Regressos Quase Perfeitos. Etnografia Da Memória De Guerra Em Angola (1971-1973) Maria José Lobo Antunes

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Regressos Quase Perfeitos. Etnografia Da Memória De Guerra Em Angola (1971-1973) Maria José Lobo Antunes Regressos quase perfeitos. Etnografia da memória de guerra em Angola (1971-1973) Maria José Lobo Antunes Tese de Doutoramento em Antropologia Novembro de 2014 I II Regressos quase perfeitos. Etnografia da memória de guerra em Angola (1971-1973) Maria José Lobo Antunes Tese de Doutoramento em Antropologia Novembro de 2014 III IV Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Antropologia, realizada sob a orientação científica do Professor Doutor João Leal. Apoio financeiro da FCT e do FSE no âmbito do III Quadro Comunitário de Apoio. V VI VII VIII Para os meus pais. IX X AGRADECIMENTOS À Fundação para a Ciência e a Tecnologia pela bolsa de doutoramento que me permitiu quatro anos de trabalho em dedicação exclusiva a esta investigação. Ao meu orientador, Professor Doutor João Leal, pelo cuidado com que acompanhou a investigação que me trouxe até aqui. Os seus comentários e críticas foram indispensáveis para tornar esta tese um pouco menos imperfeita. A todos os homens da Companhia de Artilharia 3313, que me receberam com tanta generosidade nos almoços anuais e nas suas casas. Sem eles, esta dissertação não teria sido possível. À Isabel, Margot, Xana, Paleta, Miguel, Nuno e Vera que, de maneiras muito diferentes, me ajudaram nos últimos tempos da aventura da tese. Ao Daniel, pela infinita paciência, pela leitura atenta, pelas muitas conversas, por tudo. À minha família, por todas as razões. XI XII REGRESSOS QUASE PERFEITOS. ETNOGRAFIA DA MEMÓRIA DE GUERRA EM ANGOLA (1971-1973) MARIA JOSÉ LOBO ANTUNES RESUMO Entre 1961 e 1974 Portugal combateu uma guerra em África. Quarenta anos após a revolução que depôs o regime, já não existe a nação pluricontinental em nome da qual foram enviados para África mais de 800 mil homens. Esta guerra, que nunca foi oficialmente declarada, sobrevive ainda na memória daqueles que nela participaram. O objetivo desta dissertação é contribuir para a compreensão do processo através do qual a memória conta a guerra colonial no presente. Impossível que é reproduzir fielmente o momento vivido, o conhecimento do passado resulta da produção de aproximações imperfeitas daquilo que já não existe. A memória não é estanque e imutável, nem tampouco irredutivelmente individual. Ela é recriada e atualizada pelo olhar retrospectivo de agentes – individuais ou coletivos - que a cada momento conferem inteligibilidade ao passado através da negociação do modo pelo qual ele pode ser formulado. Ao combinar de uma forma singular o mundo privado da recordação pessoal e o mundo público da memória social, a memória de guerra constitui um locus privilegiado para a análise do processo pelo qual as experiências pessoais são interrogadas e inscritas em narrativas públicas mais vastas. Partindo da comissão de serviço de uma unidade do Exército português em Angola entre 1971 e 1973, construiu-se uma etnografia da memória de guerra que articula diversos lugares e momentos do tempo e que cruza as várias escalas em que memória vive. As memórias pessoais dos antigos militares desta companhia de artilharia foram confrontadas com outras narrativas sobre o mesmo fragmento da guerra colonial (o relato institucional militar, a narrativa literária de António Lobo Antunes, antigo alferes médico da unidade) e com as retóricas públicas que, durante o Estado Novo e no Portugal contemporâneo, forneceram as ideias e as palavras com as quais o país e o mundo eram pensados. Foi nesta viagem entre tempos e escalas diversas que se procurou compreender a memória de guerra, construção compósita que articula a dimensão pessoal da subjetividade individual com a dimensão social das narrativas públicas que desenham os limites no interior dos quais a guerra, o colonialismo, a nação, o passado e o presente podem ser imaginados. Palavras-chave: guerra colonial; memória de guerra; memória social XIII ABSTRACT Between 1961 and 1974 Portugal fought a war in Africa. Forty years since the revolution that overthrew the regime, the pluricontinental nation in the name of which more than 800 thousand men were sent to Africa has ceased to exist. This war, which has never officially been declared, still survives in the memory of those who served it. The aim of this dissertation is to contribute to the understanding of the process through which war memory is constructed and negotiated. Seeing as it is impossible for one to reliably reproduce the lived moment, the knowledge of the past depends on the creation of imperfect approximations of what has ceased to exist. Memory is not stationary or unalterable, nor is it irreducibly individual. It is constantly recreated through the retrospective perception of agents – individual or collective – who at every moment confer intelligibility to the past through the negotiation of the terms through which it can be formulated. War memory constitutes a privileged locus for the analysis of the process through which the private world of personal remembering and the public world of social memory meet, providing the cultural idioms with which personal experiences can be interrogated and inscribed in vaster public narratives. An etnography of war memory was built around the story of Portuguese army unit in Angola between 1971 and 1973. This ethnography of war memory articulates several places and moments in time, crossing the multiple scales in which memory lives. The personal memories of the soldiers of this unit were confronted with other narratives on the same fragment of the colonial war (the military institutional report, the literary narrative of Antonio Lobo Antunes, who served as a medical second lieutenant), and with the public rhetorics which, during the Estado Novo (Second Republic) and in contemporary Portugal, supply the ideas and the words with which people are able to think about themselves, the country and, indeed, the world. It was on this journey between diverse scales and moments of time that war memory was analysed – a composite construction which articulates the personal dimension of subjectivity with the social dimension of the public narratives that draw the limits within which war, colonialism, nation, past and present can be imagined. Keywords: Portuguese colonial war; war memory; social memory XIV INDICE CAPÍTULO I - 2011 ........................................................................................................................ 1 1. Etnografia da memória de guerra ..................................................................................... 6 2. Estudos da memória ............................................................................................................ 16 Memória: da genealogia às discussões contemporâneas ........................................ 19 Memórias e narrativas públicas ....................................................................................... 24 Memórias e narrativas pessoais ....................................................................................... 29 3. Roteiro da dissertação ........................................................................................................ 35 CAPÍTULO II – OS ANOS ANTES DE ANGOLA ....................................................... 39 1. A guerra ao longe em 1961 ................................................................................................. 44 ‘Um lugar para cada um e cada um no seu lugar’: escola e nação no Estado Novo ........................................................................................................................................... 46 ‘Portugal não é um país pequeno’: a comunicação social e os primeiros meses do conflito em Angola .......................................................................................................... 55 2. A guerra que se aproxima .................................................................................................... 65 Escola, trabalho e migração .............................................................................................. 69 Tropa ou fuga? ....................................................................................................................... 77 3. A tropa e a descoberta de um país ..................................................................................... 85 Preparação para a guerra ................................................................................................. 92 CAPITULO III - 1971 .................................................................................................................. 99 1. De Luanda ao Leste angolano ......................................................................................... 100 2. Terras do fim do mundo ................................................................................................... 108 Gago Coutinho, Sessa e Mussuma .................................................................................. 114 No quartel .............................................................................................................................. 124 Impaciência e loucura ....................................................................................................... 127 Pelos quimbos ....................................................................................................................... 131 O negro e o trabalho ........................................................................................................... 139 As mulheres ..........................................................................................................................
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