Uma Pequena Potência É Uma Potência? O Papel E a Resiliência Das Pequenas E Médias Potências Na Grande Guerra De 1914-1918
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Uma PeqUena Potência é Uma Potência? o PaPel e a Resiliência das PeqUenas e médias Potências na GRande GUeRRa de 1914-1918 Instituto Instituto da Defesa Nacional da Defesa Nacional nº 18 Uma Pequena Potência é uma Potência? O Papel e a Resiliência das Pequenas e Médias Potências na Grande Guerra de 1914-1918 Coordenação: Ana Paula Pires António Costa Pinto António Paulo Duarte Bruno Cardoso Reis Maria Fernanda Rollo Lisboa Agosto de 2015 Instituto da Defesa Nacional Os Cadernos do IDN resultam do trabalho de investigação residente e não residente promovido pelo Instituto da Defesa Nacional. Os temas abordados contribuem para o enriquecimento do debate sobre questões nacionais e internacionais. As perspetivas são da responsabilidade dos autores não refletindo uma posição institucional do Instituto de Defesa Nacional sobre as mesmas. Diretor Vitor Rodrigues Viana Coordenador Editorial Alexandre Carriço Núcleo de Edições Capa António Baranita e Cristina Cardoso Nuno Fonseca/nfdesign Propriedade, Edição e Design Gráfico Instituto da Defesa Nacional Calçada das Necessidades, 5, 1399-017 Lisboa Tel.: 21 392 46 00 Fax.: 21 392 46 58 E-mail: [email protected] www.idn.gov.pt Composição, Impressão e Distribuição EUROPRESS – Indústria Gráfica Rua João Saraiva, 10-A – 1700-249 Lisboa – Portugal Tel.: 218 494 141/43 Fax.: 218 492 061 E-mail: [email protected] www.europress.pt ISSN 1647-9068 ISBN: 978-972-27-1994-0 Depósito Legal 344513/12 Tiragem 150 exemplares © Instituto da Defesa Nacional, 2015 2 Uma PeqUena Potência é Uma Potência? Índice Introdução 5 Bruno Cardoso Reis PortugaleaSociedadedasNações:oPapeldoMultilateralismona PolíticaExternaPortuguesa 9 Maria Francisca Saraiva AGrandeGuerranaGenealogiadaEstratégia 25 António Paulo Duarte ACampanhaPortuguesaemMoçambique:APrimeiraExpedição 37 Aniceto Afonso «CaiuaMortenestaPagodeira»:aIGuerraMundialsegundooFado 49 Cátia Tuna OBrasilnaGrandeGuerra:umaContribuiçãoparaoEsforçoAliado 73 Miguel Dhenin Valterian Mendonça ODebateMilitarBrasileirosobreaDoutrinaMilitarnoContexto daPrimeiraGuerraMundialeassuasRepercussões 91 Sérgio Ricardo Reis Matos Julio Cezar Fidalgo Zary César Campiani Maximiano ACooperaçãoNavalBrasileiracomaMarinhaBritânicaem1918: oCasodaDivisãoNavalemOperaçõesdeGuerra 107 Francisco Eduardo Alves de Almeida ChinaandtheGreatWar:Resilienceof a«Minor»AsianPower 119 Raquel Vaz-Pinto The“Small”Powerof SmallGardenersduringtheGreatWar 127 Ana Duarte Rodrigues idn cadernos 3 4 Uma PeqUena Potência é Uma Potência? Introdução BrunoCardosoReis Licenciado e mestre em história contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade Lisboa. É também mestre em Historical Studies pela Universidade de Cambridge (2003). É desde 2008 doutor em história e teoria das relações internacionais/segurança internacional (War Studies – King's College). É atualmente investigador auxiliar no ICS, investigador associado no King's College e assessor do IDN. Tem sido professor convidado em várias universidades, nomeadamente no Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL e no Instituto de Estudos Políticos da UCP. O seu livro mais recente foi escrito com Andrew Mumford, e intitula-se “The Theory and Practice of Irregular Warfare”. Tem publicado também em várias revistas nacionais e internacionais, nomeadamente na revista Relações Internacionais n.º 42 de 2014, com o artigo “Portugal e as Pequenas Potências na Grande Guerra de 1914-1918”. O Instituto da Defesa Nacional organizou um seminário internacional, em Lisboa, entre 30 de Setembro e 1 de Outubro de 2014, com o apoio da Comissão Coordenadora da Evocação do Centenário da Primeira Guerra Mundial do Ministério da Defesa Nacio- nal, e em parceria com o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e o Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. O encontro científico deu lugar a 31 comunicações de investigadores nacionais e estrangeiros sobre o tema, desde trabalhos de alguns dos autores mais conceituados neste campo de estudos, até investigação inovadora em curso por académicos jovens. Seria impossível resumir de forma sintética toda a riqueza e diversidade das comuni- cações apresentadas. O que aqui procuraremos fazer é oferecer uma breve síntese, em sete pontos, do que foi um debate muito rico e que não se pretende dar como encerrado, mas tomar como ponto de partida para iniciativas e publicações nos próximos meses e anos. Se houve um aspeto que foi particularmente sublinhado nestas intervenções foi o facto de a abordagem da Primeira Guerra Mundial do ponto de vista do papel das peque- nas e médias potências, de potências emergentes e submergentes ser significativamente original podendo preencher um vazio importante na literatura académica sobre a Pri- meira Guerra Mundial. Tem ainda a vantagem de permitir estabelecer uma ligação entre os debates sobre a participação portuguesa no conflito e os debates mais relevantes inter- nacionalmente, assim como enriquecer a análise nacional da Primeira Guerra Mundial com uma dimensão comparativa. O único resumo possível dos ricos debates conceptuais sobre como classificar potências como pequenas, grandes, emergentes ou decadentes, é que se está longe de alcançar consenso. Mas parece existir uma tendência crescente, quer na História, quer nas idn cadernos 5 Relações Internacionais para reconhecer que há que tirar conclusões na forma de condu- zir a análise de eventos da Primeira Guerra Mundial, de que nem as pequenas potências são irrelevantes, nem as grandes potências são omnipotentes. Os organizadores do seminário procuraram na sua seleção das intervenções apresen- tadas oferecer uma visão ampla e, ainda que mais centrada na dimensão estratégica, tam- bém diversificada. Vimos, por exemplo, que uma pequena horta pode ser uma fonte de poder e resiliência (sob a forma de Victory Gardens nos EUA, mas também em Portugal da promoção da horticultura e da jardinagem como dever patriótico e a sua associação à recolha de fundos para a guerra); ou que essa forma musical tão portuguesa como o fado teve um papel importante como propaganda patriótica, sátira popular ou apelo pacifista. Esta Grande Guerra foi verdadeiramente global também por causa das pequenas e médias potências cuja análise é indispensável para melhor se perceber essa globalidade. É assim com pequenas potências na Europa, mas grandes em África (Bélgica, Portugal), ou potências emergentes fora do continente europeu como os domínios britânicos, desde logo a África do Sul, ou algumas das raras potências não-ocidentais como o Japão e a China (seria uma grande ou média potência, ou como se defendeu no seminário, efetiva- mente uma pequena potência) que têm os seus objetivos próprios. Esta globalização do conflito também se manifestou na importância da dimensão naval que nos leva ao Brasil, cuja principal modalidade de intervenção no conflito foi o envio de uma divisão naval, mas também a Cabo Verde e aos Açores, ocupando posições geoestratégicas vitais no quadro do conflito no Atlântico. Estes dois últimos casos são bons exemplos de como mesmo territórios pequenos podem ter grande importância numa Grande Guerra. A importância do Mediterrâneo assim como dos Balcãs, zonas tradicionalmente vistas como relativamente periféricas no equilíbrio de poder na Europa, assim como da Sérvia e da Itália em particular, mais uma vez foi apontada como exemplo de como regiões e potências frequentemente consideradas marginais e menores ou emer- gentes podem tornar-se zonas vitais e atores fundamentais num conflito militar global. Foi assim no crescendo de crises militarizadas da invasão italiana da Líbia, em 1911, pas- sando pelas Guerras Balcânicas de que emergiu uma Sérvia reforçada e radicalizada, até à crise de Junho/Julho de 1914 que levou à Grande Guerra. Como foi assim novamente no contágio da guerra em 1915-1916 a países como a Itália, a Roménia, a Grécia ou Por- tugal. A importância de uma estratégia total, também designada grande estratégia, foi refe- rida, várias vezes e de várias maneiras, nestas análises relativamente à Grande Guerra, uma guerra cada vez mais total, a exigir a máxima mobilização de recursos humanos e materiais, de aliados e recursos. Foi sublinhada a sua importância nomeadamente para perceber o resultado do conflito em 1918, em que ficou claro a vantagem das potências Aliadas neste campo, desde logo como as principais potências marítimas, também na maior capacidade de captação para o seu lado de pequenas e médias potências, e de pode- res emergentes como o Japão e os EUA. E sendo verdade que as pequenas e médias potências numa Grande Guerra têm necessidade de aliados entre as grandes potências. Também é verdade que num conflito a exigir máxima mobilização de homens e recursos, 6 Uma PeqUena Potência é Uma Potência? mesmo a adição de pequenas potências a um dos blocos de grandes potências em con- flito pode fazer diferença, forçando a dispersão do adversário ou fornecendo acesso a recursos ou posições estratégicas. A neutralidade foi uma opção para algumas pequenas potências – como a Holanda ou a vizinha Espanha – mas, sobretudo por questões de localização, não para outras – como a Bélgica ou Grécia, embora mesmo nestes casos lhes tenha sido deixada ainda uma escolha crucial, a de resistir ou colaborar com a intervenção de grandes potências no seu território. A neutralidade trouxe algumas vantagens económicas importantes para os países neutros. Mas mesmo nesses casos eles não deixaram de ter de suportar também grandes custos da guerra ao nível de perturbação das importações ou dos créditos vindos do exterior,