A Produção Teatral Paulistana Nos Anos 1980
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL ANEXO À TESE A PRODUÇÃO TEATRAL PAULISTANA DOS ANOS 1980 – R(AB)ISCANDO COM FACA O CHÃO DA HISTÓRIA: TEMPO DE CONTAR OS (PRÉ)JUÍZOS EM PERCURSOS DE ANDANÇA FICHAS TÉCNICAS – PEÇAS APRESENTADAS NA CIDADE DE SÃO PAULO NA DÉCADA DE 1980 Alexandre Luiz Mate São Paulo 2008 0 ANEXO: FICHAS TÉCNICAS — PEÇAS APRESENTADAS NA CIDADE DE SÃO PAULO NA DÉCADA DE 1980 Nada nos é estrangeiro porque tudo o é. A penosa construção de nós mesmos se desenvolve na dialética rarefeita entre o não ser e o ser outro. Imagens do Brasil. Paulo Emílio Salles Gomes. Sabemos bem – hélas – que a vertigem desta era tecnológica transfigura a cada dia os meios onde se inscreve a informação. Seriam outros, hoje, os recursos adequados para o registro da manifestação cênica. É preciso apressar o passo. No entanto a atitude investigativa de rever as fontes, de observar o percurso que, entre o projeto e a obra é mediado por um modo de produção histórico, deixa aberto um lugar para a atualização. Do mesmo modo, os grupos de criação coletiva reservaram uma clareira para que, sob a forma de improviso, o espetáculo assimilasse o momento presente. Grupos teatrais – anos 70. Prefácio. Mariângela Alves de Lima. O material aqui apresentado (2.042 fichas técnicas de peças teatrais adultas apresentadas na cidade de São Paulo na década de 1980) corresponde ao processo de pesquisa cujas referências foram, primeiramente, coletadas no jornal O Estado de S. Paulo e na Divisão de Pesquisas do Centro Cultural São Paulo – Arquivo Multimeios (antigo IDART), de março a agosto de 2006. Em setembro, cotejou-se este levantamento com os dos Anuários de Artes Cênicas à disposição no mesmo setor, cujo processo foi finalizado, em sua primeira etapa, em 14 de dezembro de 2007. Vale observar que a Divisão de Pesquisas do Centro Cultural São Paulo originou-se do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira Contemporânea do Departamento de Informação e Documentação Artística (IDART), ligado à Secretaria Municipal de Cultura, e que começou a funcionar em maio de 1975. A primeira diretora do órgão foi Maria Eugênia Franco, que montou as equipes técnicas de pesquisa; dentre elas, a de Artes Cênicas (compreendendo as linguagens teatral e de dança), cujos profissionais foram sugeridos pelo então Secretário Municipal de Cultura Sábato Magaldi, coordenados pela pesquisadora Maria Thereza Vargas. Em tese, o IDART, como instituição multidisciplinar, centrava seus objetivos na guarda, preservação, estudo e reflexão das manifestações artísticas brasileiras produzidas ou apresentadas na cidade de São Paulo. A partir de 1982, o IDART (que também abrigava o Centro de Pesquisas), no Centro Cultural São Paulo, passa a se denominar Divisão de Pesquisas – Arquivo Multimeios. De lá para cá, inúmeras conquistas e ações desenvolvidas ao longo desses anos perderam-se por diminuição das verbas destinadas ao setor; ao número de integrantes que compunham as diversas equipes de pesquisa; à compra e manutenção de equipamentos disponíveis; ao prestígio de que dispunham tanto o setor como o próprio trabalho e os profissionais a ele alocados. A importância do setor e o trabalho desenvolvido em um determinado tempo foram decisivos para a guarda de parte da memória cultural e documental da cidade e de sua socialização por diferentes estratégias adotadas por um longo período de tempo, como: publicações de resultados de pesquisa, exposições e seminários, que promoviam a discussão de diferentes assuntos ligados à preservação da memória cultural, colocando os acervos à disposição de pesquisadores e interessados. Lembra Mariângela Alves de Lima: O Centro de Informação e Documentação sobre a Arte Brasileira Contemporânea sistematizou a produção de registros audiovisuais dos espetáculos apresentados no circuito cultural paulistano. Foi quando se tornou visível e audível a memória do acontecimento teatral até então perseguida pela escrita. Por meio de gravações sonoras, 1 registros fotográficos e acompanhando também a repercussão crítica dos espetáculos constitui-se, se não uma metodologia, pelo menos um método para a captura da feição polissêmica da obra.1 O setor, com valorosa e importante história, em maio de 2008, é extinto por ingerências inalcansáveis e sem explicação da administração. Os grupos de trabalho transformaram-se em uma única equipe de curadores. Os pesquisadores, que anteriormente registravam a produção cultural da cidade, pelas já citadas fontes, deixam de fazê-lo.2 O trabalho que vinha sendo feito com muito vagar, em relação àquilo que se produzia, deixou de existir a partir de janeiro de 2008: tristes os nossos trópicos. Muito tristes. Na quase totalidade das introduções dos Anuários elaborados pela equipe de pesquisa em artes cênicas da Divisão de Pesquisas do Centro Cultural São Paulo, escritas por vários pesquisadores, como Maria Thereza Vargas, Sílvia Fernandes, Heloisa Margarido Sales, Maria Lúcia Pereira, Mauro Meiches, foram consultados releases dos grupos, os jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Jornal da Tarde, Folha da Tarde, e as revistas IstoÉ/Senhor e Veja.3 O material coletado caracteriza-se no que se pode chamar de discurso sobre a produção teatral, comentando aquilo que já aparece nos veículos de imprensa. Trata-se de obra restrita, repleta de lacunas e construída a partir de um processo, cujas fontes, também lacunares, apresentam uma seleção rigorosamente tendenciosa pelos interesses de editores, de jornalistas, pela dimensão do roteiro do dia, pelo provável sistema de rodízio dos espetáculos, sem critérios mais verificáveis e tantas outras variáveis. Assim, nenhum jornal e nem mesmo publicações especializadas cobrem sequer o chamado circuito comercial. Para desenvolver a pesquisa, foi escolhida como primeira fonte o jornal O Estado de S. Paulo. Esta escolha destinava-se, inicialmente, a rastrear apenas as críticas de Mariângela Alves de Lima, de 1980 a 1989, tendo em vista a importância e respeito ao objeto de análise escolhido, que é tanto a linguagem teatral como o espetáculo ao longo da década, e nas outras que se seguiram, sempre no mesmo jornal. Mariângela Alves de Lima4 demonstra, ao longo de mais de trinta e cinco anos de trabalho, coerência surpreendente. Síntese, coesão, elegância, sutileza e moderação no uso de adjetivos, escopo conceitual tem constituído seu exercício e experiência crítica.. Característica esta que se manteve ao longo dos anos, apesar da crescente diminuição no espaço destinado a esse fazer, sobretudo no jornal diário e mesmo com relação à própria função que o trabalho crítico já havia representado naquele jornal. Para apresentar apenas um exemplo de expressivo procedimento que pauta a divulgação dos espetáculos, há uma matéria de quase um terço de página, com fotografia central de Malu Mader em espetáculo com estréia prevista para março do ano seguinte. Assinada por Edmar Pereira, a matéria apresenta, por entre divulgação de várias outras obras, frases eivadas por um demolidor senso comum, expressões apologéticas, chavões mercadológicos e simplistas, comparações, tais como “The show must go on: apesar da crise, da incerteza, de todos os medos, o teatro não vai parar em 89. Mas vai ter muito cuidado. (...) O sonho da maioria dos profissionais do palco [sem explicitar a que maioria se refere] é uma peça para 1 Mariângela Alves de LIMA. Prefácio. In: Sílvia FERNANDES. Grupos teatrais – anos 70. Campinas: Editora da Unicamp, 2000, p.7. 2 Cf. Decreto no 49.492, de 15 de maio de 2008, publicado no Diário Oficial do Município, de 16/05/2008, p.2, 53(90). 3 Apesar de serem praticamente sete modalidades diferentes de fontes consultadas, a partir de 1986, é marcante a falta de informações acerca de certos espetáculos em cartaz. Os roteiros de teatro, que em alguma ocasião ofereceram inúmeros dados sobre a obra, a partir da data em epígrafe, passaram a apresentar apenas o título e uma ou outra informação. Datas de estréia e de encerramento ficaram impossíveis de serem recuperadas. 4 Formada pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, com habilitação em Crítica Teatral, Mariângela dá início ao seu trabalho como crítica em janeiro de 1970, no jornal O Estado de S. Paulo, instituição em que permanece até hoje. Para mais informações cf. Anuário de Teatro de Grupo da Cidade de São Paulo – 2004. São Paulo: Escritório das Artes, 2006. 2 poucos personagens, com um cenário leve e fácil de ser transportado, que permita a recuperação em turnês do investimento que o público da capital não conseguir transformar em lucro [portanto, fala naquilo que se designa teatro-mercadoria – obra cujo interesse econômico supera qualquer outro].” Acerca do valor do ingresso: “Imagine-se que na Broadway nova-iorquina ou no londrino West End o preço de um ingresso varia de 40 a 50 dólares. Em São Paulo (...) não chegaram a cinco dólares – menos do que o preço médio dos cinemas nos Estados Unidos e Europa.” “Paulo Autran, o mais reverenciado ator brasileiro (...) um one-man-show.” “Cerimônia do Adeus, o lindo (especialmente no primeiro ato) texto de Mauro Rasi.” “a grande Fernanda Montenegro mudou seus planos”; “O mais inteligente e refinado humor brasileiro, o que leva a griffe de Jô Soares” “Março é também o mês em que a musa nacional Malu Mader escolheu para estrear no teatro paulista.” Ainda em relação a março: “O mês não precisava de mais nada para tornar-se referência obrigatória de todo espectador, mas ainda teve a sorte de ser