UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM PROPRIEDADE INTELECTUAL E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA PARA INOVAÇÃO - PROFNIT

EDNEY VERAS DOS SANTOS

PRODUÇÃO DE LIVROS DIGITAIS (E-BOOKS) COMO FERRAMENTA DE APOIO NO ENSINO E NA DIVULGAÇÃO DA LÍNGUA WAPICHANA EM RORAIMA

Boa Vista – RR 2019

EDNEY VERAS DOS SANTOS

PRODUÇÃO DE LIVROS DIGITAIS (E-BOOKS) COMO FERRAMENTA DE APOIO NO ENSINO E NA DIVULGAÇÃO DA LÍNGUA WAPICHANA EM RORAIMA

Dissertação apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação, do Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação (PROFNIT) – ponto focal Universidade Federal de Roraima, sob a orientação do Prof. Dr. Eliseu Adilson Sandri e coorientação da Profa. Dra. Ananda Machado.

Boa Vista-RR 2019

Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP) Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima

S237p Santos, Edney Veras dos. Produção de livros digitais (e-books) como ferramenta de apoio no ensino e na divulgação da língua Wapichana em Roraima / Edney Veras dos Santos . – Boa Vista, 2019. 86 f. : il.

Orientador: Prof. Dr. Eliseu Adilson Sandri. Coorientadora: Profa. Dra. Ananda Machado.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Roraima, Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação - PROFNIT.

1 - Língua indígena. 2 - Multilinguismo. 3 - Direitos autorais.4 - TIC. I - Título. II - Sandri, Eliseu Adilson (orientador). III - Machado, Ananda (coorientadora). CDU - 809.8(811.4)

Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária/Documentalista: Maria de Fátima Andrade Costa - CRB-11/453-AM

EDNEY VERAS DOS SANTOS

PRODUÇÃO DE LIVROS DIGITAIS (E-BOOKS) COMO FERRAMENTA DE APOIO NO ENSINO E NA DIVULGAÇÃO DA LÍNGUA WAPICHANA EM RORAIMA

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação (PROFNIT) – ponto focal Universidade Federal de Roraima. Defendida em 10 de agosto de 2019 e avaliada pela seguinte banca examinadora:

Banca Examinadora:

______Prof. Dr. Eliseu Adilson Sandri Presidente

______Prof. Dr.ª Angela Machado Rocha Membro externo

______Prof. Dr.ª Maria Cecília Junqueira Lustosa Membro externo

Boa Vista, RR, 10 de agosto de 2019.

AGRADECIMENTOS

Os agradecimentos não seguem uma ordem de importância, mas consideramos importante agradecer à Universidade Federal de Roraima - UFRR, onde trabalho como servidor e, neste momento, como discente; também, pela oportunidade de participar de um curso que tem uma relação intrínseca com as atividades fins desta Instituição, como a inovação tecnológica e a transferência de tecnologia. Agradeço aos colegas/amigos de trabalho, meus Diretores Antonio Barros e Aline Tavares e equipe de Redes: José Alailson, Jonas Leonel, Marcelo Matos e Rodrigo Reis, que nos meus afastamentos para cursar o mestrado cumpriram com nossas atividades com todo empenho e eficiência, como se a equipe estivesse completa. Agradeço aos professores do PROFNIT, que ministraram aulas para minha turma, em especial ao meu orientador, Prof. Dr. Eliseu Sandri, e minha coorientadora Prof.ª Drª Ananda Machado. Agradecimentos também ao Pe. Ronald Macdonell e aos professores indígenas, que fizeram parte do programa de rádio Watuminhap Wapichan Day, da Rádio FM Monte Roraima. Os agradecimentos finais ficam para minha família, em nome da minha esposa “Dila” e da minha pequena filha Eva Maria, que sempre me fizeram esquecer de que eu precisava trabalhar e estudar.

RESUMO

Esta pesquisa trata da produção de livros digitais (e-books) como ferramenta de apoio no ensino e divulgação da língua indígena Wapichana, um povo que desde a década de 90, através da organização dos professores indígenas de Roraima, vem procurando e produzindo meios de preservar e ensinar seu idioma. Essas iniciativas complementadas com a produção de e-books podem ser consideradas como ações de incentivo ao uso do multilinguismo no ciberespaço, atendendo às recomendações de comunicação e informação da UNESCO. Este trabalho também apresenta os conceitos de e-books, seus principais formatos e suas vantagens em relação aos livros tradicionais. O e-book resultante dessa pesquisa, denominado Watuminhap Wapichanda’y! ‘Vamos Aprender Wapichana’, foi organizado a partir do texto base que acompanhou as lições de Língua Wapichana transmitidas pela Rádio FM Monte Roraima, no ano de 2005. Este e-book possui diálogos escritos em wapichana com tradução para o português, e áudios em wapichana, que foram gravados por professores indígenas. O e-book produzido pode ser utilizado em dispositivos como notebooks, tablets e smartphones, podendo ser distribuído facilmente pela internet ou por bluetooth. Com isto, espera-se facilitar e alcançar um número maior de pessoas interessados em aprender, ensinar e a divulgar a Língua Wapichana, principalmente as pessoas mais jovens que são entusiastas das tecnologias digitais.

Palavras chaves: língua indígena, multilinguismo, Direitos Autorais, TIC

ABSTRACT

This research deals with the production of digital books (e-books) as a support tool in the teaching and dissemination of the Wapichana indigenous language, a people that since the 1990s, through the organization of indigenous teachers in Roraima has been seeking and producing ways to preserve and teach their language. These initiatives complemented with the production of e-books can be considered as actions to encourage the use of multilingualism in cyberspace, taking into account the recommendations of communication and information of UNESCO. This paper also presents the concepts of e-books, their main formats and their advantages over traditional books. The e-book resulting from this research, called “Watuminhap Wapichan da’y!” ‘Vamos Aprender Wapichana’, was organized from the base text that accompanied the Wapichana language lessons transmitted by FM Radio Monte Roraima in the year 2005. This e-book had dialogues that were written in Wapichana with Portuguese translation, and Wapichana audios that were recorded by indigenous teachers. The e-book produced can be used in devices such as notebooks, tablets and smartphones; can be distributed easily over the internet or by bluetooth. This is expected to facilitate and reach a greater number of people interested in learning, teaching and disseminating the Wapichana language, especially the younger people who are enthusiastic about digital technologies.

Keywords: indigenous language, multilingualism, Copyright, ICT

LISTA DE SIGLAS

ASCII American Standard Code for Information Interchange CEE/RR Conselho Estadual de Educação de Roraima CGEES Coordenadoria Geral de Estudos Econômicos e Sociais CIMI Conselho Indigenista Missionário CMS Content Management System DOC Documento do MS Word DSEI Distrito Sanitário Especial Indígena EPUB Electronic Publication EXE Arquivo Executável FUNAI Fundação Nacional do Índio HLP Help (arquivo de ajuda do Windows) HTML HyperText Markup Language HTML5 HyperText Markup Language versão 5 IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPA International Phonetic Alphabet IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. ISA Instituto Socioambiental KML Keyhole Markup Language LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação MS Ministério da Saúde ODIC Organização dos Indígenas da Cidade OIT Organização Internacional do Trabalho ONU Organização das Nações Unidas OPF Open Packaging Format File OPIRR Organização dos Professores Indígena de Roraima PC Personal Computer PDB Program Database PDF Portable Document File PRD Presentations Document QUIS Questionnaire for User Interaction Satisfaction

RB Rocket eBook RTF RichText SEPLAN Secretaria Estadual de Planejamento SESAI Secretaria Especial de Saúde Indígena SIASI Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena SWF Shockwave Flash TK3 Night Kitchen TK3 Reader TTS Text to Speech TXT Text File UFM Unevangelized Field Mission UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UTF-8 8-bit Unicode Transformation Format WAP Wireless Application Protocol WML Wireless Markup Language WYSIWYG What You See is What You Get XML eXtensible Markup Language

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mulher indígena Wapichana ...... 31 Figura 2 – Mapa das terras indígenas da região da Serra da Lua ...... 32 Figura 3 – Lançamento do Livro Paradakary Urudnaa ...... 38 Figura 4 – Exemplos de e-readers ...... 46 Figura 5 – Exemplo de estrutura de um pacote EPUB3...... 49 Figura 6 – Telas do App Lithium em smartphone Android ...... 57 Figura A-1 – Tela de edição do Sigil em modo livro ...... 68 Figura A-2 – Tela de edição do Sigil em modo de código HTML ...... 69 Figura A-3 – Estrutura de arquivos do e-book ...... 70 Figura A-4 – Deseja colar os dados da área de transferência como texto puro. 70 Figura A-5 – Inserindo áudio no Sigil ...... 71 Figura A-6 – Detalhe da Tela do Foxit Reader com o botão inserir Áudio e Vídeo ...... 72 Gráfico A-1 Avaliação de funcionamento do e-book em dispositivos móveis .... 76 Gráfico A-2 Avaliação Geral Quanto à Utilização do E-book ...... 77 Gráfico A-3 Reação geral quanto ao uso do E-book ...... 77 Gráfico A-4 Leitura de Caracteres na Tela ...... 78 Gráfico A-5 Organização do Livro ...... 78 Gráfico A-6 Encontrar e navegar entre as páginas ...... 79 Gráfico A-7 Qualidade dos sons do e-book ...... 79 Gráfico A-8 Compartilhar o e-book ...... 80 Gráfico A-9 Conteúdo das lições do e-book ...... 81 Gráfico A-10 Recomendação do e-book ...... 81

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Dimensões da Propriedade Intelectual ...... 21 Quadro 2 – Modalidades de Licença Creative Commons ...... 26 Quadro 3 – Terras Indígenas, municípios abrangidos, área total e população indígena no ano de 2013 ...... 28 Quadro 4 – Identificação da língua wapichana na ISO 639 ...... 33 Quadro 5 – Diferença entre a escrita wapichana do Brasil e da Guiana ...... 34 Quadro 6 – O que contribuiu para valorizar o uso da língua Wapichana ...... 36 Quadro 7 – Línguas indígenas cooficializadas no Brasil ...... 40

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...... 13 1.1 OBJETIVOS ...... 16 1.2. METODOLOGIA ...... 16 1.3 ORGANIZAÇÃO ...... 17 2 PROPRIEDADE INTELECTUAL ...... 19 2.1 DIREITOS DE AUTOR...... 21 2.2 DIREITOS CONEXOS ...... 24 3 LICENÇAS CREATIVE COMONS ...... 25 4 POPULAÇÃO INDÍGENA DE RORAIMA ...... 28 4.1 O POVO WAPICHANA ...... 31 4.1.1 A Língua Wapichana ...... 33 4.1.2 A Escrita Wapichana ...... 34 4.2 INICIATIVAS EM PROL DA PRESERVAÇÃO DA LÍNGUA WAPICHANA ...... 35 4.2.1 Publicações ...... 37 4.2.2 O Programa de Valorização das Línguas e Culturas Macuxi e Wapichana ...... 39 4.2.3 A Cooficialização da Língua Wapichana ...... 40 5. POVOS INDÍGENAS E AS TICS ...... 43 6 LIVROS DIGITAIS (E-BOOKS) ...... 45 6.1 LEITORES E TIPOS DE FORMATOS ...... 46 6.2 VANTAGENS DO E-BOOK ...... 49 6.3 DESVANTAGENS DO E-BOOK ...... 51 7. ATENDIMENTO À RECOMENDAÇÃO DA UNESCO PARA PROMOÇÃO E USO DO MULTILINGUISMO NO CIBERESPAÇO ...... 52 8 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...... 54 8.1 O E-BOOK WATUMINHAP WAPICHAN DA’Y ...... 54 8.1.1 Corpus de Áudio e Texto ...... 55 8.1.2 Edição do E-Book ...... 55 8.1.3 Requisitos para leitura do E-Book ...... 56 8.2 APRESENTAÇÃO DO E-BOOK ÀS LIDERANÇAS E PROFESSORES INDÍGENAS .... 57 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 60 REFERÊNCIAS ...... 62 APÊNDICE A – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E VOZ ...... 67

APÊNDICE B – TUTORIAL EDIÇÃO DE UM EBOOK ...... 68 APÊNDICE C – QUIS ...... 73 APENDICE D – RESULTADOS DO QUIS SOBRE O E-BOOK WATUMINHAP WAPICHAN DA’Y!...... 76 APENDICE E – EXEMPLO DE UMA LIÇÃO DO E-BOOK (VERSÃO PDF) ...... 84

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1 INTRODUÇÃO

Uma das linhas de pesquisa do Programa de Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação – PROFNIT é a Propriedade Intelectual que abrange, entre outros temas, o estímulo à proteção das criações, resultados de P&D tecnológico, busca de anterioridade, processamento e manutenção dos títulos de Propriedade Intelectual nas diversas áreas de conhecimento (patentes, direitos autorais, cultivares, registros de softwares etc.). Nesse sentido a publicação de um livro digital se encontra dentro da área dos direitos autorais uma vez que tratam sobre a proteção de criações do espírito humano que envolve a proteção das expressões artísticas, literárias e científicas. O titular de direitos de autor sobre uma obra protegida pode usar a obra como desejar, e pode impedir terceiros de utilizá-la sem a sua autorização. Mas nossa intenção é publicar o livro digital sob licenças da Creative Comons1, que são licenças que permitem que um material seja compartilhado e reutilizado em termos flexíveis e juridicamente seguros, desta forma o e-book desenvolvido poderá ser distribuído e reproduzido de forma gratuita sem deixar de mencionar os autores da obra. O presente trabalho tem como ponto central a produção de livros digitais como ferramenta de auxílio no ensino e preservação da língua indígena wapichana2 falada no Brasil. A temática é relevante, porque atende às recomendações da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, sobre a promoção do multilinguismo e do acesso universal ao ciberespaço. Uma das ações recomendadas pelo órgão especializado das Nações Unidas é que os Estados-membros e as organizações internacionais devem incentivar e apoiar a capacitação para a produção de conteúdo local e indígena na Internet. O povo wapichana devido ao emprego exclusivo da língua da sociedade envolvente, o português no Brasil e o inglês na Guiana, tem abandonado progressivamente o próprio idioma por parte dos falantes nativos, especialmente os mais jovens (SANTOS, 2006). Assim através do uso da tecnologia da informação e

1 Creative Commons é uma organização sem fins lucrativos que permite o compartilhamento e uso da criatividade e do conhecimento através de instrumentos jurídicos gratuitos. 2 Nesta dissertação seguiu-se a grafia recomendada pela obra “Paradakary Urudnaa – Dicionário Wapichana/Português; Português/Wapichana” (SILVA, B.; SILVA, N.S.;OLIVEIRA 2013). 14

comunicação (TIC), no desenvolvimento de materiais e conteúdos que possam ser disponibilizados na internet e utilizados em dispositivos computacionais móveis como notebooks, tablets e principalmente smartphones, pretende atrair essa juventude para que continuem a falar e escrever em seu idioma indígena. Portanto, a ação de incentivar e apoiar a capacitação para a produção de conteúdo local e indígena na Internet é mais uma forma de valorizar, ensinar, divulgar e formar novos falantes da língua wapichana. Por isso, acreditamos que a produção de livros digitais, e-books, pode ser um ponto de convergência entre o desenvolvimento de conteúdo digital indígena, o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação, e o ensino, valorização e divulgação das línguas indígenas faladas no Brasil, por ser um tipo de produto portável em todas as formas de comunicação atuais. Os livros digitais também possibilitam ao leitor uma nova experiência de leitura, por possuírem recursos de hipertexto que incluem links de áudio, vídeo, imagens e outros textos, além de não precisarem ser impressos. Daí uma de suas principais vantagens em relação aos livros comuns é a sua facilidade de produção e distribuição, que pode ser feita pela Internet, compartilhada entre dispositivos móveis por bluetooth, por aplicativos de mensagens entre outras possibilidades. Em um estudo proposto por Diki-Kidir (2007), o processo para a inclusão de uma língua no ciberespaço, Internet, passa por algumas etapas, cujas mais relevantes são: Desenvolvimento de Recursos Linguísticos; Desenvolvimento de Recursos de Tecnologia da Informação; Desenvolvimento de Conteúdo Cultural; e Desenvolvimento de uma Comunidade de Usuários (em nível local, nacional e internacional). Considerando essas etapas, o apoio recebido do Programa de Valorização das Línguas e Culturas Macuxi e Wapichana (PVLCMW), o qual está inserido na Pró-reitoria de Extensão da Universidade Federal de Roraima – UFRR, o fato de o Wapichana ser uma das línguas indígenas mais faladas no estado e que desde a década de 1990 professores dessa etnia já se organizam na elaboração de materiais e subsídios para ensino e preservação da língua e cultura Wapichana e ainda por sugestão de minha coorientadora nessa pesquisa, Ananda Machado, que já desenvolve trabalhos com essa língua, ficou definido que o idioma indígena falado em Roraima, que seria utilizado para a produção de um primeiro livro digital, seria o Wapichana. 15

A Língua Wapichana já possui alguns materiais didáticos, livros de textos, dicionários e até bíblias, mas nenhum recurso ainda que pudesse fazer esse povo utilizar as TICs, de forma que fossem incluídos digitalmente utilizando sua língua indígena. O recurso inédito por nós desenvolvido é um livro digital com áudio, que foi criado a partir dos textos e áudios retirados do programa de rádio da emissora FM Monte Roraima, Watuminhap Wapichanda’y! “Vamos aprender Wapichana”, que foi ao ar em 2005, sob a direção do Padre Ronaldo B. McDonell e era apresentado por indígenas Wapichana. O produto que foi desenvolvido é um livro digital que apresenta recurso de mídia, neste caso, áudio, que pode ser ouvido a partir de um toque em um ícone (botão) que tem a função de executar um som que acompanha o texto. Mas este e- book não pode ser confundido com um áudiolivro ou audiobook, como chamam em inglês, feito exclusivamente para ser ouvido e cujo texto é narrado pelo autor ou por outra pessoa, sendo gravado num modo que pode ser reproduzido em qualquer aparelho, computador, smartphone, tablet etc. (DICIO, 2018). Também não foi possível utilizar neste e-book o recurso de leitura TTS (text-to-speech), que é uma tecnologia para sintetizar a fala de um ser humano a partir de uma entrada de texto, uma vez que a língua wapichana ainda não possui um dicionário fonético para a correta pronúncia das palavras dessa língua. Esta pesquisa se justifica porque a língua wapichana, assim como outras línguas indígenas, é cada vez menos falada pelos indígenas mais jovens, principalmente quando estes estão “navegando” na internet, pois nesse ambiente não encontram as suas próprias línguas nativas, mas o que pode contribuir para modificar esta realidade é a produção, em línguas indígenas, de livros digitais e sua disponibilização na Internet para serem lidos, “baixados” e compartilhados entre diferentes tipos de dispositivos tecnológicos e de diferentes formas. Um dos primeiros benefícios que se pode vislumbrar é um maior interesse dos mais jovens por esse tipo de mídia virtual e consequentemente um maior uso da língua indígena. Outra justificativa são as demandas do Programa de Valorização das Línguas e Culturas Wapichana e Macuxi da extensão na Universidade Federal de Roraima (UFRR) em desenvolver materiais didáticos e aplicativos computacionais com a utilização da tecnologia da informação e comunicação para apoiar a iniciativa em seus trabalhos com as línguas indígenas e na formação de professores, mas que 16

até o momento não tinham conseguido desenvolver produtos na área de TICs devido à falta de profissionais dessa área no programa de extensão. Daí o expressivo valor social gerado, pois, a partir da experiência do primeiro e-book com áudio criado, os wapichana poderão registrar não apenas seu idioma, mas também seus conhecimentos tradicionais, lendas e cultura em textos e áudios à sua maneira, tornando-se também editores e criando novos e-books como material de apoio na formação de novos leitores e falantes de wapichana. Desta forma, pode- se também ampliar o número de publicações indígenas dessa língua.

1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo Geral Produzir um livro digital com áudio (e-book) da Língua Wapichana em Roraima.

1.1.2. Objetivos Específicos  Elaborar um produto de tecnologia digital para incrementar o ensino da Língua Wapichana em Roraima;  Analisar as iniciativas em prol da preservação da língua Wapichana, complementadas com a publicação do e-book desenvolvido sob a perspectiva das recomendações da UNESCO para uso do multilinguismo no ciberespaço;  Apresentar um livro digital com áudio para as lideranças e professores Indígenas de Roraima e avaliar o grau de satisfação dos leitores, indígenas ou não, em relação ao uso do e-book.

1.2. METODOLOGIA

A abordagem metodológica para se alcançar os objetivos da presente pesquisa foram: o levantamento bibliográfico, estudo de caso para edição de um livro digital com áudio e uma pesquisa aplicada através de um QUIS (Questionnaire for User Interection Satisfaction), para saber o grau de satisfação dos leitores com o e-book. O resultado do QUIS está disponível no APENDICE D. O levantamento bibliográfico trouxe os conceitos sobre Propriedade Intelectual, destacando os direitos de autor e direitos conexos e ainda sobre licenças 17

Creative Comons. Também serviu para mostrar um pouco da situação dos povos indígenas do estado de Roraima, em especial a etnia wapichana, seus territórios, população e sua língua. Além disso, este levantamento buscou citar as iniciativas em prol da preservação e divulgação da língua wapichana, entre as quais destacamos suas publicações textuais em língua wapichana, o Programa de Valorização das Línguas e Culturas Macuxi e Wapichana e a cooficialização da língua wapichana nos municípios do Cantá e Bonfim, em Roraima, através das Leis municipais 211/2014 no Bonfim e 281/2015 no Cantá. As informações produzidas na pesquisa bibliográfica serviram também para identificar e registrar que as recomendações da UNESCO, para uso do multilinguismo no ciberespaço por parte do povo wapichana, pode ser uma realidade e assim ter o reconhecimento e o apoio de lideranças indígenas em utilizar as TICs como ferramenta de apoio na preservação, ensino e divulgação dos idiomas indígenas. Do mesmo modo, a pesquisa bibliográfica envolveu os conceitos sobre livros digitais e suas vantagens e desvantagens em relação aos livros tradicionais. E como forma de demonstrar as vantagens e a viabilidade da publicação de livros digitais, através de um estudo de caso, foi feita uma breve descrição da construção do e- book com áudio Watuminhap Wapichan Da’y! Vamos Aprender Wapichana, desenvolvido para o ensino da Língua Wapichana. Após a publicação e lançamento do e-book, foram distribuídos exemplares do livro digital para professores indígenas wapichana e de outras etnias, acadêmicos da UFRR e também para não indígenas. Desses leitores, foram coletadas, de forma voluntária, suas opiniões a respeito da experiência de utilização do e-book contudo não se obteve uma amostra significativa da pesquisa, mas que pode indicar um norte para esta publicação.

1.3 ORGANIZAÇÃO

Esta dissertação está organizada em nove capítulos, além das referências bibliográficas. A introdução visa apresentar o tema de uma forma geral, a contextualização do tema nas linhas de pesquisa do mestrado PROFNIT, relacionando o tema central da pesquisa aos direitos autorais e a importância das recomendações da UNESCO em relação ao multilinguismo que tem como uma de 18

suas ações a produção de conteúdo digital indígena para a internet, o que tange o cerne da produção de livros digitais como apoio ao ensino e divulgação de línguas indígenas, nesse caso específico a língua Wapichana, na introdução também encontramos os objetivos e a metodologia utilizada para desenvolver este trabalho. O capítulo 2 trás os principais conceitos de propriedade intelectual, enfatizado os direitos de autor. No capítulo 3 destacamos as Licenças Creative Commons e suas modalidades de proteção. No capítulo 4 é apresentada a população indígena de Roraima, os povos e suas terras, com destaque ao povo Wapichana, sua língua, sua escrita e as iniciativas em prol da preservação de sua língua, como suas publicações literárias, um relato sobre o Programa de Extensão da UFRR denominado Programa de Valorização das Culturas Macuxi e Wapichana e também citamos fatos da Cooficiliazação do idioma Wapcihana em dois municípios do estado de Roraima O capítulo 5 trata dos povos indígenas e sua relação com as Tecnologias de Informação e Comunicação -TICs. O capítulo 6 descreve os livros digitais, seus principais formatos de arquivos e seus dispositivos de leituras, além das vantagens do e-book sobre os livros tradicionais. No capítulo 7, apresentamos as etapas que tendem a confirmar que a produção do livro digital “Vamos Aprender Wapichana” atende às recomendações da UNESCO para promoção e uso do multilinguismo na Internet. No capítulo 8, resultados e discussão, temos no primeiro tópico a descrição, e etapas de produção do e-book com áudio Watuminhap Wapichan Da’y! “Vamos Aprender Wapichana”. No segundo tópico, é mostrado como foram produzidos e adquiridos o corpus de texto e áudio utilizados na edição deste livro digital e no terceiro tópico os requisitos necessários para leitura e audição do e-book desenvolvido. O capítulo 9 é destinado às considerações finais que, de acordo com a revisão bibliográfica, os resultados obtidos da produção do e-book com áudio Watuminhap Wapichan Da’y! “Vamos Aprender Wapichana” conclui o presente trabalho na perspectiva de que o produto apresentado possa se tornar uma ferramenta de apoio na preservação e divulgação da língua wapichana e de outras línguas indígenas faladas Brasil e no mundo.

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2 PROPRIEDADE INTELECTUAL

A convenção da Organização Mundial da Propriedade Intelectual - OMPI define a propriedade intelectual como a soma dos direitos relativos à:

às obras literárias, artísticas e científicas; às interpretações dos artistas intérpretes e às execuções dos artistas executantes, aos fonogramas e às emissões de radiodifusão; às invenções em todos os domínios da atividade humana; as descobertas científicas; os desenhos e modelos industriais; às marcas industriais, comerciais e de serviço, bem como às firmas comerciais e denominações comerciais; à proteção contra a concorrência desleal e todos os outros direitos inerentes à atividade intelectual nos domínios industrial, científico, literário e artístico.(OMPI, 1967).

Para Branco et al (2011) entende-se por Propriedade Intelectual o conjunto de direitos sobre bens imateriais que resultam do intelecto humano e tem valor econômico. Assim para o mundo dos negócios:

obras, conhecimento, invenções, inovações e outras expressões da criatividade humana são convertidas em propriedade privada e protegidas por lei por meio do sistema de propriedade intelectual. Como propriedade privada, elas são comercializadas como bens imateriais, chamados de ativos intangíveis. (JUNGMANN; BONETT, 2010).

Ou seja, a propriedade intelectual se torna importante para as pessoas e para as empresas a partir da obtenção de retorno financeiro da comercialização de suas criações e/ou invenções devidamente protegidas. Também significa que o titular de uma propriedade intelectual é livre para usá-la, (desde que esse uso não seja contrário à lei e não interfira no direito de terceiros) e para impedir alguém de utilizá-la.

Desse modo, quando legalmente protegida, a Propriedade Intelectual torna- se um importante ativo para o aumento da competitividade, pois agrega valor à capacidade de inovação das empresas e, consequentemente, auxilia no desenvolvimento das nações ao estimular a criação de novos produtos e métodos de produção, aumentar a produtividade, gerar riquezas, favorecer o comércio internacional, melhorar a qualidade de vida e fomentar a faculdade criadora, além de outros avanços (JUNGMANN; BONETT, 2010 apud BRANCO et al, 2011).

A propriedade intelectual está divida em três categorias principais do direito: Direito Autoral, Propriedade Industrial e Proteção Sui Generes. 20

 Direitos de Autor e Conexos: São direitos concedidos aos autores de obras intelectuais expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte. Estes direitos incluem: obras literárias, artísticas e científicas, interpretações artísticas e execuções, fonogramas e transmissões por radiodifusão e programas de computador.  Propriedade Industrial: São direitos concedidos ao titular de tecnologias industriais e marcas, com o objetivo de promover a criatividade pela proteção, disseminação e aplicação industrial de seus resultados, nestes direitos estão incluídos: as patentes, desenho industrial, marcas e Indicação geográfica.  Direitos Sui generis: São do escopo de propriedade intelectual, mas não abrangem direito de autor e propriedade industrial, são eles: a proteção de Novas Variedades de Plantas (Cultivares), Topografia de Circuito Integrado, Conhecimentos Tradicionais e Manifestações Folclóricas. Mas existem outras formas de proteger o conhecimento gerado pelo ser humano e que são utilizado pela sociedade, estes instrumentos são:  Know how que é o conhecimento não codificado, relacionado ao desempenho de um determinado produto e/ou processo produtivo.  Segredo de negócio que é um conhecimento relacionado à atividade comercial, industrial e de serviço que configura o modelo de negócio desenvolvido pela empresa.  Tempo de liderança sobre competidores. Dada a complexidade do produto e do processo, existe uma barreira à entrada ao desenvolvimento tecnológico de um determinado produto e/ou processo produtivo por conta da falta de capacidade tecnológica de reprodução do concorrente. No Brasil, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial -INPI é o órgão responsável pela análise e registro dos pedidos de Patentes, Marcas, Desenho Industrial, Indicação Geográfica, Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado. Já em relação aos Direitos de Autor, dependendo do tipo de obra, o registro é feito em órgãos distintos, a saber: as obras literárias, científicas e artísticas são registradas na Fundação Biblioteca Nacional e as composições musicais são na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro; 21

Em relação aos pedidos de análise de novas variedades de plantas, a responsabilidade é do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. O Quadro 1 mostra as quatro dimensões da propriedade intelectual.

Quadro 1 – Dimensões da Propriedade Intelectual Dimensão Conceito Dimensão Temporal os direitos de propriedade intelectual têm um prazo máximo de vigência para que o titular possa explorar economicamente com exclusividade os bens e os processos produtivos decorrentes deste direito. Escopo do Direito cada direito de propriedade intelectual apresenta uma delimitação de proteção definida por lei. Segurança jurídica o direito de propriedade intelectual evita que terceiros possam explorar indevidamente sem a prévia autorização do titular do direito. Territorialidade da embora o direito de autor tenha validade internacional, o propriedade industrial direito de propriedade industrial somente tem validade no país de depósito. Fonte: Baseado na apostila DL 101P BR – Introdução à PI (WIPO/OMPI/INPI, 2017)

2.1 DIREITOS DE AUTOR

A Convenção de Berna e ao Acordo sobre os Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (Acordo TRIPs), são os dois acordos internacionais mais importantes na área dos direitos de autor. No Brasil, os direitos autorais e conexos são atualmente regidos pela Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

As normas constitucionais diretamente incidentes sobre os direitos autorais são, com relação aos direitos patrimoniais, o inciso XXVII e XVIII do artigo 5º. No plano constitucional, é garantida a exclusividade de utilização econômica das expressões individuais, originalmente ao autor, durante sua vida e por tempo determinado após a morte, assegurado ainda, ao autor, o direito de fiscalização. (WIPO/OMPI/INP, 2017).

Os Direitos de Autor visam prover proteção aos autores (escritores, artistas, compositores musicais, etc.) nas suas criações. No âmbito da proteção estão incluídos os textos, músicas, obras de arte, como pinturas e esculturas, e também as 22

obras tecnológicas, como, por exemplo, os programas de computador e as bases de dados eletrônicas (WIPO/OMPI/INP, 2017). Mas é importante notar que os direitos de autor protegem obras, ou seja, as expressões concretas, e não as ideias. A legislação brasileira de direitos autorais, Lei 9.610, descreve, em seu artigo 7º, as obras protegidas, da seguinte forma:

São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como: I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas; II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza; III - as obras dramáticas e dramático-musicais; IV - as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por escrito ou por outra qualquer forma; V - as composições musicais, tenham ou não letra; VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas; VII - as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao da fotografia; VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte cinética; IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza; X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência; XI - as adaptações, traduções e outras transformações de obras originais, apresentadas como criação intelectual nova; XII - os programas de computador; XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias, dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção, organização ou disposição de seu conteúdo, constituam uma criação intelectual. (BRASIL, 1998).

Ainda no parágrafo primeiro, do mesmo artigo, a Lei de Direitos Autorais esclarece que os programas de computador são objeto de lei própria, a Lei 9.609/98. Já o que o não pode ser protegido pelo Direito de Autor na legislação brasileira é descrito no artigo 8º da Lei de Direitos Autorais:

I - as ideias, procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos ou conceitos matemáticos como tais; lI - os esquemas, planos ou regras para realizar atos mentais, jogos ou negócios; III - os formulários em branco para serem preenchidos por qualquer tipo de informação, científica ou não, e suas instruções; IV - os textos de tratados ou convenções, leis, decretos, regulamentos, decisões judiciais e demais atos oficiais; V - as informações de uso comum tais como calendários, agendas, cadastros ou legendas; VI - os nomes e títulos isolados; VII - o aproveitamento industrial ou comercial das ideias contidas nas obras. (BRASIL, 1998).

O titular de direitos de autor sobre uma obra protegida pode usar a obra como desejar, e pode impedir terceiros de utilizá-la sem a sua autorização. Assim, geralmente, o titular dos direitos de autor sobre uma obra protegida possui “direitos exclusivos”, onde o titular tem o direito de autorizar terceiros a fazer uso da obra, 23

ressalvados os direitos e interesses reconhecidos legalmente a esses terceiros ou em razão do interesse público, que impõem limitações a esses direitos (WIPO/OMPI/INP, 2017). Existem dois tipos de direitos conferidos pelo sistema de direitos de autor: direitos patrimoniais, que permitem ao titular obter retorno financeiro do uso e da exploração da obra; e direitos morais, que permitem ao autor adotar certas medidas para preservar o vínculo pessoal existente entre ele e a obra. Através dos direitos patrimoniais os autores podem autorizar ou proibir os seguintes atos em relação às suas obras:

 A reprodução parcial ou integral em várias formas, como, por exemplo, em uma publicação impressa, na gravação da obra por meios magnéticos ou digitais;  A edição, a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações, como, por exemplo, a conversão de uma novela ou de uma peça teatral em um roteiro para cinema;  A tradução para qualquer idioma;  A distribuição, como, por exemplo, por meio da venda ao público de cópias da obra;  Interpretação e execução públicas, como, por exemplo, a interpretação musical durante um concerto ou uma peça teatral;  Radiodifusão e comunicação ao público via rádio, TV, cabo ou satélite;  A inclusão em base de dados, o armazenamento em computador, a microfilmagem e as demais formas de arquivamento do gênero. (JUNGMAN, 2010).

O direito moral refere-se ao direito de natureza pessoal do autor (pessoa física), por isso é irrenunciável e intransferível. Entre outros, o direito moral assegura ao autor a prerrogativa de:

• Reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra; • Ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra; • Conservar a obra inédita; • Assegurar a integridade da obra, ou seja, o direito de rejeitar modificações na obra ou, ainda, utilizações em contextos que possam causar prejuízos à reputação ou à honra do autor. (JUNGMAN, 2010).

É importante destacar que direito autoral não é o mesmo que copyright. O copyright está associado ao direito à reprodução ou cópia da obra e dá ênfase à exploração patrimonial destas. Já o direito autoral tem seu escopo fundamentado na proteção do criador, que pode exercer o direito patrimonial sobre sua obra, autorizando ou proibindo sua reprodução, bem como colocá-la à disposição do 24

público na forma, local e pelo prazo que desejar, a título oneroso ou gratuito. (JUNGMAN, 2010).

2.2 DIREITOS CONEXOS

Direitos conexos referem-se à proteção para artistas intérpretes ou executantes, produtores fonográficos e empresas de radiodifusão e são independentes do direito de autor sobre as obras por eles executadas, gravadas ou transmitidas. Alguns exemplos incluem a interpretação de uma música por um cantor ou músico, a encenação de uma peça por atores, a atuação do produtor musical ou o papel das empresas de radiodifusão. Os direitos conexos se distinguem dos direitos de autor, apesar de estarem muito próximos desses. No entanto, originam-se de uma obra protegida pelo direito autoral. Assim, os dois conceitos estão sempre, de algum modo, associados. Os direitos conexos oferecem o mesmo tipo de exclusividade que o direito autoral, mas, se não cobrem as obras propriamente ditas, em contrapartida, intervêm sempre na obra, e estão geralmente associados com sua comunicação ao público. (WIPO/OMPI/INPI. 2017). Os direitos conexos são muito similares aos dos titulares de direitos de autor. Aos seus é dado o direito de impedir terceiros de uma exploração não autorizada das interpretações ou execuções, gravações ou emissões de radiodifusão que estejam protegidas. No Brasil, o prazo de duração dos direitos conexos (Art 96) “é de setenta anos o prazo de proteção aos direitos conexos, contados a partir de 1º de janeiro do ano subsequente à fixação, para os fonogramas; à transmissão, para as emissões das empresas de radiodifusão; e à execução e representação pública, para os demais casos. (WIPO/OMPI/INPI. 2017) O objetivo dos direitos conexos é proteger os interesses jurídicos de certas pessoas, físicas ou jurídicas, que contribuem para tornar as obras acessíveis ao público e/ou acrescentam criatividade e habilidade técnica ou organizacional no processo de tornar uma obra conhecida do público.

25

3 LICENÇAS CREATIVE COMONS

O projeto Creative Commons3 é uma organização não governamental sem fins lucrativos com sede em São Francisco, na Califórnia, Estados Unidos, fundada em 2001 por Lawrence Lessig, Hal Abelson e Eric Eldre, e a primeira versão das licenças surgiu em dezembro de 2002. As licenças Creative Commons surgem no âmbito do chamado copyleft que é considerada o oposto de copyright.

Enquanto o direito autoral é visto pelos mentores originais do copyleft como uma maneira de restringir o direito de fazer e distribuir cópias de determinado trabalho, uma licença de copyleft usa a lei de direitos autorais de forma a garantir que todos que recebam uma versão da obra possam usar, modificar e também distribuir tanto a obra quanto suas versões derivadas. (BRANCO; BRITTO, 2013).

Lawrence Lessig, professor da Universidade de Stanford, e um dos criadores da licença Creative Commons, as define como:

Uma licença Creative Commons constitui uma garantia de liberdade para qualquer um que acessa o conteúdo, e mais importante, uma expressão de um ideal, em que a pessoa associada à licença mostra que acredita em algo mais do que os extremos “Todos” ou “Nenhum”. O conteúdo é marcado com a marca (cc) ou CC, que não indica que abriu-se mão do copyright, mas que certas liberdades foram dadas. (MACEDO; MACHADO, 2018).

Para Macedo e Machado (2018), uma das finalidades das licenças “creative commons” é instituir-se como um meio termo, onde de um lado temos um modelo da lei que trata do direito autoral e do outro a pirataria, que é um espaço sem nenhum direito reservado. Isso permite um equilíbrio de natureza jurídica com a criação de alguns direitos reservados, permitindo, assim, o ganho financeiro. No Brasil a Cretive Commons está representada pelo Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, e as licenças estão disponíveis no site denominado creativecommons.org, que também possui uma versão brasileira creativecommons.org.br. No site o titular de direitos autorais deverá responder a duas perguntas: a) Permitir uso comercial de seu trabalho? b) Permitir transformações de seu trabalho?

3 https://creativecommons.org/ 26

A primeira pergunta comporta duas opções de resposta: sim ou não. Ou seja, o titular está autorizando, ou não, que terceiro use sua obra com finalidade econômica. No caso da música, por hipótese, se a autorização se der permitindo-se o uso econômico, então o usuário poderá incluí-la em filmes comerciais, novelas de televisão ou CDs que serão vendidos no mercado. Do contrário, tais condutas serão vedadas. Poderá, entretanto, distribuir a música de graça ou incluí-la na trilha sonora de um filme distribuído gratuitamente. A segunda pergunta se desdobra em três possibilidades de resposta: sim, não e depende. As duas primeiras são triviais: ou se permite – ou se veda – modificação da obra original. Mas cabe aqui uma terceira opção. Nesta, o titular permite que terceiro realize modificação desde que, divulgando-se a obra modificada, o resultado final seja, também ele, licenciado sob a mesma licença da obra original. Impõe-se, aqui, uma condição ao usuário com o objetivo de se manter a cadeia de criatividade aberta a novas possibilidades. (BRANCO; BRITTO, 2013).

O Quadro 2 mostra as modalidades de licenças geradas a partir da combinação de respostas das duas perguntas: Quadro 2 – Modalidades de Licença Creative Commons Atribuição CC BY

Esta licença permite que outros distribuam, remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho, mesmo para fins comerciais, desde que lhe atribuam o devido crédito pela criação original. É a licença mais flexível de todas as licenças disponíveis. É recomendada para maximizar a disseminação e uso dos materiais licenciados.

Atribuição-CompartilhaIgual CC BY-SA

Esta licença permite que outros remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho, mesmo para fins comerciais, desde que lhe atribuam o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos. Esta licença costuma ser comparada com as licenças de software livre e de código aberto "copyleft". Todos os trabalhos novos baseados no seu terão a mesma licença, portanto quaisquer trabalhos derivados também permitirão o uso comercial. Esta é a licença usada pela Wikipédia e é recomendada para materiais que seriam beneficiados com a incorporação de conteúdos da Wikipédia e de outros projetos com licenciamento semelhante.

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Atribuição-SemDerivações CC BY-ND Esta licença permite a redistribuição, comercial e não comercial, desde que o trabalho seja distribuído inalterado e no seu todo, com crédito atribuído a você.

Atribuição-NãoComercial CC BY-NC Esta licença permite que outros remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho para fins não comerciais, e embora os novos trabalhos tenham de lhe atribuir o devido crédito e não possam ser usados para fins comerciais, os usuários não têm de licenciar esses trabalhos derivados sob os mesmos termos.

Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual CC BY-NC-SA Esta licença permite que outros remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam a você o devido crédito e que licenciem as novas criações sob

termos idênticos.

Atribuição-SemDerivações-SemDerivados CC BY-NC-ND Esta é a mais restritiva das nossas seis licenças principais, só permitindo que outros façam download dos seus trabalhos e os compartilhem desde que atribuam crédito a você, mas sem que

possam alterá-los de nenhuma forma ou utilizá-los para fins comerciais. Fonte: Creative Commons.org (2019)

Segundo a Creative Comons Brasil, todas as suas licenças ajudam os criadores, a quem chamam de licenciantes, a manter o seu direito de autor e os seus direitos conexos, ao mesmo tempo que permitem que outras pessoas copiem, distribuam e façam alguns usos do seu trabalho — pelo menos, para fins não comerciais. E todas as licenças Creative Commons são aplicáveis em todo o mundo e duram o mesmo prazo que o direito de autor e/ou os direitos conexos aplicáveis. 28

4 POPULAÇÃO INDÍGENA DE RORAIMA

A população indígena brasileira, segundo dados do Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE em 2010, é de 896,9 mil indígenas, contabilizando também aqueles que se consideram indígenas de acordo com suas tradições, costumes, cultura e antepassados. De acordo com a pesquisa, foram reconhecidas 274 línguas, no entanto, dentre os indígenas com 5 anos ou mais de idade, 37,4% falavam uma língua indígena e 76,9% falavam português.

Entretanto, no que diz respeito aos números totais de língua e etnia, há ainda a necessidade de estudos linguísticos e antropológicos mais aprofundados, pois algumas línguas declaradas podem ser variações de uma mesma língua, assim como algumas etnias também se constituem em subgrupos ou segmentos de uma mesma etnia (IBGE, 2010).

Ainda conforme o Censo 2010 do IBGE, a população total do estado de Roraima era de 450.479 habitantes, destes, os indígenas eram em número de 49.637, representando assim 11% da população do estado.

Com porcentagem de 46,20%, é o estado campeão nacional em disponibilizar parte do seu território para terras indígenas, seguido do Amazonas (21,63%), Pará (19,28%), Rondônia (17,25%) e Acre (11,89%), sendo que os demais estados possuem menos de 10% de terras destinadas como reservas indígenas (GONDIM et al., 2013, pp. 56-7 apud LIMA, 2017).

O estado de Roraima possui 32 terras indígenas regularizadas, conforme Quadro 3, destas, algumas também abrangem outros estados, como Trombetas/Mapuera, Waimiri-Atroari e a Yanomami. Esse contexto faz com que mais de 80% da população indígena do estado vivam nas terras indígenas demarcadas.

Quadro 3 – Terras Indígenas, municípios abrangidos, área total e população indígena no ano de 2013.

Situação da Municípios Terra Indígena Área (ha) Pop. Indígena Demarcação abrangidos Ananás Regularizada Amajari 1.769 20 29

Anaro Regularizada Amajari 30.474 55 Aningal Regularizada Amajari 7.627 214 Anta Regularizada Alto Alegre 3.174 162 Araçá Regularizada Amajari 50.018 1.849 Barata – Livramento Regularizada Alto Alegre 12.883 860 Bom Jesus Regularizada Bonfim 859 60 Boqueirão Regularizada Alto Alegre 16.354 421 Cajueiro Regularizada Amajari 4.304 130 Canauanim Regularizada Bonfim e Cantá 11.182 1.064 Jabuti Regularizada Bonfim 14.211 421 Bonfim e Jacamim Regularizada 193.494 1.406 Caracaraí Malacacheta Regularizada Bonfim e Cantá 28.632 956 Mangueira Regularizada Alto Alegre 4.064 109 Manoá-Pium Regularizada Bonfim 43.337 2.186 Moscou Regularizada Bonfim 14.213 530 Muriru Regularizada Bonfim e Cantá 5.556 159 Ouro Regularizada Amajari 13.572 196 Pium Regularizada Alto Alegre 4.608 352 Ponta da Serra Regularizada Amajari 15.597 311 Raimundão Regularizada Alto Alegre 4.277 256 Normandia, Raposa Serra do Regularizada Pacaraima e 1.747.465 21.685 Sol Uiramutã Santa Inês Regularizada Amajari 29.698 170 Boa Vista e São Marcos Regularizada 654.110 5.227 Pacaraima Serra da Moça Regularizada Boa Vista 11.627 560 Sucuba Regularizada Alto Alegre 5.983 250 Tabalascada Regularizada Cantá 13.015 464 Caroebe (RR), Faro (PA), Nhamundá (AM), Trometas Mapuera* Regularizada Oriximiná (PA), 3.970.898 3.225 São João da Baliza (RR), Urucará (AM) Boa Vista e Alto Truaru Regularizada 5.653 388 Alegre

Waimiri-Atroari* Regularizada Novo Airão (AM), 2.585.912 1.622 30

Presidente Figueiredo (AM), Rorainópolis (RR), São João da Baliza (RR),Urucará (AM) Caroebe, Caracaraí, São Wai-Wai Regularizada Luiz do Anauá e 405.698 282 São João da Baliza Alto Alegre (RR), Barcelos (AM), Boa Vista (RR), Caracaraí (RR), Yanomami* Regularizada Mucajaí (RR), 9.664.975 25.972 Santa Isabel do Rio Negro (AM) e São Gabriel da Cachoeira (AM). Total - - 19.575.238 71.562 Fonte: Fundação Nacional do Índio em Roraima. Elaboração: SEPLAN-RR/CGEES (2013).

Os povos indígenas de Roraima são: Ingarikó, Macuxi, Patamona, Taurepang, Waimiri Atroari, Wai Wai, Wapichana, Yanomami e Ye'kwana (ISA, 2018). Estes povos estão distribuídos em todos os15 municípios de Roraima, conforme mostram os dados da Secretaria Especial de Saúde do Índio – SESAI, Distritos Sanitários Especial Indígena do Leste de Roraima e Yanomami, Tabela 1. Tabela 1 – População Indígena por Município em RR Municipio Total Pacaraima 7.550 Boa Vista 3.028 Bonfim 5.061 Cantá 2.741 Alto Alegre 8.806 Caroebe 483 São Luiz 221 São João da Baliza 104 Uiramutã 11.607 Normandia 7.936 Amajari 3.900 Mucajaí 339 Caracaraí 1.056 Iracema 1.241 Fonte: SIASI/DSEI/LESTE RR e SIAS/DSEI YANOMAMI (2017)

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4.1 O POVO WAPICHANA

Os Wapichana (também chamados de Wapixanas, Wapissiana, Wapiana, Uabixana e Wapityan) são um povo indígena do tronco linguístico Aruaque (Aruak), residindo nos campos e savanas existentes entre o leste do estado, na região conhecida como lavrado (ÁVILA, 2006, p. 227). A Figura 1 mostra uma indígena Wapichana da Comunidade Malacacheta. Figura 1 – Mulher indígena Wapichana

Fonte: RCCaleffi, 2012 Historicamente, de acordo com Leandro (2017, p. 13):

Os primeiros contatos do povo Wapichana com os não indígenas foi no século XVIII. Durante este período, no norte do território brasileiro, os portugueses realizaram uma ocupação militarizada. A partir da segunda metade do século XIX, o contato do povo Wapichana com os não indígenas se intensificou, tanto no Brasil quanto na Guiana. Nesta época, os portugueses disputavam a fronteira entre os atuais territórios do Brasil e da Guiana com os ingleses.

Atualmente, o território Wapichana é reconhecido geograficamente como se estendendo dos vales do rio Uraricoera, no Brasil, ao do Rupununi, na República Cooperativa da Guiana. Abrange os municípios de Cantá e Bonfim, no estado de Roraima, onde reside a maior parte dos wapichana (MACHADO, 2016, p. 20). Segundo Machado (2016), o território Wapichana no Brasil, é a região denominada de Serra da Lua. Essa região é limitada pelos rios Tacutu, ao norte e ao 32

leste; o rio Branco, a oeste; os rios secundários da bacia do rio Branco - Quitauau, Urubu, Jacamim, Arraia - e a Serra da Lua representa o limite sul da região, que é referência geográfica do atual território Wapichana. Este povo está presente em oito terras indígenas: Malacacheta, Canauanim, Moscow, Murirú, Manoá/Pium, Jacamim, Jaboti e Tabalascada, e segundo o Relatório de Dados Populacionais de 2013 das etnias cadastradas no Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena - SIASI, por Distrito Sanitário Especial Indígena – DSEI, leste de Roraima, possuem uma população de 8.407 indivíduos. As terras indígenas, onde vivem os wapichana, não são contínuas, são em formas de “ilhas”, conforme podemos observar na Figura 2, mas há também um bom número de wapichanas vivendo nas cidades.

Figura 2 – Mapa das terras indígenas da região da Serra da Lua

Fonte: INPE e FUNAI (2007).

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4.1.1 A Língua Wapichana

A ISO 693-34 identifica a língua wapichana com o código wap, status como ativa e o tipo de idioma como viva, Quadro 4. A ISO 639-3 é um conjunto de códigos para a representação de nomes de idiomas por meio de três letras para identificar todas as linguagens humanas conhecidas. Quadro 4 – Identificação da língua wapichana na ISO 639 Identifier Language Status Code Scope Language Denotations Name(s) Sets Type Ethnologue, , Wap Active 639-3 Individual Living Multitree, Wikipedia Fonte: ISO 693-3 (2018). A língua wapichana está afiliada geneticamente à família Aruák. De acordo com Rodrigues (2002, apud Almeida 2017, p. 21):

as línguas da família Aruák recebem esse nome por compartilharem semelhanças com a língua Aruák. Essa língua, segundo o autor, é falada na costa guianesa da América do Sul na região que compreende a Venezuela, a Guiana, o Suriname e a Guiana Francesa. Ela também é falada em algumas ilhas das Antilhas.

Segundo Migliazza (1980, apud Santos, 2006, p.20), os wapichana podem falar a língua nacional com a qual estão em contato, ou português no Brasil ou o inglês na Guiana, e podem também falar macuxi ou taurepang, ambas as línguas pertencentes à família Karib, nas comunidades mistas5. Não pretendemos neste trabalho aprofundar sobre aspectos históricos ou linguísticos da língua wapichana, mas tratar tão somente da situação mais atual desta, que apesar da presença constante do uso da língua wapichana nas atividades que se desenrolam no dia a dia da população indígena, o português permanece ocupando lugar de destaque como língua oficial (MACHADO, 2012, p. 119-120). A alfabetização das crianças é feita na língua portuguesa. A língua wapichana é apenas usada na escola durante as aulas em que é ensinada, as

4 https://iso639-3.sil.org/ site oficial da Autoridade de Registro ISO 639-3 5 Comunidades onde habitam conjuntamente além dos wapichana, outras etnias como os macuxi, taurepang e outras. 34

outras disciplinas sãs conduzidas em português (LEANDRO, 2017, p. 16). A mesma autora também observa que:

a língua indígena está sendo ensinada, porém ainda falta material de ensino e um treinamento para os professores que ensinam essas línguas para que eles possam lidar com as realidades diferentes, isto é, como ensinar a língua indígena como primeira língua ou como segunda língua.(LEANDRO, 2017)

4.1.2 A Escrita Wapichana

Segundo Franchetto (2008, p. 35), a língua wapichana começou a ser escrita nos anos 1950, na sede da Unevangelized Field Mission da Guiana Inglesa (UFM). A partir de então, o sistema ortográfico elaborado pelos evangélicos foi trazido para as comunidades Wapichana no Brasil, quer por missionários, quer pelos indígenas, em viagens e ações de proselitismo religioso (MACHADO, 2016, p. 103). A escrita wapichana não está totalmente padronizada, o Quadro 5 mostra por exemplo, algumas diferenças entre a escrita wapichana da Guiana e a do Brasil, onde é possível perceber que no país vizinho a língua wapichana escrita é baseada no idioma inglês e no Brasil a língua é grafada baseada no português. As palavras foram retiradas do Scholar's Dictionary and Grammar of the Wapishana Language (Guiana) e do Dicionário Wapichana/Português, Português/Wapichana (Brasil).

Quadro 5 – Diferença entre a escrita wapichana do Brasil e da Guiana Escrita Wapichana Brasil Guiana Tradução Uu, kaimen Oo, Kaiman Sim, estou bem Na’apampyyy? Na’apampu’uu? Qual é o seu nome? Na’atimpymakun? Na’atimpymakon? Onde você vai? Nikian Nikan Comer Tyzan Tuzan Beber Ba’uran Ba’oran Outro Tuminkery Tominkaru Deus Diaytam Dya’utam Dois Fonte: Criação do autor (2018).

A primeira tentativa de unificação da escrita wapichana no Brasil, de acordo com Santos (2006), aconteceu em 1988, após um levantamento sociolinguístico de 35

duas malocas indígenas de Roraima, uma do povo macuxi (Napoleão), outra do povo wapichana (Taba Lascada) pela linguista Bruna Francheto da UFRJ - Museu Nacional.

Esse levantamento tinha como objetivo servir de subsídio para o encaminhamento da primeira fase de um Projeto Experimental de Ação Integrada para Educação Pré-Escolar de Crianças Indígenas. Para os Wapixana, num primeiro momento, esse projeto tinha como propósito a uniformização das ortografias por eles utilizadas (SANTOS, 2006, p. 23).

Desse projeto, resultou o dicionário Wapixana-Português/Português- Wapixana de Casemiro Cadete em 1990. Desde então, segundo Machado (2012, p. 121) há um grupo de professores de Língua Wapichana da região Serra da Lua que, dentre outros objetivos, quer padronizar a escrita da referida língua, pois os materiais são produzidos de modo coletivo e são resultados de construções de consenso a partir de muito debate, entre os professores mais antigos e os mais jovens, assim como os de comunidades diferentes. Para Machado (2016, p. 83) apesar das dificuldades, os “mestres de língua”6 tem sido um dos grupos responsáveis por essa continuidade no uso da língua wapichana. Há aproximadamente 30 anos continuam tentando reverter a situação que caminha na direção do monolinguismo em língua portuguesa.

4.2 INICIATIVAS EM PROL DA PRESERVAÇÃO DA LÍNGUA WAPICHANA

Bruna Francheto (2008, p. 33) conta que no final da década de 1980, pequenos grupos de macuxi e wapichana procuravam há alguns anos um caminho próprio para revitalização de suas línguas, conscientes de que estas estavam nitidamente em processo de aniquilamento e que a introdução da educação bilíngue poderia ser uma alternativa bem-sucedida para a revitalização dessas línguas. Machado (2016, p. 293-294) lista, no Quadro 6, uma série de acontecimentos que contribuíram para valorizar o uso da língua wapichana em Roraima:

6 Falantes nativos, cuja tarefa é ministrar o ensino do Wapichana nas escolas das malocas. (SANTOS, 2006 p.13). 36

Quadro 6 – O que contribuiu para valorizar o uso da língua wapichana Ano Acontecimento Efeito Foram construídas, pelos “Com o objetivo de promover a indígenas, 3 escolas, com o apoio valorização da língua e da cultura 1987 da Diocese de Roraima: Maturuca, indígena” (Carta de Canauanim, Cantagalo e Malacacheta 2001). Constituição Federal de 1988 Houve o reconhecimento dos direitos 1988 pluriculturais e plurilinguísticos Início das aulas de Língua Início do movimento a favor do 1988 Wapichana na escola da ensino da Língua Wapichana. comunidade Malacacheta Criaram a Organização dos Conseguiram se organizar e lutar 1990 Professores Indígenas de Roraima pelos seus direitos. (OPIRR) Publicação do primeiro dicionário Casimiro Cadete contribuiu na 1990 Wapichana no Brasil valorização da língua wapichana Magistério Indígena Parcelado Formou professores para atuar no 1994 ensino fundamental. Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Assegurou às comunidades 1996 Artigo 32, sessão III, parágrafo 3) indígenas a utilização de suas línguas maternas Redação pelos indígenas da Carta Definiu a escola que o movimento 2001 de Canauanim dos professores desejava. Criação do curso Licenciatura Trabalho planejado para “valorizar as 2001 Intercultural e do Núcleo Insikiran, línguas e culturas indígenas”. na UFRR. Decreto Presidencial no 5.051/04. Protege as instituições, pessoas, Promulgou a Convenção 169, da bens e trabalho dos povos indígenas; 2004 Organização Internacional do reconhece o direito à alfabetização Trabalho (OIT), de 1989. em línguas indígenas. Parecer CEE/RR no. 27/06. Começa a ser exigida a formação de Formação mínima para professores de Língua Wapichana 2006 professores ministrarem aula de em Roraima. língua indígena no ensino médio. ParadakaryUrudnaa: Dicionário Os professores e escolas passaram a 2013 Wapichana- Português/ Português- ter uma nova edição do dicionário Wapichana Wapichana. No Bonfim, foi sancionada a Lei Foram Cooficializadas as línguas 2014 211 de 04 de dezembro de 2014 macuxi e wapichana no município Bonfim Publicação do Documento final da Prevê a possibilidade de realizar um I Conferência Nacional de “diagnóstico linguístico com a Educação Escolar Indígena, eixo participação dos povos indígenas”; temático III, ponto política “Criação de um fundo federal para 2014 linguística, itens 109, 112 e no investir nas iniciativas de ponto Educação de Jovens e revitalização das línguas indígenas”; Adultos, item 131. “utilizar recursos como vídeos, Parte 1 do documento. fotografias e produções textuais dos estudantes durante as aulas e para 37

formulação de materiais didáticos específicos através da criação de uma linha própria de financiamento” (2014, p.92). “a participação dos guardiões da cultura, para fortalecer valores e conhecimentos imemoriais e tradicionais, como professores por notório saber […] garantindo recursos necessários para sua atuação docente […]” (2014, p.19). Wapichan Os professores de quinto ao nono 2015 paradanidia'anaichapkarypabinakn ano passaram a ter mais um livro a'ikkadyzyi kid didático. No Cantá foi sancionada a Lei 281 Foram Cooficializadas as línguas 2015 de 25 de março de 2015 macuxi e wapichana no município Cantá. Publicação do edital com a minuta Foram abertas 2 vagas para 2015 do concurso público 01/2015. professor de Língua Wapichana. Município Bonfim Fonte: Machado (2016).

Nesta pesquisa, destacaremos as publicações em wapichana, o Programa de Extensão de Valorização das Línguas e Culturas Macuxi e Wapichana – PVLCMW, não listado no Quadro 6, e as Leis de cooficialização da língua wapichana nos municípios de Bonfim e Cantá, no estado de Roraima.

4.2.1 Publicações

Na década de 1990, Prestes (2013, p. 64), relata que professores dos povos Macuxi, Wapichana, Taurepang e Ingaricó já se organizam em busca de fortalecer a luta em defesa de uma educação escolar verdadeiramente indígena, que pudesse atender às necessidades das comunidades de Roraima. Neste mesmo ano, é publicado o primeiro dicionário Wapichana no Brasil por Casimiro Cadete. Em 1992, através de encontros de professores de Língua Wapichana, com assessoria de Bruna Franchetto, foi publicado o livro “Watuminpen wapichana da’y”, que registrou textos sobre animais e palavras (MACHADO, 2012, p. 117). Esta autora cita ainda outras publicações produzidas por professores e mestres da Língua Wapichana: 38

Em 1995, o livro “Wa aichiandun wyryy karichi wamanhikynytan wakadyz” (Nós aprendemos através da nossa escrita os nossos costumes), contou com a colaboração das Irmãs da Caridade e fazia parte do projeto “a Língua Wapichana, formação de professores indígenas e produção de material didático”. Em janeiro de 2006, a Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIRR) e a Diocese de Roraima, trabalharam na apostila “Watuminhap wapichan da’y!” (Vamos aprender wapichana), do programa de Língua Wapichana para o Rádio FM Monte Roraima, com realização da Pastoral Indigenista. Em 2008, nos encontros de Língua Wapichana da região Serra da Lua, foram elaborados por professores “Watuminpen waparadan da’y”, “Wnhykyinhan wakadyz pawa’a it” (Resgatando a nossa cultura de novo) e “Kynyina’ikkutyainhau” (Cantos e histórias). Também em 2008, foi produzida a minigramática bilíngue feita com o apoio do Centro Regional Pedagógico Indígena Watuminpen Kaimena’u Da’y, com alfabeto, consoantes, vogais, nomes de animais, números cardinais e ordinais, suas pronúncias. E em 2013, Figura 3, é lançado Paradakary Urudnaa: Dicionário Wapichana- Português/ Português- Wapichana, o segundo dicionário Wapichana, que vem sendo aperfeiçoada desde 1995 e em 2010, teve uma nova edição em parceria com o PVLCMW. Figura 3 – Lançamento do Livro Paradakary Urudnaa

Fonte: Foto RCCaleffi, 2013 39

4.2.2 O Programa de Valorização das Línguas e Culturas Macuxi e Wapichana

O Programa existe desde 2010 na UFRR e em algumas comunidades indígenas, sendo coordenado pelo curso Gestão Territorial Indígena, do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena e conta com a parceria da Organização dos Indígenas da Cidade (ODIC) e da Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIRR). O Programa de Valorização das Línguas e Culturas Macuxi e Wapichana vem sendo coordenado pela Profa. Dra. Ananda Machado. O intuito principal é criar um espaço para o uso dessas línguas indígenas na universidade, divulgar a especificidade e preciosidade dessas culturas para um público amplo, que vai desde professores e alunos até as lideranças indígenas de muitas comunidades e organizações, e demais interessados (UFRR, 2017). O Projeto dos Cursos de Língua e Cultura foi elaborado pelos professores Vítor Francisco Juvêncio, Wanja da Silva Sebastião, Eliza Silvino da Silva, Venceslau, indígenas que eram alunos da turma GH2 do curso Licenciatura Intercultural no Insikiran e pela professora substituta naquele semestre, Ananda Machado. Em 2010, devido ao grande número de ações realizadas, tornou-se um Programa de Extensão e este segue até a hoje (UFRR, 2018). Entre as várias ações deste Programa, destacam-se oficinas de teatro, oficinas de artesanato, registros gráficos, rodas de conversa, cursos de língua e cultura macuxi e wapichana, cursos para formação de professores de línguas indígenas como “Ferramentas para documentação linguística”, produção de material didático para o ensino de línguas, oficinas de Arqueologia, de histórias em quadrinhos na língua wapichana, de jogos pedagógicos, de plantas medicinais e de pintura. Em 2012, com as artesãs da comunidade Raposa I o programa criou e apoiou o evento Anna Komanto’ Eseeru - 1º Festa das Panelas de Barro, com objetivo de divulgar o trabalho das mulheres que há anos preservam e valorizam, repassando esses conhecimentos de geração a geração. E em 2013, houve o lançamento dos livros “Paradakary urudnaa” dicionário Wapichana e “Senuwapainîkon maimukonta” Vamos estudar na nossa língua makuusimaimu. Em 2014, as organizações indígenas em parceria com o PVLCMW, reapresentou o projeto e houve a aprovação da Lei 211/2014 que cooficializou as línguas macuxi e wapichana no município Bonfim. Em 2016 foi iniciado, após solicitação dos tuxauas 40

ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Inventário das línguas macuxi e wapichana na região Serra da Lua, que está em andamento. Em 2018, o Programa foi convidado para coordenar uma equipe na UFRR para compor a Cátedra da UNESCO Políticas para o Multilinguismo e as ações previstas são justamente as que já estão sendo realizadas com essas línguas indígenas. Cabe ressaltar que todas essas experiências buscaram valorizar essas línguas e culturas, atendendo às demandas dos povos indígenas e não indígenas interessados em conhecer e respeitar esses povos na luta contra os preconceitos (UFRR, 2018).

4.2.3 A Cooficialização da Língua Wapichana

Para Baalbaki e Andrade (2016, p. 69) em relação às línguas indígenas, observa-se que algumas ações legais e institucionais (Constituição de 1988; LDB de 1996; Referencial Curricular Nacional para Escolas indígenas de 1998, entre outros) tentam manter, desenvolver e revitalizar línguas indígenas. Ainda, segundo estes autores, uma dessas ações estaria ligada especialmente à possibilidade de legalização, ou melhor, a cooficialização das línguas indígenas. Utiliza-se o termo cooficialização, porque o Art. 13 da Constituição Federal institui que a língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil. Cooficializar uma língua significa possibilitar que documentos oficiais sejam emitidos nessa língua, além de garantir que serviços públicos devam ser prestados também por meio dela (DAMULAKIS, 2017). São Gabriel da Cachoeira (AM) foi o primeiro município a cooficializar línguas, através da lei municipal 145/2002, que tornou cooficializadas as línguas indígenas tukano, baniwa e , faladas no município por boa parte da população, mesmo por falantes de grupos étnicos distintos. O Quadro 7 mostra outros municípios brasileiros que cooficializaram línguas indígenas.

Quadro 7 – Línguas indígenas cooficializadas no Brasil Língua Município (UF) Lei Tukano São Gabriel da Cachoeira (AM) 145/2002 Nhengatu São Gabriel da Cachoeira (AM) 145/2002 41

Baniwa São Gabriel da Cachoeira (AM) 145/2002 Guarani Tacuru (MS) 858/2010 Guarani Paranhos (MS) - Xerente Tocantinia (TO) Lei de Agosto/2012 Macuxi Bonfim (RR) 211/2014 Wapichana Bonfim (RR) 211/2014 Macuxi Cantá (RR) 281/2014 Wapichana Cantá (RR) 281/2014 Macuxi Uiramutã (RR) 06/2018 Ingaricó Uiramutã (RR) 06/2018 Fonte: Criação do autor (2018).

Bonfim, em Roraima, foi o terceiro município brasileiro a adotar línguas indígenas como idiomas oficiais, nesse caso as línguas Macuxi e Wapichana. A Lei Nº 211/2014, sancionada pela Prefeita Lizete Spies, foi encaminhada à Câmara de Vereadores por líderes comunitários e professores de línguas indígenas da região, assessorados pelo Instituto Insikiran, da Universidade Federal de Roraima, através da Coordenação do Programa de Valorização das Línguas e Culturas Macuxi e Wapichana. Inicialmente, a proposta de cooficialização das línguas macuxi e wapichana:

foi apresentada para os tuxauas em Assembleia Regional pela coordenadora do Programa da Valorização das Línguas e Culturas Macuxi e Wapichana, Ananda Machado e pelo coordenador de língua da região Serra da Lua, Odamir de Oliveira. Depois, o Projeto de Lei foi encaminhado à Câmara pelo vereador Zacarias Douglas. A proposta foi apresentada na Câmara no dia 26 de fevereiro de 2013 por alunos do Insikiran e representantes da Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIRR) (UFRR, 2014).

Pela lei municipal, a Prefeitura, em parceria com as organizações indígenas e Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), têm até cinco anos para providenciar a contratação de tradutores e intérpretes indígenas, traduzir placas, oferecer atendimento à população nessas duas línguas, traduzir as leis municipais, financiar publicação de livros nas línguas Macuxi e Wapichana para o ensino em todas as escolas públicas do município. 42

No município do Cantá, a Lei 281/2014, sancionada em 25 de março de 2015, teve as mesmas mobilizações feitas no município do Bonfim, e também contaram com o apoio do PVLCMW, da UFRR e das lideranças indígenas da região.

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5. POVOS INDÍGENAS E AS TICS

De acordo com Mendes et all (2011, p. 22), a Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) refere-se ao conjunto de tecnologias que têm como base a informática (computadores e softwares), a microeletrônica (sistemas embarcados, de identificação, controle e monitoramento) e as telecomunicações (internet, telefonia e satélites). Como ação social e política pública, as TICs fazem parte do que hoje é conhecido como inclusão digital, mas para Pretto (2001) a inclusão digital dos cidadãos não deve torná-los meros consumidores, seja de produtos ou de informações, mas sujeitos plenos que participam do mundo contemporâneo de forma ética, autônomos e com poder de decisão. Baseados neste conceito, consideramos as TICs fortes aliadas na preservação e no ensino de línguas indígenas. Renesse (2010, apud MENDONÇA, et all. 2015, p. 42) relata, no 1° Simpósio Indígena, sobre usos da Internet no Brasil:

A tecnologia vem despertando interesse das comunidades indígenas devido aos recursos trazidos pelo ambiente web, embora ainda em estágio inicial. Muitas aldeias já utilizam aparatos tecnológicos em seu dia a dia e se beneficiam na medida em que essas novas formas de interação auxiliam na disseminação de seus costumes e conhecimentos.

Em Roraima, ao entrevistar lideranças macuxi e wapichana, Santos (2016, p. 178) evidenciou que estes possuem consciência sobre a importância das TICs para se obter e disseminar conhecimentos, da mesma forma que reconhecem que os sistemas abstratos a elas associados provocam desencaixes nas relações comunitárias, fato este que se evidencia no relato de seu Cristóvão Barbosa, da Comunidade do Barro:

[...] não tem outro jeito, você precisa desses instrumentos hoje no desenvolvimento da modernidade, no movimento da comunicação [...]. É um direito que nós temos, sendo que a preservação do direito dos povos indígenas relacionados à terra, cultura, forma de se organizar, isso sempre vai ser mantido, isso é sagrado. Digamos que isso aí [os direitos coletivos dos povos tradicionais] pode até um dia acabar, porque a gente corre para o desenvolvimento que está aí desenfreado, mas até aqui ainda nesta geração, na segunda geração, terceira geração dos nossos filhos [...] tem a facilidade de que isso esteja registrado [...] a tecnologia dá os meios pra que esse trabalho seja feito [...] ela irá ajudar a manter a nossa cultura, dos povos indígenas. Antes, a sabedoria passava de pai pra filho oralmente; hoje em dia [...] você registra, você grava, você coloca num CD, bota num 44

DVD, bota num pen drive. São ferramentas de utilidade importante [...] pra que amanhã, daqui a dez, quinze, vinte anos, as gerações saibam como a cultura foi se modificando e isso não fez ninguém deixar de ser índio (SANTOS, 2016, p. 178-179).

A utilização de recursos digitais pode garantir que os jovens indígenas tenham um maior acesso à cultura tradicional de seu povo e em especial aprendam a língua nativa, que ainda está presente em muitas aldeias (COSTA, 2011, p. 8). É o que se pode inferir do discurso do indígena wapichana Clóvis Ambrósio:

As tecnologias de comunicação devem ser usadas com responsabilidade. Em vez de usar para acessar ‘coisas’ sem objetivo prático, poderíamos aproveitar o celular para conversar na nossa língua, as redes sociais para exercitar a escrita da Língua Wapichana e para divulgar os projetos locais (SANTOS, 2016, p. 182).

Dada a importância das TIC’s no processo ensino-aprendizagem, inclusive no ensino de línguas, na qual já existe extensa pesquisa, é conveniente vislumbrar e investir também em TIC’s para o ensino de línguas indígenas, e assim contribuir para a revitalização e disseminação das mesmas (MENDONÇA, et all. 2015).

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6 LIVROS DIGITAIS (E-BOOKS)

Para Bottentuit Junior e Coutinho (2007, p. 106) o processo de virtualização dos objetos, os quais, em sua maioria, vêm tomando o formato digital, daí receberem o prefixo “e-” como, por exemplo, e-commerce (comércio eletrônico), e- learning (ensino eletrônico), e-mail (correio eletrônico) e o e-book (livro eletrônico) que se refere a utilização de livros através de dispositivos eletrônicos. Existem várias definições sobre o que é um e-book e seus sinônimos: livro digital, livro eletrônico, livro virtual ou e-texto, mas estes não podem ser considerados uma simples digitalização de livros tradicionais, Bottentuit Junior e Coutinho (2007) destacam que para ser considerado um e-book é preciso levar em consideração alguns aspectos importantes:

Que diz respeito ao aspecto estético, gráfico e organizacional, ou seja, o tipo de letra deve ser o mais adequado, a quantidade do texto deve ser mais distribuída entre as páginas, o uso de cores e os contrastes obedecem a critérios específicos, para além da possibilidade de utilização de recursos multimídia como sons, gráficos e vídeos e alguns deles até mesmo a interatividade através de exercícios, cases e jogos. (BOTTENTUIT JUNIOR E COUTINHO, 2007, p. 107)

Estes autores consideram o projeto Gutenberg criado por Michael Hart em 1971, como o mais antigo produtor de livros eletrônicos do mundo, cujo objetivo principal era a criação de uma biblioteca de versões eletrônicas livres de livros físicos existentes e que pertenciam ao domínio público. Desta forma, surgiam pela primeira vez em formato digital a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, a Bíblia, bem como as obras de Homero, Shakespeare e Mark Twain. Do Projeto de Gutemberg até a década de 1980, o futuro do e-book era ainda muito indefinido, não havia um público vasto e o desenvolvimento de ferramentas estava ainda a dar os primeiros passos (COUTINHO e PESTANA, 2015, p. 172). Nesse período surgiram vários formatos7 de arquivos ligados a grandes companhias, como a Adobe ou por desenvolvedores opensource8. Também nesta época, despontam alguns e-readers – dispositivos de hardware criados para a leitura

7 O formato também é chamado de extensão ou tipo. O formato informa ao sistema operacional qual foi o programa que o gerou e que deverá ser executado, para que o arquivo possa ser aberto, criado ou modificado (CONTI, 2015). 8 Geralmente, o software Open Source é um software que pode ser acessado, usado, alterado e compartilhado livremente (de forma modificada ou não modificada) por qualquer pessoa (Open Source Initiative). 46

de e-book – que, em sua maioria, estavam associados apenas a um tipo de formato, contribuindo para a fragmentação do mercado. O formato também é chamado de extensão ou tipo. O formato informa ao sistema operacional qual foi o programa que o gerou e que deverá ser executado, para que o arquivo possa ser aberto, criado ou modificado (CONTI, 2015). A popularização dos e-books a partir dos anos 2000 é relacionada à publicação de Riding the Bullet, do autor Stephen King, um livro que foi lançado exclusivamente na Internet, que vendeu 400 mil cópias nas primeiras 24 horas (COUTINHO E PESTANA, 2015, p. 172).

6.1 LEITORES E TIPOS DE FORMATOS

De acordo com Procópio (2010, p. 45), para a leitura de um livro digital, três elementos fazem-se necessários:  o Dispositivo de Leitura (Hardware);  o Reader e;  o e-book. O Dispositivo de Leitura para um livro digital pode ser um e-Reader, como os mostrados na Figura 4, ou um Notebook, Tablet , PC, etc..

Figura 4 – Exemplos de e-readers

Fonte: Criação do autor (2018).

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O primeiro e-reader lançado no mercado foi o The Rocket Ebook, em 1998. Segundo Coutinho e Pestana (2015, p. 173), há quatro aparelhos importantes e que ainda hoje são utilizados por milhões de pessoas: o Sony Reader, da gigante multinacional tecnológica japonesa Sony, o Kindle da Amazon, o Nook da Barnes & Noble e o Kobo. No Brasil, o destaque é para o Lev da Livraria Saraiva. O Reader trata-se do software que auxilia a leitura do livro, e o e-book é o próprio livro digital, o conteúdo, logo, o mais importante dos elementos, que pode ser encontrado em diversos formatos. Notebooks, computadores, tablets e smartphones são dispositivos que possuem aplicativos capazes de ler e-books, mas não são considerados como e- readers. Os e-books podem ser encontrados em diversos formatos de arquivos, tais como ASCII, TXT, HTML, XML, OPF, PRD, PDB, PDF, WAP, WML, DOC, Doc Palm, RTF, RB, EXE, SWF, KML, HLP, TK3, Mobi, Kindle Format 8 e ePub. Os formatos que mais se destacam são: Formato PDF: Portable Document Format (PDF) é um formato de arquivo usado para exibir e compartilhar documentos de maneira compatível, independentemente de software, hardware ou sistema operacional (SALLES, 2016). Foi desenvolvido pela Adobe Systems em 1993, mas agora é um padrão aberto mantido pela International Organization for Standardization (ISO). A partir de 2008 a ISO 32000-1 específica que o formato PDF deve permitir que os usuários troquem e visualizem documentos eletrônicos independentemente do ambiente em que foram criados ou em que são visualizados ou impressos. Para Flatschart (2014, p. 23) o formato PDF apresenta desvantagens quando acessado em dispositivos móveis, pois a fidelidade ao projeto gráfico e a manutenção do comportamento do arquivo em qualquer dispositivo faz com que os arquivos não se ajustem a tantas resoluções de telas disponíveis, causando desconforto à leitura, dependendo do tamanho da tela. Formato MOBI: Desenvolvido inicialmente para ser visualizado no leitor Mobi Pocket e para ser suportado pelo dispositivo Kindle, ambos da Amazon. Será brevemente substituído pelo formato KF8 (PINHEIRO, 2011, p. 26). Permite conteúdo complexo, incluindo controles de navegação avançados, indexação e um alto grau de compressão (SALLES, 2016). 48

As principais características do formato MOBI, de acordo com Souza (2016, p. 34), são: formato aberto; inserção de DRM; uso de imagens; uso de tabelas; conteúdo de layout fluído; permite anotações; permite marcações; Formato EPUB: O ePUB é uma abreviatura de electronic publication, formato de arquivo livre e aberto, derivado do XML9, organizado pelo consórcio de empresas IDPF – International Digital Publishing Forum – e que tende a tornar-se um padrão em formato de arquivos de e-books (PINHEIRO, 2011, p. 15). É projetado para conteúdo fluido, o que significa que a experiência de leitura seja boa, independente do tipo e tamanho de tela, ou do sistema (SALLES, 2016).

É compatível (em alguns casos ainda parcialmente) com todos os leitores, dispositivos e sistemas, menos com aqueles que distribuem o ecossistema Amazon/Kindle que, apesar de pioneiro e também baseado em HTML/CSS, caminha na contramão do mercado adotando os formatos proprietários .mobi, .azw e .kf8 (FLATSCHART, 2014, p. 41).

A nova versão do formato, o EPUB 3.0, segundo Flatschart (2014, p. 48), permite soluções que dão uma nova vida ao conteúdo: plasticidade, organicidade, modularidade, interatividade e ubiquidade. Souza (2016), enumera as principais implementações da versão atual do EPUB 3, que são:

 software livre e de código aberto;  conteúdo de layout fluído ou fixo;  conteúdo construído em HTML (XHTML na versão EPUB 3);  permite o uso de imagens rasterizadas (JPG, PNG) ou vetorial (SVG);  metadados incorporados; apoio à gestão de direitos digitais, como DRM (Gestão de Direitos Digitais);  permite criação de estilos CSS (lista de estilo em cascata);  permite a inclusão de conteúdo de áudio e vídeo (depende do programa e do aparelho de leitura);  permite a inclusão de scripts em Javascript vídeo (depende do programa e do aparelho de leitura);

9 Extended Markup Language, linguagem para criar aplicações na internet e interligar aplicações. 49

 Media Queries: possibilita o ajuste do layout (responsividade) a partir da verificação automática da resolução/formato do dispositivo de leitura;  acessibilidade: a nova estrutura, Figura 5 ,baseada em HTML5 facilita a leitura por dispositivos provedores de acessibilidade (leitores de texto).

Figura 5 – Estrutura de um pacote de arquivo EPUB

Fonte: Revista iMaster, 2013

O conteúdo principal de um livro ePUB3 é um documento de extensão XHTML, mas na prática renderizado como (X)HTML5 – uma serialização XML do HTML5, no qual é permitido usar a sintaxe XML/XHTML (FLATSCHART, 2014, p. 46).

6.2 VANTAGENS DO E-BOOK

Coutinho e Pestana (2015, p. 177-179) destacam dois tipos de vantagens dos e-books em relação aos livros impressos: vantagens para editor e vantagens para o leitor.

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Vantagens para o editor a) Poupança de custos de produção e de distribuição Apesar do elevadíssimo custo inicial, tanto tecnológico como humano, após essa primeira fase os custos irão reduzir substancialmente, até mesmo acabar, nomeadamente na impressão, encadernação e distribuição dos livros. b) Eliminação dos custos com excesso de estoque Com o e-book há, obviamente custos de estoque, começando por um sistema de bases de dados, no entanto, o armazenamento e a quebra dos estoques são eliminados. c) Facilidade de edição Uma das grandes vantagens dos e-books para os editores é a facilidade com que eles podem ser editados, para correção de erros, para acrescentar informação ou simplesmente para lançamento de uma nova edição.

Vantagens para o leitor a) Maior comodidade Considerando a venda online, o leitor terá o processo facilitado, todavia tem de esperar pelo recebimento do(s) título(s) que adquiriu. b) Economia de dinheiro A percepção geral é a de que um e-book é entre 30% a 70% mais barato do que a sua versão impressa. Essa percentagem depende do gênero a que o livro pertence, bem como o local onde se compra e o momento. c) Grande interatividade Os e-readers atuais permitem ligação às redes sociais, onde os leitores podem mostrar aos seus amigos o que estão lendo e compartilhar suas passagens favoritas do livro. Pode-se ainda avaliar e comentar o livro e acesso a dicionários online para quando o leitor não souber o significado de uma palavra. d) Economia de espaço físico Um único dispositivo e-reader, tablet, pc ou smartphone pode armazenar uma infinidade de e-books dependendo de sua capacidade de armazenamento. e) Mais facilidade na procura de obras antigas Nas livrarias físicas mais populares há escassez de obras mais antigas, pois o negócio dessas livrarias está mais voltado para o presente e para as novidades que possam cativar os leitores. (COUTINHO E PESTANA, 2015).

A sustentabilidade ambiental, ao se diminuir a fabricação de papel, é uma vantagem bem evidente do e-book, não só para editores e consumidores, mas para toda a humanidade. Outras prerrogativas do livro digital em relação aos livros impressos podem ser retiradas da seguinte declaração de Flatschart (2013):

Leia o livro, ouça o livro, converse com o livro, rabisque o livro, brinque com o livro, estique o livro, amplie o livro, mergulhe no livro, compartilhe o livro, altere o livro, seja coautor do livro, traduza o livro, projete o livro como um holograma, vista o livro! Não são apenas metáforas, são ações reais que estão ao alcance do leitor no mundo digital, e muitas delas já podem ser experimentadas hoje com ajuda do ePUB3.

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Levando em considerando o exposto neste capítulo e as declarações de Flatschart, optamos pelo desenvolvimento de um livro digital com áudio no formato EPUB, pois temos conhecimento em tecnologia da informação e comunicação e as ferramentas necessárias para edição de e-books a custo zero, pois utilizaremos softwares livres e open-source.

6.3 DESVANTAGENS DO E-BOOK

Entre as desvantagens dos livros digitais em relação aos livros tradicionais Bottentuit Junior (2007) destaca:  Leitura mais lenta e cansativa;  Não permitem que sejam feitas anotações manuais;  Grande quantidade de livros sem recursos multimídia;  Pouca divulgação de exemplares disponíveis;  Preço dos dispositivos ainda bastante elevado;  Grande quantidade de informação mal estruturada nos e-books;  Fontes e contrastes inadequados;  Pouca quantidade de exemplares em determinadas áreas do saber;  Crescente prática de crime contra os direitos de autor. Entretanto os avanços tecnológicos vêm melhorando significativamente a maioria dessas deficiências, no entanto com a alta disponibilização de livros digitais na internet há maior facilidade de plágio, e este fato consideramos como principal desvantagem do e-book em relação ao livro comum. Ainda como desvantagem podemos citar o apego emocional que muitos leitores têm de seus livros impressos, o que não ocorre com um simples arquivo digital. Grande parte dos leitores guarda com carinho todos os livros lidos, conserva-os bem, e tem orgulho de seu acervo.( Triway Internet e Telefonia, 2018)

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7. ATENDIMENTO À RECOMENDAÇÃO DA UNESCO PARA PROMOÇÃO E USO DO MULTILINGUISMO NO CIBERESPAÇO

No terceiro relatório consolidado da UNESCO sobre a aplicação das recomendações de promoção e uso do multilinguismo e o acesso universal ao ciberespaço, realizado em 2015, houve um decréscimo em relação ao relatório anterior no número de países-membros, que reportaram alguma contribuição a respeito desta recomendação, que é de 2003. O Brasil não aparece neste último relatório geral, entretanto, no mesmo ano de 2015 o governo brasileiro entregou à diretoria-geral da UNESCO o resultado de um trabalho de preservação de línguas indígenas que se estendeu por sete anos, e aproveitou o ato para pedir apoio para evitar o desaparecimento de cerca de 30 línguas ameaçadas de extinção (Portal Terra). O e-book Watuminhap Wapichan Da’y! Vamos aprender Wapichana pode se concretizar como uma ação a ser informada em um próximo relatório geral da UNESCO. Esta afirmação é percebida porque a produção do e-book com áudio para ensino da Língua Wapichana segue as quatro etapas propostas no guia de estudos de Diki-Riki (2007), intitulado “Como assegurar a presença de uma língua no ciberespaço”, conforme descrevemos abaixo: Na etapa de elaboração de recursos linguísticos, já identificamos que a Língua Wapichana já possui o mínimo em recursos linguísticos, como uma ortografia, mesmo sem estar padronizada, uma gramática escrita, um dicionário e textos publicados. Entretanto, há ainda um grande trabalho a ser feito pelos linguistas, que é a transcrição fonética, que deverá contar com a utilização do alfabeto fonético internacional (IPA), a análise e notação dos fonemas e a análise e notação dos tons. Na etapa de elaboração de recursos informáticos, a escrita wapichana vem sendo elaborada a partir do sistema de escrita e ortográfico latino, que é o mesmo utilizado pela Língua Portuguesa, e a codificação de caracteres pode ser usada sem dificuldades com formato UTF-8 . Assim a representação da Língua Wapichana em programas de computador e em sites de internet não apresenta nenhum tipo de problema para sua utilização no ciberespaço. Mas ressaltamos que uma necessidade dos recursos informáticos é a regionalização, isto é, a localização do usuário, a fim de permitir a este trabalhar num ambiente que lhe é linguisticamente e 53

culturalmente familiar e fácil de manusear, uma vez que na regionalização se definem idioma, fuso-horário, moeda, unidades de medida, etc., e nesse quesito, não só a língua wapichana, mas todas as línguas indígenas brasileiras precisam avançar mais. Na etapa da elaboração de conteúdos culturais, que são de natureza textual, sonora ou iconográfica, estes podem e são facilmente digitalizados e transferidos para a Rede, podendo ser divulgados na Internet e aí serem compartilhados. Nosso e-book Watuminhap Wapichan Da’y! Vamos aprender Wapichana é um exemplo desse tipo de conteúdo, pois contém áudio e texto da Língua Wapichana que contam diálogos do cotidiano e da cultura desse povo. A última etapa proposta por Diki-Riki (2007) é a formação de grupos de leitores, e essa comunidade de leitores já existe entre os wapichana, conforme pudemos observar na seção 4.2 desta pesquisa, sobre as iniciativas dos Wapichana em preservar sua língua.

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8 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção abordaremos os resultados da pesquisa baseados no levantamento bibliográfico sobre a língua e o povo wapichana em Roraima, as iniciativas deste povo em preservar e divulgar seu idioma, os livros digitais e suas vantagens e desvantagens frente aos livros tradicionais (impressos) e nas respostas dadas pelos leitores à publicação do e-book com áudio Watuminhap Wapichan Da’y, a fim de que se alcancem os objetivos de valorizar e divulgar a língua wapichana através de um produto de tecnologia digital.

8.1 O E-BOOK WATUMINHAP WAPICHAN DA’Y

O e-book desenvolvido é uma edição organizada a partir do texto base que acompanhou as lições de Língua Wapichana do programa da Rádio FM Monte Roraima, Watuminhap Wapichan Da’y! “Vamos Aprender Wapichana”. Esta edição tem 24 das 26 lições do programa de rádio que foram ao ar em 2005 e divulgadas durante todo o ano na programação da Rádio. Por se tratar de um livro digital, incluímos os áudios dos diálogos em wapichana, de cada lição, para que os interessados possam ler os textos da apostila e ao mesmo tempo ouvir as falas, melhorando assim o entendimento e a pronúncia da língua wapichana. Permanece também da apostila original no e-book, um anexo com a fonética da língua wapichana, para referência dos leitores. As vozes nos áudios pertencem aos indígenas wapichana Daniel de Souza Silva, Deni Lourenço de Oliveira, Frank das Chagas Silva, Jucineide Lúcia da Silva, Líndia da Silva Pereira, Mirtes da Silva, Nilzimara de Souza Silva, Nívea de Souza Silva, Odamir de Oliveira e Zeimar Pereira. Na criação e edição do e-book foram utilizados softwares livres e open- source, dos quais um programa para edição digital de áudio, o Audacity®10, e outro para edição de livros digitais no formato EPUB, o Sigil11. Uma segunda versão do livro digital em formato PDF, também com áudio incluso no arquivo, foi criada para atender àqueles leitores que tiveram algum

10 https://www.audacityteam.org/ 11 https://sigil-ebook.com/ 55

problema na leitura de arquivos do formato EPUB, ou que por algum motivo particular necessitem ter uma versão impressa do e-book. Para o desenvolvimento dessa edição em PDF foi utilizado o software Foxit Reader12.

8.1.1 Corpus de Áudio e Texto

Os textos e áudios foram obtidos a partir parceria existente entre o Programa de Valorização das Línguas e Culturas Macuxi e Wapichana e da Universidade Federal de Roraima – UFRR; o Dr. Ronaldo B. MacDonell (Linguista do CIMI Norte) e os professores indígenas da OPIRR (Organização dos Professores Indígenas de Roraima), que concordaram em compartilhar o conteúdo da apostila Watuminhap Wapichan Da’y! “Vamos Aprender Wapichana” para o desenvolvimento do e-book. Como cada lição do programa de rádio é uma gravação de aproximadamente vinte (20) minutos em formato MP313, utilizamos o software Audacity® para fazer cortes nesse arquivo, de forma a selecionar apenas a fala de cada indígena participante do diálogo na lição. Esse procedimento foi repetido para cada fala do diálogo em todos os vinte e quatro (24) arquivos de áudio do programa de rádio para gerar o corpora de áudio utilizado no e-book, num total de trezentos e onze (311) novos arquivos. O corpus de texto em formato digital, com diálogos escritos em língua portuguesa e wapichana foi reformatado e editado para ter a nova estrutura de conteúdo que foi aplicada ao e-book. Para essa edição foi utilizado o programa Libre Office Writer, mas poderia ser utilizado qualquer software editor de texto, gerando um único arquivo com todas as 24 lições que seria utilizado no livro digital.

8.1.2 Edição do E-Book

Para edição do livro digital foi utilizado o programa Sigil, que foi projetado para facilitar a criação de e-books no formato EPUB, no qual é possível inserir

12 https://www.foxitsoftware.com/pt-br/downloads/ 13 MP3 é uma abreviação de MPEG Layer3, um formato de compressão de áudio digital que minimiza a perda de qualidade em músicas ou outros arquivos de áudio reproduzidos no computador ou em dispositivo próprio. (https://www.significados.com.br/mp3/) Acesso em 26 nov 2018. 56

imagens, vídeos e áudios de forma simples. Os passos utilizados para editar o e- book encontram-se no APENDICE B. Como resultado final, temos um produto em duas versões: A versão EPUB (disponível em https://indiobooks.wordpress.com) que se adaptada a qualquer tamanho de tela, como por exemplo, as telas pequenas de 5.5 polegadas comuns em smartphones, e em telas maiores, como as usadas em notebooks e computadores desktop. E a versão PDF (também disponível em https://indiobooks.wordpress.com) que não responde bem em telas pequenas como as de smartphones e é melhor indicada para telas maiores como as de notebooks e desktops. O Apêndice I exemplifica uma lição do e-book em PDF (para o usuário que estiver lendo este trabalho no formato PDF). Independentemente do tamanho de tela e do formato de arquivo, as duas versões do e-book foram desenvolvidas para terem as mesmas funcionalidades e o mesmo conteúdo. Já em relação ao registro da obra na Biblioteca Nacional e obter o ISBN, não foi possível a realização dessa atividade devido às questões burocráticas e internas da instituição de ensino da qual faço parte e ao tempo necessário entre a finalização da obra e a entrega desta dissertação.

8.1.3 Requisitos para leitura do E-Book

O e-book com áudio desenvolvido no formato EPUB é compatível com a maioria dos aplicativos leitores de e-books do sistema operacional para dispositivos móveis Android14 da Google, líder de instalações na grande maioria dos tablets e smartphones usados no Brasil, segundo pesquisa da empresa Statcounter 15 (2017). Não foram feitos testes significativos para os sistemas operacionais IOS e macOS da Apple, mas no aplicativo Livros (iBooks) dessa empresa foi possível ler e ouvir nosso livro digital com áudio. Para o sistema operacional Windows usado em tablets, notebooks e desktops, a funcionalidade de se ouvir os áudios foram testadas no software Adobe

14 https://www.android.com/ 15 STATCOUNTER.Mobile Operating System Market Share . Disponível em . Acesso em 01.02.2019 57

Digital Editions16, que recomendamos para a leitura do e-book neste sistema operacional. E para o sistema Operacional Linux, recomendamos o software Easy Ebook Viewer17, no qual a leitura e escuta dos áudios funcionam perfeitamente. Para smartphones Android, recomendamos o leitor de e-book Lithium18. A Figura 6 mostra telas do e-book num smartphone.

Figura 6 – Telas do App Lithium em smartphone Android

Fonte: Criação do autor (2018).

8.2 APRESENTAÇÃO DO E-BOOK ÀS LIDERANÇAS E PROFESSORES INDÍGENAS

O primeiro protótipo do e-book foi mostrado no I Seminário Internacional de Educação Bilíngue19, que ocorreu nos dias 10, 11, 12 e 13 de julho de 2018, na

16 https://www.adobe.com/br/solutions/ebook/digital-editions/download.html 17 https://github.com/michaldaniel/Ebook-Viewer 18 https://play.google.com/store/apps/details?id=com.faultexception.reader 58

Universidade Federal de Roraima, cidade de Boa Vista, na forma de uma um resumo apresentado oralmente, como parte do Grupo de Trabalho – GT02 – A formação de professores bilíngues como ação de políticas linguísticas. Esse resumo teve como tema “A produção de livros digitais (e-books) como ferramenta de apoio na formação de professores e no ensino de línguas indígenas”. Este evento, destinado a estudantes de graduação e pós-graduação, professores indígenas do campo e da cidade, pesquisadores e professores das instituições de ensino superior do Brasil, e também dos países fronteiriços, principalmente, da Venezuela e Guiana envolvidos na temática da educação intercultural, tinha por finalidade promover um debate sobre a educação intercultural bilíngue em contextos transfronteiriços com o protagonismo de estudantes indígenas, pesquisadores, professores formadores e mestres indígenas de diferentes etnias. E onde apesar de o tempo de apresentação ser curto, pois havia muitos trabalhos a serem expostos nesse GT, o tema apresentado chamou bastante atenção dos participantes. Neste mesmo dia, foi compartilhada a primeira versão com algumas lições do e-book que estava em desenvolvimento, via aplicativo de mensagens, para as pessoas que solicitaram. A segunda apresentação do e-book, já em sua versão final, ocorreu no I Encontro dos Professores e Intérpretes de Línguas Indígenas de Roraima, no dia 13 de dezembro de 2018, cuja principal meta era divulgar o que vem sendo realizado por indígenas e por outros agentes, e ao mesmo tempo discutir outras estratégias para ampliar, melhorar as condições de trabalho e identificar problemas que fragilizam a implementação do ensino bilíngue e das leis de cooficialização. Essa segunda exposição, teve como enfoque o e-book em si, isto é, o livro digital como ferramenta de apoio ao ensino e aprendizagem da Língua Wapichana, como ele funciona, os requisitos de hardware e software para ser lido e ouvido, o conteúdo das lições, e onde encontrá-lo. Nessa conferência foi possível demonstrar o e-book de forma mais detalhada, com a exibição e explicação de um vídeo, mostrando desde a capa do livro digital, seu sumário, a organização das lições, como navegar entre as páginas e os áudios com o som dos diálogos feito pelos personagens das lições. Nesse dia também estavam presentes e foram apresentados ao público alguns dos

19 http://ufrr.br/isieib/ 59

professores indígenas que participaram das gravações do programa de rádio, “Vamos Aprender Wapichana”, do qual foram extraídos os áudios que fazem parte do livro digital. A partir do lançamento do livro, os leitores, preferencialmente professores indígenas, eram convidados a fazer o donwload do livro e também a responder o QUIS sobre o e-book. A pesquisa de satisfação buscava analisar a experiência dos usuários (leitores) a partir de critérios técnicos e de usabilidade, de conteúdo e de compartilhamento/divulgação, mas dada a quantidade pouco significativa de respostas, apenas 20, seus resultados farão parte do Apêndice D, a título de demonstração dos feedbacks obtidos.

60

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desafio de manter idiomas indígenas vivos precisa envolver as tecnologias da informação e comunicação, não só para armazenamento e registro dessas línguas, mas para que os indígenas possam se manter presentes como falantes, escritores e produtores de conteúdos em suas comunidades e no ciberespaço. E como vimos, foram várias as iniciativas que se buscaram para preservar e divulgar a língua e cultura Wapichana ao longo do tempo, sendo que essas ações foram evoluindo e ganhado apoio das tecnologias da informação e comunicação, para enfim chegarmos ao e-book Watuminhap Wapichan Da’y! “Vamos Aprender Wapichana” que é uma inovação dentro da produção literária indígena brasileira. Mas não esperamos que esses empreendimentos parem por aqui. Ainda há muitos produtos a serem desenvolvidos e inovados através das TICS para as línguas indígenas, como por exemplo, aplicativos para smartphones, jogos, tradutores automáticos, corretores ortográficos etc., para que os indígenas possam cada vez utilizar as tecnologias e o cyberspaço em sua própria língua. O tema central deste trabalho foi a produção de livros digitais como ferramenta de apoio ao ensino e divulgação de línguas indígenas, nesse caso específico o idioma Wapichana, onde pode-se observar que este tipo de material é economicamente e tecnicamente viável para o ensino de qualquer língua indígena que já tenha uma forma escrita, padronizada ou não. Tal fato podemos comprovar pelo convite que recebemos de produzir um e-book com áudio para a língua Macuxi (em produção), seguindo os mesmos parâmetros utilizados no livro digital Wapichana. A escolha de padrões internacionais e abertos para a publicação do e-book como os formatos EPUB e PDF, e as licenças Creative Commons favorecem a distribuição dessas publicações digitais e a portabilidade em dispositivos como notebooks, tablets e principalmente smartphones e sem a necessidade dos custos envolvidos na impressão e logística dos livros tradicionais. Pode-se questionar que em muitas comunidades indígenas não há internet? Sim, mas certamente há usuários de computador e muito mais de smartphones. Estes dispositivos por possuem inúmeras funcionalidades é utilizado pelos indígenas quando estão nas cidades com todas as suas potencialidades disponíveis e são abastecidos de mídias digitais, já quando estão nas comunidades distantes e sem internet os smartphones 61

são utilizados para o uso de aplicativos que não precisem de acesso a internet e principalmente para ouvir músicas e tirar fotos. E por que não para aprender a própria língua? Assim, os indígenas podem “baixar” o livro digital da internet quando estiverem na cidade e compartilhar na comunidade através de redes bluetoth, por exemplo, mesmo estando offline.

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REFERÊNCIAS

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World Intellectual Property Organization - WIPO WIPO/OMPI/INPI. Curso Geral de Propriedade Intelectual à Distância – DL 101P BR – Módulo 2 – Introdução a PI.. 2017

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APÊNDICE A – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E VOZ

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação PROFNIT

TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E VOZ Pessoa maior de 18 anos

Neste ato, e para todos os fins em direito admitidos, autorizo expressamente a utilização da minha imagem e voz, em caráter definitivo e gratuito, constante em fotos, filmagens e gravações de áudio decorrentes da minha participação no Projeto de Pesquisa da Universidade Federal de Roraima, a seguir discriminado:

Programa: Pós-Graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação Título do projeto: Produção de Livros Digitais (EBOOKS) como Ferramenta de Apoio na Formação de Professores e no Ensino da Língua Wapichana. Pesquisador (es):Edney Veras dos Santos Orientador: Eliseu Adilson Sandri Co-orientandor: Ananda Machado

Objetivos principais: Desenvolver um livro digital (ebook) para a língua da Etnia Wapichana em Roraima que possa auxiliar na formação de professores e no ensino, valorização e divulgação da Língua Wapichana em Roraima.

Concordo que o material e as informações obtidas relacionadas a minha pessoa possam ser publicados em aulas, congressos, eventos científicos nacionais e internacionais, palestras, livros digitais (ebooks) ou periódicos científicos.

Por ser esta a expressão de minha vontade, nada terei a reclamar a título de direitos conexos a minha imagem e voz ou qualquer outro.

______,_____de______de 2018.

______Assinatura

Nome :______RG.: ______CPF:______Endereço: ______Telefone: ( ) ______

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APÊNDICE B – TUTORIAL EDIÇÃO DE UM EBOOK

FORMATO EPUB

Para edição do livro digital utilizamos o programa Sigil, que foi projetado para facilitar a criação de excelentes e-books no formato EPUB. O Sigil é um editor e-book open source que apresenta um painel WYSIWYG (What You See is What You Get), o que significa “o que você vê é o que você obtém”. Um arquivo gerado pelo Sigil é um e-book no formato EPUB, tipo de arquivo no qual é possível inserir imagens, vídeos e áudios de forma simples. A Figura A-1 mostra a tela de edição do Sigil, no “Modo Livro”, onde se pode observar que este programa se assemelha bastante a um processador de textos padrão, com poucas opções de formatação como: cabeçalho; marcadores e números; estilo (negrito, itálico, sublinhado); alinhamento de parágrafos (esquerdo, direito, centralizado); inserir arquivos de imagens, áudio e vídeo.

Figura A-1 – Tela de edição do Sigil em modo livro

Fonte: Criação do autor (2018).

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Quando se quer ter mais controle sobre o formato do EPUB do usuário ou usar os recursos avançados do Sigil, poderá usar o Modo de Exibição de Código, Figura A-2. Neste modo é possível editar o texto como se fosse um código HTML. Ao contrário do modo de visão de livro, onde se pode fazer as alterações desejadas diretamente no EPUB do usuário, quando estiver na visualização de código, é essencial que se edite com cuidado. O usuário precisará garantir que todas as tags (códigos) usadas sejam válidas e sejam abertas e fechadas corretamente. Se não forem, o usuário receberá um aviso ao tentar salvar ou alternar para o modo de exibição de livros e não poderá salvar seu EPUB até que eles sejam consertados.

Figura A-2 – Tela de edição do Sigil em modo de código HTML

Fonte: Criação Própria (2018)

Um livro digital no formato EPUB é um pacote de arquivos compactados que contém basicamente: um arquivo para a capa do e-book, um arquivo para o sumário, arquivos paras as páginas do e-book e os arquivos de mídia (áudio, vídeo e imagens). Assim o e-book aqui desenvolvido ficou estruturado conforme é mostrado na Figura A-3.

70

Figura A-3 – Estrutura de arquivos do e-book

Fonte: Criação do autor (2018).

A edição da parte textual do e-book a partir do arquivo de corpus de texto no formato DOC passou pelas seguintes etapas: 1. Criação de arquivo HTML em branco no Sigil; 2. Seleção e cópia de cada lição ou página de texto; 3. Colagem da seleção no arquivo em branco do Sigil. Neste passo o Sigil pergunta se o usuário deseja colar os dados da área de transferência como texto puro, como na Figura A-4, a resposta a esta pergunta é “não”.

Figura A-4 – Deseja colar os dados da área de transferência como texto puro

Fonte: Criação do autor (2018).

4. Correções de tags HTML usando o modo código de visualização no Sigil. Este passo é importante, porque algumas tags vindas do arquivo DOC são incompatíveis com o formato EPUB, podendo causar erros no arquivo; Para adicionar os arquivos de áudio, criados anteriormente no programa Audacity®, no e-book, o procedimento é único, mas deverá ser repetido para cada arquivo de áudio que será inserido na página do livro digital: Dentro do Sigil, clicar 71

no botão Inserir arquivo ou selecionando o item de menu Inserir → Arquivo, buscando o arquivo no próprio computador, Figura A-5.

Figura A-5 – Inserindo áudio no Sigil

Fonte: Criação do autor (2018). Com esses procedimentos, foram editadas e geradas todas as páginas do livro digital com áudio Watuminhap Wapichan Da’y!, que pode ser lido e ter seus áudios ouvidos através de softwares aplicativos leitores de e-book do formato EPUB.

FORMATO PDF

Para atender os leitores que por alguma necessidade precisem do e-book impresso, foi desenvolvida uma versão também com áudio, em formato PDF. Para esta edição, utilizou-se o software Foxit Reader. Esta versão é compatível com a maioria dos programas leitores de PDF dos sistemas operacionais Windows e Linux. O processo de criação desta versão passa basicamente por três etapas: 1. Edição do arquivo em formato de texto; 2. Geração do livro em PDF, e; 3. Inserção dos arquivos de áudio, através da edição do arquivo PDF criado (Figura A-6).

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Figura A-6 – Detalhe da Tela do Foxit Reader com o botão inserir Áudio e Vídeo

Fonte: Criação do autor (2018).

Antes de gerar o arquivo em PDF, é preciso editar o livro usando um editor de texto da sua preferência, como MS Word ou Libre Office Writer e, posteriormente, salvar/exportar o arquivo de texto no formato PDF. Feito isto, com o programa Foxit Reader, passa-se para a terceira etapa, que é a inserção dos arquivos de áudio. É importante frisar que se for preciso fazer alguma alteração no arquivo PDF durante o processo de criação do e-book com áudio no formato PDF, é necessário voltar à primeira etapa, para gerar um novo arquivo PDF.

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APÊNDICE C – QUIS I. PESQUISA DE SATISFAÇÃO DO USUÁRIO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, da pesquisa “sobre satisfação e utilização do ebook com áudio Vamos Aprender Wapichana”, de responsabilidade do pesquisador Edney Veras dos Santos, discente do PROFNIT, ponto focal: UFRR, sob orientação do professor Dr. Eliseu Sandri. Leia cuidadosamente o que segue e me pergunte (por e-mail ou telefone) sobre qualquer dúvida que você tiver. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, caso aceite fazer parte do estudo, assinale a opção ao final desta página para dar continuidade no preenchimento do questionário. Em caso de recusa você não sofrerá nenhuma penalidade.

Declaro ter sido esclarecido sobre os seguintes pontos:

1. PARTICIPAÇÃO NA PESQUISA: Ao participar desta pesquisa você deverá responder a um questionário que contém perguntas diretas e objetivas sobre alguns dados pessoais, profissionais e sobre os temas que trata a pesquisa: Critérios técnicos e de usabilidade, conteúdo e compartilhamento/divulgação de livro digital. Lembramos que a sua participação é voluntária, você tem a liberdade de não querer participar, e pode desistir, em qualquer momento, mesmo após ter iniciado o preenchimento do questionário, sem nenhum prejuízo para você. 2. RISCOS E DESCONFORTOS: O questionário utilizado para a pesquisa não apresenta nenhum risco ou desconforto aos participantes, pois se utiliza apenas de dados oriundos de questionários estruturados, com o objetivo de avaliar a percepção dos leitores sobre a utilização do ebook. Mas caso sinta-se prejudicado, confuso ou constrangido com a temática de estudo, o pesquisador estará a disposição para sanar as dúvidas e resolver as dificuldades, podendo o participante desistir da pesquisa sem qualquer prejuízo. 3. BENEFÍCIOS: A pesquisa pode contribuir com a ampliação do conhecimento, divulgação e aperfeiçoamento do ensino da língua indígena Wapichana, obtendo-se um ganho de informações que possibilitarão novos estudos e novos produtos referentes à outras línguas indígenas. 4. CONFIDENCIALIDADE: Todas as informações fornecidas serão utilizadas somente para esta pesquisa, analisadas em conjunto. Suas respostas ficarão em segredo e o seu nome não aparecerá em lugar nenhum do questionário nem quando os resultados forem apresentados. 5. ESCLARECIMENTOS: Se tiver alguma dúvida a respeito da pesquisa e/ou dos métodos utilizados na mesma, pode procurar a qualquer momento o pesquisador responsável, discente do PROFNIT, ponto focal: UFRR. Nome do pesquisador responsável: Edney Veras dos Santos Telefone para contato: (95) 99976-0455 Horário de atendimento: 08h às 18h de segunda a sexta-feira. E-mail: [email protected] *Obrigatório

1. DECLARAÇÃO DE CONCORDÂNCIA *

SIM, CONCORDO EM PARTICIPAR DA PESQUISA DE FORMA VOLUNTÁRIA. NÃO

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I. Satisfação do Usuário 1. O ebook funcionou bem nos dispositivos que você utilizou? * Marcar apenas uma opção. SIM NÃO

2. Sua avaliação geral quanto a utilização do ebook no Smartphone (celular), tablet ou notebook (computador) Marcar apenas uma opção. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Muito Ruim Muito Bom

3. Reação geral quanto ao uso do ebook: * Marcar apenas uma opção. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Difícil Fácil

4Leitura de caracteres na tela * Marcar apenas uma opção. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Difícil de Ler Fácil de Ler

5. Organização do Livro * Marcar apenas uma opção. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Confuso Muito Claro

6. Encontrar e Navegar entre as páginas * Marcar apenas uma opção. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Difícil Fácil II. Aprendizagem

7. O conteúdo das lições é * Marcar apenas uma opção. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Insatisfatório Satisfatório

8. Você recomenda este ebook para ser utilizado como ferramenta de apoio ao ensino da Língua Wapichana ou de outra língua indígena? Marcar apenas uma opção. SIM NÃO

III. Multimídia 9. A qualidade dos sons é : * Marcar apenas uma opção. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 75

Qualidade Ruim Boa Qualidade

IV. Compartilhamento 10. Você compartilharia o ebook com outra pessoa? * Marcar apenas uma opção. SIM NÃO

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APENDICE D – RESULTADOS DO QUIS SOBRE O E-BOOK WATUMINHAP WAPICHAN DA’Y!

A seleção dos usuários, preferencialmente professores indígenas, para participação na pesquisa foi de forma voluntária, a partir do lançamento do livro digital no “I Encontro de Professores e Intérpretes de Línguas Indígenas de Roraima”, ocorrido em 13 de dezembro de 2018, no campus Paricarana da UFRR, cidade de Boa Vista. Para facilitar a divulgação e o compartilhamento do e-book criou-se o site https://indiobooks.wordpress.com, através do gerenciador de conteúdo (CMS) gratuito Wordpress20. Ao fazer o download do livro digital, o leitor era convidado a fazer parte da pesquisa de satisfação. Outra forma de distribuição do e-book e de recrutamento de voluntários para a pesquisa se deu por meio de aplicativos de mensagens. Sobre os feedbacks dos leitores, através do QUIS, a respeito do e-book desenvolvido nesta pesquisa e considerando uma escala de 1 a 10, sendo 1 a nota mais baixa e 10 a nota mais alta, tivemos os seguintes resultados, considerando:

1 Critérios Técnicos e Usabilidade:

80% dos usuários informaram que o e-book funcionou bem nos dispositivos utilizados (smartphones, notebooks e tablets) para leitura e audição do e-book. Não houve por parte dos leitores a utilização de tablets, apenas smartphones e computadores (notebooks). Gráfico A-1 – Avaliação de funcionamento do e-book em dispositivos móveis

Fonte: Criação do autor (2019).

20 https://br.wordpress.com/ 77

A avaliação geral dos leitores resultou na média 6,8 para os que consideraram o e-book entre “Muito Ruim” e “Muito Bom”, Gráfico A-2.

Gráfico A-2 – Avaliação Geral Quanto à Utilização do E-book

Fonte: Criação Própria (2019)

Já a reação geral, quanto ao uso do e-book, obteve média 6,55 entre os que consideraram o uso do e-book entre “Difícil” e “Fácil”, Gráfico A-3.

Gráfico A-3 – Reação geral quanto ao uso do E-book

Fonte: Criação do autor (2019).

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Sobre a leitura de caracteres na tela do dispositivo, a média de foi 6,65 em relação à leitura de caracteres na tela considerando “Difícil” ou “Fácil” de ler, Gráfico A-4.

Gráfico A-4 – Leitura de Caracteres na Tela

Fonte: Criação do autor (2019).

A avaliação sobre a organização do livro digital, obteve média 7, avaliando- se o produto entre “Confuso” e “Muito Claro”, Gráfico A-5.

Gráfico A-5 – Organização do Livro

Fonte: Criação do autor (2019).

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Sobre Encontrar e Navegar entre as páginas, a média foi de 7,3, quando avaliamos se esta tarefa está entre ser “Difícil” ou “Fácil” de fazer, Gráfico A-6.

Gráfico A-6 – Encontrar e navegar entre as páginas

Fonte: Criação do autor (2019).

E a média dada à qualidade dos sons foi de 7,2, avaliando essa qualidade entre qualidade “Ruim” e “Boa”. Gráfico A-7.

Gráfico A-7 – Qualidade dos sons do e-book

Fonte: Criação do autor (2019).

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Dos critérios técnicos e de usabilidade, podemos inferir, a partir desses dados, que o e-book produzido é de uso fácil e satisfatório, possui caracteres de fácil leitura nas telas dos dispositivos e tem uma organização muito clara. A navegação entre as páginas é fácil e a qualidade dos sons é de boa qualidade.

2 Compartilhamento e Divulgação

Quando perguntados aos leitores se compartilhariam o e-book com outra pessoa, a maioria dos leitores, 90%, informou que sim. Gráfico A-8

Gráfico A-8 – Compartilhar o e-book

Fonte: Criação do autor (2019).

Deste critério, podemos concluir que o compartilhamento é um ponto forte dos livros digitais, promovendo um maior alcance e uma maior divulgação da língua wapichana, principalmente ao se utilizar os canais disponibilizados pela internet.

3 Conteúdo

A média dada pelos leitores ao conteúdo do e-book foi de 6,7 avaliando esse conteúdo entre “Satisfatório” e “Insatisfatório”. Gráfico A-9.

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Gráfico A-9 – Conteúdo das lições do e-book

Fonte: Criação do autor (2019).

E a maioria dos leitores, com um percentual de 95%, recomendaria o e-book como uma ferramenta de apoio ao ensino da Língua Wapichana ou de outra língua indígena.

Gráfico A-10 – Recomendação do e-book

Fonte: Criação do autor (2019).

Ao final das análises deste critério, ficou demonstrado que o conteúdo do e- book é satisfatório, isto é, pode-se aprender a Língua Wapichana com esta publicação. Por este motivo, a maioria dos leitores recomendaria o livro digital para 82

ser utilizado como instrumento de apoio no ensino da Língua Wapichana e também para a produção de novas publicações de qualquer língua indígena.

4 Respostas Subjetivas

Transcrevemos abaixo as principais respostas dadas pelos entrevistados em relação à utilização do livro digital produzido nesta pesquisa. As perguntas eram: 1. O que achou melhor no e-book com áudio? “O melhor do livro é poder ouvir as conversas para aprendermos a falar corretamente a língua wapichana”. “O e-book é muito bom, é muito bom poder usar computador, informática para aprender e para ensinar. E no celular ajuda muito”. “A gente pode levar o e-book para qualquer lugar, não precisa imprimir. Economiza dinheiro”. “Toda nova tecnologia tem que ser aproveitada para proteger as línguas indígenas. Ter esses textos e a voz dos indígenas gravados é uma forma de preservar as línguas indígenas”.

2. O que você achou de pior? “Não vi nada ruim”. “O ruim é que tem lugar que não tem Internet, mas aí é só procurar um lugar que tem para poder baixar o livro”. “Talvez não conseguir instalar os aplicativos para leitura do e-book”. “Não achei nada de ruim, por enquanto”.

3. Você usaria este e-book como ferramenta de ensino/aprendizagem? “Sim, este livro digital pode ajudar muito no ensino do Wapichana”. “Sim”. “Sim, com certeza”. “Sim. As novas formas de aprender e de ensinar também precisam ser utilizadas pelos indígenas”.

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Como podemos observar, poucos responderam subjetivamente, atentando- se apenas para as questões objetivas. Todavia, é perceptível que estas respostas estão em conformidade com as respostas objetivas.

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APENDICE E – EXEMPLO DE UMA LIÇÃO DO E-BOOK (VERSÃO PDF)

Lição 1.Kaimenkidkary.Saudações.

(Odamir) - Kaimenpygary? (Jucineide) - Uu, kaimen. (Odamir) - Kaimenpygary? (Jucineide) - Aunaa, aunaaunkaimenan. (Jucineide) - Muruta. (Odamir) - An’ain. (Jucineide) - Sakanata. (Odamir) - An’ain. (Jucineide) - Kaimenpygary? (Odamir) - Uu, kaimen. Pygary man? (Jucineide) - Ungarykaimenkapam. (Jucineide) - Ziupygary? (Odamir) - Uu, ziuungary. (Jucineide) - Na’apadiipygary? (Odamir) - Ungarykaimen. (Jucineide) - Kaimenpygary? (Odamir) - Maskayda’y. (Jucineide) - Kaimenpygary? (Odamir) - Aunaa, unkaimenaimenan (Odamir) - Unkiwennaa. (Jucineide) - An’ain, makuTuminkerytym.

Diálogo em Português

(Odamir) - Você está bem?

(Jucineide) - Sim, estou bem.

(Odamir) - Você está bem? 85

(Jucineide) - Não, não estou bem.

(Jucineide) - Entre.

(Odamir) - Sim.

(Jucineide) - Sente-se.

(Odamir) - Sim.

(Jucineide) - Você está bem?

(Odamir) - Sim, estou bem. E você?

(Jucineide) - Estou bem também.

(Jucineide) - Você está com saúde?

(Odamir) - Sim, estou com saúde.

(Jucineide) - Como está você?

(Odamir) - Estou bem.

(Jucineide) - Você está bem?

(Odamir) - Um pouco.

(Jucineide) - Você está bem?

(Odamir) - Não, estou mais ou menos.

(Odamir) - Eu já vou.

(Jucineide) - Certo, vá com Deus.

Até mais.

–Sim, até mais

Entendendo o Diálogo:

Quando o Wapichana encontra um amigo ou uma amiga, ele pergunta se o amigo está bem. Ele diz: Kaimenpygary? A palavra kaimen quer dizer “bem”, ou “saúde”, e vem antes da palavra pygary, que quer dizer “você”. Na Língua Wapichana não precisa usar o verbo “está”.

A amiga responde Uu, kaimen. 86

A palavra uu quer dizer “sim”. Já sabemos que a palavrakaimen quer dizer “bem”. No caso do amigo ou amiga não estar bem, ele ou ela vai responder à pergunta assim: Aunaa, aunaaunkaimenan. Na resposta, a palavra aunaaquer dizer “não”. Notemos que a palavra unkaimenan tem um prefixo, un-. Este prefixo un-indica a primeira pessoa singular, “eu”. Unkaimenan significa “eu estou com saúde”.