Origens Do Nacionalismo Angolano, Movimentos Independentistas E Disputa Por Hegemonia ______

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Origens Do Nacionalismo Angolano, Movimentos Independentistas E Disputa Por Hegemonia ______ CAPOEIRA ORIGENS DO NACIONALISMO ANGOLANO, MOVIMENTOS INDEPENDENTISTAS E DISPUTA POR HEGEMONIA _____________________________________ Revista de Humanidades e Letras RESUMO ISSN: 2359-2354 Esse artigo tem por objetivo tratar das origens do nacionalismo Vol. 4 | Nº. 1 | Ano 2018 angolano, dos movimentos independentistas e da disputa por hegemonia entre seus diferentes atores políticos. O MPLA, etnicamente de base M’Bundo, foi criado por jovens angolanos assimilados, mestiços e brancos, primeiramente no exílio e depois em Luanda. Por outro lado, os Bakongos do norte de Angola que, em finais da década de 1940, Francisco Sandro da S. Vieira criaram a UPA, que posteriormente se chamaria FNLA. A UNITA, fundada por Jonas Savimbi, foi, fundamentalmente, um partido Ovimbundo, que não conseguiu atrair, de forma significativa, outros grupos étnicos. Argumenta-se que a construção do “nacionalismo” angolano foi um instrumento político utilizado pelas elites para garantir a hegemonia dos seus respectivos movimentos políticos. Durante 50 anos, desde o inicio do processo de libertação nacional nos anos 1960, esses movimentos e grupos sociais e “étnicos” rivais desenvolveram ideias contrárias sobre Angola, sobre o que era o país, suas aspirações, e principalmente sobre quem deveria liderar o seu destino. Alguns anos após o início do século XX, os angolanos continuam a expressar a sua identidade política em termos de antagonismos, cujas origens remontavam à época da luta anticolonial. Palavras-chave: Angola; nacionalismo; antagonismo político; identidade. ____________________________________ RESUMÉ Cet article vise traiter des origines du nationalisme angolais, des mouvements d'indépendance et de la dispute sur l'hégémonie entre ses différents acteurs politiques. Le MPLA, ethniquement à basé m´bundo, a été créé par de jeunes Angolais assimilés, métis et blancs, d'abord en exil puis à Luanda. D'autre part, les Bakongos du nord de l'Angola, qui à la fin des années 1940 ont créé l'UPA, qui s'appellerait plus tard FNLA. Site /Contato L’UNITA, fondée par Jonas Savimbi, était fondamentalement un parti ovimbundo qui n’a pas réussi à attirer d’autres groupes ethniques. www.capoeirahumanidadeseletras.com .br [email protected] L´argument défendu est que la construction du nationalisme angolais Editores était un instrument politique utilisé par les élites pour garantir Marcos Carvalho Lopes [email protected] l'hégémonie de leurs mouvements politiques respectifs. Il y a 50 ans, depuis le début du processus de libération nationale dans les années Pedro Acosta-Leyva 1960, ces mouvements et groupes sociaux et «ethniques» rivaux ont [email protected] développé des idées antagoniques sur l'Angola, sur ce que serait leur Editores do Dossiê pays, sur leurs aspirations et surtout sur son destination. Quelques années après le début du 20ème siècle, les Angolais continuent à traduire Prof. Dr. Bas’Ilele Malomalo, UNILAB leur identité politique en termes d'antagonismes, dont les origines Prof. Dr. Dagoberto José Fonseca, UNESP remontent à l'époque de la lutte anticoloniale. Mots-clé: Angola; nationalisme; antagonism politique; identité. Dossiê Angola – Anotações e Reflexões ORIGENS DO NACIONALISMO ANGOLANO, MOVIMENTOS INDEPENDENTISTAS E DISPUTA POR HEGEMONIA Francisco Sandro da Silveira Vieira1 Prólogo: Origens do Nacionalismo Angolano O ano de 2002 não foi, evidentemente, a “hora zero” de Angola, pois o país entrou no pós-guerra carregando uma pesada herança que não se esgotou com a derrota da UNITA. A rea- lidade é que o acordo de paz, assinado em 2002, ditou apenas o fim da guerra civil. O fim do conflito armado, foi gerido no sentido de garantir que a legitimidade em Angola continuasse a assentar num entendimento da autoridade definido em tempo de guerra e que, hoje, graças à ordem instituída no pós-guerra, tem no MPLA, o seu único beneficiá- rio. (PEARCE, 2017, p.11). A maioria dos estrangeiros, que pouco sabiam sobre Angola e nela projetavam qualquer teoria de conflito que parecesse conferir-lhe sentido, nunca compreendeu verdadeiramente as bases históricas da guerra civil2. Durante a guerra fria, o país era um terreno de combate no qual as super potências - URSS e EUA - se faziam representadas pelos seus “estados satélites”: Cuba e África do Sul, respectivamente. Na década de 1990, Angola constituiu o auge de uma nova guerra impulsionada pela ga- nância, em que os atores envolvidos lucravam com o petróleo e diamantes, acenando pontualmente com o espectro dos conflitos étnicos, incorretamente apresentados como explicações únicas para o conflito, muito embora esses fatores não sejam totalmente falsos. O fato é que a guerra fria agravou o drama de Angola, os recursos naturais ajudaram a sustentar as facções beligerantes e o conflito encerrava, de fato, também uma dimensão étnica3. Assim, embora tenham exacerbado a guerra civil, estes elementos não estiveram na sua origem. 1 Doutorando em Ciências Sociais na Universidade Estadual Paulista/ UNESP- Campus de Araraquara. Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa União Africana (GEPUA)/UNESP. Atualmente é professor colaborador do Curso de Especialização Cultura, Educação e Relações Raciais do CELLAC (Centro de Estudos Latinos Americanos Sobre Cultura e Comunicação) da Universidade de São Paulo (USP) e leciona no Departamento de pós-graduação da Unifai-Centro Universitário Assunção, ministrando a disciplina Pós-colonialismo e Relações Internacionais. E- mail:[email protected] 2 Ver ANDRADE, Mário Pinto de. Origens do nacionalismo africano – continuidade e ruptura nos movimentos unitários emergentes da luta contra a dominação colonial portuguesa: 1911-1961. Lisboa: Dom Quixote, 1997. 3 Ver Pawson, Lara. Em nome do povo: o massacre que Angola silenciou. Lisboa: Tinta-da-China, 2014. Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.4 | Nº. 1 | Ano 2018 | p. 103 Dossiê – Angola: anotações e reflexões Podemos identificar como causas do conflito, sobretudo, a longa e desarticulada inserção de Angola na economia mundial, assim como os modelos políticos de poder e exclusão que se foram sedimentando ao longo de séculos no plano interno (OLIVEIRA, 2015, p.63). O resultado foi uma disputa pelo controle do Estado entre diferentes elites com projetos nacionalistas distintos durante a última fase do domínio colonial e nas duas décadas posteriores ao período pós-colonial4. Porém, não é possível entender o conflito sem situá-lo num contexto histórico mais amplo. “Assimilacionismo” e Resistência ” Importa aqui, primeiro, de maneira sucinta, reconhecer o significado da violenta integração de “Angola” à economia mundial a partir de finais de século XV e sua forte ligação com a mesma, desde o inicio da expansão europeia. Contrariando o mito dos cinco séculos de ocupação portuguesa inventado por propagandistas coloniais, os pesquisadores têm enfatizado a fragilidade e o caráter tardio da ocupação efetiva do território que, mais tarde, viria a ser Angola. É sabido que em 1904 os portugueses controlavam apenas dez por cento do território e que algumas comunidades, a leste e a sul, apenas seriam subjugadas na década de 19205. Contudo, os enclaves do litoral, como Luanda, fundada em 1575, e Benguela em 1617, assim como um estreito corredor ao longo do Rio Kwanza, estavam sob domínio português há centenas de anos6. Luanda e Benguela se constituíram dois dos mais importantes enclaves africanos do comércio escravista e a sua expansão econômica acabaria por se alargar a vastas regiões da África Central e, com a conivência de alguns reinos do interior, condenaria ao cativeiro uma porcentagem significativa de africanos7. Analisados em retrospectiva, estes bastiões do poder Colonial Português, que permaneceram sob ocupação permanente, poderiam parecer frágeis, mas o certo é que haveriam de constituir o embrião para a posterior conquista do interior, mantendo-se, até hoje, como epicentros de Angola, sob os aspectos político e econômico. Portanto, não é demais insistir na sua importância para a compreensão, tanto das origens do “nacionalismo angolano”, como de Angola contemporânea, bem como da sua relação com a história colonial efetivada por Portugal. 4 Para uma análise aprofundada dos projetos nacionalistas distintos entre as “diferentes elites”, Ver, Marques, Alexandra. Segredos da Descolonização de Angola. Editora: D.QUIXOTE, Lisboa, 2013. 5 Ver PÉLLISSIER, 1986. 6 Sobre o inicio da colonização de Angola, Ver BIRMINGHAM, 1966. 7 Estimativas apontam para cerca de quatro milhões, os escravizados transferidos de Angola e do Congo entre os séculos XVI e XIX. Ver HENDERSON, 1979. Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.4 | Nº. 1 | Ano 2018 | p. 104 Dossiê Angola – Anotações e Reflexões Neste sentido, a criação de uma comunidade afro-portuguesa8 em torno dos "portos de embarque de escravizados” foi extremamente importante. No artigo que escreve para Protest and Resistance in Angola and Brazil, Douglas Wheeler afirma abertamente que “para mais, avolumam-se as provas que sugerem que o nacionalismo angolano começou, mais como um movimento assimilado do que como um movimento africano” (1972, p.70). Já no livro Angola, publicado em 1971, o mesmo prestava grande atenção ao nacionalismo dos “assimilados”9, dedicando-lhe 19 das 30 páginas sobre as origens do nacionalismo angolano, e afirmava: “Desta pungente crítica ao governo português nasceu um sentimento colectivo de nacionalismo entre a pequena intelligentsia angolana” (2009 [1971], p.165, ver também 149-154). Mas é no texto de 1972 que a tese sobre a origem “assimilada”
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