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ANO 4 - Nº 11

Brasília Cinco edifícios da capital do País que se tornaram símbolos ANO 4 - Nº 11 arquitetônicos

Encantos da Índia Passeios históricos e badalação no destino que virou sinônimo de espiritualidade Mãe companheira, avó coruja e atriz realizada

E xpeditente

Queiroz Galvão

Diretor-presidente: Frederico Pereira

Diretores Corporativos: Administrativo: Arno Stupp Engenharia: Henrique Suassuna Fernandes Financeiro: Fernando Roberto Bitu Moreno Produtos / Projetos: Ricardo Costa Carvalho de Gusmão

Regionais: Regional PE: Mucio Pires de Souto Regional SP: Carlos Roberto Morais Coimbra Regional BA: Luiz Pimentel Regional RJ: Pedro Gomes da Cunha Regional DF: Claudia Simone Moreiras

Editora

JB Pátria Editora Ltda. Presidente: Jaime Benutte Diretor: Iberê Benutte Administrativo / Financeiro: Gabriela S. Nascimento Circulação: Patricia Torre Comercial: Otto Busch

Premium Magazine Publisher: Jaime Benutte Conselho editorial: Carol Boxwell, Christiana Guimarães, Germana Monte, Michaella Baratz e Ricardo Leal

Editora: Kelly Souza

Projeto gráfico e arte: Belatrix Ltda. Diretor de arte: Marcelo Paton

Revisão: Patrícia Pappalardo

Colaboradores: Amanda Sampaio, Dani Berti, Kalinka Merkel, Manoela Ferreira, Marina Monzillo, Priscila Roque e Vanessa Kiyan

Impressão: Gráfica Santa Marta

Empresa filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações, Anatec.

A Revista PREMIUM QUEIROZ GALVÃO é uma publicação trimestral da JB Pátria Editora Ltda. www.patriaeditora.com.br

Fale Conosco: Queremos fazer uma revista cada vez melhor para você. Mande seus comentários, sugestões e críticas pelo e.mail [email protected]

Os textos assinados são responsabilidade dos seus autores, que não estão autorizados a falar pela revista.

4 E ditorial

décima primeira edição da revista Premium vem com novo design, novas seções e uma homenagem a Brasília, em uma matéria que destaca os edifícios que se tornaram símbolos da arquitetura da capital do País. Na estreante seção Top 5, convidamos o designer Pedro Fran- co para eleger os cinco objetos que ele considera mais incríveis no mundo do design. E como nem sempre o reconhecimento de uma peça se sobre- põe à fama de seu criador, criamos a seção Arte Contemporânea, onde enfatizamos algumas personalidades que firmaram seus nomes no mercado arquitetônico e hoje estão além de seus projetos.

Em Bem Viver, alguns especialistas dão dicas de como montar em casa ambientes que estimulem o descanso sem a necessidade de fazer grandes reformas. Uma chaise aqui, uma vela acolá, e seu home theater ou varanda se transforma em um ambiente de leitura, de tarefas prazerosas ou simplesmente um espaço onde é possível somente relaxar.

Marieta Severo e o carisma conquistado junto ao público após 12 anos interpretando a personagem Dona Nenê, em A Grande Família, e Paulo Borges, com suas alego- rias fantásticas de carnaval são os artistas escolhidos para trazer ainda mais alegria a essa edição.

Os encantos da Índia, com dicas de uma repórter que passou trinta dias por lá, recheiam a seção Turismo. E por falar em recheio, se o mundo acabasse hoje, qual seria sua última refeição? No embalo das lendas que envolvem o ano 2012, chefs de diferentes regiões do País entraram no clima de brincadeira e responderam à pergunta.

Os personagens que marcaram a história do cinema brasileiro e as comemorações do centenário de também são temas das próximas páginas. Aproveite!

Frederico Pereira Diretor-presidente

Premium 5 S umário

Brasileiros Ilustres Decor Paisagismo Sustentável

16O carnaval de Paulo 24Jardins de inverno Especialistas28 dão Barros tem efeitos trazem a alegria das dicas de como dignos de filmes plantas para dentro montar ambientes hollywoodianos de casa sem perder externos de bem o aconchego com a natureza

e ainda... Capa: Marieta Severo 8 Spot 14 Top 5 20 Arte 48 Gourmet Moderno, retrô ou O designer Pedro ContemporâNea Se o mundo ecológico: objetos Franco destaca Grandes arquitetos, acabasse hoje, qual Foto: decorativos para cinco peças do decoradores e seria sua última Jorge Bispo todos os estilos mundo do design designers de refeição? Cinco interiores da chefs respondem à atualidade pergunta

6 Capa Destino internacional Arquitetura

32 38Caótica, porém 58Brasília e seus Marieta Severo fala sobre filhas, netos e da encantadora, a cinco poderes familiriaridade com o Índia é um convite a da construção: público após 12 anos passeios históricos edifícios que se de A Grande Família e espirituais tornaram símbolo da arquitetura local

54 Bem viver 62 Queiroz Galvão 72 Art Cinema 76 Art Cultura 82 Crônica Ambientes que Os lançamentos da Os personagens Homenagens por Uma estante, se transformam construtora em que marcaram meio de exposições alguns livros em verdadeiros São Paulo, Recife, história no cinema e minisséries e muitas espaços zen e brasileiro – e na marcam o centenário lembranças... Salvador memória do público do escritor Jorge Amado

Premium 7 S pot Consumo Design, tecnologia e arte para decorar a casa

Ilusão de ótica O designer Fabio Novembre deu um toque mágico para um objeto cotidiano com a criação da Org Table. Com tampo de vidro e pernas flexíveis feitas de corda, a peça lembra um cristal flutuante. Para que o tampo de mantenha firme, há algumas pernas fixas na mesa, com articulações cilíndricas de aço inox. Pelo excesso de cordas e pelo lado lúdico que a peça desperta, Novembre brinca ao se referir à parte infe- Fotos: divulgação rior da mesa como uma floresta por onde passam Tarzan e Jane. Disponível nas cores vermelho, preto ou branco. Mais informações no site: www.unicahome.com

Efeito mágico O tradicional ponto de crochê ganhou uso inusitado nessa poltrona de Marcel Wanders, um dos grandes designers da atualidade. A peça é composta por fios de malha trabalhados com pontos de crochê e endu- recidos com epóxi. Não é a primeira vez que o desig- ner transforma algo extremamente delicado em um mobiliário resistente, leve e esteticamente atraente. Sua coleção de peças de crochê – feitas em edição limitada – inclui luminária, cadeira e mesa. Mais infor- mações de venda no site: www.marcelwanders.com

Com jeito de artesanal Lembra-se daqueles canudinhos de papel feitos de jornal ou revista que se aprende a fazer na escola? Pois é, a ideia saiu das salas de aula do passado e se tornou moda na decoração do presente. Muitos objetos feitos de canudos de folhas de revista têm adornado espaços em gran- des mostras de decoração pelo país, o que confirma essa tendência. O sofá Luxury é uma dessas peças feitas com reaproveitamento de papel, e faz parte da linha Eco-Friendly da loja Espaço Til. Mede 52 cm X 92 cm. Preço: R$ 1.538,00. Site: www.espacotil.com.br 8 Gibi na estante A moderna estante da Schuster faz parte da linha Valen- tina e agrada quem prefere uma decoração moderna. A coleção leva o nome de uma personagem de histórias em quadrinhos da década de 60, que representa o espírito es- tético da época com um certo erotismo artístico. Valentina foi criada pelo ilustrador italiano Guido Crepax, à imagem e semelhança da atriz Louise Brooks. A ideia era que ela fosse uma coadjuvante nas histórias de Crepax, mas ficou tão famosa que ainda hoje tem sua imagem utilizada. Infor- mações de venda: www.moveis-schuster.com.br

Clima retrô A minigeladeira com estampa dos antigos sucessos da Coca-Cola é uma boa opção para manter suas bebidas na temperatura certa e sempre à mão, seja no canti- nho do quarto, num bar residencial ou até mesmo em viagens e passeios. Mede 28 x 25 x 18 cm e tem ca- pacidade para 4 litros (6 latinhas). Pode ser ligada na tomada (110V) ou até mesmo no acendedor de cigarros do carro. É feita de plástico resistente e possui uma alça na patê superior. O visual retrô dá um ar de exclusividade à peça. À venda na loja virtual Laris: www.laris.com.br. Preço: R$ 549,00 (Coca-Cola Drive-Thru)

Design cultural A vida cosmopolita e agitada num centro comercial de uma grande cidade: essa foi a ins- piração para que o designer maranhense Júnior Ramos criasse o banco People, da Qua- drante Design. A peça ganhou destaque na mídia, prêmios e participações em mostras internacionais. O assento é feito de madeira laminada, presa a oito pares de silhuetas de pernas humanas por parafusos tipo barra ros- cada. Lúdica, a peça lembra uma multidão em movimento, em um local em que as diversidades cul- turais convivem de forma harmônica. Informações de venda: www.quadrantedesign.com.br

Premium 9 S pot

Para os dois lados O banco Ibirapuera, da Tora Brasil, tem encosto móvel de ferro que possibilita escolher em qual lado sentar. É uma boa opção para espaços públicos ou áre- as externas de uma casa. É feito de madeira Pequiá. De acordo com informações da empresa, a matéria-prima da Tora Brasil provém de floresta de manejo de impacto reduzido no norte do Pará. Preço: R$ 18.000,00. Site: www.torabrasil.com.br

Natureza esculpida As peças artesanais da Raízes Design dão a impressão de trazer um pouco da natureza rústica para dentro de casa. Em formato de plantas e bichos, as peças ficam bem tanto como enfeites de parede ou como esculturas. A obra Beija-Flor é esculpida na raiz de candeia (corpo) e pau-brasil (flor). A haste é de aço inox reciclado e o acabamento é com madeira tratada com cera de abelha. A Árvore do Cerrado é de raiz de candeia, peroba rosa e pau-brasil. Ambas as peças são do designer Rogério Fernandes. Preços: R$ 620,00 (Árvore do Cerrado) e R$ 550,00 (Beija-Flor). Site: www.raizesdesign.com.br

Inspiração no campo Antes de criar um sofá de vime, a designer Eulália de Souza Anselmo assistiu a uma colheita do material. Viu que a armazenagem era feita separando o vime em ma- ços e pendurando-os num galpão velho de madeira. O imigrante italiano trabalhava duro no meio de uma pai- sagem linda: o sofá Vimeiro estava ali, naquela produ- ção, naquele cenário. Sobre os amontoados de feixes de vime natural, Eulália colocou o futon de algodão que finaliza a peça. O resultado, segundo a própria designer, é fronteira entre design e expressão artística. À venda na Dpot: www.dpot.com.br. Preço sob consulta.

10 Movimentamos diariamente 1 bilhão de pessoas no mundo. Isso quer dizer que em 1 semana movemos o mundo.

Para nós, elevadores, escadas e esteiras rolantes são mais que simples meios de transporte. São responsáveis pelo movimento da vida e pela mobilidade de milhões de pessoas ao redor do mundo. Para sermos mais exatos, transportamos 1 bilhão de pessoas diariamente em nossos equipamentos em mais de 100 países. Esse impressionante número nos dá orgulho e satisfação. Afinal, cada uma dessas vidas, com seus sonhos, ideias e emoções, deve ser levada por nossos equipamentos com segurança e conforto. Por isso, é pensando em você que buscamos, todos os dias, soluções inovadoras, modernas e eficientes.

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A Ducha Manual Sapo, da Metalbagno Spazi, tem um sapo de silicone que revi- ra os olhos e grasna quando sua cabeça é apertada. É possível retirar a capa de sapo, e por baixo há um chuveiro com três opções de jatos: um acaricia a pele Esculturas com uma sensação de chuva leve, outro As Árvores com Frutas, do artista Mario Cafiero, são feitas de proporciona uma massagem e o terceiro madeira maciça e chapa zincada com recorte a laser e pintura é uma combinação de ambos. Preço: eletrostática. As peças têm várias opções de temas, todas nu- R$ 547. Site: www.metalbagno.com.br meradas, datadas e assinadas. Comercializadas pela Vd’sign: www.vdsign.com.br. Preço: a partir de R$ 500.

12 UM CONVITE À ARTE DE VIVER BEM.

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Vendas Realização

Todas as perspectivas e plantas arquitetônicas contidas neste material são meramente ilustrativas, podendo sofrer alterações de cor, formato, textura, posição, acabamento, metragem. A vegetação será entregue conforme especifi cado no projeto do empreendimento, sendo suas imagens meramente representações da futura fase adulta das espécies. As especifi cações estão contidas no memorial descritivo. Projeto legal em aprovação sob o número 02/270.067/2011. As vendas do empreendimento só ocorrerão após o registro do memorial de incorporação no cartório competente. Engenheiro responsável: Pedro Gomes da Cunha- CREA RJ 162545\D. Arquiteto responsável: Inácio Leão Obadia CREA 18.859-D. T op 5 Pedro Franco e sua jovialidade inspiradora

Designer reconhecido internacionalmente indica cinco peças modernas e ousadas que compõem um interessante mix de brasilidade e globalização

Foi a partir de um workshop ministrado pelos Irmãos Campa- na que Pedro Franco entrou no universo do design. O primeiro resultado dessa imersão que ele fez no mundo das formas foi a poltrona Orbital, que no ano seguinte já estava exposta no Fuori Salone de Milão e na mostra Brasil Faz Design. Três anos mais tarde, Vanni Pasca, atual curador da Abitare Il Tempo — segunda maior mostra de design da Itália — pu- blica a Orbital na capa do livro Scenari del Giovane Design, o que fez o trabalho do brasileiro ganhar reconhecimento e projeção internacional. Atualmente é dono da loja A Lot Of e expandiu sua atuação

para além do design de produto ao se tornar idealizador ções, como a poltrona Supernova, que recebeu o prêmio e curador da mostra Brasil É Cosi, no Salão do Móvel de Profissional Brasil Faz Design, exposta no Museu Brasileiro Milão, criada com o objetivo principal de internacionalizar o da Escultura, e hoje é vendida em países como Itália, Fran- design brasileiro que dita tendências. ça, Áustria e Kuwait. Franco é contrário à massificação, O designer canarinho de 33 anos é dono de um estilo mo- caminho que buscou em contrapartida ao produto chinês. derno e arrojado que se reflete em suas premiadas cria- Para ele, cada produto deve ser único e exclusivo.

Vermelha Chair, Irmãos Campana (Brasil)

“Fernando e Humberto Campana são os grandes respon- sáveis não só por internacionalizar o design brasileiro, mas também por trilhar rumos jamais vistos no design contem- porâneo. Tem importância histórica para o design, assim como Deschamps Design e Memphis Group”, explica Franco. A cadeira é fabricada pela italiana Edra.

14 Skate Chair, Zanini de Zanine (Brasil)

“Essa peça do Zanini de Zanine tem um recontexto de sha- pes de skate. Vale a pena anotar e acompanhar este jovem e sua jovialidade inspiradora designer brasileiro.”

The Ghost Chair, Valentina Gonzalez Wohlers (México)

“Peça lúdica e divertida, assinada por uma promissora designer mexicana.”

Lockheed Lounge, Marc Newson (Austrália)

“Peça high-tech, característica do trabalho de Newson. Tem titânio em sua produção.” Essa poltrona, única no mundo, atingiu £ 1 milhão na Sotheby´s quando foi arrematada.

Crates Cabinet, Droog Design (Holanda)

“Recontextualiza caixas de feira e supermercados. Peças clássicas datadas de 2001 por este coletivo holandês.”

Premium 15 B rasileiros Ilustres Fotos: Mauro Samagaio Fotos: Mauro

16 O mago do Carnaval Paulo Barros e sua ousadia artística com claras referências à cultura pop americana

a Marquês de Sapucaí, diante de um público atônito, a comissão de frente troca de roupa em um piscar de olhos. Sanfonas viram molas dançantes. Personagens perdem a cabeça, literalmente. O ilusionismo, o efeito surpresa e a estética inovadora são os ele- mentos da revolução comandada por Paulo Barros no carnaval carioca des- de que ele assumiu a Unidos da Tijuca em 2004. Sua ousadia já garantiu dois títulos à escola, em 2010 e 2012. Não se via um carnavalesco tão autoral, cujos acenos artísticos são tão fortemente identificados, desde o reinado de Joãosinho Trinta na Beija-Flor nas décadas de 70 e 80. E foi exatamente em Nilópolis, terra da Beija-Flor, que Paulo Barros nasceu há 50 anos. Cresceu folião, participando da vida no barracão da escola, mas sem sonhar em virar um profissional do carnaval. Apaixonado pelos Estados Unidos, foi estudar inglês e se tornou comissário de bordo da Varig. Antes, fez faculdade de Arquitetura por dois anos até sofrer um grave acidente auto- mobilístico. Teve problemas no rosto e uma recuperação difícil, após algumas operações. Na companhia aérea, foram 13 anos até largar tudo novamente, mas levou tempo para conseguir emprego em uma escola de samba. Come- çou como carnavalesco em 1999, na Arranco Engenho de Dentro. No Grupo Especial, estreou na Unidos da Tijuca. Saiu em 2006 para comandar primeiro a Viradouro, depois a Vila Isabel. Só voltou em 2010.

Premium 17 B rasileiros Ilustres

Criar efeito visual e cenografia de impacto é a marca do carnavalesco Festa carioca com ares de Hollywood

A tal paixão pelo estrangeiro, porém, continua. As criações que Paulo Barros é conhecido. Outra característica mar- de Paulo têm referências claras à cultura pop, ao cinema e cante são as suas alegorias vivas. Seus carros são per- seus efeitos especiais. Harry Potter já apareceu na aveni- formáticos, como aquele de 2004 em que pessoas re- da assim como Michael Jackson, Homem-Aranha, Indiana produziram a estrutura do DNA. O efeito visual é sempre Jones e Rei Leão. Não faltam alfinetadas: é criticado por impactante, a cenografia e os componentes da escola se americanizar o brasileiríssimo carnaval. Ele confessa: esse misturam, se transformam. é um motivo a mais para manter a “globalização cultural” No desfile de 2012, a Unidos da Tijuca deu um show: havia dos desfiles. Trata-se de uma espécie de provocação um carro feito inteiramente de barro, e a bateria misturou bem-humorada. forró ao samba para fazer uma homenagem a Luiz Gonza- Mas não é só por aproximar Hollywood do Rio de Janeiro ga, o Rei do Baião. Um ginasta romeno foi chamado para 18 “Realmente gosto de inventar. Tenho vários livros de receitas, mas não me conformo com elas”

fazer acrobacias na comissão de frente – as tais sanfonas que viravam molas. A coreografia foi assinada por Priscilla Mota e Rodrigo Negri, bailarinos solistas do Theatro Muni- cipal do Rio de Janeiro. Resultado nota 10 alcançado por um perfeccionista que, confessa, briga muito. “Eu sou muito sentimental, não pa- reço ser. Sou muito carrancudo, mas tudo para acontecer um grande desfile”, afirmou o carnavalesco na internet após ganhar o título este ano.

O “bicho-papão” do carnaval

Para relaxar, o hobby de Barros é cozinhar em sua casa em Niterói (RJ), onde montou um fogão industrial e outro à lenha. Mas até entre as panelas, sua vocação é a ousa- dia: “Realmente gosto de inventar. Tenho vários livros de receitas, mas não me conformo com elas. Sempre preciso mudar algo, interferir”, comentou ele em março. O carnavalesco, porém, não quer brilhar apenas uma vez por ano. Planeja produzir um espetáculo ao estilo dos de Las Vegas, com conteúdo brasileiro. E tem o projeto de começar a escrever um livro, uma obra com relatos sobre o carnaval, da concepção de um desfile à construção, de como surgem as ideias e são postas em prática. Serão as histórias de um vencedor, para quem até a con- corrência já joga confete: Alexandre Louzada, carnavales- co da Mocidade Independente de Padre Miguel, já decla- rou que Barros é o supercarnavalesco do momento. E que chegou a pensar “O ‘bicho-papão’ está aí”, ao assistir a um desfile de Barros.

Luiz Gonzaga e a cultura nordestina foram os temas da Unidos da Tijuca deste ano

Premium 19 A rte contemporânea destaques Tendência, inspiração, criatividade... Profissionais contemporâneos das áreas de arquitetura e decoração contam como é atuar nesse universo de cenários e objetos, onde a função de uma peça é tão importante quanto a forma. Cada profissional com suas especificidades, de acordo com a área onde atuam

Geraldo Estrela

Geraldo Estrela atua no Distrito Federal desde 1975 e, com criatividade, consegue deixar sua marca na cidade planeja- da. “O arquiteto trabalha muito a criatividade e, como toda cidade, Brasília possui seus parâmetros urbanísticos. A fun- ção dele é reunir todos esses quesitos – parâmetros cons- trutivos, informações de mercado e diferenciais de produto – e conceber a obra atribuindo inovação”, diz. Se pudesse deixar sua marca na arquitetura do Distrito Fe- deral, ideias não lhe faltariam. “Iria conceber um complexo de uso múltiplo às margens do Lago Paranoá, no qual esta- riam residências, comércios, lazer e entretenimento em um só local”, imagina. Ficaria mesmo feliz se pudesse difundir na arquitetura da capital do País um assunto que está na moda, mas que há muito tempo é tema recorrente em sua carreira: sustentabi- lidade. “O conceito de arquitetura sustentável sempre nor- teou meus projetos e minha parceria com entidades como a Green Building Council Brasil (GBCBrasil) e o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) trouxe muitas melhoras”, diz. “Atualmente trabalhamos em edifícios sus- tentáveis no Setor Noroeste em Brasília”, completa. O mais emocionante na carreira do arquiteto é conceber espaços desafiadores de uso coletivo. São mais de 900 projetos realizados, e ainda há muita criatividade, garante Estrela: “O arquiteto trabalha com a imaginação em cada etapa, em cada projeto. Minha inspiração vem da natureza e das viagens que faço pelo mundo”, diz. Para ele, seu estilo é funcional e de vanguarda. “Primo sem- pre pela qualidade de vida do usuário e tiro maior partido das cores na volumetria.” 20 Fernanda Marques

Arquiteta, proprietária de um e-commerce e, agora, designer de objetos, Fernanda Marques é o reflexo da mulher moderna que não para. Se pudesse deixar sua marca na arquitetura em São Paulo, distribuiria arte contemporânea por pontos estratégicos da capital, principalmente os mais “nervosos” e congestionados. “Faria um grande bem para a cidade e a seus moradores”, diz. O lado empresária tem falado alto nos últimos tempos. O e-commerce SD Online + Fernanda Marques é a realização de um sonho antigo da arquiteta de levar a um público maior um pouco do seu estilo e do seu modo de ver as coisas. “A internet supriu essa necessidade. O retorno tem sido além do esperado, com um crescimento do volume de vendas, em média, 30%, a cada mês”, comemora. Em seus quase 23 anos de carreira, um projeto foi marcante: o Banco Infinito, de madeira. “No dia em que foi exposto no prédio da Bienal, em pleno SP Arte, senti que meu sonho tinha se realizado”, diz. Alguns elementos que pontuam os trabalhos de Fernanda são a sensação de atemporalidade, os móveis e objetos posiciona- dos de modo a não congestionar a visão e as obras de arte em pontos estratégicos. “Guardo com carinho o primeiro clien- te atendido que me ligou para manifestar a sua satisfação com meu trabalho”, diz. Dois nomes do cenário de arquitetura internacional são destaca- dos por Fernanda: a iraquiana Zaha Hadid e o canadense Frank Gehry são dois nomes do contexto de arquitetura internacional que merecem destaque, segundo Fernanda. Novos talentos e designers brasileiros consagrados também entram na lista de referências importantes da arquiteta: “Indico todos os arquitetos da escola modernista de arquitetura paulista. De a Giancarlo Gasperini. Sem esquecer e Vila Nova Artigas. Eles são uma fonte inesgotável de inspiração e conceitos”, afirma.

Premium 21 A rte contemporânea

Fernanda Pessoa de Queiroz

Dois momentos merecem destaque na vida profissional da carioca Fernanda Pessoa de Queiroz. Formada em Progra- mação Visual pela PUC-RJ, passou dois anos em Paris, es- tudando no Atelier d’Etalage, um dos maiores centros de de- coração e vitrine, reconhecido pela Chambre de Commerce et Industrie de Paris. A temporada na Cidade Luz foi um divisor de águas em sua carreira, que foi da comunicação visual para a decoração. Além da experiência de ter vivido fora do País, Fernanda trouxe na bagagem o olhar apren- dido durante o curso, que é utilizado em todos os seus projetos. “Não tenho um trabalho favorito. Faço cada um deles como se fosse pra mim. Tenho um grande envolvimen- to, tanto que vários clientes viraram grandes amigos”, conta. Outra ocasião que marcou a carreira de Fernanda foi sua primeira participação na Casa Cor Rio, em 1995, onde pro- jetou um closet masculino. “O evento foi um trampolim para que meu trabalho fosse reconhecido no Rio de Janeiro”, diz. O estilo casual e sofisticado de Fernanda mistura móveis contemporâneos com itens de outras épocas. “Para não errar na hora, recomendo inserir uma estrutura básica com cores neutras, e, assim, valorizar as peças antigas e criar uma harmonia visual”, indica. Se pudesse deixar sua marca na arquitetura da Cidade Ma- ravilhosa, Fernanda incrementaria a orla da lagoa Rodrigo de Freitas com deques, para que o público pudesse tomar sol e usufruir mais ainda a bela paisagem. “Amo o que eu faço”, afirma a arquiteta.

22 Premium 23 D ecor Foto: László Barsi jardins

de invernoPor Manoela Ferreira Eles agregam valor ornamental ao ambiente e proporcionam integração com a natureza 24 Feito com plantas artificiais, jardim de Pricila Dalzochio ocupa de forma prática um espaço ocioso

mais agradável passear em parques e praças podendo ser adaptados de acordo com o espaço dis- para apreciar as áreas verdes durante os dias ponível. Além disso, o local fica à escolha do cliente, quentes. Mas quem sente falta da natureza desde que tenha luz solar e ventilação. “Basta usar al- durante a temporada de frio pode encontrar guns vasos com as plantas certas, pedras, uma parede de inverno nos jardins de inverno uma forma de “levar para casa” a forrada de folhagens verdes e já é possível ter um”, ex- alegria das plantas sem perder o aconchego do lar. plica a paisagista Gigi Botelho. Projetados para decorar o interior das residências, os É o caso do projeto realizado por Odilon Claro, paisa- jardins de inverno não exigem um tamanho específico, gista e proprietário da Anni Verdi, que fez um jardim

Premium 25 D ecor

um profissional para deixar em dia poda, adubação e o controle de pragas e doenças. Segundo Gigi Botelho, está na moda fazer jardins de in- verno nos apartamentos também, utilizando coberturas ou varandas, ambas fechadas com vidros.

Uso de material adequado evita umidade

Colocar móveis como bancos, cadeiras e sofás próximos aos jardins permite usufruir ao máximo o espaço. “A inten- ção é trazer o verde mais para perto das pessoas. Hoje em dia precisamos desse contato com a natureza, principal- mente em cidades grandes como São Paulo”, diz Odilon. A arquiteta e paisagista Juliana Freitas projetou um jardim na sala de uma residência de final de semana, em Itu. “Nas pisadas eu usei cerâmica antiderrapante, que imita madei- ra. Para entrar na casa, o visitante acaba passando por dentro do jardim. Já o mobiliário externo deve ter durabi- lidade. Se for de fibra, tem de ser sintética, e as madeiras devem sempre receber um verniz apropriado”, explica. Isso porque o jardim pode causar umidade. Móveis próximos As plantas são escolhidas de acordo com o local. Áreas às plantas permitem maior que recebem luz natural na maior parte do dia podem

Foto: divulgação interação com a conter plantas de sol. “Já utilizei uma árvore no centro do natureza; projeto jardim, chamada Acer japônico. Sistema de irrigação auto- de Gigi Botelho mática também é indicado”, diz. O solo pode ser feito de pedriscos em deques de madei- que pode ser visto a partir do banheiro da suíte de uma ra. No caso do projeto ser feito sob solo natural (sem laje), casa. “Usamos vasos sem fundo feitos de aço corten, alguns cuidados são necessários. Em um de seus projetos painéis nas paredes do mesmo material, uma bacia de desse estilo, Juliana adubou a cova da árvore e os cantei- pedras com uma fonte que nós mesmos produzimos e ros de forração com matéria orgânica, corretivo de acidez um sistema de irrigação”, diz. e areia para contribuir com a drenagem. “Virou um jardim Mas ele afirma que é sempre bom verificar a clarida- simples, mas ornamental”, diz Juliana. de, a ventilação e, principalmente, a insolação do lugar para garantir o sucesso do jardim o ano todo. “Uma Plantas artificiais: uma opção é fazer o teto retrátil com policarbonato transpa- rente, por exemplo. Ele permite a entrada de claridade opção prática e econômica e pode deixar o ambiente arejado quando necessário.” Os cuidados podem ficar por conta do próprio dono, Para quem não pode se dedicar aos cuidados com plantas caso ele goste de lidar com plantas, porém, uma vez e flores, uma dica é utilizar plantas artificiais. A arquiteta por mês é recomendável uma manutenção feita por Pricila Dalzochio teve a ideia de preencher o espaço ocioso 26 Painel vertical, vasos e pedras compõem o jardim da Anni Verdi, que é coberto por material

Foto: Evelyn Müller transparente

embaixo da escada de uma loja de roupas com algo que trouxesse vida ao ambiente, e optou por flores artificiais. O local, que na maioria das vezes ficava inutilizado devido à baixa altura, agora pode ser muito bem explorado. Ela conta os segredos para que ele pareça real: “No mer- cado existem plantas artificiais de vários tamanhos, desde dez centímetros até dois metros de altura. O ideal é fazer um conjunto com diversos tamanhos, para a volumetria ficar interessante. No meu projeto, foram utilizados ca- pim verde, helicônias e orquídeas artificias.” O tempo médio para fazer um jardim deste tamanho é de duas a três horas e o grande benefício é que ele não Segundo Juliana requer rega, adubação e poda, além de não fazer su- Freitas, áreas jeira nem atrair insetos. “É preciso somente limpar com que recebem luz natural podem um pano úmido quando tiver poeira acumulada ou com ter plantas de sol um espanador”, diz Pricila. Segundo ela, as plantas artificiais são 15% mais caras do que as naturais, o que é compensado pela ausência

de gastos com manutenção. Foto: divulgação

Premium 27 P aisagismo Sustentável

espaço

ecológicoPor Vanessa Kiyan

28 Especialistas sugerem maneiras de montar uma área verde alinhada com as práticas sustentáveis

ma atitude sustentável no paisagismo vai além do cultivo de plantas em jar- dins imponentes. Ela começa na es- colha da mão de obra, que deve ser estritamente local, bem como no uso de plantas nativas, acostumadas ao ambiente. Aproveitar mó- veis que já existem na casa também é outro item a se considerar. Com o auxílio de especialistas, é preciso avaliar a geografia da região, a temperatura, a quantidade de chuva e o tipo de solo. Com o estudo em mãos, é possível definir com propriedade o melhor tipo de vegetais a usar. “Se a área externa tiver um jardim, deve-se aprovei- tar as espécies nativas. Não seria um paisagismo sustentável o cliente querer araucária no Nordes- te ou coqueiro no Sul. Podem até sobreviver, mas vai ter essa questão do deslocamento e do custo ambiental”, lembra a engenheira agrônoma Cláudia Litvin. “Um jardim exige manutenção ao longo do tempo, mas o ideal é que ele se mantenha sozinho. A partir disso pode-se criar um estilo, mas sempre aproveitando o que já se tem em casa. Só assim temos um paisagismo sustentável”, diz Cláudia.

Piso permeável ajuda a

Ilustração artística feita pelo evitar inundações paisagista Benedito Abbud Para a manutenção do jardim, o paisagista Ronal- do Kurita dá uma receita caseira, no estilo “minha avó fazia”: “Resíduos orgânicos da cozinha – como casca de legumes e frutas e casca de ovos de- compostos – servem de nutrientes para as plantas. Pragas e doenças também podem ser combatidas

Premium 29 P aisagismo Sustentável Fotos: Celina Germer

Ronaldo Kurita reaproveitou latas de leite condensado para criar pequenos vasos de planta

com as caldas de fumo e de sabão de coco, evitando materiais tóxicos e poluentes”, sugere. Para regar as plantas, o uso de equipamentos com sensores que são ativados quando a baixa umidade é constatada no solo e desativados em caso de chuva evita desperdício. Jardins verticais em projetos bem planejados podem substituir o uso de aparelhos de ar-condicionado em regiões muito quentes, segundo Kurita, que cita outros exemplos sustentáveis: “Uma árvore bem posicionada que projete uma sombra ou um espelho d’água que au- menta a umidade também ajudam”, diz. Móveis de áreas externas devem ser As áreas de estar externas podem receber pisos per- resistentes; piso permeável permite a meáveis que permitem a absorção da água da chuva absorção de água da chuva

30 Utilizar espécies nativas e madeiras certificadas em deques e pergolados é essencial em um ambiente sustentável pelo solo, abastecendo os lençóis freáticos e evitando inundações nas cidades. “O mais indicado atualmente é o piso drenante. Ele possui muitas características po- sitivas: permeabilidade, é antiderrapante, tem alta resis- tência, custo acessível e fácil assentamento”, enumera o paisagista. Utilizar madeira certificada em deques, pergolados e móveis são outras atitudes importantes para criar um Jardins verticais ambiente sustentável. e árvores bem posicionadas são ideais para regiões Iluminação também deve seguir quentes, pois reduzem a princípios sustentáveis sensação de calor

A iluminação a ser usada está intimamente ligada à sustentabilidade do projeto. As mais recomendadas são do tipo fluorescente, por consumirem menos que as incandescentes. Outra boa pedida é a iluminação com LED, também bastante econômica e com bom efeito em pontos de iluminação externa. “Para um projeto paisagístico, devemos considerar a economia, mas sem comprometer o efeito desejado para iluminação das áreas comuns e da vegetação. Uma boa alternativa é prever controles automáticos de iluminação externa, que desligam o sistema quando há luz natural suficiente”, indica a arquiteta paisagista Renata Morelli. Um projeto de paisagismo sustentável vai além do cuidado ambiental. De acordo com o paisagista Benedito Abbud, pensar no conforto do morador faz parte do tema. “As pessoas também estão inseridas no ambiente. A sustentabilidade é A engenheira agrônoma Claudia Litvin social e pessoal, já que cada pessoa precisa estar bem para aproveita os móveis da casa para criar ajudar o planeta.” ambientes externos sustentáveis

31 C apa Foto: Jorge Bispo

32 RealizadaPor Thaís Botelho

Aos 65 anos – quase 50 de carreira –, Marieta Severo festeja a continuidade dos teatros que inaugurou e relembra momentos da carreira e junto à família

altam 40 minutos para as 18h30 de uma quinta-feira e Marieta Severo está aflita para cumprir um de seus compromissos diários mais prazerosos: o de buscar as netas na creche. “Sou avó coruja mesmo e faço de tudo para levantar meu ibope”, diverte-se a atriz de 65 anos e avó de sete. Ainda que tenha uma rotina agitada entre gravações às segundas, terças e quartas, do seria- do A Grande Família – no qual há 12 anos dá vida à dona de casa Nenê – e os compromissos com seus teatros Poeira e Poeirinha, no Rio, a sua grande família da vida real tem dia certo para se reunir. “Aos domingos, nos queremos, nos procuramos. O almoço na minha casa com toda a turma é religioso”, conta, aos risos, ao parafrasear o cantor e compositor , amigo da família desde os tempos em que a atriz era casada com . “Sempre que Caetano nos encontrava falava dessa turma, que era grande”, explica a atriz, mãe de Silvia, Helena e Luisa, do casamento de mais de 30 anos com Chico Buarque, com quem fugiu para a Itália em 1969, na época em que o cantor e compositor se exilou durante a repressão da ditadura militar. “O tempo de exílio foi muito difícil, mas nos adaptamos.” Da época na Europa, também ficou a paixão pela França, mais especificamente Paris, onde a atriz tem apartamento há 20 anos no Marais, bem próximo ao rio Sena. “Lá tenho uma vida de bairro – como se fosse uma cidade do interior, mas é totalmente cosmopolita –, que me oferece as melhores opções culturais, como teatro, museus e exposições. Uma das últimas que vi foi do Ron Mueck, um artista plástico que esculpe com hiper-realismo”, conta. Em um bate-papo descontraído, Marieta, que está há quase 50 anos na TV, falou da vida simples que leva no Rio de Janeiro — onde nasceu e “não é capaz de deixar” —, da carreira e da família.

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Acima, com as filhas Silvia e Luisa, durante um show no Canecão, no Rio; à direita, com Silvia e Helena e grávida de Luisa; ao lado, e, para mim, é um barato. Mas agora, respondendo melhor acompanhada à pergunta anterior, prefiro achar que não vai ficar nada do pai durante sua formatura no dela, justamente para eu ter essa liberdade de criar e fazer colégio acontecer tão bem com outros personagens.

Para você, qual é o grande segredo da longevidade de Há 12 anos você dá vida à Dona Nenê, em A Grande A Grande Família? Família, e já disse que, se soubesse que levaria todo Acho que são personagens ícones e que as pessoas se esse tempo, não teria feito. O que fica dela para você? identificam, sabe? Estão presentes em nosso dia a dia, E é verdade! Mas ela terá para sempre um lugar absoluta- são comuns. O Lineu, por exemplo, o pai de família correto mente especial na minha vida. Não sei exatamente o que e tal representa um lado nosso, do brasileiro. Por mais que vai ficar, só sei que nunca imaginei que essa experiência se tenha corrupção e desonestidade, o brasileiro gosta de seria tão avassaladora, pois ganhei um conhecimento tão se identificar com o Lineu. Mesmo o nosso malandro, o profundo dela, que já não preciso mais pensar como ela irá Agostinho. Ele só faz mal pra ele. É a família que se ama, reagir em determinada situação. Fora que isso me trouxe em que o mais importante é o afeto. Os autores são de uma liberdade muito grande em criar e improvisar. Hoje não uma criatividade e talento admirável e inesgotável. Acerta- penso mais como fazer, brota tudo com muita facilidade. ram ao retratar o cotidiano dos brasileiros.

Em que momentos a Marieta é mais parecida com a E o que achou das mudanças no seriado? Você suge- Dona Nenê? riu algo? Não sou extrovertida. Sou mais fechada e cautelosa com as Eu adorei e foi brilhante. Para dar esse up, a solução da passa- minhas coisas, e ela não é nada assim. Mas, como dona de gem de tempo é maravilhosa e trouxe coisas deliciosas para o casa e mãe de família, é muito representativa das mulheres, programa. O Guel [Arraes] e a equipe de autores acompanhou e eu me incluo nisso. Gosto do jeito que ela reage às situa- muito também o Brasil atual e trouxeram para os personagens, ções, sua ingenuidade e a maneira amorosa como vê todo como a Bebel representando os chamados “novos ricos” etc. mundo. Acho que as mulheres têm isso, e coloquei coisas Muito engraçado. Nós todos conversamos muito e sugestões que sinto também. Certas atitudes e sentimentos são tipica- surgem, mas, como disse, ganhei uma liberdade incrível com a mente das mulheres, e sei que todas se identificam com ela Nenê e improvisos meus acontecem. 34 Em 1987, caracterizada como Se não estivesse fazendo seriado, o que estaria fazen- Marquesa de Meurteuil, para a peça Ligações Perigosas do na TV? Fiz muito tempo de A Comédia da Vida Privada, gosto muito deste núcleo de comédia do Guel, por exemplo. Acho que cular em Central do Brasil, ela já tinha mais idade. Mas a eu estaria fazendo novelas. Estamos em um momento es- televisão vive da imagem e vai querer a bela e jovem. E eu petacular de novela com escritores novos, com novas ideias aceito. Acho, aliás, que quem nos salva disso é o teatro e e narrativas. A TV está em um momento de grande mudan- eu tenho o meu sempre me acompanhando. Quero fazer ça, de qualidade. Vejo que estamos aprimorando. Adoro as personagens até morrer, e farei os adequados. Se minha novelas Avenida Brasil e Cheias de Charme, por exemplo. imagem não estiver mais de acordo com o padrão da TV, Têm proposta nova e personagens com abordagens dife- irei me realizar sempre no teatro. rentes e são bons. Ainda quero voltar a fazer novela. Como surgiu a ideia de montar um teatro, o Poeria Algumas atrizes da sua geração já disseram que não (inaugurado em 2005)? há bons papéis para elas na TV. Você concorda? Era um sonho. Há 20 anos tentei ter um espaço na Funda- É claro que estamos numa sociedade que valoriza a ju- ção Progresso e acabou não dando certo, tive de arquivar ventude de uma maneira absurda. Quando eu era jovem, esse sonho. Um dia, conversando com a minha “amiga eu queria ser mais velha, veja só. E hoje em dia não tem irmã” Andrea Beltrão sobre as dificuldades da profissão, mais isso. Acho que existem bons papéis, sim, mas não ela gostou da ideia e abraçou. Eu queria uma coisa mam- discordo das minhas colegas. São poucos. Estou enve- bembe, que a gente pudesse ter toda a liberdade no que lhecendo em A Grande Família e é mais confortável, pois a trazer para cá, criar, dar aulas. Ser uma realização e liberta- Dona Nenê vai ficando velhinha igual [risos]. Por outro lado, ção. E conseguimos. Tenho o maior orgulho deste projeto quando a fez aquele papel espeta- que já formou vários artistas. Temos um grupo de roteirista

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que até ganhou prêmio com um curta-metragem que fize- ram. Poxa, que gratificante! Tenho a sensação de missão cumprida. Hoje temos o Poeirinha também, mais recente, no prédio ao lado.

Em sentido horário: Em 1973, na peça Desgraças de uma Sua amizade com a Andrea Beltrão é de anos e são Criança; em 1982, na peça Aurora da Minha Vida, e em sócias no teatro. Como é essa relação? 1989, em A Estrela do Lar. Acima, com a amiga Andrea A melhor! A amizade e a sociedade se misturam o tem- Beltrão na peça A Dona da História, de 1998 po todo e a gente adora. O momento mais esperado de quando nos reunimos para falar das coisas do teatro é a hora de jantar. Sempre acabamos em um lugar gostosinho público é muito bom. Tenho total liberdade no Rio de Ja- e conversamos muito, damos risadas... neiro e levo uma rotina normal, simples, faço tudo. Amo essa cidade, bebo essa cidade, seria incapaz de deixá-la. Relembrando seu início no teatro, conseguiria falar de Essa história de paparazzi comigo quase não acontece, algum trabalho que tenha sido mais marcante? pois eu não alimento. Tem muita gente que reclama, mas Nada será tão marcante como a criação do Poeira e do Poei- alimenta. Também não aviso para onde estou indo. rinha. Esses projetos vão quilômetros além do meu tamanho como atriz. Foi um estresse, tivemos prejuízo financeiro, mas Falando sobre sua carreira no cinema, você fez pa- a alegria e a satisfação não têm preço. Quando eu encontro péis marcantes, como Carlota Joaquina. Mas existe uma pessoa que diz que se formou lá, fico envaidecida. Te- algum personagem que você sonha em interpretar e mos uma programação de cursos muito ampla. Tive perso- não aconteceu? nagens adoráveis em novelas, mas acho que o público sem- Sim, o mais marcante talvez tenha sido Carlota Joaqui- pre vai me associar à Nenê. Estamos colados na cabeça das na, que ficou emblemático para o cinema brasileiro, trou- pessoas [risos]. Adoro o carinho quando me param na rua e xe toda uma época e que vai além do meu trabalho. Mas vem conversar e falar da Nenê. digo que sou incapaz de me deter no que eu não fiz. Não me interessa nada do que não fiz, pois se não aconteceu, Esse assédio é maior ou menor no Rio, onde você não era meu, não iria me levar onde estou. Estou neste mora desde que nasceu? lugar por meus acertos, erros, sucessos e fracassos. Sou Não sei dizer, mas não me incomoda em nada. Adoro as uma pessoa que vive o presente, aqui, agora. O que pas- pessoas que chegam para falar da Nenê. Esse carinho do sou, passou. Não vou me atentar ao que foi ruim. 36 Acima, à esquerda, com Marcos Palmeira em cena do filme Os Solitários, com estreia prevista para o segundo semestre de 2012. À direita, no filme Guerra de Canudos, de 1997. Ao lado, como intérprete de Carlota Joaquina, no filme de mesmo nome, em 1995

zade muito grande, não sou uma mãe mais velha, sabe? Com os netos, idem. Adoro buscar as menores na creche e faço de tudo para aumentar meu ibope com essa turma. Adoro crianças e moro na mesma casa que criamos as filhas. Aqui tem casa de boneca, cama elástica, parquinho... Se eu não fosse atriz, seria professora primária.

Em uma homenagem feita a você na TV, a atriz Fernan- Que memórias ficaram da época que você estava ca- da Montenegro elogiou sua disposição e a capacida- sada com o Chico Buarque e fugiu com ele para o exí- de de ser tanta coisa ao mesmo tempo. Tem medo de lio na Itália, em 1969? envelhecer? Sou muito ruim de tempo e data... Mas foi um amontoa- Meu único medo é não ter mais neurônios e a cabeça não do de coisas. É muito difícil viver fora do País, ainda mais funcionar mais. Sobre a aparência, como a maioria das mu- como exilado. Vivíamos fora, mas nunca vivi tanto o Brasil lheres, não gosto de olhar no espelho e ver as rugas no como nessa época. Nos alimentávamos e buscávamos pescoço, etc. Me reconheço direitinho, mas me desagrada notícias do Brasil o tempo inteiro. Nós nos adaptamos. [risos]. Porém, não tenho medo de envelhecer. Sempre tive Mas teve seu lado bom também, fizemos grandes amigos o mesmo shape com 50 e poucos quilos e eu mantenho. em Roma, por ser um povo super receptivo. Da Europa, Não gosto dos resultados de plásticas que vejo por aí. Essa meu destino preferido é Paris, onde tenho apartamento há coisa dura, sem expressão, me desagrada. Estou com 65 20 anos, em Marais. anos, vou querer ter cara do quê? De 30? Não dá! Se você é feliz do jeito que é e com o mundo, fica tudo certo. E como é sua relação com as três filhas mulheres, Sil- via, Helena e Luisa? E o que ainda falta realizar? Tenho um orgulho enorme das minhas filhas e acho que estão Minha missão se concretizou com a criação do meu teatro no mundo de uma maneira muito bacana. Sou muito amiga das e quero continuar, quero que ele faça história e seja reco- minhas filhas. O almoço na minha casa com toda a turma é reli- nhecido como um lugar de excelência teatral. Quero ter giosamente aos domingos. Temos uma proximidade e uma ami- sorte de manter isso.

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Fotos: Kalinka Merkel ÍNDIA, o PAís dos contrastes Por Kalinka Merkel

A capital, Nova Délhi, é caótica, barulhenta e fascinante. Deixe os preconceitos de lado e se abra para uma nova cultura 38 ensar em ir para a Índia já foi sinônimo de um sonho que exigia muito planejamento, dinheiro e aventura. Mas hoje visitar o país está mais fácil: existe uma boa estrutura turística que oferece não apenas bons preços e muito conforto, como roteiros de luxo e exotismo, além de inúmeras atrações que vão de ruínas históricas a parques temáticos com toda sofisticação. Délhi encontra-se em uma localização estratégica nas rotas norte-sul e leste-oeste, o que lhe confere uma posição privilegiada na história indiana. Para começar, esqueça tudo o que já viu. Para conhecer a Índia você tem de se livrar das comparações para que o país possa revelar tudo o que tem para mostrar. Em um primeiro momento você poderá ver tudo com os olhos do caos e provavelmente vai se assustar: lixo, barulho de buzinas por todo lado (não é raro ler nas placas dos carros e caminhões a frase “por favor, buzine”), muita poluição — no ar e visualmente ­—, vacas (às vezes camelos) soltas na rua no meio do trânsito, búfalos puxando carroças amontoadas de pessoas, carros novos – outros muito velhos – e muita, muita gente nas ruas: dos jovens que usam calça jeans aos sadhus (homens santos). Mas, se conseguir abstrair essa primeira impressão, você será surpreendi- do. Logo ao chegar em Délhi, ainda no aeroporto, você vai entender que há algo muito especial que só a Índia tem. E , acredite, você vai querer voltar. História e arquitetura na Velha Délhi

Em uma única cidade o velho e o novo convivem com grande diferença. Na Ve- lha Délhi, resquícios do império mogul nos séculos 16 e 17 inspiram, com certo ar de aventura, uma bela caminhada pelo denso emaranhado de vielas, bazares e mercados de especiarias que formam o coração pulsante da antiga cidade. Você pode começar visitando o complexo de Qutb, que fica relativamente pró- ximo ao aeroporto de Indira Gandhi, na periferia, no Mehrauli Archaelogical Park, considerado Patrimônio da Humanidade da Unesco. É nele que fica Qutb Mi- nar, a torre mais alta da Índia, que marca o local do primeiro reino mulçumano no Norte da Índia, fundado em 1193. Essa foi a primeira das famosas “sete cidades” em Délhi. A sétima, Shahjahanabad, é onde hoje fica a Velha Délhi. Outra atração que merece a visita é a mesquita Jami Masjid, a maior da Índia, que chega a comportar 25 mil fiéis de uma vez. Depois de idealizar uma das mais belas expressões arquitetônicas do mundo, o Taj Mahal, Shah Jahan Chegar às seis horas da manhã no mandou erguer em 1656, em uma colina, a mesquita que é cercada por ruelas Taj Mahal pode ser sua única chance movimentadas e que sem dúvida é um dos pontos altos da Velha Délhi. de desfrutar momentos quase a sós Por Kalinka Merkel com o monumento, que é um dos Não muito longe fica outra criação de Shah Jahan: o Red Fort (Forte Verme- mais famosos do mundo lho). Fica nas adjacências da rua Chandni Chowk, no coração da Velha Délhi. As muralhas de arenito vermelho deram nome ao forte que foi encomendado em 1639 e demorou nove anos para ficar pronto. Foi sede do governo mogul até 1857, quando seu último imperador, Bahadur Shah Zafar, foi destronado e

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Ruínas na área histórica onde foram Com cinco andares e 73 metros de altura, a Torre de Qtub lançadas as bases do Sultanato de Délhi Minar é a mais alta do país e marca o local do primeiro reino mulçumano no Norte da Índia, fundado em 1193

exilado. Hoje, o Red Fort permanece imponente e é nele que Na Nova Délhi estão as grandes e largas avenidas, jardins o primeiro-ministro faz o discurso do Dia da Independência bem tratados e enormes construções públicas, como os indiana, conquistada em 15 de agosto de 1947. prédios do governo e o bairro diplomático, onde estão to- A mesquita e o forte continuam lá, mas as mansões da das as embaixadas. São também as mansões coloniais nobreza (as havelis) foram ao chão ou estão desfiguradas. construídas pelos britânicos na década de 1930, além de cen- Daquela época ficam as histórias e algumas ruínas que so- tenas de bares e casas noturnas, que fazem da noite umas breviveram ao tempo e à colonização inglesa. das mais agitadas da Índia. A cidade está cheia de boas op- ções de restaurantes de comida apimentada que podem cus- tar de R$ 5 a R$ 50, além de refeições tipicamente ocidentais. Agito noturno e gastronômico Heranças da colonização britânica são vistas por todo lado. na Nova Délhi Não apenas nos carros, que seguem a mão inglesa — elas estão nos uniformes escolares das crianças, nos automóveis A capital indiana hoje é uma mistura de ruínas de cidades que seguem o estilo dos carros ingleses dos anos 1960, as- medievais, palácios, túmulos e mesquitas, e de constru- sim como na arquitetura. ções modernas que não param de se multiplicar. Entre as principais atrações, o Índia Gate, um arco de areni-

Ao fundo, o complexo governamental na Nova Délhi, em Raisina Hill, onde ficam o Rashtrapati Bhavan, os secretariados e o Parlamento circular

40 Lago Pichola, em Udaipur. A cidade que fica no deserto do Rajastão é conhecida por ser a Veneza indiana e é um dos destinos dos trens de luxo to vermelho, erguido em homenagem aos soldados indianos O ápice do passeio? Quando você o avista pela primeira e britânicos que morreram na Primeira Guerra Mundial e aos vez, enquadrado pelas molduras arquitetônicas típicas in- que tombaram em batalhas da Fronteira Norte-Oeste da pro- dianas. Em uma descrição pouco romântica, é como um víncia e da Terceira Guerra Afegã. “tapa na cara”. E você sentirá isso durante todo o tempo A descrição pode parecer sem graça e não animar muito, po- que estiver andando ao seu redor. rém a Nova Délhi é agradável e animada. É ao redor do India Gate que aos domingos muitas pessoas se reúnem, sendo uma ótima oportunidade para ver gente e conhecer mais so- Trens transformam bre os indianos. Jovens com seus amigos e famílias inteiras se passageiros em marajás encontram nos gramados para relaxar e se divertir. A Índia possui uma das mais complexas redes ferroviárias Taj Mahal, uma verdadeira do mundo, implantada pelos ingleses, que alcança quase qualquer ponto do território nacional. Mas há trens que o maravilha levam além: para o mundo luxuoso dos marajás. São pa- lácios sobre rodas exclusivamente turísticos, uma herança Considerada uma das Sete Maravilhas do Mundo, o Taj Mahal do Rajastão, que percorrem lindas cidades enquanto você merece o título que tem. Quem nunca ouviu falar do “símbolo desfruta da pompa de um tempo de riqueza e mordomias. do amor eterno”? Com mármore branco e pedras preciosas Entre as opções, o Royal Rajasthan on Wheels percorre que mudam de cor com o passar das horas, 20 mil traba- em oito dias as belezas do Estado do Rajastão – com seus lhadores levaram 22 anos (1631-1653) para construir esse inúmeros palácios e fortes -, a religiosidade de Varanasi, símbolo do amor do imperador mongol Shah Jahan por sua além de Agra e Délhi. esposa favorita, Mumtaz Mahal, que morreu ao dar à luz. Idealizado pelos mesmos criadores do Palace on Wheels, Por mais que já se tenha ouvido falar sobre o mausoléu, ver a viagem que passa pelo interior do deserto começa em de perto essa maravilha arquitetônica é algo maior do que se Délhi, com duração de uma semana. O trem passa por possa imaginar. Jodhpur, Udaipur, Chittorgarh, Sawai Madhhopur, Jaipur, Visitado por milhares de pessoas diariamente, a dica é acordar Khajuraho, Varanasi e Agra (onde fica o Taj Mahal), de onde antes do sol nascer. O portão oeste abre às 6h (os outros dois retorna a Délhi. abrem às 8h), mesmo horário em que o Sol desponta. A dica São 13 salões de luxo. Além de restaurantes que servem é valiosa para quem não quer pegar filas intermináveis. verdadeiros banquetes e bons vinhos, o trem oferece um Embora seja possível ir e voltar no mesmo dia para Agra (a spa, serviço personalizado e uma decoração rica em de- partir de Délhi são em média quatro horas de viagem), vale talhes, com pinturas e objetos, que remetem ao esplendor a pena dormir uma noite na cidade só para poder desfru- dos marajás. Uma viagem que passa pelas areias do de- tar desse amanhecer no Taj Mahal. Mas lembre-se: ele é serto, fortalezas e palácios, com escapadas de aventura fechado para visitação às sextas-feiras. pela floresta, mas sempre com muita sofisticação.

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OITO Dicas para lidar Outra opção é o Maharajas’ Express, o trem mais luxuoso da bem com a diversidade Índia. São cinco opções de roteiros que oferecem aspectos diferentes da Índia: patrimônios, fortalezas e palácios, além de cultural da Índia

uma reserva com os famosos tigres indianos e o Taj Mahal. - Muito cuidado com a água: de preferência compre Embora os preços sejam à altura da glória dos marajás, a garrafas no hotel. Em alguns casos ter um lacre não quer dizer que a garrafa não foi reutilizada. tarifa inclui praticamente tudo: hospedagem, todas as re- feições, água e bebidas (inclusive alcoólicas), além dos in- - Na Índia tudo é muito barato. Antes de comprar é preciso negociar — uma tradição cultural. Antes de sair do hotel gressos para entrada nas atrações, guias turísticos, taxas pergunte quanto custa determinado serviço, seja um táxi para câmeras fotográficas e todas as atividades de lazer. ou um ingresso. Isso ajuda a ter parâmetros na hora da pechincha. Fique atento: muitos produtos industrializados já vêm com preços marcados nas embalagens pela fábrica.

- A Índia é sim um país muito religioso. Por isso tente seguir algumas regras de vestuário – o que pode ser bem divertido, principalmente para as mulheres. Para vestir um sári (tecido de 5 metros que é enrolado no corpo) certamente será preciso a ajuda de alguma indiana. E preste atenção ao passo a passo, porque será quase impossível colocá-lo sozinho novamente. As batas que cobrem ombro e quadril são uma ótima opção. Os homens podem apenas evitar bermudas e regatas.

- Ao atravessar a rua, deve-se olhar para o lado oposto do que o habitual no Brasil, pois lá a mão é inglesa. Por incrível que pareça, os carros andam com o retrovisor recolhido, cruzam avenidas sem semáforos como se estivessem sozinhos enquanto desviam de pessoas e vacas, com pouca lógica conhecida.

- Um pouco de conhecimento do vocabulário hindu pode ajudar na interação com as pessoas. Namastê é uma maneira respeitosa de se cumprimentar ou de se iniciar Na Índia se buzina no trânsito na mesma proporção em que se acelera uma conversa. Os indianos têm muita curiosidade em ou freia, ou seja, o tempo todo. Por isso é bastante comum ver carros e conhecer os estrangeiros (não se espante se alguém pedir caminhões com a frase ”por favor, buzine” escritas em suas traseiras para tirar uma foto sua ou com você), e vão caprichar no inglês para conseguir se comunicar. Ram Ram significa boa sorte e é uma maneira mais informal, mas muito simpática, de saudação. Shukriáh ou Deniwad querem dizer obrigado.

- A higiene é um ponto de grande contraste cultural que assusta os viajantes. É difícil entender, mas acredite – é mesmo cultural. No país dos marajás a pobreza está por todos os lados e as ruas estão cheias de excrementos das vacas e os homens têm o hábito de cuspir no chão. Não se esqueça de olhar onde pisa.

- Na Índia não se usa papel higiênico, apenas água. Por isso tenha sempre um rolo na mochila. Os hotéis geralmente oferecem o artigo, que é vendido em muitos lugares.

- O contraste cultural é grande. E se você busca paz interior, comece por uma boa hospedagem. Não vale a pena economizar nesse quesito. Por mais caro que seja em rúpias, vai ser muito mais barato que qualquer pousada ou hotel brasileiro. Os rickshaws são uma alternativa de locomoção bastante comum. Mas é preciso um pouco de espírito de aventura para cruzar o transito maluco e caótico das grandes cidades 42 A

ANR 205x275mm Viver pra valer 2.indd 1 6/11/12 10:56 AM E special Hotéis Urbanos Re quinte

Copacabana Palace, rj Veja alguns dos serviços do hotel que conquista de rock star à realeza

• 12 mil metros quadrados • 243 apartamentos e suítes (todos de luxo), dos quais 147 ficam no prédio principal e 96 no prédio anexo • Os apartamentos dos andares clássicos podem ter: camas king size, casal ou solteiro; vidros à prova de som; ar-condicionado; banheiro; rádio-relógio; TV por assinatura com canais de notícias, filmes, séries e esportes; telefones com duas linhas e discagem direta interna- cional; conexão para fax e internet banda larga, minibar e cofre individual • O sexto andar tem sete luxuosas suítes com uma piscina negra exclusiva; infraestrutura de tecnologia; tecidos franceses, obras de arte e tapetes orientais • O anexo tem 96 apartamentos, com suítes de aproximadamente 70 metros quadrados, com sala, banheiro, varanda privativa com vista para a praia de Copacabana e quarto com enxoval de acabamento Trussardi 300 fios. Há também suítes com banheiros com cerâmica italiana, varandas privativas e vista para a cidade. Equipadas com duas linhas telefônicas com conexão para modem, e-mail de voz, aparelho de DVD, cofre eletrônico, roupões de banho, pantufas etc. Fotos: Alessandro Batistessa Fotos: Alessandro 44 Re quinteO diferencial dos grandes hotéis urbanos de luxo do país

ma cama, um chuveiro e, às vezes, o Centro Universitário Senac Águas de São Pedro. direito ao café da manhã pode ser o O Ministério do Turismo brasileiro tem uma relação essencial em uma hospedagem rápi- de obrigatoriedades que um hotel precisa cumprir da em grandes centros urbanos bra- e serviços que deve oferecer para que entre nas sileiros. Mas para quem está disposto a manter o categorias de estrelas (de uma a cinco). Muitas das luxo de casa quando viaja, mesmo em estadias de características de luxo exigidas são padrão em di- um ou dois dias, isso não é suficiente. versos lugares do mundo. Xampu de qualidade, roupas de cama de algodão Localizado em uma das praias mais requisitadas do egípcio, flores, serviço de engraxate e baby sitter, Rio de Janeiro – e construído nos tempos em que alimentos de primeira e funcionários bilíngues são a região não era tão badalada assim –, o Copaca- apenas alguns exemplos dos mimos oferecidos bana Palace foi inspirado nos hotéis Negresco, em para hóspedes dispostos a pagar diárias que che- Nice, e no Carlton, em Cannes, e hoje atrai cente- gam a custar mais de R$ 20 mil. nas de turistas para suas acomodações, com valo- “O público dos hotéis urbanos de luxo, em geral, res entre R$ 1.140 a R$ 5.600. são executivos de grandes empresas, principal- Por lá já passaram estrelas do rock, de Hollywood, mente estrangeiros, que viajam a negócio e não políticos, atletas, membros da realeza e diver- abrem mão do alto nível de conforto”, diz Luciani sas outras personalidades. Orson Welles, Nelson Guimaro Dias, professora do curso de Hotelaria do Mandela, a princesa Diana e o príncipe Charles,

Katy Perry, Nelson Mandela, Paul McCartney, Tom Cruise e a princesa Diana foram algumas personalidades que usufruíram do luxo do Copacabana Palace

Premium 45 E special Hotéis Urbanos

Design inovador fez do Unique uma referência arquitetônica na paisagem paulistana Unique, sp Saiba mais sobre o hotel que chama a atenção pelo design

• 20 mil metros de área construída • Seis andares de apartamentos, térreo, mezanino e terraço de cobertura • 95 apartamentos (de 36 a 312 metros quadrados) • 85 quartos e 10 suítes, equipadas com: camas queen size, banheiras de hidromassagem, TVs LCDs, CD e DVD player com entrada mp3 e home theater com sistema de som surround, mesa de trabalho com acesso à Internet de alta velocidade, sem fio ou a cabo, correio de voz e duas linhas de telefone, sendo uma móvel para uso em todas as áreas internas do

hotel, amenities Bvlgari, chinelos Havaianas, room Finotti Foto: Leonardo service 24h • Centro de eventos de 5 mil metros quadrados • Fitness center, piscina, sauna, wi-fi, locação de DVD / Blu-ray Hotéis de luxo têm • Restaurantes Skye (cobertura) e bar Wall (lobby) serviços parecidos, • Estacionamento para 700 carros mas conceitos diferentes • Pacotes especiais: Dream Red, Dream Purple e Dre- am Blue. O Dream Red, por exemplo, inclui decora- ção com pétalas de rosa e velas em gel; champanhe Apesar de o público ser bem específico, não são poucos os Veuve Clicquot; roupões Trussardi, Surprise du Chef hotéis voltados para o luxo no Brasil. Com conceitos diferen- e café da manhã servido no apartamento. tes, eles vão dos mais tradicionais e clássicos – que agradam os mais conservadores –, aos arrojados e modernos, para um público jovem. “Grandes marcas têm a capacidade de Axl Rose, Katy Perry, Stevie Wonder, o casal teen Justin criar conceitos de hospedagem e sempre desenvolvem pro- Bieber e Selena Gomez, Paul McCartney, Tom Cruise e dutos para atender o mercado do luxo”, diz Luciani. Mick Jagger são apenas alguns dos hóspedes ilustres do Com projeto arquitetônico de Ruy Ohtake e ambientação Copacabana Palace. interna de João Armentano, o Unique, em São Paulo, tem As preferências dos hóspedes são registradas para que design ímpar, cheio de curvas e com fachada revestida de possam ser lembradas e atendidas. O aroma dos ambien- cobre envelhecido. Seu formato gera assunto: uns cha- tes é exclusivo e foi desenvolvido para proporcionar acon- mam de barco, outros de melancia. chego. Mimos como caixa de bombons confeccionadas O Unique tem uma sala de eventos para 1.200 pessoas no com os nomes dos hóspedes, água mineral exclusiva com subsolo; o bar The Wall, no lobby, e o famoso restaurante o rótulo do hotel, roupões, velas e serviços de florista, bu- Skye, na cobertura. As roupas de cama das suítes são da tique, spa, salão de beleza e fitness center são alguns re- marca Trussardi, e há uma linha de produtos de higiene para cursos para manter os hóspedes do Copacabana Palace o corpo com cinco itens, assinada pela grife Bvlgari. O quarto numa atmosfera exclusiva. mais caro, a suíte presidencial Oasis, tem diária de R$ 22 mil. 46 Os serviços de hotéis de luxo geralmente não diferem mui- para fazer e desfazer as malas dos hóspedes; engraxe de to entre si, portanto, Luciani indica priorizar alguns fatores, sapatos; uma garrafa de vinho tinto no quarto e uma so- como a localização – em relação aos lugares onde o hóspe- bremesa da pâtisserie; chinelos Havaianas; jornais; duas de terá compromissos. “Também ajuda olhar o site oficial do peças de roupa passadas, 15 minutos de massagem hotel para ver os serviços e trocar informações com outros shiatsu e acesso ao spa com sauna e ofurôs. usuários em fóruns”, indica a professora de hotelaria. Localizado na rua Oscar Freire – famosa por concentrar “O produto normalmente é o mesmo: boa cama e boa co- um grande número de lojas de luxo; uma espécie Rue du mida, por exemplo. Mas o mais importante é intangível: Faubourg Saint-Honoré de Paris –, o Emiliano tem fitness o serviço”, diz a professora de hotelaria. O diferencial, no center com vista para o bairro Jardins. caso, está em como o hóspede é tratado, se ele realmente Chegou cansado de um dia de reuniões profissionais? Peça se sente especial ou se o atendimento não faz jus aos altos o menu de travesseiros, para fins medicinais ou preferências preços das diárias. pessoais. E durma bem. Isso não é um sonho – ao menos para quem se dispõe a pagar até R$ 2.350 de diária.

Emiliano tem mimos Emiliano prima que vão de mordomos pelos mimos, como doces, a menu de travesseiros vinho e menu de travesseiros Fotos: Tadeu Brunelli Fotos: Tadeu Com média de quatro funcionários por hóspede (uma das proporções mais altas do mercado), o hotel Emiliano, em São Paulo, oferece cortesias como serviço de mordomos Emiliano, sp Conheça alguns dos serviços que o hotel disponibiliza

• 28 apartamentos Luxo com 42 metros quadrados e cama king size • 10 apartamentos Luxo com 42 metros quadrados e duas camas queen size • 19 Suites Emiliano com 84 metros quadrados e cama king size • Televisor LCD de 40” nas suítes e um de 32” nos apartamentos luxo; DVD e home theather 5.1 digital surround; estação de trabalho com telefone IP com duas linhas e viva-voz; telefone sem fio em cada aco- modação; uso ilimitado de internet high-speed e wireless nos quartos; banheiros de mármore Carrara com duchas de pressão e massagem; assentos japoneses com controle de temperatura e bidê eletrônico; toa- lhas de 850 gramas em tamanhos gigantes; roupa de cama de algodão egípcio 500 fios e travesseiros recheados com plumas de gansos hún- garos, cadeiras Charles Eames e sofá de couro italiano • Exclusivamente nas suítes: televisor LCD de 26” com DVD player nos quartos e outro de 19” sobre a banheira, e uma banheira de ferro forjado em estilo inglês • O spa tem dois ofurôs, jacuzzi, sauna e um fitness center aberto 24 horas • Terapeutas para serviços como massagem shiatsu, massagem re- laxante, reflexologia, drenagem linfática, esfoliação e tratamentos faciais • Champagne Bar & Caviar, espaço onde é possível apreciar mais de 70 rótulos de champanhes e espumantes acompanhados de de- gustações especiais de caviar • Cadeiras criadas pelos irmãos Campana fazem parte da decoração do lobby do hotel Foto: Tuca Reines Foto: Tuca

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Se o mundo Beto Pimentel acabasse hoje, o que você comeria por último? por Kalinka Merkel Cinco personalidades gastronômicas do Brasil respondem à pergunta que evoca lembranças, desejos e, às vezes, saudade

final de 2012 está cada vez mais próximo e, com ele, as discussões sobre as crenças do “fim do mundo” au- mentam. Mas e se o mundo fosse mesmo acabar, qual seria seu último desejo? O que você faria, ou melhor, o que você comeria? Foi o que perguntamos a cinco personalidades gastronômicas do Brasil. Beto Pimentel (Restaurante Paraíso Tropical, Salvador)

Dono de uma simpatia sem igual, quem vê o chef Beto Pimentel cuidando do seu jardim, das suas pimentas e subindo nas árvores do seu pomar, não imagina que sua culinária já cruzou oceanos e é reconhecida e premiada pela maior escola de gastronomia do mundo: a Commanderie des Cordons Bleus, na França. 48 Mas o agrônomo de formação gosta mesmo é das coi- um no almoço. Pedi ‘repeteco’ e ela disse que eu esperas- sas que tem em seu quintal: o da frente de casa, o mar, se pelo jantar. Quando ela foi dar o cochilo diário após o al- e o de trás, onde cultiva frutas nativas brasileiras e outros moço comi todo o resto do arroz doce”. E em meio a essas produtos que utiliza para cozinhar em seu restaurante – o lembranças reafirma: “Sim, esse seria meu último desejo”. Paraíso Tropical, em Salvador. Sem pensar muito o chef logo revela seu prato predileto: o Polvo Tropical. A receita é de sua autoria e leva tudo que mais gosta – frutas nativas e polvo grelhado e banhado ao caldo do achachairu, cacau, biribiri, mel de abelha nativa, limão e ervas aromáticas. “Sim, esse seria meu último desejo!”, excla- ma Beto Pimentel ao pensar em qual seria sua última refeição. O polvo é o fruto do mar que mais gosta. As frutas são sua grande paixão. Por isso sua escolha não poderia ser outra: “Esse prato me faria lembrar, lá ‘no outro mundo’, que um dia cuidei de um pomar maravilhoso e orgânico.” E brinca filosofando ao explicar que costuma usar em seus pratos Isabela Raposeiras (Coffee Lab, São Paulo)

Precursora do barismo quando o assunto começava a despontar no Brasil, Isabela Raposeiras tornou-se também a primeira Mestre de Torra (Roast Master), uma qualidade que a diferencia de todos os especialistas em café atual- Isabela mente em ação no País. Raposeiras Em seu Coffee Lab, um laboratório propriamente dito onde Foto: Nana Vieira prepara blends (mistura de grãos distintos) e single origins (café de origem única) vindos de microlotes criteriosamente selecionados entre os melhores produtores do Brasil, Isa- Mara Mello (Pâtisserie Mara por Kalinka Merkel bela torra grãos e oferece aos clientes experiências únicas. Mello, São Paulo) Mas, se alguém acha que a barista e Mestre de Torra es- colheria como seu último desejo um gole de café, está en- Mara Mello é uma profissional irrequieta. Chef pâtissière ganado. Em meio aos seus equipamentos de torra de alta desde 1998 e ganhadora de alguns dos principais prêmios tecnologia, Isabela conta o que lhe dá mais prazer na vida: de gastronomia de São Paulo, Mara dá aulas e palestras e, “Comer o arroz-doce da minha avó.” sempre que pode, vai a Paris para pesquisar e se reciclar. Vinda de uma família apaixonada e sempre envolvida profis- De lá traz novidades para sua pâtisserie, que mais parece uma sionalmente com vinhos, gastronomia e charutos, a barista “joalheria açucarada”, sempre adequando suas criações com não sabe ao certo se o arroz-doce da avó é o melhor do base na pâtisserie francesa, para o terroir brasileiro. mundo ou se ele é especial por evocar boas memórias: Mas não é só pelas novidades que a chef vai a Paris. Ela “Uma das coisas que me dão mais prazer de comer na vida também vai atrás daquilo que considera a melhor coisa é esse arroz-doce e jamais saberei se por ser realmente do mundo: as clássicas éclairs de chocolate, ou bomba, maravilhoso ou por evocar lembranças ‘quentinhas’ para o como é mais conhecida no Brasil. Sem titubear, Mara meu coração.” E relembra: “Uma vez, minha avó fez uma garante: “Esse seria meu último desejo, a última coisa panelada para toda a família e serviu um potinho para cada que eu gostaria de comer antes de o mundo acabar.”

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Embora sejam muitas as opções de sabores, a chef — que é chocólatra — diz: “Mas tem de ser de chocolate amargo e de preferência da Maison Du Chocolat.” Quan- do ela descreve o doce ressaltando os detalhes, como a massa muito leve e aerada, o recheio de chocolate cre- moso que é produzido na própria Maison com sabor ex- cepcional e tamanho perfeito, você logo entende por que esse seria seu último desejo. E enquanto o mundo não acaba, Mara Mello faz da bom- ba de chocolate um ritual: compra éclairs no dia em que chega e no dia de partir. E conta: “Na minha última esta- dia eu já estava atrasada para ir para o aeroporto, mas não pude deixar de ir até a Maison Du Chocolat comprar algumas éclairs. Como não daria tempo de pegar um táxi ou coisa assim, saí pedalando enquanto meu marido me esperava na recepção do hotel. Mas garanti meu último Mara Mello momento de prazer absoluto na França.” D’Angelo Foto: Ricardo

Renato Carioni (Restaurantes Cosi e Piazza 36, São Paulo)

Dono de três restaurantes de sucesso em São Paulo, o chef catarinense Renato Carioni, conhecido por sua con- temporânea culinária italiana gosta mesmo é de pão com ovo. Mas não de qualquer um – só o de sua avó. Único membro da família que não mora em Florianópolis, em Santa Catarina, vai com regularidade para a ilha por dois mo- tivos: a saudade dos parentes e o pão de milho da vó Zilda. Carioni não lembra ao certo qual foi a primeira vez que co- meu o pão de milho da avó. E nem poderia, já que conhe- ce o pão desde que nasceu. Mas não troca a receita da avó por nenhuma outra do mundo. A receita ninguém tem. “Quando quero tenho de ir buscar”, conta o chef. Aos 88 anos de idade, dona Zilda faz duas fornadas por semana do pão que é “cascudo por fora e fofinho por dentro”: a pri- meira distribui entre os irmãos e a segunda é para os filhos. Quando Renato vai visitar a avó é recebido tradicional- mente com um chá da tarde. “Na verdade é com café”, conta o chef, que justifica: “Mas é tão fraquinho que costumo dizer que é um ‘chafé’.” A melhor parte do lan- che? Aquela que ele diz ser a última que gostaria de saborear antes do fim do mundo: “O pão de milho com

Foto: Tadeu Brunelli Foto: Tadeu Renato Carioni um ovo em cima e gema bem molinha.” 50 Thiago Castanho (Restaurantes Remanso do Peixe e Remanso do Bosque, Pará)

Merecedor de todos os prêmios que coleciona — entre eles os de “Chef do Ano”, “Novos Talentos” e “Melhor Restaurante” por conceituados veícu- los nacionais –, o paraense Thiago Castanho tem como base de sua cozinha a paixão pelos ingre- dientes locais e a memória afetiva do cotidiano familiar. E se hoje é um aclamado chef da nova cozinha brasileira, relembra que tudo começou quando seu pai decidiu transformar sua sala em um pe- queno restaurante para sustentar a família. O negócio deu tão certo que já são dois restau- rantes na Amazônia — o primeiro, Remanso do Peixe, inaugurado por seus pais em 2001, e sua nova casa, Remanso do Bosque, à beira de um parque nacional. Por enquanto o chef nem pensa no fim do mun- do, mesmo porque tem muita coisa para fazer ainda. “Mas se isso acontecer”, pondera Casta- nho, “gostaria de poder comer pela última vez a Foto: Tadeu Brunelli Foto: Tadeu caldeirada de cabeça de filhote com tucupi e jam- Thiago Castanho bu que meu pai prepara desde que sou criança.”

Arroz-doce da avó de Isabela Raposeiras

Ingredientes:

1 xícara pequena de arroz 1 litro de leite 1 lata de leite condensado 1 canela em pau 3 xícaras pequenas de água

Modo de preparo:

Em fogo médio, ferva o arroz na água e canela até a água secar. Despeje o litro de leite e mexa, colocando o leite condensado aos poucos para não grudar no fundo da panela. É importante ficar mexendo o leite sem parar para não grudar. Você vai saber se está pronto quando levantar a colher e o leite estiver cremoso. Retire do fogo, coloque em uma vasilha e salpique canela em pó por cima. Quanto mais cremoso o leite estiver, mais consistente vai ficar depois de frio.

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A éclair de chocolate amargo de Mara Mello

Ingredientes da massa: Modo de preparo:

200 g de leite Bata os dois cremes na batedeira com até ficar leve e macio. 200 g de água Bata em velocidade média e tome cuidado para não bater muito. 8 g de açúcar Coloque o creme em um saco de confeiteiro com o bico redondo liso e 8 g de flor de sal preencha o fundo das mini éclairs. Mantenha na geladeira. 180 g de manteiga 220 g de farinha Ingredientes da ganache de chocolate amargo 300 g de ovo à 25ºC 250 g chocolate 70% Modo de preparo: 400 g de creme de leite 50 g de açúcar invertido ou glucose Peneire a farinha e reserve. Ferva o leite com a água, o sal, o açúcar e a manteiga. Retire do fogo e acrescente a farinha Modo de preparo: de trigo. Volte ao fogo baixo e misture até a massa desgrudar do lado da panela e da colher. Coloque a massa na batedeira Ferva o creme de leite com o açúcar invertido e despeje sobre o com a pá e bata até esfriar um pouco. Acrescente os ovos, chocolate picado. um de cada vez – espere a massa absorver o ovo para Leve à geladeira para endurecer. Para glacear as éclairs, coloque um acrescentar o próximo. Não coloque o ovo frio na massa pouco de ganache em um pote e amoleça um pouco no micro-ondas – quente, o ovo deve estar aproximadamente a 25ºC. A massa tome cuidado para não aquecer muito, se ficar muito fluida a ganache estará pronta assim que absorver todos os ovos. Coloque a escorrerá nas laterais. Mantenha na geladeira. massa em um saco de confeiteiro com o bico redondo liso e em uma assadeira forrada com papel manteiga faça éclair do tamanho de aproximadamente 10 cm de comprimento. Coloque a assadeira no freezer. Aqueça o forno a 250 graus e asse as éclairs por 15 minutos. Baixe o forno para 180ºC e asse por mais 5 minutos. Deixe esfriar e faça um pequeno furo na base para poder rechear. Rende aproximadamente 50 unidades.

Ingredientes do creme de chocolate:

125 g de leite 125 g de creme de leite 60 g de gema de ovo (2 gemas) 50 g de açúcar 150 g de chocolate 70% 20 g de pasta de cacau

Modo de preparo:

Leve o leite e o creme de leite para ferver. Misture a gema e o açúcar e despeje um pouco do liquido quente nesta mistura, incorpore e junte ao restante na panela e deixe engrossar em fogo baixo. A mistura não deve ultrapassar a temperatura de 85ºC, senão separa. Coloque o creme em um bowl. Derreta o chocolate junto com a pasta de cacau e misture com o creme. Guarde na geladeira até endurecer.

Ingredientes do creme de mascarpone de chocolate

500 g do creme de chocolate (receita anterior) 250 g de mascarpone Foto: Tadeu Brunelli Foto: Tadeu

52 Tropical Grelhado de Polvo e Camarão, indicado por Beto Pimentel

Ingredientes: Modo de preparo:

100 g de abacaxi Parte 1 100 g de maçã 100 g de pera Corte as frutas em rodelas ou tiras. Misture a calda da graviola e a do cacau 100 g de manga com o mel. Leve as frutas para a grelha e vá regando com essa mistura até 60 g de caju dourar virando-as sempre para não queimar. 50 g de jambo 50 g de kiwi Parte 2 80 g de banana da terra 130 g de goiaba Em uma panela com 200 ml de água coloque o camarão, o polvo e o restante 50 g de carambola dos ingredientes. Leve para o fogo e cozinhe por 3 minutos. Grelhe o camarão 50 g de lâmina de coco verde e o polvo em uma chapa regando-os com o líquido da cocção dos mesmos. 50 g de jaca (sem o caroço) 50 g de sapoti Finalização 100 g de ameixa 6 unidades pequenas de tamarindo Em uma pedra de granito ou uma travessa rasa coloque o camarão e o polvo 1 xícara de chá da calda de graviola ao centro e as frutas grelhadas ao redor. 1 xícara de chá da calda do cacau 6 colheres de sopa de mel de jataí 200 g de camarão grande e limpo 200 g de polvo cozido (inteiro) 1 dente de alho amassado 3 unidades do sumo de biribiri 1 colher de sopa de pimenta de biquinho Sal a gosto

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ESPAÇO

RELAXPor Amanda Sampaio

Profissionais ensinam como transformar cômodos da casa em áreas de descanso com bom gosto e sem reformas

54 Velas e colchão estilo mineiro sobre piso elevado deram sensação de aconchego ao home theater de Fernanda Negrelli

m chalé à beira-mar, um O ideal é ter pelo menos um local na Paulo, a varanda é um dos principais resort cinco estrelas, casa reservado para recompor as espaços para criar um clima de total uma clínica estética, o energias, descansar o corpo e a men- repouso. Se o cliente gosta de tomar tão sonhado spa. Luga- te do estresse diário, proporcionando vinho ou fumar charuto, por exem- ESPAÇO res perfeitos para relaxar, mas nem uma sensação de paz. De acordo com plo, ela recomenda decorar a varan- sempre acessíveis para quem vive em a designer de interiores Solange Guer- da como uma espera de restaurante, meio à correria do dia a dia. Traba- ra, não há cômodo certo para compor para receber os amigos. “Uma ideia lho, filhos, estudos, administração da uma atmosfera relaxante. “Pratica- interessante é instalar uma adega e RELAXPor Amanda Sampaio casa... Mas será que não há uma for- mente em todos os ambientes de uma poltronas para leitura”, exemplifica. “E ma de relaxar sem ter que abrir mão casa é possível montar um cantinho se o ambiente for aberto, revestir os de tudo isso? Sim, é possível, desde para relaxamento, seja na varanda, na assentos com tecido náutico, que não que o espaço de relaxamento este- sala ou até mesmo no banheiro.” desbota quando molha”, completa. ja instalado bem perto de você, no Para Betina Barcellos, sócia da In Hou- No caso de ser um ambiente interno, aconchego do seu lar. se Designers de Interiores, em São estofados com tecidos removíveis ga-

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Varanda fechada com vidro e decorada com plantas, madeira e velas ganhou ares de ambiente de repouso

rantem o aconchego sem dificultar a limpeza das peças, sação de aconchego. “Madeira, pedras, fibras, lamparinas, indica a arquiteta Fernanda Negrelli. Acostumada a com- cascas de árvore, tecidos claros e macios, fontes de água por espaços zen, ela recomenda utilizar os cantos dos am- e plantas diversas são curingas, ideais para estimular o re- bientes para incluir áreas de descanso. “Pode ser com um laxamento em qualquer espaço do lar”, explica Solange. colchão estilo mineiro, aqueles baixinhos, ao lado do sofá, Outro fator muito importante para induzir o clima de sosse- tudo com muita cara de decoração asiática. Pode-se ele- go e recarregar as energias é a iluminação. Optar por spots var um pouco o piso da região onde o futon será instalado, com lâmpadas dicroicas embutidas no teto permite regular para dar a sensação flutuante ao colchão”, recomenda. “É a intensidade da luz e direcioná-la de acordo com a situa- importante que haja espaço mínimo para a pessoa deitar”, ção. Luzes sobre a cabeça podem causar ofuscamentos completa. e desconforto. Solange conta que também vale usar mais de um tipo de fonte luminosa, como arandelas, abajures e Cores, texturas e iluminação luminárias, que possibilitam criar cenários diferentes. E não há lugar melhor para brincar com a iluminação do adequadas ajudam a criar o que uma sala de televisão. A luz indireta cria penumbras e clima de repouso deixa o espaço mais aconchegante, propício para o rela- xamento. Um sofá mais profundo, um pufe, ou um chaise Não há regras rígidas para tornar a sua casa mais confor- são essenciais para curtir um bom filme ou uma música. tável e própria para relaxar, já que a noção de conforto é “Até a imagem da televisão fica melhor com um fundo mais pessoal. Porém, alguns elementos podem aumentar a sen- escuro”, lembra Betina.

Solange Guerra indica usar elementos como pedras, fibras e tecidos claros para dar sensação de relaxamento

Sofá amplo, uso de tapete macio e luz indireta criam cenário de conforto na sala 56 de TV de Betina Barcellos Banheiras com tecnologia embutida transformam a hora do banho em um momento zen

Outro item essencial para escurecer ou clarear o ambiente para se transformar em um spa particular. “O banheiro ga- e provocar essa sensação de aconchego é a cor das pare- nhou status de sala de banho e hoje é um dos locais mais des. Se a intenção é relaxar, cores muito quentes e vibran- importantes da casa”, diz Solange. tes não são recomendáveis, pois deixam as pessoas agi- Recorrer à tecnologia pode ser uma ótima ideia para a tadas. Dê preferência a tons mais frios e que transmitam hora do banho se tornar ainda mais especial. “Banheiras calma, como azul, lilás, cinza e branco. Outra excelente com televisões embutidas, DVD e sistema que mantém opção é trazer o verde para a decoração, seja na tinta das a água aquecida por horas são muito procurados”, con- paredes ou acrescentando plantas e flores aos ambientes. ta Betina. Há também algumas colunas de banho que já vêm com mp3, entrada para pen drive, cascatas e até Tecnologia permite esquema de luzes para cromoterapia. Mas não se es- queça de combinar as cores e estilos com o resto da reproduzir em casa o decoração. conforto de hotéis e spas Não tem segredo. Com um toque de criatividade e equilí- brio, é possível transformar sua casa em um santuário de Varanda, sala de televisão, living: nesses espaços é pos- puro relax, sem reformas nem gastos desnecessários. Se sível sentar, deitar, desfrutar de uma leitura, saborear um a sua noção de relaxar é ler um bom livro, assistir a um bom drinque e, consequentemente, relaxar. O quarto, en- filme, ou tomar um banho demorado, disponha no am- tão, já foi feito para isso. Mas há um cômodo que, na maio- biente elementos que tornem essas experiências ainda ria das residências, deixou de ser um espaço de transição mais agradáveis.

POR ONDE COMEÇAR

Você pode criar o seu cantinho ou aplicar alguns conceitos básicos na casa toda e relaxar onde quiser. Dê atenção especial às dicas abaixo:

Cores – Todas as cores leves acalmam a mente. Mas tons claros de verde e azul funcionam como curingas e dão a sensação de mais aconchego.

Iluminação – A luz suave e difusa, em tons de vermelho e laranja, é ideal para criar ambientes relaxantes e intimistas.

Natureza – O verde das plantas traz naturalmente mais paz aos ambientes. Além disso, cuidar das plantas pode funcionar como uma verdadeira higiene mental.

Mobiliário – Não confunda aconchego com excesso de informação. Exagerar na quantidade de móveis e elementos decorativos pode ser prejudicial à mobilidade nos cômodos e, consequentemente, ao relaxamento.

Premium 57 A rquitetura Foto: Ana Quesada

58 Interior da Catedral de Brasília Os poderes de

BrasíliPor Priscilaa Roque

A arquitetura moderna, que também presta suporte às artes plásticas, é uma das principais atrações da capital do país

la é cinquentona e representa uma das maiores materializações em escala do urbanismo e da arquitetura moderna no mundo. Proje- tada por Lúcio Costa e , Brasília foi inaugurada em abril de 1960. Desde essa época abriga a capital do País. Brasília foi o primeiro sítio em arquitetura moderna a ser tombado como Pa- trimônio Mundial pela Unesco. Esse é um feito curioso quando se observa que seu principal mentor é vivo e continua em atividade. “O Brasil, na segun- da metade da década de 1950, foi o país que construiu o sonho do projeto moderno. Niemeyer é, de fato, o indivíduo que conseguiu traduzir em forma e construção a brasilidade, a liberdade e o Estado”, comenta o arquiteto Ro- drigo Queiroz, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e especialista nas obras de Niemeyer.

Detalhe noturno da Câmara dos Deputados

Premium 59 Foto: Rodolfo Stuckert/ SEFOT-SECOM A rquitetura Foto: Ana Quesada

O Palácio do Itamaraty é lembrado por seus arcos

O edifício mais visitado da cidade também é um dos Um dos exemplos é o “prato” do Congresso Nacio- mais premiados na carreira de Oscar Niemeyer. De nal, que abriga a Câmara dos Deputados e desperta acordo com Rodrigo Queiroz, a igreja tem por objeti- a curiosidade de quem o vê. Como é que dentro da- vo fazer com que o indivíduo tenha uma experiência quela forma existe uma assembleia que tangencia o de aproximação com o eterno. Por isso, na cúpula há chão em um único ponto? “São construções pesadís- sempre pinturas que remetem ao paraíso. “De modo simas que não transmitem o peso que têm, justamen- singular, essa catedral absorve todo arcabouço da te porque o desenho evoca essa leveza”, completa. história da arquitetura religiosa e o traduz. Como a O Palácio do Itamaraty, onde também já funcionou o cúpula, que é o próprio céu de Brasília”, ele explica. Ministério das Relações Exteriores, simboliza o País Ao entrar, o visitante é induzido a um percurso na para o mundo, como ressalta Rodrigo Queiroz. obra em uma descida por um túnel negro. Com a Antes no Rio de Janeiro, hoje no Distrito Federal, ele é pupila dilatada, o impacto posterior a essa experiên- visto como uma síntese da cultura estética brasileira cia potencializa a intenção do arquiteto de estabele- nesses 500 anos pelo número de obras que guarda cer uma relação de contraste. “É a transição entre o em sua coleção, além de seu projeto arquitetônico. mundo real e o espaço da nave, completamente pre- “Ao percorrer o ambiente e chegar em seu ponto fi- enchida de luz, com anjos de bronze pendurados. nal, a cobertura se abre de modo extraordinário para Ele trabalha com toda a iconografia da arquitetura a própria cidade. É como se descortinasse essa uni- religiosa e histórica”, afirma Queiroz. dade entre o urbanismo, a arquitetura e o paisagis- Os desafios da arquitetura de Brasília não estão so- mo. Um tapete de vegetação e de pedra que har- mente na ponta do lápis. Para executá-las é preciso moniza a setorização proposta pelo Lúcio Costa e um bom engenheiro, como Joaquim Cardozo, faleci- as formas de Niemeyer que pousam nessa superfície do no final dos anos 1970. “Ele era um poeta. Para preenchida por Burle Marx. O Palácio do Itamaraty é ser calculista do Niemeyer, é preciso entender e jogar fundamental para entender o que é o Brasil”, diz. a favor daquelas formas. É preciso compreender a Em Brasília, não são poucos os trabalhos que unem ideia e definir a estabilidade a partir da originalidade obras do artista plástico Athos Bulcão aos projetos do desenho”, revela Rodrigo Queiroz. de Niemeyer. “A arquitetura moderna brasileira, como 60 nenhuma outra no mundo, conseguiu se prestar como um suporte para as artes plásticas, seja como um espaço para escultura ou uma superfície para um painel ou pintura”, explica Queiroz, ressaltando a cumplicidade de ambos. Um momento que exemplifica o casamento perfeito de pensamentos é a Igreja Nossa Senhora de Fátima. “O mais interessante dessa relação é que ela se dá com o preenchimento das paredes usando as formas geo-

métricas do Athos, de modo que elas potencializam as Reinés/Acervo Fundação Athos Bulcão Foto: Tuca linhas da arquitetura de Niemeyer”, complementa. Muitos edifícios de Brasília são de Niemeyer, en- tretanto, há outros que merecem destaque, como a Assembleia Legislativa. Esse foi o primeiro espaço projetado a partir de um concurso público – e venci- do por um grupo de São Paulo recém-formado, em 1988. O desenho, que ficou engavetado por anos, foi retomado no início da última década pelo próprio grupo e, em 2010, finalmente inaugurado. “Um dos diferenciais é a praça para o uso de funcio- nários e visitantes – um espaço de convivência. Per- cebemos que, em Brasília, muitos edifícios são ‘sol- tos’ na paisagem, isolados, como um monumento. Queríamos criar algo mais urbano, no sentido mais tradicional, como em São Paulo”, explica o arquiteto Luís Mauro Freire, um dos integrantes do escritório Projeto Paulista que projetou a Assembleia. A arquitetura da Igreja Nossa Senhora de Fátima faz referência ao chapéu das freiras

A Assembleia Legislativa foi inaugurada mais de 20 anos após seu projeto inicial Foto: Nelson Kon/ Projeto Paulista Foto: Nelson Kon/ Projeto

Premium 61 Q ueiroz Galvão | São Paulo

Ilustrações e foto: divulgação Investimento Empreendimentos com estrutura de clube marcam a expansão da Queiroz Galvão no interior de São Paulo

Solar do Japi

rivilégio de ter a natureza por perto, mas com segurança de condomínio fechado, o em- preendimento Solar do Japi está a 25 minutos de São Paulo, próximo à rodovia dos Bandeirantes e ao centro de Jundiaí. Outros lançamentos da Queiroz Galvão no município estão previstos para os próximos me- ses, como parte da expansão e investimento da construtora na região, que tem demanda crescente. O Solar do Japi tem estrutura de clube: com mais de 30 itens de lazer voltados para diversas faixas etárias – de lan house e piscinas a quiosque com forno de pizza –, não é necessário sair 62 Ilustração artística do bosque

Ilustração artística do terraço gourmet do apartamento de 97m²

Churrasqueiras e quadras ficam no fundo do empreendi- Ilustração artística dos quiosques do Solar do Japi, com churrasqueira e forno de pizza mento, para que o barulho não incomode os moradores dos primeiros andares. Segundo a paisagista, o diferencial do empreendimento de casa para se divertir em família e com qualidade de está na dimensão que ele possui – o Bosque privativo tem vida. “Isso é muito importante, pois o térreo de hoje é a mais de 26 mil metros quadrados de área verde preserva- rua de antigamente”, diz Martha Gavião, paisagista res- da, e, além disso, o condomínio fica ao lado da Serra do ponsável pelo projeto. Japi. “São duas torres no mesmo terreno, mas elas ficam “É como morar dentro de um parque. Normalmente, os distantes uma da outra. Não tem aquele incômodo de abrir espaços mais utilizados pelos moradores costumam ser a janela e ver o morador do prédio da frente. E não são a piscina e a churrasqueira. Então fizemos piscinas enor- muito altos, ou seja, não causam grandes sombras nas mes, onde não é preciso disputar um lugar ao sol. E como áreas sociais”, diz Martha. “O terreno é imenso, e o mora- o público que costuma usufruir de áreas sociais normal- dor sente isso logo ao entrar no condomínio”, completa. mente é o mais novo – crianças e adolescentes –, criamos Os apartamentos têm duas opções de metragem (97 locais onde é possível sociabilizar, como a piscina de biri- ou 119 metros quadrados), e cada metragem tem duas bol. Mas também temos a raia, para adultos que querem opções de planta, com quatro ou três dormitórios (duas simplesmente nadar”, explica Martha. ou uma suíte).

Premium 63 Q ueiroz Galvão | São Paulo

Ilustração artística do living do Infinity (apartamento de 147 metros quadrados)

Infinity

No bairro Retiro, região valorizada da zona oeste de Jundiaí, está o Infinity, lançamento da construtora previsto para o se- gundo semestre. “O empreendimento respeita o entorno, de tipologia residencial, e traz como partido de projeto a implan- tação de um cinturão verde de caráter público em torno dos edifícios. Para minimizar o impacto no trânsito local, foi previs- to um alargamento na avenida”, diz Rafael Carrero, arquiteto da ABrasil Arquitetura, responsável pelo projeto. O Infinity tem duas metragens: 116 ou 147 metros quadrados, com opções de planta. “Os ambientes são amplos e integrados, tanto nos apartamentos quanto na extensa área de lazer”, diz Carrero. A vista dos apartamentos será uma das vantagens, já que o empreendimento está localizado em um dos pontos mais altos de Jundiaí. “O projeto foi pensado de modo a criar privacidade Ilustração artística da praça entre os moradores – a área de lazer do condomínio está no das águas do Infinity térreo, se encontra em nível superior às ruas que contornam o projeto –, ao mesmo tempo em que oferece uma vista privilegia- da da cidade”, explica o arquiteto. 64 LANÇAMENTO

apartamento, pelo melhor preço.

Ilustração artística das Piscinas

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Foto ilustrativa

Serra do Japi

Foto do local

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O CONDOMÍNIO “SOLAR DO JAPI” (Lote 3B) faz parte do empreendimento denominado “COMPLEXO ATMOSPHERA”, localizado na Rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, Km 67,5, bairro do Japi, Jundiaí/ SP e será construído de acordo com o projeto modifi cativo aprovado pela Prefeitura Municipal de Jundiaí em 23/04/2010, conforme processo n° 24778-4/08 e Alvará para execução de Obra Particular n° 843. Os apartamentos serão entregues conforme memorial descritivo. Áreas comuns entregues decoradas conforme memorial descritivo. *O bosque privativo é parte do complexo Atmosphera. Memorial de Incorporação registrado na matrícula 120.795- R.21 em 21/10/2011 junto ao 2º Registro de Imóveis de Jundiaí. Incorporadora responsável: QUEIROZ GALVÃO SOLAR DO JAPI DESENVOLVIMENTO IMOBILIÁRIO LTDA - Av. Juscelino Kubitschek, 360 - 13º andar - CEP: 04543-000 - São Paulo/SP - Central de Atendimento: Fernandez Mera Negócios Imobiliários - Av. Brigadeiro Luís Antônio, 4.910 - São Paulo - SP - Creci 5.425-J. Abyara Brokers - Av. República do Líbano, 1110 - São Paulo/SP - Creci nº 20.363-J. Mapa de acesso sem escala. Q ueiroz Galvão | Recife

Ilustração artística da sala de jantar Ilustrações: divulgação Boris Kertsman Localizado no 2º Jardim, na Avenida Boa Viagem, em Recife, empreendimento está rodeado por praças e tem vista para o mar

m uma região valorizada e muito bem estruturada, com ser- viços, praças e com vista para o mar de Boa Viagem, está o Boris Kerstman, novo empreendimento da Queiroz Galvão em Pernambuco. 66 Ilustração artística da suíte

Ilustração artística da fachada do edifício Praia de Boa Viagem red Jordão Jordão F oto: red

O Boris se destaca como elemento de ordem numa pai- Vista privilegiada inclui praia, sagem cheia de prédios. Sua arquitetura de forma bem praças e manguezal definida se torna um marco referencial em meio a tan- tas construções de um bairro tão requisitado. “É uma Todas as suítes do prédio têm vista para o mar da praia obra humanizada, com paredes meio curvas dentro dos Boa Viagem e as salas têm janelas envidraçadas que vão apartamentos”, diz Marco Antonio Gil Borsoi, arquiteto de uma parede à outra, do chão ao teto. “Ele foi cons- responsável pelo projeto, que teve coautoria de João truído na diagonal, o que trouxe um benefício: de um lado, Domingues. você tem vista para a orla, do outro, para um manguezal Numa avenida longa e de mão única como a de Boa Via- preservado”, diz o arquiteto. São 32 unidades, sendo uma gem, o ponto de referência dos moradores acaba sendo cobertura duplex. o que há por perto: no caso, as praças do 2º Jardim, A principal matéria-prima visível é o granito branco, pois, quase um quintal do Boris. “Uma das praças urbanas segundo Borsoi, fachada de cores claras é preferência fica bem ao pé do empreendimento, com coqueiros e em Recife. “Os tons claros refletem a claridade do sol, e jardim tropical. É uma região primordialmente residencial o Boris será uma fonte luminosa no meio da paisagem”, e valorizada”, diz Borsoi. filosofa Borsoi.

Premium 67 Q ueiroz Galvão | RIo de Janeiro

ernissage Condomínio residencial com espaços que possibilitam a convivência em momentos de sossego ou diversão V Vernissage Residence & Club, novo empreendimento da Queiroz Galvão no Rio de Janeiro, será construído em uma rua tranquila e arborizada de Jacarepaguá. O bairro, na zona oeste da capital carioca, tem boa infraestrutura e prestação de serviços no entorno, como faculdade, escolas, pizzarias e cinemas. As áreas de lazer do Vernissage terão espaços para praticar arvorismo e tirolesa, por exemplo, além de mirantes, parque aquático e bosque particular, para que os moradores possam conviver com a natureza diariamente. 68 Ilustração artística do bosque particular

Serão 404 apartamentos, e as salas, quartos e varanda terão piso de porcelanato em tom claro, que, segundo a Tipologia dos arquiteta Sophia Galvão, ajuda a manter a sobriedade: “A apartamentos dica para decorar apartamentos compactos é preferir cores 2 quartos claras e neutras. Também é muito importante não entulhar 232 unidades de 60 a 65m² e 2 unidades de 78m² o espaço, não encher de objetos e móveis”, diz. A arquiteta 3 quartos com 1 suíte foi responsável por decorar um apartamento que servirá de 46 unidades de 76,40 m² 3 quartos com 3 suítes Ilustrações: divulgação modelo para quem for conhecer o empreendimento. 46 unidades de 60,16m² As plantas incluem apartamentos com dois, três ou quatro dor- Ilustração artística 4 quartos com 3 suítes do Vernissage mitórios, todos com suíte (ver box). A área social atende todas 20 unidades de 107 a 109m² Residence & Club as idades: ateliê, brinquedoteca e um parquinho com a “casa Coberturas: do Tarzan” para as crianças; um salão de festas teen e um 3 quartos com 1 suíte 40 unidades de 120 a 156m² espaço de convivência com a temática futebol para os jovens, 4 quartos com 1 ou 3 suítes e quiosque com churrasqueira e um espaço para tomar café 20 unidades de 156 a 214m² que agradam os adultos. Além de um charmoso bosque, com caminhos entre as flores e árvores para que os momentos em Ilustrações artísticas da família possam ser aproveitados próximos à natureza. brinquedoteca e da “casa do Tarzan”

Premium 69 Q ueiroz Galvão | Salvador

A oportunidade de transformar em realidade o sonho de morar em um dos bairros mais Itapuã atraentes de Salvador Parque Ilustrações e foto: divulgação

ôr um velho calção de banho, sentir a preguiça no corpo na Praça Caymmi e, numa esteira de vime, beber uma água de coco, olhando um mar que não tem tamanho: os conselhos da canção Tarde em Itapuã são de uma época em que a tranquilidade reinava absoluta em Itapuã, no subdistrito de mesmo nome, em Salvador. Os tempos são outros, e a região, que já chegou a ser chamada de local “por onde se conhece a en- trada da Bahia”, se desenvolveu. Deixou de ser um local frequentado somente por pescadores, mas continua a ter paisagens encantadoras, cheias de mistérios e lendas. Lugar hospitaleiro, com um clima 70 Ilustrações artísticas da praia de Itapuã, do living e da área garden (área presente nos apartamentos térreos)

Miniclube residencial para diferentes faixas etárias

Nesse cenário, a Queiroz Galvão lança seu primeiro em- preendimento Slim, o Itapuã Parque, condomínio fechado com duas torres. São 160 apartamentos com área priva- Ilustração artística da piscina tiva de 65 ou 72 metros quadrados, todos com sacada ou garden. A área social do empreendimento tem piscina adulto e infantil, deque molhado, churrasqueira, academia, bom e paisagens diversificadas. Ainda vale a pena seguir quadra, brinquedoteca, salão de jogos e salão de festas. o conselho dos compositores Toquinho e Vinícius de Mo- “A arquitetura do Itapuã Parque parte do essencial, sem per- raes, autores da canção, e passar uma tarde em Itapuã. der, contudo, a funcionalidade e a beleza”, diz Augusto Xavier, Mas, melhor do que passar um dia na região, é poder mo- arquiteto responsável pelo projeto. “É um miniclube residencial rar no bairro, com grande infraestrutura, hotéis de luxo, dotado de espaços de convivência, lazer e esportes, implanta- shoppings e famosas atrações de Salvador, como a lendá- dos em uma ilha de paisagismo que acolhe harmoniosamente ria Lagoa do Abaeté e o Farol de Itapuã. crianças, idosos, adultos e adolescentes”, completa.

Premium 71 A rt Cinema Foto: Acervo Museu Mazzaropi

Mazzaropi como Bernardino Jabá, As faces do em O Lamparina, de 1963 cinema nacional por Priscila Roque

Polêmicos ou populares, esses personagens se tornaram referência das telonas brasileiras

pagam-se as luzes, o projetor é ligado. Sen- O humor caipira de Taubaté tado em uma das poltronas da sala escura, o espectador percorre o enredo de um filme. Um homem do campo construído pelos olhos de um sujeito que Sozinho. No cinema, a imersão é tão profun- dividiu seus primeiros passos entre Taubaté e a capital de São da, que até seu próprio corpo parece penetrar em uma Paulo. Com os pincéis, Mazzaropi começou a retratar a vida in- outra realidade. teriorana, na sua “vida real”. Depois, já nas telas da TV e do cine- A trama exibe personagens capazes de criar um elo ma, deixou o primeiro ofício para dar vida àquele caipira cheio de com quem os vê. Aplausos para atuações marcantes humor e bastante popular que cativou o povo brasileiro. Neste e falas impecáveis. Esse casamento pode tornar prota- ano, o nascimento de Mazzaropi completa seu centenário. gonistas e coadjuvantes emblemáticos para a história Jeca Tatu, Zé Nó ou Bernardino, não importa. Na alma, são to- do cinema. dos Mazzaropi. “De Jeca ele não tem nada. Extremamente es- A seguir, especialistas destacam cinco personagens do perto e inteligente, ele soube não apenas criar um personagem cinema brasileiro que valem a discussão, seja pela po- absoluto, mas ganhar dinheiro – e perder – como ninguém no lêmica que causaram para uma época, pela popularida- cinema brasileiro. Para ele, ou se tem uma indústria do cinema de que alcançaram junto ao público, seja por servirem ou não se tem nada. Optou pelo nada”, comenta o poeta e de referência de um gênero. cineasta Paolo Gregori.

72 Uma mulher de fibra

Personagem principal disfarçada de coadjuvante. As- sim é a guerreira Rosa, vivida por Yoná Magalhães no longa de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de 1964. “Ela é uma mulher bem importante por- que não se conforma com a realidade que lhe é dada. Ela tenta, de todas as maneiras, ir contra tudo isso. Muitos papéis de mulheres do Cinema Novo têm um pouco dessa lógica, mas acho que Rosa é emblemática pela força que tem”, justifica o professor e pesquisador cinematográfico André Gatti. Para a também pesquisadora em cinema e jornalista Natalia Barrenha, muito já se falou sobre a política e a linguagem inovadora dessa produção, mas pouco sobre a representatividade que ela teve. “Rosa chama Yoná Magalhães em muito a atenção por estar no centro da narrativa, sem cena como Rosa em Deus e o Diabo na estar. De certa maneira, há uma reconfiguração do pa- Terra do Sol Foto: Cinemateca Brasileira pel habitualmente conferido às mulheres”, explica. por Priscila Roque Tabu no cinema brasileiro

O ator Milton Gonçalves deu vida à Diaba, persona- gem inspirada na caricata figura carioca de Madame Satã, na década de 70, no filme de Antônio Carlos Fontoura, A Rainha Diaba. “No início do cinema na- cional, o papel de homossexual normalmente era insinuado, não explícito. Rainha Diaba se destaca por ter uma personagem intensa, que é central. Ele mostra um travesti negro e marginal”, ressalta o pes- quisador André Gatti. Com argumento de Plínio Marcos, a trama conta a história de um homossexual que chefia um grupo re- lacionado ao tráfico de drogas em um universo cruel de intrigas e traições. Há quem considere a inter- pretação de Milton Gonçalves uma das melhores do cinema nacional. Atuação em A Rainha Diaba rendeu prêmios para Milton Gonçalves Foto: arquivo pessoal João Carlos da Fontoura Foto: arquivo

Premium 73 A rt Cinema

Terror para exportação

“Você, você e todos vocês” é o bordão mais famoso daquele sujeito de roupas pretas, unhas longas e que ganhou o mundo com seu cinema trash. O perso- nagem Zé do Caixão se transformou no alter ego de seu intérprete, José Mojica Marins, e tem autorização do próprio para vagar por aí. Ele aparece em filmes de Marins desde os anos 1960 e, hoje, apresenta até um programa de entrevistas no Canal Brasil. Para o cineasta Paolo Gregori, ele é uma mistura de Ed Wood com Roger Corman. “Um ser iluminado e mito- lógico que entendeu que o cinema é o melhor espaço para difundir o medo. Sua obra é a metáfora de nossa sociedade: miserável, ameaçadora, gananciosa, perver- tida, hipócrita e escatológica. Os filmes são a quintes- sência do que há de mais brasileiro dentro de nós: o Zé do Caixão, o coveiro louco presente na TV brasileira e no cinema mundial grotesco”, ele analisa. Foto: Juliana Torres/ Canal Brasil Foto: Juliana Torres/

O fenômeno pop

Quase uma unanimidade entre o público atual, Capitão Foto: divulgação Nascimento, presente nas primeira e segunda partes de Tropa de Elite, é um dos personagens mais marcantes da história do cinema nacional. A popularidade alcança- da se deve à identificação por parte de quem o assis- tiu. “O projeto do filme contemplava uma história autoral que ganhou qualidade pela escolha impecável do ator principal, um acerto do diretor e de toda a equipe”, pon- tua o crítico e professor de cinema Franthiesco Ballerini. A jornalista e pesquisadora Natalia Barrenha ficou sur- presa. “No primeiro filme, ele é um xerife do Velho Oeste nos anos 1950 com a ausência de medo, a integridade e a responsabilidade. No segundo, ele é um xerife contem- porâneo, vindo mais de um filme dos Irmãos Coen do que de um filme do John Ford. É interessante como se ques- tionam as ideias de herói, de justiça e da necessidade de justiça por meio dele — assuntos muito delicados em um país de justiça lenta e falha como o nosso”, conclui. Wagner Moura como Capitão Nascimento em Tropa de Elite 2

74 Premium 73 A rt Cultura

76 Cem anos de jorge amado Por Marina Monzillo

a sexta-feira de Carnaval, o trio elétrico de Daniela Mer- cury anunciou: Salve Jorge! Era o início da homenagem da Bahia para um de seus filhos mais ilustres, Jorge Amado, escritor que completaria cem anos em 2012. Diante de milhares de foliões, músicas inspiradas em seus personagens foram cantadas e um corpo de baile encenou uma ópera popular base- ada em histórias como Dona Flor e Seus Dois Maridos e Gabriela. A festa de Momo sempre permeou a vasta obra amadiana – seu primei- ro romance é O País do Carnaval (1931). Por isso, e por sua importân- cia para a cultura brasileira, além de ser lembrado em seu Estado natal, o autor foi tema dos desfiles das escolas Imperatriz Leopoldinense, no Rio de Janeiro, e Mocidade Alegre, em São Paulo. A série de comemorações do centenário, de fato, começou em 2011, um ano antes da efeméride – Jorge Amado nasceu em Itabuna, no inte- rior baiano, em 10 de agosto de 1912. No cinema, foi lançado Capitães da Areia, da cineasta e neta do escritor Cecília Amado. No teatro, a peça Dona Flor e seus Dois Maridos percorre o Brasil. Editora da obra de Jorge Amado desde 2008, a Companhia das Letras lançou uma caixa que reúne os quatro livros das mulheres de Jorge (Tieta, Dona Flor, Gabriela e Tereza Batista). E ainda vem mais por aí: Navegação de Cabotagem e Os Velhos Marinheiros ganharão edições especiais ilus- tradas e será publicada Jorge & Zélia, Correspondência Inédita, reunião de cartas que o escritor trocou com a mulher, Zélia Gattai, enquanto estava no exílio. Também foi organizada uma exposição, Jorge, Amado e Universal, no

Premium 77 A rt Cultura

Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, que reú- ne peças do acervo da família do escritor e da Funda- ção Casa de Jorge Amado. São elementos da sua vida e obra, como fotos, manuscritos, objetos e materiais audiovisuais que recriam o universo ficcional que tanto reverencia a cultura baiana. A exposição já passou pelo Museu da Arte Moderna de Salvador e será apresenta- da em mais oito capitais. Por fim, o projeto Amar Amado homenageou o escritor em Ilhéus, na Bahia, com seminários e festivais, além da dramartugia e música brasileira. O inventor do Brasil moderno

O crítico literário José Castello escreveu: “Não há es- critor brasileiro que tenha a imagem pessoal tão liga- da à de nosso país quanto Jorge Amado”. Sorridente, caloroso, com um jeitão informal e até displicente, o baiano, morto em 2001, era a cara do Brasil. E colocou esse Brasil nas páginas de seus livros, inventando essa imagem moderna, do século 20, da nação miscigena- da, das mulheres sensuais, da malandragem, do povo corajoso que não esmorece diante das adversidades. Os romances de Jorge Amado foram sempre um gran- de sucesso de vendas. As traduções alcançaram 50 países. E há, ainda, as adaptações para cinema, tele- visão e rádio que transformaram suas personagens em parte indissociável da vida brasileira. Como disse Cas- tello: “Enquanto assistia na tevê às encenações das histórias de Jorge, o Brasil via a si mesmo, e aprendia quem estava predestinado a ser.” Em 1961, o autor foi eleito para a Academia Brasilei- ra de Letras, em 1984 recebeu a Legião de Honra, a maior condecoração francesa, e em 1998, o título de doutor honoris causa da Universidade Sorbonne. No fim da vida, já era havia tempos, uma instituição nacio- nal, que ensinou seus milhares de leitores a conhecer, respeitar e amar a cultura afro-brasileira, a culinária re- gional, a capoeira e o candomblé. 78 Premium 79 E ndereços

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A estante branca por Marina Monzillo

ão é o sofá macio nem a mesinha de design alemão que custou uma pequena fortuna. Meu objeto preferido da casa é a estante de livros. Pela primeira vez, tenho um espaço especialmente destinado aos meus livros, meus adorados livros. Ela é branca, com nichos assimétricos e ocupa lugar nobre da sala de estar. Mesmo neste tempo de iPads e e-books, não consigo descartar o tradicional papel. Adoro as capas, o peso do livro em minha mão, o barulhinho das páginas viradas rapidamente – para mim, parecem as asas de um pássaro levantando voo, me con- duzindo para o universo daquela história. A estante branca é um móvel espaçoso, mas não o suficiente. Ganharam o direito de ocupar trechos das prateleiras as obras que pretendo reler ou consultar, e com as quais tenho uma relação afetiva – seja pelo assunto, pela dedicatória ou pelo momento em que entrou e fez parte da minha vida. Os outros volumes foram para um armário no quartinho da bagunça, mas isso não significa que ficaram negligen- ciados. Os preferidos estão arrumados de acordo com os temas: contos, romances norte- -americanos, literatura russa, autores latinos, vampiros, chick-lit, cinema, jornalismo, e assim vai. Já me encontrei diversas vezes parada diante da estante: olho, admiro, namoro. Endireito e entorto livros, decoro os espaços com pequenos objetos colori- dos, estrategicamente posicionados entre os volumes. Sou apaixonada e cheia de ciúmes da estante branca, assim como sou pelos livros.

Foto: Fotolia Um caso de metonímia, o continente pelo conteúdo.

82 Uma grande parceria comprovada por milhares de sorrisos.

por Marina Monzillo

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