Ariel Rolim Oliveira Angola Em Guerras: Jonas Savimbi E As

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Ariel Rolim Oliveira Angola Em Guerras: Jonas Savimbi E As ARIEL ROLIM OLIVEIRA ANGOLA EM GUERRAS: JONAS SAVIMBI E AS LINGUAGENS DA NAÇÃO CAMPINAS 2013 i ii iv v vi Seria voltar à questão das "autoridades tradicionais", às elites locais, portanto: [os mandatados] saem das estruturas políticas endógenas para integrar-se nas centrais, integram Estado / Poder / Partido... para representar o quê ou quem? O "povo" donde emergem ou a administração a qual se articulam? A sua actuação filia- se aonde, reproduz o quê? Só pode ser a mudança, não será? Mas então porque insistir que exprimem, que representam o povo? (Ruy Duarte de Carvalho, Actas da Maianga: dizer das guerras, em Angola) vii viii Dedico este trabalho a Barbara, a Iracema e à memória de minha mãe, Jane. ix x RESUMO O líder político Jonas Savimbi ocupou uma posição privilegiada de observação dos entrecruzamentos das linguagens segundo as quais se lutou a guerra em Angola. O nexo entre as esferas global e local do conflito, incluindo aí seus diferentes códigos de reportagem, pode ser apreendido a partir da análise das lideranças – entendidas aqui, não como indivíduos, mas como catalisadores de “comunidades imaginadas”. Atento ao plano das estratégias dos agentes que, mesmo se relacionando a referências discursivas inconciliáveis e irredutíveis umas às outras, na prática, conformaram uma rede de inimizades produtiva – e aí surge uma dimensão completamente desvinculada dos modelos e discursos. A questão que coloco aqui é em que medida a noção de “inimigo” como categoria de alteridade no plano das relações práticas, entrevista nos discursos de Savimbi, pode nos ajudar a compreender o cenário de disparidades e a multiplicidade de formas de conflito que o caso angolano comporta. Volto-me aos códigos mobilizados por cada um dos contendores na significação da luta como condição para que, fugindo dos preceitos dos modelos a que cada um se reporta nesse processo, possamos ver a guerra como uma arena de interações onde os atores se comunicam ou, ao menos, se reconhecem (no duplo sentido do termo) para melhor lutar. Sigo a hipótese de que a guerra tenha sido uma rede prática de trocas violentas (jamais simétricas) não só de projéteis, mas também de nomes e códigos entre os contendores que iriam moldar de forma decisiva o imaginário nacional angolano – um país cujas fronteiras mais ou menos arbitrárias haviam sido herança direta do colonialismo português. Nesse sentido, cada umas das partes em disputa necessitava criar um discurso nacional unificador – concorrente ao rival. Os beligerantes mantinham uma esfera de aliança tácita, mas não expressa, em torno da construção e manutenção da plausibilidade nacional. Palavras-chave: 1. Savimbi, Jonas Malheiro, 1934-2002; 2. Alteridade; 3. Estado Nacional; 4. Angola – Política e governo, 1975-; 5. Angola – História – Guerra Civil – 1975-2002. xi xii ABSTRACT The political leader Jonas Savimbi has occupied a privileged observing position of the language crossings according to which the war in Angola was fought. The nexus between global and local dimensions of this conflict (the different codes of report there included), can be apprehended from the analysis of the leaders – understood, here, not as individuals, but as catalyzers of “imagined communities”. I focus on the plan of the agents’ strategies that, even if in relation to irreconcilable references of discourse to one another, in practice, comprehend a productive net of enmity. Therefore a dimension completely detached from models rises. The question I pose here is: in which measure the notion of “enemy” as a category of alterity on the plan of practical relations – glimpsed in the speeches of Savimbi – can help us to understand the set of disparities and multiplicity of ways of conflict that the Angolan case bears? I turn myself to the codes mobilized by each of the contenders to ascribe meaning to the fight as a condition – escaping the tenets of the models to which each one reports in this process – for us to see the war as an arena of interaction where de actors communicate or, at least, acknowledge (in the double meaning of the term) themselves to better fight. I follow the hypothesis that the war has been a practical net of violent (and never symmetrical) exchange not only of bullets, but also of names and codes between contenders who would engrave the imagery of Angola in a decisive way – a country which its more or less arbitrary borders had been a direct heritage from the Portuguese colonialism. In this sense, each part in the dispute needed to create a rival national unifying discourse. The belligerents kept a level of tacit alliance, though not expressed, around the construction e maintenance of national plausibility. xiii xiv Agradecimentos Agradeço, antes de mais nada, ao CNPq, cuja bolsa propiciou a condução desta pesquisa. A Omar Thomaz, meu orientador, agradeço a vivacidade com que sempre instou seus alunos. Ainda entre os docentes da Unicamp, agradeço especialmente a Suely Kofes – arguidora da qualificação –, Emília Pietrafesa e Heloísa Pontes, cujas disciplinas compuseram uma etapa importante tanto para minha formação geral como para o delineamento da pesquisa. Além de importante professor, John Monteiro foi também generoso no momento crucial em que tive de ir aos Estados Unidos para pesquisa bibliográfica indispensável. Suas cartas abriram muitas portas. Agradeço a Rita Chaves e Paula Montero, arguidoras zelosas na defesa desta dissertação. Paula Montero também acompanhou a pesquisa desde seus primeiros esboços e em mais de uma ocasião contei com seu acolhimento intelectual e rigor vivificante. Marta Jardim, amiga e mestre, me introduziu no campo africanista e indicou os primeiros passos que levariam a concepção desta pesquisa. Kelly Silva, da UnB, me recepcionou e ajudou num momento importante. Em Nova York, o curso sobre nacionalismo e etnicidade, ministrado por Patricia Mathews-Salazar na CUNY entre 2010 e 2011 foi inspirador e muito contribuiu para o alargamento do horizonte da pesquisa. Gostaria de fazer um reconhecimento especial à atenção e presteza dos funcionários das bibliotecas da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, da Casa das Áfricas, em São Paulo e da Columbia University, em Nova York – especialmente prestativos e solícitos. Agradeço ainda às bibliotecas da Unicamp, Biblioteca Pública de Nova York, biblioteca da Northwestern University, sem as quais não teria acesso ao material necessário (nem todo ele diretamente transparecido neste trabalho). Os colegas africanistas da Unicamp Giovanni Grillo e Diego Marques foram diálogos importantes em diferentes momentos. Filipe Calvão, da Universidade de Chicago, Luena Pereira, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e Bruno Sotto-Mayor, do Museu Nacional também foram importantes interlocutores angolanistas. A Sandro Vieira, pesquisador angolano, agradeço a paciência nos apontamentos iniciais, quando eu ainda abordava o assunto. A Erik Peitschelles, colega de mestrado, agradeço a amizade e confidência. Agradeço aos meus avós, Paulo de Tarso e Glécia, bem como a meu pai, Paulo Roberto, pelo apoio e conforto em diferentes momentos. E também a minha irmã, Mirna, cujo carinho e disposição foram cruciais em um momento difícil. 1 Agradeço, por fim e sobretudo, a Iracema Dulley, companheira e mentora durante a totalidade da condução desta pesquisa, sem quem certamente eu não reconheceria nem meu trabalho e nem a mim mesmo no momento em que concluo estas páginas. Barbara Dulley manteve e mantém aceso em mim o compromisso com a vida. 2 SUMÁRIO I - Introdução........................................................................................................................................... 5 II – Savimbi: o homem entrevisto .......................................................................................................... 17 III – A guerrilha: traições e pragmatismo ............................................................................................... 29 Flertes com a FNLA/UPA e o MPLA ............................................................................................. 29 A formação da UNITA .................................................................................................................. 36 Operação Madeira.......................................................................................................................... 40 A independência anunciada e a questão dos brancos ....................................................................... 52 IV – Independência, fuga e recuperação ................................................................................................. 61 A “Grande Marcha” ....................................................................................................................... 64 Recuperação .................................................................................................................................. 66 Em Luanda .................................................................................................................................... 68 A Revolta Nitista e as desilusões da unidade .................................................................................. 69 Agostinho Neto: estimado inimigo ................................................................................................. 73 As missões e igrejas ....................................................................................................................... 75 Guerra de versões .........................................................................................................................
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