PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 461 • ANO XLI MARÇO 2012 • MENSAL • € 1,50

SAGRES 50 ANOS COM A BANDEIRA DE Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas

Construído nos estaleiros da Blohm & Voss, 1 em Hamburgo, o atual navio escola Sagres foi lançado à água no dia 30 de outubro de 1937. Batizado como Albert Leo Schlageter, efetuou, ao serviço da , duas grandes viagens de instrução, em 1938 e 1939. Com o CFR António Gonçalves Arquivo início da Guerra, foi mantido, conjuntamente com os outros dois navios irmãos, atracado em Kiel. No início de 1944 voltou a navegar com cadetes alemães, tendo colidido com uma mina no mar Báltico a 14 de novem- bro desse ano. Terminada a Guerra, o navio coube aos Estados Unidos, tendo-se mantido atracado em Bremerhaven até 1948. No dia 3 de julho desse ano foi cedido ao Brasil a troco de 5.000 dólares, seguindo a reboque para o . Incorporado a 27 de outubro de 1948 na Marinha do Brasil com o nome Guanabara, navegou com a bandeira do Bra- sil até 21 de julho de 1959, altura em que con- cluiu a última navegação. Durante estes onze anos efetuou inúmeras viagens de instrução 2 com os cadetes da Marinha do Brasil e com os alunos do Colégio Naval, tendo percorri- do cerca de 65 000 milhas. A venda do navio a Portugal concretizou- Marinha do Brasil Arquivo -se a 10 de outubro de 1961, na cidade do Rio de Janeiro, pelo preço simbólico de 150.000 dólares, à época 4500 contos. O objetivo era substituir a antiga Sagres, que se encontrava, na altura, já muito degradada. A 8 de feve- reiro de 1962 teve lugar a cerimónia de in- corporação na Marinha Portuguesa como navio-escola Sagres, dia em que o então Capi- tão-tenente Silva Horta (1920-2012) assumiu o comando do navio, depois de haver sido o último comandante da antiga Sagres. Dos 75 anos que celebra no próximo dia 30 de outubro, o navio leva já 50 ao serviço da Marinha Portuguesa, efeméride que foi assinalada a bordo no passado dia 8 de fe- vereiro. Em mais de 150 viagens realizadas com a bandeira de Portugal, o navio-escola Sagres cumpriu 6 267 dias de missão (17 anos 3 fora de Lisboa), navegou mais de 93 800 ho- ras (10,7 anos no mar), percorreu 580 540 milhas (26,8 voltas ao mundo) e visitou 166 SudAmérica Foto Velas portos estrangeiros em 60 países! Já efetuou três voltas ao mundo, sendo que durante a última (2010) cruzou por quatro vezes a linha do Equador e dobrou, pela primeira vez, o mítico cabo Horn.

1 Da esquerda para a direita podem ver-se atra- cados em Kiel os três navios irmãos então perten- centes à Kriegsmarine, o Gorch Fock (posteriormente Tovarich), o Horst Wessel (atual Eagle) e o A­lbert Leo Schlageter (atual Sagres). 2 Formatura de cadetes para rendição do quarto a bordo do Guanabara. 3 O NRP Sagres no cabo Horn.

CFR António Manuel Gonçalves Membro do CINAV SUMÁRIO Publicação Oficial da Marinha Periodicidade mensal Nº 461 • Ano XLI 4 Março 2012 Diplomacia Naval Diretor CALM EMQ Luís Augusto Roque Martins Chefe de Redação CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira Redação 1TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito Secretário de Redação SAJ L Mário Jorge Almeida de Carvalho Colaboradores Permanentes CFR Jorge Manuel Patrício Gorjão CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos CFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa 1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves Administração, Redação e Publicidade Revista da Armada Edifício das Instalações Centrais da Marinha 8 Rua do Arsenal Navio-Escola Sagres 1149-001 Lisboa - Portugal Conceção teutónica, têmpera tropical Telef: 21 321 76 50 Fax: 21 347 36 24 e embaixador luso Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt e-mail da Revista da Armada 14 [email protected] Almirante Henrique da Silva Horta Paginação eletrónica e produção Página Ímpar, Lda FOTOGRAFIAS ANTIGAS, INÉDITAS OU CURIOSAS 2 Tiragem média mensal: A COMANDAR A SAGRES 50 ANOS DEPOIS 6 4500 exemplares COMEMORAÇÕES DOS 50 ANOS DA SAGRES AO SERVIÇO DE PORTUGAL 7 Preço de venda avulso: € 1,50 RECORDAÇÕES DA SAGRES 11 Revista anotada na ERC SAGRES. OS PRIMEIROS ANOS 12 Depósito Legal nº 55737/92 NRP SAGRES 50 ANOS, 50 EFEMÉRIDES 18 ISSN 0870-9343 CINQUENTENÁRIO DO NRP SAGRES COM BANDEIRA DE PORTUGAL 20 A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (28) 22 REDESCOBERTA DA RIBEIRA DAS NAUS 23

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 461 • ANO XLI MARÇO 2012 • MENSAL • € 1,50 ACADEMIA DE MARINHA 24 DIVULGAR O PATRIMÓNIO 26 CORVETA MISTA “SÁ DA BANDEIRA” 27 PORTUGAL GANHA CANDIDATURA À ORGANIZAÇÃO DO CONGRESSO SAGRES 50 ANOS COM A BANDEIRA DE PORTUGAL INTERNACIONAL DE MUSEUS MARÍTIMOS EM 2013 / PROTOCOLO ENTRE A MARINHA E O CENTRO UNESCO CIÊNCIA, ARTE E ENGENHO 28 HIERARQUIA DA MARINHA 14 / VIGIA DA HISTÓRIA 41 29 NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (11) 30 Foto NRP ZAIRE COMEMOROU 40 ANOS 31 SAJ L Carvalho QUARTO DE FOLGA / AVISO 33 ANUNCIANTES: ALM - OFTALMOLASER; LISSA - AGÊNCIA DE DESPACHOS NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34 E TRÂNSITOS, Lda.; ROHDE & SCHWARZ, Lda. NAVIOS HIDROGRÁFICOS CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2012 3 A DIPLOMACIA NAVAL

iz-se, e é verdade, que as For- não submarinos, meios aéreos e forças cançar os objetivos, progredindo centenas ças Armadas em tempo de paz de desembarque. Aproxima-se de terra de milhas por dia. preparam-se para a guerra. Mas ou mantém-se afastada. Faz exercícios e • Projeção de força em terra, quer dizer Desta não é a verdade toda, e, para as Ma- de que tipo. Envolve-se ou não em provo- que podem projetar poder a grande dis- rinhas, nem sequer chega a ser meia ver- cações. Que áreas pode controlar. A lista tância das bases, não só através das armas dade, porque as Marinhas têm muitas ou- poderia continuar, mas os exemplos são próprias, com também pelo desembarque tras tarefas a desempenhar em situações suficientes para ilustrar uma diversidade de forças de fuzileiros ou outras. O bi- aquém da guerra. de mensagens. nómio navios /fuzileiros sai valorizado. É sabido que uma das funções prin- A diplomacia naval pode ser o instru- • Liberdade de ação; face à liberdade cipais das Marinhas com componentes mento para um conjunto alargado de pre- de movimentação no mar, podem aproxi- oceânicas é o apoio à política externa dos tensões políticas, tais como: mar-se de regiões costeiras sem violar a lei respetivos Estados. - Aumentar a capacidade de negociação internacional e sem comprometimentos, A política externa é constituída por um - Apoiar aliados ou outros Estados em cerca de 2/3 do mundo. conjunto de linhas de ação política desen- - Disputar influências nas alianças ou • Autonomia, na medida em que os na- volvidas fora das fronteiras territoriais de organizações internacionais vios maiores são auto-suficientes e podem um Estado e que têm como finalidade a - Projetar uma imagem favorável no manter as suas capacidades por longos defesa e a realização dos seus interesses, exterior períodos. A utilização de navios reabas- através da concretização dos objetivos, - Demonstrar interesse em aconteci- tecedores e de apoio pode incrementar a definidos num pro- permanência na zona grama de governo1. de operações para A diplomacia, faz muitos meses. parte dos instru- • Simbolismo, por- mentos pacíficos que os navios de da política externa, guerra representam corporizando o rela- Foto CFR António Gonçalves os respetivos países cionamento normal e constituem territó- entre os Estados. To- rio nacional em qual- davia, pode assumir quer parte do mundo, aspetos relativamen- arvorando bandeira te coercivos, sem em- e estando sujeitos à prego efetivo da for- disciplina militar, es- ça. Estão neste caso as tando o seu compor- ameaças, a dissuasão, tamento limitado por a exibição ou a suges- regras de empenha- tão da força. mento definidas em Podemos deduzir vários escalões de au- que a diplomacia na- toridade do Estado, val corresponde ao consoante os casos. conjunto de funções O exercício concre- exercidas por forças to da diplomacia na- navais tendo em vista o apoio às ações da mentos de certas regiões, de modo posi- val assume as mais variadas e sofistica- política externa do Estado, mas excluindo tivo ou negativo das ações, sendo bem conhecidas, na sua o conflito armado. Nestas circunstâncias, - Prestar assistência naval pacifica. maior parte. Indicam-se a seguir as mais não estão incluídas, em princípio, a fisca- As forças navais possuem um conjun- frequentes. lização e controlo de águas jurisdicionais, to de aptidões que as torna especialmente A presença naval é talvez a mais co- já que estas não se enquadram na política adequadas para o exercício na diploma- mum das aplicações. Pode ter muitos sig- externa do Estado. cia, no contexto que se vem descrevendo. nificados desde o apoio a compromissos Quais são os objetivos gerais da diplo- A utilização de forças terrestres ou aéreas até exatamente o contrário. O empenha- macia naval? implica normalmente uma escalada do mento em algo ou a associação a alianças Fundamentalmente, procura influen- conflito, em função da conexão imediata ou coligações são expressões vulgares da ciar outros governos, utilizando meios na- com o território. De facto, as forças ter- presença. vais, sem intenção ou previsão de iniciar restres e aéreas, pela forma de atuação, As demonstrações de força têm graus um conflito armado. Pretende-se assim ou violam a soberania sobre o território de visibilidade que vão desde a simples obter respostas desejadas de outro Estado, de outrem, ou provocam alarme pela sua ostentação de capacidades até aos inci- sem aplicação efetiva da força. concentração nas proximidades. dentes de pequena monta, podendo atin- De facto, a diplomacia naval utiliza um Das aptidões específicas das forças na- gir o nível de dissuasão nuclear. conjunto de subtilezas que correspondem vais no quadro da diplomacia, que são As ações com um propósito específi- a sinais propositadamente feitos para bastantes, podemos salientar as seguintes: co, dependem da situação concreta, mas transmitir uma determinada mensagem • Versatilidade, que significa a adap- apresentam graus de intensidade que co- que deve ser entendida pelo destinatário. tação fácil a qualquer tipo de tarefa, sem meçam na ação humanitária, passam pe- Os diferentes significados podem ser necessidade de se reorganizarem (evento las operações de apoio à paz e acabam no dados pela dimensão e comportamento social, ajuda, influência, coação…) envolvimento das crises. das forças navais empregues. Um sim- • Mobilidade, ou seja, a capacidade de As operações de recolha de informa- ples navio ou uma grande força naval. movimentação e concentração de forças, ções estão sempre presentes em qualquer Qual a composição da força. Inclui ou a fim de atingir a melhor posição para al- ação de diplomacia naval, mas podem

4 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA ser desenhadas para objetivos específi- Em paralelo, agravaram-se uma série até o embarque de especialistas que pos- cos. Todos sabem que o que se observa de ilícitos no mar com repercussões em sam observar “in loco” a operação e fun- de interesse em terra ou no mar é sujeito terra, nomeadamente a imigração ilegal cionamento de sistemas, é insubstituível a relatórios e análises. Os meios de guerra por via marítima e a criminalidade trans- como forma de promoção. No caso Por- eletrónica moderna e a combinação com nacional com grande expressão no narco- tuguês, julga-se que existe um mercado uma panóplia imensa de fontes de infor- tráfico. Simultaneamente, o terrorismo para patrulhas costeiros e oceânicos de mação podem produzir resultados sur- internacional passou a ser uma preocupa- fabrico nacional, como houve para os sis- preendentes. Por outro lado, a observa- ção para as atividades marítimas e a pira- temas integrados de comunicações, que ção visual e o contacto com meios navais, taria ressurgir em vários pontos do globo, não teriam tido sucesso se não fossem infraestruturas e pessoas, são elementos com realce para a zona do corno de África. montados em navios da Marinha Portu- precisos de informação, quando conve- As Marinhas foram chamadas para guesa. Por outro lado, os navios podem nientemente trabalhada. criar e manter estabilidade, iniciando-se promover muitos outros produtos nacio- A cooperação naval técnico-militar é uma nova era na diplomacia naval. De nais no estrangeiro. Os vinhos e conser- uma forma de diplomacia que vai muito facto, de acordo com um entendimento vas já fazem parte da habitual, mas o N.E. para além de atividades de formação. As praticamente consensual referido nos pri- “Sagres”, em recente viagem à volta do relações de boa vontade e a abertura para meiros parágrafos deste texto, as funções mundo, levou uma pequena exposição cedência de meios e negócios mutuamen- de fiscalização e controlo de águas jurisdi- de mobiliário português. te vantajosos, bem como a continuidade cionais não se enquadravam na diploma- O outro, que poderia ser eventualmente de relações, são aspetos a ter em conta. cia naval, pois não estavam relacionadas designado por diplomacia naval científica, As visitas de rotina aos portos, para com a política externa do Estado. relaciona-se com as capacidades ligadas reabastecimento ou descanso de guarni- Todavia, o que se verifica na atualidade às ciências do mar, nomeadamente a hi- ções podem ser aproveitadas para culti- é que são atribuídas às Marinhas missões drografia e a oceanografia. São muitas as var amizade, causar impressões positi- de fiscalização e controlo em águas juris- possibilidades de cooperação com países vas e melhorar a imagem. Os programas dicionais de outros, para combater a crimi- muito necessitados de apoio nestas áreas­ e das visitas podem contemplar visitas a nalidade internacional. Essa faculdade tem designadamente os países africanos de ex- entidades importantes e organização de sido dada com o acordo do Estado Costei- pressão portuguesa. A produção ou atua­ eventos que provoquem interação com a ro, como já aconteceu em várias partes do lização de cartas náuticas é uma ativida- sociedade local. mundo e até em Cabo Verde, com a parti- de inesgotável e os estudos conducentes As visitas políticas absorvem as vanta- cipação de uma corveta portuguesa. ao alargamento das respetivas platafor- gens das visitas de rotina, mas destinam- No combate á pirataria, o envolvimento mas continentais constituem outro exem- -se a promover influência, pelo que im- de várias forças navais na costa da Somá- plo atual de cooperação. Mas, existe uma plicam uma comunicação mais intensa lia e regiões próximas foi legitimada por infinidade de possibilidades relativas ao com os poderes instituídos e a população uma resolução das Nações Unidas. Isto desenvolvimento do litoral, assinalamen- locais. O acompanhamento de visitas de porque estava em causa o interesse co- to marítimo, formação científica especia- Estado e a participação em celebrações mum na normalidade do tráfego maríti- lizada, etc. nacionais são exemplos de visitas políti- mo, numa área onde circulam navios com Em suma, a diplomacia naval é um ins- cas. A participação em exercícios, a aber- materiais particularmente importantes. trumento do poder político que pode con- tura dos navios a visitas, a organização de Outra novidade da diplomacia naval tribuir muito para se atingirem objetivos eventos desportivos e culturais, as rece- moderna foi a necessidade da cooperação político-estratégicos, mesmo em zonas ções formais a bordo, os discursos proferi- internacional. Para combater eficazmente afastadas e constitui um dos modos de dos, a promoção de ideias favoráveis, etc, as ameaças que se intensificaram no mar, rentabilização dos meios combatentes em fazem parte da organização do programa. os Estados rapidamente perceberam que tempo de paz. Tem ainda a vantagem de O que antecede traça um retrato da di- não podiam garantir um grau aceitável de apresentar sempre um certo grau de dis- plomacia naval clássica, que está consoli- segurança no mar de forma isolada, por suasão, ainda que na forma latente. dada há muitos anos e que no seu extremo maiores que fossem as suas capacidades. Cabe aqui referir que o modelo de Ma- mais coercivo corporizava a chamada di- Para além das forças combinadas nos rinha Equilibrada adotado pela Marinha plomacia da canhoneira, porque utilizada casos mais graves, a cooperação interna- Portuguesa, ao preferir uma diversidade essencialmente a ameaça como perceção cional passa pela partilha de informações de capacidades em vez de se concentrar de agressão iminente, para obter ganhos relativas ao conhecimento situacional ma- em funções muito especializadas, ajusta-se políticos. rítimo e por um elevado número de acor- bem às vantagens de se possuir uma com- Os tempos modernos não invalidaram dos de cooperação assinados. A legislação ponente oceânica relevante, mesmo que a diplomacia naval clássica, embora tor- internacional e importantíssima ação da não tenha a dimensão que seria a mais ade- nassem menos aceitável a diplomacia da Organização Marítima Internacional con- quada aos interesses de Portugal no mar. canhoneira na sua forma mais explícita. tribuíram também para o ambiente de co- Duas breves conclusões, mas da maior No mundo atual a ligação do mar à eco- laboração, a que aderiram praticamente importância, na perspetiva do autor, para nomia mundial é bem expressa pelo facto todos os países estruturados. a relação do país com a sua Marinha: de mais de 90% das mercadorias circularem Sem pretender esgotar o assunto, que - Torna-se necessário compreender a pela via marítima e a tendência não cessa de é muito vasto, afigura-se útil focar ainda subtileza da diplomacia naval e a sua aumentar. A globalização e a consequente dois aspetos da diplomacia naval, não enorme abrangência; interdependência de todos os Estados, está muito conhecidos. - Face à utilidade dos meios navais baseada na garantia da normalidade do trá- Um deles, que talvez se pudesse desig- como instrumento diplomático, devem fego marítimo. Por outro lado, as indústrias nar por diplomacia naval económica, tem ser aproveitadas todas as ocasiões propí- e boa parte do comércio internacional tor- a ver com a utilização de meios navais cias para a sua utilização. naram-se muito vulneráveis a atrasos e in- para divulgar as próprias construções  terrupções de fornecimentos, pois a cadeia em estaleiros nacionais, bem como equi- Victor M. B. Lopo Cajarabille logística funciona sob o princípio de entre- pamentos da indústria de defesa. Nada VALM gas em volume suficiente e em tempo (“just melhor do que mostrar os navios e equi- Nota enough e just in time”), de modo a permitir pamentos em países que sejam potenciais 1 Definição do Prof. Doutor Victor Marques dos maior eficiência, em razão do menor custo. compradores. As explicações detalhadas e Santos

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2012 5 COMANDAR A SAGRES 50 ANOS DEPOIS navio-escola Sagres – grande herdeiro dos princípios cultivados pelo Infante D. Henrique na mítica Escola da Sagres – é muito justamente considerado o Onavio mais simbólico da Marinha Portuguesa e, mesmo, de Portugal. Todavia, esta lenda que se foi formando em torno da Sagres não apareceu de forma espon- tânea, antes foi crescendo na exacta medida dos feitos do navio e das sucessivas guarnições, no cumprimento das suas três principais missões: como Escola de Mar (formando os cadetes da Escola Naval), como Embaixador Itinerante (levando a bandeira de Portugal e as cruzes de Cristo aos quatro cantos do Mundo e aos portugueses da diáspora) e como promotor da maritimidade (aproxi- mando os portugueses do Mar e recordando-lhes a sua história marítima). Relembro, por isso, alguns dos feitos do navio, nestes primeiros 50 anos que leva com a bandeira portuguesa: - 6267 dias de missão fora da BNL – correspondentes a mais de 17 anos em missão; - 93 885 horas de navegação – correspondentes a 10,7 anos ininter- ruptamente a navegar; - Cerca de 580 540 milhas navegadas – equivalentes a 26,8 voltas ao Mundo; - 60 países estrangeiros visitados; - 166 portos estrangeiros visitados pelo menos uma vez. Estes números ajudaram a construir a lenda em que se tornou o navio-escola Sagres, que muito deve à dedicação, ao esforço e à abnegação de um conjunto extraordinário de comandantes – em que nunca é demais destacar o lugar cimeiro ocupado pelo, agora saudoso, Vice-almirante Henrique da Silva Horta – e de sucessi- vas guarnições de oficiais, sargentos e praças que souberam hon- rar o navio e o legado dos seus antecessores, dando-lhe o melhor de si. É por isso que, comandar o navio-escola Sagres – 50 anos após ter sido integrado na Marinha Portuguesa e colocado ao ser- viço de Portugal – é, ao mesmo tempo, uma tarefa fácil e difícil. Fácil, pelo legado, material e imaterial, deixado pelas suas guarnições, que foram cimentando o prestígio do navio, missão após missão. Um legado caracterizado pelo talent de bien faire, que era justamente a divisa do Infante D. Henrique, patrono do navio e com toda a propriedade a sua figura de proa. Difícil, pelo ónus desse mesmo legado, que reivin- dica uma dedicação constante no sentido de preser- var e, simultaneamente, engrandecer essa mesma he- rança, material e imaterial. Isso faz com que o distintivo de comando do Comandante do NRP Sagres seja, segu- ramente, dos que mais pesam em toda a nossa Marinha! Comandar a Sagres é, por conseguinte, receber um dos símbolos de Portugal e ser capaz de o legar, algum tempo depois, desejavelmente mais valorizado e mais engrandeci- do, HONRANDO SEMPRE A PÁTRIA QUE NOS CONTEMPLA – pois todos os comandantes passam, mas a Sagres há-de perdurar – para sempre!  Nuno Sardinha Monteiro Comandante do NRP Sagres

6 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA o âmbito das comemorações dos 50 âmbito desta cerimónia, foi descerrada uma Na tarde do dia 9, a Marinha e a Comissão anos do NRP Sagres sob bandeira placa comemorativa, colocada a vante do Vitivinícola Regional da Península de Setúbal, Nportuguesa, o navio esteve atracado mastro grande. A esta placa foi intencional- apresentaram a bordo da Sagres uma edição no cais de Alcântara, em Lisboa, entre 3 e 13 mente cortado o canto superior direito, com especial de vinhos, comemorativa dos 50 anos de fevereiro. Nesse período, recebeu a bordo a intenção de o reproduzir e entregar às pes- da Sagres ao serviço de Portugal e dos 75 anos dezenas de milhares de visitantes e participou soas, que são o elemento que transforma a do Creoula. Um tinto reserva, um tinto, um em diversos eventos e actividades. chapa do casco num navio pronto a servir o branco e um moscatel roxo constituem esta Esta missão teve início em 3 de edição singular, que homenageia fevereiro de 2012 com a largada estes dois emblemáticos veleiros. da Sagres da Base Naval de Lisboa Para encerrar o período de co- pelas 1400, embarcando o VALM memorações, em 12 de fevereiro Comandante Naval, o CALM Co- ao final da tarde, a Banda da Ar- mandante da Flotilha, o CALM mada proporcionou um concer- Tavares de Almeida do Gabinete to no cais a várias centenas de do CEMA, algumas entidades ci- pessoas, que contou com a parti- vis que, a convite da Marinha, se cipação de Vitorino, o qual apre- associaram às comemorações do sentou publicamente a “Marcha aniversário do navio e diversos da Sagres”, interpretando-a con- órgãos de comunicação social. juntamente com alguns elemen- Após sair do Canal do Alfeite, tos da guarnição do navio. No fim a Sagres guinou para estibordo do concerto, seguiu-se o jantar de para “ganhar barlavento” e ini- ex-comandantes a bordo, ofereci- ciou o frenético ritual para içar do pelo ALM CEMA. e caçar todo o pano – a “faina Durante o período de abertura geral de mastros” – onde partici- a visitas, a Sagres recebeu cerca pam todos os 139 elementos da de 35 000 pessoas. Destas, mais guarnição. Como resultado, de- FZ Carmo CAB Foto de 20 000 foram crianças e jo- pois de alguns minutos, todo o vens, através das suas escolas ou esplendor do navio foi orgulho- no âmbito da iniciativa Passaporte samente libertado e a Sagres, en- Escolar, patrocinada pela Câmara galanada com todo o pano içado Municipal de Lisboa. Além disso, e caçado, sulcou o Tejo, convi- milhares de pessoas, no País e no dando a população a prestar-lhe mundo, puderam visitar virtual- a devida homenagem por cinco mente o navio e conhecer a sua décadas ao serviço do País, for- guarnição, através dos órgãos de mando homens e marinheiros e comunicação social. De facto, levando um pedaço de solo pá- dezenas de entrevistas e repor- trio aos Portugueses que povoam tagens ilustraram este aniversário os quatro cantos do mundo. nas televisões, nas rádios, nos jor- Após atracar no cais de Alcân- nais e em sites de notícias online, tara, o navio ultimou todos os pre- numa cobertura mediática que es- parativos para abrir a visitas logo SAJ L Carvalho Foto teve à altura do interesse dos mi- no dia seguinte, 4 de fevereiro, lhares de portugueses e estrangei- tendo a população, seduzida e ros que não puderam vir a bordo. cheia de orgulho, comparecido à Após 50 anos a navegar sob chamada: só no primeiro fim-de- bandeira portuguesa a Sagres -semana, cerca de 8 mil pessoas percorreu mais de 580 000 mi- visitaram o navio. lhas náuticas, o que lhe permiti- No dia 7 de fevereiro foi trans- ria “navegar” até à Lua e voltar mitido a partir de bordo, em di- ou dar 27 voltas ao mundo. Este- reto para todo o mundo, entre ve 17 anos com missão atribuída, as 1540 e as 1800, o programa navegou durante mais de 93 000 “Portugal no Coração”, da RTP1. horas e visitou 60 países diferen- Importa referir que esta transmissão televisiva País. Dessa forma, a intenção será entregar, tes. Contudo, mais importante do que tudo foi totalmente dedicada à comemoração dos posteriormente, uma mini-placa, com a ima- isto, são os milhões de visitantes que recebeu 50 anos da Sagres. gem da Sagres gravada, a todos os membros em todo o mundo e os milhares de cadetes O dia seguinte começou cedo, às 5 da da guarnição, bem como a todos os ex-Co- da Escola Naval que desde 1962, embarcam manhã, com a transmissão em direto a partir mandantes (homenageando, dessa forma, nesta aventura e complementam a sua for- do navio do programa “José Candeias”, da todas as guarnições que serviram na Sagres mação marinheira e humana naquele que Antena 1. Ainda nesse dia, 8 de fevereiro, ao longos destes 50 anos). Simbolicamente, é, seguramente, o mais emblemático navio- ocorreu a bordo a cerimónia comemorativa foram entregues, durante a cerimónia, três -escola do mundo. dos 50 anos sob bandeira portuguesa, presi- mini-placas ao Oficial Imediato e ao Sar-  dida pelo Ministro da Defesa Nacional. No gento e à Praça mais antigos da guarnição. Colaboração do COMANDO DO NRP SAGRES

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2012 7 Navio-escola Sagres Conceção teutónica, têmpera tropical e embaixador luso

Depois de haver servido os propósitos germânicos (1937-1945), o navio recuperou fôlego, durante pouco mais de uma década (1948- 1961), no ambiente tropical do país irmão, antes de encetar novo rumo ditado pelos hábeis marinheiros portugueses (1962). Contas feitas, dos 75 anos que cumpre no próximo dia 30 de outubro, o NRP Sagres leva cinco décadas de relevantes serviços prestados a Portugal, à Marinha Portuguesa e aos portugueses que se encontram espalhados pelo mundo.

Albert Leo Schlageter, terceiro navio com os outros navios irmãos, ministrando a reparações de que carecia, desconhecendo- da classe Gorch Fock, foi encomen- bordo aulas de navegação e de marinharia. -se ao certo se, entretanto, terá feito outras Odado no dia 2 de dezembro de 1936 Quatro anos volvidos, e considerando- viagens. Na última fase da guerra foi em boa aos estaleiros Blohm & Voss, em Hamburgo. -se que faltava treino de mar aos jovens ofi- hora transferido para Flensburg, decisão que A sua construção teve início a 15 de julho do ciais da Kriegsmarine, em janeiro de 1944 o terá evitado a sua perda, uma vez que a cida- ano seguinte e foi lançado à água três meses e Albert Leo Schlageter foi de novo colocado a de de Kiel, a base naval e os navios que aí se meio depois, no dia 30 de outubro. navegar, até porque, por essa altura, o Báltico encontravam atracados e fundeados, foram Depois de nos primeiros dias de fevereiro era tido como relativamente seguro para a destruídos pelos bombardeamentos aliados de 1938 ter efetuado no rio Weser e nos últimos dias do conflito. na baía de Kiel as provas de mar, foi Terminada a guerra, os quatro aumentado ao efetivo dos navios da veleiros da Kriegsmarine (Gorch Fock, Kriegsmarine (Marinha de Guerra) no Horst Wessel, Albert Leo Schlage- dia 14 desse mês. Teve como primei- ter e Herbert Norkus), foram, con- ro comandante o Fregattenkapitän juntamente com os demais navios Bernhard Rogge (1899-1982), que alemães, divididos em três lotes de anteriormente havia comandado o António Gonçalves CFR Arquivo idêntico valor, com a finalidade de Gorch Fock, primeiro navio da classe, serem repartidos pelos vencedores e que mais tarde ostentou o nome (Estados Unidos, União Soviética e Tovarisch, primeiro sob bandeira da Reino Unido), na sequência das reu- União Soviética e, posteriormente, niões que tiveram lugar em Berlim. ucraniana. Após algumas vicissitudes próprias Concluídas as provas, o Albert Leo da conjuntura em que decorreram Schlageter largou de Brunsbüttel, as conversações, coube aos norte- no dia 20 de março de 1938, para -americanos o lote onde se encontra- a primeira viagem de instrução com vam, entre outros, o couraçado Prinz cadetes da Kriegsmarine. Sob intenso Eugen e os veleiros Horst Wessel e nevoeiro, colidiu, três dias mais tarde, Albert Leo Schlageter. com o navio-vapor mercante inglês O Horst Wessel tornar-se-ia, em Trojan Star, propriedade da Blue Star 1946, o navio-escola da Guarda Line, quando cruzava o estreito de Costeira dos Estados Unidos (USCG) Dover. Deste acidente resultaram com o nome Eagle, mas, apesar dos inúmeras avarias, nomeadamente esforços envidados por parte do ao nível do gurupés e do aparelho. Comandante da Base Americana em Rebocado até Dover, onde fundeou Bremerhaven, nos difíceis anos do nessa noite, seguiu no dia seguin- pós-guerra não foi possível encontrar te, pelos próprios meios, para Ham- nos Estados Unidos uma instituição Içar da ostaga do mastro grande no Albert Leo Schlageter. burgo, dando novamente entrada no disponível e com capacidade para estaleiro onde, no mês anterior, havia sido navegação. Na noite de 14 de novembro, no receber e manter o Albert Leo Schlageter. Por concluída a sua construção e aprontamento. decurso de uma dessas navegações, quan- conseguinte, a 3 de julho de 1948, na sequên- Terminadas as reparações nos estaleiros da do efetuava uma viagem de instrução em cia de um curto período de negociações, o Blohm & Voss, a 11 de abril o navio largou conserva com o Horst Wessel, o navio foi navio acabou por ser cedido, a troco de 5.000 de Hamburgo para aquela que veio a ser, de vítima de uma mina que havia sido colocada dólares, à Marinha Brasileira, como forma facto, a sua primeira viagem de instrução, pelos soviéticos, 20 milhas a nordeste do cabo de reparar os prejuízos de guerra causados fazendo escala nos portos de Santa Cruz de Arkona. Os dois primeiros compartimentos no Atlântico Sul aos seus navios pelos sub- Tenerife, nas ilhas Canárias, e Port of Spain, estanques de vante ficaram totalmente alaga- marinos alemães. Na cerimónia do içar da no arquipélago de Trinidad e Tobago, antes de dos e, devido ao mau tempo que se fazia sen- bandeira do Brasil, que decorreu em Bre- regressar à Alemanha, numa única tirada feita tir, foi o Horst Wessel que aguentou o Albert merhaven no dia 4 de julho a bordo do Albert pelo norte da Escócia. Leo Schlageter com um cabo de reboque Leo Schlageter, apenas estiveram presentes o A 5 de abril do ano seguinte largava de passado à popa. Acabaria por ser rebocado Comandante da Base Norte-Americana no rio Wilhelmshaven para a segunda e última gran- para o porto de Swinoujscie, na atual Polónia, Weser, Captain H. R. Holcomb, a sua mulher, de viagem antes de começar a guerra. Visitou depois de toda a sua guarnição ter lutado Mrs. Cinthia Holcomb, e o Capitão-de-mar- novamente o porto de Santa Cruz de Tenerife pela sobrevivência durante mais de 60 horas. -e-guerra Paulo Penido, Adido Naval junto da e ainda Recife, no Brasil, cruzando, pela pri- Deste acidente, resultou a morte de um total Embaixada do Brasil em Londres. meira vez, a linha do Equador, no dia 8 de de 18 homens, entre vítimas da explosão e Muito embora estivesse em relativo bom maio. Pouco depois de concluir esta navega- outros que, tendo caído à água, não foi possí- estado, o navio não reunia, todavia, condi- ção, e porque entretanto eclodira o conflito, vel recuperar. ções para empreender a longa viagem até a Kriegsmarine optou por manter o Albert Leo No final do ano o Albert Leo Schlageter ao Brasil, uma vez que o Albert Leo Schlage- Schlageter atracado em Kiel, conjuntamente seguiu a reboque para Kiel, onde foi sujeito às ter carecia de algumas reparações. Além do

8 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA mais, também não era viável, naquela altura, tos e comemorações. Relativamente a por- gos veleiros, Albert Leo Schlageter/Guanabara fazer chegar à Alemanha toda uma guarni- tos estrangeiros, o Guanabara visitou apenas e USCG Eagle. ção e treiná-la, de forma a poder atravessar o Montevideu, no Uruguai, logo na segunda Por essa altura, a situação em que se encon- Atlântico em segurança. Por conseguinte, logo viagem, em janeiro de 1949. trava o antigo navio-escola Sagres só permitia que terminadas as formalidades, procedeu- Dez anos volvidos, mais precisamente a 14 uma de três saídas, à época devidamente -se à preparação do navio, que ainda no dia de julho de 1959, o Guanabara largava para equacionadas e ponderadas: prosseguir com 4 de julho de 1948 deixou o porto de Bre- a última navegação. Fundeou no dia seguinte a sua utilização em grandes viagens oceâ- merhaven, a reboque, rumo ao Rio de Janeiro. junto à ilha Francisca, onde embarcaram os nicas, com os perigos daí decorrentes; optar Para este serviço, foram contratados, no porto alunos do Colégio Naval, suspendendo ainda por viagens de instrução mais curtas e essen- holandês de Ijmuiden, o rebocador Noord- nesse mesmo dia. Atracou no porto de Vitória cialmente costeiras, de forma a minimizar os -Holland bem como uma tripulação reduzida. no dia 18 e dali largou dois dias depois. Che- riscos, mas que não teriam grande utilidade Curiosamente, o preço pago pela operação de gou ao Rio de Janeiro no dia 21, onde atracou prática; ou, em alternativa, avançar para a reboque foi exatamente o mesmo pelo qual o pelas 15h45, completando, assim, a última construção de um novo navio-escola. Se a navio havia sido transacionado, ou seja, 5.000 viagem com a bandeira do Brasil. primeira hipótese colocava riscos difíceis de dólares americanos. O que, por si só, atesta Em cerca de treze anos ao serviço da Mari- assumir, a segunda tornava as viagens de ins- bem o seu valor simbólico. nha do Brasil, o Guanabara efetuou um total trução pouco proveitosas e quase inúteis, ao No dia 6 de agosto, ao fim de 33 dias de de 79 viagens, incluindo as pequenas saídas passo que a terceira, face aos custos inerentes, viagem, o navio entrava pela primeira vez na de caráter técnico. Percorreu, neste período, não foi sequer considerada. Por conseguinte, baía de Guanabara. Depois de cuida- quando surgiu a hipótese de aquisi- dosamente inspecionado, foi cumpri- ção do Guanabara, esta foi de pronto do um rigoroso período de fabricos, vista como uma excelente oportu- com vista a dotá-lo de todas as con- nidade. Viria, no entanto, a revestir- dições para desempenhar as funções -se de inúmeras peripécias até à sua de navio-escola. Recebeu o nome concretização. Guanabara e a cerimónia de incor- Marinha do Brasil Arquivo Em 1959 o Dr. Theotónio Pereira poração na Marinha do Brasil teve (1902-1972), então Ministro da Pre- lugar a bordo no dia 27 de outubro sidência, teve conhecimento de que de 1948, presidida pelo Presidente a Marinha Brasileira havia parado da República, General Eurico Gaspar o Guanabara, e que estaria, even- Dutra (1883-1974). Por esta ocasião, tualmente, na disposição de vender o Capitão-de-fragata Pedro Paulo de o navio. Amante do mar e da nossa Araújo Suzano (1903-1978) tomou cultura marítima, entendia que não posse como primeiro comandante do se deveria, de forma alguma, pôr fim Guanabara. à existência de veleiros na Marinha Durante o período em que nave- Portuguesa. Foram então encetados gou com a bandeira brasileira, o Gua- os primeiros contactos, com vista nabara manteve como figura de proa a saber quais as condições exigi- a águia alemã do Albert Leo Schla- das para a sua aquisição. Quando geter, à qual foi retirada a cruz suás- se soube que o próprio presidente tica no brasão existente na sua base. do Brasil, Juscelino Kubitschek de Mantiveram-se, igualmente, as duas Oliveira (1902-1976), pretendia ofe- peças de artilharia antiaérea (76mm/ recer o navio a Portugal, tudo pare- L63) do período alemão localizadas ceu muito bem encaminhado. Não no castelo à proa, que foram regu- se concretizando de imediato a sua larmente utilizadas pelos alunos e transferência devido a circunstân- pela guarnição do navio nas viagens cias várias, pouco tempo depois de instrução, para exercícios de tiro. Cadetes em exercício de tiro a bordo do Guanabara. Jânio Quadros (1917-1992) foi eleito Tanto a águia alemã como as duas peças de cerca de 65 000 milhas em 861 dias de mar e presidente do Brasil. Rodeado por algumas artilharia só foram substituídas depois de Por- apenas não navegou no ano de 1958. pessoas que defendiam a manutenção do tugal adquirir o navio. A 30 de novembro de 1960 o navio-escola Guanabara na Marinha Brasileira, e mesmo Na sua primeira viagem, o Guanabara visi- Guanabara era formalmente abatido ao efeti- a sua recuperação para voltar a navegar, o tou o porto de Recife, depois de largar do cais vo dos navios da Marinha Brasileira. A para- presidente Jânio Quadros desistiu da inten- da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, a 8 de gem do Guanabara foi o corolário de uma ção do seu antecessor de oferecer o navio dezembro de 1948, debaixo de um violento política iniciada em 1954, com vista a pôr a Portugal. Em qualquer dos casos, importa temporal. Terminado o mau tempo, foi efetua- fim à existência de navios de vela na Mari- sublinhar que durante o seu curto mandato da a compensação das agulhas magnéticas de nha do Brasil. foi tomada a decisão de vender o navio, bordo e o pano foi caçado pela primeira vez Naquela época, em Portugal, eram muitos talvez pelo facto de existir um princípio de dois dias mais tarde. os que preconizavam também o fim dos velei- acordo entre as autoridades dos dois países. Ao serviço da Marinha do Brasil, o navio- ros na Marinha Portuguesa. Os apologistas Esta circunstância terá inibido, por si só, uma -escola Guanabara efetuou inúmeras viagens desta corrente, consideravam que se deve- alteração dos planos por parte do governo de adaptação e de instrução com os guardas- ria apostar numa renovação virada para um brasileiro. Além disso, a orientação da Mari- -marinhas e aspirantes da Escola Naval bra- navio-escola com outras características e mais nha Brasileira ia, como referimos, no sentido sileira, mas também com alunos do Colégio moderno. Os que defendiam a sua manuten- de pôr termo aos navios de vela, razão pela Naval e da marinha mercante. Serviu ainda, ção, apontavam o facto de um número cres- qual, do outro lado do Atlântico, a venda do por vezes, como meio de transporte de mili- cente de marinhas terem ao serviço navios- Guanabara ia de encontro à opção que mui- tares para as diferentes escolas de formação -escolas veleiros, sublinhando que, três anos tos advogavam. Desta forma, foi estabelecida situadas ao longo do extenso litoral brasilei- antes, em 1958, a própria Marinha Alemã a quantia de 150.000 dólares americanos ro, tendo sido utilizado na representação da havia construído de raiz o seu Gorch Fock, de – 4.500 contos à época – pela qual o navio Marinha do Brasil nos mais variados even- acordo com os mesmos planos dos seus anti- seria transacionado.

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2012 9 Em Portugal, quando foi tomada a decisão (1898-1992), que de forma sagaz colocou um privilégio de realizar mais de uma viagem. de adquirir o Guanabara, o Dr. Theotónio ponto final nesta questão: Coube a primazia aos cadetes do curso Luís Pereira, Ministro da Presidência, e o Dr. Fran- «A um navio que vem manter uma tradi- de Camões (1960), logo em 1962. No ano co Nogueira (1918-1993), Ministro dos Negó- ção, deve, igualmente, manter-se o nome. A seguinte, o NRP Sagres esteve pela primeira cios Estrangeiros, lideraram, no seio do gover- tradição da navegação à vela, a tradição do vez em Kiel, na Alemanha, tendo recebido a no português, as ações com vista a angariar a nome Sagres. Os navios, como os homens, bordo o Vizeadmiral Bernard Rogge (1899- verba necessária, gorada que estava a hipótese criam predilecções populares. Pela própria 1982), que havia sido o primeiro comandante de o navio ser oferecido. natureza da sua missão, o navio-escola à vela do Albert Leo Schlageter. Ainda antes da formalização da Desde então para cá, o navio-esco- venda do navio, seguiram para o Rio la Sagres apenas não efetuou viagens de Janeiro o Primeiro-tenente Ferreira Sagres de instrução em 1987 e 1990, por se da Apresentação e o Primeiro-sargento encontrarem em curso, respetivamente, António de Sá Oliveira, com o objetivo a primeira e segunda fases da grande de avaliar e coordenar a sua reparação. NRP Arquivo reparação. Foram, como se sabe, o primeiro enge- Na grande maioria dos portos, o navio nheiro e o primeiro mestre do navio. é, por norma, visitado por muitos milha- Formalmente adquirido ao Brasil a 10 res de pessoas, constituindo-se como de outubro de 1961, o Guanabara veio veiculo privilegiado para a divulgação da substituir o antigo navio-escola homó- nossa cultura e afirmação de Portugal no nimo, em virtude do seu avançado mundo cada vez mais globalizado em estado de degradação. De referir que que vivemos. Neste particular, importa quando o atual navio-escola Sagres relembrar, a título de exemplo, alguns foi adquirido ao Brasil, era ainda um números de visitantes registados a bordo, navio relativamente novo, pois contava que certamente nos ajudam melhor a apenas 24 anos. refletir sobre esta questão: viagem de Na viagem aérea até ao Brasil, daque- 1992 (185 000); Expo’98 (235 000) via- le que viria ser primeiro comandante gem do ano 2000 (133 000); estadia do navio, o Capitão-tenente Silva Horta em Rouen em 2003 (102 000); e volta (1920-2012), ocorreu um grave aciden- ao mundo em 2010 (300 000). Além te. Pelas 2h12 do dia 1 de novembro, dos muitos milhares de visitantes que na aproximação ao aeroporto de Recife, habitualmente recebe em cada porto, o o avião onde este seguia, com mais 12 navio-escola Sagres é também motivo de homens da futura guarnição, embateu orgulho para os portugueses que vivem num pequeno morro que se encontrava além fronteiras. a cerca de 5 quilómetros da cabeceira O Dr. Theotónio Pereira, no seu iate Bellatrix, numa foto que Além dos milhares de visitantes anó- ofereceu à Sagres em 1962, com dedicatória. da pista. Quando se despenhou, o apa- nimos, nestes 50 anos o NRP Sagres teve relho sofreu graves danos e incendiou-se, aca- da Marinha Portuguesa está na alma dos Por- também o privilégio de acolher a bordo inúme- bando por explodir ao fim de algum tempo. tugueses. É natural, é compreensível, que o ras personalidades, portuguesas e estrangeiras, Dos futuros elementos da guarnição da Sagres nome se mantenha, já que a tradição não se destacando-se, meramente a título de exemplo, todos se salvaram, à exceção do Primeiro- perde também». Amália Rodrigues (1920-1999), Fernando Pessa -sargento Ilídio Manuel da Costa (1914-1961). No dia 25 de abril, concluídas as repara- (1902-2002), Manoel de Oliveira, Alan Villiers Aliás, entre a queda do avião e a explosão, ções e efetuadas as imprescindíveis provas de (1903-1982), Bernard Rogge (1899-1982), que ocorreu ainda antes de Roger Chapelet (1903-1995), chegar ajuda, o Comandante Helmut Schmidt, o duque de Silva Horta e os que se encon- Edimburgo, os atuais­ reis da travam em melhores condições Bélgica, os reis da Suécia, os ajudaram a resgatar os restantes reis de Espanha e os Presidentes camaradas e muitos dos pas- da República Ramalho Eanes, sageiros gravemente feridos a Mário Soares, Jorge Sampaio, bordo do avião em chamas. Cavaco Silva, Joaquim Chissano

Não obstante, de um total de Apresentação da Ferreira CALM Arquivo (Moçambique), Fernando Hen- 88 pessoas que seguiam no voo rique Cardoso e Lula da Silva da Panair, só 36 sobreviveram. (Brasil), a Rafael Correa (Equa- A 8 de fevereiro de 1962, dor) e Ramos Horta (Timor- no Rio de Janeiro, teve lugar a -Leste). bordo a cerimónia de aumento Nos atuais tempos de incer- do NRP Sagres ao efetivo dos teza e temor em que vivemos, navios da Armada, nove dias o NRP Sagres subsiste como depois de publicado em porta- imagem de prestígio associa- ria. Este desencontro de datas da a Portugal. Por conseguinte, ficou a dever-se ao facto de só O Vizeadmiral Bernard Rogge, primeiro Comandante do Albert Leo Schlageter a bor- no seu cinquentenário estão de do da Sagres em Kiel, em 1963, com o Primeiro-tenente­ Ferreira da Apresentação. na véspera se terem apresen- parabéns o navio e o país, mas, tado os 101 elementos da guarnição ainda mar, o navio-escola Sagres largou do Rio de sobretudo, a Marinha, por ter sabido, com em falta, que viajaram de Lisboa a bordo da Janeiro com destino a Lisboa, onde chegou a enorme perseverança e ao longo de décadas, fragata Corte Real. 23 de junho, depois de fazer escala no Recife, edificar um símbolo que engrandece Portugal, Relativamente ao nome a atribuir ao navio, Mindelo e Funchal. Daí para cá, realizou 3 motivo de orgulho dos portugueses. a escolha também não foi pacífica. Coube a voltas ao mundo (1978-1979, 1982-1983 e  última palavra ao Ministro da Marinha, Con- 2010) e embarcou cadetes de 50 cursos da CFR António Manuel Gonçalves tra-almirante Quintanilha Mendonça Dias Escola Naval, sendo que alguns tiveram o Membro do CINAV

10 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA RecordaçõesRecordações dada SagresSagres

o ano das comemorações do cinquen- defendida pelo Brasil nas votações da Assem- contravam as conversações para a compra do tenário da Sagres ao serviço da Mari- bleia Geral da ONU. Após a posse do doutor veleiro, tendo o Ministro retorquido que se a nha Portuguesa, fui convidado pelo Jânio Quadros, o Brasil optava pela abstenção. Marinha achava que seria uma boa solução NDiretor da Revista da Armada, CALM Roque As relações diplomáticas entre os dois Gover- a área financeira do Governo prestaria todo Martins, a escrever um pequeno artigo sobre nos alteraram-se substancialmente. o apoio necessário. a minha passagem pela guarnição do navio. Em Janeiro de 1961, destaquei para a Sagres, Com a mudança do Governo no Brasil, Lembra-me que teria algum interesse recordar a fim de assumir as funções de chefe do servi- pelas razões políticas anteriormente expos- quem foram as pessoas que mais contribuíram ço de máquinas. O navio estava atracado no tas, as conversações pararam. Durante al- para a aquisição do navio e alguns aconteci- cais de Xabregas e nele funcionava a Escola guns meses não houve qualquer evolução e mentos, pouco conhecidos, que sucederam de Marinharia da Armada. Eram ministra- o sentimento geral que havia na guarnição até à sua integração na Marinha. dos cursos de formação para marinheiros e da Sagres era que a aquisição do Guanabara A compra da Sagres resultou de uma coin- sargentos da classe de manobra. Devido ao era muito improvável. cidência feliz. A antiga Sagres, em 1960, es- seu estado de degradação, a Marinha consi- Por não haver, na altura, um navio dispo- tava muito degradada. O seu nível para efetuar a viagem de estado geral não aconselhava, instrução dos cadetes da Esco- como medida de segurança, la Naval do curso ”D. João I”, que continuasse a navegar. Por a Sagres, já sob o Comando do outro lado, a Marinha Brasilei- Capitão-tenente Silva Horta, ra tinha decidido pouco tempo recebeu instruções para se pre- antes acabar com os seus velei- parar para a realizar. Foi uma ros. Dispunha de dois navios à viagem com estadia em portos vela, o Almirante Saldanha e o do Continente e do Arquipéla- Guanabara. O primeiro era um go da Madeira. navio em muito bom estado Quando o navio se encontra- que foi transformado em navio va em Porto Santo, inesperada- oceanográfico. O Guanabara ti- mente, chegou uma mensagem nha na altura um futuro inde- para que o chefe do serviço de finido. Conhecedor desta situ- máquinas e o mestre, sargen- ação, o doutor Teotónio Pereira, to António Oliveira, partissem pessoa muito ligada aos assun- Cerimónia do arriar da bandeira do Brasil em 10OUT1961 a bordo do NE Guanabara. para Lisboa a fim de acompa- tos da vela, proprietário de um nharem o Comandante Tengar- iate e frequentador de regatas, rinha na viagem para o Brasil. na altura Ministro da Presidên- Na nossa primeira visita ao cia, contactou o Presidente do Guanabara, o veleiro encontra- Brasil, Juscelino Kubischek de va-se atracado ao cais no Arse- Oliveira, no sentido de saber nal de Marinha do Rio de Janei- se o Brasil estava na disposição ro. Dispunha de uma guarnição de vender o navio a Portugal. A reduzida, mas suficiente para resposta foi afirmativa e cons- que a entrega decorresse sem tava, na altura, que tudo faria problemas. para o oferecer a Portugal. Em 10 de Outubro de 61, no Em meados de 1960, o Gabinete do Ministro da Mari- Coman­dante da Sagres, Capi­ nha do Brasil, foi formalizada a tão-de-fragata Tengarrinha escritura do contrato de venda Pires, acompanhado pelo en- do Guanabara a Portugal pela genheiro construtor naval Cal- quantia de 150.000 dólares ame- deira Saraiva, deslocam-se ao ricanos. Foi, como é evidente, Rio de Janeiro para avaliarem um preço simbólico. Seguiu-se o estado em que se encontrava cerimónia do arriar da bandei- o navio. A conclusão foi que o ra do Brasil a bordo do navio. Guanabara seria um bom subs- Finalmente, a nossa Marinha tituto para a Sagres como navio- acabava de adquirir um navio -escola. Eram, apenas, necessá- à vela, para substituir a “velha” rias algumas transformações ao nível de salas derou que não era aconselhável que voltasse Sagres, nas atividades de navio-escola. Os 50 de aula e pequenas reparações na instalação a navegar. Admitia-se que brevemente uma anos de bons serviços prestados à Marinha e de máquinas, necessárias para o navio fazer parte da guarnição partiria para o Brasil para ao País pela atual Sagres que agora se comemo- uma viagem segura para Lisboa. ir buscar o Guanabara. ram, vieram provar que a aquisição do Guana- Em fins de 1960, realizam-se no Brasil elei- O doutor Teotónio Pereira considerou, na bara foi uma decisão­ acertada. ções para a Presidência da República. O Pre- altura, que seria importante para a aquisição Algumas das datas anteriormente citadas sidente Kubischek já não podia concorrer por do Guanabara o envolvimento no processo do foram tiradas da excelente obra “Sagres cons- ter atingido o limite de mandatos. As eleições ministro das Finanças, professor Pinto Barbo- truindo a lenda”, da autoria do Comandante foram ganhas pelo doutor Jânio Quadros que sa. Sugeriu ao Comandante Tengarrinha Pi- António Manuel Gonçalves. tinha da política ultramarina portuguesa uma res que o convidasse a visitar a Sagres. Assim  opinião muito diferente. No mandato do Pre- aconteceu. Durante o almoço, o Comandante Victor Apresentação sidente Kubischek, a posição portuguesa era Tengarrinha expôs a situação em que se en- CALM EMQ

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2012 11 SAGRES OS PRIMEIROS ANOS partir de 2008, tornou-se particular- sado permitiu-me compreender melhor o Depois da entrega formal, os primeiros mente difícil escrever seja o que for Comandante Joaquim Costa, no seu livro movimentos do navio, já sob bandeira por- acerca da SAGRES e da sua histó- “Cartas de Tempos Idos – No Navio Es- tuguesa, foram todos relacionados com os Aria, pela simples razão de que já está tudo cola “Sagres” (Ed. Livros de Portugal SA trabalhos a efetuar pelo Arsenal da Mari- escrito e bem escrito. Rio de Janeiro - 1959), no qual relata a sua nha do Rio de Janeiro: em 26/02/1962, foi Voltar ao tema é correr o risco duma re- vivência de um “tempo” correspondente da muralha para a doca seca, onde perma- petição, rés-vés com o plágio, se não das àquele a que aqui me refiro, mas relativo neceu até 21/03; de 27/03 a 03/04, esteve palavras, pelo menos dos temas e do relato à Sagres anterior e às suas primeiras via- atracada primeiro ao cruzador Tamanda- que o Comandante António Gonçalves fez gens, nos anos vinte do século passado. ré, depois ao Barroso; depois, em abril, na no seu magnífico livro “SAGRES bóia, em frente à Ilha das Cobras - Construindo a Lenda”: está lá (16/04). Dois dias depois, Praça tudo o que possa interessar acer- Mauá, a que se seguiu a regulação ca do navio, o que torna redun- de agulhas (19/04); e finalmente, dante ou muito difícil acrescentar às 15.30 de 25 de Abril de 1962, algo de novo, tão completa é a sua partida para Lisboa, com escala descrição. prevista em S. Vicente e Funchal Era nisto que eu ia pensando, – previsão que se veio a alterar, à medida que o autocarro seguia como veremos adiante. a caminho da Junqueira, onde no Fique registada a identidade do Arquivo da Marinha tencionava primeiro oficial a entrar de quar- dar uma vista de olhos no proces- to nesta viagem: o Tenente Vilas so da Sagres, na esperança de en- Boas, da Reserva Naval, um “ofi- contrar alguma coisa que pudesse cial de mão cheia”, muito sabedor, ajudar-me a escrever estas linhas. dedicado ao serviço, jovial, educa- O Arquivo da Marinha tem uma díssimo - enfim, um daqueles que organização excelente, com a efi- qualquer câmara de oficiais sem- cácia discreta dos mecanismos pre deseja ter a bordo. que não são apenas “para vista” Depois, na rotina habitual duma e que realmente funcionam: num travessia longa, lá fomos seguin- instante me foi entregue, com ou- do em demanda de S. Vicente de tros documentos, o primeiro Diá- Cabo Verde – destino que se alte- rio Náutico da Sagres - “numerado rou inesperadamente, já em prin- e rubricado pelo Dr. António Pedro cípios de Maio, devido a doença Cabral de Abreu para registo da na- grave do Ten. Moitinho de Almei- vegação deste navio, em 26/02/1962” da, que teve que ser hospitalizado – bem como outros documentos no Recife, obrigando a uma arri- relativos aos primeiros passos da bada a esse porto. terceira etapa da sua vida no mar Recomeçou a viagem em 21 de - imediatamente posterior aos pe- Maio; cinco dias depois cruzáva- ríodos “brasileiro” e “alemão” de mos o Equador, com a habitual um passado cujo início se reporta solenidade e a visita do Rei dos aos anos trinta e quarenta. O Comandante Silva Horta no tombadilho da Sagres após a baldeação. Mares; e em 2 de Junho a Sagres Aos oitenta e tal anos, já não temos a frie- É curiosa a semelhança transtemporal na entrava, finalmente, no seu primeiro por- za pragmática da juventude: “sentimos” atitude de relacionamento dos marinhei- to português: Mindelo, S. Vicente de Cabo para além daquilo que “vemos”, fazendo ros com os seus navios, confirmando a pe- Verde, ao qual viria a ficar para sempre “li- associações de imagens e de lembranças renidade de um comportamento cuja ori- gada” por elos muito especiais. perante factos que, quando ocorreram, gem se perde na noite dos tempos, e que Isto da “ligação” de navios a portos é eram apenas isso mesmo: meros factos, por certo perdurará enquanto o homem talvez um sentimentalismo subtil; mas completamente neutros do ponto de vista navegar: Joaquim Costa revela factos e sen- os velhos marinheiros, para quem escre- afetivo e limitados à expressão seca da sua timentos datados de 1927 que, não apenas vo estas linhas, compreendem bem o que concreta materialidade. no essencial, coincidem com os daqueles quero dizer, pelo que me dispenso de dar Por isso, foi com alguma emoção que que, em 1962, foram ao Brasil buscar outro mais explicações. reli, a cinquenta anos de distância e num navio com o mesmo nome! Tema interes- No caso da Sagres (aliás, das duas Sa- contexto global totalmente diferente, pala- sante para a ele voltar um dia!.. gres) Mindelo é, sem dúvida, o seu porto vras tão simples e inócuas como as clássi- Mas concentremo-nos, por agora, no que de registo “afetivo”, tantas e tantas vezes cas expressões “Tempo, mar e navegação do se passou em 1962. Quanto aos “anteceden- escalado por qualquer delas. Bem o revela Diário”, seguidas de referências sintéticas tes” (negociações para a aquisição do navio, a imortal morna de B. Leza, “Selô Selô, é a “ventos, velas, velocidades, rumos, avista- sua entrega, reparações) consta-me haver já barca Sagres…” dedicada à primeira, mas mentos”, e todas as demais mil e uma coisas um excelente texto do Engº Apresentação – o apropriada, por osmose, pela segunda, a que se registavam no Diário Naútico - in- competentíssimo e incansável Chefe do Ser- bordo da qual, anos mais tarde, daria o cluindo a loiça partida “devido ao balanço”, viço de Máquinas, que sempre conseguia seu primeiro espetáculo público formal para acertar o inventário do despenseiro… persuadir a “bichana” - a alcunha do motor essa grande artista que se chamou Cesá- Curiosamente, este mergulho no pas- – a dar o seu melhor, quando era preciso… ria Évora.

12 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA Nessa escala e durante uma es- Tive o privilégio de servir, em tadia de cinco dias se reforçaram qualquer das Sagres, sob as ordens ligações cuja memória havia de de comandantes notáveis; mas perdurar no tempo; e que, disso quero deixar aqui uma referência estou certo, não só ainda hoje per- muito especial ao Almirante Silva manece viva como assim se conti- Horta, lembrando a forma natu- nuará a manter no futuro. ral e espontânea como exercia a Em 08/06 seguimos para o Fun- sua extraordinária liderança, em chal, onde chegámos nove dias de- quaisquer circunstâncias, formais pois para uma curta estadia. ou informais, o que lhe granjea- Finalmente, em 18 de junho de va ilimitado e merecido respeito, 1962, cerca das 18.00, Lisboa, fun- consideração e amizade de todos deando em frente do Terreiro do os que serviam sob as suas ordens! Paço. Por coincidência, o último Não me restam dúvidas de que o oficial de quarto foi o mesmo que treino de vela continuará a ser im- iniciara a viagem dois meses an- portante na formação dos homens tes - o Ten. Frederico Vilas Boas. do mar, não pela “destreza” e “de- Seguiu-se um período de fabri- sembaraço” que se diz que propor- cos, durante o qual se executaram ciona – nada disso… O que tenho em beneficiações mais completas do mente é, pelo contrário, o facto de le- que as realizadas no Brasil, que var a aprender a “respeitar o mar”, a apenas se destinavam a garan- ter a humildade de reconhecer que tir a segurança na viagem para “a técnica não vence tudo” e que Portugal. “há regras que têm que ser sempre Concluídas essas reparações, cumpridas” - mesmo nesses gran- que puseram o navio como novo, des “empreendimentos turísticos começaram as viagens de instru- flutuantes” que por aí andam, com ção de cadetes: a primeira ao Fun- muitos “andares”, casinos, piscinas, chal, S. Vicente e Guiné; e a seguir lojas e mais de 100.000 toneladas de Ferrar do pano na Sagres em St. Malo, 1963. mais duas, para destinos pouco deslocamento - mas tão sujeitos a fi- usuais: uma para St. Malo e Kiel, outra ira do editor para um rápido balanço final car com o pano às costas ou a fazer da quilha para Passages, na Biscaia. da experiência de vários anos de embarque portaló como uma hipotética barca mal go- Qualquer delas daria para escrever um na Sagres, e de muitas viagens que nela fiz, vernada e com o oficial de quarto desatento! texto maior do que este, tantas e tamanhas algumas das quais inesquecíveis pelas cir- O mar é mais forte que nós, e acaba sem- as novidades que nos proporcionou esse cunstâncias e vivências que proporcionaram. pre por sair vencedor! ano de 1963. A ambas se refere com rigor Na altura em que começo a “aparelhar” (Imodestamente, plagiando Gago Coutinho) e minúcia, o livro do Cte. António Gonçal- para a Grande Viagem, aquela de onde não ves, para o qual remeto. se regressa, lembro esses tempos como os G. Conceição Silva Reservo os centímetros de página que por- mais fecundos e felizes da minha carreira Ex-Tenente de Veleiros ventura ainda me restem sem incorrer na como oficial da Armada. 

BRASÕES DO NRP SAGRES

8/2/1962 a 28/1/1976 28/1/1976 a 7/4/1993 desde 7/4/1993

Desenhos José Cabrita

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2012 13 Almirante Henrique da Silva Horta Alma de Marinheiro, líder carismático, trato de diplomata

«Um navio de vela tem muita beleza própria, não se desactualiza e é o único que pode representar, sem ser objecto de comparações melindrosas, a pequena Marinha de um país pequeno, num porto de um qualquer país, grande e poderoso»1.

ilho de Henrique Guilherme Bastos Municipal de Bissau. «Oficial de pequena patente Brest/Las Palmas em 1958. O então Primeiro- Horta e de Armandina Augusta da mas com excepcionais qualidades de iniciativa e -tenente Silva Horta desempenhou igualmen- Silva, o Vice-almirante Henrique Afon- execução», foi responsável pelo «notável incre- te, por inerência, durante cerca de dois anos e Fso da Silva Horta nasceu em Lisboa a 21 mento dos serviços e condições de navegabilidade meio, até 29 de outubro de 1960, os cargos de de setembro de 1920. Depois de viver boa e segurança das embarcações, balizagem e demais diretor de instrução da Escola de Marinharia e parte da infância e juventude em Lourenço assinalamento marítimo», que até então consti- de secretário escolar do Grupo n.º 1 de Escolas Marques, Moçambique, regressou a Lisboa tuiam um «pesadelo para os capitães dos navios da Armada. Promovido a capitão-tenente a 24 onde completou os estudos secundários no que aportavam à Guiné». de maio de 1959, frequentou em 1960-1961 o liceu Pedro Nunes. Como era prática naque- Regressou da Guiné para no dia 12 de Curso Geral Naval de Guerra (CGNG), que la época, «assentou praça no Exército como setembro de 1955 assumir o cargo de ofi- terminou como primeiro classificado, tendo, soldado cadete» em 31 de julho de 1940. Foi cial imediato do aviso Gonçalves Zarco, que por isso, sido distinguido com o prémio Almi- posteriormente transferido para o serviço exerceu até 7 de maio de 1957. No exercício rante Botelho de Sousa. da Armada, a 16 de Setembro, integran- daquelas funções, importa sublinhar o seu Concluído o CGNG, assumiu o comando do o curso D. João IV da Escola Naval, da antiga Sagres no dia 26 de junho de onde pontificavam nomes como Rogé- 1961, que oficialmente exerceu até 31 rio Silva de Oliveira, Joaquim Soeiro de de janeiro de 1962. Em regime de acu- Brito e Eduardo Serra Brandão. Ainda mulação, entre 1 de novembro de 1961 como cadete, efetuou na antiga Sagres, e 8 de fevereiro de 1962 chefiou a Missão nome que haveria de se tornar sinóni- de Recepção do NE “Guanabara”, altura mo do seu navio de eleição, duas via- Histórico da Marinha Arquivo em que seguiu para o Brasil na compa- gens de instrução, em 1940 e 1941. nhia de outros 12 elementos da futura Promovido a guarda-marinha a 16 guarnição do atual navio-escola Sagres. de setembro de 1943, encetava, pouco E foi precisamente à chegada ao Brasil depois, um período de embarque de que o então Capitão-tenente Silva Horta cerca de dois anos, com passagem pelos viveu o acontecimento mais dramático contratorpedeiros­ Douro, Tejo e Vouga, da sua vida, quando o avião onde via- pelos avisos Bartolomeu Dias, João de java se despenhou. Em estado de cho- Lisboa e Afonso de Albuquerque, e pela que, uma parte dos passageiros que se canhoneira Zaire, que o levou a para- encontravam na parte traseira do apare- gens como S. Tomé, Angola, Moçambi- lho, nomeadamente os militares portu- que, Guiné e Cabo Verde. gueses, saíram ilesos. Uma vez a salvo, A 17 de abril de 1945, já segundo- perceberam que o aparelho em chamas -tenente, assumiu o comando do navio poderia explodir a qualquer momen- patrulha Santa Maria, que exerceu até 14 to. Foi assim que, sob a liderança do de outubro do ano seguinte, em missão Capitão-tenente Silva Horta, arriscaram nos Açores. No louvor que lhe foi dado as suas vidas para resgatar os passagei- pelo Comandante da Defesa Marítima da ros que se encontravam feridos e presos O Guarda-marinha Silva Horta. Horta, quando concluiu o seu primeiro nos destroços do avião, libertando-os e comando no mar, pode ler-se que «pela com- contributo decisivo para a otimização da orga- arrastando-os, por entre as chamas, para um petência e desembaraço demonstrados no exercício nização implementada a bordo, que se refletiu local seguro. Muito antes da chegada das do seu comando fazem supor ter na sua frente uma «no elevado rendimento militar do navio durante equipas de socorro ao local, o que restava do brilhante carreira profissional». a campanha na Índia», onde o Gonçalves Zarco avião acabou por explodir. Só por essa altura No período compreendido entre 1 de permaneceu cerca de um ano, entre 31 de o Capitão-tenente Silva Horta deu conta que novembro de 1946 e 14 de março de 1950, outubro de 1955 e 26 de setembro de 1956, aquele seria o dia de maior ventura da sua esteve como oficial de guarnição na antiga como resposta do governo português ao blo- vida, por muitos anos que vivesse. Recor- Sagres, primeiro como «encarregado da pilota- queio imposto pela União Indiana. Foi ainda dou então que ainda em Lisboa, depois de gem» e, posteriormente, como oficial imediato, oficial imediato do contratorpedeiro Douro, tomar o seu lugar, uma senhora lhe tinha sendo ainda de realçar a sua ação enquanto entre julho de 1957 e março do ano seguinte, vindo perguntar se ele se importava de tro- instrutor da Escola de Marinharia, que nessa que acumulou, de passagem, com idênticas car consigo, uma vez que não se sentia con- época funcionava a bordo do navio. funções no aviso João de Lisboa. fortável a viajar na parte traseira do avião, ao Depois de uma fugaz passagem pela Supe- Completada a frequência do curso de Con- que ele, gentilmente, acedeu. Importa referir rintendência dos Serviços da Armada, seguiu trole Naval da Navegação, a 14 de março que foi exatamente pelo local onde se havia para a Guiné, onde a 10 de abril de 1950 assu- de 1958 regressava de novo ao seu navio de inicialmente sentado que o avião se partiu, miu os cargos de Capitão dos Portos e Chefe eleição como oficial ime­diato, cabendo-lhe, morrendo de imediato todos quantos aí se dos Serviços da Marinha daquela província desde logo, a importante tarefa de coordenar encontravam. De um total de 88 pessoas que ultramarina. Promovido a primeiro-tenente a a preparação da antiga Sagres para a segunda viajavam no voo da Panair – 9 tripulantes e 31 de março de 1953, exerceu aquelas funções edição das regatas organizadas pela Sail Trai- 79 passageiros, dos quais 3 eram crianças – durante cinco anos, mais concretamente até 5 ning Association (STA). A sua ação, saber e lide- só 36 sobreviveram. de junho de 1955, a que somou ainda, durante rança, constituíram trunfos decisivos para que Relativamente à ação do Comandante Silva cerca de dois anos, a presidência da Câmara o navio alcançasse o primeiro lugar na regata Horta no auxílio dos demais passageiros, o 14 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA Coronel Joaquim da Luz Cunha, na altura Em 1964, depois de em Porto Santo o NRP de Guerra Naval, em Madrid. Foi promovido a Adido Militar junto da Embaixada de Portu- Sagres ter servido de palco à rodagem do filme capitão-de-fragata a 26 de maio de 1966. gal no Brasil, escreveu no seu relatório: As Ilhas Encantadas, protagonizado por Amá- Esteve depois, durante cerca de três anos, «O comportamento do Capitão-tenente Horta lia Rodrigues (1920-1999), o Capitão-tenente colocado no Estado-Maior da Armada durante o desastre e depois dele foi a figura que Silva Horta levou o navio a estrear-se nas (EMA), entre 11 de dezembro de 1967 e 2 de mais se distinguiu nos primeiros trabalhos de regatas internacionais organizadas pela STA. setembro de 1971, primeiro na 1.ª Divisão e, salvamento, dirigindo e actuando com grande No trajeto entre Lisboa e as Bermudas, seguiu posteriormente, na 2.ª Divisão, sendo que perigo da própria vida, pois havia o risco de explo- a bordo o famoso marinheiro e escritor austra- nesta última foi chefe do Serviço de Informa- são do avião que pouco depois, de facto, se deu. liano Captain Alan Villiers (1903-1982). Obriga- ções Militares (SIM), muito aproveitando do Muitas vidas se devem, contacto que manteve sem dúvida, à sua acção. com o então Como- Para os seus homens tem doro Manuel Pereira sido dum desvelo inexce- Crespo (1911-1980). dível. Todos me fizeram as Foto Monno Rienks Neste mesmo período, mais calorosas referências assumiu igualmente à conduta do Comandante funções docentes em Arquivo CFR António Gonçalves Arquivo Horta, quer passageiros quatro instituições de salvos, quer pessoal do referência do nosso Hospital e da Marinha país: Instituto Superior Brasileira. No noticiário Naval de Guerra (5 de dos jornais têm igualmen- novembro de 1968 a 7 te sido feitos os maiores de setembro de 1971); elogios ao comportamento Escola Náutica (31 de do Comandante Horta». agosto de 1968 a 1 de Pelo comportamen­ outubro de 1971); Ins- t­o corajoso dos seus tituto de Altos Estudos homens, que permiti­ u­ Militares (11 de março salvar muitas vidas, As duas Sagres que o VALM Silva Horta comandou. de 1970 a 7 de setem- o Comandante Silva bro de 1971); e Escola Horta louvou-os a todos no dia 12 de de­­ do a desistir por falta de vento, o navio logrou de Estudos Superiores da Força Aérea (12 zembro. Também ele foi louvado e conde- vencer a regata seguinte, entre as Bermudas de março de 1970 a 7 de setembro de 1971). corado pelo Almirante Chefe do Estado-­ e Nova Iorque. No ano seguinte, o navio fez Entre 1968 e 1970 foi também, por três vezes, ‑Maior da Armada, pelo Presidente da a primeira viagem de instrução ao Brasil, Capitão de Bandeira do paquete Vera Cruz República e pelas autoridades brasileiras. levando a bordo os cadetes do curso Miguel (10 de setembro a 22 de outubro de 1968; 5 Chegado ao Rio de Janeiro, assumiu de Corte-Real. Sob seu comando, que cessou a 29 a 16 de outubro de 1969; e 1 a 13 de outubro imediato a coordenação, durante três meses, de setembro de 1965, o navio-escola Sagres de 1970). dos trabalhos que decorriam no Guanabara, realizou um total de 14 viagens, efetuou 6928 Em 1970 foi nomeado representante da sempre coadjuvado pelo Primeiro-tenente horas de navegação, percorreu 40 606 milhas Marinha na delegação portuguesa enviada Vitor Ferreira da Apresentação e pelo Primei- e embarcou quatro cursos da Escola Naval, à Exposição Mundial de Osaka, que nesse ro-sargento António de Sá Oliveira, que já se sendo que os primeiros três cumpriram duas ano se realizou no Japão, frequentando, no encontravam no Brasil desde agosto. viagens cada. ano seguinte, o curso de Tática Naval para Depois de ter sido o último coman- Comandantes e Imediatos dos Escol- dante da antiga Sagres, a 8 de feverei- tadores Oceânicos e Navios Patrulhas ro de 1962 o então Capitão-tenente e o Maritime Tactical Course, na HMS Silva Horta tornava-se no primeiro Dryad, em Southwich, Inglaterra. Posto comandante do atual NRP Sagres. Sob isto, no dia 31 de março de 1972 assu- seu comando, o navio-escola Sagres miu o comando da fragata Comandante chegou a Lisboa no dia 23 de junho e Sacadura Cabral, que exerceu até 8 de ainda nesse ano realizou a primeira CFR António Gonçalves Arquivo agosto de 1973. Sob seu comando, o viagem de instrução com os cadetes navio apoiou a viagem presidencial da Escola Naval, curso Luís de Camões. que o Almirante Américo Thomaz No ano seguinte, levou o navio ao (1894-1987) efetuou ao Brasil, sendo norte da Europa. Em St. Malo, o NRP ainda de realçar que numa outra oca- Sagres foi distinguido com a meda- sião, debaixo de mau tempo, salvou o lha de homenagem aos Cap-Hornier atuneiro Nuno e toda a sua tripulação. e em Kiel a Sagres recebeu a bordo o Efetuaria ainda uma «missão de sobe- primeiro comandante alemão, o Vize- rania às províncias africanas», durante a admiral Bernard Rogge (1899-1982), qual praticou portos e fundeadouros que sempre considerou este como o em Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, «seu navio». Angola e Guiné, percorrendo cerca de O comandante Silva Horta na camarinha do NRP Sagres. Nesse mesmo ano, o Chefe do Esta- 18 000 milhas. Foi promovido a capi- do-Maior da Armada, Vice-almirante Robo- A 2 de novembro de 1965, o Capitão-tenen- tão-de-mar-e-guerra a 1 de março de 1973. redo e Silva (1903-1987), escrevia a respeito do te Silva Horta assumiu as funções de adjun- Pouco tempo depois, dava conta daquilo que Capitão-tenente Silva Horta as palavras que to para as informações no Gabinete Militar considerava essencial para prestar bom ser- abaixo se transcrevem: do Comando-Chefe das Forças Armadas de viço a bordo, em grande medida suportado «Magnífico oficial cheio de qualidades. Conside- Angola, onde se manteve até 28 de outubro pela sua vasta experiência: «no mar só pode ro-o um dos mais distintos oficiais de que a Armada de 1968, com uma interrupção momentânea, servir bem quando se serve com vontade». dispõe, a quem se poderão entregar toda a espécie de cerca de mês e meio, durante a qual frequen- Concluído o quarto e último comando missões, por mais complexas que sejam». tou o curso de Operações Anfíbias na Escuela no mar, entre 21 de setembro de 1973 e 8 de

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2012 15 junho de 1974 foi Chefe do Estado-Maior do rado para compreender as recentes questões Transitara, entretanto, para a situação Comando Naval do Continente. Deixou estas e desafios colocados pela autonomia dos Aço- reserva a 21 de setembro de 1979, aos 59 funções para assumir o cargo de Governador res, que havia sido consagrada na nova Cons- anos de idade, facto que não o impediu de de Cabo Verde, que exerceu entre 6 de agosto tituição. Neste contexto, importa sublinhar o continuar a prestar ao país os mais elevados e 21 de setembro de 1974. Numa época mar- seu eficiente empenho, simultaneamente firme e relevantes serviços. Com efeito, após ter- cada por grandes convulsões, voltou a passar e discreto, que tornou possível, sem grandes minar as funções de Ministro da República pelo Estado-Maior da Armada (8 de junho a 6 atritos, a transferência dos serviços periféri- para os Açores, assumiu ainda, a convi- de agosto e 21 de setembro a 12 de dezem- te do Presidente da República, General bro de 1974). Neste período conturbado, Ramalho Eanes, durante o seu segundo foi Comandante da Base Naval de Lisboa mandato, a chefia da Casa Militar da Pre- (25 de setembro de 1974 a 17 de março de sidência, entre 28 de abril de 1981 e 10 de 1975); subdiretor do Museu de Marinha (19 março de 1986. Foi, de resto, o único ofi- de maio a 21 de agosto de 1975); e Diretor cial da Marinha que nestes quase 40 anos

do Museu de Marinha (8 de outubro de CFR António Gonçalves Arquivo exerceu aquele cargo. 1975 a 10 de março de 1976). Depois de deixar a Presidência da Em virtude de razões do foro familiar, República, foi Presidente da Comissão passou à situação de reserva, por opção Nacional Contra a Poluição no Mar, entre própria, a 25 de março de 1975. Atendendo abril de 1986 e outubro de 1990. Neste à época conturbada em que se vivia, o país cargo, que exerceu até se reformar, foi e a Marinha não podiam dar-se ao luxo de eleito vice-presidente das Comissões dispensar a sua vasta experiência, os seus Internacionais de Paris e de Londres, valiosos conhecimentos e, sobretudo, a sua sendo a última de âmbito mundial. firme liderança, razões que estiveram na Reformou-se a 21 de setembro de 1990, base do diploma do Conselho da Revo- quando completou 70 anos de idade, lução que, a título excecional, abriu cami- depois de prestar 50 anos de serviço efetivo. nho à sua reintegração na Marinha, a 16 de A 11 de maio de 1988 tornou-se mem- janeiro de 1976. Promovido a comodoro a bro efetivo da Academia de Marinha, na 8 de março desse ano, foi Superintendente Classe Artes, Ciências e Letras, e foi vogal dos Serviços de Pessoal da Armada, entre da respectiva comissão científica entre 12 10 de março e 16 de setembro de 1976, altu- de dezembro de 1991 e 1 de abril de 1992. ra em que ascendeu ao posto de contra- Como escritor, atividade que aprecia- -almirante. Quatro dias depois, assumia o O livro da Sagres da autoria do VALM Silva Horta. va particularmente, dedicava-se espe- cargo de Vice-chefe do Estado-Maior da cialmente a assuntos militares, navais Armada (Vice-CEMA), que desempenhou cos do Estado para a tutela daquela Região e de política internacional, tendo espalha- cerca de dois anos, até 25 de setembro de 1978, Autónoma, contribuindo, assim, para dirimir do a sua colaboração por diversos títulos, durante o qual foi promovido a vice-almiran- os conflitos institucionais que datavam do desi­gnadamente, nos Anais do Clube Militar te. Com efeito, foi o primeiro vice-almirante tempo do seu antecessor. Cumpre sublinhar Naval, na Revista Militar, na revista Defesa a exercer as funções de Vice-CEMA, num que, enquanto Ministro da República para os Nacional, na revista Panorama e na revista período que se revelou crucial para o futuro Açores, e tendo em conta a instabilidade que o Olissipo, sob a forma de artigos, estudos da Marinha. e crónicas. Sócio da Revista Mili- Em julho de 1976, ainda antes de tar desde 1969, foi, durante mui- Sagres serem fixados os quadros do Ins- tos anos, colaborador assíduo da tituto de Defesa Nacional, foi-lhe revista Defesa Nacional e dos Anais confiada a preparação e apresenta- Foto NRP do Clube Militar Naval. Diretor da ção das conferências e exposições Comissão de Redação dos Anais ministradas aos cursos de institui- em 1976, foi responsável pela ções congéneres­ estrangeiras, que se «Crónica Internacional» durante deslocavam a Lisboa. 27 anos, entre 1964 e 1990, tendo Apesar de contar já uma folha de publicado um total de 109 artigos, serviços a diversos títulos notável, que se estenderam por quase 800 o país reservava-lhe ainda as mais páginas! Em 1969 foi distinguido altas funções, para as quais, diga- com o prémio Almirante Barroso. -se, o Vice-almirante Silva Horta se É igualmente da sua autoria o encontrava particularmente habi- texto do livro Navio Escola Sagres litado. Por conseguinte, depois de nas Rotas do Mundo (1990), cujas cessar funções como Vice-CEMA, fotografias são do conhecido fotó- a 11 de setembro de 1978 assumiu grafo Homem Cardoso. Tradu- o cargo de Ministro da República ziu ainda um número apreciável para a Região Autónoma dos Aço- O VALM Silva Horta na última vez que esteve a bordo do navio-escola de livros, versando assuntos de Sagres, a 8 de fevereiro de 2011, ladeado pelos Comandantes Martins e res, que desempenhou durante Silva e Proença Mendes. matemática, história, evolução cerca de cinco anos, até 28 de abril tecnológica, guerra subversiva e de 1981. Para o cumprimento daquelas exi- país então vivia, o Vice-almirante Silva Horta política, tendo igualmente realizado inúme- gentes funções, muito terá contribuído a expe- teve assento em cinco governos. Todos eles, ras conferências sobre temas como a guerra riência que granjeou nos cargos que ao longo sem exceção, lhe renovaram sucessivamente em Angola, a política açoriana e política da sua carreira desempenhou nas antigas pro- a confiança, sendo ainda de realçar o facto de internacional. víncias ultramarinas. através do decreto presidencial n.º 83-A/81, Depois de uma vida plena, quis o desti- Oficial culto e conciliador, mas muito deter- de 7 de julho, ter sido nomeado para presidir no que o Vice-almirante Henrique Afonso minado, encontrava-se, pela experiência entre- à Comissão Consultiva para os Assuntos das da Silva Horta nos deixasse, aos 91 anos, tanto adquirida, particularmente bem prepa- Regiões Autónomas. no passado dia 29 de janeiro. Escassos dez 16 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA dias depois, a 8 de fevereiro, celebra- Lenda, com o qual muito nos honrou, o vam-se os 50 anos do aumento do NRP Vice-almirante Henrique Afonso da Silva Sagres ao efetivo aos navios da Marinha Horta afirmava: Portuguesa e da data em que pela pri- «Nas duas Sagres que conheci na minha meira vez foi içada a bordo a bandeira vida de Marinheiro, estive nelas embarcado de Portugal, mas também o cinquen- cerca de dez anos. Na primeira percorri todas tenário da sua tomada de posse como as funções de cadete a Comandante, durante primeiro comandante do navio. Esteve cinco anos. Na segunda estive outro tanto pela última vez a bordo do «seu navio» DSP - Repartição de Reservas e Reformados tempo, como Co­mandante. Foram sem dúvida no dia 8 de fevereiro de 2011, para um os melhores anos dos cinquenta que vivi na almoço que juntou os antigos coman- Marinha». dantes, por ocasião do 49.º aniversário Demonstrava, assim, mais de quaren- do navio-escola Sagres. No final, o Vice­ ta anos volvidos desde que deixara o ‑almirante Silva Horta escreveu no Livro comando do NRP Sagres, a enorme sau- de Honra as palavras abaixo transcritas, dade e especial afeição que nutria pelo que os demais antigos comandantes navio. No ano em que se celebram os subscreveram: seus 75 anos e os 50 que leva com a ban- «Voltar à “SAGRES” é recordar belas horas deira de Portugal, consideramos que as da minha vida passada. Faz doer mas é muito palavras de Sophia de Mello Breyner bom. Que todos os que por aqui passarem rete- Andresen (1919-2004), e que proposita- nham as mesmas maravilhosas recordações que damente escolhemos para concluir este eu guardo, são os meus votos». artigo de homenagem ao Vice-almirante Como que antecipando a sua despe- O Vice-almirante Silva Horta. Henrique Afonso da Silva Horta (1920- dida, no passado dia 8 de julho de 2011 -2012), parecem ser-lhe dedicadas: o Vice-almirante Silva Horta esteve igual- Em homenagem à memória de um dos mente no EMA, a convite do Vice-CEMA, mais proeminentes oficiais, que durante Através do teu coração passou um barco Vice­‑almirante João da Cruz de Carvalho cinco décadas prestou os mais relevantes Que não para de seguir sem ti o seu caminho Abreu, conjuntamente com outros antigos serviços à Marinha e ao país, o Vice-CEMA  titulares deste cargo, onde assistiu à ses- tomou a decisão de atribuir o nome do CFR António Manuel Gonçalves são evocativa da figura do Vice-almirante Vice-almirante Silva Horta à sua sala de Membro do CINAV Manuel Pereira Crespo, cujo nome foi por reuniões no EMA. Notas essa altura atribuído­ ao auditório do EMA. No prefácio ao livro Sagres, Construindo a 1 Vice-almirante Silva Horta (1990).

CONDECORAÇÕES ALGUNS DOS TRABALHOS PUBLICADOS

- Cruz de 1.ª Classe da Ordem do Mérito Naval (Espanha – 1949) «Crónica Internacional», Anais do Clube Militar Naval, - Cavaleiro da Ordem Militar de Avis (1952) 1964-1990. - Oficial da Ordem Militar de Avis (1954) N. E. Sagres nas rotas do mundo, Lisboa, INAPA, 1990. - Medalha Comemorativa das Campanhas do Exército Português no Estado da Índia 1955/57 (1958) Condução e instrução do pessoal: curso do 2.º grau de manobra, - Comendador da Ordem do Infante D. Henrique (1961) Escola de Marinharia da Armada, 1961. - Comendador da Ordem Militar de Avis (1961) Poluição marítima, Lisboa, Instituto Hispano-luso-americano, - Medalha de Mérito Militar de 2.ª classe (1961) 1985. - Oficial da Ordem do Mérito Naval (Brasil – 1962) Marinha de Guerra: ramo das Forças Armada, Lisboa, Academia - Medalha de prata da Ordem do Mérito Santos Dumont (Brasil – 1964) de Marinha, 1990. - Cavaleiro da Ordem de Mérito Aeronáutico (Brasil – 1964) - Medalha de Mérito Tamandaré (Brasil – 1965) «Vasco da Gama e a cartografia náutica», Panorama, n.º 31, 1969. - Medalha Militar de Serviços Distintos de Prata (1965) - Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas – Norte de Angola 1965-67 (1967) «O lisboeta Gago Coutinho – Marinheiro, aviador e geógrafo», - Medalha Militar de Serviços Distintos de Ouro com Palma (1967) Revista de Marinha, n.º 561, dezembro de 1969, pp. 21-30. - Medalha Militar da Classe de Comportamento Exemplar (1972) «A “Sagres” nas regatas Lisboa-Bermudas», Anais do Clube - Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas – Ultramar 1972-73 (1973) Militar Naval, n.º 94, 1964, pp. 923-928. - Medalha de Mérito Militar de 1.ª classe (1978) «Para uma programação da carreira naval», Anais do Clube - Comendador da Ordem da Legião de Honra (França – 1982) Militar Naval, n.º 102, 1972, pp. 569-571. - Grã-Cruz da Ordem de Santo Olavo (Noruega – 1982) «Para uma marinha com navios», Anais do Clube Militar Naval, - Grã-Cruz da Ordem da Bandeira (Hungria – 1982) n.º 104, 1974, pp. 351-357. - Grã-Cruz da Ordem do Mérito (Itália – 1982) «Navegação à vela», Anais do Clube Militar Naval, n.º 112, 1982, - Medalha Naval de Vasco da Gama (1983) pp. 345-348. - Grã-Cruz da Ordem do Mérito Melitensi (Malta – 1983) «O mundo nos últimos trinta anos», Anais do Clube Militar - Grã-Cruz da Ordem da Bandeira (Jugoslávia – 1983) Naval, n.º 127, pp. 667-678. - Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo (1983) - Grã-Cruz da Ordem da Fénix (Grécia – 1983) PROMOÇÕES - Ordem do Falcão (Islândia – 1983) - Comendador da Ordem do Mérito (Congo – 1984) Cadete 16 de setembro de 1940 - Grau da 1.ª Classe da Ordem de Mérito (Egipto – 1984) Guarda-marinha 16 de setembro de 1943 - Grã-Cruz da Ordem de Leopoldo II (Bélgica – 1985) Segundo-tenente 16 de setembro de 1944 - Grã-Cruz das Ordens do Mérito (Áustria – 1985) Primeiro-tenente 31 de março de 1953 - Grã-Cruz da Ordem de Adolfs de Haussau (Luxemburgo – 1985) - Grã-Cruz da Ordem de Denebrog (Dinamarca – 1985) Capitão-tenente 24 de maio de 1959 - Grande Oficialato da Royal Victorian Order (Reino Unido – 1986) Capitão-de-fragata 26 de maio de 1966 - Grã-Cruz da Ordem Militar de Aviz (1986) Capitão-de-mar-e-guerra 1 de março de 1973 - Medalha Comemorativa do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique (1988) - Grã-Cruz da Ordem do Mérito (Congo – 1988) Comodoro 8 de março de 1976 - Grã-Cruz da Ordem Nacional (Zaire – 1989) Contra-almirante 15 de setembro de 1976 - Medalha da Cruz Naval 1.ª Classe (1990) Vice-almirante 2 de junho de 1977

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2012 17 NRP Sagres 50 Anos, 50 Efemérides omo forma de assinalar os 50 anos do navio-escola Sa- vio no mar Mediterrâneo e a última escala da primeira viagem de gres ao serviço de Portugal, apresentam-se aqui outras circum-navegação (1978-1979). Ctantas efemérides do ex-libris da Marinha, alcançadas sob 25 de abril de 1962 – Dia em que o navio-escola Sagres largou bandeira portuguesa. Importa sublinhar que, no último século, do Rio de Janeiro com destino a Lisboa, na primeira viagem com a o atual NRP Sagres constituiu-se como o único navio da Mari- bandeira de Portugal. Trinta anos mais tarde, em 1992, um Presiden- nha a navegar por período tão dilatado. Com efeito, até à data te da República, o Dr. Mário Soares, encontrava-se pela primeira apenas não efetuou a tradicional viagem de instrução com os vez embarcado para participar numa parte da regata Colombo, no cadetes da Escola Naval em 1987 e 1991, por ter sido sujeito à trajeto Lisboa/Cádis. Seguiam também a bordo o Chefe do Estado- primeira e segunda fases da grande reparação de que foi alvo. -Maior da Armada, Almirante Fuzeta da Ponte, e o Comandante Sem essas intervenções, não teria sido possível cumprir cinco Naval do Continente, Vice-almirante Carmo Duro. décadas a navegar, prestando relevantes serviços a Portugal e à 27 de abril de 1979 – O navio-escola Sagres atravessa pela pri- Marinha Portuguesa. meira vez o estreito de Gibraltar, no sentido leste-oeste, a concluir a primeira viagem de 19 de janeiro de 2010 – Início da terceira volta ao mundo, aque- circum-navegação la que foi a maior viagem alguma vez realizada pelo navio, num (1978-1979). total de 344 dias, que se traduziram em 39 207 milhas percorridas 30 de abril de e 5 400 horas de navegação. Nesta viagem visitou 26 portos em 1962 – Chegada a 18 países, que constituem igualmente dois máximos. Foi também Recife, primeiro por- a única em que o navio cruzou por quatro vezes a linha do Equa- to estrangeiro visi- dor, nos três maiores oceanos do planeta. tado pelo navio-es- 30 de janeiro de 1962 – Data da portaria n.º 18 997, em que o cola Sagres. Neste atual NRP Sagres é aumentado ao efetivo dos navios da Marinha mesmo dia, mas em Portuguesa. No mesmo diploma, a antiga Sagres é classificada 1979, o navio com- como navio-depósito, com o nome Santo André. pletava a sua primei- 8 de fevereiro de 1962 – Cerimónia de incorporação do navio- ra volta ao mundo -escola Sagres na Marinha Portuguesa, que decorreu no Rio de Ja- (1978-1979). neiro. Neste mesmo dia foi içada oficialmente e pela primeira vez 3 de maio de 1963 a bandeira portuguesa. O então Capitão-tenente Silva Horta tomou – Pela primeira vez o posse como Comandante do navio, depois de ter sido o último Co- navio-escola Sagres mandante da antiga Sagres. dobra a mítica pon- 24 de fevereiro de 1979 – Chegada do navio-escola Sagres ao ta de Sagres. Encon- porto de Mormugão, em Goa, durante a primeira volta ao mundo travam-se por essa (1978-1979). Foi o primeiro navio da Marinha Portuguesa a visitar ocasião embarcados aquele país, depois dos antigos territórios portugueses terem sido os cadetes do cur- anexados pela Índia em 1961. so Luís de Camões 20 de março de 2010 – O navio-escola Sagres atraca no porto (1960), em viagem de Ushuaia, na , naquela que é cidade mais meridional de instrução. do mundo, no decurso da terceira viagem de circum-navegação 4 de maio de (2010). 1982 – Início da viagem aos Estados Unidos com participação, 22 de março de 1984 – Data em que o NRP Sagres concluiu a no regresso, na regata Newport/Lisboa. Até à data esta foi a via- segunda viagem de circum-navegação (1983-1984). gem em que se atingiu a maior percentagem de navegação à vela, 25 de março de 2010 – O navio dobra pela primeira vez o cabo com uns impressionantes 80%. Horn, primeiro a motor, no sentido leste-oeste, e logo depois à vela, 11 de maio de 1984 – Em cerimónia que decorreu a bordo, o em sentido contrário, durante a terceira volta ao mundo (2010). Presidente da República, General Ramalho Eanes, condecorou o Seguiam embarcados o Secretário de Estado da Defesa e dos As- Estandarte Nacional do navio-escola Sagres com a Ordem do In- suntos do Mar, Dr. Marcos Perestrello, e o Chefe do Estado-Maior fante D. Henrique. da Armada, Almirante Melo Gomes. 25 de maio de 1965 – Primeira passagem do Equador pelo na- 31 de março de 1975 – Início da primeira docagem do navio- vio-escola Sagres no sentido norte-sul, na primeira viagem que o -escola Sagres na doca-seca do Arsenal do Alfeite. Até à data, já ali levou ao Brasil. docou, para limpeza do casco e fabricos, dez vezes. 26 de maio de 1962 – Primeira passagem do Equador pelo navio- 1 de abril de 1977 – O navio-escola Sagres atraca em Hambur- -escola Sagres no sentido sul-norte, na primeira viagem que efetuou go, associando-se às comemorações do centenário da Blohm & com a bandeira de Portugal, com destino a Lisboa. Voss, estaleiro alemão onde havia sido construído quarenta anos 3 de junho de 1962 – Chegada ao Mindelo em Cabo Verde, para antes (1937). Neste mesmo dia, mas em 1979, tem lugar a primeira todos os efeitos, à época, o primeiro porto nacional visitado pelo passagem do navio-escola Sagres pelo canal de Suez, no sentido navio-escola Sagres. É���������������������������������������������, na atualidade, o porto estrangeiro mais ve- leste-oeste, durante a primeira volta ao mundo (1978-1979), data zes visitado pelo navio. em que se estreia a navegar no mar Mediterrâneo. 4 de junho de 1997 – Início da viagem de instrução do curso 13 de abril de 2010 – O NRP Sagres atraca em Valparaiso, no Dantas Pereira (3.����������������������������������������������º ano), ��������������������������������������aquela em que pela primeira vez embar- Chile, primeiro porto praticado pelo navio no Pacífico sul, no de- caram cadetes femininos no NRP Sagres. correr da terceira viagem de circum-navegação (2010). 5 de junho de 1964 – Início da primeira regata em que o navio- 18 de abril de 1962 – Início das primeiras provas de mar do na- -escola Sagres participou (Lisboa/Bermudas), seguindo embarca- vio-escola Sagres, no Rio de Janeiro. Neste mesmo dia, em 1979, do o famoso marinheiro e escritor australiano Captain Alan Villiers a Sagres chega a Marselha. Foi o primeiro porto visitado pelo na- (1903-1982).

18 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA 20 de junho de 1976 – Início da regata Bermuda/Newport, que em 2008, o navio dobrava pela primeira vez o cabo da Boa Espe- pela primeira e única vez na história contou com a presença dos rança, no sentido leste-oeste. cinco navios-irmãos, Tovarich (União Soviética), Eagle (Estados Uni- 22 de agosto de 1978 – Primeira travessia do canal do Panamá dos), Sagres (Portugal), Mircea (Roménia) e Gorch Fock (Alemanha pelo navio-escola Sagres no sentido leste-oeste, data em que tam- Federal). Para o efeito seria instituído o troféu Five Sisters, que foi bém, pela primeira vez, entrou no oceano Pacífico, no decurso da conquistado pelo navio-escola alemão Gorch Fock. primeira viagem de circum-navegação (1978-1979). 23 de junho de 1962 – Chegada do navio-escola Sagres a Lisboa, 3 de setembro de 1978 – Chegada do navio-escola Sagres a Aca- data em que, também pela primeira vez, o navio pratica um fun- pulco, México, primeiro porto visitado no Pacífico Norte, durante deadouro nacional, desta feita em Cascais, tendo, depois de entrar a primeira volta ao mundo (1978-1979). a barra, fundeado no Quadro dos Navios de Guerra (QNG). Neste 9 de setembro de 1975 – Chegada da Sagres a Leningrado – ac- mesmo dia, mas em 1978, teve início a primeira volta ao mundo tual S. Petersburgo, na Rússia – tendo sido o único navio da Ma- do navio-escola Sagres (1978-1979). rinha Portuguesa a visitar um porto na ex-União Soviética. Lenin- 27 de junho de 1962 – Data em que o navio-escola Sagres atra- grado constitui-se, igualmente, como o porto mais setentrional ca pela primeira vez em Lisboa. O local escolhido foi o cais da visitado pelo navio. Doca da Marinha. 8 de outubro de 1962 – Início da primeira viagem de instrução 29 de junho de 1993 – O navio-escola Sagres dobra pela primeira com cadetes da Escola Naval, cabendo esse privilégio aos cadetes vez o cabo da Boa Esperança, no sentido oeste-leste, no decorrer do curso Luís de Camões (1960). da viagem ao Japão (1993-1994). 18 de outubro de 1984 – Início da primeira�������������������������� viagem de adapta- 30 de junho de ção de candidatos ao ingresso na Escola Naval feita a bordo do 1962 – Pela primeira navio-escola Sagres. O privilégio coube aos futuros cadetes do vez os dois navios- curso Conde de S. Vicente (1984). -escolas atracam de 26 de outubro de 2007 – Por ocasião da cerimónia que assina- braço-dado, o actual lou a abertura do ano operacional, o Chefe do Estado-Maior da Ar-

Foto Marinha do Chile Foto navio-escola Sagres mada, Almirante Melo Gomes, condecorou o Estandarte Nacional e o navio-depósito do navio-escola Sagres com a Medalha Naval de Vasco da Gama. Santo André, antiga 16 de novembro de 1962 – Data da chegada do navio-escola Sa- Sagres. gres a Bissau, primeiro porto no continente africano visitado pelo 1 de julho de 1983 navio. Neste mesmo dia, em 1992, ocorreu a primeira e única tra- – O navio-escola Sa- vessia do canal do Panamá no sentido oeste-leste. gres inicia nesta data 25 de novembro de 1978 – Primeira passagem da Linha Inter- a segunda viagem de nacional de Mudança de Data pelo navio-escola Sagres, no senti- circum-navegação do leste-oeste, aquando da primeira viagem de circum-navegação (1983-1984). (1978-1979). Na segunda (1983-1984) e terceiras (2010) voltas ao 10 de julho de mundo, a passagem por aquela linha teve lugar, respetivamente, a 2006 – Dia da lar- 1 de Outubro de 1983 e a 11 de Julho de 2010. gada do NRP Sagres 5 de dezembro de 1992 – Maior número de milhas à vela (55,9) para a regata Torbay/ percorridas num quarto (16h00-20h00) pelo navio-escola Sagres, Lisboa, por ocasião a que corresponde uma velocidade média de 13,98 nós. Foi efe- do cinquentenário tuada na tirada entre Hamilton nas Bermudas e Lisboa, a concluir das denominadas Tall a viagem que se prolongou por oito meses. Ships’ Races (1956- 14 de dezembro de 2010 – O navio-escola Sagres foi o primeiro 2006). Importa real- veleiro do mundo a ser distinguido pela Sail Training International çar que a antiga Sa- (STI) com o Blue Flag Scheme, pelo facto de cumprir com aquele gres havia igualmente código de conduta ambiental, tendo, por isso, recebido o certifi- � tomado parte neste mesmo trajecto em 1956, aquando da primeira cado de membro n.º 001. edição destes eventos, em que Lisboa foi escolhida como porto de 15 de dezembro de 1978 – Chegada a Tóquio, no Japão, primei- destino. ro porto da Ásia visitado pelo navio-escola Sagres, no decurso na 11 de julho de 1981 – Nesta data o navio-escola Sagres cruzou primeira viagem de circum-navegação (1978-1979). pela primeira vez o estreito de Gibraltar, no sentido oeste-leste. 24 de dezembro de 2010 – Data em que o NRP Sagres concluiu 12 de julho de 1964 – Data da chegada do navio-escola Sagres a terceira viagem de circum-navegação (2010). a Nova Iorque, primeiro porto visitado na América do Norte. 25 de dezembro de 1978 – Primeiro e único dia de Natal até à 28 de julho de 1982 – O navio-escola Sagres vence a regata data cumprido a navegar, entre Tóquio e Nagasaki, no decurso da Newport/Lisboa e conclui a tirada de maior duração efetuada até primeira viagem de circum-navegação (1978-1979). Aquando da à data, num total de 31 dias de mar. viagem ao Médio Oriente (1981-1982) o Natal foi celebrado em 31 de julho de 2009 – Em plena regata Halifax/Belfast, o Port Saïd, Egipto, ao passo que na segunda volta ao mundo (1983- navio-escola Sagres percorreu 1230 milhas, entre as 20 horas 1984), por esta ocasião, o navio encontrava-se atracado em Macau. do dia 31 de julho e as 24 horas do dia 5 de agosto, conquis- Já na viagem ao Japão (1993-1994), o dia de Natal foi celebrado tando o Boston Teapot Trophy, galardão anualmente atribuído no porto de Mormugão, em Goa, na Índia. ao navio que percorre a maior distância à vela, em 124 horas 29 de dezembro de 1981 – Primeira e única passagem do Canal consecutivas. de Suez, no sentido oeste-leste. 10 de agosto de 1986 – Data em que pela primeira vez um Pre- 31 de dezembro de 1978 – Primeira passagem de ano fora sidente da República embarcou no navio-escola Sagres, na oca- de Portugal, com o navio atracado em Nagasaki, Japão, duran- sião o Dr. Mário Soares, efetuando o trajeto entre Ponta Delgada te a primeira volta ao mundo (1978-1979). Na viagem ao Médio e Lisboa, com paragem nas Berlengas, no regresso da viagem de Oriente (1981-1982), na segunda viagem de circum-navegação instrução que levou o navio aos Estados Unidos. (1983-1984) e na viagem ao Japão (1993-1994), este momento 11 de agosto de 2004 – Primeira e única travessia do canal de foi celebrado a navegar. Corinto pelo navio-escola Sagres, encontrando-se embarcados o  Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, e o Chefe do Estado- CFR António Manuel Gonçalves -Maior da Armada, Almirante Vidal Abreu. Neste mesmo dia, mas Membro do CINAV

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2012 19 Cinquentenário do NRP Sagres com bandeira de Portugal - Evolução da lotação do navio

actual navio-escola Sagres, por Essa grande modernização incluiu, entre constituído, aliás, os dois únicos, desde vezes referido como Sagres II, outros trabalhos, a colocação de novas an- 1962, em que a Sagres não navegou. Os O içou pela primeira vez a ban- teparas estanques, com portas estanques ajustamentos nos serviços de bordo, de- deira portuguesa em 8 de Fevereiro de controladas remotamente, o aumento da correntes da modernização efectuada, per- 1962, nove dias após a publicação da capacidade dos tanques de combustível mitiram reduzir ligeiramente a guarnição portaria que o aumentava do navio, que então passou ao efectivo dos navios da a contemplar 159 elemen- Armada1. Navegou inicial- tos: 10 oficiais, 21 sargentos mente com a lotação da e 128 praças3. Entre outras antiga Sagres, que estivera alterações, o cargo de oficial ao serviço da Marinha Por- imediato passava a poder ser tuguesa entre 1924 e 1962. exercido por um oficial com Essa situação prolongou-se o posto de capitão-de-fragata

até 1967, altura em que foi Comandante G. Conceição Silva Foto ou capitão-tenente, o enge- estabelecida a lotação pro- nheiro maquinista naval vol- visória do novo navio-esco- tava a ser primeiro-tenente e la: 10 oficiais, 19 sargentos deixava de haver monitores e 134 praças, num total de de educação física na lo- 163 elementos2. O diploma tação, passando o clarim a definia ainda que os cargos ser o único fuzileiro a bor- de comandante e de ime- do. Todas estas alterações se diato eram desempenhados mantêm ainda na actualida- por oficiais com o posto de Formatura a bordo quando o navio estava a ser recebido no Rio de Janeiro, de. Importa ainda esclarecer capitão-de-fragata e de ca- em 1962. que o aumento no número pitão-tenente, respectiva- de sargentos (19 em 1967 mente, sendo a função de e 21 em 1988) se deveu ao mestre do navio exercida facto de a lotação ter passa- por um sargento-ajudante. do a contemplar 4 sargentos Como curiosidade, refira-se carpinteiros, que de acordo que essa lotação incluía ain- com o diploma embarcariam da um sargento e uma praça apenas “quando a natureza fuzileiros, “habilitados com da missão o justificar”. Por o curso de especialização conseguinte, não levando em monitor”, sendo ambos em conta esses 4 carpintei- responsáveis por ministrar ros – que nem sempre em- a educação física a bordo. barcavam – o número de sar- No ano seguinte, seriam gentos, na realidade, passou feitos dois pequenos ajus- de 19 para 17. tes na lotação. O coman- Entretanto, em 1999, o dante passava a poder ser comando do navio efectuou capitão-de-mar-e-guerra ou Formatura a navegar durante a Viagem de Instrução de 2011. uma proposta de redução capitão-de-fragata, assim se da guarnição, a título ex- mantendo até hoje, e o engenheiro ma- em benefício de uma maior autonomia do perimental, justificada com as seguin- quinista naval – que inicialmente tinha o navio, a instalação de duas estações de tra- tes razões: posto de primeiro-tenente – passava a ser tamento de esgotos (uma biológica e outra - Maior facilidade de realização das capitão-tenente. química), a substituição dos geradores de manobras com as velas, nomeadamente Esta lotação manteve-se até ao final dos energia eléctrica, a substituição do motor da manobra de virar por davante, devido anos 80, altura em que o navio efectuou original MAN de 750 cavalos por um mo- aos novos materiais empregues no vela- uma grande modernização, dividida em tor MTU de 1000 cavalos, a colocação de me, no massame e no poleame; duas fases: uma em 1987 e outra em 1991. sistemas de ar condicionado na camari- - Informatização de alguns serviços nha do comandante e na casa de bordo (nomeadamente do detalhe, Evolução da lotação da Sagres dos transmissores, a instala- da companhia e do serviço de abasteci- ção de um gerador de água mento); e Actual (título Lotação 1962-1988 1988-2001 2001-2011 experimental) doce e a montagem de uma - Redução significativa dos espaços de grua hidráulica a meio navio alojamento de pessoal devido à introdu- Oficiais 10 10 9 9 para movimentar as embar- ção de novos sistemas a bordo (estações Sargentos 19 21 16 16 cações. A dimensão dos tra- de tratamento de esgotos, portas estan- Praças 134 128 114 103 balhos não permitiu que o ques hidráulicas, troncos de fuga dos navio navegasse em 1987 e compartimentos e sistemas de ventilação Total 163 159 139 128 em 1991 – tendo esses anos e de ar condicionado).

20 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA Estas premissas levaram a propor a re- área administrativa), que vieram simpli- vio. Caso se venham a confirmar as con- dução da lotação para um total de 139 ficar procedimentos; dições para passar essa proposta a defini- militares: 9 oficiais, 16 sargentos e 114 - Pequenas alterações efectuadas no tiva, ela acarretará uma diminuição, não praças. Durante o período experimental aparelho do navio em 2010 (aumento do negligenciável, nos custos de operação do foi possível confirmar a adequabilidade tamanho das escotas das gáveas altas e in- navio. Estando o navio com missão atri- da redução proposta, que viria a ser ofi- trodução de estingues nessas mesmas ve- buída – e tendo em conta as taxas de na- cializada por portaria do Almirante Chefe las), tornando as manobras de içar e caçar vegação típicas da Sagres – a diminuição do Estado-Maior da Arma- de custos cifrar-se-á em cer- da, de 20 de Abril de 2001. ca de 24 300 euros por mês Esta lotação sofreria, en- (incluindo vencimentos, su- tretanto, pequenos reajus- plemento de embarque e ali- tamentos em 2002, 2005, mentação). Já na situação do 2009 e 2011, sem impac- navio sem missão atribuída,­ tos nos quantitativos totais. essa redução de custos que- Em 2002, estabeleceu-se dar-se-á pelos 11 100 Euros

que o enfermeiro só embar- Comandante G. Conceição Silva Foto por mês (incluindo venci- caria “quando determinado mentos e alimentação). superiormente”. Em 2005, Conforme se pode cons- abriu-se a possibilidade de tatar, a lotação do navio sob o mestre do navio poder ser bandeira portuguesa foi-se sargento-ajudante ou primei- progressivamente adaptan- ro-sargento. Em 2009, fize- do ao passar dos tempos e, ram-se várias alterações a mesmo mantendo a tradição nível das praças. Finalmente, de operação manual do apa- em 2011, a lotação passou Marinheiros ao leme durante uma saída para efectuar provas de mar, no Rio relho de vela, já sofreu uma a contemplar um engenhei- de Janeiro, em 1962. diminuição de 35 elemen- ro naval do ramo de armas tos, isto é, mais de 20% da e electrónica (primeiro-te- guarnição original. nente ou segundo-tenente) Importa acrescentar que, – por troca com um oficial durante as viagens de ins- da classe de marinha – ten- trução, os cadetes da Escola do em vista o desempenho Naval, no âmbito do seu pro- do cargo de chefe do serviço cesso de formação técnica e de electrotecnia. humana, colaboram activa- No final de 2011, o co- mente em muitas das tarefas mando do navio fez uma de bordo, complementando nova proposta de redu- o trabalho dos militares da ção da guarnição, que teve guarnição. Actualmente, o como base duas motiva- navio dispõe de capacidade ções. Por um lado, raciona- para embarcar até 54 cade- lizar os recursos humanos, tes do sexo masculino e 12 rentabilizando e potencian- cadetes do sexo feminino. do valências, sem descurar Aliás, é curioso notar que a manutenção dos padrões nos períodos em que o na- de prontidão estabelecidos vio arvorou as bandeiras ale- e o cumprimento das mis- mã (com o nome Albert Leo sões superiormente determi- Schlageter) e brasileira (com nadas. Por outro lado, con- o nome Guanabara), apenas tribuir para mitigar as fracas navegava com cadetes em- condições de habitabilida- barcados. Como Albert Leo de das cobertas de praças, Schlageter (1937-1948) o na- por redução do número de vio tinha uma guarnição fixa militares que habitam esses de apenas 76 militares, com- Marinheiros ao leme durante uma faina de atracação na Viagem de Instrução mesmos espaços. de 2011. plementada por 220 cade­ Esta proposta de redução tes e 7 civis – num total de teve por base as seguintes razões: pano menos exigentes sob o ponto de vista 303 elementos. Como Guanabara (1948- - Disponibilização de novas ferramen- do esforço requerido ao pessoal; e 1962) dispunha de uma guarnição fixa de tas tecnológicas (como o sistema MOST4 - Reorganização dos serviços de bordo, 102 militares, que era complementada por e o circuito INPORTCOMMS, na área das eliminando alguns cargos e combinan- 150 cadetes – totalizando 252 elementos. do outros. comunicações, e a aplicação SIGDN, na  As três razões CFR Nuno Sardinha Monteiro Comparação entre as lotações alemã, brasileira e portuguesa, incluindo cadetes apontadas tor- Comandante do NRP Sagres naram possível Albert Leo Schlageter Guanabara Sagres Sagres Lotação uma redução, Notas (1937-1948) (1948-1962) (1962) (2012) por enquanto 1 Portaria n.º 18 997 do Ministro da Marinha, de 30 de Janeiro de 1962. Lotação fixa 76 102 163 128 apenas a título 2 Portaria n.º 22 658 do Ministro da Marinha, de 27 Cadetes 220 + 7 civis 150 80 66 experimental, de de Abril de 1967. 11 militares na 3 Portaria do Almirante CEMA, de 12 de Janeiro Total 303 252 243 194 lotação do na- de 1988.

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2012 21 A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (28) AA expediçãoexpedição dede FranciscoFrancisco BarretoBarreto aoao MonomotapaMonomotapa

reino do Monomotapa* define-se nham monogamia, jejuns e privações diversas uma forma cristã e legítima, calando as vo- geograficamente nos limites do pla- a que não estava habituado. A breve trecho as zes de quem no Conselho se lhe opunha, en- nalto africano, situado entre os rios ameaças da perdição nos infernos acabariam comendou um “parecer de letrados” sobre a OLimpopo e Zambeze, limitado a leste pela por enfadá-lo e fazer o que era mais simples: justeza dessa guerra, para o que assumiu uma cadeia montanhosa de Inyanga que o separa matar ou mandar matar o conversor. Foi isto importância fulcral a evocação do martírio de da actual República de Moçambique. As suas que aconteceu a Gonçalo Silveira, a 16 de Mar- Gonçalo Silveira. fronteiras naturais protegiam-nos dos vizi- ço de 1561: arrancado do catre a meio da noite, Por carta de 19 de Março de 1569, o rei no- nhos cobiçosos e permitiram o desenvolvi- foi enforcado sem piedade e o seu corpo ati­ meou Francisco Barreto como “capitão-mor mento de uma civilização milenar, de origem rado ao rio. A notícia chegou a Lisboa alguns da empresa do senhorio do Monomotapa”, Bantu, cuja prosperidade se pressente na com um ordenado de 6000 cruzados por grandeza das ruínas do Grande Zimbabwe, ano, pagos pela Casa da Índia. O nomeado que se supõe ter sido a capital até ao século não era figura inexperiente nos assuntos do XV. A sua riqueza assentou, sobretudo, na Índico – já fora governador da Índia, após exploração mineira do subsolo, de onde a morte de D. Pedro de Mascarenhas, em extraíam cobre, prata e ouro, que chega- 1555 – e tinha agora como missão conduzir vam à costa através dos grandes rios, e es- um corpo expedicionário que deveria apos- tavam na base de um comércio rico que sar-se das fontes africanas do ouro, situadas sustentou pequenos potentados da região a muitos quilómetros do mar. Swahili, onde acorriam os navios do Mar Da empresa, na sua globalidade, ficou Vermelho, do Guzerate, do Indostão e do um relato feito pelo padre jesuíta Francisco Extremo Oriente. Monclaro, que nos diz ter a armada apare- O ouro de Sofala, que determinou a lhado em Lisboa, com uma grande nau de construção da primeira fortaleza, em 1506 cerca de 650 tonéis, onde embarcou o capi- (Marinha de D. Manuel (31)), foi uma ten- tão-mor, e duas outras mais pequenas, de tação constante para os portugueses, cien- Vila do Conde, com 150 tonéis. Numa de- tes das dificuldades em alcançar as suas las seguia como capitão Vasco Fernandes fontes no interior do sertão africano, mas Homem, mestre de campo de um corpo sempre à espreita da oportunidade de expedicionário com cerca de 1000 homens controlar o ofírico reino, situado para além de armas, contando muitos fidalgos e ca- das montanhas do interior. Quem primei- valeiros. Zarparam de Lisboa a 16 de Abril, ro logrou alcançar os territórios do mítico depois de algumas peripécias infelizes que Monomotapa foi António Fernandes, um fizeram abortar uma primeira tentativa de “carpinteiro de naus degredado” que por sair a barra, e seguiram para sul, sabendo- ali ficou nos tempos de D. Francisco de Al- -se que a nau capitânia foi obrigada a ar- meida, adaptando-se às duras condições de ribar a S. Salvador da Baía, enquanto as vida num território inóspito, aprendendo restantes seguiam para Moçambique. Ali as línguas locais e entrosando-se progres- ficou cerca de seis inexplicáveis meses, pro- sivamente com as populações, ao ponto vocando um atraso enorme, com despesas de obter as informações necessárias para acrescidas e com as inerentes deserções de alcançar o planalto, empreendendo duas soldados e marinheiros que, em terra, iam viagens ao interior, entre o mês de Abril arranjando o aconchego suficiente para de 1514 e o princípio de 1515. Os resulta- Francisco Barreto, governador da Índia, em 1555, e coman­ os desmotivar de tão grande aventura. Só dante da expedição ao Monomotapa, em 1569. dos práticos desta incursão foram, porém, Livro de S. Julião. chegou a Moçambique em Maio de 1570, escassos, na medida em que a concorrência onde encontrou Fernandes Homem, com o comercial árabe e swahili era muito intensa e meses depois, gerando uma onda de indi­ seu pessoal muito enfraquecido, fustigado pela contava com uma experiência secular que to- gnação que clamou por vingança. O padre era malária e pela inacção. Mas este primeiro con- lhia os portugueses. Digamos que a couraça filho do conde de Sortelha e o martírio teve, tratempo não seria o único de toda a empresa. protectora do ouro deixava infiltrar um ele- certamente, algum impacto, mas os tempos Por iniciativa sua ou por dificuldades próprias mento ou outro, de vez em quando, manten- foram passando e nenhuma reacção haveria, da zona e do tempo, mal acauteladas e precavi- do permanente a esperança lusa, mas sempre por parte da coroa, se outras circunstâncias não das, outros infelizes episódios se lhe seguirão, de forma muito ténue. se tivessem imposto. até à morte de Francisco Barreto, em 1573, na Foi pela via fluvial do Zambeze, por Sena Na verdade, D. Sebastião tinha intenção de povoação de Sena, à beira do rio Zambeze. A e Tete, que o padre jesuíta Gonçalo da Silvei- mudar o espírito com que era exercida a pre- missão não iria corresponder às expectativas ra chegou ao Monomotapa, em 1560, conver- sença portuguesa no Oriente, exaltando as vir- que D. Sebastião depositara nela, mas disso tendo-o ao cristianismo e baptizando-o com o tudes da guerra e a abnegação, em detrimen- falarei na próxima revista. nome de Sebastião. Acontece, contudo, que as to dos mundanos prazeres asiáticos. É disso  conversões feitas nestas condições apressadas exemplo a forma como o conde de Atouguia J. Semedo de Matos oferecem sonhos imediatos de imortalidade e assumiu o cargo de vice-rei da Índia, e tam- CFR FZ glória que, com o andar dos tempos, se con- bém o é a decisão que tomou acerca de Mo- Nota frontam com os costumes locais. O poderoso çambique, ordenando que se preparasse uma * Monomotapa é uma corruptela da língua portu- soberano do sertão africano não se conforma- expedição para conquistar o reino do Mono- guesa do século XVI de “Muana ua tapa”, cujo signi- ria com as disciplinas cristãs que lhe impu- motapa. Para fundamentar a sua decisão, de ficado é o de “senhor das minas”.

22 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA RedescobertaRedescoberta dada RibeiraRibeira dasdas NausNaus

or proposta do vice-presidente da Câma- duzida pendente e em ra Municipal de Lisboa, arquiteto Manuel degraus com cerca de PSalgado, teve lugar nas Instalações Cen- 250m de extensão e 15m trais da Marinha (Casa da Balança), em 10 de de largura. Paralelo a esse janeiro de 2012, a cerimónia de assinatura do plano e junto ao rio será FZ Carmo CAB Fotos auto de consignação da empreitada “Avanço de construída uma nova via Margem e Nova Ribeira das Naus”, que consti- para circulação automó- tui a primeira fase do projeto “Redescoberta da vel, dando continui­dade Ribeira das Naus”. ao alinhamento do arrua­ Após as boas-vindas dadas pelo Chefe do mento da Praça do Co- Estado-Maior da Armada, Almirante José Salda- mércio. nha Lopes, o Presidente da Câmara Municipal A segunda fase prevê, de Lisboa (CML), Dr. António Costa, salientou entre outros, a redefini- e agradeceu à Marinha os esforços e a dispo- ção da barreira de con- nibilidade dos seus técnicos em colaborar nas trolo da área de segu- soluções que permitem “devolver o rio Tejo às rança da Marinha com a pessoas” tendo em consideração as caraterísti- criação de um sistema de cas especiais de uma área militar. “Vamos ter vedação / portões pivo- que ir gerindo com a Marinha porque isto não tantes e o desaterro total é um espaço qualquer, é o espaço onde funcio- da Doca Seca. O projeto na o Estado-Maior da Armada. Há restrições de inclui ainda a criação de segurança que têm de ser preservadas, há ativi- dois planos inclinados dades cerimoniais que a Marinha desenvolve e (rampas varadouro) de que também têm de ser respeitadas”, explicou. grandes dimensões, com Já o arquiteto João Gomes da Silva, autor do superfícies relvadas. A projeto, adiantou que o que se pretende é “re- rampa nascente irá alber- velar o local, através das escavações de várias gar, sob a laje, uma zona docas, rampas e pontões, ao mesmo tempo que para estacionamento de se cria um espaço público com ligação direta viaturas militares e posto ao rio”. Assim, a primeira fase da intervenção, de controlo de acessos. agora adjudicada, consiste nos trabalhos de Embora o protocolo consolidação e avanço de margem, enquanto inicial previsse a cedência à Marinha do par- A obra agora consignada vai decorrer duran- na segunda fase, “Zona de Terra”, terão lugar que de estacionamento do Corpo Santo, a ver- te este ano e representa um investimento total as escavações. são atual prevê a intenção de, na segunda fase, de 10 milhões de euros, dos quais 6,5 milhões A intervenção da primeira fase pretende a se construir um silo automóvel com três pisos provêm do Quadro Comunitário de Apoio e o redefinição da linha de costa da cidade com e capacidade para aproximadamente 270 via- restante de capital da autarquia. avanço de margem, com a criação de uma turas, ficando garantidos os 90 lugares já ante-  plataforma inclinada em direção ao rio, de re- riormente acordados para a Marinha. Colaboração da DIREÇÃO DE INFRAESTRUTURAS

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2012 23 ACADEMIA DE MARINHA In memoriam do AlmiranteAlmirante MaxMax JustoJusto GuedesGuedes

“É minha modesta contribuição à divulgação e melhor conhecimento da gesta maior do querido e admi- rado povo lusitano e meu sincero agradecimento pela obra magnífica por ele realizada em meu país, des- cobrindo, povoando, colonizando, civilizando e expandindo-o a limites quase inacreditáveis e legando-o unido política e socialmente, aos brasileiros de hoje”. Alm. Max Justo Guedes – Rio de Janeiro, Nov. 1988

m 17 de Janeiro de 2012 teve lugar no aos Académicos Estácio dos Reis, Inácio como o sucesso da exposição Portugal-. auditório uma Sessão de Homena- Guerreiro e Dias Farinha, o Presidente da The Age of Atlantic Discoveries, realizada em gem In memoriam do Almirante Max Academi­a citou Vera Tostes, directora do 1990 na Biblioteca Pública de Nova Iorque. EJusto Guedes. Museu Histórico­ Nacional, do Brasil: “… o A terminar, o orador referiu que a sua “obra A abrir a sessão, o Presidente Vieira Matias mundo lusófono perde um amigo entusias­ imensa […] ficou desoladamente inacabada. disse pretender a Academia, após o choque mado com a pesquisa e a produção do co- Assim como ficou vazia e, parada para sem- suscitado pela “inesperada notícia da morte nhecimento. Fica uma lacuna no saber da pre, a cadeira de baloiço onde Max, já can- do nosso Membro Emérito Max Justo Gue- nossa História.” sado e doente, repousava, em sua casa, ao des”, em 8 de Novembro passado, fim de um dia de exaustivo trabalho”. evocar “a figura do intelectual e do A segunda intervenção, intitulada amigo”, pela voz de “três académicos “Ciência Náutica e Cartografia na que bem o conheceram e que muito o Obra de Max Justo Guedes”, coube consideravam”, e aos quais agrade- ao Académico Emérito Inácio José ceu as intervenções que se seguiriam. Guerreiro, que começou por referir O Almirante Vieira Matias recordou como em 1970 conheceu o Comandan- a ligação “à Academia de Marinha te Max Justo Guedes no II Colóquio tão profunda que vinha desde as nos- Luso-Brasileiro de História do Brasil, sas raízes […], o então Comandante Serviço de Documentação da Marinha - Brasil em Lourenço Marques. Max Justo Guedes integrou o primi- O orador falou circunstanciada- tivo Grupo de Estudos de História mente dos diversos encontros cien- Marítima desde a sua eleição, como tíficos em que privou com o home- membro Efectivo, na Sessão de 19 de nageado, atestando a relevância das Fevereiro de 1970, sendo o primeiro suas contribuições e iniciativas para não português a pertencer aos seus o estudo das matérias a que o título quadros, muito embora, estatutaria- da sua comunicação aludia. Referiu, mente, equiparado a cidadão nacio- designadamente, a XVII Exposição nal”. “Foi elevado a Membro Emérito Europeia de Arte, Ciência e Cultura, na Sessão da Assembleia de Académi- de cuja Comissão Cultural fez parte o cos de 20 de Abril de 1995. Manteve, Almirante, e o concomitante Congres- por conseguinte, uma presença dilata- so sobre “Os Descobrimentos Portu- da por um período de quase 42 anos, gueses e a Europa do Renascimento”, em que nos visitou regularmente e a “IV Reunião Internacional de Histó- acolheu no Brasil, sempre com assi- ria da Náutica e da Hidrografia” e o nalável hospitalidade, os seus pares “Colóquio sobre as Razões que leva- e demais estudiosos da História Ma- ram os Povos Ibéricos a adiantarem-se rítima que frequentemente convida- na Expansão Mundial no século XV”. Almirante Max Justo Guedes. va”, disse o Presidente, continuan- O Doutor Inácio Guerreiro referiu ain- do: “A sua colaboração como académico foi Na primeira intervenção, feita pelo Aca- da a importância do Almirante Max Justo prestimosa. Para além de seis comunicações démico Emérito António Estácio dos Reis, e Guedes na dinâmica da prossecução das reu- aqui apresentadas em Sessões, publicadas intitulada “Max Justo Guedes, o Homem e niões da Comissão Internacional de História em separata e nas respectivas Memórias, o Marinheiro”, o orador fez jus ao título re- da Náutica, cuja presidência assumiu a partir participou no I Simpósio de História Ma- correndo às suas recordações pessoais dum da VI Reunião, em Sagres, no ano de 1967. rítima, proferindo em 11 de Dezembro de convívio de largos anos. Aludiu, designa- “Inestimável noutras áreas”, disse o ora- 1992 a sua conferência de Encerramento”. damente, a pormenores que remontam à in- dor, foi a sua colaboração nos Seminários “Como colaborador da História da Ma- fância do homenageado, trazendo à colação Internacionais de História Indo-Portugue- rinha Portuguesa, obra desta Academia, curiosos episódios que lhe foram relatados sa e nas Reuniões Internacionais de His- foi coordenador do volume «A viagem em primeira pessoa pelo próprio. Entre mui- tória de África. Prosseguiu com diversos de Pedro Álvares Cabral e o Descobri- tos exemplos da amizade que nutria por Por- outros exemplos da intensa actividade mento do Brasil, 1500-1501», lançado em tugal, referiu o Comandante Estácio dever- académica e científica do Almirante Max Dezembro de 2003, para o qual redigiu -se ao Almirante Max Justo Guedes a oferta, Justo Guedes, salientando a importân- a Parte I em dois copiosos Capítulos.” pelo Governo Brasileiro, do primeiro astro- cia do seu contributo para a história da A terminar, e antes de passar a palavra lábio do acervo do Museu de Marinha, bem náutica e da cartografia, nomeadamente.

24 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA A última conferência, inti- o Presidente da Classe de tulada “O Descobrimento História Marítima, que é do Brasil na obra de Max actualmente o Presidente Justo Guedes”,­ foi apresen- da Comissão Internacio- tada pelo Académico Emé- nal de História da Náutica, rito António Dias Farinha. referiu que tudo será feito A obra do Almirante Max no sentido de serem publi- Justo Guedes sobre o des- cadas as Actas – ainda em cobrimento do Brasil foi a falta – da X Reunião, or- segunda que deu à estam- ganizada pelo Almirante pa, disse o orador. A pri- Justo Guedes e que decor- meira, de 1963, tratara das reu no Rio de Janeiro em Derrotas dos Grandes Na- 2000. O Prof. Doutor Fran- vegadores, onde logo ilus- cisco Contente Domingues trou a ciência do navega- acrescentou ainda que as Mesa da Presidência. dor e a paixão da História. Reuniões da História da Para entender os Descobrimentos portugue- referindo que um dos seus estudos mais Náutica tiveram início em 1968 com um ses, prosseguiu o Prof. Doutor Dias Farinha, valiosos é A viagem de Pedro Álvares Ca- encontro científico que não se repetiria em o Almirante descreveu “o clima político que bral e o Descobrimento do Brasil, 1500-1501, princípio, mas que acabaram por ter con- condicionou as navegações portuguesas do publicado pela Academia de Marinha em tinuidade regular graças ao empenho do século XV, prestando particular atenção às 2003. A distância de 37 anos entre o primei- Almirante Max Justo Guedes, o qual viria bulas papais”. ro trabalho e este último permite “aquila- a suceder ao primeiro presidente da Co- A vasta obra de Max Justo Guedes so- tar as preocupações histórico-científicas missão Internacional de História da Náu- bre viagens e descobrimentos foi alicerça- do Autor e a evolução que o investigador tica, Prof. Doutor Luís de Albuquerque. da pela carreira de marinheiro e capacida- probo e esforçado que era Max Justo Gue- A encerrar a sessão, o Presidente Vieira Ma- de de observação das condições físicas da des não deixou de assumir”, acrescentou. tias agradeceu a presença do Adido de De- navegação e, em particular, das que con- Salientou, a terminar, o seu cuidado em fesa e Naval brasileiro, em representação dicionam a chegada e o reconhecimento exaurir as fontes cronísticas e de arquivo, do Embaixador do Brasil, e expressou a sua das costas e que permitem a identificação e a “preparação teórica, bebida na leitu- satisfação pela qualidade das intervenções dos locais. A sua primeira obra contempla ra dos teóricos e filósofos da História”. com que a Academia de Marinha prestou exactamente as rotas dos Grandes Navega- Terminada a apresentação das conferências, homenagem à memória do seu ilustre Aca- dores, publicada em 1963, disse o orador, e após breves intervenções da assistência, démico Emérito. Fotos Ana Nunes

Comandante Estácio dos Reis. Prof. Doutor Inácio Guerreiro. Prof. Doutor A. Dias Farinha.  Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2012 25 DIVULGAR O PATRIMÓNIO Transporte “Índia” vocando-se a chegada do Transporte “Ín- ger para Lisboa, incluindo passageiros e 10 cava- dia” a Portugal no dia 8 de Janeiro de 1872, los; foi ele que trasladou os restos mortais de três realizou-se uma Mostra Documental, de 9 a Governadores-Gerais da Índia para Lisboa; em E24 de Janeiro de 2012, nas instalações da Biblioteca Agosto de 1882 ajuda a combater um incêndio na Central da Marinha. Rua 24 de Julho, razão pela qual a sua guarnição Em 1871 era necessário garantir a presença em foi, posteriormente louvada; em 1891 deslocou-se África, tal como no Oriente, tornando-se premen- para o Porto, recebendo a bordo presos militares te a aquisição de um navio a vapor destinado ao da Revolta de 31 de Janeiro; efectuou diversas via- serviço de transporte de tropas e passageiros civis, gens para Angola, Moçambique, Oriente… con- com a respectiva bagagem, pelo que o Governos duzindo tropas, colonos, operários, elementos da Português adquiriu um navio mercante inglês, o administração e transportando armas. Registe-se “Mandalay”, construído nesse mesmo ano nos es- a permanente preocupação dos médicos faculta- taleiros Denny and Brothers e que passou a deno- tivos navais com as condições sanitárias a bordo. minar-se “Índia”. Em 1896 passou a pertencer à Estação Naval de Pretendeu-se com esta pequena exposição do- Moçambique como Navio Depósito e, em 1908, cumental dar a conhecer a vida do Navio Trans- como pontão-enfermaria. porte “Índia” através da documentação, salientan- Por Despacho Ministerial de 26 de Outubro de do algumas das missões mais relevantes. 1909 foi mandado abater à lista dos navios da Ar- Parte de Inglaterra, sob o comandado do Capi- mada. De acordo com registo do Serviço Diário, tão-tenente Carlos Testa (que o adquiriu por 31.800 £) que nos relata a em 1910, a fls. 152, o Primeiro-tenente António Ernesto Bizarrro, en- viagem e a sua chegada a Lisboa. Passa ao estado de armamento (Por- carregado de comando como Navio Depósito, entregou-o à Província taria de 10 de Janeiro de 1872) e inicia a sua vida activa. de Moçambique. Na sua primeira missão, iniciada em 3 de Fevereiro de 1872, con- A exposição foi ilustrada com diferentes imagens do navio (como trans- duziu tropas para a Índia. Muitas mais se seguiram, destacando-se o porte, navio depósito e enfermaria) e seus comandantes, elementos da transporte dos Comissários Portugueses (Jaime Batalha Reis) e objec- guarnição, destacando-se, entre outras, imagens curiosas da Embaixada tos para a exposição a realizar-se em Filadélfia (1878), a condução do Marroquina a Portugal, do julgamento dos implicados na Revolta de 31 Embaixador de Marrocos (Sid-Ettayed Benhim) e comitiva, de Tân- de Janeiro de 1891, o banho matinal da guarnição, a enfermaria.  D. Rodrigo de Sousa Coutinho(1755-1812) Mostra documental e iconográfica alusiva ao bicentenário do seu falecimento

Biblioteca Central da Marinha vo Histórico e da Biblioteca que aludem à (BCM) e o Museu de Marinha atividade de D. Rodrigo de Sousa Coutinho (MM) organizaram uma mostra enquanto Secretário de Estado e Ministro da Adocumental e iconográfica alusiva ao bi- Marinha e Domínios Ultramarinos (1796- centenário do falecimento de D. Rodrigo 1801), à sua ação no Brasil (1807-1812), escri- de Sousa Coutinho (1755-1812). A exposi- tos da sua autoria e estudos editados sobre ção esteve patente ao público de 26JAN a a sua vida e atividade. 10FEV2012, no átrio da entrada da BCM. Do MM são exibidos três painéis descri- A mostra foi inaugurada pelo VALM tivos das condições que precederam o em- Vilas Boas Tavares, Diretor da Comissão barque da Família Real para o Brasil, assim Cultural de Marinha que focou o interes- como da viagem propriamente dita e vários se desta e de outras iniciativas organiza- objetos que muito animam a mostra (um das pelos Órgãos de Natureza Cultural quadro a óleo da Nau Príncipe Real; uma (ONC’s) de forma a divulgar o património da Marinha. Espada de Oficial; um Relógio de Sol Equatorial; um Octante; um Sex- A exibição consta de cinco expositores com documentos do Arqui- tante; uma Espingarda de Pederneira e uma Jaqueta de Oficial).

COUTINHO, D. Rodrigo de Sousa (1755-1812). Filho de D. Francisco tituição da Junta da Fazenda da Marinha; a regulamentação do Conselho Inocêncio de Sousa Coutinho e D. Ana Luísa Joaquina Teixeira e Andrade do Almirantado; a criação da Escola de Construção Naval e do Corpo de da Silva. Afilhado do futuro Marquês de Pombal, foi educado em Lisboa, Engenheiros; a fundação do Observatório da Marinha; a constituição da onde veio a ser um dos mais brilhantes alunos do Real Colégio dos No- Brigada Real da Marinha e a edificação do Hospital Real da Marinha. Ace- bres. Em 1778, D. Maria I nomeou-o seu enviado extraordinário e minis- deu ao cargo de Ministro da Fazenda e Presidente Real Erário em 1801. tro plenipotenciário junto da Corte de Sardenha, em Turim. Em 1796 foi Em 1803 apresentou a sua demissão. Em 1807 apoiou a retirada da Fa- chamado a Lisboa para suceder ao falecido Martinho de Melo e Castro mília Real para o Brasil. Pouco depois da sua chegada ao Rio de Janeiro no cargo de Secretário e Ministro da Marinha e dos Domínios Ultramari- foi nomeado Ministro da Guerra e dos Negócios Estrangeiros e recebeu nos. Deve-se-lhe neste cargo a criação da Sociedade Real Marítima; a ins- o título de Conde de Linhares (1808). Faleceu em 26 de Janeiro de 1812.

 26 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA Corveta mista “Sá da Bandeira” steve patente ao público, entre 1 e 17 de naval de reserva, tendo, nos anos seguintes, la, onde substituiria a corveta “Duque da Ter- Fevereiro, a mostra bibliográfica, docu- efetuado cruzeiros e comissões em África e ceira”. Até 1879, a corveta “Sá da Bandeira” mental e iconográfica sobre a corveta no Oriente. A 9 de Março de 1868 largou de desempenhou um papel essencial e de gran- E“Sá da Bandeira” no rés-do-chão do torreão Macau com destino a Hong-Kong para rea- de relevo ao transportar tropas e armamento central da ex-Fábrica Nacional de Cordoaria. lizar fabricos e a 20 de Maio rumou ao Japão para os territórios ultramarinos, contribuindo Esta mostra pretende comemorar os 150 anos tendo como missão, dar proteção a cidadãos para a manutenção da paz, combate ao tráfi- da sua construção no Arsenal da Ma- co de escravos e erradicação de ações rinha em Lisboa e conta com docu- terroristas em Angola. mentação diversa sobre a construção Em 5 de Agosto de 1880, foi o enge- e atividade do navio e também peças nheiro inspetor naval D. Rodrigo de e fotos da época em que o mesmo es- Sousa Coutinho Teixeira de Andrade teve ao serviço da Marinha. Barbosa, 3º Conde de Linhares, encar- A corveta mista “Sá da Bandeira” foi regado de proceder ao saneamento concebida pelo engenheiro construtor do navio a fim de extinguir a praga naval D. Rodrigo de Sousa Coutinho de salalé que teria trazido de África. Teixeira de Andrade Barbosa, 3º Con- Contudo, extinguidos todos os esfor- de de Linhares, sob o modelo do na- ços para a salvação do navio, foi deli- vio inglês “Archer”. Assentou quilha berado aproveitar o casco para expe- na carreira no dia 13 de Fevereiro de riência de torpedos. A bordo do vapor 1860 e foi lançada à água em 30 de Ja- “Fulminante”, assistiram ao afunda- neiro de 1862. A 13 de Agosto do mes- mento da corveta “Sá da Bandeira”, mo ano, sob o comando do primeiro-tenente nacionais e às autoridades consulares, em vir- o rei D. Luís, o príncipe D. Carlos e o infante Carlos Testa, rumou a Inglaterra, com a finali- tude da guerra civil que aí lavrava. D. Augusto acompanhados das respetivas dade de lhe ser colocada uma máquina a vapor Face a revoltas ocorridas em Timor, a corve- comitivas. Atingida pelos torpedos do “Ful- e receber artilharia, pólvora e sobressalentes. ta “Sá da Bandeira” largou no ano seguinte, a minante”, a corveta “Sá da Bandeira” desa- Em Março do ano seguinte, a corveta mista 17 de Janeiro, conduzindo um contingente do pareceu para sempre, deixando na memória “Sá da Bandeira “ iniciava a sua intensa ati- batalhão de linha de Macau e transportando da história da Marinha, aquele que foi um dos vidade operacional, largando para Tânger e munições e artilharia diversa. De volta à me- primeiros navios a ser construído no Arsenal Casablanca a fim de proteger os interesses trópole no ano de 1871, recebeu importantes da Marinha e que cumpriu cabalmente todas portugueses em Marrocos em virtude da agi- fabricos no Arsenal da Marinha, operação que as missões que lhe foram atribuídas durante tação social que se vivia naquelas paragens. se prolongou durante 3 anos. Em 26 de Julho todo o seu período de atividade operacional. De volta à metrópole vai integrar a divisão de 1874, largou para a estação naval de Ango- 

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Portugal ganha a candidatura à organização do Congresso Internacional de Museus Marítimos em 2013 Comissão Organizadora do Interna- Mar assumem uma importância estratégica. A escolha e a organização do ICMM 2013 tional Congress of Maritime Museums A candidatura foi apoiada, entre outros, pelo são de inegável prestígio para Portugal, po- (ICMM) decidiu atribuir a Portugal a Almirante Chefe do Estado-Maior da Arma- tenciando a sua imagem e a dos Museus en- Aorganização do próximo Congresso Interna- da, pelo Presidente da Câmara Municipal de volvidos. Para o Museu de Marinha, reveste- cional de Museus Marítimos, no período de Cascais e por membros do Governo que tute- -se de especial significado, porquanto em 2013 08 - 14 de Setembro de 2013. decorrem 150 anos sobre a sua criação. O ICMM é um evento bienal de Portugal está representado nesta ins- grande relevo no domínio técnico e tituição pelo Museu de Marinha, Mu- técnico-científico no âmbito da salva- Foto Rui Salta seu do Mar Rei D. Carlos (Cascais) e guarda, conservação, proteção e di- Museu Marítimo de Ílhavo. vulgação do património marítimo e Na candidatura à organização do dos aspetos museológicos conexos, o ICMM 2013 houve a preocupação de qual visa incentivar a cooperação en- envolver instituições com forte repre- tre os participantes e a divulgação do sentatividade no domínio do Mar e trabalho que desenvolvem junto de da Museologia Marítima, ou seja, não entidades congéneres. apenas os museus portugueses mem- Cada ICMM ocorre em local sele- bros do ICMM. cionado mediante a avaliação das can- Cascais, com as suas infraestruturas didaturas apresentadas por parte dos camarárias, será o núcleo central do seus membros. A escolha da candidatura por- lam assuntos relacionados, nomeadamente as ICMM 2013, o qual terá um programa diversi- tuguesa, que competiu com propostas do Chi- Secretarias de Estado do Mar e do Turismo. ficado com visitas a vários museus, bem como le e da Suécia, confirma uma vez mais a vo- O anúncio foi feito durante o Congresso um passeio em embarcações tradicionais pro- cação de Portugal, em particular das áreas de deste ano, que decorreu recentemente em Wa- porcionado pela Marinha do Tejo, Pólo Vivo Lisboa e de Cascais, para acolher eventos de shington DC e Newport News, Estados Uni- do Museu de Marinha. projeção internacional em que os assuntos do dos da América.  Protocolo entre a Marinha e o Centro UNESCO Ciência, Arte e Engenho o passado dia 11 de Janeiro, realizou- kit pedagógico do projeto Europeu a iniciar ria das atividades marítimas dos Portugueses. -se, a bordo da Fragata D. Fernando II no ano letivo 2011- 2012. Entre as atividades planeadas pelo Cen- e Glória, a assinatura de um protocolo Este centro, sediado em Almada não é o tro UNESCO Ciência, Arte e Engenho para o Nentre a Marinha e o Centro UNESCO Ciência, único do género em Portugal. Integra a Fede- ano letivo 2011-2012, encontra-se um projeto Arte e Engenho, sediado na Escola Secundária ração Nacional de Clubes e Centros UNESCO, UNESCO centrado no conceito Viagem-Mun- Emídio Navarro em Almada. à qual pertencem mais de uma dezena de ins- do. Para o seu desenvolvimento, os respon- Assinaram o protocolo o Contra-Almirante tituições similares, espalhadas um pouco por sáveis pelo Centro consideraram este navio- Bossa Dionísio, Diretor do Museu de -museu como um referente simbólico Marinha, como representante da Ma- da memória coletiva e universal da rinha, a Dra. Maria Luísa Rodrigues Viagem-Mundo. Nasceu assim a ideia de Barros de Almeida Beato, Diretora Foto Rui Salta de celebrar este protocolo. da Escola Secundária Emídio Navar- Importa realçar nesse protocolo que ro, e a Dra. Rute Navas, Coordenado- estão criadas condições para o Centro ra do Centro UNESCO Ciência, Arte UNESCO Ciência, Arte e Engenho or- e Engenho. ganizar visitas à Fragata D. Fernando II O Centro UNESCO Ciência, Arte e e Glória com alunos e encarregados de Engenho tem como finalidade incen- educação. Deve ainda organizar, em tivar as relações com a comunidade coordenação com o Comandante da escolar e educativa no sentido de valo- Fragata D. Fernando II e Glória, a rece- rização das relações interculturais asso- ção da delegação do Projeto Europeu ciadas à memória da Viagem-Mundo, criar di- todo o país. Todas elas pretendem desenvolver “SHARP”, a ocorrer na Fragata. Trata-se de um nâmicas associadas às atividades disciplinares esforços no sentido de contribuir para os ob- projeto de dimensão internacional, desenvol- no âmbito histórico, geográfico, filosófico, lite- jetivos desta Organização das Nações Unidas, vido no âmbito da UNESCO. rário, científico, tecnológico e artístico integra- vocacionada para a Educação, a Ciência e a Por outro lado, à Escola Secundária Emídio doras dos conhecimentos culturais e civiliza- Cultura, fundada em 16 de Novembro de 1945. Navarro, através da sua Biblioteca Escolar e cional, produzir cenários vivos de informação Como é sabido, a Fragata D. Fernando II e Centro de Recursos, cabe a função de divul- e conhecimento em várias línguas com vista à Glória encontra-se atualmente em Cacilhas, gar as atividades realizadas, assim como ima- divulgação dos valores e Direitos do Homem numa das docas secas dos antigos estaleiros gens da Fragata. Essa divulgação será levada articulados às múltiplas áreas disciplinares e «H. Parry & Son». Essa localização torna o na- a cabo junto da comunidade educativa do do saber, bem como divulgar em suporte di- vio um polo privilegiado para as atividades concelho de Almada, bem como no âmbito gital e na Internet formas de representação do educativas das escolas da região, nomeada- da Federação Portuguesa dos Centros e Clu- Património Português e da Humanidade no mente aquelas que se relacionam com a histó- bes UNESCO.  28 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA HIERARQUIA DA MARINHA 14 DESPENSEIRODESPENSEIRO

palavra despenseiro tem raiz tificavam mais as funções do des- são muito mais explícitos sobre a na- latina (dispensãre) e significa penseiro. tureza dos géneros embarcados: «Co- aquele que tem as funções A bordo, a distribuição e reparti- nhecimento de Fernando Pelicano, des- Ade distribuir ou repartir os géneros ção dos géneros alimentares pelos penseiro da nau Santa Maria da Ajuda, alimentares. despenseiros era feita em rações, por que consta receber de Afonso Lopes, Refere Carbonel Pico, em Termino- por exemplo, cerca de 1,5 litros diá­ almoxarife dos mantimentos de Cochim, logia Naval Portuguesa anterior a 1460, rios para água e vinho, e 15 quilos 30 fardos de arroz, 300 côcos e 10 cháve- (pp. 382), que a primeira referência de carne salgada por mês. Ao des- nas de manteiga, tudo para mantimento conhecida a este termo, como fazen- penseiro também cumpria o abaste- da gente da dita nau» (Maço 34 nº 83 25- do parte da hierarquia da Marinha, cimento do navio, como é evidente 09-1512). Deste tipo de recibos pode data de 2 de Março de 1456. A mes- em vária documentação existente depreender-se que ao despenseiro, ma autora também afirma que exis- no Arquivo Nacional da Torre do tal como hoje acontece, para além de tem outras referências anteriores, Tombo (ANTT), relativa ao seu re- distribuir ou repartir os géneros ali- mas ligadas à actividade dos des- lacionamento com os almoxarifa- mentares em rações e de abastecer o penseiros dos monarcas e dos in- dos dos principais portos de apoio navio, cabiam igualmente tarefas ad- fantes, das comunidades religiosas às actividades marítimas nacionais: ministrativas de prestação de contas. e das casas muito ricas. «Mandado de Cristóvão da Gama para Das funções identificadas pode de- A actividade do despenseiro, ao que o Almoxarife de Ormuz dê ao des- duzir-se com bastante certeza que, serviço destas personalidades e en- penseiro do galeão Santiago, Cristóvão desde muito cedo, o despenseiro tidades relevantes, estava ligada à Gil, 20 mãos de arroz para mantimento desempenhou funções relevantes na distribuição e repartição dos géneros de oito canarins» (ANTT, Maço 135, organização da vida de bordo. Cer- alimentares que se encontravam na nº 17, 03-08-1526). tamente que sempre distintas das despensa, da qual possuía a chave Nesta documentação também se que competiam aos técnicos náu- para evitar eventuais desmandos de podem encontrar vários “conheci- ticos, mas que se enquadravam no outros serviçais. Nos navios, dada a mentos” dos despenseiros a ates- mesmo grupo de tarefas logísticas duração das viagens marítimas, as tarem em como receberam géneros atribuíveis ao escrivão, ao meirinho más condições de acondicionamen- alimentares: «Conhecimento de Simão e aos artífices de carpintaria, calafe- to e preservação dos géneros alimen- Martins, despenseiro da nau Santa Ma- tagem e tanoaria. tares nos porões e paióis, bem como ria do Paraíso, em como recebeu vários  a necessidade de abastecimento nos géneros» (ANTT, Maço 135, nº 172, António Silva Ribeiro portos demandados, ainda se jus- 13-09-1526). Alguns destes recibos CALM

VIGIA DA HISTÓRIA 41 EFEITOSEFEITOS DODO MARMAR sabido que o mar provoca, na barcados vários presos condenados à neamente fez entrega de uma porta- generalidade das pessoas, as re- pena de degredo. ria régia em que lhe era concedido o acções mais dispares, enquanto Um desses degradados era Felicia- perdão pelo crime cometido e o au- Épara uns os ajuda a relaxar, para ou- no José da Costa que, pelo crime de torizava a desembarcar em qualquer tros constitui motivo de crispação, se falsificação de moeda, seguia com porto que quisesse. a uns lhes aumenta a capacidade de destino a Moçambique sob pena de Informou ainda que era igualmen- concentração a outros impede-os de o morte se acaso se ausentasse daque- te portador de uma carta do Meiri- fazer, a uns a sua capacidade criativa la colónia. nho Mor para o Vice-Rei do Brasil surge aumentada quando andam no Apesar das más condições de na qual toda a situação era descrita. mar enquanto a outros tal não se ve- transporte, bem piores do que já de si Se é possível que, por efeito do rifica, enfim, andar no mar não deixa deficientes da maioria dos tripulan- mar, a capacidade inventiva do Fe- ninguém indiferente. tes, a ação do mar ter-se-á feito sentir liciano José tivesse sido aumentada, O episódio que hoje se divulga inse- na actividade levada a cabo pelo Fe- o mesmo efeito não deverá ter tido re-se claramente no que atrás se dei- liciano José que, pouco depois de ter quanto à resistência física e à psíqui- xou referido como facilmente se po- largado de Lisboa, terá feito chegar ca pois, sujeito a interrogatório, rapi- derá verificar. ao Comandante uma carta que lhe damente se soube estar-se na presen- Em 1779 o navio Neptuno, sob o era destinada, alegadamente escrita ça de meras falsificações. comando do Capitão Tenente Dioní- pelo Cardeal, na qual este lhe infor-  sio Ferreira Portugal seguiu viagem mava ser o Feliciano seu afilhado e Com. E. Gomes para a Índia, com escalas previstas lhe pedia que o protegesse especial- Fonte: no Rio de Janeiro e em Moçambique mente que não o juntasse no rancho Arquivo Histórico Ultramarino doc. 9122 e, como era usual, nele seguiam em- com os outros degredados. Simulta- Rio de Janeiro

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2012 29 NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (11) O cão de água português… uma alegoria de Portugal

À minha avó dedico este escrito… havia cão perdido ou abandonado que ali não atividades variadas, mas sempre ligadas ao “Só morrem, desaparecem de vez, as pes- encontrasse abrigo. Chegavam escanzelados, mar... O escritor Raul Brandão, na sua obra soas que não foram amadas…” os ossos sob a pele faziam uma gaiolita arfante, Os Pescadores (1932), descreve assim a ativi- que continha um coração farto de maus tratos, dade de um barco de pescadores do Algarve: Zélia Gattai, Cittá di Roma em que a fome parecia ser apenas o mais evi- “Tripulavam-no vinte e cinco homens e dois dente. Chegaram a ser quinze os cães naquela cães (...) Era uma raça de bichos peludos, aten- empre gostei de animais. Cresci numa casa. Uns mais velhos, outros meros cachorros, tos cada um a cada bordo, ao lado dos pesca- quinta, antiga, daquelas que tinha va- uns brancos, outros pretos, outros malhados, to- dores. Fugia o peixe ao alar da linha, saltava Scas, porcos, cavalos e mulas e, sim, um dos bons cães… Com eles e com a minha avó o cão ao mar e ia agarrá-lo ao meio da água, ou outro burro de quatro patas e orelhas gran- aprendi o valor da vida – já que muitas vezes trazendo-o na boca para bordo (…)” des. Nessa quinta aprendi grandes lições, que depois de vender o gado na Vila, ela me levava A partir do século XX, com as novas tecno- desafiavam a compreensão de uma criança. ao canil da Câmara Municipal. Aí de um mon- logias da pesca, o trabalho dos cães de água Aprendi que podemos afogar até mesmo os tão de olhares infelizes ela dizia, imperativa: perdeu importância. O número de animais patos se os mantivermos na água demasiado - Escolhe um destes (cães) para levarmos. da raça diminuiu muito e na primeira me- tempo; aprendi que tentar fazer carrocinhas Escolhe bem, pois só o que escolheres é que tade daquele século os poucos exemplares com carneiros e bodes era perigoso…pois eles estará vivo amanhã… existentes restringiam-se ao Algarve. A raça não são brinquedos, têm só sobreviveu graças a al- vontade própria, investem e guns (poucos) criadores e podem magoar… em particular quando al- Aprendi que os animais, guns animais foram expor- mesmo dentro da mesma tados para o estrangeiro. No espécie, têm espírito e são estrangeiro reconheceram- todos diferentes uns dos ou- -lhe rapidamente as quali- tros. Aprendi – e esta verda- dades e adaptaram-no a to- de vai fazer sorrir alguns dos das as atividades marítimas, leitores (os outros vão achar desde o resgate marítimo, que ensandeci de vez) - que ao trabalho, aquático, com a galinha é um animal alta- seres humanos deficientes mente social, que reconhece motores e ou mentais…nes- a família e os seres humanos te particular, e nos Estados que os tratam até ao dia em Unidos, foi com alegria que que lhe apresentam a solu- descobri que alguns destes ção final (talvez a traição -fi cães são usados para visitas nal), na ponta de uma faca… a crianças gravemente doen- para fora de um mundo que tes internadas nos Hospitais. nunca controlaram. Parece que afagar o seu farto Deixei, já há cerca de três pelo sedoso diminui a ansie- anos, de comer carne – ex- dade aos pacientes, diminui ceto em situações em que o o seu sofrimento e cria sen- não comer daquele manjar ofende os outros Lembro-me então de um rapazito que, ape- timentos positivos, que predispõem à recupe- comensais, como, ocasionalmente, ocorre na quenado pela responsabilidade da escolha, lá ração...Uma vez que temos uma tendência a Marinha. A decisão foi fundamentada também escolhia um pintas, um ruca, ou qualquer ou- aceitar todas as ideias de fora como boas, tal- na ciência médica, já que, desengane-se o lei- tro nome da moda…de então… vez, também aqui, esta fosse uma boa utiliza- tor, pouco vem de bom do consumo de carne Foi assim com imensa alegria que me depa- ção para esta bela raça de cães… a partir da idade adulta. Essa decisão colocou- rei com um genuíno cão de água português. Tudo isto se deveu ao facto de ter conheci- -me em paz com a minha consciência infantil. Daqueles que agora são cães de resgate na- do um cão (melhor dito, uma cadela) de água Aquela que me avisava de que aquele frango val em França, ou estão na família do homem que fez parte da guarnição do nosso lugre de que eu ia atualmente comer – apesar de ter mais poderoso do mundo (o presidente ameri- quatro mastros, o “Creoula”. Não fiquei desi- sido condenado a nascer e viver num aperta- cano), mas que no seu próprio país estiveram ludido. Trata-se de um animal afável, prestá- do aviário, onde a luz contínua não permite quase votados à extinção e ao abandono – e vel e um crédito para a Marinha e para Portu- distinguir o dia da noite e onde come farinhas neste sentido são um ícone de como tratamos gal. De algum modo, se meditarmos sobre o obtidas das entranhas de outros animais e enri- aquilo que é nosso, ou melhor, se quisermos, assunto, as raças dos cães capturam parte da quecidas com toda a sorte de químicos – tem da forma como nos tratamos a nós próprios… alma do povo que os criou. Ainda bem – con- as mesmas capacidades daquele outro galito Originalmente, o cão de água - excelente cordará o leitor – que somos no mundo repre- de antanho, que me saltava para o ombro e nadador - foi utilizado pelos pescadores por- sentados por um animal como este, genero- debicava, no boné de palha, a maçaroca seca, tugueses como ajudante nos barcos, guiando so, empreendedor e, é claro, intrinsecamente que eu lá havia escondido cardumes de peixes às redes, recuperando ligado ao mar… Naquela mesma quinta, a minha avó colecio- objetos caídos na água, levando mensagens  nava os meus animais favoritos…Os cães. Não entre barcos e entre a terra e o mar e noutras Doc

30 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA NRP Zaire comemorou 40 anos

ealizou-se no passado dia 22 de de- O NRP Zaire é o sétimo da série zembro, a cerimónia comemorativa de dez navios patrulhas da classe do 40º aniversário do NRP Zaire, que “Cacine”, construído nos Estaleiros Rteve lugar no Cais 8 da BNL e onde estive- Navais do Mondego, na Figueira da ram presentes 33 convidados. Foz, tendo sido aumentado ao Efecti- Esta cerimónia, presidida pelo VALM vo dos Navios da Armada em 22 de Monteiro Montenegro, Comandante Na- dezembro de 1971, segundo a OA1 Comandantes do N.R.P. “Zaire” val, contou com a participação de altas Nº 67 de 20DEZ71. Atualmente, dos 22-12-71 1TEN Luís Filipe Vidigal de Aragão individualidades­ da Marinha ligadas ao dez navios patrulhas iniciais, apenas 28-2-74 1TEN Orlando Luís Saavedra Temes de Oliveira seu comando operacional e administrativo, permanecem operacionais os NRP’s 06-12-74 CTEN José Howell Santos Heitor com realce para a presença de 18 dos 25 co- Cacine, Cuanza e Zaire. 22-1-76 1TEN Fernando de Sousa Maciel 28-01-77 1TEN João Carlos Pina Correia Marques mandantes, dignamente representados pelo Ao longo destes 40 anos, o NRP 17-08-78 1TEN João Manuel de Farinha Almeida Godinho seu primeiro comandante, o CMG REF Vi- Zaire percorreu milhares de milhas 14-12-79 1TEN José António Rodrigues Pereira digal de Aragão. numa área 18 vezes superior ao terri- 29-04-82 1TEN Arménio Cunha 16-07-85 1TEN Fernando Manuel de Macedo Pires da Cunha Após a formatura geral da guarnição, al- tório nacional, do Continente aos Ar- 23-07-87 1TEN Francisco Emílio Neves da Piedade Vaz tura em que foram proferidas algumas pa- quipélagos da Madeira e dos Açores, 10-11-89 1TEN Caetano Fernandes Augusta Silveira lavras pelo atual Comandante e pelo VALM executando várias missões na área 17-12-90 1TEN Edgar Marcos de Bastos Ribeiro Comandante Naval, celebrou-se este assina- do domínio público marítimo, apoio 07-10-91 1TEN Jorge Manuel Novo Palma 20-11-92 1TEN Pedro Manuel Filipe do Amaral Frazão lável aniversário com um Porto de Honra e às populações locais, bem como mis- 26-01-95 1TEN Joaquim Manuel Malhadas Teixeira um bolo alusivo ao evento, permitindo des- sões de presença naval e de busca e 29-09-95 1TEN Nuno José de Melo Canelas Sobral Domingues te modo, e em especial aos antigos coman- salvamento, tendo ainda participado 22-08-96 1TEN Filipe Alexandre Silvestre Matos Nogueira 05-03-98 1TEN José Cardoso da Cruz Gomes dantes presentes, em cima de um gasto con- em diversos exercícios navais, sen- 22-02-00 1TEN David Augusto de Almeida Pereira vés, reviver tão gratas memórias, num são do um puro exemplo de uma políti- 26-02-02 1TEN Carlos Manuel Baião Monteiro reencontro de pessoas, amigos e camaradas. ca naval alicerçada no “duplo uso”. 25-09-03 1TEN Hélder Manuel da Costa Pires Aranha 04-03-05 1TEN Pedro Manuel Cruz dos Santos Jorge No final da cerimónia, os convidados tive- Por fim, é pois oportuno desejar 22-02-07 1TEN Nuno Filipe Lourenço Morgado ram a possibilidade de registar a sua presen- felicidades ao Zaire, na esperança 14-10-08 1TEN Rui Francisco de Castro Afonso ça no Livro de Honra do navio, onde ficou que possa ainda continuar a sulcar 06-09-10 1TEN João Pedro Nunes das Neves Simões bem patente, de como os antigos comandan- os nossos mares, fazendo jus ao seu  tes ficaram agradecidos a este navio. passado. Colaboração do COMANDO DO NRP ZAIRE

REVISTAREVISTA DA DA ARMADA ARMADA • • FEVEREIRO JANEIRO 20032012 1131 Rohde & Schwarz - na vanguarda da tecnologia

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 1 Norte (N): 2     3 9 A D A 4 8 V V R 5 4 9 10 7 6 8 7 Oeste (W): Este (E): 8         9 10 10 7 D 7 9 10 R 6 11 6 D 4 V 5 5 8 4 10 2 8 2 2 6 3 HORIZONTAIS: 1-Pronome pessoal; fazer arpejos ( inv ) 2-Lavra; renova (inv) . 4 2 3-Cracejas (inv); pássaro conirrostro semelhante ao pardal (inv). 4-Tambo (ant); 3 Sul (S): pequeno navio costeiro qua aparelha com dois latinos e velame do gurupés. 5-Bispo de Auch e poeta latino (cerca de 370-439) (Santo); abreviatura de     tonelada. 6-Casa; borras. 7-Planta bignoneácea do Brasil e da África; o mesmo A 7 A 9 o que abraço (inv). 8-o mesmo que nout. Conciliar. 9-Propaga; e icó (inv). R R 6 10-Metera em atoleiro; apetite sexual dos animais. 11-Sassara na confusão; D 5 5 porcelana oriental. V 3 VERTICAIS: 1-Dores nas glândulas mamárias; 2-Irisar; diz-se da veia que conduz 3 o sangue ao fígado. 3-Planta rosácea, cujo fruto é o marmelo (pl). 4-Célebre condessa de Castela, que se enamorou de um príncipe mouro e foi envenenada por seu filho Sancho Garcia; peça com que se estreita a abertura dos chapéus. 5-Roa na confusão; jogo de cartas; entregas. 6-Irritara (inv); utensílio para afiar E-W vuln.Analise as 4 mãos e encontre a linha de jogo que S deverá seguir para facas (Bras) 7-No princípio de jeira; o mesmo que olá, rio da Suíça que banha cumprir o contrato de 7♠, com a saída a ♥R? Berna. 8-Tire na confusão; rio da Alsácia que nasce no Jura setentrional. 9-Nome vulgar de um género de peixes do Brasil. 10-No princípio de reotomo; nome próprio feminino. 11-Guarda-pratas.

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 149 Contando as vazas rápidas temos 12 (5♠+1♥+4♦+2♣), pelo que teremos de con- SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 431 seguir anular a perdente a ♣ para cumprir o contrato. Este é mais um exemplo de uma técnica de carteio que já apresentámos em problemas anteriores, denominada HORIZONTAIS: 1-Mim; Rajepra. 2-Ara; Aretier. 3-Sir; Oairrog. 4-Tamo; pelo morto invertido. Vejamos então como deve S aplicá-la neste problema: faz de Iate. 5-Orencio; Ton. 6-Lar; Lia. 7-Ipe; Oxelpma. 8-Noit; Liar. 9-Irradia; Ori. A e joga outra ♥ que corta de 3; destrunfa 2 vezes e vê cair o 10 de W; vai ao mor- 10-Atolara; Cio. 11-Sasasar; Aas. to em ♣ e joga outra ♥ para cortar; volta ao morto também em ♣ e joga a última ♥ que corta com o trunfo restante em mão; vai agora ao morto em ♦, tira o último VERTICAIS: 1-Mastodinias. 2-Irias; Portas. 3-Marmeleiros. 4-Ona; Tala. 5-Rao; trunfo com o 9 baldando o ♣ perdente, e faz mais 3 vazas em ♦, perfazendo as 13 Cro; Das. 6-Arari; Xaira. 7-Jei; Ole; Aar. 8-Etri; Ill. 9-Piratapioca. 10-Reoto; Maria. necessárias (3♠ a destrunfar+3 no corte das ♥+1♥+4♦+2♣). 11-Argentàrios.

Nunes Marques Carmo Pinto CALM AN 1TEN REF

AVISO

SACADURA CABRAL – O HOMEM, O NAVIO

l Por ocasião da passagem dos 90 anos da 1ª. Travessia Aérea do Atlântico Sul (30Mar – 17 Jun 1922), protagonizada pelos en- tão comandantes Gago Coutinho e Sacadura Cabral, um grupo de oficiais que serviram no NRPCte Sacadura Cabral pretende, de forma singela, associar-se às comemorações do notável feito, organizando um encontro aberto a todos os oficiais que, ao longo de cerca de 40 anos, nele prestaram serviço. Este encontro servirá, igualmente, para perpetuar a imagem e a “vida” do Navio que orgulhosamente ostentou o nome daquele Herói nacional. Do evento, a realizar-se em Celorico da Beira no dia 12 de Maio, consta a realização de uma pequena cerimónia junto ao bus- to de Sacadura Cabral, existente na praça com o seu nome, a que se seguirá um almoço, a decorrer localmente. Solicita-se a todos os interessados que contactem: CMG Vaz Ferreira (936065318, RTM 324684); CMG Borges Gaspar (213217605, RTM 329602) ou CMG Rocha de Freitas (912185047, 210977327, RTM 305227), ou, ainda, por correio electrónico (revista.armada­ @marinha.pt) e que ajudem a divulgar esta iniciativa. Posteriores elementos, relativos ao programa, serão oportunamente i­ndicados pela via mais adequada.

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2012 33 NOTÍCIAS PESSOAIS

 RESERVA Sílvio Caiano Cardoso SAJ H Luís Alberto Borges Coelho Martins de Sousa  SAJ MQ Guilherme Joaquim Rosado Xavier de Almeida  SAJ    A Pedro Manuel Rufino Oliveira Serras SAJ A Claudino Augusto da CMG FZ Manuel Leão de Seabra CMG FZ António Augusto Pe- Silva Alves  SAJ MQ António Manuel Viegas da Ajuda  SAJ M Nel- reira Leite  CMG FZ Armando Jorge da Costa Pereira Lourenço     son Rodrigues Monteiro SAJ H Manuel José Moreira Augusto SAJ CFR Pedro Miguel de Antas Torre CFR Paulo Fernando de Almeida CM José Fernando Avelar Malaquias Paulino  SAJ R João Francisco Pa- da Cruz Sobral  CTEN SEC António Luís Antunes Pires  CTEN TS    raíba Pereira SAJ FZ José Palma Santos SAJ FZ João Duarte da Cos- Victor Gregório Rodrigues Mendonça CTEN TS Paulo Jorge Fernan- ta  SAJ FZ António Manuel dos Santos Silva  SAJ FZ Francisco João des da Silva Martins  1TEN STP Joaquim António Caldeira Silvério     Faria Rodrigues 1SAR L Martinho da Conceição Piedade 1SAR E 1TEN ST MEC João António Gomes Cardoso 1TEN TS Victor Ma- Francisco Martins Gomes  1SAR CM Martinho de Oliveira Carrasqui- nuel Martins Escalda. nho  1SAR US José Maria Pereira Machado  1SAR US Lúcio Teixeira Martins  1SAR US Flaviano Lourenço da Rosa  1SAR C José Alfredo REFORMA Gonçalves Pinheiro  2SAR M Francisco Teixeira dos Santos  CAB FZ Abílio Rodrigues Esteves  CAB L Manuel Jorge Bentinho de Oliveira  CMG AN António Joaquim Almeida e Moura  CMG Augusto Cé-  CAB TFD António Ismael da Silva  CAB CRD Agostinho Carvalho sar da Gama Ferreira de Carvalho  CMG João António Cota Fevereiro; Banha; CAB CCT José Manuel Cabrita dos Santos  CAB CCT Sebastião CMG FZ João Alberto Pires Carmona  CMG Jorge Fernando Veiga de Guiomar de Oliveira  CAB CRD Arlindo José Farinheira Calhau  CAB Matos e Sá  CFR EMQ Luís Miguel Valente Dias Guerreiro  CFR MN CM Manuel José Victoriano Coelho  CAB M José Manuel Lima Miguéis Fernando Manuel da Rocha Alves  CTEN SEP Luís Miguel Manuel da de Vasconcelos  CAB M Guilherme de Jesus Coutinho  CAB M Ante- Silva Berrona  CTEN SEB Manuel Joaquim Coradinho Madaleno  ro Martins Pinto  CAB TFD José Boaventura Barbeitos Sousa  CAB L 1TEN OT Albertino Manuel Estrela Amado  1TEN OT Luís Manuel An- António João Neves Martins Alvito  CAB CM Fernando António Mar- tunes Correia  1TEN STAEL José Manuel Machado Marques  1TEN ques das Neves  CAB A Humberto da Anunciação Ferreira  CAB V TS José Júlio Jesus Lopes Gregório  1TEN TS Carlos Alberto da Fonse- José Carlos dos Santos Salgueiro  CAB T Alexandre Jorge Pereira Frija ca Gonçalves  SMOR T António Fernando Teixeira Cardoso  SMOR Simões  CAB A Carlos Alberto Alves da Costa  CAB T Valentim Viei- CM Adelino Vicente dos Ramos Rosado  SCH L António de Almeida ra Afonso  CAB M António Manuel Valbom  CAB A Fernando de Al- Machado  SCH M Agostinho Teixeira Duarte  SCH SE Nilton Álva- meida Ferreira Rodrigues  CAB TFP Delfim Jorge da Conceição Santos ro Fonte  SCH ETC Orlando Manuel Rosa Duarte  SCH R António  CAB V Fernando Manuel dos Santos Almeida  CAB T Mário Fran- Bento dos Santos  SCH ETS Joaquim Dias Pereira de Sousa  SCH T cisco das Dores Martins  CAB A Paulo Jorge Peixinho Lopes  CAB José Augusto Raimundo Salgueiro  SCH ETS Armando José Silva dos TFD João Carlos Antunes de Almeida Pinto. Santos  SCH H António Manuel Guerreiro Colaço  SAJ TF Fernando Cabrita dos Santos  SAJ TF José Inácio Ferreira da Silva  SAJ L José Francisco Correia Abraços  SAJ A Fernando Martins Rodrigues  SAJ FALECIDOS L Carlos Manuel Fernandes leal  SAJ A Fernando do Carmo da Silva Lázaro  SAJ L Adriano Fernandes de Sousa  SAJ C João Maria Rosá-  CMG CAP REF David Vaz Monteiro  CMG MN REF Fernando Da- rio Fernandes  SAJ A Joaquim Silveira Ramos  SAJ MQ Francisco da vid  1TEN SG REF José Gomes Baptista  SMOR H REF Amadeu da Cruz Martins  SAJ CM Agostinho de Oliveira Freitas  SAJ TZ Luís Costa  SMOR FZ José Jerónimo Raposo  SMOR GRAD FZ REF José Duarte dos Santos  SAJ CM Horácio Nobre Aleixo  SAJ ETI Mercindo Afonso Neto  SAJ M REF Manuel Alves Rodrigues  SAJ L REF João Gonçalves da Silva  SAJ ETS Victor Manuel Gamito Rodrigues  SAJ E Francisco Correia  SAJ R REF Ilídio Augusto de Frias  SAJ T REF Amável Manuel Campos  SAJ M José Maria de Jesus Silva  SAJ CM Luiz da Fonseca Martins  1SAR TF REF Jerónimo Emídio Vidigal  Francisco Lourinho Rosado  SAJ A francisco Constâncio Alves  SAJ CAB SE REF António Bernardes da Silva  CAB Q REF José da Silva  CM Torcato Martins de Lima  SAJ FZ António Teixeira Dias  SAJ FZ CAB FZ REF José Manuel Neves Vaz  AJ.MAN. QPMM APOS Rodrigo Matias Zacaria Machado  SAJ T António Pereira da Fonseca  SAJ H António Pato  1GRT M REF Flamínio do Reis Canavarro.

CONVÍVIOS “FILHOS DA ESCOLA” DE OUTUBRO 66 1º ALMOÇO DA CLASSE DE “TORPEDEIROS” l No passado dia 22 de Outubro, realizou-se um encontro/convívio l Realizou-se no passado dia 2 de dezembro, em Corroios, o do 45º aniversário dos “Filhos da Escola” de Outubro de 1966. O con- 1º almoço da Classe de Torpedeiros da Armada. vívio teve por ponto de encontro o Portão Verde, seguindo-se uma O convívio decorreu em ambiente de grande camaradagem e visita à Fragata “Bartolomeu Dias” e missa em memória dos camara- serviu essencialmente para rever camaradas e amigos. das já desaparecidos na Capela de Nossa Senhora do Mar, no Alfeite. Por fim, os cerca de 150 convivas, entre “Filhos da Escola”, fami- liares e amigos, rumaram ao”Manjar das Laranjeiras”, em Fernão Ferro, onde decorreu um almoço num ambiente de grande alegria e sã camaradagem.

“FILHOS DA ESCOLA” DE ABRIL 64 l A fim de comemorar o 48º aniversário do alistamento na Ar- mada, vai realizar-se a 21 de abril o almoço-convívio dos “Filhos da Escola” de abril de 1964, este ano na vila de Arganil. Os interessados em participar devem para o efeito contactar: José Gomes Tm 963 018 181/235 204 468, Ulisses Cadete Tm 918 836 631/ 963 182 554, Acácio Almeida Tm 917 267 914/239 455 415, Romão Durão Tm 966 236 364.

34 MARÇO 2012 • REVISTA DA ARMADA

Navios Hidrográficos

14. O Navio Hidrográfico Mandovi

O Mandovi era uma canhoneira da classe “Beira” construí­ planos hidrográficos, em várias escalas, referentes aos por­ da no Arsenal da Marinha, em Lisboa, lançada à água em 8 tos de Bissau, Bubaque, Bolama, rio Cacheu, rio Grande de de Junho de 1918 e aumentada ao Efetivo dos Navios da Ar­ Buba, canal do Geba e baías de Caió, Injante e Escaramuça. mada a 19 desse mês. Durante o mesmo período foi também efetuado o levanta­ Possuía as seguintes características: mento cartográfico de todo o território através de processos Deslocamento máximo...... 492 toneladas aéreofotogramétricos realizados pela Aviação Naval. Comprimento (fora a fora) ...... 44,80 metros Ainda, na obra atrás citada, o Comandante Crespo refere Boca...... 8,30 “ as dificuldades que enfrentaram para levar a bom termo a Calado ...... 2,10 “ sua missão na Guiné: A geodesia e os levantamentos topográficos Velocidade ...... 13 nós e hidrográficos da Guiné sempre foram considerados como proble- Dispunha de duas máquinas alternativas de tríplice expan­ mas técnicos de difícil solução. são com a potência de 700 cavalos e duas caldeiras cilíndricas A geodesia e a cartografia teriam de ser executadas numa região Yarrow, utilizando carvão como combustível. quase plana, coberta de densa e alta vegetação, cruzada por nu- Estava armada com merosos cursos de água e duas peças Armstrong com uma zona insular de de 75 mm, duas de 47 algumas centenas de ilhas mm e duas metralha­ e ilhéus. doras Nordenfelt. A A hidrografia parecia sua lotação inicial era reunir todas as circuns- de 67 homens. tâncias desfavoráveis a Enquanto canhonei­ um trabalho cómodo e ra, além de ter presta­ agradável: profundidades do, maioritariamente, muito pequenas e distri- apoio à fiscalização da buídas irregularmente pesca na costa conti­ nos canais, nos rios e ao nental portuguesa, durante os nos anos de 1919 e 1920 fez largo da costa marítima; correntes de marés muito fortes; marés várias comissões aos Açores. variando rapidamente em tempo e em amplitude; dificuldade de Em Outubro de 1946 foi classificada como Navio Hidrográ­ operar o navio hidrográfico, com relativa segurança; margens di- fico, após o que recebeu algumas transformações e equipa­ fíceis de sinalizar e com grandes zonas de lodo que dificultavam o mentos, ficando no início de 1948 pronta para desempenhar desembarque do material e do pessoal; má visibilidade; más condi- missões no âmbito de Missão Geo-hidrográfica da Guiné. ções de mar para sondar em pequenas embarcações. A Guiné constitui um território com uma orografia muito Nestes últimos sete anos concluiu-se praticamente toda a geode- peculiar, atravessado por uma profusa rede de rios e canais, sia; realizou-se mais de metade da hidrografia, abrangendo todas o que aconselhava à subordinação dos trabalhos de hidro­ as zonas que interessam à navegação que presentemente escala os grafia e geodesia sob uma direção única, o que veio a suce­ portos da Província; concluíram-se 30 folhas da carta topográfica. der, após perto de três décadas de paragem dos trabalhos E conclui: O levantamento Geo-hidrográfico da Guiné Portu- de hidrografia, com a constituição, em 14 de Abril de 1944, guesa é, em última análise, mais um serviço da Armada Nacional a Missão Geo-hidrografia da Guiné. no Ultramar Português. Coube ao então Primeiro-tenente Manuel Pereira Crespo O trabalho então concretizado foi de extrema importân­ a incumbência de chefiar a Missão e, algum tempo depois, cia para a atualização da informação, uma vez que a mesma o comando do Mandovi, tendo sido o seu único comandan­ vinha sendo feito por entidades estrangeiras e limitava-se te enquanto navio hidrográfico. No seu livro “Trabalhos da a reproduzir informações desatualizadas, sendo motivo de Missão Geo-hidrográfica da Guiné (1948-1955)”, publicado inúmeros acidentes marítimos que originavam o encalhe e em 1955 pelo Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, o Co­ não raras vezes a irremediável perda de navios. mandante Crespo refere-se ao Mandovi como sendo um navio Ao N.H. Mandovi e à própria Missão, encontra-se associado cuidadosamente preparado e adaptado para o serviço hidrográfico de forma indelével o nome do Comandante Manuel Pereira que desde há sete anos opera ininterruptamente nas águas da Guiné. Crespo. Em 1956, sob a sua chefia, as atividades hidrográ­ Em virtude das dificuldades do Ministério da Marinha em ficas realizadas pela Missão Geo-hidrográfica da Guiné ad­ dispensar pessoal, a guarnição do Mandovi encontrava-se re­ quiriram tal amplitude e importância que levaram o Gover­ duzida ao estritamente indispensável, apoiando-se a Missão no Francês a condecorá-lo com o grau de Oficial da Ordem no recrutamento de nativos, maioritariamente de etnia Man­ da Legião de Honra. jaca, para funções auxiliares. Em 5 de Dezembro de 1956 o N.H. Mandovi, após oito Entre os trabalhos em que o navio participou desde Feve­ anos de valiosos trabalhos, que viriam a revelar-se de enor­ reiro de 1948, data da sua chegada a Bissau, destaque-se os me utilidade no planeamento de operações militares ocorri­ levantamentos hidrográficos que cobriram toda a área cos­ das na Guiné entre 1963/74, foi abatido ao Efetivo dos Na­ teira da Guiné, barras e entradas dos principais portos, rios vios da Armada. e canais navegáveis, correspondendo à publicação de seis cartas náuticas à escala 1:80.000. Foram ainda produzidos Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO

Navios Hidrográficos

14. O Navio Hidrográfico Mandovi