Tese Do Minho Ao Mandovi.Pdf
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◄Caricatura de Norton de Matos, publicada na revista Humanidade , de 5 de Setembro de 1937, ilustrando um artigo intitulado “O Reformador de Angola”. SÉRGIO GONÇALO DUARTE NETO DO MINHO AO MANDOVI UM ESTUDO SOBRE O PENSAMENTO COLONIAL DE NORTON DE MATOS Dissertação apresentada no âmbito do Programa de Doutoramento em Altos Estudos Contemporâneos (História Contemporânea e Estudos Internacionais Comparativos) JULHO 2013 SÉRGIO GONÇALO DUARTE NETO DO MINHO AO MANDOVI UM ESTUDO SOBRE O PENSAMENTO COLONIAL DE NORTON DE MATOS RESUMO A longa vida do general José Norton de Matos (1867-1955) teve na questão colonial, apesar do “Milagre de Tancos” e da sua candidatura à presidência da República, em 1949, um esteio maior. Com efeito, a sua comissão na Índia, (1898-1908), onde dirigiu os Serviços de Agrimensura, a sua participação na missão encarregue de delimitar os limites de Macau (1909-1910), assim como os cargos de Governador-Geral (1912-1915) e de Alto-Comissário (1921-1924) da província de Angola, assinalaram muitos anos de actividade no Ultramar, a que se seguiu, uma vez concluída a acção no terreno, a redacção de livros de pendor doutrinário e uma vasta colaboração em jornais e revistas, sendo de destacar aquela que desenvolveu n’ O Primeiro de Janeiro (1931-1954). De resto, é possível falar num saber (sobretudo) de experiência feito, em que Norton beneficiou do contacto directo com colonialistas de gerações anteriores, como Mouzinho de Albuquerque, Henrique Paiva Couceiro ou Joaquim José Machado, governador da Índia quando da sua chegada a este território. Seja como for, as leituras dos clássicos ingleses da colonização tiveram o seu lugar no ideário “nortoniano”, expressando o general grande apreço pela aliança com a Grã- Bretanha e admiração pelos seus processos administrativos nos territórios africanos e na Índia. O objectivo deste estudo é seguir o percurso colonial de Norton de Matos, de modo a integrá-lo na sua época. Havendo convivido com a questão ultramarina, ao longo de três regimes políticos, ensaiar-se-á avaliar a sua experiência colonial a partir das linhas de força da Monarquia Constitucional, da Primeira República e do Estado Novo. Apreciar os debates e os argumentos trocados. Explicar o impacto da geopolítica mundial do período de entre-guerras no olhar desta importante figura histórica portuguesa do século XX, cotejando-a com a mitologia colonial herdada da Primeira República e aqueloutra desenvolvida pelo Estado Novo. Importa, pois, estabelecer os pontos de contacto entre os três regimes e explicitar algumas ideias que permearam as suas visões, nomeadamente, o mito prometeico da “gesta colonizadora”, o Apartheid , a miscigenação e o entendimento colonial que fazia dos imperialismos coloniais, assim como as primeiras independências, na Ásia e em África. ABSTRACT The colonial question was the great aim of the long life of General José Norton de Matos (1867-1955) despite others achievements as “Miracle of Tancos” and his electoral campaign for the presidency of the Republic in 1949. Indeed, his commission in India (1898- 1908), where he directed the Topography services, his participation in the mission in charge of defining the borders of Macao (1909-1910), as well as the offices of Governor-General (1912 -1915) and High Commissioner (1921-1924) in the province of Angola were his greatest achievements. After those years, Norton begun to write doctrinal books and articles. Most notably in O Primeiro de Janeiro (1931-1954) of Oporto. Norton benefited from direct contact with colonialists of the previous generations, as Mouzinho de Albuquerque, Henrique Paiva Couceiro or Joaquim José Machado, governor of India upon his arrival to this territory in 1898. Anyway, the readings of the colonial British literature had its place in the ideology of Norton. He expressed great appreciation for the alliance with Great Britain and admiration for their administrative territories in Africa and India. The aim of this study is to follow the colonial thinking of Norton de Matos, in order to integrate his main ideas in the Portuguese colonial ideology. Having lived over three political regimes, Monarchy, First Republic and New State this study will try to understand the evolution of Norton de Matos thinking. It intends to explain the impact of global geopolitics of the period between the wars in the most important historical figure of the Portuguese 20 th century, comparing the inherited colonial mythology of the First Republic and the developed by the New State regime. Therefore it is important to establish the contact points between the three regimes and explain the ideas that permeated his views, in particular, the Promethean myth, the Apartheid, the miscegenation and the imperialistic point of view, as well as the first independences in Asia and Africa. ESCLARECIMENTOS 1. Na presente dissertação de doutoramento não se adoptou o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1990, em vigor desde 2009, tendo o autor decidido seguir o Acordo Ortográfico de 1945, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 32/73, de 6 de Fevereiro. 2. Nas transcrições de textos, as grafias foram actualizadas, mantendo-se, todavia, a pontuação, mesmo que incorrecta, ressalvando os casos em que manifestamente se trataria de uma gralha no texto original. 3. No texto principal, nas notas e na bibliografia, não se actualizou a grafia dos títulos das obras e dos jornais. 4. O texto, apesar de constituir um estudo do pensamento de Norton de Matos, procurou fazer um longo enquadramento da questão colonial no século XIX, seguindo uma ordem cronológica, com as necessárias referências de cunho biográfico. ÍNDICE RESUMO ………………………………………………………………………………….7 ABSTRACT ………………………………………………………………………………..8 ESCLARECIMENTOS …………..………………………………………………………….9 INTRODUÇÃO ……………………………………………………………………………13 PRIMEIRA PARTE – ACADEMIA , QUARTEL , SERTÃO CAPÍTULO I – DO BRASIL À CONTRACOSTA 1.1. AS BANDEIRAS DE SÁ 1.1.1. O fim de um ciclo. Um novo começo? ..……………………………………30 1.1.2. O “Obreiro sonhador do Império” ………………………………………….34 1.2. AS MUITAS CORES DO MAPA COR -DE -ROSA 1.2.1. O corvo e o cordeiro …………………………………………….…………. 46 1.2.2. Direitos históricos e ocupação efectiva ……………………………………. 54 1.2.3. O Ultimato Inglês e o ultimar do Império …………………………………. 59 CAPÍTULO II – AS SOMBRAS DE UM “L UGAR AO SOL ” 2.1. ARQUEOLOGIA DO RACISMO E ANTROPOLOGIA DO DETERMINISMO 2.1.1. Para um regresso a África e ao Oriente...…………………………………... 65 2.1.2. Escola de Enes, Geração de Mouzinho ………………………………….….78 SEGUNDA PARTE – UM SABER (S O)BRETUDO DE EXPERIÊNCIA FEITO CAPÍTULO I – O JOVEM 1.1. RAÍZES , JUVENTUDE E FORMAÇÃO 1.1.1. Os primeiros anos ……………………………………………………...……92 1.1.2. De Lisboa a Coimbra e de Coimbra a Lisboa …………………………….…99 1.1.3. No regimento de Mouzinho….……………………………………………... 111 CAPÍTULO II – O AGRIMENSOR 2.1. NA “R OMA DO ORIENTE ” 1.1.1. Velhas e Novas Conquistas ……………………………………………...…. 118 1.1.2. Funções e Comissões …………………………………….…………………132 1.1.3. “O Passado e o Presente de uma Colónia Portuguesa” ….……….……..…. 140 2.2. DO MINHO A MACAU 2.2.1. Uma questão de Limites? .………………………………….….…………....148 2.2.2. Uma missão, várias tentativas, nenhum resultado...…….………………….. 157 2.2.3. “Cavaquearemos hoje sobre Macau ” e a China...……………….………..... 162 CAPÍTULO III – O GOVERNADOR -GERAL 3.1. A OBRA DA REPÚBLICA 3.1.1. A obra feita e a obra por fazer ………………………………………………168 3.1.2. Política, jornalismo e docência …………………………………………..…175 3.1.3. O Duelo de Ambaca ………………………………………………………... 187 3.2. “E DIFICAR QUALQUER COISA DE DURADOURO E BELO ” 3.2.1. “Catorze vezes a extensão da Metrópole Distante”..……………………….. 198 3.2.2. “Ordem e Progresso”.………….……………………………………………. 207 3.2.3. Das outras transformações de Angola ………………………………………218 CAPÍTULO IV – O ALTO -COMISSÁRIO 4.1. PROCÔNSUL OU IMPERADOR ? 4.1.1. Mutações da República ………………………………………………….…. 231 4.1.2. De 1912 a 1921: uma evolução na (des)continuidade? ……………………. 247 4.1.3. Luanda, Lisboa, Londres ………………………………………………....... 259 TERCEIRA PARTE – CONCEPÇÃO COLONIAL E LEGADO CAPÍTULO I – “M ÍSTICA IMPERIAL ” VERSUS “N AÇÃO UNA ” 1.1. DE JOÃO BELO A ARMINDO MONTEIRO 1.1.1. Um acto colonial ……………………………………………………………. 277 1.1.2. Os jornais e(m) revista(s)……………………………………………………. 291 1.1.3. O Mundo Português – ética e estética…………………………………….…. 302 CAPÍTULO II – IMPÉRIOS DO MUNDO E CONCEPÇÕES HISTÓRICO -COLONIAIS 2.1. OS (P EN )Ú LTIMOS ANOS DO IMPÉRIO PORTUGUÊS 2.1.1. Raízes do Mundo que o Português criou ……………………………………. 312 2.1.2. Prometeu ou a ronda colonial …………………………………………......... 325 2.1.3. Guerra, eleições e testamento ……………….………………………………. 335 CONCLUSÕES ……………………………………………………………………………..345 FONTES E BIBLIOGRAFIA ...……………………………………………………………….353 ANEXOS ……………………………………………………………………………………386 INTRODUÇÃO A notoriamente longa vida do general Norton de Matos, iniciada em Março de 1867 e terminada em Janeiro de 1955, levou Yves Léonard a mediá-la entre a Conferência de Berlim de 1884/1885 – momento em que Norton despertou para a questão ultramarina –, e a Conferência de Bandung de 1955 1. Certamente que o historiador francês escrevia à luz de um entendimento mais lato da questão colonial, pois situava Norton de Matos entre o encontro que definira as regras da ocupação do continente africano, prelúdio a um imperialismo europeu cada vez mais agressivo, e a reunião que ditara o carácter irreversível do fim do colonialismo, mas que não deixava de espelhar, de modo antagónico, a Conferência de Berlim. No entanto, caso se leve em consideração somente o panorama nacional,