #"  tem o estilo de vida de que um artista       !$"!*+! #"!$"+! necessita e o resto são histórias.”   #!"%#  + !. "!!  #-,!"0  ! "  O resto é com alguém que não pro-  #    #-," #!# "!! cura mudar perspectivas, seja da mú-   !"-,!" #" %  / $' sica erudita ou da pop. Mas que pro- cura absorver o máximo de possibili- dades à sua volta, criando uma $ . !(   música repleta de desvios, algures entre Ligeti e Björk, Brahms e Mere- dith Monk. Agora encontra-se a com- por um novo álbum de originais e uma ópera. Tudo isto apesar de dizer que não tem tempo, enquanto anda   em digressão.  É um hiperactivo: um músico que    se entusiasma e que, ao mesmo tem-   po, reflecte sobre as contradições do  nosso tempo. Época de excessos, de  informação em catadupa, de inúme-  ros significados desencontrados e de   muita música. Talvez demasiada mú-  sica. “Todos os dias recebo cerca de 20 mp3 e já quase não compro CD”,   contabiliza. Por momentos, parece  surpreender-se com as suas próprias palavras. -" $#!%" Ver agenda de concertos na pág. 45 e $ * 0  segs.   

k bajulam-no e ainda tem tempo para criar álbuns ,!  '' / o Maria Matos. Ninguém pára Nico Muhly. Vítor Belanciano       (&     + $ .     

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         '$(1$#''    ( !('((' %( '((' %( ( !(.)$$("($ paz-prodígio $!(

Òfi_bedšI[njW#\[_hWEkjkXheš15 O novo disco tem mais coladeras que mornas? “Calhou ser assim.” E o estilo de cantar? “Continua o mesmo”. E o disco? “Tem o mesmo significado que os outros”. O que parece desconcertante, no seu discurso, é só uma forma de atalhar o que não lhe interessa: divagar sobre demasiadas explicações

É verdade que Cesária perdeu peso. tem agora novo título para mostrar das explicações. Mas o brilho no olhar “Ele conhece bem esse tempo, tocou Mas no corpo, não na música. O físico ao mundo. Chama-se “Nha Sentimen- e a voz ultrapassam-na. “O meu modo muito com pessoas dessa época... (“E quis pregar-lhe uma partida mas ela to” e começou a chegar às lojas na de cantar é assim, com muito senti- tocou muito comigo”, diz Cesária pe- não deixou: o AVC que a tolheu a 4 de passada segunda-feira, ao mesmo mento. É assim com todo o cabo-ver- lo meio) É uma forma não só de dar Março de 2008, estava ela em digres- tempo que a agenda de Cesária ano- diano.” Aos 68 anos (nasceu em São a conhecer aos jovens o que se fazia são pela Austrália, é já um ponto lon- tava mais concertos: depois de Buca- Vicente a 27 de Agosto de 1941), con- antes, mas também de dar valor aos gínquo na sua vida. “Eu já não estou reste, Sofia, Zagreb e Belgrado no tinua apegada a um modo de cantar músicos desse tempo.” mais doente”, diz com um largo sor- início de Outubro, espera-a o emble- ligado à tradição. Diz que não grava Voltando a Manuel d’Novas, talvez riso, sem largar o cigarro. E, talvez mático Le Grand Rex de Paris a 9 e 10 compositores mais jovens porque eles o maior compositores de mornas de- para o tornar ainda mais inofensivo, de Novembro, mês em que cantará “não apresentam músicas ao estilo” pois de B.Leza, Cesária recorda: trata o acidente vascular cerebral co- ainda na Suíça, no Luxemburgo, em dela. Mas ouve “muitos” dos novos: “Conheci-o ainda jovem, fizemos mo “picada no braço”. Israel, na Polónia e na Lituânia. AVC, “Fantcha, Maria Alice, Lura, gosto muitas noitadas, ele com o violão a A verdade é que, logo depois dessa Cesária? Não, foi mesmo uma picada muito. E há outros.” tocar e eu a cantar, mas depois emi- paragem forçada em Março de 2008, no braço. Na música que ela própria grava, grou. Vim a cantar as músicas do Ma- ela voltou aos palcos um mês depois Ela brinca com a vida como parece tirando isso, lá vai consentindo umas nuel depois de ele regressar à terra, e, embora tenha abrandado o ritmo fazer com a música. Embora a leve inovações que José da Silva, o seu as antigas e as que ele compôs de- (“Fizemos um acordo, o meu produ- muito a sério. O novo disco tem mais eterno editor e produtor da Lusáfrica, pois.” E cantaria mais: “Nas filma- tor e eu, para diminuir o número de coladeras (10) que mornas (4)? “Ca- lhe propõe. Desta vez foram cordas gens que fizemos em casa dele, em concertos”, garante), não parou de lhou ser assim.” E o estilo de cantar? arabizantes gravadas no Egipto (a Agosto, disse que tinha muitas músi- cantar. No ano passado rodou “Roga- “Continua o mesmo”. E o disco? “Tem Grande Orquestra do Cairo, dirigida cas para eu cantar. Mas como Deus mar” por vários países e este ano, o mesmo significado que os outros”. por Fathy Salama) e o acordeão de o tomou, vou ver agora com o filho depois do lançamento do disco “Rá- O que parece desconcertante, por Henry Ortiz gravado em Bogotá, Co- se tem algumas gravações.” dio Mindelo” (que reúne as suas pri- demasiado simples, no seu discurso, lômbia. Acrescentados, um e outro, Nando Andrade, sobrinho de Ma- meiras gravações, ainda nos anos 60 é só uma forma de atalhar o que não às gravações feitas no Mindelo e de- nuel d’Novas, diz que o tio deixou e antes de conhecer a ribalta da fama), lhe interessa: divagar sobre demasia- pois misturadas em Paris e Nova Ior- “um legado muito grande”: “Ele fazia que. Cesária ouviu-os antes das mis- música com tudo, não parava de com- turas e aceitou bem, um e outro. As por. Mesmo se ia à barbearia cortar o cordas: “Nós temos muitas coisas em cabelo e alguma coisa lhe chamava a comum com os árabes”. O acordeão: atenção, escrevia logo uma música.” No tempo das “Com certeza que gostei”. E de entre os mais novos, sairá alguém assim? “Temos poucos. A maioria faz E depois stop! mais música pop. Mas temos o Cons- Mas quando lhe perguntam que mú- tantino Cardoso, já na casa dos 40. sica elegeria do novo disco, responde Ou o Jorge Humberto.” sem hesitar: “Verde Cabo di nhas od- E Cesária? “Canto mais um tempo jos”. É uma coladera com letra de e depois stop!” E escrever? “Aconte- Luis Pastor, músico espanhol. Nando ceu uma vez, por acaso. Tinha em- coladeras Andrade, que no disco assegura pia- prestado o meu carro a uma pessoa no, percussões e também direcção amiga e essa pessoa não o devolveu a musical em todas as faixas, explica: horas. E eu fiquei para ali cheia de A dona morna deu-se à coladera depois de “Ele é um grande fã da Cesária e há raiva a maldizer a sorte. Estava lá um muito tempo que queria compor uma amigo, o Arturo Silva, que foi escre- trocar as voltas à sorte. O AVC que teve em coisa para ela.” A música foi escrita vendo os meus desabafos. Então, de parceria com Teófilo Chantre, um quando fiquei mais calma perguntou- 2008 não a amedrontou e Cesária anda pelos dos compositores mais presentes no me se não queria fazer uma música disco, a par com Manuel d’Novas, daquilo. E eu respondi: ‘agora mes- palcos com “Nha Sentimento”. Nuno Pacheco falecido em Setembro ppassado. Têm mo’. Tirámos algumas coisas feias e seisseis temas cada,cada, num totaltotal de 14. então ficou uma canção assinada pe- OOss outros são ddaa autoria dda pia- los dois, Cesária e Arturo Silva, que nnistaista Tututa, queque fez 9900 anos depois teve música de Manuel eemm Janeiro, e de Betu, ccomo 48 d’Novas.” A canção, que depois en- aanos.nos. trou no disco “São Vicente di Longe” O som do disco, aapesar (2001), chama-se “Ponta de Fi”, que dasdas inovações, é cclássico:láá é o nome do bar onde Cesária pensa- “Quisemos“Quisemos ddarar mais realce va que se tinha ido meter o amigo que ao lladoado antiantigo”,go”, ddiziz NNando. a fez esperar e desesperar. Espera-a o emblemático Le Grand Rex de Parisaris a 9 e 10 de TeyTey Santos, percussionpercussionistai de Alguma coisa, para lá de cantar ou Novembro, mês em que cantará na Suíça, no Luxemburgo,xeemburgo, eemm 54 anos foi, por ississo,o uma escrever? “Fazer uma casa no campo.

Israel, na Polónia e naa LituâniLituâniaa escolhaescolha premeditada.premed E morrer lá”. Música

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Aprendamos a dançar

Música Megafone Tudo começou com um vinil de Giacometti. Por causa dele, João Aguardela criou o Megafone: quatro álbuns em que procurou levar até às últimas consequências a sua obsessão com a música tradicional. Aguardela morreu em Janeiro, a associação Megafone 5 perpetua a obra. Dia 4, há festa de homenagem no Centro Cultural de Belém. Mário Lopes ALEXANDRE NOBRE

18šI[njW#\[_hWEkjkXhešÒfi_bed musical” (Prémio Megafone Missão). mo [o artista vanguardista] Ernesto É precisamente aí que encontra- Os prémios serão apresentados na Sousa, quando em 1969 traz a primei- mos os Gaiteiros de Lisboa, é preci- próxima quarta-feira, 4 de Novembro, ra exposição da [artesã] Rosa Rama- samente aí que, apesar de tudo o que no Centro Cultural de Belém. Dia de lho, de Barcelos, a Lisboa e a põe nu- os separa, está o Megafone: “O facto festa. A partir das 21h, sobem ao pal- ma galeria com o Julião Sarmento ou de termos abordagens diferentes so- co do Grande Auditório A Naifa, Gai- o Fernando Calhau”. bre a mesma coisa não é suficiente teiros de Lisboa, Dead Combo e Em 1997, quando foi editado o pri- para que haja divergência no nosso O’queStrada. A homenagem, neste meiro Megafone, ninguém estava pre- trabalho”, conclui. caso, é tê-los juntos num concerto: “É parado para aquilo: projecções vídeo “O Megafone é um dos irmãos de um grupo de pessoas que o João gos- de pastores e trabalhadores no cam- uma família maior, a música tradicio- taria de ver reunidas numa noite”, po, os ritmos a atirarem-se sobre as nal mutante”. É assim que António diz-nos Sandra Baptista, companhei- melodias e o público, embasbacado, Pires, jornalista e crítico musical, au- ra de Aguardela, acordeonista dos sem saber como reagir. Sandra diz- tor do blogue “Raízes e Antenas”, Sitiados. “Não sabemos o que fará ca- nos que nos concertos, em Portugal, enquadra a obra do Megafone. Faz da uma das bandas”, acrescenta Luís nem por uma vez o público dançou. parte de uma família de criadores a Varatojo. “Nada foi imposto. Acha- Olhava-se em volta à procura de um que pertencem, por exemplo, a Ban- mos, e o João também achava, que sinal - “Como se dança Megafone?”, da do Casaco que, nos anos 1980, gra- aquilo que fazem já é Megafone”. pergunta retoricamente Sandra Bap- vou com a pastora beirã Ti Chitas, ou “Música para uma nova tradição”, tista. “Era preciso aprender ou inven- os Sétima Legião, que, em “Sexto Sen- diria ele – mote perfeito, portanto, tar”, responde Luís Varatojo. tido”, fundiram tradição com electró- para aquilo que evoca o concerto, pa- nicas. Tudo gente que, como recorda ra aquilo que se ouve na música des- Música tradicional mutante António Pires, seguiu a preceito um te Megafone que urge (re)descobrir. Em conversa com o Ípsilon, Carlos aforismo de Gustav Mahler: “A tradi- Guerreiro, dos Gaiteiros de Lisboa, ção é a transmissão do fogo e não a “Sentia-se ridículo não demora muito a sentenciar: “Pa- adoração das cinzas”. No caso de Me- a tocar um blues” rece-me que o povo português não é gafone, vê-se ali “um trabalho de des- Tudo começou com um disco de vinil grande dançarino”. Culpa o “proces- construção iconoclasta, mas isso só de Michel Giacometti comprado na so de folclorização iniciado nos anos acontece quando se ama profunda- Feira da Ladra: “Alentejo: Música Ins- 1930, em que tudo foi reduzido aos mente a música tradicional”. Caso Ele cantava coisas como “o meu bair- Aguardela trumental e Vocal”. O interesse de ranchos folclóricos, e a música come- contrário, acentua, “faria essa ‘des- ro é festivo / o meu bairro é alegre / morreu em João Aguardela pela música tradicio- çou a ser feita de forma parada e cris- construção’, por exemplo, com os o meu bairro é Portugal”. Lembram- Janeiro, sem nal não começou ali, mas foi ali, dirí- talizada”. Ou seja, mesmo existindo Einstürzende Neubauten e canções se certamente. Os anos 1990 ali no ter podido amos, que nela se embrenhou defini- muito que dançar na música tradicio- de pigmeus africanos”. início e João Aguardela, nos Sitiados, levar o tivamente. “Quando entrou no mun- nal portuguesa, roubaram-nos a “es- João Aguardela, ele que se sentia a atirar fados e música popular rock Megafone ao do tradicional, mergulhou pontaneidade”: “É sempre preciso ridículo a tocar um blues, nunca o dentro, a pôr o pessoal a exercitar o quinto e completamente numa portugalidade alguém que ensine, não há o chegar faria. “Quando toco o Megafone ao mosh com canções sobre marinhei- último álbum, com que até então não tinha tido con- e dançar, como não há o chegar e to- vivo, sinto-me um pouco como aque- ros, a comentar a actualidade social mas a luta tacto”, recorda Sandra Baptista. “Tor- car”. Mais. Entre a “folclorização”, les artesãos que trabalham à frente com letra que parecia retirada do can- continua nou-se quase um vício”, continua: aquilo que Guerreiro classifica como do público nas feiras de artesanato”. cioneiro popular: “Na cabana do pai agora com a “Ficou viciado em ouvir e em perce- “a subjugação da tradição a uma ideia Moldada a matéria perante os nossos Tomás / toda a moça prendada / ain- associação ber como transportar aquilo que ou- de poder” – Estado Novo, pois claro olhos, resta-nos dar o próximo passo. da que casada / rebolava naqueles Megafone 5 via para os dias de hoje”. Luís Vara- -, e um oposto que o confrontou, “o A obra está aí, disponível para ser fru- sofás” – e eis como o badalado caso tojo vai mais fundo: “Descobria ali a lado Giacometti”, “mas que também ída e para inspirar novos futuros. É Taveira se transformava em folhetim sua música. E isso, descobrires a tua criou os seus ícones e as suas falsida- tempo de a aproveitar. Tempo de dan- rural de escândalos e coscuvilhices. forma de expressão na arte, é raro e des”, sobra uma zona difusa, que é çar Megafone. Nos Sitiados primeiro, depois na impagável. Sentia-se ridículo se tives- onde tudo se renova, que é onde não Linha da Frente, o projecto em que, se de tocar um blues; ali não, porque há espaço para diabolizar ou sacrali- Ver agenda de concertos na pág. 45 e com Luís Varatojo, reuniu músicos e sentia que ‘era’ aquilo”. zar. segs. cantores para dar novo enquadramen- “[João Aguardela] Retrospectivamente, o que ouvi- to a poetas portugueses, e depois ain- mos nestes quatro Megafone? Um da, prosseguindo com Varatojo, n’A descobria ali [na trabalho em constante evolução, em Naifa, onde o fado se reveste de sons música tradicional] que as formas mais agrestes da house e de versos de agora, João Aguardela e do jungle começam a ganhar calor sempre procurou isto: o português a sua música. E isso, orgânico e outras expressões, em que que existe na música portuguesa, um as vozes das recolhas passam a con- ponto de contacto entre o que existe descobrires a tua viver com a voz de Aguardela, que hoje e aquilo que somos há, pelo me- escolhia para si as letras que, como nos, uns bons pares de séculos. forma de expressão explicava ao PÚBLICO em 1999, que- Nos Sitiados, nos Linha da Frente brassem “uma ideia formada sobre o e n’A Naifa fê-lo de forma bastante na arte, é raro e que é cantado na música tradicional, visível – erguido a estrela pop nos pri- impagável. Sentia-se com temas muito limpinhos e arran- meiros, destacado “ideólogo”, com- jadinhos”: “Há textos em que me sin- positor e letrista nos últimos. Entre ridículo se tivesse de to mais próximo do universo dos Mão uns e outros, contudo, existe uma Morta do que propriamente da tradi- outra coisa. Pessoal e definitivamen- tocar um blues; ali ção”, confessava então. Este ponto é te transmissível. Um espaço mais ín- essencial: quebrar ideias feitas, re- timo, um veículo onde levou “até às não, porque sentia construir, descobrir novos sentidos. últimas consequências” a sua obses- Tudo resumido nisto que, também são com a música tradicional. Cha- que ‘era’ aquilo” em 1999, declarou ao “Jornal de No- mou-lhe Megafone: quatro álbuns, Luís Varatojo tícias”: “Estes discos podem ser vistos editados entre 1997 e 2006, em que como folclore, pois a alternativa a eles as recolhas de Michel Giacometti e é não fazer nada. Se tivermos uma José Alberto Sardinha se cobriam de atitude demasiado respeitosa arrisca- ritmos house ou drum’n’bass, se mo-nos a não ir longe. E isso não é adaptavam a teclados fervilhantes e solução para mim”. dançavam entre acordeões e vibrafo- “Intuitivo”, “curioso”, metódico na nes. Neles, Aguardela desmistificou pesquisa e célere na concretização uma visão folclórica da tradição e, das ideias, via a música de Megafone, com carinho iconoclasta, retirou-a da aponta Sandra Baptista, “como um sua veneranda clausura. momento fotográfico” – “sem receio Aguardela dizia que o trajecto de de ficar mal na fotografia ou com a Megafone se completaria com o quin- fotografia distorcida”. to álbum. Tinha um em falta quando Tiago Pereira, realizador de “Tra- morreu, aos 39 anos, a 18 de Janeiro dição Oral Contemporânea”, videas- de 2009. Mas haverá um Megafone 5. ta que se dedica a explorar pontes Ou melhor, já existe um Megafone 5. entre tradição e modernidade - como É um site (www.aguardela.com) de no espectáculo multimédia “Mandrá- homenagem a João Aguardela, com gora”, onde mezinhas e cantares tra- material biográfico e recolhas de im- dicionais encontravam eco na música prensa, em que estão disponíveis pa- de Tó Trips ou Tiago Guillul -, destaca ra download gratuito os quatro álbuns que o trabalho de Aguardela em Me- do projecto. É, também, a força motriz gafone era mais profundo do que a dos Prémios Megafone que, com o própria música: “O que ele fazia era apoio da Sociedade Portuguesa de passar um pensamento, mais do que Autores, distinguirão anualmente um um mero espectáculo musical”. Para músico ou uma banda (Prémio Mega- além da música, portanto: “Quando fone Música) e uma “entidade não ele faz Megafone surpreende, tal co-

Òfi_bedšI[njW#\[_hWEkjkXheš19 Um dos grandes expoentes do mini- em colaboração com Beryl Korot, mas malismo musical, Steve Reich sempre actualmente a sua produção centra-se cativou público de vários quadrantes: em criações estritamente instrumen- do pop rock à música erudita, passan- tais ou na exploração do texto e da do pelo jazz e pelas músicas do mun- voz. Da sua produção recente salien- “O minimalismo do. Na sua linguagem não encontra- ta o Duplo Sexteto (prémio Pulitzer mos apenas expressões da música em 2009) e “2x5”, para banda rock, clássica ocidental, mas também es- estreada em Manchester em Julho de foi a corrente truturas, harmonias e ritmos da mú- 2009 no mesmo concerto em que ac- sica africana e das culturas orientais tuaram os Kraftwerk, a banda alemã ou influências do jazz. Não admira, criada que levou a electrónica ao pois, que estas referências encontrem grande público. eco em ouvintes muito diversificados mais importante e que a vanguarda musical mais radi- Música é música cal dos anos 60 e 70 do século XX o A transversalidade entre a cultura tenha olhado com reservas. Mas a ati- musical popular e erudita sempre foi tude é mútua. O compositor america- natural para Reich, que gosta de lem- dos últimos 50 anos” no, 73 anos, também olha de soslaio brar o carácter intemporal desta re- essa vanguarda e os seus herdeiros. lação. “Se voltarmos atrás na história Para Reich o caminho aberto por verificamos que quase todos os gran- Para Steve Reich, Schoenberg estava errado, Schoenberg foi “um erro” e Boulez é des compositores clássicos usaram um compositor que ocupa um lugar fontes populares. Na Idade Média e Boulez é um compositor de elites e a cultura restrito na vida musical actual. no Renascimento, compositores co- A propósito do concerto em Lisboa mo Dufay e Josquin Desprez recorre- popular sempre influenciou os grandes compositores dedicado à sua produção (dia 1, no ram à melodia de ‘L’homme armé’, CCB), Reich falou ao Ípsilon por tele- uma canção muito popular na época, desde a Idade Média. Ideias fortes a propósito do fone das suas referências e do seu como a base para a composição de ecletismo estético, defendendo a sua missas”, explica. “No barroco, Bach concerto em Lisboa dedicado à obra do compositor posição através de um olhar próprio e tantos outros inspiraram-se em for- sobre o passado. Integrado no Festival mas de dança [gavotte, sarabande, americano. Cristina Fernandes Temps d’Images, o concerto revisita giga, etc.], Beethoven usou melodias algumas das mais importantes obras populares na Sexta Sinfonia [canta] e de Reich compostas entre os finais da Stravinsky recorreu a materiais da década de 1960 e os anos 80 e tem música folclórica russa na Sagração, como intérpretes o agrupamento em Petrouska ou o Pássaro de Fogo. Bang on a Can All Stars, conjunto hí- Ele negou mas estava a mentir!”, ex- brido, a meio caminho entre o ensem- clama por entre uma gargalhada. “É ble de câmara e a banda rock, funda- impossível separar a vertente erudita do em 1987 pelos compositores Mi- de Bartók da música dos camponeses chael Gordon, David Lang e Julia húngaros e veja-se o caso Kurt Weill Wolfe. e da música de cabaret ou a relação Para Steve Reich, o “Sexteto” de Aaron Copland com o jazz”, refere. (1984), para percussões e teclados, é “A influência da cultura popular é co- a peça principal de um programa que mum a quase todos os músicos desde inclui páginas tão famosas como a Idade Média. Um dos que não fez “Electric Counterpoint”, para guitar- essa escolha foi Schoenberg mas es- ra elécrica e fita magnética (dedicada tava errado! Todos sabemos que a ao guitarrista de jazz Pat Metheney), música popular não é música clássica. “Clapping Music” (1971) e “Music for Usa instrumentos e técnicas diferen- Pieces of Wood” (1973). Destaca ainda tes e nem costuma usar notação, mas “Piano Phase/Vídeo Phase, uma obra tal como Alban Berg disse uma vez a especial cuja primeira versão, para Gershwin: ‘Música é música!’” Subli- dois pianos, remonta a 1967. “Agora nha que as várias músicas fazem par- é apresentada com uma parte de ví- te do nosso mundo e podem aprender deo feita pelo percussionista David umas com as outras. “Muitos DJs ho- Cossin. Ele não toca piano mas usa je e pessoas da Dance Music vão bus- um vídeo pré-gravado onde executa car coisas à minha obra, às peças dos uma das partes da peça num instru- anos 60 e 70. Quer dizer que apren- mento de percussão midi, com o qual dem como ela da mesma forma que interage em palco.” eu aprendo a ouvir Miles Davis e John Reich explorou a relação com o ví- Coltrane.” deo em várias obras, incluindo as Schoenberg foi um erro?, pergun- óperas “The Cave” e “Three Tales”, tamos com perplexidade. “Schoen- berg era um grande compositor mas “Muitos DJs e pessoas foi cego para uma parte da música. É certo que também teve influências da da Dance Music música de cabaret, como se vê no ‘Pierrot Lunaire’, mas algo aconteceu vão buscar coisas depois. Se calhar não gostou do su- cesso de Kurt Weill, quem sabe?” Ri- à minha obra, às se. “Mas o pior é que os seus seguido- res tornaram esse erro ainda maior”. peças dos anos 60 e Refere-se ao serialismo integral do 70. Aprendem como pós-guerra, praticado por figuras co- mo Boulez e por compositores ligados ela da mesma forma à escola de Darmstadt. “Boulez é um grande compositor e a sua música tem que eu aprendo um lugar, mas é um lugar restrito. Não é algo que as pessoas toquem e ouçam a ouvir Miles Davis regularmente. De quem é a música que mais se toca hoje? Creio que o e John Coltrane” maior compositor europeu vivo é Ar- vo Pärt. Também admiro muito Hen- ryk Górecki e Giya Kanchelli e há as- pectos do minimalismo na obra de Louis Andriessen, sobretudo nas pri- meiras peças. Depois temos John Ta- verner e Michael Nyman na Inglater- ra e John Adams é hoje mais interpre- tado do que qualquer outro compositor vivo. No caso dos ameri- canos temos ainda Philip Glass, eu próprio, Terry Reily..., todos muito presentes na vida musical. Por isso digo que o minimalismo foi a corren- Os Bang on a Can All Stars, conjunto a meio caminho entre o ensemble de câmara te mais importante dos últimos 50 e a banda rock, revisitam importantes obras de Reich compostas entre os anos 1960 e os anos 80

Música anos.”

20šI[njW#\[_hWEkjkXhešÒfi_bed “trago fado nos sentidos”        

   

               

– uma iniciativa Sunbridge

         !             Quando percorremos a extensa dis- radas como o disco “O Primeiro Can- memorações do ano Handel, nascido “Cantar Haendel “Cantar Haendel é um privilégio cografia da música barroca dos últi- to”, de Dulce Pontes. O próximo há 250 anos. As peças instrumentais absoluto, é como receber uma lição mos anos e os programas ao vivo dos registo da cantora, em colaboração seleccionadas (a Abertura e o Concer- é um privilégio de vocalidade directamente do Mes- mais importantes agrupamentos es- com o Ensemble Zefiro, será dedicado to Grosso “Alexander’s Feast” e o Con- tre”, disse a soprano ao Ípsilon. “Ha- pecializados nas práticas de interpre- à música de Haendel, o mesmo com- certo Grosso op. 3, nº2) foram aqui absoluto, é como endel conhecia as potencialidades da tação históricas, há vários nomes de positor que vai interpretar amanhã associadas às várias reposições da ode voz como ninguém e escrevia para os solistas que se tornam recorrentes. no Centro Cultural de Belém, com a que se seguiram ao grande sucesso receber uma lição cantores à sua disposição de modo a Um deles é o da soprano Gemma Ber- orquestra Divino Sospiro, sob a direc- da estreia em 1736. A ideia do poder fazer brilhar as suas qualidades”, ex- tagnolli, presente numa grande parte ção de Enrico Onofri. da música está também subjacente às de vocalidade plica. “O uso do ‘legato’ expressivo, dos CD que integram a obra comple- “O Poder da Música”, subtítulo da extraordinárias páginas vocais que directamente o grande virtuosismo, a contínua e ta de Vivaldi, que está a ser editada ode “Alexander’s Feast” (baseada Gemma Bertagnolli irá cantar e que coerente relação entre o texto e a mú- pela Naïve, mas também em grava- num texto escrito por John Dryden incluem o motete “Silete Venti”, a ária do Mestre” sica são alguns dos meios que coloca ções de repertório mais tardio (como em 1697 para celebrar o dia de Santa “Sei cara, sei bella”, da cantata “Ce- à nossa disposição para conquistar o “La Sonnambula”, de Bellini, no ál- Cecília, padroeira dos músicos) foi a cilia, volgi un sguardo”, HWV 89, e a público. É maravilhoso como tudo bum protagonizado por Cecilia Bar- designação escolhida para o progra- cantata profana “Tu fedel, Tu costan- isto é actual.” toli) ou em colaborações mais inespe- ma especial de encerramento das co- te”. Afinidades electivas Para Gemma Bertagnolli é difícil es- tabelecer prioridades acerca do que é preciso para interpretar este reper- tório. Prefere antes falar do “imenso prazer” que lhe dá constatar como os diferentes aspectos convergem na execução. “Procuro aderir completa- mente ao texto musical e há sempre um certo ponto onde se atinge uma sintonia.” A maior parte das árias bar- rocas obedece a um modelo triparti- do conhecido como forma “da capo”, em que a repetição da secção inicial deve ser ornamentada pelo solista. Hoje são poucos os cantores que ar- riscam improvisar em palco como sucedia no século XVIII, mas a sopra- no italiana tem vindo a apurar essa capacidade. “Em parte escrevo as va- riações sobre o ‘da capo’ e em parte improviso. É uma espécie de jogo en- tre o executante e a execução, um diálogo em que continuamente se procuram as ‘palavras’ mais eficazes para exprimir um pensamento.” Apesar de ser sobretudo conhecida como intérprete de música barroca, Gemma Bertagnolli iniciou a carreira a cantar Mozart, um compositor que classifica como “a sua pátria”. A mú- sica barroca é mais uma “afinidade electiva”. “Mas tenho um tempera- mento curioso. Todas as épocas e to- dos os estilos nos contam qualquer coisa sobre nós próprios”, diz. “É ver- dade que já cantei quase quatro sécu- los de música, mas as minhas escolhas estiveram sempre de acordo com as minhas características morfológicas.” Um período temporal tão extenso im- plica a aprendizagem de diferentes técnicas, mas a cantora considera que os melhores mestres são os próprios compositores: “Pensa-se na técnica como se existisse uma solução objec- tiva independente do intérprete. Mas a técnica também é pessoal. Cabe ao intérprete adaptar os seus meios às diferentes paisagens musicais.” A descoberta é um dos fios condu- tores da carreira de Gemma Bertag- nolli, por isso a cantora não faz planos demasiado concretos em relação a novos papéis operáticos ou projectos específicos. “Cada nova personagem pressupõe uma espécie de enamora- Mozart é a “pátria” de Gemma mento. Nunca baseei o meu trabalho Bertagnoli; a música barroca Música no desejo de fazer qualquer coisa que é uma “afinidade electiva” já imagino, mas sim na surpresa.” Foi a fazer esse caminho que conheceu em Roma a portuguesa Dulce Pontes, por ocasião dos concertos promovi- Uma lição de canto com dos pela Academia de Santa Cecília para celebrar os 70 anos de Ennio Morricone, com quem a soprano ita- liana tinha colaborado no álbum “Ci- nema Concerto”. “No camarim nas- ceu uma grande simpatia entre nós, fazíamos os vocalizos em conjunto, e depois em digressão gostávamos de combinar as nossas vozes antes do Haendel concerto”, conta Gemma. “Quando me convidou a colaborar no seu ma- É uma das grandes vozes da música barroca, mas também já colaborou ravilhoso disco ‘O Primeiro Canto’ não pude deixar de chorar de emo- com Dulce Pontes. A soprano italiana Gemma Bertagnoli apresenta ção; e cada vez que penso nela, a sua com o Divino Sospiro um programa sobre o poder da música que encerra voz ainda vibra dentro de mim.” Ver agenda de concertos na pág. 45 e o ano Haendel no Centro Cultural de Belém. Cristina Fernandes segs.

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No quarto de Jeanne

Pedro Costa, que não fazia filmes com actores desde 1997, fez um filme Um filme austero e romântico. Se pensam que uma actriz que c — podem experimentá-la ao vivo amanhã, no Lux, em L Cinema

Entramos em casa de Jeanne Balibar Nicholas Ray, em Jacques Tourneur, de som dos filmes dele e nos filmes Um film noir precisão, a procura obsessiva da boa com uma garrafa de vinho na mão nos Straub) desde o primeiro “O San- com ela. “Quando fiz o meu primei- Jeanne Balibar está aninhada no sofá nota, o combate com a mais pequena por causa de um filme. Era para ser gue” (1990). ro disco, ‘Paramour’ [2003], dei-o da sua sala, descalça e com jeans, partícula — um fraseado, uma pala- uma garrafa portuguesa, mas um ao Philippe. Ele gostou imenso e inspirando um Lucky Strike Lights. vra, uma entoação — como no filme check-in “in extremis”, às sete da ma- Clássicos e marginais deu-o a ouvir ao Pedro, que também O gato Capucine, ronronante, dá um com os Straub se trabalhava o foto- nhã, arruinou o plano. Levamos um Jeanne Balibar e Pedro Costa conhe- gostou muito, e juntos decidiram salto; não é o gato que atravessa a grama. Há planos em que vemos o Bordeaux comprado numa mercearia ceram-se em 2004 (Balibar não tem seguir os concertos que eu andava a penumbra em “Ne Change Rien” – es- rosto de Balibar de perfil, a fumar — parisiense, ao virar da esquina da rua memória para datas, diz que foi em fazer. Encontrámo-nos no Japão, on- se, evidentemente, é um gato saído podia ser Vanda Duarte, e este filme onde a actriz vive. Em “Ne Change 2001), quando ambos fizeram parte de eles filmaram os concertos que de um “noir” de Jacques Tourneur podia chamar-se “No quarto de Jean- Rien”, o filme que Pedro Costa fez do júri do festival de cinema docu- fiz lá. E, entretanto, comecei os en- para este filme de sombras. ne”. Com as devidas distâncias: não com ela (ante-estreia hoje, às 21h30, mental de Marselha. A actriz consi- saios para um segundo disco [‘Sla- O que é o filme para Balibar? “É um é o mesmo filme. Se é, fomalmente, na Cinemateca de Lisboa, com a pre- dera os filmes dele “magníficos”, e lom Dame’, 2006], e o Pedro veio ‘film noir’, como no Nicholas Ray. É um filme austero, quase estóico, tam- sença da actriz e do realizador; es- descobriu que partilham a mesma filmar isso.” Philippe Morel faleceu o ‘They live by night’: um grupo de bém tem ligeireza e lirismo. Ligeireza: treia nacional a 19 de Novembro), cinefilia. “Amamos os mesmos filmes antes da conclusão de “Ne Change pessoas, um pouco à margem, muito assistimos a uma lição de canto lírico, Balibar oferece-se para abrir uma gar- e não amamos os mesmos filmes. Ha- Rien”, e o filme é-lhe dedicado. Cos- sozinhas, que estão a correr de uma com o rosto de Balibar em grande rafa de vinho, alegando a sua experi- verá algumas excepções, mas penso ta nunca disse a Balibar: “Quero fa- perseguição. Ao mesmo tempo, cor- plano, cantando Offenbach, constan- ência no assunto – durante um ano, que temos uma sensibilidade, en- zer um filme contigo”. “Acho que foi rem atrás de qualquer coisa — a mú- temente interrompida pela professo- conta, foi empregada num restauran- quanto espectadores de cinema, ex- mais, comigo e com o Rodolphe sica, mas também qualquer coisa ra, que fala em “off”, fora de campo. te. É uma revelação que surpreende tremamente próxima.” [Burger, compositor de “Paramour” mais misteriosa — e fogem de qual- É uma cena burlesca: a professora os seus companheiros de trabalho. Chegará para Costa fazer um filme e, parcialmente, de “Slalom Dame”]: quer coisa do mundo, dão consigo suspende o canto de Balibar, corrige- “A sério? E como era?” “Fácil.” A in- com uma actriz? Ensaiamos outra ‘Podemos acompanhar-vos um pou- em sítios de paragem — o Japão, Aix- a, dá o tom. Balibar sopra de impaci- credulidade, ainda: “Com os pratos, aproximação: tanto ele como ela fa- co, com a câmara e com o som?’ Foi en-Provence, a Alsácia... Para mim, ência, Balibar boceja, Balibar engana- e tudo isso? Implica alguma técni- zem cinema por outros meios, dis- muito minimal.” é isso: uma mulher e três tipos que se e exclama “Putain!” Lirismo: as ca...” Ela: “Não, não.” tanciando-se das convenções, mas Balibar diz que nunca hesitou, nem estão em fuga, num ambiente de ‘film canções de Balibar, a par com a ope- Espanto dele, certamente por não com uma consciência grande da tra- pensou duas vezes, quando um rea- noir’ americano.” reta de Offenbach (Costa filmou a esperar que uma actriz inteligente, dição – é por isso que o discurso so- lizador que não filma actores come- Há outra coisa que Costa não fazia actriz na adaptação teatral de filha de intelectuais com conforto bre os filmes de Costa muitas vezes çou a filmá-la a ela. “Adoro os filmes desde “O Sangue”: um filme a preto “L’Histoire Vraie de La Périchole”, económico (é filha do filósofo Étien- vão dar a John Ford; por seu lado, que não têm actores profissionais. e branco; “Ne Change Rien” é uma dirigida por Julie Brochen, e estreada ne Balibar) pudesse ter feito pela vi- Balibar é capaz de representar hero- Gosto muito de ver pessoas que não obra ao negro, onde os corpos não em Paris em 2006), falam de amores da. Espanto nosso, ao ver que duas ínas trágicas de Offenbach ou Balzac têm uma vida de actor o resto do tem- chegam a ser silhuetas, engolidos co- destruidores, impossíveis, de tortura, pessoas (Jeanne Balibar e Rodolphe (como a “coquette” Duquesa de Lan- po.” Além disso, nota, “enquanto o mo estão pelo escuro. É um filme de de mutilações. O filme evidencia a Burger) que cantam duetos tortuo- geais no sublime “Ne touchez pas la Pedro estava lá a filmar, eu não tinha câmara, rodado em interiores, o que temática “monstruosa” do reportório sos, olhos nos olhos, ainda têm se- hache” de Jacques Rivette) com um a sensação de que estávamos a fazer remete para o filme que Costa fez so- de Balibar. “O filme leva isso muito a gredos um para o outro. desprendimento contemporâneo. Na um filme. Estávamos concentrados bre os Straub (“Onde Jaz o Teu Sorri- sério, porque é uma temática maior Se pensam que uma actriz que can- estreia de “Ne touchez pas la hache” na música”. Conclui: “É um presente so?”, 2002). Como esse, também é no universo da canção, mas ao mes- ta é um “cliché”, é porque nunca ou- em Nova Iorque, uma mulher disse a maravilhoso poder entrar num filme um filme sobre o trabalho: o rigor, a mo tempo julgo que há humor na viram Jeanne Balibar — podem expe- Balibar que a sua interpretação era sem ser actriz”. maneira como o Pedro vê isso”, ex- rimentá-la ao vivo pela primeira vez, falhada porque em nenhum momen- Quando ela falou sobre o filme em plica Balibar. “Há um humor face a amanhã, no Lux, em Lisboa, depois to ela parecia uma mulher do século Cannes, ficou a impressão de que não esse negrume, um humor que eu de ontem, a actriz ter actuado em XIX; a actriz tomou-o como um elo- sabia o que esperar antes de o ter vis- também tenho. É um lado... não sei Serralves. “Ne Change Rien” é um gio. to, que o resultado era misterioso, “Num filme, envio como dizer... quase alemão [risos]. filme sobre a música dela, onde Bali- “Mesmo que o Pedro e eu tenha- até para ela. “Reconheço-me comple- Que também faz parte da história do bar se metamorfoseia, entre ensaios, mos percursos voluntariamente mar- tamente no filme, mas ao mesmo qualquer coisa aos rock – há uma espécie de humor na sessões de estúdio e concertos — num ginais — com as devidas proporções, tempo o objecto é-me bastante estra- forma de dizer coisas muito sombrias. minuto parece uma Marlene Dietrich porque somos pessoas que vão ao nho, porque há uma ‘mise-en-scène’ outros e os outros Alguém como Nick Cave, por exem- com guitarras langorosas, no outro Festival de Cannes, não somos tão que está muito presente. Faz-me via- respondem. Não plo — ele leva-se muito a sério quando Nico, e ainda há a cantora lírica de- marginais quanto isso —, ao mesmo jar.” É que, se “Ne Change Rien” é um canta coisas bastante desperadas, batendo-se com a teatralidade das tempo temos uma ideia extremamen- filme sobre a música de Jeanne, tam- fazemos todos o mas acho que existe humor ali.” Uma palavras. Talvez fosse a única manei- te clássica da arte cinematográfica. bém é um filme sobre o cinema dele, espécie de ironia? “Uma distância.” ra de Pedro Costa, que a partir de O Pedro é alguém que parte de meios Pedro. Como numa ficção, o realiza- mesmo ao mesmo E depois, diz Balibar, “podemos per- “Ossos” (1997) só trabalhou com não- bastante divergentes e reencontra o dor projecta as suas obsessões, os mitir-nos ser bastante ‘naïves’ numa actores, trabalhar com uma actriz classicismo de Hollywood. Penso que seus fantasmas através de uma actriz. tempo. Na música há canção – mais do que num romance profissional: filmá-la quando não es- isso também é verdade sobre mim. “Completamente”, concorda Balibar. ou num filme”. “Porque é uma arte tá a representar. Numa entrevista a Apesar de recorrer a meios bizarros “No fim de contas, vejo uma obra de a harmonia. Cada um popular, porque dura três minutos... propósito da passagem do filme na ou oblíquos, também tenho um lado ficção. É uma história que ele inven- dá um acorde As mais belas canções dizem: ‘amo- Quinzena dos Realizadores em Can- muito hollywoodiano, clássico. É uma tou...” te’ ou ‘estou muito infeliz’, ‘ a lua bri- nes, o realizador confessou que Bali- coisa que partilhamos intensamente, Para falar dele. ao mesmo tempo e lha no céu’, ‘blue moon’ [risos]. Con- bar é “seguramente”, a actriz que mesmo que nunca tenhamos falado “Sim. Ou da música em geral, ou seguir dizer isso num filme ou num mais admira hoje, mas isso não ex- nisso.” das mulheres, ou da mulher. De uma seguimos um romance é duro.” plica tudo. O filme evidencia o seu Pedro e Jeanne reencontraram-se mulher, sobretudo. Da arte do traba- apaziguamento com a tradição cine- depois do Festival de Marselha por- lho. É um filme cujo tema não sou eu, caminho que é o Sem voz matográfica — é a sua obra mais ex- que também tinham um amigo em isso é certo. Que é o que também gos- Balibar prepara um terceiro álbum plicitamente cinéfila (pensamos em comum, Philippe Morel, operador to muito no filme.” mesmo” com a banda francesa de rock e elec-

24šI[njW#\[_hWEkjkXhešÒfi_bed O que é o filme para Balibar? “É e com uma actriz, Jeanne Balibar. “Ne Change Rien” é sobre a música dela. um ‘film noir’, como no Nicholas Ray. É o ‘They live by night’: um e canta é um “cliché”, é porque nunca ouviram Balibar grupo de pessoas, um pouco à margem, muito sozinhas, que m Lisboa. Kathleen Gomes, em Paris estão a correr de uma perseguição”

trónica Poni Hoax. Também está pre- aos outros e os outros respondem. sua partitura. Ao passo que, na músi- a voz sempre foi um ponto de apoio Balibar diz vista uma série de performances num Não fazemos todos a mesma coisa ao ca, seguimos todos a mesma partitura. em toda a minha carreira e ultima- que nunca festival experimental com uma “espé- mesmo tempo. Na música há a har- Adoro isso.” mente percebi que pode haver ou- hesitou, nem cie de canções” compostas e escritas monia. Cada um dá um acorde ao mes- A voz, meio anasalada, tem uma tros. Estou sempre a dizer ao Mathieu pensou duas por ela, que irá cantar acompanhada mo tempo e seguimos, com os músi- música própria, mesmo quando ela Amalric: ‘Escreve um filme para nós vezes, quando apenas por um metrónomo. “Estamos cos, um caminho que é o mesmo. É fala. Numa entrevista, afirmou que em que interpretemos papéis mu- um realizador menos sozinhos quando fazemos mú- um prazer da comunhão com os ou- construiu toda a sua personalidade dos’. Mas não sei se ele o vai fazer.” que não filma sica. No momento de cantar, há outras tros que é de uma natureza diferente em torno da voz. “Sim, mas isso está Há-de ser um filme burlesco. actores pessoas que tocam ao mesmo tempo.” do que se passa no cinema. Aí, toca- prestes a mudar”, ri-se. “Neste mo- começou a Não acontece o mesmo num filme? mos todos juntos — a câmara, o som, mento, só tenho vontade de fazer Ver agenda de concertos págs. 45 e se- filmá-la a ela “Num filme, eu envio qualquer coisa o co-intérprete — mas cada um toca a papéis mudos. Não sei porquê, mas gs.

Òfi_bedšI[njW#\[_hWEkjkXheš25 DANIEL ROCHA DANIEL Livros

“Escreve sobre aquilo que conheces em que desembarcas noutro sítio tar proteger-nos como se toda a gente bem” podia ser um mandamento pa- qualquer esquece quem eras, começa nos quisesse invadir, quando as pes- ra qualquer aspirante a escritor. O tudo do zero.” soas só querem safar-se”, prossegue português Ricardo Adolfo sabe desde Ao longo da trama, seguimos um Ricardo. Por isso quis escrever sobre novo o que é ser emigrante. Nasceu casal emigrado, vivendo nos subúr- este tema actual, em que “há uma sé- em Luanda em 1974, voltou com os bios. Ele, Brito, é o narrador, não tem rie de espaços mortos, na maior parte pais a Lisboa e a Mem Martins pouco trabalho e passa os dias em casa ou no ocupados por imigrantes, porque nin- depois da revolução de Abril, viveu café a cuidar do filho e com saudades guém quer andar por lá”. em Macau ainda criança, retornou à da terra; ela, Carla, trabalha furiosa- capital e, finalmente, em 1999 resol- mente para sustentar a família. Vivem 24 horas na vida veu deixar o país para trabalhar em numa casa minúscula, não falam a de um emigrante Amesterdão, Londres, mundo fora. língua daquela gente, perdem-se. A ideia estava em partir do verosímil, A condição de estrangeiro ajudou- “A minha experiência [de emigran- de qualquer coisa pequena que se o a escrever sobre o seu país. “Há uma te] foi bem mais fácil que a do livro, transformasse numa grande tragédia. parte que é o cliché de puxarmos Por- porque hoje é relativamente fácil sair “Um metro que avaria pareceu-me tão tugal para nós, e depois há outra que quando se está equipado para isso”, banal, tão pequeno e insignificante é o facto de ganharmos uma perspec- diz. Há questões logísticas, como alu- que é tipo: ‘ok, consigo identificar-me tiva diferente sobre a nossa realidade. gar casa ou abrir conta no banco. Mas com isto’. Com uma série de factores As coisas começam a parecer mais é sobretudo difícil pertencer, voltar a agregados deu para criar esta bola de interessantes, mais únicas, mais pe- existir. “Há uma tentativa de reflexão neve.” A bola é uma família em busca culiares do que quando estamos sem- sobre como é que se existe perante o da própria casa, depois de uma tarde pre enfiado naquela roda viva”, con- outro sem conseguir comunicar. Se de compras em que uma mala, com ta-nos, de passagem por Lisboa. não há testemunhas do nosso dia-a- rodas e tudo, passa a acompanhá-la. Nas suas duas primeiras obras – o dia, não há vida.” “A mala começou por ser um triunfo, livro de contos “Os Chouriços São To- Brito é esse narrador “morto”, que um pequeno símbolo de ostentação. dos Para Assar” (2003) e o romance “só não imigra totalmente para den- E põe a questão da relação entre ela “Mizé” (2006), ambos editados na tro de si mesmo por causa do filho”. [Carla] e ele [Brito]. Ela é que tinha o Dom Quixote – Ricardo vale-se do Na rua ninguém o conhece e a sua dinheiro, ela é que decidiu comprar.” quotidiano luso, da linha de Sintra, existência apenas se comprova nega- O escritor interessa-se por este novo das conversas de café. “Percebi que tivamente – um guarda-chuva que o papel do homem na sociedade, o ho- a vida aqui é bastante rica para quem atinge, um encontrão desconhecido. mem que fica em casa com os putos, quer escrever. Há contradições e ten- O escritor não nomeia a cidade da que não trabalha, que depende da sões muito pequeninas que são fan- acção, chama-lhe Ilha, mas adivinha- mulher. “Não é como há 50 anos, que tásticas.” mos Londres. Em cheio: “O livro foi sabíamos quais eram as regras. E a O novo livro, “Depois de morrer escrito lá. É influenciado pelo tempo personagem sofre com isso, com as aconteceram-me muitas coisas”, edi- e pela convivência com a imigração referências que estão diluir-se.” tado pela Objectiva, é diferente. Te- londrina, muito mais cruel que a de Brito vive num auto-boicote perma- mos um emigrante de sucesso a es- Amesterdão”. A Adolfo interessam- nente, complica, chega à conclusão crever sobre emigrantes desgraçados, lhe essas franjas das grandes cidades, de que tem de fazer sempre o oposto gente que tem de começar de novo “espaços mortos, sombrios, onde daquilo que acha que está certo. É um num ambiente hostil. “O título é uma uma parte da população não percebe homem com passado por resolver, referência ao processo de transfor- bem o que anda a fazer”. que estava condenado à partida. mação pelo qual se passa quando sa- O que é que faz um emigrante? Faz “Gosto de dar algo às personagens ímos de uma realidade e temos de nos pela vida. E procura o melhor, que que em princípio é antipático e depois recriar noutra. Esse para mim é o muitas vezes se escreve Europa. “Es- conseguir que as pessoas se identifi- morrer, porque a partir do momento tamos fechados numa redoma, a ten- quem com elas”, explica Adolfo. Já Depois de emigrar aconteceram-lhe muitas coisas Ricardo Adolfo partiu para Amesterdão para trabalhar em publicidade. Acabou a escrever sobre Portugal e a rodar uma curta com Wong Kar-wai. “Depois de morrer aconteceram-me muitas coisas” é uma parábola sobre a imigração. Hélder Beja

26šI[njW#\[_hWEkjkXhešÒfi_bed Carla “é o grande motor da história. perspectiva quase de super-mercado “Há uma tentativa Se calhar é uma homenagem às mu- em relação a Deus. “É uma forma co- lheres discretas que são o motor de mum de lidarmos com a religião: de reflexão [no livro, muitas famílias.” quando precisamos vamos a Fátima sobre quem emigra] Brito, Carla, o filho e a mala vão e quando não precisamos vamos à errando por ruas e autocarros. E Luz.” sobre como é que Adolfo aproveita para dar corpo a es- tas personagens num livro que con- “Mizé” adaptado ao cinema se existe perante o centra a acção em pouco mais de 24 Como é que um rapaz da publicidade, horas. “Foi outro grande desafio per- imigrante “mais porque sim que por outro sem conseguir ceber como condensar uma narrativa outra coisa qualquer”, acaba como num espaço de tempo tão curto e Creative Consultant numa curta-me- comunicar. Se não há criar personagens que não sejam to- tragem do realizador de “2046”, Wong testemunhas do nosso talmente planas.” Para isso muniu-se Kar-wai? Milagre? Ricardo Adolfo: “É da primeira pessoa, com Brito a apro- uma história cómica. Estava com uma dia-a-dia, não há ximar-se do leitor e a guiá-lo pelos campanha para o lançamento de uma cenários mas também a falar de si, da nova TV da Philips. Fizemos a campa- vida.” terra e da mulher, aquela que “apesar nha, criámos o conceito e no fim hou- de já não ter espaço entre as coxas e ve a necessidade de fazer algo que não de ter ganho barriga, ainda tinha per- fosse só um anúncio normal de TV, nas. Continuava grossa” (pp. 21). para ter conteúdos no ponto de venda Estamos com o narrador quando a passar na nova TV. ele fala da terra, essa coisa portugue- O conceito andava à volta de luz e sa que ganha importância no roman- sedução. Adolfo liderou a equipa que ce. A terra como o único lugar onde escreveu alguns guiões para uma existe aquele homem mais velho, curta-metragem. Quando lhes pedi- cumprimentado e respeitado por to- ram um realizador, Kar-wai foi o no- dos. A terra como qualquer coisa or- me unânime. “Não encontrei nin- gânica. “Quando traduzimos a pala- guém como ele a trabalhar estes con- vra para outra língua, não tem esse ceitos. E basicamente significado. O voltar à terra, o ter uma telefonamos-lhe.” Seguiram-se reu- terra significa um mundo para nós.” niões em Hong Kong e Los Angeles, A terra de Adolfo é Mem Martins. o realizador estava a terminar “My Foi lá que passou “muitas horas a ta- Blueberry Nights” (2007), depois se- garelar, a ouvir filosofia barata à volta guia para Cannes. da mesa de snooker”. Isso está toda Adolfo acompanhou tudo, da gé- nos diálogos dos seus livros, colo- nese da ideia de que resultaria a cur- Ricardo quiais e certeiros – alguns podem ler- ta “There’s Only One Sun” (2007), à Adolfo, se em www.objectiva.pt/depoisde- rodagem em Xangai. “Foi uma expe- escritor, morrer. Um exemplo: “se tivéssemos riência interessante porque apesar publicitário, ido logo pra casa já lá távamos/ e se de ele ser escritor não escreve muito. trabalhou não tivéssemos vindo tamem/ por Então cada dia era um guião novo, como Creative isso é queu te disse que preferia ficar/ uma aventura nova.” O filme, futuris- Consultantnt já sabias era?”. ta, recupera a estética – e até boa par- numa curta-rta- “A questão dos diálogos fascina-me. te da equipa técnica – de “2046”. “O metragemm dede São tão ricos, tão fantásticos, pergun- stilling da actriz [Amelie Daure] tam- Wong Kar-r- to-me como é que não há mais pesso- bém é muito parecido com o da Faye wai, “There’sere’s as a roubá-los. Andamos na rua e ou- Wong [actriz em “2046”]”, reconhe- Only One vimos coisas lindas, ouvimos duas li- ce o autor. Sun”, quee nhas e percebemos que isto agora vai O seu primeiro romance, “Mizé”, promove dar esta discussão que é fantástica.” que descreve como uma tragédia su- um novo No restante, a linguagem serve a burbana, também está em fase de aparelho história e a “batalha” do autor. Como financiamento para adaptação ao ci- de TV da em “O Remorso de Baltasar Sera- nema, por uma produtora e realiza- Philips pião”, de valter hugo mãe. Pergunta- dora inglesas. Tem trabalhado no mos a Adolfo se podemos traçar essa guião e acredita que acabará por es- linha. “Gosto muito do valter, acho crever mais para cinema. que desta nova vaga é o autor de que Para já – e seja porque privou com me sinto mais próximo. Estamos a Wong Kar-wai ou por outros motivos trabalhar no mesmo tipo de persona- – não conta regressar a Portugal. gens, de angústias. Leio esse livro ou “Quanto mais viajo mais quero ser o ‘O Apocalipse dos trabalhadores’ e imigrante noutros sítios. Saí com von- vejo ali a briga que também estou a tade conhecer outras realidades e tentar travar.” sinto vontade de conhecer algumas Apesar de haver religião neste livro, ainda mais distantes, como por exem- com um episódio em que Brito dá ca- plo a Ásia, que é uma experiência de bo da fé, Adolfo não compra essa luta. imigração bem mais difícil.” A come-

ERIC GAILLARD/ REUTERS ERIC GAILLARD/ Mas não se coíbe de dizer que há uma çar pela língua.

Òfi_bedšI[njW#\[_hWEkjkXheš27 Se pensavam que Chico Buarque 1998, por Wagner Homem que até Wagner Homem achei que valia a pena trabalhar mais compôs “Olhos nos Olhos” (1976) a hoje é o seu curador. Chico Buarque um pouquinho sobre ela (...) Claro pensar numa mulher, desenganem- num “e-mail” que escreveu a Wagner faz uma introdução que a letra é sua, eu nada mais fiz que se. Aqueles versos, “Olhos nos olhos, Homem (a quem trata por “cachor- dar uma aparafusada geral”. quero ver o que você faz/Ao sentir rão”) explicava que enquanto lia o à época em que A letra de que aqui se fala é a da que sem você eu passo bem demais”, livro ia pensando que tinha uma his- canção “Valsinha” (1970), aquela que foram escritos numa noite depois de tória boa para lhe contar, mas à me- as canções foram conta “um dia ele chegou tão diferen- o compositor ter passado a tarde a dida que avançava, todas as histórias, te do seu jeito de sempre chegar/ conversar com Paulo Pontes, o amigo afinal, apareciam. “Vou pensar mais criadas, interligando Olhou-a dum jeito muito mais quente com quem escreveu a peça “Gota um pouco, procurar alguma anedota a vida de Chico do que sempre costumava olhar/ E D’Água”, que estava doente e o dei- inédita, mas acho que você as conhe- não maldisse a vida tanto quanto era Livros xou preocupado. ce todas, melhor que eu”, dizia-lhe. Buarque com seu jeito de sempre falar”. Talvez não saibam que quando a A ideia de fazer o livro surgiu a Wag- Nessa carta Vinicius alterava para: canção “Tanto mar” (1975), dedicada ner (que também trabalha como re- a história do país “Um dia ele chegou tão diferente do à Revolução dos Cravos (“Sei que es- visor, “ghost-writer” e mantém o “si- seu jeito de sempre chegar/Olhou-a tás em festa, pá/Fico contente”), foi te” de Maria Bethânia e de Mario Pra- de um modo mais quente do que co- enviada para ser aprovada pela cen- ta) devido às inúmeras solicitações gem. “Chico, my love, a tua homena- mumente costumava olhar/E não fa- sura brasileira, apanhou o censor Au- que ao longo destes onze anos tem gem me deixou estarrecido. Estou lou mal da poesia como era mania sua gusto da Costa, que tinha sido defesa recebido na sua caixa de correio. Quis desvanecido, deliquescente, maravi- de falar”. da selecção de futebol brasileira, em fazer um livro que não fosse nem ana- lhado, sobretudo porque é Para To- Chico respondeu então ao “Poeta” 1950, no jogo do Campeonato do lítico nem académico. Essa fórmula dos, para mim, para você! (...) Beijo, que ficara “meio embananado” com Mundo em que o Brasil perdeu com parece ter resultado pois já entrou beijo, beijo, beijo. Tom Jobim”. a carta porque já estava a cantar aque- o Uruguai. Da canção só passou na nos três primeiros lugares das princi- A ideia de que a musa para a canção la letra nos concertos e o público re- censura o título e Buarque reagiu: pais listas de livros mais vendidos no “Morena dos Olhos d’Água” teria sido cebia a valsinha com “o maior entu- “Porra, Augusto, você perde a copa e Brasil (www.historiasdecancoes.com. a “socialite” Eleonora Mendes Caldei- siasmo, pedindo bis e tudo.” Ponto ainda vem me aporrinhar”. br) e será editado em Portugal pela ra também fica agora tremida. Chico por ponto, Chico foi “puxando a sar- Estas e outras histórias por trás das Dom Quixote em 2010. nunca confirmou nem nunca desmen- dinha” para o lado da sua letra e ex- canções que Chico compôs entre 1964 tiu mas as suas irmãs, Ana e Maria do plicando a Vinicius porque é que não e 2008 estão reunidas em “Histórias Poeta, deixa ficar Carmo, garantem que quando ele ter- aceitava algumas das propostas. “(...) de Canções – Chico Buarque”, de Wag- Em “Histórias de Canções” o leitor minou esta canção ligou para mais de Eu prefiro que o nosso personagem ner Homem, que acaba de ser publi- avança cronologicamente e no início uma mulher dizendo que cada uma xingue ou, mais delicado, maldiga a cado pelo grupo editorial português de cada capítulo, Wagner Homem faz delas era a sua musa. vida, em vez de falar mal da poesia. Leya no Brasil. É um livro que, como uma introdução à época em que as Mas o mais surpreendente é o des- A solução é mais bonita e completa, escreve Toquinho no prefácio, conta canções foram criadas, interligando vendar do processo de trabalho e cria- mas eu acho que ela diminui o efeito “histórias verdadeiras, de músicas a vida do compositor com a história ção entre Chico e Vinicius de Moraes do que segue. Esse homem da primei- verdadeiras, de um compositor ver- do país. Por lá passam também as através do envio de cartas e de casse- ra estrofe é o anti-hippie. Acho mes- dadeiro”. Tem o mérito de reunir pe- composições que Chico escreveu nos tes áudio. Apesar de estarem em pa- mo que ele nunca soube o que é po- quenas histórias que estavam espa- anos 70 sob o pseudónimo Julinho da íses diferentes – Chico no Brasil, Vini- esia. É bancário e está com o saco lhadas por biografias (por exemplo, Adelaide e Leonel Paiva para escapar cius na Argentina – trabalhavam em cheio e está sempre mandando sua em “Chico Buarque: Tantas Palavras”, à censura. E há revelações de Edu Lo- parceria, trocando ideias por escrito. mulher à merda. Quer dizer, neste dia de Humberto Werneck), entrevistas, bo, de Toquinho, de Caetano. Em 1971, a propósito de uma canção ele chegou diferente, não maldisse documentários (a série de doze DVD Está reproduzida uma carta que que tinham feito, Vinicius escreve a (ou xingou mesmo) a vida tanto e realizada por Roberto de Oliveira ou Tom Jobim enviou a Buarque depois Chico uma carta deliciosa: “Chiquér- convidou-a pra rodar. Convidou-a pa- “Descontrução” de Bruno Natal) e até de ter ouvido a canção “Paratodos” rimo: Dei uma apertada linda na sua ra rodar eu gosto muito, poeta, deixa no “site” do cantor que foi criado, em (1993) que Chico fez em sua homena- letra, depois que v. partiu, porque ficar.” Ficou.

“Histórias de Canções – Chico Buarque”, de Wagner Homem, que acaba de ser publicado pelo grupo editorial português Leya no Brasil, reune pequenas histórias que estavam espalhadas por biografias, entrevistas, documentá- rios e até no “site” do cantor Espreitando Chico

Wagner Homem, o curador do “site” oficial de Chico Buarque, lançou o livro “Histórias de Canções” onde reúne curiosidades e pequenas histórias dos momentos de criação do compositor. Já está nos tops brasileiros. Isabel Coutinho

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0 Museu de Arte Contemporânea de cesso iniciou-se com a publicação de Serralves, no Porto, inaugurou há um anúncio na Internet, através do precisamente uma semana, uma das qual o artista se propunha contratar exposições do ano: “Sem Saída/En- para sessões fotográficas modelos saio Sobre o Optimismo”, de Augusto não profissionais, com a condição de Alves da Silva (Lisboa, 1963), nome estas não terem experiência nos con- fundamental da fotografia portugue- textos da moda e da arte. sa contemporânea. A mostra, comis- Neste conjunto de imagens, Augus- sariada por João Fernandes, reúne to Alves da Silva confronta o espec- um assinalável corpo de trabalho re- tador com situações na fronteira en- alizado pelo artista desde meados dos tre o erotismo e a pornografia - em- anos 1980. Entre as obras apresenta- bora não exista uma única fotografia das, que incluem também vídeos e em que o rosto e a nudez surjam as- livros de artista, destacam-se quer sociados e a mo- “Síntese”, composta por imagens pro- delo, que recebe “Em venientes de séries anteriores, uni- parte do dinheiro qualquer formizadas agora através de novas de uma futura fotografia, mesmo impressões, quer dois novos projec- venda, tenha tido sem- que encenada, o que tos, “Iberia”, exercício sobre a paisa- pre a última palavra. Exposições está à frente da câmara é gem composto por mais de cinco mil Entre o vagabundo instantâneos, e “Book”, que coloca que realiza um gesto o que fica. No caso do questões relacionadas com o inces- obsceno diante de um veado, aparece um pombo sante consumo de imagens “suposta- “stand” de Ferraris e que não vi e que depois mente eróticas”. Neste caso, o pro- um homem com uma aceitei” Da série “Animais” 30šI[njW#\[_hWEkjkXhešÒfi_bed a sobrevivência e de viver. “Sem Saída/Ensaio sobre o Optimismo”, a exposição do fotógrafo Augusto Alves da Silva m a sociedade actual, da pornografia à Cimeira das Lajes. Óscar Faria

espingarda junto a uma piscina, entre encontrar liberdade para isso: nunca o aterrar dos aviões para a Cimeira passei um sinal de proibido e, das das Lajes e umas unhas pintadas de poucas vezes que encontrei um sinal vermelho, entre o desejo e o comen- de propriedade privada, não o pas- tário político, entre a natureza e a sei. A ideia surgiu há mais de dez arte, esta é uma exposição contra a anos, ao encontrar um troço da Caña- hipocrisia. da Real Leonesa. Depois pesquisei a A exposição inclui um núcleo, rede das Cañadas, em Espanha, que “Síntese”, que resulta de já estão muito destruídas e danifica- fotografias provenientes de séries das, por causa das auto-estradas e anteriores. Qual foi o critério de das obras: segundo me lembro, eram selecção? vias de transporte de gado de Norte A ideia de “Síntese” foi reunir imagens para Sul e vice-versa. A partir desse que ressaltam das séries para as quais momento, começou a fascinar-me o foram realizadas inicialmente. Fun- facto de se conseguir atravessar um ciono sempre com conjuntos de foto- país inteiro na Europa, sem estar a grafias e procuro diálogos e interfe- transgredir nada, através de vias al- rências entre elas, contudo, notei ao ternativas: juntei estradas agrícolas, longo dos anos que há umas que so- estradas usadas por caçadores, algu- brevivem sozinhas, que me intrigam mas difíceis de transitar. Ao longo de ou que atraem a atenção. Parece uma dez anos, com recurso a um GPS, fui contradição, porque se estou a jogar juntando troços que depois percorri com conjuntos à partida não devia numa só viagem de 18 dias: fazia uma estar interessado em exemplares úni- média de 100 quilómetros por dia, cos; porém, aconte- desde o nascer ao pôr-do-sol. A via- ceu. gem transmitiu-me uma alegria e Pode explicar “Fascinou- uma calma que dificilmente consegui melhor aquilo me inventar um vés de gestos, se a guém de fora deste meio a entrar num “O optimismo do ter até hoje. Quando cheguei à Cor- que define trajecto do segunda imagem museu ou a folhear um trabalho pu- dilheira Cantábrica ao fim dos 18 dias como intrigante? Mediterrâneo ao tinha ficado bem. blicado... A imagem do homem da título tem a ver com e encontrei as montanhas todas ne- Nas séries existem Cantábrico sem tocar o Fiz-lhe um sinal espingarda na piscina cativa as pes- vadas parecia haver uma lógica qual- imagens aparente- asfalto (...). O jipe ficou de ok com o po- soas, primeiro porque nos faz sorrir a nossa capacidade quer, difícil de explicar, em sair do mente mais discretas enterrado na neve, a 20 legar para cima e – ele tem um sorriso estranho, é mais Mar Mediterrâneo e acabar ali, num do ponto de vista do despedimo-nos um esgar do que um sorriso – e depois de nos regenerarmos ponto em que já não podia avançar impacto visual que quilómetros do com um adeus. porque nos faz pensar… mais: o jipe ficou enterrado na neve, equilibram o conjunto. Cantábrico” Ele viu-me co- Podia ser um serial-killer… das situações mais a cerca de 20 quilómetros do Mar Mas há algumas outras, Da série “Iberia” mo uma espé- No laboratório, na Alemanha, por difíceis e Cantábrico. poucas, que depois ressal- cie de mensa- questões práticas, tinha que dar títu- Essa série transmite também tam, como o veado a olhar para a geiro para um pú- los de trabalho. Chamei a essa foto- conseguirmos uma ideia de solidão, de tristeza cidade ou o vagabundo na série “Fer- blico mais vasto. grafia “Shooting Tourists”, o que pro- mesmo, acentuada pela banda rari”. Em “Síntese” nota-se a ausência vocou um sorriso no técnico que es- continuar a viver, sonora: uma gravação de estações Nestes casos, podemos falar em de imagens provenientes das tava a trabalhar comigo. de rádio espanholas... “instante decisivo”, tal como o suas duas séries porventura Em “Síntese” fizeram-se também apesar de Auschwitz, Sim. A tristeza tem sentido também, definiu Henri Cartier-Bresson? mais políticas: “3.16” (2003) e novas impressões, as imagens mas é difícil descobrir a linha que a Em qualquer fotografia, mesmo que “Die schönste Fahne der Welt” ganharam uma outra escala… da Cimeira das Lajes separa da alegria... Ao introduzir a encenada, o que está à frente da câ- (2006)… Pode dizer-se que há Achei que devia unificar as imagens ou de coisas que música já se recupera mais a alegria, mara é o que fica. Esse instante não uma ausência do político? através da dimensão e através da téc- porque a rádio espanhola faz-me ine- o chamo decisivo. No caso do veado, Não estou de acordo. A imagem do nica. Se não, tínhamos uma manta de acontecem agora” vitavelmente sorrir. A voz das pesso- aparece, em cima, do lado esquerdo, Ferrari é a mais gritante desse ponto retalhos: uma imagem com 50 por 60 as, a maneira que têm de falar, de um pombo que não vi e que depois de vista, mas todas têm coisas que se centímetros, outra com um metro e traduzir os títulos, a alegria que têm aceitei; no caso do vagabundo, há relacionam com desequilíbrios, per- sessenta por dois metros e dez. Pare- como locutores e a própria escolha uma pessoa na rua a virar a esquina, versões ou absurdos do mundo que ceria um “bric-à-brac”, uma ideia de olhar para aquelas imagens desligadas das músicas. que também não vi. No caso do veado construímos: a mota enterrada nas retrospectiva: a de ir buscar bocadi- do contexto da série original a que Esta série é quase o oposto de consegui pré-visualizar a possibilida- dunas com o motociclista lá atrás; as nhos de coisas. No fundo, na minha pertencem. “Síntese”, não há quase escolha… de de fazer aquela imagem, na medi- pessoas que dançam ao vento no con- cabeça, o que fiz foi como se tivesse Apresenta novos trabalhos, como Aqui o critério de escolha foi eliminar da em que o animal estava lá. vés de um navio – uma imagem à pri- produzido um trabalho novo. Impri- “Iberia”, um exercício sobre a as imagens muito escuras ou muito E no caso do vagabundo? meira vista bonita do ponto vista de mi as imagens todas com a mesma paisagem realizado em Espanha. claras ou as que ficaram brutalmente Também. Porque tinha montado o luz e de cor, mas depois extremamen- dimensão e também uniformizei a Qual a razão da escolha desta tremidas sem intenção. Devo ter feito tripé, a máquina e o flash naquele sí- te triste e patética, pois aquelas pes- técnica, porque havia algumas com geografia? seguramente 20 mil imagens: há mui- tio e queria captar uma situação de soas estão completamente isoladas “passepartout”, outras sem. Uma pes- No “Iberia” fascinou-me a possibili- tas que são tão repetidas e tão pare- contraste entre a riqueza absurda do umas das outras; o “shelter”, que é soa que nunca tenha visto o meu tra- dade de conseguir inventar um tra- cidas, porque guiava e fotografava ao interior e o exterior daquele “stand” uma espécie de sarcófago, túmulo, balho pode entrar no museu e achar jecto de automóvel do Mar Mediter- mesmo tempo – também eliminei al- de automóveis. Sabia que, inevitavel- nave espacial, no meio da paisagem; que aquilo é uma nova série. Disso râneo ao Mar Cantábrico sem prati- gumas assim. A máquina estava cola- mente, passaria lá fora alguém sem a as árvores todas queimadas na Serra gosto muito: a possibilidade de se camente tocar o asfalto. Consegui da dentro do carro, fixa sempre capacidade de comprar um carro da- da Estrela – no Inverno de 1992, tudo queles. o que fotografei em serras portugue- Como interpreta o gesto do sas foram florestas queimadas. A ima- vagabundo? gem mais feliz é aquela em que pode- Ele pediu-me licença para fazer aque- mos perguntar: o que faz um homem le gesto – em linguagem não verbal, com uma espingarda na mão à beira porque tínhamos um vidro a separar- de uma piscina? nos. Há uma primeira fotografia em É uma imagem plena de humor... que o flash não disparou: estava de O humor é uma das melhores formas tal maneira nervoso que me esqueci de cativar as pessoas para as coisas. de o ligar. Fiz-lhe então um sinal com Gosto de pensar num público geral. as mãos a explicar-lhe que aquilo ti- Não gosto de pensar nem na crítica nha corrido mal. Respondeu-me com especializada, nem no público da ar- um sinal, como a dizer: “posso espe- te, nem nos directores de museus: rar”. Carreguei o flash, ele voltou a não estou a dizer que não respeito fazer o gesto e eu tirei a segunda fo- essas pessoas, contudo é para mim tografia. Perguntou-me, sempre atra- muito gratificante quando vejo al-

Òfi_bedšI[njW#\[_hWEkjkXheš31 “O bombardeamento tância, os aviões mínimos a aterra- rem, e incluí na série um 12º de imagens elemento, um texto, que ocupa a área de uma fotografia, onde, de forma de carácter clara e dura, digo o que significa pa- ra mim a Cimeira das Lajes e o absur- supostamente do de toda aquela situação. É mais eficaz mostrar a escala dos aviões e erótico a que somos das pessoas em relação ao mar, ao submetidos céu e à terra: como é que alguém com aquela insignificância tem a capaci- é extremamente dade de poder destruir o mar, o céu e a terra? agressivo. Quis criar Como surgiu o título da exposição? Ele lembra, de algo que não tivesse certa forma, o slogan punk “no future”... esse lado violento” Ou o “goth as fuck” que se vê numa fotografia minha de 2001, que me dá vontade de sorrir, porque, apesar de tudo, com tanta coisa má, não se de- siste de viver, excepto nos casos em que se comete suicídio, e isso pode acontecer a qualquer um de nós… Até fantasiei com o título em inglês: “A Peculiar Aproach to Optimism”, em- bora ache a versão final bastante me- lhor… Na situação mais dura da minha vida, a morte da minha irmã Guida, a quem dediquei o livro “Shelter”, consegui recuperar a alegria “Aquelas de viver através de duas imagens são muito coisas. Uma delas foi num mesmo ponto: ia guiando e mais do que sobre sexo. a natureza, a ideia fotografando; como estamos numa São sobre mim, são também de que há uma era digital, não pensava nos custos. sobre a solidão daquelas coisa que não é Se conseguisse ter tido mais calma a construída por fotografar, poderia nem ter tido ne- pessoas, porque ao serem nós; a outra, a cessidade de editar. fotografadas estão afastadas das arte: a activida- Esta viagem é feita em paralelo ao famílias, dos namorados, dos de humana que projecto “Book”? maridos, de quem quer que seja (...). acaba por nos Começou a ser preparada muito an- Quis acabar com a hipocrisia transcender. Se tes. A viagem foi feita entre Dezembro do que é que se pode e do que às vezes tinha de 2007 e Janeiro de 2008. Há 20 anos é que não se pode dúvidas se que vou para Espanha no Natal e no série é, uma vez mais, uma ver e pô-lo à vista” gostava de Ano Novo: há uma alegria e uma paz profunda solidão… Da série “Book” arte, nesses no facto de esquecer essa época du- O sexo não é indissociável de tudo momentos rante a viagem. O “Book” começou aquilo que vivemos e sentimos: aque- comprovei em Agosto de 2007. Aquilo é em 18 las imagens são muito mais do que que, das actividades humanas, a dias, o “Book” demorou dois anos a sobre sexo. São sobre mim, são sobre arte era a coisa que retinha. fazer. aquelas pessoas. São também sobre A sua arte ou a dos outros? Há uma razão para ir para a solidão daquelas pessoas, porque A dos outros. O optimismo presente Espanha nesse período do ano? ao serem fotografadas estão afastadas no título tem a ver com a nossa capa- São questões pessoais, de família. E a das famílias, dos namorados, dos ma- cidade de nos regenerarmos das situ- alegria que encontro no meio de des- ridos, de quem quer que seja: é uma ações mais difíceis e conseguirmos conhecidos. decisão delas. Há ainda a questão do paredes do museu, porque estão dis- um meio-termo. Às vezes é preferível continuar a viver, apesar de Aus- A propósito de “Book” pode fazer- anonimato, no sentido de não haver tantes de qualquer sensacionalismo, correr riscos e falhar do que não cor- chwitz, da Cimeira das Lajes ou de se a mesma pergunta que Susan coexistência entre nu e cara, que elas de qualquer abuso ou de qualquer rer. Achei que tinha chegado o mo- coisas que acontecem agora. Em Sontag levanta no livro “Olhando colocam como determinante para as obscenidade gratuita. Reconheço es- mento de abordar o assunto directa- Hollywood ainda hoje se realizam fil- o Sofrimento dos Outros”: “Que imagens poderem fazer-se. Eu próprio sa tristeza no conjunto total das ima- mente. Quis também acabar com a mes sobre a Alemanha nazi quando fazer com um conhecimento me pergunto muitas vezes porque é gens, apesar de haver outras coisas. hipocrisia do que é que se pode e do estamos a passar por coisas tão bru- como o que as fotografias nos que estas pessoas quiseram ser foto- Sabia que me queria desviar de foto- que é que não se pode ver e pô-lo à tais, cruéis e perversas quanto as vi- trazem de sofrimentos distantes?” grafadas. Estou bastante satisfeito grafias “standard”, do género das que vista, tal como o faço com as fotogra- vidas naquela época. Perante tudo Aquilo que nos transmite essa com as imagens, depois de as ver nas inundam as prateleiras dos quiosques. fias de casas, de árvores, de veados isto consegue-se continuar a viver, Se havia algum nervosismo, ele era ou de neve. conseguem-se fazer coisas. de ambas as partes, no sentido de É tudo a mesma coisa… Na Pedro Oliveira, agarra o conseguirmos perceber o que é que Sim. Não esteve fora de questão abor- espaço da galeria, que ainda tem cada um de nós estava ali a fazer. dar o nu masculino. Quase dava von- uma dimensão considerável, com Que razões o levaram a fazer essa tade de o fazer, porque a hipocrisia apenas cinco fotografias de médio série? associada às coisas é de facto algo que formato tiradas em Veneza, lugar Exorcizar o bombardeamento de ima- detesto. O trabalho tem muito a ver onde quase toda a gente pode ser  gens de carácter supostamente eró- com isso também. feliz… tico a que somos submetidos, e tentar Uma outra série, a “3.16”, visível Quando os autocarros e os táxis pas-  perceber se era possível criar uma na exposição sob a forma de livro, sam a ser barcos e não há carros pa-  outra coisa baseada nesse exercício. pode servir como exemplo da rece que se está num mundo de fan- Acho que esse bombardeamento é distância que toma relativamente tasia. Estive em Veneza em casa de extremamente agressivo. Quis criar ao fotojornalismo. Escolheu um pessoas amigas: senti neles essa ale- algo que não tivesse esse lado violen- ponto de vista invulgar para gria de viverem e trabalharem nessa to. fotografar a Cimeira das Lajes, cidade; um sentimento que não é co- Quais foram os critérios nos Açores… mum a todos os venezianos, com de selecção, para além dos Para mim a Cimeira da Lajes é o mo- certeza. estabelecidos “a priori”? mento mais triste da história portu- Há nesta série uma obsessão pelos   Quis ter imagens exemplificativas de guesa depois do fascismo. Para além cabelos de mulheres fotografadas         que não havia pudor da minha parte, de ser um momento tristíssimo da de costas e uma imagem por exemplo, no sentido de mostrar própria história da humanidade. O “tipo postal” que completa o o sexo. Quis também fazer retratos. distanciamento tem a ver com isto: conjunto…    Procurei ainda lugares estereotipa- para registar aquele acontecimento Essa é uma fotografia bonita, de fim dos, como a praia, a cama, mas quis através de um trabalho meu não me de dia: um barquinho com uma luz , #(.," * (.(#($ )( fotografar um nu sem produzir uma iria juntar aos 300 ou 400 fotojorna- na proa, a lua cheia no céu e um canal ,+(" **(  coisa que fosse obscena. listas que lá estavam todos metidos de Veneza. E depois quatro cabeças ---+ +*(& *$#$(' %' + Contudo, quando se vê um grande numa espécie de curral, com aquelas de mulheres com os cabelos que bri- plano de uma masturbação teleobjectivas brutais, para tirar re- lham com o flash. São imagens de de- feminina, existe sempre a tratos às pessoas a saírem de aviões. sejo, são imagens belas, bonitas. São questão das fronteiras entre o Acho que é muito mais interessante imagens pacíficas. Não pretendem ser  ! !    pornográfico e o erótico… construir um objecto que faça reflec- muito mais do que isso.             Quis assumir esse risco. Porque não tir sobre a natureza do acontecimen- o fazer seria uma coisa inócua, seria to: fotografei a Base das Lajes à dis- Ver crítica de exposições pág. 38 e segs.

32šI[njW#\[_hWEkjkXhešÒfi_bed O design e a arte ENRIC VIVES-RUBIO dormem juntos No príncípio era uma obra de arte de Ângela Ferreira, agora é um objecto de design de Miguel Rios. “(SUM)one: exercícios de apropriação” é o verdadeiro diálogo muticultural, de Maputo a Lisboa, na Galeria Filomena Soares. Joana Amaral Cardoso Exposições

O que é que um designer diz a uma recente de um país com um pé numa trou os despojos do “para-Governo” Miguel Rios do dos equipamentos para construir artista plástica? E o que é que uma galera e outro no fundo do mar, de que representava o BNU e as lem- apropriou-se o “own private Idaho” de cada um. peça de design diz a uma peça de ar- transformações históricas e dos habi- branças das idas ao banco com o pai da peça de Na “(SUM)one”, já só sobrará um ves- te contemporânea? O que é que um tats que construímos nas nossas casas em Maputo e “da atmosfera retro, Ângela tígio da ligação ao trabalho de Ânge- edifício em Lisboa diz a um edifício multi-funções. De um lado está uma 1960 que tinham” para si. “A sala tem Ferreira, que la Ferreira. “Juncos africanos”, expli- em Maputo? O que é que uma “Mini- instalação escultórica com dois refe- um ambiente arquitectónico muito por sua vez se ca, apontando para um receptáculo kitchen” de 1967 diz a um “(SUM) rentes: a sala do 1º piso do edifício do antiquado e o resto do espaço interior apropriou da branco onde vão ser implantados, no one” de 2009? As respostas seguem antigo BNU e o seu congénere moçam- [escadaria] tem vestígios de ter sido história topo do móvel que a portuguesa Fa- dentro de segundos. bicano, unidos numa moeda tridimen- revisitado nos anos 1950/60 com uma colonial bri virá a comercializar, em preçário Esses segundos já passaram, vive- sional de dez meticais, e uma divisória arquitectura modernista e pela pu- portuguesa de gama alta. É uma peça multiusos: mos em voragem temporal, e eis as que remete para a escadaria do Mude. jança colonial da ideia do BNU, que corporizada móvel, mesa de trabalho, de lazer, de respostas às perguntas que “(SUM) Do outro, um módulo branco multi- era o banco que alicerçava o sistema pelo Mude cozinha ou de jardim, bancada ou one: exercícios de apropriação”, o funções que nos põe a pensar imedia- – por ali passava o dinheiro que era promontório para a web. projecto de Miguel Rios e Ângela Fer- tamente na “Minikitchen” de Joe Co- feito lá, que vinha para cá”, lembra Sem medo da relação com a “Mi- reira, pode levantar a quem entrar lombo, trabalhado por Telma Barrelas, a artista. Depois, olhou para a arqui- nikitchen” original – “Do ponto de na Galeria Filomena Soares até dia 7 designer de produto do atelier Miguel tectura dos edifícios-extensão do BNU vista conceptual foi um risco para e se deparar com duas peças - “(SUM) Rios, e produzido pela empresa FA- nas antigas colónias e quis jogar com mim”, admite Miguel Rios, que assu- one” e “/BNU,/2009” -, num diálogo BRI. isso. Primeira paragem: “Uma moeda me a paixão pelo trabalho de Colom- em surdina. O designer diz-lhe: “Va- Tudo começou quando a directora moçambicana contemporânea de dez bo -, a nova peça é “uma continuida- mos lá colaborar”; a peça de design do Mude convidou Miguel Rios a se- meticais que tem, para sorte minha, de” do trabalho do designer italiano, diz à arte: “Apropriei-me de ti”; o edi- leccionar uma peça do Mude e a es- representada a figura do então BNU honrando questões que ainda hoje fício da Baixa lisboeta onde agora colha recaiu na “Minikitchen”: “Uma de Maputo, agora Banco de Moçam- são pertinentes. mora o Museu do Design e da Moda das minhas peças fetiche”, explica bique”. Problemas processuais impediram (Mude) lembra-se dos tempos em que Rios ao Ípsilon. Daí a pensar em pôr Nasce a ideia do primeiro elemen- “(SUM)one” a apresentação do projecto no Mude, foi sede do Banco Nacional Ultrama- o seu atelier a fazer design de mobi- to da instalação, um aro dentro do actualiza a a sua casa-mãe à distância, mas o dis- rino (BNU) e vê-se a um espelho afri- liário pela primeira vez foi um pulo, qual um edifício tridimensional re- “Minikitchen” tanciamento foi proveitoso, dizem cano chamado Banco Nacional de no qual se fez acompanhar de Ânge- presenta a “economia contemporâ- de Joe Rios e Ferreira. Este projecto, uma Moçambique; a “Minikitchen” de Joe la Ferreira, artista com quem queria nea”, rejeitando leituras de “saudo- Colombo das tangentes da ExperimentaDesign, Colombo olha para a irmã mais nova trabalhar e cujo universo muito mar- sismo que são intensamente reaccio- obriga a olhar novamente para a re- e pergunta-lhe “Onde é que vais pôr cado pela reflexão sobre a arquitec- nárias, conservadoras e lação entre arte e design numa altura o computador portátil?”. Ou coisa tura e o passado colonial português neo-coloniais”. Depois, a peça que em que há exposições de design sem parecida. convidava a novos caminhos. Nascia evoca a escadaria, modernista, “é objectos por Lisboa e em que há O projecto “(SUM)one”, com as as- um projecto que convidava Ferreira uma memória do edifício de Lisboa”, quem continue a espantar-se com a sociações fonéticas e conceptuais que a apropriar-se do espaço do Mude e com referências a Mies van der Rohe metamorfose das peças de design, o próprio nome indica (é a soma de a deixar que ele, Miguel Rios, depois e aos seus espaços circulares que que de repente se vêem estáticas, em dois uns, é alguém, não é bem um “all se apropriasse do seu trabalho. transformaram a primeira peça num “É engraçado como museus, longe das suas vocações fun- in one” como a seminal “Minikitchen” “edifício mesa”. a mesma história cionais. (SUM)one e /BNU,/2009 são, mas antes um “some” in “one”), é A mesa do poder Miguel Rios atalha: “Na altura a enfim, duas peças potenciais. mais simples do que parece. É uma “É engraçado como a mesma história Ângela chamou-lhe uma mesa do po- é lida de dois pontos Um objecto de arte e um objecto apropriação de uma apropriação, uma é lida de dois pontos de vista e este der. É nisso que eu queria pegar”, de design usam agora uma galeria “matrioshka” conceptual que basica- projecto é muito sobre isto”, sorri refere. De “/BNU,/2009” a “(SUM) de vista e este projecto para comunicar. Mas vivem num pa- mente faz conviver um objecto de de- Ângela Ferreira, aproximando-se da one” num salto para os outros anos radoxo: um destes objectos tem como sign industrial com uma peça de arte sua peça. A sua abordagem ao espaço 1960, os do pós-guerra, em que Joe é muito sobre isto” destino genético viver para além do contemporânea. Os dois, juntos, falam do Mude tornou-se óbvia mal entrou Colombo definia que o espaço é o que projecto, multiplicar-se, ser quotidia- de política, de economia, da história no edifício. Naquele espaço encon- um homem quiser, desde que muni- Ângela Ferreira no; o outro não precisa disso.

Òfi_bedšI[njW#\[_hWEkjkXheš33 Há simpósios inteiros sobre “Emilia três anos à procura. Finalmente en- mação artística, formas de subjecti- “Parece que o próprio ainda que ele tenha o seu Lessing na Galotti” no Canadá (e isto é para não contrei a Teresa Tavares e então isto vidade exacerbada, a sexualidade e a escrivaninha: “Já o conhecia como irmos à Alemanha, onde há, mais do fez-se”, explica Nuno M., agora que libido, a produção do desejo e a liber- Lessing se esqueceu teórico da dramaturgia e finalmente, PAULO PIMENTA PAULO que simpósios inteiros sobre “Emilia está feito. Também nós vamos andar dade de escolher a morte”. Há um há uns anos, vieram parar-me às mãos Galotti”, todo um edifício do teatro à procura dela, dentro e fora destes antes e depois deste momento em que da Emilia Galotti. as obras dele. A primeira que li foi nacional construído em cima do ho- cinco actos: “Parece que o próprio o sistema de valores feudais ameaça ‘Nathan, o Sábio’, um texto em que o mem que a inventou, Gotthold Lessing se esqueceu da Emilia Galot- ceder e em que as coisas tal como já Das mais de 20 cenas Lessing cruza as três grandes religiões Ephraim Lessing). E por cá nada. Não ti. Das mais de 20 cenas que tem a não chegámos a conhecê-las (porque monoteístas sem preconceitos, e de- a conhecíamos, nem sequer de vista, peça, ela só entra em três. Parece que para isso teríamos de ter estado vivos, que tem a peça, ela só pois descobri esta pedra preciosa que até anteontem. Depois de, no século aparece só para ser seduzida e para e a encher-nos de bolos, antes da Re- entra em três. Parece é a ‘Emilia Galotti’, um texto que me XVIII e em parte por causa desta ga- se matar”. volução Francesa) têm efectivamente interessa sobretudo pela força da per- rota, Emilia Galotti, Lessing ter posto o ar de não estar para durar. Emilia que aparece só para sonagem feminina. Não quis, de todo, o teatro alemão no mapa da cultura O momento seminal Galotti está exactamente no meio – sublinhar a leitura politica, mas ela europeia, Nuno M. Cardoso põe Les- É uma maneira de falar. Emilia Galot- não no antes, não no depois, mas no ser seduzida e para está lá desde logo no cenário [de Pau- sing no mapa do teatro português – ti aparece, como refere João Barrento preciso momento em que a burguesia lo Capelo Cardoso]”. Emilia Galotti, um sítio onde o fundador do teatro (que fez, por encomenda de Nuno M. começa a abanar, para não deixar pe- se matar. (Mas) é a a mãe (Ana Bustorff), o pai e mesmo moderno em língua alemã nunca ti- Cardoso e dos coprodutores do espec- dra sobre pedra, a pirâmide social a Condessa Orsina (Rita Calçada Bas- nha sido encenado e praticamente táculo, O Cão Danado e Companhia europeia. intensidade dessas tos) dão com a cabeça no muro apa- não tinha sido traduzido. É no Teatro e o TNSJ, a tradução), para ser “a pri- três cenas que rentemente intransponível que come- Carlos Alberto (TeCA), Porto, até 8 de meira figura feminina do teatro ale- Luta de classes ça a rachar – e mesmo que a heroína Novembro. Agora a nossa casa tam- mão (a única no século XVIII) a poder É isso que acontece, com Emilia Ga- precipita tudo o que morra no fim, vemos bem que ela bém é a casa dele. dizer ‘Eu!’” “É a intensidade das três lotti, nesta peça – ela a preferir deixar- abriu caminho, com aqueles “collants” Nuno M. Cardoso anda a ler os ale- cenas em que ela aparece”, continua se matar pelo pai (Carlos Pimenta) do acontece – ela é a vermelhos feitos para andar, a essa mães há anos – só entre o Teatro Na- Nuno M., “que precipita tudo o que que submeter-se à violência do dese- grande construção do século XIX que cional S. João (TNSJ) e o TeCA montou acontece no texto – ela é a única per- jo do Príncipe Gonzaga (Albano Jeró- única personagem é a classe média. Goethe (“Gretchen”, 2003), Fassbin- sonagem que realmente decide algu- nimo), à violência de todo o aparelho É uma bela caminhada, a desta ga- der (“O Café”, 2008) e Brecht (“Baal”, ma coisa aqui, a única personagem a da corte, cujo mais longo braço é o de que realmente decide rota que vê uma saída onde nós vía- 2009) – e tinha “Emilia Galotti” na escapar ao destino e à divina provi- Marinelli, secretário do Príncipe (Di- alguma coisa aqui” mos o abismo, argumenta o encena- cabeça desde 2006 (não juramos, mas dência”. Na proto-história do proces- narte Branco) –, e também é isso que dor: “Não é por não haver uma saída pode ter a ver com isto: era o livro que so de recomposição do teatro alemão acontece, com Lessing, ao teatro ale- Nuno M. Cardoso que ela decide morrer. A morte, jus- Goethe tinha na escrivaninha quando em particular e da sociedade alemã mão. A encenação de Nuno M. Car- tamente, é uma saída”. se suicidou). Esteve este tempo todo em geral, retoma o tradutor no texto doso não está especialmente interes- Agora, se a virmos na rua, já sabe- à procura dela, porque tinha de ser a do programa, “Emilia Galotti” repre- sada nem na leitura política da luta mos dizer quem é Emilia Galotti. Tem rapariga certa: “Tem de ser uma ac- senta “o momento seminal” em que de classes do século XVIII alemão de ser aquela garota que vai à fren- triz jovem a fazer a Emilia Galotti, mas “a família burguesa, com o seu pro- nem na leitura académica do reposi- te. uma actriz jovem com maturidade teccionismo, começa a abrir brechas cionamento do teatro germânico, até técnica e maturidade pessoal. Foram por onde passarão a vontade de afir- aí dominado pelo modelo francês, Ver agenda de teatro na pág. 34 Emilia Galotti vai à frente No século XVIII, Gotthold Ephraim Lessing pôs o teatro alemão no mapa da cultura europeia. Agora, Nuno M. Cardoso põe Gotthold Ephraim Lessing no mapa do teatro português. Quem é esta garota, “Emilia Galotti”? Inês Nadais Teresa Tavares (Emilia Galotti) e Albano Jerónimo (Príncipe Gonzaga): Nuno M. Cardoso, o encenador, andou três anos à procura da actriz certa Teatro

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neutralidade da palavra, envolvidas no movimento queer. “independente da origem, se somos Influenciada por esta postura, a mulheres ou homens”. É o “nós” livre cineasta foi buscar insultos e de “tudo que nos rotula, que nos palavras que em português são cataloga” e nos distancia dos outros. utilizados para discriminar e excluir. Neste espectáculo criado por uma Cada um dos dez intérpretes do cineasta com formação em Direito e espectáculo escreveu num papel Ciência Política fala-se, quatro palavras, na verdade principalmente, sobre “o que nos identidades. Daí surgiram as frases aproxima de toda gente”, que é “o do cartaz. Freire refere-se aos facto de sermos pessoas”. termos “mulher, “paneleiro”, Chegamos à casa da cineasta. “velho”, “puta”, “preto”, “fufa”, Estamos no seu quarto enquanto ela “imigrante” e “trans” como conta como surgiu a ideia de identidades de guerra, termo usado “Nósoutrxs” e do cartaz que é a cara pela sua amiga e filosofa espanhola do espectáculo. O cartaz é preto, Beatriz Preciado: “Somos todos com palavras escritas em branco. guerrilheiros do dia-a-dia. Nele podem ler-se as seguintes Aguentamos tudo, somos declarações em caixa alta: “Sou ciborgues”. Mulher, Sou Paneleiro, Sou Velho, Neste “Nósoutrxs” não há palco, Sou Puta, Sou Preto, Sou Fufa, Sou não há actores, há pessoas que Imigrante, Sou Trans. Diferente és querem encontrar pessoas reais. E é tu, imbecil”. nessa linha entre a realidade e a Raquel Freire passou os últimos ficção que o espectáculo fica na quatro anos a viajar. Parte deste fronteira entre a ficção e o tempo foi passado em Barcelona. documentário: “O cinema tem este Nesta viagem entrou em contacto lado voyeur; aqui o vídeo funcionará com pessoas muito “diferentes”, como produto revelador do segredo activistas e artistas, algumas delas de cada intérprete”.

   

“Em Portugal nós nunca somos os outros. Nós somos nós e os outros são os outros”, diz Raquel Freire

imagem”, com a vantagem de a O outro que mensagem ser enviada rapidamente. Eis porque, em parceria com Marta há em nós Mateus, a voz do colectivo O’queStrada, Raquel Freire criou “Nósoutrxs”, a convite do festival “Nósoutrxs”, que Raquel Temps d’Images. Freire e Marta Mateus O espectáculo que se apresenta, apresentam hoje e amanhã hoje e amanhã, no Jardim de Inverno a convite do Festival do Teatro São Luiz não é uma peça de teatro convencional (de resto, há Temps d’Images, não é aqui cruzamentos com a um espectáculo: é uma performance, a dança e o vídeo). experiência de alteridade. Raquel Freire prefere chamá-lo uma experiência de alteridade: a Cláudia Silva oportunidade de ser o outro, de ser seduzido pelo outro. Também há Nósoutrxs. alteridade no horário de De Marta Mateus e Raquel Freire. “Nósoutrxs” (23h30), na idade Com Com Joana Manuel, Margarida mínima para assistir ao espectáculo     Carvalho, Marta Maria Mateus, (18 anos) e na lotação-limite (50 Marta Mateus, Paula Só, Pol Galofre, pessoas): “Vamos mexer com as #% (%$ Raquel Freire, Sandra Rosado, Vasco pessoas. Há momentos em que o Freire e outras pessoas espectáculo depende do que o maravilhosas. público nos vai dar”, diz a cineasta. (%)/ Raquel Freire frisa, aliás, que %+%(' &  " ' Lisboa. São Luiz Teatro Municipal – Jardim de Inverno. Rua António Maria Cardoso, 38. De 30/10 a “Nósoutrxs” não existe sem o 31/10. 6ª e Sáb. às 23h30. Tel.: 213257640. 10€. público. E é por isso que não há Festival Temps D’Images. ensaios para a imprensa e que a cineasta não quer revelar ao Ípsilon   Descendo a Rua Santa Catarina, a demasiados detalhes. cineasta Raquel Freire vai-nos Podemos trocar algumas ideias  

Teatro/Dança dizendo que está cansada de esperar sobre o assunto, ainda assim: quatro anos para que os seus filmes “Nósoutrxs” vem da palavra  ! *% .  1* ( 1 sejam lançados. “É um desespero. espanhola “nosotros”, e é sobre esse Às vezes quando o filme sai já tens lugar em que nós e os outros outras coisas urgentes para dizer”, aparecemos confundidos, como uma       .-,$ desabafa. Por isso, decidiu identidade difusa. “Em Portugal nós    enveredar pelo teatro, levando com nunca somos os outros. Nós somos  % 0 %   ela o cinema: “É outra forma de nós e os outros são os outros”, diz      expressão, mas também com Freire. O “x” de “Nósoutrxs” indica a

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Este espaço vai ser sobre ele, concordando seu. Que filme, peça de ou não concordando Espaço teatro, livro, exposição, com o que escrevemos? Público disco, álbum, canção, Envie-nos uma nota até concerto, DVD viu e 500 caracteres para gostou tanto que lhe [email protected]. E apeteceu escrever nós depois publicamos. Teatro/Dança

Agenda Teatro Encenação de Graeme Pulleyn. Com Auditório Municipal Eunice Muñoz. R. Mestre de Abel Duarte, Eduardo Correia, Aviz. Até 20/12. 5ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 214408411. Daniela Vieitas, Neusa Fangueiro, Estreiam Paulo Duarte. A Bicicleta de Faulkner Vila Real. Teatro de Vila Real. Alameda de Grasse. De Heather McDonald. Encenação Darwin... Tra Le Nuvole Dia 30/10. 6ª às 22h. Tel.: 259320000. 5€ a 7€. De Luca Boschi, Stefano de Luca e de Rita Lello. Com Maria do Céu Giulio Giorello. Pelo Piccolo Teatro Norma Guerra, Rita Fernandes, Sérgio di Milano. Encenação de Stefano de De Ricardo Alves e Salgueirinho Maia. Moura Afonso, Susana Costa. Pela Palmilha Dentada. Encenação de Lisboa. A Barraca - Teatro Cinearte. Lg Santos, 2. Luca. Com Andrea Germani, Adrea Até 29/11. 5ª a Sáb. às 22h. Dom. às 17h. Tel.: Luini, Clio Cipolletta, Gabrielle Ricardo Alves. Com Ivo Bastos, 213965360. 10€ a 12,5€. Falsetta, Silva Pernarella. Rodrigo Santos. Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Garrett. Porto. Sala Estúdio Latino. R. Sá da Bandeira, 108. Ifigénia na Táurida Pç. D. Pedro IV. De 31/10 a 01/11. Sáb. às 21h30. Dom. Até 15/11. 4ª a Dom. às 21h46. Tel.: 222003595. 4,49€ De Goethe. Encenação de Luis às 16h. Tel.: 213250835. 7,5€ a 16€. a 9,99€. Miguel Cintra. Pelo Teatro da Sabina Freire Figuração Especial Cornucópia. Com Beatriz Batarda, De Manuel Teixeira-Gomes. Pela De Marcantónio Del Carlo. Com José Manuel Mendes, Luis Miguel Companhia de Teatro de Braga e A Marcantónio Del Carlo, João Didelet, Cintra, Paulo Moura Lopes, Vítor de Escola da Noite. Encenação de Rui Henrique Garcia. Andrade. Madeira. Com Sílvia Brito, António Olival Basto. Centro Cultural da Malaposta. Rua Lisboa. Teatro da Cornucópia - Bairro Alto. R. Angola. Até 08/11. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tenente Raúl Cascais 1A. Até 01/11. 3ª a Sáb. às Jorge, Ricardo Kalash, Miguel Tel.: 219383100. 10€. 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 213961515. 15€. Magalhães, Lina Nóbrega, Solange Sá, André Laires, Jaime Soares, Narcisa + Anónima Monólogos da Vagina Carlos Feio. De Eve Ensler. Encenação: Isabel Braga. Theatro Circo. Av. Liberdade, 697. De 30/10 Medina. Com Ana Brito e Cunha, a 13/11. 3ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: Guida Maria, São José Correia. 253203800. 5€ a 10€. Aveiro. Teatro Aveirense. Pç. República. Dia 04/11. 4ª às 21h30. Tel.: 234400922. 12,5€ a 17,5€. Continuam Dança Emilia Galotti De Gotthold Ephraim Lessing. Pelo Cão Danado e Companhia. Estreiam Encenação de Nuno M. Cardoso. Liars Com Albano Jerónimo, Ana Bustorff, Carlos Pimenta, Dinarte Branco, Rita Calçada Bastos, Teresa Tavares. Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. Até 08/11. 3ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 223401905. 5€ a 15€. Ver texto na pág. 34.

Às Vezes as Luzes Apagam-se De Cláudia Varejão e Pedro Gil. Com Beatriz Pessoa, Daniel Duarte, Duarte Águas, Filipa Silva, entre De Ana Luena e Miguel Cabral. Pelo outros. Teatro Bruto e Estufa. Com Margarida Lisboa. Centro Cultural de Belém - Pequeno Gonçalves e Isabel Nunes. Auditório. Praça do Império. Até 30/10. 6ª às 15h e Porto. Fábrica Social - Fundação José Rodrigues. Rua 21h. Tel.: 213612400. 3€. da Fábrica Social. Até 14/11. 5ª a Sáb. às 21h45. Tel.: De Inês Jacques. Com Carlota Corte- Festival Temps d’Images. 96 0211595/960039891. Real, Filipe Pereira, Tiago Barbosa. Lisboa. Centro Cultural de Belém - Sala de Ensaio. Che Cosa O Rosto Levantado Praça do Império. De 31/10 a 1/11. Sáb. e Dom. às De Elsa Aleluia. Com Ana Moreira, De Norberto Ávila. Encenação de José 19h. Tel.: 213612400. 5€. Elsa Aleluia e Miguel Ramos. Russo. Com Álvaro Corte-Real, Ana Festival Temps D’Images. Lisboa. São Luiz Teatro Municipal – Jardim de Meira, Jorge Baião, José Russo, Marco Inverno. Rua António Maria Cardoso, 38. De 5/11 a Silva, Maria Marrafa, Rosário Continuam 6/11. 5ª e 6ª às 23h30. Tel.: 213257640. 10€. Gonzaga, Rui Nuno, Victor Zambujo. Festival Temps d’Images. Évora. Teatro Garcia de Resende - Sala Estúdio. Pç. Materiais Diversos Mamã?! Joaquim António de Aguiar. Até 01/11. 4ª a Sáb. às De e com Tiago Guedes. 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 266703112. Évora. Companhia de Dança Contemporânea de Pelo Peripécia Teatro. Encenação de Évora - Sala Black Box. Rua Anibal Tavares, 2 - Ángel Fragua. Com Noelia Rapariga(s) Zona Industrial Almeirim Norte. Dia 05/11. 5ª às Domínguez, Luis Filipe Santos. De Neil Labute. Encenação de 21h30. Tel.: 266743492. 2,5€ a 5€. Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Estúdio. Almeno Gonçalves. Com André 10º Festival Internacional de Dança Pç. D. Pedro IV. Até 08/11. 4ª a Sáb. às 21h45. Dom. Nunes, Jéssica Athayde, Marta Melro, Contemporânea. às 116h15.6h15. TeTel.:l.: 2132213250835.50835. 112€.2€. NúriaNúria Madruga,Madruga, HeHelenalena LaureanLaureano.o Ek-Statically SaloonSaloon Yé-Yé - Lisboa.Lisboa. Teatro da ComComunauna - Sala das Novas Tendências.Tendências. PPç.ç. Espanha. Até 3131/12./ 5ª De André Mesquita. Com Teresa O Paraíso à a Sáb.Sáb. às 2121h30.h30. TTel.:el.: 2172217217221770.7 15€. Alves da Silva, Guzmán Rosado, EEsperaspera André Garcia, Hugo Marmelada. De Abel Neves. Hedda GGablerabler Viseu. Teatro Viriato. Lg. Mouzinho Albuquerque. Pelo Teatro DeDe HHenrikenrik Ibsen.Ibsen. Dia 30/10. 6ª às 21h30. Tel.: 232480110. 5€ a 10€. RegionalRegional da EncenaçãoEncenação ddee CeCelsol Nortada SerraSerra do Cleto.Cleto. CComom SofSofiaia De Olga Roriz. Com Catarina Montemuro. AAlves,lves, Ana Rocha,Roc Câmara, Rafaela Salvador, Cáudia ElisaElisa LisLisboa,boa, Nóvoa, Bruno Alexandre, Pedro GuilhermeGuilherme Filipe,Fil Santiago Cal. Maria DuDulce,lce, Lisboa. Teatro Camões. Parque das Nações. Até PaPauloulo 31/10. 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: 218923470. 10€ a 15€. RRocha,och Contigo VíVítort de De Rui Horta. Com João Paulo SoSousa. Santos. Oeiras.O Torres Novas. Teatro Virgínia. Largo São José Lopes dos Santos. Dia 31/10. Sáb. às 21h30. Tel.: 249839309. 10€. Festival Y #07. “Darwin... Tra Le Nuvole”, pelo Piccolo de Milão

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O espectador que sai da exposição de Jos De Gruyter e Harald Thys pode acabarabaar imobilizado - como as personagens do vídeo “A Fragata”

qualidades” – no sentido a capacidade de cada imagem Fotografia existencialista da expressão, pois resistir não só à sua trata-se aqui de questionar um descontextualização, mas também sem presente cada vez mais homogéneo, ao confronto com as outras escolhas espelhado na difícil tarefa de o – tem um antecedente: a exposição representar através de imagens que “Paisagens Inúteis”, apresentada na qualidades sobrevivem fora do fluxo global do Culturgest-Lisboa no fim de 2006; consumo. Aqui percebe-se o porém, nessa ocasião, as obras Uma importante exposição paradoxo: no rodapé da tecnologia, apresentadas eram inéditas. uma pobre fita adesiva fornece a A questão da inutilidade, que revisita a obra de Augusto legenda para os botões; contudo, convocada no título dessa anterior Em “Book”, um notável ensaio sobre Alves da Silva. Para ver em esse expediente só faz sentido para exposição com curadoria de Ricardo a sobrevivência dos afectos, cada Serralves. Óscar Faria quem nela inscreveu, a vermelho, Nicolau, pode ser colocada imagem parece corresponder a um maiúsculas e números: o espectador paralelamente a uma interpretação estereótipo e o fotógrafo não deixa continuará sem saber a função das imagens a partir do conceito de de se colocar na condição de Sem Saída, Ensaio Sobre daquela máquina. “fotografia sem qualidades”. É como “voyeur” – há, diga-se, um contrato o Optimismo A enigmática imagem, agora se as obras de Augusto Alves da Silva anterior à produção da série: as De Augusto Alves da Silva. deslocada do seu contexto inicial, foi criassem uma distância com o fotografias só seriam publicadas realizada, em 2001, no Teatro mundo sem nunca dele se depois de aprovadas pela modelo Porto. Museu de Serralves. R. Dom João de Castro, Expos Municipal Rivoli, no Porto e, tal separarem: um paradoxo, no qual (não-profissional), que também 210. Tel.: 226156500. De 23/10 a 31/01. 3ª a 6ª das 10h às 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h. como com as restantes que formam cada instantâneo constitui receberá uma percentagem de uma Fotografia. a série “Síntese”, a sua simultaneamente o testemunho futura venda. São todavia estas descontextualização acrescenta factual de um acontecimento, que, “fotografias sem qualidades”, tão mmmmm ainda mais dificuldades – sobretudo na sua aparente banalidade – uma distantes do lugar-comum do a quem não sabe a origem da mota presa no vértice de uma duna género, que nos deixam perplexos Uma das imagens de “Síntese”, um fotografia –, à sua interpretação. É no deserto, por exemplo –, acaba por tocarem na essência de um núcleo de fotografias escolhidas de que, no percurso expositivo, aquele por sublinhar o absurdo da problema: a rendição do sexo à séries anteriores produzidas por quadro eléctrico é confrontado, na existência. Pode assinalar-se que esfera económica, que fabrica o Augusto Alves da Silva (Lisboa, sua vizinhança, com um vagabundo esse pôr a nu a realidade por vezes imaginário associado quer ao 1963), mostra aquilo que parece ser a fazer um gesto obsceno diante de se confunde com a própria vida, erotismo, quer à pornografia. um quadro de electricidade. A uma loja de Ferraris, umas mãos que como no caso de “Iberia”, agora banalidade do tema, a composição saem de uma piscina ao ar livre revelado: a projecção em grande – a escolha de um plano frontal, emoldurada por bóias e palmeiras, formato de mais de cinco mil Pessoas aproximado, que descontextualiza o uma casa cuja entrada dá para uma fotografias tiradas durante 18 dias, objecto –, a dificuldade em decifrar a estrada em alcatrão, um veado a num percurso realizado de jipe em utilidade dos botões visíveis, fazem olhar para uma cidade, entre outros Espanha. Exercício sobre a imóveis e deste trabalho um exemplo de como trabalhos escolhidos por Augusto paisagem, interminável “travelling” a escolha do assunto é, na obra do Alves da Silva a partir de projectos frontal, este conjunto de imagens objectos que artista, uma espécie de meio para realizados no passado – da também nos fala de solidão, atingir um outro fim, sendo este bibliografia destaca-se a publicação sentimento, aliás, que atravessa a olham Na obra de Augusto Alves muitas vezes um comentário sobre a de um número assinalável de foto- mostra de Serralves. da Silva, a escolha do assunto sociedade contemporânea, os seus ensaios, agora expostos em vitrinas A exposição “Sem Saída” inclui é um meio para comentar absurdos, contradições, nas salas de “Sem Saída/ Ensaio ainda uma série de trabalhos em Uma exposição os absurdos da sociedade desequilíbrios. Pode assim falar-se, Sobre o Optimismo”. O exercício vídeo: “Superfície”, realizado por incontornável de dois contemporânea neste caso, numa “fotografia sem proposto em “Síntese” – pôr à prova ocasião da mostra “Os Dias de Tavira” (2002), constitui um outro artistas vindos da Bélgica. exercício sobre a paisagem, neste José Marmeleira caso a Ria Formosa, no Algarve. Neste meio, há outros trabalhos que Jos De Gruyter e Harald Thys podem ser destacados, nomeadamente pelas suas Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Ed. da CGD. Tel.: 217905155. De 23/10 a 23/12. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das características políticas de 11h às 19h (última admissão às 18h30). Sáb., Dom. e comentário à sociedade do Feriados das 14h00 às 20h (última admissão às espectáculo. São os casos de “Killing 19h30). Time”, um tríptico realizado em Vídeo, Escultura, Fotografia. 1999, “Montra”, de 2003, em que modelos vivos ocupam o lugar de mmmmm manequins numa montra de uma loja de roupas, “What a Blast” (2002) A primeira exposição em Portugal e “Ugly” (2002). da dupla belga Jos de Gruyter (Geel, No percurso expositivo há ainda a Bélgica, 1965) e Harald Thys (Wilrijk, nova série “Book”, instalada nas Bélgica, 1966) é já um dos paredes de ambos os lados de um acontecimentos do nosso panorama corredor do museu. Trata-se de um artístico. Não tanto por trazer trabalho em que Augusto Alves da novidades, mas pela intensidade e Silva decide abordar directamente pela economia com que se dirige ao um assunto há muito presente nas espectador, pela forma como vai suas imagens: a objectualização do paulatinamente, num riso mudo, corpo feminino em diferentes cobrindo aquele de fantasmas. situações, nomeadamente pela Apenas com dois vídeos, algumas publicidade, com a correspondente esculturas e fotografias. banalização e degradação dos Jos de Gruyter e Harald Thys sentimentos provocado pelo trabalham juntos desde os finais dos constante bombardeamento desse anos 80 e têm-se notabilizado no uso género de representações. Não será do vídeo e na produção de por acaso que, no catálogo, a fotografias e instalações habitadas primeira fotografia deste conjunto é por esculturas e objectos. A ausência uma rapariga a bocejar num sofá. de comunicação e empatia entre

38šI[njW#\[_hWEkjkXhešÒfi_bed “Ciineeemaa”, de Annette Messager, é a peça que abre “Silêncios, por Marin Karmitz”

Agenda

Perdigão. R. Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.: Inauguram 217823474. Até 03/01. 3ª a Dom. das 10h às 18h. Pintura, Escultura, Fotografia, Silêncios, por Marin Karmitz Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç do Império Instalação, Outros. - CCB. Tel.: 213612878. Até 10/01. 6ª das 10h às 22h (última admissão às 21h30). 2ª a 5ª, Sáb. e Dom. Jesper Just das 10h às 19h (última admissão às 18h30). Lisboa. Centro de Arte Moderna - José de Azeredo Inaugura 2/11. Perdigão. R. Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.: Vídeo, Escultura, Fotografia, 217823474. Até 18/01. 3ª a Dom. das 10h às 18h. Instalação. Vídeo, Instalação. Batia Suter A Interpretação dos Sonhos Porto. Culturgest. Av. dos Aliados, 104 - Ed. da CGD. De Jorge Molder. Tel.: 222098116. De 30/10 a 09/01. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª Lisboa. Centro de Arte Moderna - José de Azeredo das 11h às 19h. (última admissão às 18h30) Sáb., Perdigão. R. Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.: Dom. e Feriados das 14h às 20h (última admissão às 217823474. Até 27/12. 3ª a Dom. das 10h às 18h. 19h30). Inaugura 30/10 às 22h. Fotografia. Fotografia. Amália, Coração Independente Diários Gráficos. Desenho em Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. do Império Cadernos - CCB. Tel.: 213612878. Até 31/01. 6ª das 10h às 22h (última admissão às 21h30). 2ª a 5ª, Sáb. e Dom. Lagos. CC de Lagos. R. Lançarote de Freitas, 7. Tel.: das 10h às 19h (última admissão às 18h30). 282770450. Até 31/12. 2ª a Sáb. das 10h às 20h. Inaugura 31/10 às 18h. Documental, Pintura, Vídeo, Desenho. Objectos, Outros. Rui Sanches Amália, Coração Independente Castelo Branco. 102-100 Galeria de Arte. R. de Lisboa. Museu da Electricidade. Av. Brasília - Ed. Santa Maria, 100. Tel.: 933180211. Até 19/01. 3ª a 6ª Central Tejo. Tel.: 210028120. Até 31/01. 3ª a Dom. das 15h às 19h. Sáb. das 10h30 às 19h. Inaugura das 10h às 18h. 31/10 às 18h. Documental, Pintura, Vídeo, Escultura, Desenho. Objectos, Outros. Naturalia/Artificialia Índia - Mito, Sensualidade e De Isabel Pereira. Ficção Lisboa. Galeria Pedro Serrenho. R. Almeida e Sintra. Museu de Arte Moderna Colecção Berardo. Sousa, 21A. Tel.: 213930714. De 31/10 a 28/11. 3ª a Av. Heliodoro Salgado. Tel.: 219248170. De 23/10 a Sáb. das 11h às 20h. 11/04. 3ª a Dom. das 10h às 18h. Desenho. Documental, Fotografia, Vídeo, Objectos, Outros. Colectivo [Kameraphoto] De Alexandre Almeida, Augusto Works on Paper Brázio, Céu Guarda, Guillaume De Michael Biberstein. Pazat, João Pina, Jordi Burch, Lisboa. Appleton Square. R. Acácio Paiva, 27 - r/c. Martim Ramos, Nelson D’ Aires, Tel.: 210993660. De 29/10 a 21/11. 3ª a Sáb. das 14h entre outros. às 19h. Évora. Fundação Eugénio de Almeida. Pátio de S. Pintura. Miguel. Tel.: 266748300. De 01/11 a 31/12. 2ª a Sáb. das 10h às 18h. Inaugura 1/11 às 17h. Obras de Paula Rego Cascais. Casa das Histórias - Paula Rego. Av. da Fotografia, Vídeo. República, 300. Tel.: 214826970. Até 18/03. 2ª a XV Bienal de Arte Internacional Dom. das 10h às 22h. Entrada livre. de Cerveira Desenho, Pintura. De Miguel Ângelo Rocha, Marcelo Quick, Quick, Slow Moschetta, João Tabarra, Samuel Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. do Império Rama, Daniel Canogar, entre outros. - CCB. Tel.: 213612878. Até 29/11. 6ª das 10h00 às Lisboa. LX Factory. R. Rodrigues Faria, 103. Tel.: 22h (última admissão às 21h30). 2ª a 5ª, Sáb. e 213143399. De 02/11 a 27/11. 3ª a Sáb. das 15h às 20h. Dom. das 10h às 19h (última admissão às 18h30). Inaugura 2/11 às 19h. Design. Experimenta Design 2009. Pintura, Escultura, Outros. Timeless Desvio Tutti Frutti Para Toda a Lisboa. Museu do Oriente. Av. Brasília - Ed. Pedro Família Álvares Cabral - Doca de Alcântara Norte. Tel.: De Mário Vitória. 213585200. Até 08/11. 6ª das 10h às 22h. 2ª, 4ª, 5ª, Sáb. e Dom. das 10h às 18h. Lisboa. Galeria Arthobler - Lisboa. R. Rodrigues Faria, 13 - Lx Factory (Ed. G. 03). Até 06/12. 4ª a Design. Experimenta Design 2009. Dom. das 15h às 20h. Inaugura 5/11 às 19h. Pace Of Design Lisboa. Picadeiro do Antigo Colégio dos Nobres. R. Escola Politécnica, 60. Até 08/11. 2ª a Dom. das 11h às 20h. Design. Experimenta Design 2009. Lapse in Time Lisboa. Sociedade Nacional de Belas Artes. R. Barata Salgueiro, 36. Tel.: 213138510. Até 08/11. 2ª a 6ª das 11h às 20h. Sáb. das 14h às 20h. Design. Experimenta Design 2009. Mikael Levin - Cristina’s History Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. do Império - CCB. Tel.: 213612878. Até 08/11. 6ª das 10h às 22h (última admissão às 21h30). 2ª a 5ª, Sáb. e Dom. das 10h às 19h (última admissão às 18h30). Fotografia, Instalação, Outros. Pintura, Desenho. The Great Curve De Rui Toscano. Continuam Lisboa. Chiado 8 - Arte Contemporânea. Lg. do Chiado, 8 - Ed. Sede da Mundial-Confiança. Tel.: Anos 70 - Atravessar Fronteiras 213237335. Até 31/12. 2ª a 6ª das 12h às 20h. Lisboa. Centro de Arte Moderna - José de Azeredo Vídeo, Outros.

Òfi_bedšI[njW#\[_hWEkjkXheš39 Exposições

os corpos, o enclausuramento e a enquanto objectos, daqueles seres, circulações, projecções. Como um aparente petrificação das daquelas criaturas que, não sendo diálogo reflexivo entre corpo e personagens (como se forçadas a nem boas nem más, parecem ter palavras, telas e canções, pinturas e uma pausa) são algumas das dificuldades em encontrar a sua vídeos (que são também, situações que encenam, num gesto humanidade (é tentador imaginar frequentemente, videoclips, mas já reminiscente do absurdo surrealista aqui metáfora para a nossa relação lá vamos). e “beckettiano”. com os objectos). Atente-se na série de 11 pinturas Como é habitual na prática dos Incómoda, complexa e eficaz, a realizadas entre 1993-1994. artistas, o lugar da exposição foi arte desta dupla não poupa o Visualmente atraentes, “curtas”, transformado. As salas da galeria de espectador. É que este quando sai, coloridas, por vezes grotescas, com exposições, habitualmente ao reencontrar materializadas nas títulos que parecem servir de separadas, desenham agora dois antecâmaras as esculturas de “Der legendas (“Potato Farm”, “Rosebud” percursos paralelos em dois espaços Schlam von Branst” e as fotografias ou “What do You Want for Xmas?”), fechados. Jos de Gruyter e Harald de “The Frigate”, pode acabar, exibem um estilo figurativo que Thys abrem, assim, ao espectador também, imobilizado. Como as evoca não só a própria pintura mas uma realidade cuja entrada – quase personagens dos vídeos. também o repertório visual da iniciática – acontece à meia-luz e ao cultura de massas. Numa sala longo de duas antecâmaras (as novas contígua, o artista empresta depois salas comunicam entre si), sendo As pinturas são os mesmos títulos a uma série de que numa repousam esculturas canções que são vídeos, datados de 1994, em que altivas sobre plintos, na outra estão canta sobre melodias preexistentes fotografias de um navio. vídeos (“readymades”). As letras são suas e O percurso termina então, usa a voz não para falar, mas para aparentemente, com os vídeos, “The Brrrrain cantar. Torna-se cantor (performer), Frigate” (“A Fragata”, 2007) e “Der De António Olaio. sem deixar de ser artista. Schlam von Branst” (“A Lama do A montagem irrepreensível de Branst”, 2008). O primeiro mostra, Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Ed. da CGD. “Brrrrain” facilita a leitura destes Tel.: 217905155. De 23/10 a 23/12. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das numa sucessão de planos, homens e 11h às 19h (última admissão às 18h30). Sáb., Dom. e “movimentos”. As paredes onde se mulheres, sempre imóveis que Feriados das 14h às 20h(última admissão às 19h30). penduram as pinturas confrontam olham fixamente para uma fragata Pintura, Vídeo. as salas escuras dos vídeos (veja-se, em miniatura. Por vezes as por exemplo, a série de 11 quadros personagens masculinas, de mmmmn “Bambi Is In Jail”, realizada entre semblantes severos, quase 1996 e 1997, e o vídeo homónimo de ameaçadores, olham também para a É logo na primeira sala que a ideia 1997) enquanto os ecos das canções personagem feminina. Mas não há de performatividade se revela em se escutam nos corredores. O movimento, mesmo quando no fim “Brrrrain”, exposição consagrada a ridículo, a caricatura e o humor estão, com os punhos cerrados, António Olaio (1963, Sá da Bandeira, estão quase sempre presentes na diante da mulher. Apenas grande Angola) na Culturgest, com obra do artista, em particular nos planos, fixos, pormenorizados, curadoria de Miguel Wandschneider. motivos das performances musicais, inclusive do barco, para onde todos Dispostos lado a lado, três ecrãs mas também na pintura (“Auto- olham enfeitiçados. Em “Der Schlam mostram, cada um, imagens de retrato”, 2007) – o que não impede, von Branst”, a “acção” decorre numa performances: no Centre Georges pelo contrário, o surgimento de uma oficina onde encontramos Pompidou, em Paris, em 1984; na ironia conciliadora em “What novamente vários homens e Galeria dos Milagres, em Coimbra, Happened to Henri Matisse?”, onde mulheres. Desta vez, olham e dois anos depois; e, finalmente, num Duchamp pergunta pelo autor de intervêm sobre esculturas de barro. contexto um pouco mais ambíguo, “La Femme au Chapeau”, Repetem-se os olhares, as poses e um concerto, nos anos 90, dos porventura saudoso da sensualidade surge, furioso e perturbador na sua Repórter Estrábico, grupo que o das cores (cores que, diga-se, Olaio artificialidade, o som pós- próprio António Olaio integrou “leva”, para nosso prazer, aos seus sincronizado. Não há empatia, enquanto cantor e letrista até 1993. quadros), ou de uma interrogação apenas uma imobilidade inquietante, Em todos, a mesma dança, quase meditada dirigida ao conceito de um embaraço que nos é devolvido. imóvel, risível, que não sai do sítio; saber fazer em “I Think Differently Há uma mulher que chora, há um uma imagem fixa, uma Now That I Can Paint (#1)”, de 2003. rosto irritado, outro ansioso, dois performance. (sobre outras relações É no contexto desta atitude que homens vestidos com o pólo azul- entre as performances artística e deve ser entendida a citação que o bebé do Tintin (afinal, um exemplo musical vale a pena ler “A Brief artista faz do videoclip, já com a perfeito da “imobilidade” da face e History of The Audience”, de Robert colaboração de João Taborda, a um símbolo incontornável da cultura Nickas, publicado em “Prières partir de 1995. Com efeito, os vídeos belga). As esculturas são retratadas Américaines”, Editions Les Presses produzidos a partir desse ano da mesma forma, como se fossem du Réel, França, 2002). incluem com frequência um músico também personagens que olham, É a partir dessa presença que (o próprio João Taborda) e que fitam, ou estranhos “duplos” dos “Braain” parte para propor o seu aproximam-se daquele formato participantes das oficinas, mas a sua fim: relacionar, no mesmo espaço, as audiovisual (é mais evidente a impassibilidade é mais “aceitável”. pinturas e os vídeos de António omnipresença da canção); ao mesmo Na verdade aparentam estar acima, Olaio, sublinhando genealogias, tempo, porém, assumem a qualidade decorativa da pintura e são – na sua dimensão escrita, enquanto “letras” – como que “alternativas” imaginárias às teorias da arte (“Pictures Are Not Movies”, 2005). Ou, se quiserem, apenas canções que podem sem trauteadas, como se estivéssemos a ouvir/ver performances no nosso cérebro. J.M.

“Brrrrain” relaciona, no mesmo espaço, as pinturas e os vídeos do artista-total António Olaio

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Colette: tantas vezes colocada na margem, porque mal lida e arrumada na prateleira dos escândalos e das frivolidades

Ficção e destruí-la. Enquanto a Inglaterra foi ilustres. Mas, posto idiossincrasia, simplesmente uma ilha, assolaram- que Pickwick não está vivem, como dizia na de todos os lados intimações de entre os Tarahumaras ou os Chesterton, “no verão O abrir da viagem, tal como dos confins do caçadores de cabeças do Bornéu, e o perpétuo de serem eles mesmos”. Império chegavam a Roma as que lhe aparece como digno de Passam por ele em desfile mercadorias pelo mar. Nenhum registo está a poucas milhas de inesgotável e inesquecível; postos janela italiano sonhou melhor que Londres, pode o leitor perguntar, bruscamente diante dos olhos, Shakespeare as sufocantes noites com razão: porquê o assento brilham como um centro hiperbólico O milagre é observar o meridionais, de Verona ou outras; e escrupuloso do largo àquela hora? de vitalidade e logo desaparecem. nenhuma outra condição teria A resposta confronta-nos com a Mas o maior milagre é observar o modo como Dickens se podido forjar as alegorias própria natureza do cómico. Foram, modo como a consciência do alça a abranger a vida cartográficas de Robinson e de de resto, as suas virtudes cómicas narrador começa a diferir da de humana, com os seus vícios Gulliver. Após a Revolução que garantiram a Pickwick um lugar Pickwick e do formato narrativo e loucuras. Francisco Luís Industrial, porém, pôde a Inglaterra perpétuo no Olimpo literário. inicial; o modo como o jovem prescindir do mundo imaginado; Qualquer leitor, a sós com o seu Dickens, gradualmente, se alça a Parreira Londres, como uma nova Roma, exemplar, na mesa de café ou no abranger a vida humana, com todos passou a receber (ou a produzir) banco de jardim, está sujeito ao os seus vícios e loucuras, e lhe Os Cadernos de Pickwick materialmente o mundo e tornou-se simpático embaraço de incorrer empresta, como os seus grandes numa gargalhada menos medida. Charles Dickens mais fantástica que ele. Produziu predecessores (Chaucer, Cervantes, Nas sessões de leitura trad.: Margarida Vale de Gato também a sua própria exterioridade, Quevedo, Sterne), aquele faculdade

Livros protagonizadas por Dickens, Tinta da China que deixou de ser o exótico ou de visão simpática que é a marca de longínquo e passou a ser a apoderava-se das audiências a toda a grande arte cómica. mmmmm domesticidade burguesa ou a mesma hilariedade. Eram, em geral, A edição é vistosa. O prefácio de província bucólica. Por essa altura, audiências populares ou pouco Ricardo Araújo Pereira, director da Para os índios com efeito, descobriu-se que ilustradas; mas pertencem a um colecção, tenta não desmerecer o Navajo, a também a velha Albion era “green” tempo em que o homem da rua tom pickwickiano e enfia 26 notas de inteligência media- e, como a ilha de Robinson, digna de ainda se reconhecia numa rodapé num texto de quatro páginas se pelo número de expeditos aventureiros. comunidade de destino e de e meia. É decerto um grande viagens. Só o Destes, o mais ilustre é o senhor experiência mediada pela Narrativa. enriquecimento de Dickens que a viajante era claro. Pickwick. As aventuras deste Nas condições muito mais graves sua relação com o leitor seja mediada Os outros, os cavalheiro iniciam-se sempre com o impostas hoje pelo novo por essa importante figura, e por isso sedentários, mais simples acto imaginável: o abrir Analfabetismo Triunfante, que é o comparece o seu nome na capa e na Qualquer leitor, a sós com o seu produziam um de uma janela. A cada manhã, resultado da escola pública proverbial cinta colorida. É exemplar de “Os Cadernos de balbuciar incompreensível, eram os desperto da sonolência pela luz do “democrática”, em vão inconcebível que tal distinção não Pickwick”, na mesa de café ou no obscuros. Ouvi-los estimulava o sol, o senhor Pickwick abre a janela procuraríamos o equivalente desta contemple a tradutora. Após a banco de jardim, está sujeito ao progresso das trevas e o cair da com vigor rejuvenescido e olha para noção. Também o afectado sub- extraordinária versão dos poemas de simpático embaraço de incorrer noite. Também a literatura de o mundo. Mas este acto, repetido produto que lhe corresponde, Poe, é a segunda tradução numa gargalhada menos espírito iluminista preferiu sempre o vezes sem conta ao longo da conhecido enfaticamente como formidável que Margarida Vale de medida viviajante,iajjante, o úúniconico que vviuiu e narrativa, não é ainda bastante para literatura portuguesa Gato nos oferece este ano. Para ela e poppodeded relatar. É ppelaela que se ocasione a aventura. Para contemporânea, conseguiu já para o senhor Pickwick vão susuperaçãoupperação do espaço isso, tem ele de abandonar o seguro destituir a experiência de leitura de inteirinhas as cinco estrelas. quqqueue o herói universo da privacidade e entrar pela todo o valor de conhecimento. rerrealizaaliza a luz do sol, para que esta lhe Mercê dos esforços de Aristóteles “anagnorhísis”,“aanan gnorhísis”, proporcione a nota vivaz da na Poética, tornou-se possível, para a Esplendores o prpprocessoocesso experiência. Se ficasse em casa, a cultura ocidental, situar a tragédia quequque o levaleva ddaa olhar pela janela que dá para a no domínio do pensável. Mas a ignorânciaiignorância realidade homogénea de todos os catarse própria da comédia da ao ssaberaber e dias, não poderia aquele grande permaneceu sempre como uma zona lhelhe permite espírito devotar-se à observação de de sombra, talvez porque se tenha frivolidade reconhecerreeconhecer tipos e costumes, ou misturar-se com perdido a segunda parte daquele a própria as diferentes sortes e declinações do tratado, que lhe seria dedicada. O séria condição.ccondição. Só carácter humano, como é seu largo de Muggleton e os outros apósapa ós o llongoongo propósito e aspiração. Entrega-se por lugares pickwickianos são um exílio,exe ílio, como isso ao desejo insaciável de viajar e precioso contributo para a É sempre um acontecimento Édipo,Éddipo, de reportar objectivamente toda a dissipação da sombra. O que ali confrontarmo-nos com a podeppode eelele variedade do mundo. fascina Pickwick é a Particularidade. responderreresponder A variedade do mundo concentra- A Particularidade não estabelece escrita excitante de uma das à peperguntargr unta se, por exemplo, em Muggleton. Para fronteiras gradativas, é sempre ela maiores escritoras do século dad EEsfingesfinge ali se dirige Pickwick, numa das suas mesma em toda parte. Portanto, não XX. Mário Jorge Torres expedições, com o fito de presenciar vale a pena ir mais longe. O largo, uma partida de críquete. O narrador, àquela hora, está possuído pelo seu Chéri próprio absoluto: por isso é digno de após enumerar as petições que Colette assento. Ora, um cómico é sempre aquele burgo dirigiu ao Parlamento (trad. José Saramago) aquele que preserva as coisas no seu de Londres, descreve com pormenor Editorial Presença o espectáculo oferecido pelo largo absoluto. Ignora ele que as coisas principal, naquele dia e àquela hora: deixam de existir, que a história mmmmm os tendeiros à porta das lojas, a passa por elas; não entende que elas moradia do médico local, os moços a mudam e já não significam o mesmo. A recente caminho do críquete. Informa-nos Por isso, tropeça em obstáculos que publicação do depois que Pickwick prefere reservar já lá não estão ou colhe flores de um romance de para mais tarde o assento destas campo impossível (também a Colette, “Chéri”, observações (obrigação máscara de Buster Keaton pela Presença, compreendida nos seus deveres de permanece imperturbada: ele é constitui de facto viajante). O narrador, até aqui, imune a todo o acontecer). Pickwick, uma reedição de limita-se aliás a ordenar e de igual modo, contempla um uma tradução de sistematizar esses relatos, e o seu mundo anterior à Queda, onde as José Saramago, escrúpulo impede-o de se desviar coisas e os carácteres, fixados de aparecida inicialmente sob a uma letra que seja de fontes tão uma vez por todas na sua chancela dos Estúdios Cor, e surge

Òfi_bedšI[njW#\[_hWEkjkXheš41 Livros

O percurso biográfico de Miguel-Manso aponta para a deriva, um dos modelos canónicos da vida literária; “Contra a Manhã Burra” tem uma evidente dimensão de viagem e aventura, notas soltas sobre pessoas e lugares

no contexto da estreia da uma escrita que só faz pleno sentido agitar-se numa nespereira, mas adaptação fílmica de Stephen no francês original, com as também delicadas sugestões eróticas Frears, o que justifica a sobrecapa, nasalidades próprias da língua e um e confissões reticentes, como neste reproduzindo uma foto de Michelle sentido mortífero da banalidade, “Casamento de Bangkok”: “disse-me Pfeiffer. dita com absoluta certeza e quase // aprendi o essencial de tailandês / De qualquer modo constitui com despudor. Torna-se dificílimo para não me perder na rua / saber o sempre um acontecimento a traduzir Colette sem cair no ridículo, que vou comer nos restaurantes / hipótese de nos confrontarmos com de tal modo cada palavra faz parte dizer-lhe que a amo // mas não o a escrita excitante de uma das da definição de cenários e figuras, suficiente para / lhe explicar o maiores escritoras do século XX (o de objectos e estados de alma, e porquê // por isso / aponto com o livro aparece numa colecção que Saramago consegue um miraculoso olhar as árvores do pomar / são o inclui uma das obras-primas de equilíbrio que possui a perfeita nosso pequeno resguardo / de Virginia Woolf e que recupera outros noção do risco de arrostar com beleza // seguimos o perfume / ela dos incrivelmente esquecidos, John construções abstrusas e inesperadas: sabe” (pág. 73). dos Passos), tantas vezes colocada “O lábio superior, barbeado de A viagem entre matéria e na margem, porque mal lida e manhã, azulava-se já, e as lâmpadas consciência neste e noutros mundos arrumada na prateleira dos róseas davam um sangue factício à não descamba em catequese escândalos e das frivolidades. boca...” (p. 26). Ou seja, o texto de filosófica, até porque Miguel-Manso Já aqui dissemos, na crítica ao chegada faz todo o sentido para um prefere sempre fazer uma pausa filme, que Colette coloca as suas leitor português, ainda que eivado para um cigarro. A notável e serena personagens numa época de de (compreensíveis) galicismos e de inquietude deste poeta está na transição, em que os esplendores da desnecessários aportuguesamentos recusa deste “tempo de simulacros / chamada Belle Époque parecem apressados (imposições do revisor?): e rarefacção” e na capacidade de ir à comandar as operações de uma “Bulevar” em vez de “Boulevard” descoberta. De fazer as suas estratégia de sentimentos e emoções por exemplo. próprias descobertas: “de Piccard a dificilmente compreensível fora de No cômputo geral, trata-se de uma Cousteau de Jasão a Ballard / e hoje

contexto. E, no entanto, o que faz a edição digna que permite voltar a FILIPE BONITO na lenta esferográfica deste poeta glória do seu estilo passa pela junção desafiar um leitor, bombardeado estreia forte de um momento fugaz. Outros são poemas- em 2ª classe / Linha da Azambuja ao de uma extrema simplicidade com obras menores e com erotismos poeta nascido na piada, fáceis ou deliberadamente cair da tarde / O sol deita-se sobre o narrativa, adornada de uma fáceis, a descobrir os mistérios de segunda metade obscuros. Nos melhores casos, no começo convexo do mouchão / A impecável e rigorosa adjectivação, um fascinante universo moderno e dos anos 1970. entanto, combinam uma crença trinta minutos de Santarém como se de um gosto pelas metáforas caprichosamente inventivo: “O dia Miguel-Manso antiga e antiquada nos poderes da fosse mel (pág. 78). arrojadas, aparentemente deslumbrante restituía ao quarto o nasceu em 1979 e à linguagem poética com uma auto- Acrescente-se que a outra imprecisas e superficiais. A uma seu róseo de flor, as macias beira dos trinta ironia e reticência geracionalmente colectânea, “Quando Escreve primeira leitura, deparamo-nos com tonalidades do Chaplin louro e publicou dois mais óbvias. Há uma expressão Descalça-se”, é ainda melhor que a preponderância de um discurso prateado riam na parede. Chéri notáveis livros de bastante curiosa que nos dá uma boa “Contra a Manhã Burra”, e merece directo, feito de diálogos credíveis e inclinou a cabeça e fechou os olhos, poemas: “Contra a Manhã Burra”, pista: “um delay entre a matéria e a igualmente uma rápida reedição. Já definidores de uma era de requintes a fim de que a memória lhe edição de autor, e “Quando Escreve consciência”. O próprio poema é há algum tempo que esperávamos e detalhes de bom gosto. Contudo, restituísse o quadro da véspera, Descalça-se”, edição da livraria esse “delay”, porque a matéria, que por um novo poeta. onde a romancista atinge a misterioso e colorido como o Trama. As escassas centenas de era um fenómeno exterior, já foi proximidade do génio é nas interior de uma melancia, a cúpula pessoas que acompanham a nova interiorizada, já faz parte da descrições, curtas, pormenorizadas, feérica da lâmpada, e sobretudo a poesia esgotaram com entusiasmo consciência. Economia repletas de uma ímpar riqueza exaltação de que ele, cambaleando, ambas as publicações, pelo que Basta ver como Miguel-Manso vocabular, manejada com uma suportara as delícias… (p. 114). As “Contra a Manhã Burra” volta a dialoga com dois poetas destreza quase barroca: “O arco delícias de Colette estão de novo aí aparecer, agora com chancela da portugueses. Ruy Belo é de algum América delicioso do lábio superior, para quem as quiser descobrir e Mariposa Azual. modo convocado como um iluminado por baixo, retinha nos “saborear”. Só é pena que a capa Todo o percurso biográfico de percursor do “estudo da precisa de seus vértices dois pontos de luz principal (pequeno reparo) tenha Miguel-Manso aponta para a deriva, melancolia”, mas o que é em Belo prateada, e Léa confessou a si optado por um feioso nu feminino um dos modelos canónicos da vida “matéria” e “consciência”? As um segundo mesma que ele se parecia muito de costas, a apelar aos instintos mais literária: estudou Design de estações do ano são matéria ou mais com um deus que com um básicos, ao invés das opções Comunicação e desenho, foi consciência? A passagem do tempo é negociante de vinhos. Sem se literárias evidenciadas. Que bibliotecário e vigilante de museu, matéria ou consciência? É no “New Deal” levantar, colheu delicadamente dos saudades do belíssimo desenho que arranjou biscates, viveu em Paris e “delay” que essas dúvidas se dedos de Chéri o cigarro fumegante ornava a edição original dos andou pelo Oriente. “Contra a exprimem como dúvidas. O mesmo Krugman defende que a e atirou-o para o cinzeiro. A mão do Estúdios Cor! Enfim, marca das Manhã Burra” tem uma evidente acontece com Cesariny: “luzes e adormecido distendeu-se e deixou necessidades de “marketing” nos dimensão de viagem e aventura, achados / dizia // coisas que de crise actual é o fruto do cair como flores cansadas os seus tempos que vão correndo… notas soltas sobre pessoas e lugares. dentro saíam / sabe como é // (…) desmantelamento político dedos afusados, armados de unhas O mundo todo é palco de sabe / a gente pensa que é feita de do edifício legal do “New cruéis, mão não feminina, mas um experiências, e tanto estamos em milhões / de coisas cá dentro mas // Deal”. João Ramos de pouco mais bela do que seria para Poesia Almeirim como em Barcelona, na depois olha o céu aliás / o cimo // o desejar, mão que Léa cem vezes estrada para Góis, em Canterbury ou cimo como uma estrada secreta (…)” Almeida beijara, sem servilismo, pelo prazer Um “delay” no lisboeta Jardim da Parada. Este (pág. 82). Somos feitos de “milhões de a beijar, pelo perfume…” (p. 21). parece um livro manuscrito, quase de coisas”, fora e dentro, na matéria A Consciência de um Liberal e na consciência, e daí estes poemas Se escolhemos esta longa citação, como se tivéssemos em fac-simile os Paul Krugman que vão ao encontro de “luzes e dentre as muitas que valeria a pena As estreias em poesia são cadernos de Miguel-Manso; há uma Presença destacar, tal reside na sua exemplar comunicabilidade directa do vivido achados”. explicitação da carnalidade de um em geral tardias, e já tardava como é raro encontrar. Isso não O mais insólito é a presença de mmmmm discurso sensual, muito à frente do uma estreia com esta força. significa que os poemas tenham uma uma cartografia portuguesa, “o seu tempo (o romance data de 1920), Pedro Mexia legibilidade clássica; pelo contrário, assombro português das O título do livro embora o gosto pelas sinestesias e as eles são formalmente inventivos e descobertas”. Não é patriotismo pode enganar. Paul pinceladas impressionistas e Contra a Manhã Burra inesperados, o seu desenho na nem depuração mitológica, apenas Krugman já era um dar novos mundos ao mundo, viver “preciosas” fizessem jus a uma Miguel-Manso página sempre uma surpresa, têm economista de experiências na “Nova Ásia” que sensibilidade decadentista e pós- Mariposa Azual hiatos e justaposições, numa espécie ideias claras e simbolista em que a escritora se de imagismo boicotado que deve está tanto por descobrir como no palavras fortes insere. Por outro lado, ela dá bem a mmmmn muito a João Miguel Fernandes tempo de João de Barros. Além do antes de ter sido medida da fluência de uma tradução Jorge. mais, Miguel-Manso absorveu a Prémio Nobel em que consegue transferir para um As estreias na poesia portuguesa são Muitos dos textos são anotações, depuração da poesia oriental, a 2008, mas é tudo português “amaneirado” e rigoroso, em geral tardias. Mas já tardava uma às vezes o memorial de um natureza em movimento, pássaros a menos um “liberal”, segundo a

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Segundo o diário na Livraria da Folha e brasileiro “Folha de noutras redes de venda São Paulo”, “Caim” “on-line”. Top de José Saramago, editado no Brasil pela Companhia das Letras, liderou as vendas entre os dias 19 e 25

conotação redutora que se dá em século XX – tal como é citado no por exemplo, nos livros de Richard Ciberescritas Portugal a quem defende uma livro – os dez por cento da população Yates ou na série televisiva menor intervenção do Estado. mais rica detinham 44 por cento do “MadMen”). Uma prosperidade De chorar por mais A tese essencial deste “liberal” rendimento nacional. E a elite correspondeu a uma moderação na – ou seja, anti-conservador no abastada de um por cento da política, um esbatimento das ideias sentido norte-americano da palavra população possuía 17 por cento do políticas entre os partidos – é, precisamente, a de que existe rendimento criado. Em 2005, por democrata e republicano. Os oi ao som da velhinha canção “Dança mas não um paralelo efectivo entre os incrível que pareça, as percentagens republicanos tinham desistido de encosta” de Linda Batista (1940) que andei a Estados Unidos dos primeiros anos eram as mesmas. destruir o “New Deal”. vaguear pelo portal do Instituto Moreira Salles do século XX e os Estados Unidos de A sociedade desigual dos Mas o que pode ter acontecido F(IMS). Era a música do dia. Este instituto sem hoje. E que essa semelhança começa primeiros anos 20 do século XX era entre os dois períodos da história da fins lucrativos foi fundado, em 1990, pelo nos níveis de desigualdade social e, uma economia desregulada e que principal economia do mundo para embaixador e banqueiro Moreira Salles (1912-2001) e consequentemente, culmina na politicamente deixou um sector que se voltasse a uma mesma possui um importantíssimo acervo fotográfico (550 mil necessidade do regresso das financeiro sem rédea transformar situação social? fotografias), musical (100 mil músicas) e ainda uma políticas seguidas nos anos 30, uma crise económica numa Grande Krugman defende que a crise Isabel biblioteca (400 mil itens) e uma pinacoteca (mais de três quando Franklin D. Roosevelt Depressão. As políticas do “New actual é, precisamente, o fruto do Coutinho mil obras). Na área editorial, além de livros e catálogos de (presidente dos EUA de 1933 a 1945) Deal” criaram então uma teia de desmantelamento político desse arte, publica também a série Cadernos de Literatura introduziu fortes regulamentações regulamentação financeira que edifício legal do “New Deal”, Brasileira e a revista de ensaios “Serrote”. Três das económicas e sociais (”New Deal”). impediu os desmandos de um sector durante o último quarto do século edições destes prestigiados Cadernos foram dedicados a À primeira vista, parece uma ideia financeiro ávido de ganhos rápidos e XX. Euclides da Cunha, Clarice Lispector e Carlos Heitor exagerada. Mas a desigualdade arriscados, egoísta e despreocupado O sistema financeiro passou a Cony. E neste portal, agora inaugurado, podemos ter social é, na sua base, apenas riqueza com os efeitos a prazo caso a música depender cada vez mais daquilo de acesso à descrição de cada caderno, a uma cronologia de mal distribuída que, depois, como deixe de tocar. um conjunto de instituições cada escritor, a uma secção intitulada “geografia pessoal” uma força invisível, se multiplica Os depósitos bancários foram estruturados para evadir-se à onde se podem ver fotografias publicadas em cada uma transversalmente numa miríade de segurados, a banca foi impedida de regulamentação. Paraísos fiscais, destas edições. efeitos disseminados pela sociedade, riscos excessivos, evitou-se a corrida balcões “biombos”, contabilidades Foi ao som da velhinha Estão lá também pela psicologia colectiva e individual aos balcões que caracterizou os anos dúbias, supervisões fragilizadas, leis testemunhos. É magnífico o e queque redunda numa espiralespiral de 1931-32 e ququee levou à pupulverizaçãolverização de fracas que permitiram produtos canção “Dança mas texto “Clarice” por Ferreira iinfelicidade,nfelicidade, numa sociedade ppoupançasoupanças privadas e colocou financeiros sem cobertura de activos Gullar (“ela parecia uma ddoente.oente. mmilhõesilhões de pessoaspessoas na pobreza. A reais, multiplicados sem fim em não encosta” de Linda loba –uma loba fascinante. Nos pparar desses novos obstáculos à sistema de apostas. E que no fim (...) Saí dali meio atordoado, pprimeirosrimeiros exexpansãopansão financeira ampliaram a desigualdades social. Batista que andei a com aquela imagem de loba vvinteinte ddesenfreada,esenfreada, foram “Não foi por acaso, a na cabeça. Imaginei que, aanosnos llançadasançadas as bases de uma desregulamentação dos mercados vaguear pelo portal do se voltasse a vê-la, iria me ddoo pprotecçãorotecção social de financeiros ajudou os ricos a ficar Instituto Moreira apaixonar por ela”) e também qquemuem se encontrava no mais ricos”. E tudo se agravou o de Ruy Castro sobre Heitor fim ddaa cadeiacadeia social.social. quando a bolha rebentou. Salles Cony - Ruy nunca deixou de “Os EstadosEstados UnidUnidosos Krugman conta que começou por “cobrar” ao amigo ter ficado ddoo pós-guerra eram, pensar que a causa de tudo estaria tantos anos sem publicar depois de “Pilatos”. acima de tudo, uma no facto de o Partido Republicano Podemos ler dois poemas inéditos de Euclides da ssociedadeociedade de clclasseasse ter se colado às posições da elite em Cunha e ver imagens dos manuscritos de “A Hora da média”média”,, escreve ascensão desde os anos 80, fazendo Estrela” de Clarice Lispector. KKrugman.rugman. Os salários sua agenda coincidir com as do Mas quanto mais se vagueia, mais preciosidades se ccresceramresceram e retiraramretiraram Governo norte-americano, para se encontram. Como o espólio da poeta Ana Cristina Cesar mmilhõesilhões de pessoaspessoas dos tornar o partido dos vencedores. (1952 – 1983) está no IMS, uma das secções do “site” babairros-de-latairros-de-lata urburbanosanos e Mas chegou à conclusão de que “a é-lhe dedicada. Além de se poderem ler excertos da ddaa pobrezapobreza rural (entre mudança política sob a forma de sua correspondência, temos acesso a leitura de poemas eles os paispais de Paul uma crescente polarização foi uma (Eucanaã Ferraz lê o poema “A teus pés”, Antonio Cícero KKrugman).rugman). Os ricos das causas principais para o Instituto Moreira lê “Inéditos e Dispersos”). Outro espólio do instituto é o pperderamerderam terreno. Era uma crescimento da desigualdade”. Salles de Lygia Fagundes Telles. Numa entrevista, a escritora sociedade mais equilibraequilibra e Houve um extremar das posições do http://ims.uol. conta: “Eu sempre digo que comecei a escrever antes de fefeliz.liz. ÀÀss vvezesezes ideário republicano, a tal ponto que com.br saber escrever. Não é charminho de escritor, não. Falo monotonamente felizfeliz,, como era passou a haver uma razão de ser assim porque antes de ser alfabetizada eu já contava a “vidinh“vidinha”a” dosdos subúrbiossubúrbios para a clivagem entre os termos Euclides histórias. Eram histórias que eu ouvia das minhas uurbanos,rbanos, demasiado receosos da “liberal” e “conservador”. da Cunha pajens. Essas pajens eram moças desgarradas que pperdaerda da felicidade conseguida, O livro leva o leitor a percorrer a http://ims.uol. minha mãe arrebanhava. Eu gostava disso, uma coisa cconservadoraonservadora e ssolitáriaolitária evolução da ideologia republicana e com.br/hs/clb/ meio medieval, de princesa, ter pajem. Pois bem: eu ((comocomo se lêlê,, a chegada ao poder da sua linha clbeuclides/cl- comecei contando para as outras crianças as histórias dura. Essa foi a marca dos últimos beuclides.html que ouvia das pajens. Mas sempre mudava um pouco o anos do século XX que redundou que tinha escutado e, quando repetia, mudava de novo.” num paulatino desmantelamento Clarice Lispector E como se não bastasse a própria lê excertos das suas das estruturas do “New Deal” e http://ims.uol. obras (“As Formigas” e “A estrutura da bolha de sabão”). encorajou as empresas a lançar um com.br/hs/clb/ Maravilhoso. ataque sem quartel ao movimento clbclarice/clbcla- É impossível não se ficar rendida à obra do fotógrafo sindical, reduzindo drasticamente o rice.html Marcel Gautherot, nomeadamente às fotografias que fez poder de negociação dos a pedido de Oscar Niemeyer da construção da cidade de trabalhadores, ao mesmo tempo que Carlos Heitor Brasília. inflacionavam os vencimentos dos Cony Todas as terças-feiras ficam disponíveis novidades na gestores. http://ims.uol. Rádio IMS onde se ouvem raridades da música brasileira Este é um livro essencial para com.br/hs/clb/ do acervo do instituto. Agora está Carmen Miranda compreender uma tendência que clbcony/clbcony. a cantar Dorival Caymmi e a dizer “quando você se acabou exportada por todo o html requebrar caia por cima de mim”. Só falta este aviso: mundo. Mas ainda mais importante quando se entra no “site” do Instituto Moreira Salles para perceber o actual “braço-de- (Ciberescritas já é dificilmente se tem vontade de sair de lá. Não se sente o ferro” entre a tentativa de um blogue http:// passar das horas. regulamentação da sociedade e as blogs.publico.pt/ Krugman leva o leitor a percorrer a evolução da ideologia resistências que se estão a levantar a ciberescritas) [email protected] republicana e a chegada ao poder da sua linha dura esse “New Deal”.

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A Planeta publicará em português-inglês, com Novembro “Camões- organização e tradução Sonetos e Outros de Richard Zénith. Edição Poemas”, em Além de ilustrações de edição João Fazenda tem um

Livros bilingue, prefácio de Vasco Graça Moura. Estará nas lojas a 19 de Novembro.

A dominação económica, “O Ombro”, obra coordenada pelos cirurgiões António Cartucho e João Espregueira-Mendes, é o primeiro a loucura belicosa, o livro português que aborda toda a patologia do ombro, reunindo contributos de mais de 30 especialistas nacionais nacionalismo, o totalitarismo ou o racismo estão na origem de História um debate tão antigo como a própria perguntas o “porquêê ddee uma gguerrauerra muitas rupturas; o História. A procura de espaços vitais, de cem anos entre a FranFrançaça e a ressentimento, explica-nos a dominação económica, a loucura Inglaterra” ou as razõesões pepelaslas quais Marc Ferro, explica outras tantas Um outro belicosa de um general ou de uma franceses e alemães se confrontaramconfrontaram geração, ou, em tempos mais por três vezes entre 18701870 e 1945 é recentes, o nacionalismo, o matéria suficientementeente complexa mmotoro da totalitarismo ou o racismo estão na para requerer outra proprofundidade.fundidade. origem de muitas rupturas. O Pegue-se, no entanto,nto, neste llivroivro HistóriaHis ressentimento, explica-nos o mais como obra de divulgaçãodivulgação, que o veterano historiador francês Marc é na sua essência, e não tanto como bom instrumento para se perceber Ferro, explica outras tantas. As ensaio de um historiador consagrado melhor algumas das realidades do NemN só de grandes razões parecem ser óbvias: “A (Ferro é talvez o mais eminente nosso tempo. Tamanha utilidade iideias ou de pequenas experiência de voltar a viver a ferida representante da terceira geração da deveria ter merecido uma tradução ganânciasg se fez o do passado é mais forte do que a escola dos Annales, cuja revista co- mais capaz e, principalmente, uma mundo:m sentimentos vontade de a esquecer. E assim a dirige, e é director de estudos da melhor revisão de texto. A existência do ressentimento mostra École dês Hautes Études en Sciences proliferação de gralhas e as prosaicospros como a inveja como é artificial o corte entre o Sociales). Vistas assim as coisas, a deficiências da tradução são a grande oou instinto de vingança passado e o presente, que deste sua leitura é altamente pecha desta edição. tiveramt aí o seu papel. modo vivem um no outro, tornando- recomendável, especialmente no se o passado um presente mais capítulo dedicado à “Memória ManuelM Carvalho presente que o presente”. A Nacional”. O caso da Polónia, “uma Medicina O RessentimentoRess na História constatação dos factos, também se alma em busca de um corpo”, como a viu Lord Acton em 1862, é talvez o MarcMarc FFerroe consegue com facilidade: veja-se que melhor exprime toda a tese do Ombros (Trad, TTelmae Costa) como o Tratado de Versalhes que autor. A Polónia que “salvou a Teorema,Teorema, €15 determinou o final da I Guerra Mundial continha nos seus termos os Europa” por quatro vezes (quando Todos somos candidatos mmmnnmmmn germens do ressentimento sobre os libertou Viena do ataque otomano quais o nazismo se construiu e a II em 1638, quando travou o exército a lesões ou traumatismos, O que fafazz mover a História é alvo de Guerra Mundial se moldou. bolchevique de Pidelski às portas de inclusive no trabalho Num livro que se lê em algumas Varsóvia em 1920, quando contribuiu intelectual. Jorge Almeida horas, Ferro balança entre a como nenhuma outra nação ocupada explicação da causalidade do para combater os nazis em 1939-45 e Fernandes ressentimento e as suas quando, finalmente, ajudou O Ombro decisicamente a Europa cristã a consequências. Por um lado, invoca António Cartucho e João expurgar o comunismo em 1989), a factores de natureza pessoal ou Espregueira-Mendes (coord.) Polónia esperava finalmente ser colectiva, experiências individuais Lidel ou memórias comunitárias para nos reconhecida quando o muro de situar nos múltiplos contextos em Berlim caiu. Mas “foi Gorbatchev que A ortopedia é uma que o ressentimento de funda e a Europa, Alemanha incluída, área médica em desenvolve. Por outro, recorre a uma festejou... De novo se alimenta um exponencial enorme gama de sucessos históricos profundo ressentimento em relação progresso técnico- nos quais a “teoria” do à Europa”. Que ainda se constata na científico, com um ressentimento de consolida. O recente política europeia: “Enquanto público cada vez confronto entre escravos e senhores, o francês Chirac, o alemão Schroeder mais largo, entre judeus e cristãos, entre cristãos e o russo Putin condenavam a decorrente de e protestantes, entre ingleses e invasão americana no Iraque, foi a múltiplos factores, franceses, entre franceses e alemães, Polónia que enviou tropas para do aumento da prática desportiva ao a instigação do ódio classista e do Bagdad respondendo ao apelo de facto de as pessoas viverem hoje espírito de vingança na Revolução George W. Bush”. muito mais tempo. A medicina Francesa ou na Revolução de Revelado como um vírus que desportiva desempenha nesta área Outubro de 1917 (nas quais o dificilmente se erradica das um papel dinâmico, exigindo e ressentimento foi sociedades, o ressentimento financiando a criação de novas “instrumentalizado”) são alguns dos cristaliza-se num sofrimento que “rói técnicas, da imagem à cirurgia, que exemplos com os quais Ferro homens e mulheres como um depois são difundidas e fundamenta a sua ambição essencial cancro”. Pode, no entanto, ser generalizadas. A lesão de um ombro nesta obra: a de explicar o curado. “A História soube dar provas pode provir do envelhecimento, de ressentimento como um dos de virtudes terapêuticas, desde que um traumatismo na estrada, no principais motores da História. não esteja à política de Estados”, estádio ou no trabalho, inclusive no Consegue-o? A ligação entre a escreve Ferro. Aí, os historiadores trabalho intelectual, como andar origem e a consolidação dos tiveram um papel fundamental para repetidamente a tirar livros ou pastas processos de ressentimento “expurgar agravos” entre turcos e de uma estante durante uma colectivos e os acontecimentos nos arménios, entre chilenos e investigação. quais se cristalizam nem sempre é bolivianos, entre franceses e “O Ombro”, obra coordenada feliz e convincente. Nos capítulos alemães. Enquanto “matriz de pelos cirurgiões António Cartucho e dedicados aos escravos e ao ideologias contestatárias tanto de João Espregueira-Mendes, é o colonialismo, por exemplo. Em esquerda como de direita”, porém, o primeiro livro português que aborda primeiro lugar porque, como em ressentimento não desapareceu. toda a patologia do ombro, reunindo todas as teses redutoras da História, Pelo contrário, adverte o historiador contributos de mais de 30 o factor do ressentimento não hoje com 85 anos, “o aperto das especialistas nacionais, ortopedistas, prescinde da conjugação com outros grilhetas imposto pelo fisiatras, reumatologistas e contextos para se fundamentar. desenvolvimento da globalização, fisioterapeutas. É um trabalho Segundo, porque há momentos em não pode deixar de multiplicar os dirigido aos profissionais de saúde e que uma certa brevidade focos de ressentimento, como bem do exercício físico. O livro é hoje argumentativa (o livro não tem 200 demonstra a experiência do século lançado no Porto, durante o páginas e o tamanho do caracter é passado”. Congresso Nacional de Ortopedia. Os mais do que generoso) deixa no ar Fácil de ler, erudito sem exigir direitos de autor revertem para o uma certa sensação de insuficiência. grandes bases teóricas prévias, “O financiamento de investigações e Uma obra que pretende responder a Ressentimento na História” é um estágios.

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Pop pensava-se que não houvesse ali Ludovico Einaudi traz as paisagens tanto sentido de non-sense e talvez o nocturnas de “Nightbook” ao CCB homem desse o salto para as tabelas O esquizo- de vendas a grosso em vez de andar a mourejar pela venda a retalho. Mas já então havia sinais de que o frénico homem estava-se marimbando para a ordem do dia – e pelo meio das de serviço suas exímias produções encetava colaborações com Jane Birkin e Charles Aznavour, demonstrando Na Culturgest teremos o um inusitado amor pela velharia Gonzales pianista - se o que louvável. Foi em 2005 que a se aproxima mais de Satie esquizofrenia de Gonzales se tornou explícita, com o lançamento de ou o que se aproxima mais “Solo Piano”, um disco cujo nome desconhecimento, quase numa piano soava como numa catedral de Billy Joel, veremos. não podia ser mais claro: era citação involuntária de William mas numa situação estranha. Essa João Bonifácio Gonzales e um piano, Blake. “O que eu vejo é-me familiar”, nova luz que emanou do concerto estranhamente calmo e melancólico, disse Einaudi, “mas parece-me ao pareceu-me pronta para se Gonzales como um bluesman entrando pelos mesmo tempo estranho. É como um transformar num álbum.” territórios de Satie. Por isso não é sonho – onde tudo pode acontecer.” Nascido em Turim, a 23 de Lisboa. Culturgest - Grande Auditório. Rua Arco do Cego - Edifício da CGD. 3ª às 21h30. Tel.: 217905155. surpresa que no ano passado, com A inspiração para o disco surgiu-lhe Novembro de 1955, antigo aluno de 18. “Soft Power”, ele tenha escrito um em 2006, quando tocou no Hangar Berio, Ludovico tem mesclado na sua típico disco de “song-writer” de final Bicocca de Milão rodeado pela carreira as raízes da tradição clássica O que raio aconteceu a Gonzales? dos 70, com muita pianada pop, “assombrosa” instalação “Sete com elementos da pop e outros Quando apareceu, em 2000, com cordas sintetizadas, refrões Palácios Celestes”, do artista plástico géneros contemporâneos. Em “Gonzales Uber Alles” era uma bordejando o azeiteiro na alemão Anselm Kiefer: “No final, o Portugal já tocou e trocou espécie de MC branco, a brincar com companhia. a soul, o jazz, a pop de Que Gonzales teremos na terça- sintetizadores. “The Entertainist”, feira? Não o rapper, mas o pianista. desse mesmo ano, com uma capa à Se o que se aproxima mais de Satie cantor de charme dos anos 70 (a ou o que se aproxima mais de Billy lembrar Tom Jones sob os focos Joel, logo veremos. O melhor é luminosos de um palco em Kansas fazerem de conta que estão numa City), mantinha a figura clownesca, aula prática de esquizofrenia. que se apropriava da música dos negros e construía um one-man- show de humor pleno de irrisão. A luz que Gonzales era, por esses dias, vem da noite “über cool”: era amigogp e produtor de Peaches e Jamie Lidell, dois LudovicoLudovico Einaudi Sexteto provocadores com material dançável CComom LuLudovicod Einaudi (piano), no sangue, escrevia para a amiga FeFedericoderico Mecozzi (violino e Feist, reinava na ppistaista de gguitarra),uitarra), Mauro Durante (violino e

Concertos dança,dança, espalhava ppercussão),ercussão Antonello Leofreddi glamour ((viola),viola), MarcoM Decimo (violoncelo), propositadamentepropositadamente RoRobertbert LippokLi (electrónica). fatelafatela ppelaselas Lisboa.Lisboa. CentCentror Cultural de Belém - Grande rrevistasevistas in.in. Era o Auditório.Auditório. PraçaPr do Império. 2ª, dia 2, às 21h. Tel.: ““prankster”prankster” mais 213612400. 220€0 a 45€. admiradoadmirado do mmundoundo ee,, ao Em temtempop de Notebooks, o pianista terceiro discodisco,, e compositorcompos italiano Ludovico ““PresidentialPresidential Einaudi traz-nostr um “Nightbook” Suite”,Suite”, em formaforma de disco e de concerto. Não é só uum trocadilho, ele compôs aass ddozeoze faixasfa deste seu novo disco dduranteurante a digressão anterior, pprecisamenterecisam nos espaços em que fez ddaa ssolidãool nocturna um enorme camcampopo criativo.cr “Um computador”, ddiziz LudovicoLudov via telefone, “é também comoc uma folha de papel onde podemosp escrever os nossos pepensamentos, a nossa voz, as nossasn ideias. Este ‘Nightbook’‘ é um apanhado dosd meus pensamentos As mãos de Gonzales - pelo menos de Gonzales na sua sobresob a noite, que para mim é última encarnação - foram feitas para tocar piano a zonaz da nossa alma mais ligadalig à poesia, ao desejo, aos sonhos,so à parte de nós que maism se aproxima do infinito.”infi Já tinha descrito, antes, esta ““paisagempaisa nocturna” como um lugar sitsituadou algures entre a luz e as trevastrevas,, o cconhecimento e o

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Cristina Branco ainda na estrada com “Kronos”

Concertos Todas as expectativas perante o próximo concerto de Sokolov na Gulbenkian

FhjnFFhhjnjn Peter Murphy vezes três: Ílhavo, Lisboa e Porto

experiências em 2006 com clássica, o maliano Aveiro mas redimiu-se dando mais (longo) tema é entrecortado por no programa duas obras de Rodrigo Leão, a quem elogia a forma ficou ainda mais tarde um tremendo espectáculo em explicações do significado cultural envergadura — a Sonata em Ré como junta “modernidade e mundialmente Sines. No ano passado não só do instrumento como do Maior, D. 850, de Schubert, e a tradição”, mas actuou também em famoso quando voltou, 20 anos tema. Música e pedagogia, portanto. Sonata em Fá menor, op. 14, de espectáculos a solo. E é a solo que colaborou com o seu depois, a gravar um J.B. Schumann — que serão certamente volta, apresentando-se pela primeira conterrâneo Ali disco exclusivamente objecto de clarividentes vez em sexteto, ao lado de Federico Farka Touré em “In dedicado à kora, interpretações, tendo em conta as Mecozzi (violino e guitarra), Mauro The Heart Of The demonstrativo das Clássica provas dadas pelo pianista no Durante (violino e percussão), Moon”, em 2005. suas imensas universo destes dois compositores. Antonello Leofreddi (viola), Marco Um ano depois, habilidades: Vencedor do Concurso Decimo (violoncelo) e Robert Lippok lançou o fenomenal uma lírica Um pianista Tchaikovsky de Moscovo com (electrónica). Durante o concerto, “Boulevard de arrepiante mas apenas 16 anos, Sokolov é haverá manipulação de imagens ao l’Indépendance” com contida tocado pelo actualmente considerado um dos vivo, um trabalho entregue Matteo a sua Symmetric construindo maiores pianistas vivos. A sua forte Ferroni. A luz que ele foi buscar à Orchestra, um mantras lentos génio personalidade e inspirada noite, desejava vê-la estender-se ao combo de mais mas plenos de imaginação é apoiada por uma universo. “Devia haver maior de dezena e ritmo, prenhes técnica exímia em que todos os aprendizagem de música nas escolas. meia de de hipnotismo. O mítico pianista russo parâmetros pianísticos surgem É importante para o mundo, para o músicos cuja Pudemos ver Grigory Sokolov interpreta elevados a um enorme grau de espírito, para todos. Uma educação música de esse concerto perfeição. Um apurado sentido musical forte é essencial à vida.” fusão é no Centro Schubert e Schumann na estético, que inclui uma plena Nuno Pacheco inclassificável Cultural de Gulbenkian. consciência do universo sonoro que (de Belém e é a isso Cristina Fernandes deu origem a cada obra, faz com que A kora em todos extraordinária). que tiremos Sokolov se transfigure num pianista Toumani direito agora: uma Grigory Sokolov diferente em cada peça que faltou a um demonstração das interpreta. os seus estados Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian - concerto da potencialidades da Grande Auditório. Avenida de Berna, 45A. 2ª, dia 2, O seu repertório é amplo, com Toumani Diabaté Symmeetric kora, em que cada às 19h. Tel.: 217823700. 15€ a 30€. uma forte preferência por Bach, Orchestra em Beethoven, Chopin, Schubert ou Lisboa. Cinema São Jorge - Sala 1. Av. Liberdade, 175. Obras de Schubert e Schumann. Hoje, às 21h30. Tel.: 213103400. 20. pelos mestres russos. É também dos Há vários anos que o pianista russo poucos intérpretes actuais a tocar no É o grande mestre da kora, espécie Grigory Sokolov (n. 1950) é uma piano moderno música de harpa africana com 21 cordas. O visita assídua na Gulbenkian, na intrinsecamente ligada ao cravo seu disco de estreia, “Kaira”, de Casa da Música e em alguns festivais como as peças de Byrd, Rameau ou 1988, foi o primeiro inteiramente Toumani Diabaté de regresso portugueses, mas essa regularidade Couperin. Os compositores recentes dedicado àquele instrumento – para mais uma magistral lição de kora de apresentações não diminui as encontram-se normalmente Toumani tornou-se de imediato uma expectativas que se geram em torno ausentes, mas para Sokolov toda a estrela da “world music”, encetando de cada nova actuação. A próxima boa música é música infindáveis digressões pelo Velho será já na segunda-feira, às 19h, no contemporânea: “Não faço uma Continente. Músico de formação Grande Auditório Gulbenkian, e terá divisão entre música contemporânea Agenda

Auditório. Praça do Império, às 21h. Tel.: 213612400. Portimão. Teatro Municipal de Portimão - Pequeno às 22h. Tel.: 213240580. 20€ a 50€. Skunk Anansie Sexta 30 12,5€ a 15€. Auditório. Largo 1.º de Dezembro, às 21h30. Tel.: Porto. Coliseu do Porto. R. Passos Manuel, 137, às “The Power Of Music” - encerramento 282402475. 10€. António Pinho Vargas 21h. Tel.: 223394947. 26€ a 34€. Peter Murphy do Ano Häendel. Lisboa. Culturgest. Rua Arco do Cego - Edifício da Brad Mehldau Trio CGD - Grande Auditório, às 21h30. Tel.: 217905155. Kings of Convenience + Javiera Ílhavo. Centro Cultural de Ílhavo - Auditório. Av.25 Ver texto na pág. 22. de Abril, às 21h30. Tel.: 234397260. 20€. Estarreja. Cine-Teatro Municipal de Estarreja. Rua 18€. Mena do Visconde de Valdemouro, às 21h30. Tel.: Lisboa. Coliseu dos Recreios. R. Portas St. Antão, 234811300. 10€ a 16€. Três Cantos JP Simões Jeanne Balibar 96, às 21h. Tel.: 213240580. 20€ a 40€. Faro. Centro de Artes Performativas do Algarve Lisboa. Lux Frágil. Av. Infante D. Henrique, Armazém Com José Mário Branco, (CAPa). R. Frei Lourenço de Santa Maria, 4, às A, às 23h. Tel.: 218820890. Tora Tora Big Band + Sérgio Godinho, Fausto Bordalo 21h30. Tel.: 289828784. 6€. Ver texto na pág. 24 e segs. OliveTreeDance + Ori Shotnez + Dias. Quinta 5 Tiago Santos Porto. Coliseu do Porto. R. Passos Manuel, 137, às Nico Muhly + Sam Amidon Cave + Häsqvarna Emilíana Torrini Lisboa. MusicBox. R. Nova do Carvalho, 24 - Cais do 21h30. Tel.: 223394947. 15€ a 50€. Lisboa. Galeria Zé dos Bois. Rua da Barroca, 59 Sodré, à meia-noite. Tel.: 213430107. 10€. + Ben Frost + Valgeir Guimarães. Centro Cultural Vila Flor. Avenida D. - Bairro Alto. 6ª às 23h00. Tel.: 213430205. 8€. Afonso Henriques, 701, às 22h. Tel.: 253424700. 15€. Jameson Urban Routes 09. Sigurösson Segunda 2 Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos - Sala Cristina Branco Mariza Cristina Branco Principal. Av. Frei Miguel Contreiras, 52, às 22h. Tomar. Cine-Teatro Paraíso. Rua da Infantaria, 15 Kings of Convenience Tel.: 218438801. 5€ a 12€. Lisboa. Coliseu dos Recreios. R. Portas St. Antão, 96, Estremoz. Teatro Bernardim Ribeiro. Av. 25 de Abril, - Edifício Teatro, às 21h30. Tel.: 249329190. 15€. às 22h. Tel.: 213240580. 20€ a 50€. Braga. Theatro Circo - Sala Principal. Av. Liberdade, às 21h30. Tel.: 268333362. 5€ a 10€. 697, às 21h. Tel.: 253203800. 23€ a 30€. Ver texto na pág. 14 e segs. Rodrigo Leão & Cinema António Pinho Vargas Ensemble Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Edifício da CGD Domingo 1 Terça 3 Sten Sandell Trio Lisboa. Coliseu dos Recreios. R. Portas St. Antão, - Grande Auditório, às 21h30. Tel.: 217905155. 18€. Com Sten Sandell (piano; voz e 96, às 21h30. Tel.: 213240580. 17,5€ a 35€. Steve Reich & Bang On A Can Skunk Anansie electrónica), Johan Berthling Peter Murphy Lisboa. Centro Cultural de Belém - Grande Auditório. Lisboa. Coliseu dos Recreios. R. Portas St. Antão, 96, (contrabaixo), Paal Nilssen-Love Lisboa. Aula Magna. Alam. Universidade, às 22h. Tiguana Bibles + Mocky + Praça do Império, às 21h. Tel.: 213612400. 8€ a 30€. às 21h. Tel.: 213240580. 28€. Tel.: 217967624. 25€ a 35€. (bateria). Markus Kienzl + Rui Murka Festival Temps d’Images 2009. Lisboa. Culturgest - Pequeno Auditório. Rua Arco Lisboa. MusicBox. R. Nova do Carvalho, 24 - Cais Mário Laginha e Bernardo Alexander Pirojenko e Orquestra Ver texto na pág. 20. do Cego - Edifício da CGD, às 21h30. Tel.: 217905155. do Sodré, às 23h30. Tel.: 213430107. 10€. Sassetti 5€. Jameson Urban Routes 09. Nacional do Porto Lisboa. Aula Magna. Alam. Universidade, às 21h.Tel.: Direcção Musical de Christoph König. Emiliana Torrini Ciclo Isto É Jazz? Brad Mehldau Trio Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho de Lisboa. Café Teatro Santiago Alquimista. R. Santiago, 217967624. 20€ a 35€. 19, às 21h30. Tel.: 218884503. 22€. The Original Glenn Miller Ponta Delgada. Teatro Micaelense. Largo de S. Albuquerque, às 18h. Tel.: 220120220. 16€. De África aos Alpes. Obras de Henze, Orchestra João, às 21h30. Tel.: 296284242. 15€ (dia) a 50€ Peter Murphy + Lettie Quarta 4 Direcção Musical de Ray McVay. (passe). Saint-Saëns, Franck e Strauss. Porto. Casa da Música. Pç. Mouzinho de Albuquerque Porto. Coliseu do Porto. R. Passos Manuel, Jazzores. Megafone 5 - - Sala Suggia, às 22h. Tel.: 220120220. 30€. 137, às 21h. Tel.: 223394947. 15€ a 48€. Três Cantos Homenagem a João Sábado 31 Com José Mário Branco, Sérgio Brad Mehldau Trio Aguardela Bob da Rage Sense Godinho, Fausto Bordalo Dias. Alcobaça. Cine-Teatro de Alcobaça - Grande Lisboa. Centro Cultural de Belém Lisboa. MusicBox. R. Nova do Carvalho, Porto. Coliseu do Porto. R. Passos Manuel, 137, às Auditório. R. Afonso de Albuquerque, às 21h30. Tel.: Gemma Bertagnolli e Divino - Grande Auditório. Praça do 24 - Cais do Sodré, às 23h. Tel.: 213430107. 21h30. Tel.: 223394947. 15€ a 50€. 262580890. 16€ a 18€. Sospiro Império, às 21h. Tel.: 213612400. 8€ a 12€. Direcção Musical de Enrico Onofri. The Legendary Tiger Man Mariza 20€. Kings of Convenience Lisboa. Centro Cultural de Belém - Pequeno & Convidados Lisboa. Coliseu dos Recreios. R. Portas St. Antão, 96, Ver texto na pág. 18 e segs.

46šI[njW#\[_hWEkjkXhešÒfi_bed O saxofonista Miguel Zenon em destaque no ciclo de jazz Som da Surpresa 2009, em Oeiras

A islandesa Emiliana Torrini em Guimarães no sábado e em Lisboa no domingo

e música antiga, o único critério é novo bop. Com ele tocam Pietro impacto. Completam o quinteto (contrabaixo) e Henry ser música viva ou música morta. Lossu (piano), Darryl Hall Giovanni Guidi (piano), Pietro Cole (bateria). A Uma peça escrita ontem pode já (contrabaixo) e Benjamin Henocq Leveratto (contrabaixo) e Fabrizio fechar, concerto em estar morta e outra escrita há 300 (bateria). Amanhã assinala-se o Sferra (bateria). duo pelos mais anos pode estar viva”, disse ao regresso do trompetista italiano No próximo fim-de-semana será a distintos “jazzmen” Público por ocasião de uma das suas Enrico Rava, um músico que já vez do quarteto do saxofonista nacionais, Mário actuações no Festival de Sintra, em esteve por diversas vezes em Miguel Zenon, jovem estrela norte- Laginha e Bernardo 2002. Portugal. Nesta ocasião, Rava americana que tem feito uma Sassetti, dois A sua atitude perante o apresenta-se com o seu New carreira meteórica marcada pela sua instrumentistas instrumento encontra-se também Quintet, uma formação composta participação nos SF Jazz Collective que garantem próxima da dos intérpretes de outras por jovens músicos que integra o ou em projectos com Charlie Haden um nível de eras, que dominavam aspectos da magnífico trombonista Gianluca ou David Murray. Com ele vêm Luís qualidade e invenção construção e cuidavam da Petrella, um solista de grande Perdomo (piano), Hans Glawischnig notáveis. manutenção. Conhecedor de todos os segredos do piano, Sokolov sabe mais sobre um Steinway do que qualquer técnico e nunca utiliza um novo piano sem antes observar meticulosamente todos os detalhes do seu funcionamento. Avesso à atmosfera estéril dos estúdios, Sokolov prefere as gravações ao vivo, como forma de captar momentos únicos. Alguns deles foram registados pelas etiquetas Melodya e Op. 111, centrando-se sobretudo em obras de Bach, Beethoven, Chopin, Brahms, Rachmaninov, Prokofiev, Scriabin, Schubert e Schumann.

Jazz Novo bop em Oeiras

O jazz marca de novo presença em Oeiras como uma selecção de peso entre os novos valores da improvisação internacional. Rodrigo Amado

Som da Surpresa 2009 - Ciclo Internacional de Jazz de Oeiras Oeiras. Auditório Municipal Ruy de Carvalho - Centro Cívico de Carnaxide. Rua 25 de Abril, lote 5. De 30/10 a 6/11. Às 22h. Tel.: 214170109. 7€. Dia 30 – Rosario Giuliani Quartet Dia 31 – Enrico Rava New Quintet Dia 5 – Miguel Zenon Quartet Dia 6 – Mário Laginha / Bernardo Sassetti Oeiras continua a ser um dos municípios que mais investem na divulgação do jazz, apresentando todos os anos uma série de ciclos de qualidade. O Som da Surpresa 2009 apresenta um conjunto fortíssimo de quatro espectáculos, focados essencialmente numa nova geração de músicos que toma como base o jazz tradicional, nomeadamente o be-bop, conferindo-lhe uma saudável modernidade e projectando-o, com força, para este novo século. A abrir a programação, hoje, o quarteto do jovem revelação Rosario Giuliani, um saxofonista alto oriundo de itália que tem recebido o aplauso unânime dos cultores do

Òfi_bedšI[njW#\[_hWEkjkXheš47 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

No belo ano de 2009, os com uma visão futurista não deixa de merecer o Air decidiram resgatar do mundo da electrónica nosso reconhecimento. 7 Espaço a canção francesa de um colocada ao serviço da viagens em balão sobre a Público imerecido esquecimento. música popular - com bela e iluminada Paris. “Love 2”, o novo longa- algum espaço para a Pedro Miguel Silva, duração, apresenta os experimentação. Está Técnico de Comunicação, franceses no papel de longe do deslumbramento 35 anos estilistas da electrónica, e genialidade do saudoso Blog: http://fusco-lusco. conjugando muito estilo “Moon Safari”, mas blogspot.com

coerente os seus três andamentos. É Clássica Astrée. A maior parte delas são mas há também que reconhecer que um dos exemplos da fase em que preciosidades a ter em conta por a versão discográfica de Savall, Braga Santos explorou sobretudo a quem não possui os discos antigos ou realizada a partir da selecção dos escrita modal e contrasta com as para quem os deseja revisitar com melhores momentos das restantes peças da gravação, Os impres- melhor qualidade de som. O último representações no Teatro de La compostas cerca de 30 anos depois e álbum da Alia Vox-Heritage reúne Zarzuela de Madrid, é empolgante. bastante mais arrojadas. Uma cindíveis três registos extraordinários O maestro catalão não corrigiu em linguagem que explora a tensão dedicados a três nomes maiores da estúdio diferenças de captação permanente entre um cromatismo de Savall polifonia espanhola do Século de sonora decorrentes da posição do intenso e o diatonismo, a Ouro: Cristóbal de Morales (c. 1500- cantores em palco, preferindo a desenvoltura na manipulação da 1553), Francisco Guerrero (1528-1599) emoção do momento e a ilusão da forma e das texturas e um Alguns cumes da e Tomás Luis de Victoria (1548-1611). “performance” ao vivo em lugar de conhecimento profundo das discografia do catalão. Do primeiro foi registado o uma perfeição artificial. A potencialidades de cada Cristina Fernandes “Officium Defunctorum” e a “Missa espontaneidade, a energia e a instrumento dá origem a uma Pro Defunctis a 5”, do segundo as teatralidade que emergem desta música em permanente mutação e Maestros Del “Sacrae Cantiones” e de Victoria os interpretação são alguns dos seus plena de contrastes, servida por Siglo de Oro “Cantica Beatae Virginis”. São das principais trunfos, assim como um interpretações tecnicamente seguras mais belas interpretações de elenco de grande nível, onde e apaixonadas a cargo de La Capella Reial polifonia renascentista e maneirista, sobressaem o barítono Fulvio Zanasi instrumentistas que conviveram de de Catalunya combinando um sedutor colorido no papel titular e a impressionante perto com o compositor, incluindo a Hespèrion XX vocal com uma nobreza expressiva e contralto Sara Mingardo como sua própria filha (a violetista Leonor Jordi Savall espiritual, que chega a ser hipnótica. Tamiri. Para a Colecção Vivaldi Braga Santos). O conjunto

Discos (direcção) No início dos anos 90, quando foram foram suprimidas as sinfonias e árias demonstra uma boa sintonia , Alia Vox Heritage registadas, estas interpretações não de Francesco Corselli incluídas na destacando-se e o pianismo (3 CD) só contrastavam com a abordagem versão interpretada em Madrid em afirmativo de António Rosado e o mmmmm mais asséptica deste repertório 1739 e anteriormente incluídas por som envolvente dos violoncelos pelos grupos ingleses como tinham Savall no álbum da Alia Vox. (Irene Lima e Paulo Gaio Lima). C.F. Farnace, como novidade a intervenção de de Vivaldi instrumentos (violas da gamba, órgão, cornetos e sacabuxas) a Páginas de câmara Pop Furio Zanasi, Sara dobrar ou a substituir vozes de Mingardo, Gloria de Joly Braga Santos acordo com a prática musical das Banditelli e outros catedrais ibéricas nos séculos XVI e Abaixo (cantores) Joly Braga Santos XVII. Os três discos são excelentes, Le Concert des Quarteto com Piano op. 26 mas as versões das obras de Morales, Nations Trio com Piano op. 58 os capitães apenas com vozes masculinas, têm Jordi Savall Sexteto de Cordas op. 59 uma magia especial. (direcção) Aníbal Lima e Cecília Branco da indústria Uma outra reedição, desta vez da Naïve - Vivaldi (violinos), Leonor Braga Santos e ópera “Farnace”, de Vivaldi, Edition (3 CD) António José Miranda (violas), Paulo realizada por Savall em 2002, surge Gaio Lima e Irene Lima Um maravilhoso “álbum agora de novo no mercado no mmmmn (violoncelos), António Rosado perdido” dos . âmbito da Edição Vivaldi promovida (piano) Jorge Mourinha Em 2007 Jordi Savall iniciou na sua pela Naïve, que tem por ambição a PortugalSom/Numérica etiqueta Alia Vox a colecção gravação de todas as óperas do Prefab Sprout “Heritage”, dedicada à reedição compositor veneziano. É possível mmmmn Let’s Change the World with Music remasterizada da melhores gravações que o Projecto Vivaldi não tenha Kitchenware que realizou com os seus vários querido investir numa nova leitura O valor da agrupamentos entre 1977 e 1996 na da obra por razões de economia, produção mmmmn sinfónica de Joly Braga Santos É por causa de (1924-1988) é hoje decisões como um dado esta que a adquirido, mas a indústria está de MIGUEL MADEIRA MIGUEL música de câmara deste compositor rastos: quando, e maestro português permanece em 1993, Paddy inexplicavelmente pouco conhecida. McAloon eminência parda dos Não há razão para tal, uma vez que incontornáveis Prefab Sprout, possui uma qualidade assinalável. O mostrou este disco de “gospel CD lançado pela PortugalSom transcendente” onde se tinha posto (colecção do Ministério da Cultura de alma e coração aos responsáveis dedicada à divulgação da música de A&R da Sony, levou com uns portuguesa, actualmente editada em quantos narizes retorcidos. Os A&R parceria com a Numérica) é deviam com certeza estar com os revelador de um talento inspirado e ouvidos noutro lado (possivelmente de uma técnica apurada na nos Excels financeiros que exploração de pequenos conjuntos garantissem mais um hit global) e instrumentais, onde se reconhece não no requinte pop das canções amiúde a veia sinfónica do que estavam na maqueta. E compositor e o seu característico McAloon, que para além de escrever lirismo. canções maravilhosas como quem Foram registadas três obras de nunca fez outra coisa na vida, nunca períodos diferentes: o Quarteto com se mostrou especialmente Piano op. 26 (1957), o Trio com interessado em jogar o jogo de Piano op. 58 (1985) e o Sexteto de acordo com as regras, por uma vez Cordas op. 59 (1986). A primeira ligou ao que a editora lhe disse e distingue-se pela sua luminosa atirou “Let’s Change the World with Preciosidades a ter em conta por quem não possui os discos antigos energia e pela condensação da Music” para a prateleira, tornando-o ou para quem os deseja revisitar com melhor qualidade de som forma, encadeando num todo numa espécie de equivalente

48šI[njW#\[_hWEkjkXhešÒfi_bed O valor da produção sinfónica de Joly Braga Santos é hoje um dado adquirido, mas a sua música dde câmara permanece pouco conhecida

próprio (passe a comparação Porque é que ele all I ever wanted”, forçosamente abusiva) do mítico “U know who I “Smile” de Brian Wilson que tanto o não parte tudo? am”, “It’s just a fascinara em adolescente. dream II” ou O que apenas confirma como David Fonseca “Little things II” estas onze canções são, de facto não são mal Prefab Sprout: a quinze anos de distância, e mesmo na forma Betweeen Waves (para citar, entre muitos outros, Tom escritas, mas a voz não nos convence original de maqueta gravada em solo absoluto, o que aqui temos Universal Waits), “the one that got away”. A que haja ali verdadeira fundura. é uma pérola absoluta de artesanato pop tradicional quinze anos de distância, e mesmo mmmnn Tirando isso, é possível que o ex-líder na forma original de maqueta admiração e contribuir não está cá distribuído). dos Silence 4 tenha escrito o seu gravada em solo absoluto (à qual o euforicamente para o PPR correndo Sintetizando, “Let’s Change the O único problema de “Between melhor disco, criando uma folk-pop mestre Calum Malcolm deu só uma à loja online preferida (porque o World with Music” é um triunfo. Waves” surge quando David Fonseca onírica e psicadélica quase sempre aparadela), o que aqui temos é uma disco, até ver e escandalosamente, Improvável, mas um triunfo. envereda pela proto-baladas: “(Baby) melodicamente eficaz, como é pérola absoluta de artesanato pop tradicional. Um ciclo de canções sobre a redenção espiritual através das religiões transcendentemente pagãs do amor e da música, muito mais próximo do standard popular americano (Irving Berlin é, aliás, citado abertamente) do qual, aliás, McAloon sempre se sentiu muito mais próximo do que dos seus contemporâneos. E, mesmo sendo uma maqueta pontualmente marcada por aproximações sintetizadas foleiras, todo o mapa sonoro de gloriosas catedrais de sofisticação pop que o produtor Thomas Dolby lhe iria sobrepôr em seguida já estava aqui definido em diagrama técnico à espera dos operários que as viessem construir. Evocando a cada esquina a sofisticação pop das obras-primas “Steve McQueen” e “From Langley Park to Memphis” mas já a dirigir-se para a suspensão etérea do posterior “Andromeda Heights”, parece-nos ali estamos quase a ouvir a voz etérea de Wendy Smith a fazer coros, virando a esquina damos por mais uma daquelas “silly love songs” improvavelmente eruditas de que McAloon tem o segredo (“Last of the Great Romantics”, onde o Jay Gatsby de F. Scott Fitzgerald é chutado para canto, ou “Music Is a Princess”, onde Oliver Twist e a Gata Borralheira vivem infelizes para todo o sempre), e quando os últimos acordes de “Angel of Love” terminam somos compelidos a voltar ao princípio do disco como já não éramos desde... quando mesmo é que os Prefab Sprout fizeram um disco pela última vez? McAloon arrumou a maqueta, Dolby não lhe poria os ouvidos em cima e os Prefab Sprout foram lentamente enferrujando à medida que a bulimia criativa do seu principal compositor, afectada por uma série de problemas primeiro de visão e depois de audição, se remetia a um silêncio do qual apenas a espaços surgiam notícias (dois álbuns, “Andromeda Heights” em 1997 e “The Gunman and Other Stories” em 2001, um terceiro em nome próprio, “I Trawl the Megahertz”, em 2003, e pontuais canções cedidas a outros). E “Let’s Change the World with Music” apenas vê a luz do dia porque Keith Armstrong, o manager de sempre, decidiu pôr os royalties a mexer — o que nos leva a prostrarmo-nos de

Òfi_bedšI[njW#\[_hWEkjkXheš49 aMauMaumMedíocreMedíocremmRazoávelRazoáávveellmmmmmmmmBomBBoommmmmmmmmmmmmMuitoMuMuitito BomBoBommmmmmmmmmmmmmmExcelenteEExxcceelente

Como estratégia comercial, “ThisThis Is It” é inatacável;

Discos enquanto objecto musical, é irrelevanterrelevante KONSTANTIN KERN KONSTANTIN

Talvez um pouco demasiado Copland e Peacock conjugam auto-consciente dos seus truques as suas respectivas artes numa interacção profunda

Quanto ao álbum editado em publicitária moderna, digamos que jukeboxes, sublinhando ainda mais o que se começa a ouvir como um paralelo, anunciado como banda “venderá como ‘hot dogs’”. negrume de um disco marcado pela desafio e quando menos se espera já comprovável na óptima “There’s sonora do filme, pouco há a dizer. Enquanto objecto musical, é morte do pai de Hawley. Há discos se entranhou, mesmo se o enigma nothing wrong with us”, que abre Já existem no mercado “Ultimate irrelevante. M.L. que não inventam novos mundos, acaba por nunca se resolver. com uma frase de xilofone, vai por aí Collections” dedicados a Michael antes funcionam como calafetagem: Luís Maio fora disparada em registo power-pop, Jackson. Existe “HIStory”, existem Richard Hawley isolam portas e janelas de modo que engorda com órgãos e mais órgãos colectâneas do período Jackson 5 e a nossa casa se torne o mundo Truelover’s Gutter Jazz adicionados até um final explosivo. da carreira a solo. “This Is It”, Mute; distri. EMI inteiro. E “Truelover’s Gutter” é a Há jóias como “Walk away when desligada do seu contexto peculiar – mais bela calafetagem deste ano. J.B. you’re winning”, em que uma figura o único que a justifica mmmmn Arte do duo de guitarra cria a impressão de comercialmente -, não tem razão The Cave Singers estarmos no meio do Hawai a beber para existir. Privilegia o período pós- O primeiro grande Welcome Joy leite de coco, antes de metais e “Off The Wall”, agrupando pérolas disco de Richard Matador, distri. EMI-Music Dois dos grandes mestres bateria em marcha militar entrarem como “Wanna be startin’ somethin’” Hawley, “Coles em registo épico. Há citações ao a inanidades como “Earth song”, Corner”, de 2005, mmmmn do jazz, Gary Peacock e David Byrne pós-Talking Heads, aos clássicos como “Beat it” ou “Smooth era uma Marc Copland, abrem nova Kinks (“Stop 4 a minute”), aos criminal” às menos célebres “Shake homenagem à Soa familiar e ao janela sobre os mecanismos Buggles (“Morning tide”), há órgãos, your body” (dos Jacksons, ano 1978, década que mesmo tempo harmónicas, acordeões, metais, álbum “Destiny”) ou “I just can’t instituiu definitivamente a noção de estranho, ocultos da nobre arte do cordas (como no belo single “A cry stop loving you” (balada banal que canção clássica antes de ser atirada portanto, duo. Rodrigo Amado for love”), tudo o que seja necessário foi single em 1987). para o oblívio pelo nascimento do estranhamente para engrandecer as canções. É um Como chamariz, “This Is It” rock’n’roll: a de 50. Era o disco que familiar este Gary Peacock / Marc Copland bom disco pop, pejado de arranjos apresenta a canção que lhe dá título, Roy Orbison teria feito se o seu segundo álbum dos Cave Singers. São Insight” imaginativos e, quando muito, talvez o inédito que era, afinal, uma romantismo negro e rubro não um trio formado por gente originária Pirouet, dist. Mbari um pouco demasiado auto- parceria com Paul Anka que este tivesse nascido do grande “white de bandas punk do circuito de consciente dos seus truques. oferecera, em 1991, à obscura trash” americano mas sim da Seattle, que ao juntarem-se mmmmn João Bonifácio cantora Sa Fire – uma boa balada “working class” inglesa: excessivo inflectiram para a folk em versão soul, com coro imponente e guitarra mas macerado pela culpa e pelo mais ou menos indie. Estrearam-se Após uma bem Michael Jackson picada. Para dar uns ares de “edição remorso, e simultaneamente tão há dois anos atrás com um “Invitation sucedida série de especial”, surge um segundo CD de contido como uma beata a medir o Songs”, que invocava os sons gravações em trio, This Is It quatro faixas – curtíssimo portanto. nível de chá na chávena. Depois ancestrais da América rural. Essa intitulada New Sonu BMG Sony Music Uma demo acústico de “She’s out of daquele conjunto de canções referência é ainda dominante em York Trio my life”, uma outra de “Wanna be arranjadas com a delicadeza de um “Welcome Joy” que, no entanto, Recordings, o mmnnn startin’ somethin’”, uma “Beat It” Burt Bacharach literato, Hawley inflecte frequentemente para o rock pianista Marc Copland edita de novo despida às harmonias vocais e, para atirou-se ao rockabilly em “Lady’s ácido/hard, que fez época na na Pirouet, desta vez em duo com “This Is It”, o despedida, Jackson recitando Bridge”. Agora regressa ao registo segunda metade dos anos 60. O Gary Peacock, mestre absoluto do filme, já está em “Planet earth”, “poema” inédito que mais convém à sua voz de cantor Peter Quirk assume um registo contrabaixo que participara já em sala e por lá se que, pelas rimas de trabalho sobre barítono: lentas canções talhadas afectado e andrógino, que soa como dois dos volumes da referida série, e manterá durante ecologia feito na escola secundária, com mesura e adornadas com a um cruzamento de Devendra com o qual gravou, em 2004, um curtas duas deveria ter-se mantido enquanto tal. sageza dos sobreviventes que Banhart com John Forgerty dos outro registo de duetos, “What it semanas. Com Convenhamos que é pouco, muito preferiram a humanidade à Creedence Clearwater Revival. A Says” (Sketch). Um encontro ele, a promotora dos concertos pouco, para o barulho que se vem amargura. Mas há mudanças de tomo instrumentação é esparsa, à base das partilhado por dois músicos que londrinos, cancelados pela morte de fazendo à sua volta. e para as perceber basta comparar a guitarras de Quirk e de Derek possuem como características Jackson, pretende recuperar o Como estratégia comercial, “This epítome de “Coles Corner”, “The Fudesco, acompanhados pelos comuns uma particular subtileza, avultado investimento no evento. Is It” é inatacável – em linguagem ocean”, com o seu correspondente ritmos de pandeireta de Marty Lund. harmónica e melódica, e uma de 2009, “Open up the door”. Onde As melodias reflectem o clássico elegância clássica que se encontra, “The Ocean” era todo cordas modelo twangy sulista, com um progressivamente, em vias de sumptuosas como vagas quebrando acento mais folk aqui, mais eléctrico extinção. Associada a estas junto aos nossos ouvidos e provocava ali, um pouco country acolá. É toda características, surge no entanto uma um arrepio imediato, “Open up your uma paleta de variações, de resto outra que faz toda a diferença do door” usa as cordas de forma muito convincentes, sobre o clássico mundo – um gosto partilhado pela mais subtil e em vez de ondas guião “americana”. Mas há mais, aventura musical e pelo risco. Um que nos ultrapassam, tudo muito mais que reverência pelas risco que é tomado nos mais crepita lentamente, glórias de outros tempos em pequenos detalhes, tornando a enquanto instrumentos “Welcome Joy - um disco do qual se música vibrante e intemporal. Logo inusitados (vibrafones, vai desprendendo uma no primeiro tema, o clássico “All campaínhas, guitarras ambiência bizarra, próxima blues” de Miles Davis, o contrabaixo espanholas, etc) trazem à da farsa tripada, do culto de Peacock surge possante, faixa uma fantasmagoria religioso marado, ou dalguma estabelecendo um andamento rápido que ele nunca tinha espécie de visão alucinada da que é depois agarrado com alcançado. É essa a América profunda. Mas o trio contenção por Copland, num jogo de marca do disco: o uso nunca resvala para a contrastes que injecta nova vida num de instrumentos caricatura, como nunca desliza dos “standards” mais tocados de esquecidos até pelos para a consagração mística, sempre. Mais à frente, num dos seus inventores: “glass preferindo antes levar a temas totalmente improvisados, harmonicas”, “cristal extremo o culto da “Rush hour”, o duo mergulha fundo baschets”, um ambivalência. Pode ser num intenso caleidoscópio dulmicer, “pipe premeditado, mas também impressionista que faz do ritmo organs”, etc. Os pode ser que eles mesmos matéria prima para as elaborações instrumentos de vidro não saibam para que lado sofisticadas de ambos. Ao longo dos trazem um ambiente cair, o certo é que esta treze temas do disco, oito deles da espectral a faixas que, indeterminação produz um autoria dos músicos, Copland e na essência, são country punhado de canções notáveis. Peacock conjugam as suas respecti- duvidoso, despojos de “Welcome Joy” é o género de disco vas artes numa interacção profunda com ligação directa à alma das can- Richard Hawley: há discos que não inventam novos mundos, ções, proporcionando-nos um olhar antes funcionam como calafetagem: isolam portas e janelas privilegiado, um autêntico “insight”, de modoque a nossa casa se torne o mundo inteiro sobre a verdadeira arte do duo.

50šI[njW#\[_hWEkjkXhešÒfi_bed aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Há dois anos, Bruce Willis regressou agente do FBI se vê obrigado a sair, à personagem de John McClane, o literalmente, à rua para desvendar o polícia nova-iorquino com o condão crime que pode fazer ruir este de estar no sítio certo na hora errada, mundo perfeito. para um quarto episódio da saga “Die “Derivativo” é coisa que “Os Hard” que colocava a tecnologia no Substitutos” é claramente, até na sua centro das atenções, com o terrorista estrutura narrativa codificada e de serviço a desactivar a previsível, no anonimato funcional infraestrutura electrónica dos EUA. O com que é filmado e montado. Mas é, filme de Len Wiseman trazia um ao mesmo tempo, um objecto cheirinho anos 1970 no modo como despretensioso e eficaz, que não tem construia uma história paralela de ambições de fazer o depoimento “thriller” paranóico à volta dessa definitivo sobre os riscos da sensação (tão americana pós-11/9) de tecnologia e prefere usar esse um tapete tirado inesperadamente discurso como pano de fundo e Willis é imbatível neste tipo de papéis de “gajo debaixo dos pés. subtexto de um policial futurista que porreiro e profissional que não gosta que o tomem Agora, “Os Substitutos” coloca não perde tempo com rodriguinhos, por parvo e não tem problemas em ir às trombas outra vez Willis no centro de uma vai direito ao assunto e não toma os quando convém” história cujos ecos de ficção científica espectadores por broncos. Isso vê-se são assustadoramente próximos dos no modo como Mostow vai deixando Estreiam 19h40, 21h50, 00h10; ZON Lusomundo Dolce Vita nossos dias e que volta a colocar as discretamente pormenores que Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, infraestruturas electrónicas (e, neste nunca distraem da narrativa central 21h30 6ª Sábado 15h30, 18h30, 21h30, 00h30; ZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, caso, a imersão em realidades mas são outras tantas pistas para o Olha os robôs 18h20, 21h30 6ª 15h30, 18h20, 21h30, 23h50 Sábado virtuais) no centro do debate, de “lado negro” deste mundo muito 13h, 15h30, 18h20, 21h30, 23h50 Domingo 13h, novo usando os anos 1970 como menos perfeito do que parece, na 15h30, 18h20, 21h30; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, ponto de referência. A palavra certa inteligência com que o filme se Um policial futurista com 15h10, 17h30, 19h40, 21h50, 00h25; ZON para descrever o filme de Jonathan compraz no seu estatuto de série B Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª Sábado Domingo Mostow (autor do terceiro despachada conceptual mas, depois, alma de série B clássica e 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h15, 18h45, 21h30, 23h55; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado “Exterminador Implacável”) é deixa a pairar questões sobre a ideias de ficção-científica Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h20, 17h30, 19h40,

Cinema “derivativo”, cruzando elementos do dependência (emocional e anos 1970. Jorge Mourinha 21h50, 24h; Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 3: 5ª seminal “O Mundo do Oeste” de profissional) cada vez maior do 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h20, 21h40 6ª 15h40, 18h20, 21h40, 00h10 Sábado 13h10, 15h40, 18h20, 21h40, Michael Crichton e de outras ficções computador e dos avatares Os Substitutos 00h10 Domingo 13h10, 15h40, 18h20, apocalípticas dos anos 1970 como “À cibernéticos, sempre sem perder de 21h40; Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala 2: 5ª Beira do Fim”, de Richard Fleischer, vista que estamos num Surrogates 2ª 3ª 4ª 16h, 18h40, 21h15 6ª 16h, 18h40, 21h15, De Jonathan Mostow, 23h50 Sábado 13h10, 16h, 18h40, 21h15, 23h50 as “Stepford Wives” originais de entretenimento. Willis é imbatível com Bruce Willis, Radha Mitchell, Domingo 13h10, 16h, 18h40, 21h15; Castello Lopes - Bryan Forbes ou “Fuga no Século neste tipo de papéis (de “gajo Rio Sul Shopping: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 15h50, XXIII”, de Michael Anderson, com as porreiro e profissional que não gosta Rosamund Pike. M/12 18h50, 21h20, 23h50 Sábado Domingo 13h20, 15h50, 18h50, 21h20, 23h50; ZON Lusomundo preocupações mais recentes do que o tomem por parvo e não tem MMMnn Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª “Blade Runner” de Ridley Scott ou do problemas em ir às trombas quando 13h, 15h20, 18h, 21h20, 23h50; ZON Lusomundo “Eu, Robot” de Alex Proyas. convém”) e, embora o seu Tom Greer Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 1: 5ª 2ª 13h40, 16h10, 18h30, 21h40, 24h; Num presente futurista alternativo, não lhe peça mais do que isso, o actor 3ª 4ª 15h30, 18h20, 21h50 6ª 15h30, 18h20, 21h50, o mundo reduziu-se a um enorme injecta subrepticiamente um cansaço 00h15 Sábado 12h50, 15h30, 18h20, 21h50, 00h15 Porto: Arrábida 20: Sala 16: 5ª 6ª Sábado Domingo 12h50, 15h30, 18h20, 21h50; Castello Lopes Domingo 2ª 13h40, 15h45, 17h55, 20h05, 22h15, parque virtual percorrido pelos existencial que torna a personagem - Loures Shopping: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 00h35 3ª 4ª 15h45, 17h55, 20h05, 22h15, “substitutos”, andróides controlados muito menos arquetípica do que 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h40, 18h30, 21h30, 00h35; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª via computador por uma parece e permite ao espectador fazer 00h15; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h30, 17h45, 2ª 3ª 4ª 13h40, 15h35, 17h35, 19h35, 21h55, 23h55 20h, 22h15, 00h30; ZON Lusomundo GaiaShopping: humanidade que vive agora fechada a ligação emocional com esta história Sábado Domingo 13h40, 17h35, 19h35, 21h55, 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h40, 18h30, 21h40 em casa, vivendo por procuração que o falecido Michael Crichton não 23h55; CinemaCity Campo Pequeno Praça de 6ª Sábado 13h10, 15h40, 18h30, 21h40, 00h30; ZON através destes avatares cibernéticos teria desdenhado assinar. Touros: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h50, 15h50, Lusomundo MaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 17h50, 19h50, 21h50, 00h05 Sábado Domingo 13h40, 16h10, 18h35, 21h30 6ª Sábado 13h40, 16h10, personalizados e praticamente E assim uma fitazinha destinada ao 11h50, 13h50, 15h50, 17h50, 19h50, 21h50, 18h35, 21h30, 24h; ZON Lusomundo Marshopping: invulneráveis. Um mundo perfeito estatuto de “blockbuster” de massas 00h05; Medeia Saldanha Residence: Sala 6: 5ª 6ª 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h40, onde o crime foi eliminado, toda a se revela um objecto muito mais Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h, 18h, 20h, 22h, 18h10, 21h20, 23h40; ZON Lusomundo 00h30; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 12: 5ª 6ª NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª gente é bela e elegante, e apenas inteligente e intrigante do que a Sábado 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h30, 19h, 21h55, 00h10 12h40, 15h, 17h30, 19h50, 22h20, 00h40; ZON escassas bolsas de humanos se primeira impressão daria a entender Domingo 11h30, 14h20, 16h30, 19h, 21h55, Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado recusam a viver na rede, liderados e diz muito mais sobre o mundo em 00h10; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 10: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h10, 18h30, 21h30, Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h, 18h, 20h, 22h, 23h50; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 3: 5ª 2ª 3ª por um profeta místico e remetidos que vivemos do que pensaríamos. 24h; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado 4ª 15h40, 18h40, 21h40 6ª 15h40, 18h40, 21h40, para “reservas” onde as máquinas Fossem as grandes produções de Domingo 2ª 3ª 4ª 13h35, 15h40, 18h, 21h10, 23h50 Sábado 12h50, 15h40, 18h40, 21h40, 23h50 não são autorizadas. Até ao momento Hollywood todas assim e as coisas 23h30; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 12h50, 15h40, 18h40, 21h40; ZON Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h20, 18h50, 21h40, Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª em que surge uma arma que permite, não andariam tão más por aqueles 00h20; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª 14h10, 16h30, 18h50, 21h20 6ª Sábado 14h10, 16h30, em simultâneo, destruir os lados (e será por acaso que “Os Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h10, 17h20, 18h50, 21h20, 23h40; ZON Lusomundo Glicínias: 5ª substitutos e matar os seus Substitutos” foi um fracasso de 19h30, 21h40, 24h; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h40, 19h, 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h15, 17h30, 21h30, 23h50; “operadores” ao mesmo tempo, e um bilheteira nos EUA?).

Òfi_bedšI[njW#\[_hWEkjkXheš51 Jorge Luís M. Mário Vasco As estrelas do público Mourinha Oliveira J. Torres Câmara Andando mmmmn mmmnn nnnnn mmmmn Birdwatchers nnnnn a nnnnn mnnnn O Dia da Saia mmmnn nnnnn mmnnn mnnnn Distrito 9 mmmmn mmnnn mmmnn mmnnn O Delator mmmnn mmnnn nnnnn mmmnn Cinema Il Divo mmnnn nnnnn nnnnn mnnnn Morrer como um Homem mnnnn nnnnn mmmmn mmmnn Os Substitutos mmmnn nnnnn nnnnn nnnnn This is It mnnnn mnnnn nnnnn nnnnn Welcome nnnnn nnnnn mmnnn mmnnn

Visita ao museu Jackson, uma figura que só 12h45, 15h20, 18h, 21h20; ZON Lusomundo Oeiras 15h, 17h30, 21h45, 24h Domingo 15h, 17h30, “Michael Jackson’s This Is It” não é Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 21h45; Medeia Cidade do Porto: Sala 1: 5ª 6ª exactamente um filme. É uma existia para o palco 15h40, 18h30, 21h10, 24h; ZON Lusomundo Torres Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h30, Michael Jackson’’s This Is It Vedras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 22h; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª montagem cumpridora realizada a This Is It 16h ,18h30, 21h, 23h40; ZON Lusomundo Vasco da Sábado 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h40, 21h20, 24h partir dos ensaios da temporada de Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, Domingo 10h50, 13h20, 16h, 18h40, 21h20, 24h; ZON concertos que Jackson deveria De Kenny Ortega, 15h45, 18h30, 21h30, 00h10; Auditório Charlot: Sala Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª com . M/12 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 21h30 Sábado Domingo 16h, 15h30, 18h30, 21h30 6ª Sábado 15h30, 18h30, iniciar em Julho em Londres, 21h30; Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 1: 5ª 2ª 3ª 21h30, 24h; ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª 2ª compreendendo imagens de 4ª 16h10, 18h50, 21h30 6ª 16h10, 18h50, 21h30, 24h 3ª 4ª 13h, 15h30, 18h, 21h30 6ª 13h, 15h30, 18h, audições, ensaios e sound-checks Mnnnn Sábado 13h30, 16h10, 18h50, 21h30, 24h Domingo 21h30, 24h Sábado 10h40, 13h, 15h30, 18h, 21h30, 13h30, 16h10, 18h50, 21h30; Castello Lopes - Fórum 24h Domingo 10h40, 13h, 15h30, 18h, 21h30; ZON que nunca foram pensadas para Lisboa: Atlântida-Cine: Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª Barreiro: Sala 3: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h30, 21h30 6ª Lusomundo MaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª consumo público, com o intuito de 15h30, 21h30 Sábado Domingo 15h30, 18h15, 13h45, 15h45, 17h45, 19h45, 21h45; Medeia Fonte 15h40, 18h30, 21h30, 24h Sábado 13h, 15h40, 18h30, 13h20, 15h50, 18h30, 22h 6ª Sábado 13h20, 15h50, se aproximar o mais possível do que 21h30; Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 5: 5ª 2ª 3ª Nova: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h30, 24h Domingo 13h, 15h40, 18h30, 18h30, 21h10, 23h50; ZON Lusomundo 4ª 15h30, 18h30, 21h30 6ª 15h30, 18h30, 21h30, 14h30, 17h, 19h30, 22h; Medeia Monumental: Sala 4 - 21h30; Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala 4: 5ª 2ª Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª seria o concerto acabado. 00h10 Sábado 13h10, 15h30, 18h30, 21h30, 00h10 Cine Teatro: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 3ª 4ª 15h40, 18h30, 21h30 6ª 15h40, 18h30, 21h30, 13h30, 16h, 18h40, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Quem esperar, no entanto, um Domingo 13h10, 15h30, 18h30, 21h30; Castello Lopes 15h15, 17h30, 19h45, 22h, 00h30; UCI Cinemas - El 24h Sábado 13h, 15h40, 18h30, 21h30, 24h Domingo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª olhar mais profundo sobre Jackson - Londres: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, Corte Inglés: Sala 9: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h15, 13h, 15h40, 18h30, 21h30; Castello Lopes - Rio Sul 13h20, 16h10, 19h, 21h50, 00h35; ZON Lusomundo 19h, 21h30 6ª Sábado 14h, 16h30, 19h, 21h30, 16h45, 19h15, 21h45, 00h15 Domingo 11h30, 14h15, Shopping: Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª sairá simultaneamente desapontado 24h; Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 2: 5ª 6ª 16h45, 19h15, 21h45, 00h15; UCI Cinemas - El Corte 21h30, 24h Sábado Domingo 13h, 15h30, 18h30, 4ª 13h20, 16h, 18h40, 21h40, 00h30; ZON e surpreendido. Desapontado, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, 18h20, Inglés: Sala 3: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 15h15, 18h15, 21h30, 24h; UCI Freeport: Sala 1: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado porque Jackson já era um fantasma 21h10, 23h40; Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 22h15, 00h30 Domingo 11h30, 15h15, 18h15, 22h15, 18h30, 21h30 6ª 15h30, 18h30, 21h30, 00h20 Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h50, 19h40, 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 00h30; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 2: 5ª 6ª Sábado 13h15, 15h30, 18h30, 21h30, 00h20 Domingo 13h15, 22h40; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 1: 5ª 2ª 3ª de si próprio, uma figura 18h50, 21h40, 00h10; CinemaCity Alegro Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h30, 24h; ZON 15h30, 18h30, 21h30; ZON Lusomundo Almada 4ª 15h30, 18h30, 21h30 6ª 15h30, 18h30, 21h30, 24h resguardada que apenas existia em Alfragide: Cinemax: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h45, 15h45, Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, Sábado 13h, 15h30, 18h30, 21h30, 24h Domingo 13h, palco e para o palco, que nunca sai 17h45, 19h45, 21h45, 23h45 Sábado Domingo 11h45, 3ª 4ª 13h20, 13h50, 15h50, 16h25, 18h30, 19h10, 13h30,15h30, 16h, 18h, 18h30, 21h, 21h30, 23h30, 15h30, 18h30, 21h30; Castello Lopes - 8ª 13h45, 15h45, 17h45, 19h45, 21h45, 21h25, 21h55, 23h55, 24h; ZON Lusomundo 24h; ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado Avenida: Sala 2: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, 21h30 fora da cápsula protectora que 23h45; CinemaCity Beloura Shopping: Cinemax: 5ª Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h40, 21h30, 00h10; 6ª 15h30, 18h30, 21h30, 24h Sábado 13h, 15h30, criou para si próprio, reciclando 6ª 2ª 3ª 4ª 13h45, 15h45, 17h45, 19h45, 21h45, 15h40, 18h30, 21h20, 24h; ZON Lusomundo 18h30, 21h30, 24h Domingo 13h, 15h30, 18h30, Porto: Arrábida 20: Sala 12: 5ª 6ª Sábado eternamente os momentos de ouro 23h45 Sábado Domingo 11h45, 13h45, 15h45, 17h45, CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h30; Cinema Paraíso - Dolce Vita Ovar: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h10, 17h35, 20h, 22h25, 19h45, 21h45, 23h45; CinemaCity Campo Pequeno 12h40, 15h20, 18h10, 21h, 23h50; ZON Lusomundo 2ª 3ª 4ª 18h30, 20h50 6ª 18h30, 20h50, 23h da sua carreira. Surpreendido, 00h50; Arrábida 20: Sala 15: 5ª 6ª Sábado Praça de Touros: Sala 4: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h45, Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, Sábado 14h15, 16h20, 18h30, 20h50, 23h Domingo Domingo 2ª 14h, 16h30, 19h, 21h45, 00h15 3ª 4ª porque por trás dessa figura que 15h45, 17h45, 19h45, 21h45, 23h45 Sábado Domingo 15h20, 18h, 21h, 23h40; ZON Lusomundo Dolce Vita 11h, 14h15, 16h20, 18h30, 20h50; ZON Lusomundo 16h30, 19h, 21h45, 00h15; Cinemax - Cinema da parece ter começado a acreditar na 11h45, 13h45, 15h45, 17h45, 19h45, 21h45, Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h50, 17h20, Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, Praça : Sala 1: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h45 6ª 15h30, 23h45; CinemaCity Classic Alvalade: Sala 3: 5ª 2ª 3ª 19h45, 22h 6ª Sábado 14h50, 17h20, 19h45, 22h, 18h30, 21h10 6ª Sábado 13h10, 15h50, 18h30, 21h10, sua própria mitologia existia um 21h45, 24h Sábado 15h, 17h30, 21h45, 24h Domingo 4ª 13h45, 15h45, 17h45, 19h45, 21h45 6ª 13h45, 15h45, 00h30; ZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª 2ª 3ª 00h50; ZON Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado 15h, 17h30, 21h45; Cinemax - Penafiel: Sala 2: 5ª 2ª artista perfeccionista e arguto, em 17h45, 19h45, 21h45, 23h45 Sábado 14h45, 13h45, 4ª 15h20, 18h, 21h20 6ª 15h20, 18h, 21h20, 24h Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h25, 19h10, 21h55, 3ª 4ª 15h30, 21h45 6ª 15h30, 21h45, 24h Sábado absoluto controlo, que vive, mais 15h45, 17h45, 19h45, 21h45, 23h45 Domingo 14h45, Sábado 12h45, 15h20, 18h, 21h20, 24h Domingo 00h35

52šI[njW#\[_hWEkjkXhešÒfi_bed aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

do que para a música, para a dança, Alguns dos grandes filmes da História o cinema. É um filme académico, como se vê nos momentos em que são filmes mal intencionados (e sobre formalmente fastidioso e de vez em corrige o coreógrafo, o director más intenções). Uma coisa que os quando muito irritante (quando a musical, os dançarinos e toma as filme bem intencionados, ao serviço câmara começa a tremer e a rodopiar rédeas. O problema é que esses de uma “causa” ou de uma em torno dos actores), incapaz de ter flashes de energia apenas sublinham “mensagem”, têm dificuldade em personagens em vez de estereótipos como “This Is It” se resume a uma perceber é que isso não os dispensa – um grupo de Guaranis que quer visita guiada a um museu que de serem uma experiência estética. reaver as suas terras tradicionais, acabou de ser renovado mas que Sempre e inevitavelmente, como agora ocupadas por fazendeiros ganhou no interim algo de qualquer filme feito com qualquer brancos. O facto de estes também já mausoléu, gerido por uma indústria propósito. “Birdwatchers”, filme que terem criado uma ideia de que necessita de rendibilizar uma um realizador chileno-italiano foi “ancestralidade” ligada às mesmas caríssima produção de palco que rodar ao Brasil com o fito de nos terras dá um daqueles conflitos que acabou por nunca ir a cena, e alertar para a dramática condição alimentaram dúzias de “westerns”. restabelecer as finanças da dos índios Guarani (uma legenda do Totalmente desaproveitado aqui, tão organização. Quando o DVD sair genérico final fala em genocídio), é planas são todas as personagens, podemos olhar para “This Is It” de um caso típico. Marco Bechis tem índios ou brancos. Cumprida a outro modo. Agora, dificilmente uma motivação mas não tem – por missão de “alertar” para a situação conseguimos vê-lo como mais do esta amostra – qualquer talento para dos Guarani, o filme convida o que uma jogada de marketing. Jorge Mourinha

BirdWatchers De Marco Bechis, com Claudio Santamaria, Alicélia Batista Cabreira, Chiara Caselli. M/12 a

Lisboa: Medeia King: Sala 1: 5ª Domingo 3ª 4ª 13h40, 15h45, 17h50, 19h55, 22h 6ª Sábado 2ª 13h40, 15h45, 17h50, 19h55, 22h, 00h30 Marco Bechis tem uma motivação – os índios – mas não tem qualquer talento para o cinema

Cinemateca Portuguesa R. Barata Salgueiro, 39 Lisboa. Tel. 213596200 Sexta, 30 De Richard Quine 19h - Sala Félix Ribeiro 15h30 - Sala Félix Ribeiro O Homem na Pele da Serpente Gente de Dublin Anna Magnani The Fugitive Kind The Dead De Luchino Visconti De Sidney Lumet De John Huston 19h (em complemento, as curtas: Appunti sun un 15h30 - Sala Félix Ribeiro 19h - Sala Félix Ribeiro fatto di cronaca e Alla ricerca de tadzio, Luchino Mange ta Soupe Stavisky Visconti) - Sala Félix Ribeiro De Mathieu Amalric De Alain Resnais O Tesouro de Arne 21h30 - Sala Félix Ribeiro 15h30 - Sala Félix Ribeiro Herr Arnes Pengar Antígona Ne Change Rien De Mauritz Stiller Antigone De Pedro Costa 19h30 - Sala Luís de Pina De Danièle Huillet, Jean-Marie Straub 21h30 - Sala Félix Ribeiro Le Corbeau 22h - Sala Luís de Pina Os Respigadores e a De Henri-Georges Clouzot You and Me Respigadora 22h - Sala Luís de Pina De Fritz Lang Les Glaneurs et la Glaneuse 19h30 (em complemento Os Mistérios de um De Agnès Varda Segunda, 2 Cabeleireiro, de Bertold Brecht e Erich Engel) - Sala 19h30 - Sala Luís de Pina Dumbo Luís de Pina Les Antiquiteés de Rome De Ben Sharpsteen De Jean-Claude Rousseau 19h - Sala Félix Ribeiro Quarta, 4 22h (em complemento, a curta: Keep in Touch, de Sem Eira nem Beira Jean-Claude Rousseau) - Sala Luís de Pina Duas Causas Virginia City Sans Toit ni Loi De Michael Curtiz De Agnès Varda Sábado, 31 15h30 - Sala Félix Ribeiro 21h30 - Sala Félix Ribeiro Maridos L’Idiot Merlín Husbands De Pierre Léon De Adolfo Arrieta 21h30 - Sala Félix Ribeiro 19h (em complemento, a curta: El Crimen de la Pirindola, de Adolfo Arrieta) - Sala Félix Ribeiro The Illiac Passions De Gregory J. Markopoulos Inconquistáveis 19h30 (em complemento, a curta: Through a Lens Unconquered Brightly: Mark Turbyfill, de Gregory Markopoulos) De Cecil B. DeMille - Sala Luís de Pina 15h30 - Sala Félix Ribeiro Traição Inverosímil Cega Paixão De Augusto Fraga On Dangerous Ground 22h - Sala Luís de Pina De Nicholas Ray De John Cassavetes 19h30 - Sala Luís de Pina 21h30 - Sala Félix Ribeiro Terça, 3 A Comédia de Deus Tentação Loira Stars in My Crown De João César Monteiro Pushover De Jacques Tourneur 22h - Sala Luís de Pina

Sem Eira nem Beira Òfi_bedšI[njW#\[_hWEkjkXheš53 Cinema

Whitacre/Damon é um negativo nada glamouroso dos patifes que povoam muito cinema americano e o cinema do Soderbergh da série Ocean’s

espectador, noutra legenda do Porto: Arrábida 20: Sala 13: 5ª 6ª Sábado mas enérgicos deste realizador “de Cinema final, a enviar donativos para um Domingo 2ª 14h, 16h25, 18h55, 21h30, 00h05 3ª 4ª segunda” – não é juízo de valor, é a 16h25, 18h55, 21h30, 00h05; ZON Lusomundo Dolce endereço electrónico. Alberto Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, forma como Soderbergh se coloca Cavalcanti dizia: se tem uma 16h30, 19h20, 22h, 00h35; ZON Lusomundo perante quem chegou antes dele. Lembram-se mensagem para passar em vez de NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Note-se o duelo entre imagem e som, 13h10, 15h50, 18h30, 21h30, 00h25; fazer um filme mande uma carta. a sabotagem permanente, que nos Quando chega essa legenda dos A leitura de “O Delator” – história, vai dando indícios do mal-estar de de Jean Vigo? donativos pensamos que Bechis quis verídica, de Mark Whitacre, uma personagem – agora ter o melhor dos dois mundos (o bioquímico de uma multinacional acrescentamos: e de uma época. A obra do crítico brasileiro

filme e a carta) e inventou uma que nos anos 90 colaborou com o Vasco Câmara DVD espécie de “cinema spam”. FBI na denúncia de práticas Paulo Emílio anda a ser reeditada e é nesse contexto Luís Miguel Oliveira fraudulentas da sua empresa – como Morrer Como Um Homem um filme da crise, como filme sobre De João Pedro Rodrigues, que surge esta caixa: dois o fim de um sistema tal como o com Alexander David, Gonçalo livros sobre Vigo, um dos Continuam conhecíamos, foi proposta a Ferreira De Almeida, Jenni La Rue. quais a mais completa Soderbergh (no Festival de Veneza). M/18 O Delator! Que não se riu, mas chamou a monografia sobre o cineasta The Informant! atenção deste facto: o projecto é de MMMnn francês, acompanhados pela De Steven Soderbergh, 2001. Portanto, assumiu, a conexão Lisboa: Medeia Monumental: Sala 3: 5ª 6ª Sábado obra. Luís Miguel Oliveira com Matt Damon, Lucas McHugh é acidental, por mais benéfico que seja para o filme dar-se a ver como Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h20, 18h55, 21h30, Carroll, Eddie Jemison, Melanie 24h; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 2ª 3ª 4ª Caixa Paulo Emílio / Jean Vigo Lynskey. M/12 espelho da doença que alastrou pela 13h55, 17h, 21h15 6ª Sábado Domingo 13h55, 17h, Cosac Naify, http://editora.cosacnaify. 21h15, 00h10; “corporate America”. Vê-se pelo com.br/Loja/ MMMnn genérico luxuriante – o tom 70s na Porto: Arrábida 20: Sala 8: 5ª 6ª Sábado Domingo banda sonora é da autoria de Marvin 2ª 3ª 4ª 19h10, 00h35; Medeia Cidade do mmmmm Porto: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 3: 5ª 2ª Hamlisch – que Soderbergh está em 21h30; 3ª 4ª 16h, 18h50, 21h20 6ª 16h, 18h50, 21h20, 24h modo de reescrita, e mais Extras Sábado 13h20, 16h, 18h50, 21h20, 24h Domingo 13h20, 16h, 18h50, 21h20; Castello Lopes - interessado nos exercícios de uma Quando “Morrer como um Homem” mmmmm Londres: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 14h15, personagem, alguém que, veio a parte em viagem, com Variações no 16h45, 19h15 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h45, 19h15, descobrir-se, se construiu a si carro e em direcção a Baby Dee no A edição de que 21h45; Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 7: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h10, próprio como ficção, envolvendo a bosque, João Pedro Rodrigues aqui tratamos 21h, 23h30; CinemaCity Beloura Shopping: Sala 4: 5ª sua vida em mentiras, ele próprio aventura-se: é o pedaço mais livre da refere-se a Jean 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h35, 17h55, agente activo de práticas de fraude. sua obra, um pedaço de cinema que Vigo, mas tem 20h, 22h05, 00h10; CinemaCity Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 7: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 14h10, Whitacre (Matt Damon) era um vem do “underground”, na estética, outro protagonista 16h15, 18h30, 21h30, 23h40 Sábado Domingo 12h05, maníaco-depressivo e Whitacre/ no gesto, na desarmante que importa 14h10, 16h15, 18h30, 21h30, 23h40; Medeia Damon é um negativo nada frontalidade de tudo... (E é uma ilha destacar. Paulo Monumental: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h40, 19h10, 21h40, 00h15; UCI Cinemas - glamouroso dos patifes que povoam de afectos – por ali andam os Emílio de Sales El Corte Inglés: Sala 14: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª muito cinema americano e o cinema fantasmas de Fassbinder, Anger, Jack Gomes (1916-1977), 14h05, 16h30, 18h50, 21h35, 00h05 Domingo 11h30, do Soderbergh da série Ocean’s. É Smith...) À volta desta ilha, em que também conhecido apenas por Paulo 14h05, 16h30, 18h50, 21h35, 00h05; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, uma comédia negra fantasista (ao uma personagem, Tonia, tem o seu Emílio, escritor e um dos mais 15h50, 18h20, 21h10, 23h40; ZON Lusomundo contrário do que aconteceu em momento de encantamento e importantes críticos de cinema Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, “Erin Brokovich”, Soderbergh não perdição, uma Alice que espreita o brasileiros do século XX. Paulo 15h50, 18h30, 21h30, 00h05; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, quis fazer pesquisa junto de quem lado de lá do espelho (como em “O Emílio frequentou, entre os anos 30 15h50, 18h40, 21h20, 00h10; ZON Lusomundo conheceu uma personagem real...), Fantasma”, primeira longa do e os anos 50, os meios cinéfilos Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª é um daqueles exercícios “menores” realizador), está o resto do filme: “Zero em Comportamento” europeus (mormente o parisiense) e 13h10, 16h05, 18h35, 21h10, 23h45; menos abstracto, enrolado numa e “L’Atalante” quando voltou ao Brasil integrou o dramaturgia que se coloca sempre à grupo que presidiu à criação do que frente das personagens, quando não veio a ser a Cinemateca Brasileira. A fora delas - por isso há mais sua obra escrita anda a ser reeditada convenções de escrita do que figuras pela editora Cosac Naify – a caixa habitadas. Mas se nisso “Morrer pode ser comprada na loja virtual do como um Homem” pisa os caminhos site da editora – e é nesse contexto de “Odete”, a segunda longa do que surge esta Caixa Paulo Emílio. realizador, escolhemos ficar dentro Constituída, em primeiro lugar, por da “ilha” (quase um filme dentro do dois livros, que formam uma espécie filme...), esse tira-teimas existencial de díptico. “Jean Vigo”, talvez a mais onde um corpo que se construiu, o profunda e completa monografia travesti Tonia, se confronta com a natureza e é desafiado, encantado e, finalmente, derrotado por ela – uma tragédia portuguesa, triste como o fado, de contornos menos olímpicos e ofegantes do que a das personagens, por exemplo, de David Cronenberg, sempre ávidas da superação dos seus limites, da sua natureza. V.C.

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“Dante 01”: uma criação espantosa, quase sem diálogos e puramente física, de Lambert Wilson

alguma vez escrita, seja lá em que momento em que eles financiamento que parte do mundo for, sobre o lendário próprios deixaram de saber obrigaram o cineasta a cineasta francês que morreu de como se fazia. Os DVDs não se ficam improvisar um final diferente do que tuberculose em 1934, com 29 anos, por aqui e trazem extras preciosos. tinha pensado para o guião que deixando uma obra tão pequena Vários depoimentos sobre Paulo escreveu com o romancista de ficção (uma longa, três curtas ou médias) Emílio, incluindo um de Lígia científica Pierre Bordage. E é como influente. O livro, dedicado a Fagundes Telles, viúva dele. Uma verdade que o final é problemático Henri Langlois e Ernest Lindgren entrevista (Rohmer a Truffaut) sobre – tanto mais problemático quanto o (dois “pais” das cinematecas) Vigo e “L’Atalante”. E o belo episódio que ficou para trás era totalmente resultou de um trabalho de da série “Cineastas do Nosso derivativo mas continha em si as investigação minucioso (para não Tempo” dedicado a Jean Vigo, com sementes de um objecto bastante dizer “maníaco”), foi editado no assinatura de um dos mais legítimos intrigante. anos cinquenta, em Paris, e herdeiros do malogrado cineasta, Atirando para o mesmo caldeirão originalmente escrito em língua esse tão grande e tão desconhecido os “Alien” 3 e 4 (respectivamente, francesa. Foi premiado na altura, Jacques Rozier. David Fincher e... Jeunet), “Solaris” mas o maior “prémio” foi um elogio A edição pode ser comprada em (nas iterações Tarkovski e do então muito jovem François Portugal por encomenda “online” no Soderbergh) e os subvalorizados Truffaut: “o mais belo livro de site da Cosac Naify. “Sunshine” de Danny Boyle e “O cinema que já li”. Merece o epíteto, Enigma do Horizonte” de Paul certamente. O contexto, o Anderson, e polvilhando tudo com enquadramento e o pormenor com O Messias uma pitada de “Big Brother”, Caro que Paulo Emílio segue a vida e a fala-nos da chegada de um obra de Jean Vigo são de uma misterioso prisioneiro a uma remota excepcional riqueza. A edição inclui do espaço estação espacial propriedade de uma alguns textos sobre o próprio Paulo mega-corporação privada, usada Emílio, bem como, escrita de Única realização de como centro de detenção mas propósito para este livro, uma breve também laboratório de nota de Manoel de Oliveira, um dos Marc Caro, co-autor de experimentação de terapias para muitos cineastas tocados pela “Delicatessen”, “Dante 01” é assassinos psicóticos. O recém- poética de Vigo, e que o trata como um esforço intrigante mas chegado — uma criação espantosa, um contemporâneo (“ele nasceu em quase sem diálogos e puramente 1905 e eu nasci em 1908”). falhado de ficção científica física, de Lambert Wilson — foi O outro livro incluído na edição é inédito entre nós. Jorge encontrado à deriva no espaço “Vigo, Vulgo Almereyda”, sobre o Mourinha profundo e tem algo de messiânico, ambiente familiar em que nasceu e no modo como delira sobre “a luz”, cresceu o jovem Vigo, e Dante 01 parece ser invulnerável e capaz de especialmente sobre o seu pai, o Mar Caro curar os outros prisioneiros. No célebre anarquista catalão Eugeni “making of” (de 30 minutos, dirigido Vigo, também conhecido como mmnnn por Eric Caro, irmão do realizador, e Miguel Almereyda, nome de guerra. bem interessante mas um tanto ou Este livro, que Paulo Emílio Extras quanto esquivo, sobretudo porque concebeu como parte integrante do mmnnn os problemas de produção nunca são seu estudo sobre Jean Vigo, publica- evocados e o próprio Marc Caro se pela primeira vez na íntegra, já Lambert Wilson pouco intervém), Pierre Bordage que nos anos 50, a pedido do editor, diz, a certa altura detém-se sobre a simbologia das o que saiu ao público foi uma versão do “making of” personagens. Os sete prisioneiros da resumida. surpreendente- estação evocam os sete pecados Ler sobre Vigo é ainda melhor se mente proposto capitais mas também os sete chakras, for acompanhado pela possibilidade como extra de ou centros de energia, e os seus de ver Jean Vigo. Em dois DVDs “Dante 01”, que nomes foram retirados às mitologias embutidos na capa interior de “Jean não percebe panteístas globais (Buda, Lázaro, Vigo” aparece-nos toda a obra do porque é que há Rasputine) — o que bate certo com o cineasta francês. O seu cartão de tanta gente que torce o nariz à ideia agradecimento nos créditos ao visita, “À Propos de Nice” (1929), de “ficção científica made in místico Alejandro Jodorowsky, que terno e provocador, não France”, quando há técnicos e colaborou numa versão embriónica necessariamente surrealista mas, a equipas de nível mundial a trabalhar do guião. espaços, parente da fantasia em França. E, se é verdade que os Mas Bordage fala também da buñueliana do “Chien Andalou”, gauleses sempre foram fortes no necessidade desse simbolismo estar seguramente “vanguardista” e filme policial e se estão agora a ligado a uma narrativa exequível e sofisticado (o uso da montagem, começar a dar cartas no cinema de acessível — e é aí que a porca torce o decisivo). O estranho lirismo de terror, a ficção científica tem sido rabo, porque “Dante 01” submete-se “Taris” (1931), documentário sobre alvo mais fugidio, apesar de em excesso à componente simbólica um campeão de natação francês; e momentos pontuais como o grande que o final apressado e dois verdadeiros “monumentos”, os “5º Elemento” de Luc Besson. decepcionante praticamente célebres “Zero em Comportamento” Primeira realização em solo de cristaliza, quando é no virtuosismo (1933), subversivo elogio da rebeldia Marc Caro, que com Jean-Pierre visual e ambiental de Caro que o num internato para crianças e Jeunet dirigiu “Delicatessen” e “A filme se ganha, no tom opressivo e adolescentes (custa a acreditar, mas o Cidade das Crianças Perdidas” antes claustrofóbico e nas visões filme esteve proibido em França até de cada um seguir o seu percurso, alucinadas (mas nunca explicadas) depois da II Guerra) e “L’Atalante” “Dante 01” é um daqueles filmes que imprimem à história um lado (1934), um daqueles títulos com lugar malditos que parece vir com a perturbante de sonho acordado. Não cativo em todas as listas de “melhores etiqueta de “culto potencial” de deixa de ser um bom esforço que vai filmes de todos os tempos”, origem. Foi um desastre comercial abaixo à vista da meta, apresentado interpretado pelo inexcedível Michel em França despachado para DVD em numa cópia de boa transcrição no Simon. É porventura o apogeu do praticamente todo o mundo geral correctamente legendada, “realismo poético”, essa coisa que os (Portugal inclusive), mas a visão apesar de uma ou outra desatenção franceses inventaram e praticaram original de Caro terá sido dispensável, e com o “making of” melhor do que ninguém até ao comprometida por problemas de como único extra.

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