<<

FILHO, O. B. A.; RIGOTTI, J. I. R.; CAMPOS, J. Os níveis hierárquicos das cidades médias de

OS NÍVEIS HIERÁRQUICOS DAS CIDADES MÉDIAS DE MINAS GERAIS

Hierarchical levels of medium-size cities in Minas Gerais

Oswaldo Bueno Amorim FILHO1 José Irineu Rangel RIGOTTI2 Jarvis CAMPOS3

RESUMO ABSTRACT

Desde o final dos anos 1970, três classificações das cidades Since the end of the 1970’s three classifications of medium- médias de Minas Gerais foram realizadas por Amorim Filho sized cities in Minas Gerais were developed by Amorim Filho e associados. A primeira dessas classificações resultou de and associates. The first of these classifications is the result pesquisas e do tratamento de informações geográficas rea- from research and the treatment of geographic information lizados principalmente no Instituto de Geociências da UFMG carried out mainly at Instituto de Geociências da UFMG, entre 1974 e 1981, e publicada em 1982. Desta pesquisa between 1974 and 1981, and published in 1982. Maria pioneira, participaram também Maria Elizabeth Taitson Bue- Elizabeth Taitson Bueno (Cartography) and João Francisco de no (Cartografia) e João Francisco de Abreu (quantificação). Abreu (quantification) also took part in this pioneer research. Entre 1997 e 1999, já na PUC Minas, Amorim Filho e Abreu Between 1997 and 1999, Amorim Filho and Abreu produced voltaram a colaborar e foi realizada a segunda classificação at PUC Minas the second classification of medium-sized cities das cidades médias de Minas Gerais, desta vez em conexão in Minas Gerais, this time in connection with the technopolitan com o potencial tecnopolitano desse grupo de cidades. Final- potential of this group of cities. Finally, in 2006, Amorim Filho, mente, em meados de 2006, Amorim Filho, Rigotti e Campos Rigotti and Campos developed the last of these classifications, elaboraram a última dessas classificações, igualmente na PUC at PUC Minas again. The present work aims at bringing forth Minas. Este trabalho busca apresentar uma reflexão sobre a reflection on the theoretical and methodological basis used as bases teóricas e metodológicas empregadas nessas três in these three classifications and on their main results. classificações e sobre seus principais resultados. Key words: Palavras-chave: medium-size cities; Minas Gerais; hierarchies. cidades médias; Minas Gerais; classificações hierárquicas.

1 Doutor em Geografia – PUC Minas 2 Doutor em Demografia – PUC Minas 3 Mestrando em Geografia – PUC Minas – [email protected]

R. RA´E GA, , n. 13, p. 7-18, 2007. Editora UFPR 7 FILHO, O. B. A.; RIGOTTI, J. I. R.; CAMPOS, J. Os níveis hierárquicos das cidades médias de Minas Gerais

A CLASSIFICAÇÃO PIONEIRA DE 1982 Um outro problema – de solução mais difícil – dizia respeito à escolha do limiar demográfico inferior, a partir A primeira classificação das cidades médias mi- do qual seria formado o grupo de cidades a ser pesqui- neiras só foi possível como um dos resultados de cerca sado. A este respeito, assim se pronunciavam AMORIM de dez anos de pesquisas sobre esse tema, realizadas FILHO; TAITSON BUENO; ABREU, em 1982: a partir de 1969, por Amorim Filho e associados, inicial- mente na Fundação Universitária do Oeste de Minas A dificuldade maior apareceu quanto ao limiar inferior. – FUOM – em ; em seguida (1971–1973), na Embora (...) o limite de 20.000 habitantes pareça Universidade de Bordeaux III (França); e, entre 1974 ser o mais adequado para separar as médias das e 1981, no Instituto de Geociências da Universidade pequenas cidades, parece também evidente que as funções características das cidades médias possam Federal de Minas Gerais. ser exercidas por cidades com número inferior de Do ponto de vista operacional, a classificação habitantes, considerando-se a posição geográfica e hierárquica e a análise da distribuição dos diferentes as condições sócioeconômicas da região em que se níveis deste grupo de cidades nas regiões de Minas situam as referidas cidades. Com base, então, nesse Gerais só se tornaram possíveis pela feliz convergência raciocínio e procurando trabalhar com a menor mar- de três contribuições fundamentais: primeiramente, a gem de erro possível, optou-se por incluir no universo experiência acumulada por Amorim Filho em uma conti- de análise todas as cidades que tivessem cerca de nuada reflexão teórica sobre o tema das cidades médias 10.000 habitantes e mais na sede municipal em 1970, e um conhecimento empírico (em dezenas de trabalho com exclusão daquelas que fizessem parte da RMBH. Com isso, em um total de 722 cidades em todo o Es- de campo) de todas as cidades mineiras susceptíveis tado, selecionaram-se 102 cidades. (AMORIM FILHO; de se classificarem como médias; em segundo lugar, TAITSON BUENO; ABREU, 1982, p. 35). a competência desenvolvida por Abreu, no domínio de técnicas quantitativas de classificação (primeiramente A maioria absoluta desses 102 municípios já hierarquias e tipologias), durante seu doutoramento nos havia sido objeto de trabalhos de campo realizados por Estados Unidos; finalmente, as habilidades cartográficas Amorim Filho desde 1969. As cidades não pertencentes e gráficas, especialmente na confecção de mapas temá- a essa maioria foram visitadas entre 1979 e 1981.1 ticos, desenvolvidas por Taitson Bueno, também durante Quanto ao tratamento computacional dos dados, seus estudos na Universidade de Bordeaux III. sob a responsabilidade de Abreu, a opção recaiu sobre O primeiro desafio teórico-metodológico apareceu uma técnica até então muito pouco utilizada no Brasil: desde o início, com a necessidade de se definir qual uma Análise de Componentes Principais – ACP. Para seria o grupo de cidades a ser estudado e classificado, essa classificação estatística das 102 cidades, 25 va- uma vez que não fazia sentido, para a finalidade que riáveis foram selecionadas, referindo-se aos seguintes os autores se propunham, levantar informações sobre parâmetros: todas as 722 cidades de então, em Minas Gerais. Assim, desde o começo das pesquisas, optou-se, por razões •• crescimento da população urbana; teóricas, por não se incluir na pesquisa •• migrações; e toda sua região metropolitana. Já se sabia naquela • época que, mesmo englobando algumas cidades de • distribuição setorial da população ativa; porte médio, a atmosfera da RMBH (como de qualquer •• arrecadação municipal; região metropolitana) modifica o ambiente em que as • cidades médias desenvolvem em plenitude as funções • equipamentos e relações dos setores comer- e as relações que, teoricamente, se esperam de tais cial e de serviços; cidades. Em suma, as características mais típicas das •• equipamentos e relações do setor industrial; cidades médias são modificadas ou mascaradas - •• infra-estrutura de comunicação em geral; las cidades, por estarem inseridas em um organismo urbano de dimensão e complexidade bem maiores. •• posição da cidade considerada na rede urbana regional.

1 (*) É importante recordar aqui que, de 1979 a 1982, Amorim Filho foi diretor da Divisão de Geografia do Instituto de Geociências Aplicadas do Estado de Minas Gerais (IGA-MG) e este fato facilitou consideravelmente as visitas às cidades mineiras.

8 R. RA´E GA, Curitiba, n. 13, p. 7-18, 2007. Editora UFPR FILHO, O. B. A.; RIGOTTI, J. I. R.; CAMPOS, J. Os níveis hierárquicos das cidades médias de Minas Gerais

A ACP foi muito bem-sucedida, pois seus resul- entre um pouco mais de 70.000 até cerca de 200.000 tados apresentaram uma fortíssima compatibilização habitantes. São cidades que desenvolveram, parale- com os dados e impressões obtidos empiricamente e lamente à indústria, dinâmicos setores de comércio com as hipóteses teóricas. e de serviços. Assim, essas cidades, além de for- talecerem sua posição e suas ligações no domínio Além de um conhecimento bem mais detalhado regional, começam a estender essas ligações a pontos de cada uma das cidades de Minas Gerais, classificadas situados para além desses domínios. São, em sínte- como médias, esta primeira classificação trouxe uma se, cidades de estruturas já bem consolidadas e cujo contribuição fundamental. É que, antes desta pesquisa, crescimento futuro parece, sem dúvida, assegurado. as reflexões teóricas e alguns estudos monográficos (AMORIM FILHO; TAITSON BUENO; ABREU, 1982, levavam a crer que o grupo das cidades médias fos- p. 41). se um grupo compacto, formado por cidades muito semelhantes entre si. Os estudos (especialmente os •• Cidades Médias Propriamente Ditas – Essas trabalhos de campo), que deram suporte e substância cidades são aquelas com características mais à publicação do texto de 1982, mostraram, de maneira intermediárias, quando se trata do tamanho clara, que não é bem assim. Na verdade, com esses demográfico, da hierarquia e das funções estudos foi possível chegar à identificação de pelo me- econômicas. Em termos demográficos, há nos quatro níveis hierárquicos no interior do grupo das heterogeneidade neste nível hierárquico, mas cidades médias. as cidades aqui incluídas se encontram em sua quase totalidade com população entre 20.000 • • Grandes Centros Regionais – Trata-se do e 100.000 habitantes, ou seja, as cidades mais limiar superior, que serve para fazer a transição tipicamente médias, de acordo com os estudos entra as cidades médias de nível superior pioneiros de pesquisadores franceses sobre e as grandes cidades. Por isso, quando uma o assunto (por exemplo, Joseph Lajugie, em cidade é classificada na categoria de grande 1974). Também em suas interações essas centro regional, haverá necessariamente cer- funções de intermediação se destacam: ta imprecisão, encontrando-se pesquisadores e analistas que poderão incluí-la seja como cidade média, seja como cidade grande. Em suas relações externas, as cidades incluídas no grupo das médias (propriamente ditas) são caracte- Esses grandes centros regionais possuem um rizadas por certos aspectos bem peculiares. De um forte contingente populacional: no caso de Minas Gerais, lado, tendo em vista seu nível atual de desenvolvi- uma população urbana em torno de 400.000 habitantes. mento econômico, sua posição geográfica sempre Possuem, igualmente, uma economia saudável, equili- nos eixos ou entroncamentos principais das vias de brada em seus setores secundário e terciário, além de comunicação, essas cidades mantem relações im- portantes com centros maiores (...). De outro lado, já apresentarem núcleos (mesmo que embrionários) de essas cidades médias continuam a manter relações desenvolvimento de inovações tecnológicas. Polarizam intensas, constantes e diretas com as cidades me- vastos espaços regionais e mantêm relações econômi- nores e com o espaço microrregional a elas ligado. cas, culturais e demográficas até mesmo com cidades É essa função de ligação entre o espaço rural e as e regiões situadas fora de Minas Gerais. pequenas cidades microrregionais, de uma parte, e os centros urbanos mais importantes, de outra, que Cidades médias de nível superior: as cidades aqui constitui a própria essência dessa noção de cidade incluídas são sempre visualizadas, em qualquer média, tão bem identificada nesse grupo de cidades... hierarquização, como cidades médias, quando se (AMORIM FILHO; TAITSON BUENO; ABREU, 1982, trata de classificações que cobrem todas as cidades p. 43). do Estado. No interior de suas próprias regiões, são encaradas pela população regional como cidades •• Centros Urbanos Emergentes – Este nível grandes. São cidades que possuem um dinamismo hierárquico é formado por cidades que se demográfico sustentado e, no caso do estudo publi- encontram na faixa transicional entre as cado em 1982, tinham populações que se situavam

R. RA´E GA, Curitiba, n. 13, p. 7-18, 2007. Editora UFPR 9 FILHO, O. B. A.; RIGOTTI, J. I. R.; CAMPOS, J. Os níveis hierárquicos das cidades médias de Minas Gerais

pequenas cidades e as cidades médias No quadro, alguns aspectos principais das cida- propriamente ditas. Em termos demográficos, des médias de Minas Gerais, no final dos anos 1970 e normalmente os centros emergentes não che- no início da década de 1980, merecem destaque: gam a 50.000 habitantes na sede municipal. •• no nível mais alto da hierarquia, A economia desses municípios em geral se tem uma presença de liderança e polarização encontra em fase de estruturação, podendo, incontestáveis, localizada mais ou menos a portanto, apresentar desequilíbrios interseto- meio caminho entre o e Belo riais. Em muitos desses centros emergentes, Horizonte; seu papel polarizador e sua su- observam-se importantes ligações com o premacia regional não têm nenhum paralelo mundo rural que os envolve: principalmente na Zona da Mata Mineira. Nas regiões limítrofes (Sul de Minas, Rio Doce e ... para esses espaços rurais, os centro urbanos emer- Campos das Vertentes, principalmente), sua gentes representam a primeira válvula de abertura em influência ainda se mantém em alguns muni- relação ao mundo exterior. (AMORIM FILHO; TAITSON cípios, mesmo enfrentando a concorrência de BUENO; ABREU, 1982, p. 44). outros pólos regionais importantes; •• no nível das cidades médias de nível superior Tendo por base esses quatro níveis hierárquicos (com exceção de São Lourenço e , das cidades médias, excluída as cidades da Região Me- que por uma imprecisão do procedimento tropolitana de Belo Horizonte, o trabalho de 1982 chegou quantitativo foram inadequadamente classifi- aos resultados apresentados no Quadro 1 e na Figura 1.

NÍVEL 1 (Grande Centro Regional): Juiz de Fora

NÍVEL 2 (Cidades Médias de Nível Superior): Uberlândia, , , , Poços de Caldas, Itajubá, , Governador Valadares, , , Divinópolis, São Lourenço e Caxambu.

NÍVEL 3 (Cidades Médias Propriamente Ditas): Teófilo Otoni, , ltuiutaba, , , Passos, São João deI Rei, Formiga, , Diamantina, Ubá, Araxá, Machado, Viçosa, , , , , , São Sebastião do Paraíso, Oliveira, , Três Corações, ltaúna, Leopoldina, , , Santa Rita do Sapucaí, Guaxupé, João Monlevade, Além Paraíba, , Pará de Minas, , , , Santos Dumont, Visconde do Rio Branco, Boa Esperança, Muriaé, São João , , .

NÍVEL 4 (Centros Emergentes): , Bom Despacho, , Timóteo, , , Manhuaçu, Sa- cramento, , Três Pontas, Arcos, Dores do Indaiá, São Gonçalo do Sapucaí, , , Bambuí, Janaúba, , Carmo do Paranaíba, Pium-í, Abaeté, Ibiá, , Mantena, Corinto, , São Gotardo, Santa Bárbara, , , , Paracatu, Unaí, João Pinheiro, , Aimo- rés, Carlos Chagas, Januária, Bocaiúva, , Araçuaí, Almenara, Salinas, , Mariana.

FONTE: Organizado por Amorim Filho, Taitson Bueno e Abreu (IGC–UFMG)

QUADRO 1 – HIERARQUIA DAS CIDADES MÉDIAS DE MINAS GERAIS – 1982

10 R. RA´E GA, Curitiba, n. 13, p. 7-18, 2007. Editora UFPR FILHO, O. B. A.; RIGOTTI, J. I. R.; CAMPOS, J. Os níveis hierárquicos das cidades médias de Minas Gerais

FIGURA 1: HIERARQUIA DAS CIDADES MÉDIAS DE MINAS GERAIS – 1982

cadas neste nível), todas as cidades desen- importante de industrialização, tem acelerado volvem forte centralidade em suas regiões, seu crescimento (Ipatinga, Coronel Fabriciano, com destaque para Uberlândia e Uberaba, no Divinópolis, João Monlevade, Conselheiro La- Triângulo Mineiro; Montes Claros, em grande faiete, entre outras); na metade norte de Minas parte do norte de Minas Gerais; e Governador Gerais, poucas são as cidades médias deste Valadares, no médio Vale do Rio Doce, assim nível hierárquico presentes: a constatação des- como em outras áreas do centro-leste mineiro ta carência reforça ainda mais a importância de e do centro-oeste capixaba; cidades como Teófilo Otoni e Nanuque, além de uma série de centros emergentes, espalha- •• no nível das cidades médias propriamente dos pela parte setentrional do estado; ditas, foram incluídas 43 cidades, que se encontram majoritariamente na metade sul •• no nível dos centros urbanos emergentes, de Minas Gerais, especialmente em três encontram-se 45 cidades com uma distribuição mesorregiões: Zona da Mata, Sul de Minas e mais significativa justamente nas regiões em Zona Metalúrgica (não se considerando nesta que as cidades dos níveis hierárquicos mais última a RMBH); em termos demográficos, altos têm menor presença: norte e noroeste as cidades deste grupo têm apresentado um de Minas, Vale do Jequitinhonha, Médio e Alto crescimento demográfico regular e sustentado, Vales do São Francisco; este último aspecto mas uma parte delas, em função de um ciclo permite levantar a hipótese de que, nessas

R. RA´E GA, Curitiba, n. 13, p. 7-18, 2007. Editora UFPR 11 FILHO, O. B. A.; RIGOTTI, J. I. R.; CAMPOS, J. Os níveis hierárquicos das cidades médias de Minas Gerais

regiões menos desenvolvidas socioecono- apareceram ligadas, de um lado, à necessidade desses micamente, o papel e as funções de cidades espaços de inovações estarem ligados, com facilidade, médias hierarquicamente superiores podem a outros espaços congêneres, formando redes ou eixos (mesmo que precariamente) estar sendo complexos e, de outro lado, à necessidade, manifesta- exercidos por organismos urbanos menores da pelos homens envolvidos nessas experiências, de e subequipados. quadros de vida mais agradáveis, propiciando níveis altos de qualidade de vida. Assim, na opinião de alguns dos mais eminentes A CLASSIFICAÇÃO DE 1999 estudiosos deste tema, os parques tecnológicos têm melhores condições de desenvolvimento bem-sucedido A maior parte da década de 1980 coincide com quando se localizam nas cidades médias. Dois dos uma relativa queda de interesse pelas cidades médias, mais conhecidos pesquisadores franceses, envolvidos uma vez que essas cidades tinham estado, nos anos com a questão dos tecnópolos, afirmaram que, na 1970, muito ligadas às políticas de planejamento urba- França, a tendência era a da “criação de pelo menos no e regional que se inspiraram na teoria dos pólos de uma tecnópole por cidade média” (BURNIER; LACROIX, crescimento. 1996, p. 46 e 47). Em função da diminuição de recursos para o Tendo em vista essas considerações, a FAPEMIG planejamento urbano e regional, além de uma mu- financiou um projeto para que, sob a coordenação de dança de foco das políticas públicas, que preferem Amorim Filho e a participação de Abreu, já no âmbito privilegiar problemas intra-urbanos (em especial do Programa de Pós-Graduação em Geografia – Tra- aqueles ligados à pobreza nas grandes cidades e tamento da Informação Espacial da PUC Minas, fosse metrópoles), as cidades médias passam por uma fase realizada uma atualização dos conhecimentos sobre de prestígio menor. a rede e a hierarquia das cidades médias mineiras e, Porém, desde o alvorecer da década de 1990, as a partir daí, com a realização de trabalhos de campo, cidades médias voltam a figurar entre as prioridades não fossem identificadas aquelas que maior potencial apre- somente de acadêmicos e planejadores como, também, sentasse para se tornarem tecnópoles. da mídia e da nova economia globalizada. Esse inte- A pesquisa teve a duração de dois anos (1997 resse, no decorrer dos anos 1990, se baseou no fato e 1998) e os resultados finais foram publicados em de que as cidades médias têm sido consideradas (com 1999. maior ou menor razão) como lugares privilegiados em No que diz respeito à metodologia, optou-se, termos de qualidade de vida, de preservação do meio desde o início, por usar como critérios quase todos ambiente e do patrimônio urbanístico, e como pólos de aqueles que haviam sido utilizados na classificação de atração dos crescentes fluxos turísticos. Além disso, 1982, inclusive com a manutenção dos quatro níveis nos campos científico e tecnológico, as cidades médias hierárquicos a que se tinha chegado naquele primeiro têm sido muito vinculadas (principalmente na França) estudo. Porém, duas modificações importantes seriam ao conceito de tecnópole, um dos mais importantes feitas: a primeira teve a ver com a inclusão, entre as fenômenos da economia globalizada. variáveis escolhidas para a classificação, de algumas A esse respeito, pensou-se originalmente que as que permitissem avaliar a importância das iniciativas de grandes cidades, capitais e metrópoles seriam os locais algumas cidades médias no campo das tecnologias de ideais para a criação dos pólos tecnológicos. De fato, ponta; a segunda foi a de se incluir entre as variáveis, as grandes aglomerações, principalmente nas regiões algumas mais ligadas ao tema da qualidade de vida mais desenvolvidas do globo, apresentam-se como urbana, inclusive o IDH. canditadas naturais a sediar esses complexos tecnoló- Das cidades selecionadas para a pesquisa, foram gicos, cuja prioridade maior é a criação, reciclagem e eliminadas, a priori, aquelas da Região Metropolitana difusão de inovações. de Belo Horizonte (que, além das razões já utilizadas Porém, mesmo nos países pioneiros nesse para sua eliminação no estudo de 1982, apresentam, campo, logo se viu que as grandes aglomerações, já como se sabe de antemão, a maior parte das condições saturadas, marcadas por deseconomias, não poderiam para sediar um ou mais parques tecnológicos) e as pe- ter o monopólio desses espaços de inovações tecno- quenas cidades, grande maioria das sedes municipais lógicas. em Minas, e que não têm, pelo menos por enquanto, À medida que foram se desenvolvendo os pro- como preencher os requisitos necessários à implantação jetos tecnopolitanos pelo mundo, novas exigências de parques tecnológicos.

12 R. RA´E GA, Curitiba, n. 13, p. 7-18, 2007. Editora UFPR FILHO, O. B. A.; RIGOTTI, J. I. R.; CAMPOS, J. Os níveis hierárquicos das cidades médias de Minas Gerais

As variáveis escolhidas foram agrupadas em No nível hierárquico mais alto (grandes centros re- oito indicadores principais, dotados, do ponto de vista gionais), nota-se que Juiz de Fora continua a manter sua teórico, de capacidade de identificar não somente uma posição de destaque no cenário urbano de Minas Gerais, hierarquia das cidades médias mineiras, como também mas foi alcançada, e mesmo em alguns quesitos, superada de selecionar, entre elas, as que mais condições apre- pela cidade triangulina de Uberlândia, que, em 1982, estava sentavam de criar e desenvolver um parque tecnológico. em nível hierárquico inferior. Esses indicadores foram os seguintes: Entre as cidades médias de nível superior, Barba- cena, Divinópolis, Governador Valadares, Itajubá, Montes 1) população urbana; Claros, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Uberaba e Varginha 2) índice de desenvolvimento humano (IDH); mantiveram, em 1999, sua posição hierárquica de 1982. Ipatinga, Coronel Fabriciano (ambas no nível 3, 3) renda familiar per capita média; 1982) e Timóteo (no nível 4) passaram a formar, com ou- 4) número de indústrias de ponta; tros municípios, uma nova aglomeração urbana (Região Metropolitana do Vale do Aço). Se essas cidades forem 5) total de eixos rodoviários que convergem para consideradas separadamente, cada uma aparecerá em cada cidade; um nível hierárquico diferente, com a ordem decrescente 6) presença de aeroportos; de Ipatinga, para Coronel Fabriciano e Timotéo. Se forem consideradas enquanto formadoras de uma nova unidade 7) presença e número de cursos superiores. urbana (a RMVA), na qual também se incluem outros Os resultados alcançados aparecem no Quadro municípios, aí, então, sua classificação entre as cidades 2 e na Figura 2, a seguir. médias perde muito do sentido, uma vez que as regiões A elaboração dessa classificação é significativa, metropolitanas possuem dinâmicas próprias e só devem, pois, mesmo levando-se em conta que tenha havido por princípio de coerência lógica, ser comparadas entre alterações em algumas das variáveis utilizadas, ela elas mesmas. Outras cidades que se encontravam no ní- permite a comparação com o quadro hierárquico pro- vel 3 (cidades médias propriamente ditas) em 1982 e que, duzido em estudo semelhante, dos mesmos autores, em 1999, subiram para o nível 2, são: Alfenas, Araguari, publicado em 1982. , Lavras, Passos e Patos de Minas.

NÍVEL 1 (Grandes Centros Regionais): Juiz de Fora, Uberlândia.

NÍVEL 2 (Cidades Médias de Nível Superior): Alfenas, Araguari, Barbacena, Divinópolis, Governador Valadares, Ipatinga (aglomeração), Itajubá, Ituiutaba, Lavras, Montes Claros, Passos, Patos de Minas, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Sete Lagoas, Uberaba, Varginha.

NÍVEL 3 (Cidades Médias Propriamente Ditas): Araxá, Caratinga, Cataguases, Conselheiro Lafaiete, Curvelo, For- miga, Frutal, Guaxupé, Itabira, Itaúna, João Monlevade, Leopoldina, Muriaé, Ouro Preto, Paracatu, Pará de Minas, Patrocínio, Ponte Nova, Santa Rita do Sapucaí, São João del Rei, São Lourenço, São Sebastião do Paraíso, Três Corações, Teófilo Otoni, Ubá, Viçosa.

NÍVEL 4 (Centros Emergentes): Abaeté, Aimorés, Além Paraíba, Almenara, , Araçuaí, Arcos, Bambuí, Barão de Cocais, Boa Esperança, Bocaiúva, Bom Despacho, Campo Belo, Carangola, Carlos Chagas, Carmo do Paranaíba, Caxambu, Congonhas, Conselheiro Pena, Corinto, Diamantina, Dores do Indaiá, Ibiá, Itabirito, Itamba- curi, Itapecerica, Janaúba, , Januária, Jequitinhonha, João Pinheiro, Lagoa da Prata, Machado, Manhuaçu, Manhumirim, Mantena, Mariana, Monte Carmelo, Nanuque, Nova Era, , Oliveira, Ouro Branco, Ouro Fino, Pedra Azul, Pirapora, Pium-í, Raul Soares, Resplendor, Sacramento, Salinas, Santa Bárbara, Santos Dumont, São Gonçalo do Sapucaí, São Gotardo, Três Pontas, Tupaciguara, Unaí, Visconde do Rio Branco.

FONTE: Organizado por Amorim Filho e Abreu (PUC Minas)

QUADRO 2 – HIERARQUIA DAS CIDADES MÉDIAS DE MINAS GERAIS – 1999

R. RA´E GA, Curitiba, n. 13, p. 7-18, 2007. Editora UFPR 13 FILHO, O. B. A.; RIGOTTI, J. I. R.; CAMPOS, J. Os níveis hierárquicos das cidades médias de Minas Gerais

FIGURA 2: HIERARQUIA DAS CIDADES MÉDIAS DE MINAS GERAIS – 1999

Por outro lado, São Loureço e Caxambu, cuja tratamento desses dados e, ainda, a controles de campo classificação no nível 2, em 1982, tinha sido, eviden- cada vez mais eficientes. temente, superestimada (por imprecisões técnicas), declinaram para níveis hierárquicos mais condizentes com suas reais posições na hierarquia das cidades A HIERARQUIZAÇÃO EXPLORATÓRIA DE 2006 médias mineiras, ou seja, São Lourenço, no nível 3, e Caxambu, no nível 4. Em 2003, o Colegiado do Programa de Pós- Nos níveis 3 e 4, enquanto várias cidades conse- Graduação em Geografia – Tratamento da Informação guiram manter suas posições hierárquicas nos últimos Espacial da PUC Minas, com a finalidade de contra- 20 anos, muitas outras tiveram as respectivas posições balançar a tendência para uma pulverização temática alteradas. Um aspecto interessante é que, entre os dois exagerada nas pesquisas de seus docentes e discen- estudos, houve um aumento geral no número de cida- tes, criou cinco projetos permanentes de reflexão e des do nível 4 (centros urbanos emergentes), enquanto pesquisa, coordenados por professores seniores, de diminuíram as cidades classificadas no nível 3 (cidades larga experiência e forte produção científica, cobrindo médias propriamente ditas). os temas apresentados no Quadro 3. Além das mudanças ligadas à própria dinâmica A partir de então, portanto, um dos objetivos das cidades no sobe-e-desce entre os níveis das hie- do coordenador deste projeto permanente (ou seja, rarquizações urbanas construídas com uma diferença que guarda sua continuidade, independentemente de cerca de 20 anos, é possível que uma parte pelo da existência, ou não, de financiamento externo para menos dessas variações se deva à utilização de dados suas pesquisas) é o de manter sempre atualizadas as mais fidedignos e ao aperfeiçoamento das técnicas de informações sobre as cidades médias de Minas Gerais.

14 R. RA´E GA, Curitiba, n. 13, p. 7-18, 2007. Editora UFPR FILHO, O. B. A.; RIGOTTI, J. I. R.; CAMPOS, J. Os níveis hierárquicos das cidades médias de Minas Gerais

PROJETOS PERMANENTES (TEMAS) PROFESSOR COORDENADOR

• Análise espacial e geoprocessamento ...... João Francisco de Abreu • Métodos matemáticos para a Geografia ...... Leônidas Conceição Barroso • Geomorfologia cárstica ...... Heinz Charles Kohler • Mudanças globais ...... João Alberto Pratini de Moraes • Cidades médias ...... Oswaldo Bueno Amorim Filho

QUADRO 3 – PROJETOS PERMANENTES DE PESQUISA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO ESPACIAL / PUC MINAS

Essa é a motivação mais remota e profunda para o O limiar demográfico inferior das cidades seleciona- desenvolvimento do projeto sobre as cidades médias das para a pesquisa mudou de 10.000 habitantes, usado recentemente concluídas. na primeira hierarquização (1982), para 14.000 habitantes. A outra motivação é o forte aumento do interesse Essa mudança se deve a uma constatação de campo, de acadêmico, dos planejadores urbanos-regionais e da acordo como a qual, algumas cidades, a partir desse limiar mídia em relação às cidades médias, desde o início demográfico, já começam, em certas regiões, a desenvol- dos anos 1990. ver, pelo menos parcialmente, equipamentos e funções Por outro lado, esse projeto visava, igualmente, próprios de cidades médias. Portanto, as cidades-sedes produzir trabalhos para três encontros internacionais, municipais, com populações inferiores a 14.000 habitantes, que tiveram lugar no segundo semestre do ano de 2006, consideradas estatística e aprioristicamente como cidades em Minas Gerais: pequenas, foram também descartadas. •• na PUC Minas de Belo Horizonte (em outu- O total de cidades selecionadas foi, então, de 131, bro): o VI Seminário Latino-americano de que corresponderia, em princípio, ao número atual de Qualidade de Vida Urbana e o V Seminário cidades que podem ser consideradas médias em Minas Internacional de Estudos Urbanos; Gerais, em seus quatro níveis hierárquicos. Foram, em seguida, coletados dados sobre essas •• na Universidade Federal de Uberlândia (em cidades e municípios, tendo em vista 39 variáveis, que novembro): o II Seminário Internacional so- cobrem os seguintes indicadores principais: bre Cidades Médias. •• demografia; A pesquisa teve início em 2005, com sua fase de • campo, que propiciou a visita a 60 cidades que fazem • atividades econômicas (agropecuárias e extra- parte da lista daquelas que, nas pesquisas anteriores, tivas, industriais, comerciais e de serviços); sempre foram classificadas como cidades médias. A •• comunicações e transportes. segunda etapa da pesquisa consistiu num trabalho de gabinete, com o uso intensivo do geoprocessamento. Esses dados relativos a cada cidade foram São os resultados dessa pesquisa que discutiremos a correlacionados por meio da Análise de Componentes partir deste momento. Principais, técnica confiável estatisticamente, já utilizada Mais uma vez, Belo Horizonte e as demais cida- nas classificações anteriores. Os resultados obtidos des da RMBH foram descartadas pelos motivos teóricos foram testados, mapeados, colocados em um quadro, já discutidos no presente texto. e aparecem a seguir.

R. RA´E GA, Curitiba, n. 13, p. 7-18, 2007. Editora UFPR 15 FILHO, O. B. A.; RIGOTTI, J. I. R.; CAMPOS, J. Os níveis hierárquicos das cidades médias de Minas Gerais

NÍVEL 1 (Grandes Centros Regionais): Juiz de Fora, Uberlândia.

NÍVEL 2 (Cidades Médias de Nível Superior): Araguari, Araxá, Barbacena, Conselheiro Lafaiete, Divinópolis, Gover- nador Valadares, Ipatinga, Itabira, Montes Claros, Muriaé, Passos, Patos de Minas, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Sete Lagoas, Teófilo Otoni, Uberaba, Varginha.

NÍVEL 3 (Cidades Médias Propriamente Ditas): Alfenas, Caratinga, Cataguases, Coronel Fabriciano, Curvelo, Formiga, Itajubá, Itaúna, Ituiutaba, João Monlevade, Lavras, Manhuaçu, Mariana, Ouro Preto, Pará de Minas, Paracatu, Pa- trocínio, Ponte Nova, São João del Rei, São Sebastião do Paraíso, Timóteo, Três Corações, Ubá, Unaí, Viçosa.

NÍVEL 4 (Centros Emergentes): Abaeté, Além Paraíba, Almenara, Andradas, Araçuaí, Arcos, Bambuí, Barão de Cocais, Barroso, , Boa Esperança, Bocaiúva, Bom Despacho, Brasília de Minas, , Cambuí, Campo Belo, , , Carangola, Carmo do Paranaíba, Caxambu, Cláudio, Congonhas, Corinto, Coromandel, Diamantina, Elói Mendes, Espinosa, Frutal, Guanhães, , Guaxupé, Ibiá, Itabirito, , , Iturama, Janaúba, Januária, Jequitinhonha, João Pinheiro, Lagoa da Prata, Leopoldina, Luz, Machado, Manhumirim, Mantena, Monte Carmelo, Monte Santo de Minas, Nanuque, Nepomuceno, Nova Era, Nova Serrana, Oliveira, Ouro Branco, Ouro Fino, Paraguaçu, , Pedra Azul, Perdões, Pirapora, , Pium-í, Pompeu, , Prata, Sacramento, Salinas, Santa Bárbara, Santa Rita do Sapucaí, Santana do Paraíso, Santo Antônio do Monte, Santos Dumont, São Francisco, São Gonçalo do Sapucaí, São Gotardo, São João Nepomuceno, São Lourenço, , Três Marias, Três Pontas, Tupaciguara, Várzea da Palma, , Visconde do Rio Branco.

FONTE: Organizado por Amorim Filho, Rigotti e Campos (PUC Minas)

QUADRO 4 – HIERARQUIA DAS CIDADES MÉDIAS DE MINAS GERAIS – 2006

FIGURA 3 – HIERARQUIA DAS CIDADES MÉDIAS DE MINAS GERAIS – 2006

16 R. RA´E GA, Curitiba, n. 13, p. 7-18, 2007. Editora UFPR FILHO, O. B. A.; RIGOTTI, J. I. R.; CAMPOS, J. Os níveis hierárquicos das cidades médias de Minas Gerais

Os resultados mostram-se bastante interessantes Algumas cidades do nível 3 caíram para o nível 4: para os estudiosos das cidades médias mineiras. Alguns Frutal, Guaxupé, Leopoldina, Santa Rita do Sapucaí e São desses resultados são sintetizados a seguir. Loureço. Outras fizeram o caminho inverso: Coronel Fabri- ciano, Manhuaçu e Mariana. Esse sobe-e-desce de cidades •• Juiz de Fora e Uberlândia, que na classificação entre os níveis hierárquicos não tem, necessariamente, a de 1999 já tinham sido as únicas cidades a se ver com uma diminuição ou um crescimento significativo de colocarem no nível mais alto das cidades médias, sua importância. Em muitos casos, o crescimento de certas mantiveram sua posição. Em relação a essas cidades se mantém em vários setores e, mesmo assim, ela cidades, torna-se cada vez mais claro para o perde hierarquia. A razão pode estar no fato de que outra ou analista que elas deixam, tanto funcionalmente outras cidades cresceram em um ritmo ainda mais intenso. e demograficamente, quanto por suas relações O mesmo raciocínio vale no caso oposto. Além disso, como externas e morfologia interna, o nível de cidades já foi dito, embora os indicadores gerais sejam parecidos de médias e entram no patamar das grandes cida- uma classificação para a outra, as variáveis se modificam des. As características e a intensidade de alguns e isso interfere nos resultados, quando comparados. É pre- problemas sociais que as duas cidades enfrentam ciso lembrar também que, embora as classificações sejam confirmam que o limiar entre as médias e as parecidas, algumas de suas motivações foram diferentes. grandes cidades está sendo, de fato, transposto Um exemplo disso está no caso de Santa Rita do Sapucaí, pela capital da Zona da Mata e pela capital do situada no sul de Minas, que obteve maior hierarquia em Triângulo Mineiro. 1999, quando a finalidade era identificar, entre outras coisas, •• No patamar das cidades médias de nível su- o potencial tecnopolitano. Em 2006, quando esse critério já perior, houve estabilidade quando se considera não era prioritário, Santa Rita caiu para o nível dos centros o número de cidades que se classificaram nesse urbanos emergentes. Com relação a estes últimos, que nível: ele passou de 17, em 1999, para 18 em formam o nível de transição entre as cidades pequenas e 2006. Mas, apesar de haver pouca mudança nu- as médias e, assim, abastecem, com o tempo, os níveis mérica, houve algumas modificações quanto às superiores dessas cidades, pode-se observar o seguinte: cidades incluídas nesse nível hierárquico: •• mesmo com a elevação do limiar demográfico • as cidades de Araxá, Conselheiro La- inferior das cidades selecionadas para a pesquisa, faiete, Itabira, Muriaé e Teófilo Otoni, de 10.000 habitantes urbanos na sede municipal, que em 1999 faziam parte do nível 3, usado em 1982, para 14.000, em 2006, o número subiram para o nível 2 em 2006; dos centros emergentes aumentou significativa- • as cidades de Alfenas, Itajubá, Ituiu- mente, passando de 45, em 1982, para 59 em taba e Lavras, que, em 1999, faziam 1999 e para 86 em 2006; isso quer dizer, provavel- parte do nível 2, caíram para o nível mente, que o número de cidades médias mineiras 3, em 2006; deverá crescer nos próximos anos; • • as cidades de Araguari, Barbacena, • embora a distribuição geográfica dos centros Divinópolis, Governador Valadares, emergentes venha se mantendo sem grandes Ipatinga, Montes Claros, Passos, Patos alterações geográficas, uma mudança, porém, de Minas, Poços de Caldas, Pouso Ale- pode trazer esperança para aqueles que buscam gre, Sete Lagoas, Uberaba e Varginha um maior equilíbrio regional no estado: é que na mantiveram-se no mesmo patamar. metade norte de Minas Gerais, que dispõe de tão poucas e mal distribuídas cidades médias É importante considerar que as cidades de Montes (Montes Claros, Teófilo Otoni, Paracatu e Unaí), Claros, Uberaba, Governador Valadares e Ipatinga são observa-se um aumento importante de centros aquelas que, mesmo permanecendo no nível 2, mais se urbanos emergentes, e isso é um indício de que, aproximam de uma ascensão para o nível 1, dos grandes talvez, mas próximas hierarquizações das cidades centros regionais. mineiras, o norte de Minas e os vales do Jequi- No nível 3, aquele em que se classificam ascidades tinhonha e do já passem a ter uma rede médias propriamente ditas, o número dessas cidades urbana mais equilibrada do que a da atualidade. permaneceu quase inalterado entre as classificações de 1999 e 2006: diminuiu de 26 para 25.

R. RA´E GA, Curitiba, n. 13, p. 7-18, 2007. Editora UFPR 17 FILHO, O. B. A.; RIGOTTI, J. I. R.; CAMPOS, J. Os níveis hierárquicos das cidades médias de Minas Gerais

REFERÊNCIAS AMORIM FILHO, O. B.; RIGOTTI, J. I. R. Os Limiares Demográficos na Caracterização das Cidades Médias. Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, AMORIM FILHO, O. B. Contribution à l’étude des villes 13., 2002, Ouro Preto, Anais... Ouro Preto, 2002. 22 p. (meio moyennes au Minas Gerais – Formiga et le Sud-Ouest du digital). Minas Gerais. (Thèse de Doctorat). Bordeaux, Université de Bordeaux III, 1973. 361 p. BURNIER, M.; LACROIX, G. Les technopoles. Paris: PUF, 1996. 127 p. ______. Um esquema metodológico para o estudo das cidades médias. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS 2. , DINIZ, A. M. A.; RIBEIRO, J. P. Violência urbana nas cidades 1976, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: IGC/UFMG, médias mineiras: determinantes e implicações. Geosul, 1976. p. 6-15. 600 p. Florianópolis, v. 40, 2005. AMORIM FILHO, O. B.; BUENO, M. E. T.; ABREU, J. F. LAJUGIE, J. Les villes moyennes. Paris; Éditions Cujas, Cidades de porte médio e o programa de ações sócio- 1974. educativo-culturais para as populações carentes do meio urbano em Minas Gerais. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, v. 12 n. 23-24, 33-46, 1982. AMORIM FILHO, O. B.; ABREU, J.F. Ciudades Intermedias y Tecnópoles potenciales en Minas Gerais – Brasil. Tiempo y Espacio, Chillán v. 8, n. 9-10, p. 23-32, Universidad del Bío- Bío, 2000 (publicada em 2001).

18 R. RA´E GA, Curitiba, n. 13, p. 7-18, 2007. Editora UFPR