Revista Insulana Volume: 58 (2002)
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lNsvLANA ÓRGÃO DO INSTITUTO CULTURAL DE PONTA DELGADA ISSN: 0872-6035 Dep. LegaL: 79968/94 Tiragem: 1000 exemplares Fundada em 1944 por Humberto Bettencourt, Rodrigo Rodrigues, Armando Côrtes-Rodrigues, José Bruno Carreiro e Francisco Carreira da Costa Director Secretário José Estrela Rego João Paulo Constância Coordenação Editorial José Luís Brandão da Luz José Damião Rodrígues Conselho de Redacção José Estrela Rego, Henrique de Aguiar Oliveira Rodrigues, João Paulo Constância, Ângelo Albergaria Pacheco, José Luís Brandão da Luz e José Damião Rodrigues SUMÁRIO Proémio Liceu de Ponta Delgada Carlos Cordeiro, O Liceu DE Ponta DelgaDA 5 José Luís Brandão da Luz, TeófiloBraga e O Liceu DE Ponta Delgada 29 José Maria Teixeira Dias, Uma década DE vida do Liceu Antero DE Quental 35 Maria Angelina da Naia Balacó AmaRaL, Segmentos DA vida duma Escola no Álbum de Memórias do Liceu 47 Depoimentos Entrevista ao Prof. Doutor José DE Almeida Pavão 53 Entrevista à Ora. Berta Camacho Meio Bento 57 Eduardo Pacheco, No Liceu DE outros tempos 63 Varia Sérgio Resendes, O depósito DE concentrAdos alemães na ilha Terceira 67 Gabriela FuNK, Pérolas DA sabedoria populAr portuguesa NOS Açores 151 João Alves das Neves, A memórIA dosAçores na obra do escritor José Geraldo Vieira 163 Documentos Miguel Soares da Silva, Extractos dos assentos paroquiais DA freguesia DE Santo António, do concelho DE Ponta Delgada: Casamentos (1729-1800) 173 Victor de Lima Meireles, Extractos paroquiais DA freguesia DA Ribeira Quente (S. Paulo): Baptizados (1792-1900) 271 Vida do Instituto José Estrela Rego, Prof. Doutor José DE Almeida Pavão na toponímia DE Ponta Delgada 381 Henrique de Aguiar Oliveira Rodrigues, Rodrigo Rodrigues: Homenagem da Câmara Municipal de Ponta Delgada 385 Capa: Carlos Sousa Fotografia: Fachada principal do Liceu Antero de Quental. Execução gráfica: Coingra, Lda. As opiniões expressas nos textos publicados são da responsabilidade dos Autores ÓRGÃO DO INSTITUTO CULTURAL DE PONTA DELGADA Vol. 58 2002 LICEU DE PONTA DELGADA 1852-2002 150º ANIVERSÁRIO PROÉMIO fundação do Liceu de Ponta Delga- de regime, a frequência de alunas pas- A da data de 21 de Fevereiro de 1852 sou a apresentar uma expressão signifi- e responde, embora um pouco tardia- cativa. mente, ao projecto reformista de Passos O corpo docente, para além do reitor, Manuel, de 1836, de dotar todas as capi- Pe. João José de Amaral, era constituído tais de distrito do país com estabeleci- por mais cinco professores, a saber: João mentos de ensino liceal. Iniciou Anselmo da Cruz Pimentel Choque (Ma- formalmente as suas actividades a 23 de temática); Luís Filipe Leite (Francês e Fevereiro desse ano, ao reunir pela pri- Inglês); Joaquim Manuel Fernandes Bra- meira vez o conselho escolar, no edifí- ga (Filosofia Racional e Moral e Princí- cio do extinto convento dos Gracianos. pios de Direito Natural); António Manteve-se nestas instalações até 1921, Augusto da Mota Frazão (Filosofia e data em que foi transferido para o palá- Retórica) e Caetano António de Melo cio de Fonte Bela, onde permaneceu até (Latim e Língua Francesa). A par do hoje. Nos primeiros 50 anos de existên- pendor humanístico do ensino, em que, cia, a frequência anual raramente ultra- ao longo dos anos, se destacaram muitos passou os cem alunos, na sua esma- professores, o interesse pelas ciências gadora maioria rapazes. Alice Moderno foi permanente e objecto de iniciativas foi a primeira aluna a inscrever-se, em importantes, de que se registam as dili- 1887, e nos anos posteriores, até à gências efectuadas pelo conselho escolar implantação da República, conhece-se o junto do governo para criar na cidade registo de matrícula de apenas 11 alu- uma Estação de Meteorologia, assim co- nas. Só a partir desta mudança política mo o papel de alguns dos seus docentes Insulana. Órgão do Instituto Cultural de Ponta Delgada, 58 (2002): 1-3 2 Proémio para a criação do primeiro núcleo do Arco Íris, em que colaboraram antigos Museu de História Natural, que foi pos- alunos e professores, e a publicação teriormente integrado no Museu Carlos dum Álbum de Memórias, evocativo de Machado. personalidades e acontecimentos da vi- O Liceu constituiu sempre um pólo da do Liceu. Os tempos mudaram e a de dinamização literária, artística, des- relevância dos liceus conheceu de al- portiva e social da cidade de Ponta Del- gum modo um certo desvanecimento, gada, ficando célebres muitos dos seus não só por causa da expansão do ensi- espectáculos de teatro, festivais despor- no superior em todo o país, nomeada- tivos, concertos musicais, coros, confe- mente nos Açores, mas também por rências, exposições, bem como as causa da grande mobilidade que as pes- solenidades da abertura anual do ano soas hoje dispõem, do maior fluxo de lectivo e a animação que invadia as ruas informação, ao alcance de todos, e das da cidade com a tradicional «bicha» dos facilidades de comunicações, que trou- estudantes e toda a panóplia de praxes xeram aos Açores de hoje horizontes que envolvia a recepção dos «caloiros». mais alargados e exigências de forma- Como instituição mais acreditada da vi- ção mais apuradas e facilmente concre- da intelectual das ilhas de São Miguel e tizáveis. Todavia, o Liceu continua a de Santa Maria, tudo o que dissesse res- ser ainda uma instituição de referência, peito ao Liceu interessava e mobilizava a que destacadas personalidades dos a cidade, designadamente, as entidades mais diversos quadrantes da vida do oficiais e os organismos culturais, como País e da Região, de ontem e de hoje, o Instituto Cultural de Ponta Delgada, devem muito da sua formação intelec- que contava entre os seus sócios funda- tual e cívica. Constitui assim um ele- dores muitos professores do Liceu. mento importante do nosso sistema Compreende-se assim que os números 1 educativo, indispensável para esclare- e 2 do volume VIII da Insulana de 1952 cer os padrões culturais e sociais que tivessem sido, em grande parte, dedi- modelaram várias gerações de profes- cados ao registo das comemorações do sores, investigadores, cientistas, escri- 1º Centenário do Liceu de Ponta tores, poetas, artistas, juristas, mé- Delgada e que incluíssem também dicos, políticos, militares, etc. diversos estudos sobre o que era então É dentro deste espírito que o presente considerado o mais importante estabele- número da Insulana dedica à efeméride cimento de ensino do distrito. do 150º aniversário do Liceu uma cha- No corrente ano, o Liceu voltou no- mada de atenção para este sector da his- vamente a ser alvo de atenções, ao co- tória dos Açores, em geral, e de São memorar o sesquicentenário da sua Miguel, em particular, recolhendo de- fundação, com vasto programa de cele- poimentos de antigos e actuais dirigen- brações, que incluiu, entre variados ac- tes da escola, registando a intervenção tos públicos, a edição dum número da apresentação pública de uma das pu- especial do antigo jornal da Academia blicações comemorativas e publicando Proémio 3 alguns modestos subsídios para a histó- continuidade à transcrição de documen- ria, que merece ser estudada, desta pri- tos de interesse genealógico relativos a meira e, durante muitos anos, única São Miguel, como forma de salvaguar- instituição de ensino secundário da ilha. dar estes registos e de divulgar elemen- Inserimos ainda diversos trabalhos refe- tos indispensáveis para este género de rentes ao conhecimento histórico e etno- estudos, a que muitos sócios do Instituto lógico das ilhas açorianas e damos se têm dedicado. Os Coordenadores LICEU DE PONTA DELGADA O LICEU DE PONTA DELGADA Turbulências de um começo (1852-1892) Carlos Cordeiro 1. “Dissipar as trevas da ignorância” de facto, a ser instalado o Liceu, criado já em circunstâncias bem diferentes. s preocupações com o desenvolvi- Este bem conhecido e muito acti- A mento do ensino secundário nos vo capitão, que vinha com funções liga- Açores, particularmente na ilha de S. das às fortificações militares mas que Miguel, surgem-nos bem patentes, em produziu inúmeros documentos de ines- 1813, num “Ensaio sobre a admi- timável valor para o conhecimento da nistração em S. Miguel”1. Francisco sociedade açoriana da época, defendia Borges da Silva, seu autor, sugere ao que, ao lado das “Aulas de Estudos Mi- Príncipe Regente um plano integrado de litares” (Academia Militar), com sede instrução pública, em que se salienta a em Angra, que começara a funcionar em proposta de criação, em Ponta Delgada, 4 de Novembro de 18112, e onde a ju- de um “Liceu de Belas Letras”, ventude aprendia os princípios matemá- “Colégio de Educação Pública”, a ticos e militares, o Liceu de Ponta funcionar no antigo convento dos Delgada permitiria a aprendizagem dos gracianos, onde, 40 anos passados, viria, princípios de Literatura. Na sua óptica, 1 Francisco Borges da Silva, “Ensaio sobre a Administração da Fazenda em S. Miguel em 1813”, transcrito, na parte re- lativa ao ensino, em Anuário do Liceu de Ponta Delgada para o ano lectivo de 1890 a 1891 seguido de alguns documentos para a História da Instrução Pública em S. Miguel, Ponta Delgada, Tipografia do Archivo dos Açores, 1891 (doravante ci- tado por Anuário do Liceu de P. D.), pp. 85-92. Este Anuário, de cerca de 100 páginas, foi organizado pelo Professor Eugénio Vaz Pacheco do Canto e Castro, então Reitor do Liceu, que, aliás, pagou a edição. Tendo oferecido diversos exemplares às instâncias superiores, nem sequer terá recebido um simples agradecimento. Desistiu, pois, de o continuar no ano seguinte. Cf. Resposta à consulta do Governo de 22 de Fevereiro de 1892 sobre os serviços dos Liceus, Ponta Delgada, Tip. do Campeão Popular, 1892, p. 13. 2 V. Arquivo dos Açores, reprodução fac-similada pela edição de 1887, vol. IX, Ponta Delgada, Typ. do Archivo dos Açores, pp. 122-128. Francisco Borges da Silva reivindica para si a proposta de criação desta Academia Militar.