Um Estudo Sobre a Territorialidade Nos Processos Identitários Das Drags Demônias
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Um Estudo Sobre a Territorialidade nos Processos Identitários das Drags Demônias. Juliana Bentes Nascimento EKOAOVERÁ: Um Estudo Sobre a Territorialidade nos Processos Identitários das Drags Demônias. Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Artes, da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Wladilene de Sousa Lima Linha de Pesquisa 2: Teorias e Interfaces Epistêmicas em Artes Belém - PA 2019 Agradecimentos Fazer uma pesquisa é fácil, difícil é viver ela, existir com ela, fazer ela tomar parte no seu corpo, nos seus poros, e viver/ser drag é isso, é uma metralhadora de atravessamentos o tempo todo, é almoçar pensando em peruca e tomar banho dublando. Ser drag e pesquisar o meu próprio nicho, sem dúvidas, é um privilégio enorme. Privilégio este que não seria viável sem a presença do que eu chamo de: possivelmente as melhores pessoas do universo. Sendo este elemento pré-textual dedicado a enaltecer justamente as pessoas, órgãos, movimentos e coisas sem as quais essa pesquisa não seria possível então, há de se convir que o primeiro elemento seja a família, as pessoas que me carregaram no colo e que, mesmo despois de um quarto de século virado, continuam carregando. Obrigada, Mãe, por ser inquebrável, por nunca desistir, por ser “ariana cabra da peste” e nunca ter me deixado desistir, mesmo quando eu não aguentava mais; Mãe Lena, por ser o melhor exemplo de tudo, ser exatamente o que eu quero ser quando crescer; Suzana, por ser o meu apoio em meio ao caos, sempre. Vocês são as mulheres da minha vida. Por família, é preciso tomar a família de sangue, aquela que luta com o próprio sangue para existir e que são o início, o meio e o enfim desse trabalho: as demônias. Obrigada Xirley Tão, Amoras, Black Jambú, Condessa de Devonshire, Monique Lafon, Luka Cortez, Bunny, Gigi Híbrida, A.K.A. Della, Don Pine, Lady Milady, Rudá Urbana, S1mone, Sarita Themônia, Shayra Brotero, Tristan Soledade, Yndjáh Báh, La Falleg Condessa, Flores Astrais e um agra- decimento mais do que especial às demônias que vivem comigo, que passam fome junto na falta e bebem junto na fartura: Perséfone de Milo, Rubi da Bike, Pandora Rivera Raia e Leid, manas, eu não seria nada sem vocês. Ainda no quesito família há de se incluir amigos-irmãos que não fizeram parte dessa pesquisa de forma direta mas que também estavam em cada linha e em quase todas as histórias: Henrique Santos, Demy Ferreira, Léo Cerconttini, Henrique Cecim, nada disso seria o mesmo sem vocês. Um agradecimento muito especial à a-drag e designer responsável por toda a dia- gramação, ilustrações e identidade visual desse projeto: Wan Aleixo, um amor que nasce com Toni Braxton só pode ser eterno. Mas nem só de família se faz uma pesquisa acadêmica e, depois de três anos tentando entrar nesse programa de pós-graduação, a academia me trouxe, surrealmente, para a turma mais doida que eu poderia ter, e não posso deixar de agradecer à turma de 2017 pelas longas discussões e melhores trocas. E também aos professores que conduziram esse caminho até aqui: Rosângela Britto, Dênis Bezerra, Maria dos Remédios, Cláudia Leão, Paes Loureiro, Orlando Maneschy e à banca, escolhida a dedo: Ivone Xavier e Larissa Latif, vocês são rainhas. E, cla- ro, agradecimento mais do que especial à minha orientadora Wlad Lima, que soube me guiar, acalmar e organizar a minha cabeça quando eu nem sabia mais o que eu estava fazendo. Agradeço à CAPES que forneceu o aqué para que eu pudesse me dedicar à pesquisa ao longo desses dois anos. Ao PPGArtes, à Escola de Teatro e Dança da UFPa, por serem meus espaços de formação. À SECULT. Às manas de Manaus, São Paulo, Recife, Salvador, Natal, Rio de Janeiro, Fortaleza, Porto Alegre, Brasília, Florianópolis, Belo Horizonte. Drag é afeto em rede, é rizoma. E, finalmente, agradeço à vida, essa sequência de acontecimentos aleatórios e sem senti- do nenhum que me trouxeram até aqui, que é exatamente o melhor lugar onde eu poderia estar. “Quero que olhes pra chuva e repenses bem Pois aonde eu for, tu vais também, Belém.” - Lucas Paixão RESUMO Analizar de que maneira a cidade de Belém, enquanto território subjetivo, atravessa de forma direta ou indireta os processos identitários das Drags Demônias, grupo cultural aqui estudado, foi o grande objetivo da pesquisa intitulada EKOAOVERÁ: Um Estudo Sobre a Territorialidade nos Processos Identitários das Drags Demônias. Para tanto, foi realizado um estudo bibliográfico sobre a montação com larga ênfase nos teóricos Roger Baker e Carlos Figari, seguido de um apanhado conceitual e uma revisitação de termos que conversam com a montação, passando pelos estudos de Judith Butler, Berenice Bento, Anna Paula Vencato entre outros. Para adensar a pesquisa, foi analisada a montação enquanto método de alteração corporal com base no estudo de Renata Kamla sobre Mascaramento Contemporâneo, tendo como ação metodológica fundante, a realização de entrevistas com vinte e três artistas do segmento cultural, através da proposição de entrevista estruturada de Maria Cecília Minayo. Para finalizar o procedimento metodológico de campo, os dados foram atravessados pela abordagem da etnometodologia, resultando atravessamentos em três instâncias de análise: pessoalidades, conceitos e territorialidades. A análise final confirma a hipótese de que a territorialidade tem relação direta com essas construções identitárias. Palavras-chave: Montação. Drag. Demônia. Territorialidade. Belém. ABSTRACT Analyze how the city of Belém, as a subjective territory, crosses directly or indirectly the identity processes of Drags Demônias, the cultural group studied here, was the main objective of the research entitled EKOAOVERÁ: A Study on Territoriality in the Identity Processes of Drags Demônias. For that, a bibliographic study was made about the montação with a great emphasis on the theorists Roger Baker and Carlos Figari, followed by a conceptual survey and a review of terms that speak with the montação, including the studies of Judith Butler, Berenice Bento, Anna Paula Vencato among others. To deepen the research, the montação was studied as a method of body alteration based on the study of Renata Kamla on Contemporary Masking. The methodological action was based on interviews with twenty - three artists from the cultural segment, through a structured interview proposal by Maria Cecília Minayo. To finalize the methodological procedure, the data were crossed by the ethnomethodology approach, resulting in crossings of three instances of analysis: personalities, concepts and territorialities. The final analysis confirms the hypothesis that territoriality is directly related to these identity constructions. Keywords: Mountation. Drag. Demônia. Territoriality. Belém. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 09 2. WHAT’S GOIN’ ON? 11 2.1. PISTAS de UMA POSSÍVEL TRAJETÓRIA 11 2.2. A CONFUSÃO DE CONCEITOS 24 2.2.1 Gênero, Sexualidade e Identidade 24 2.2.2 Montação e Corpo Alterado 26 2.2.3 Drag Queen/King 27 2.2.4 Transformismo 28 2.2.5 Cross-Dressing 28 2.2.6 Drag Queer 29 2.2.7 Drag Demônia 30 3. A MONTAÇÃO EM BELÉM 33 3.1 Primeiros Períodos 33 3.2 Festa da Chiquita 38 3.3 Cultura de Clubes/Misses 38 3.4 Drags Demônias 39 3.4.1 O Movimento 39 3.4.2 Quem São 42 4. BELÉM NA MONTAÇÃO 66 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 90 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 92 ANEXOS LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Ilustração de Fanny e Stella sendo detidas 22 Figura 2 – Jornal falando sobre desordeiros 45 Figura 3 – O Xodó 46 Figura 4 – Cartaz do Lapinha 48 Figura 5 – Tristan Soledade 41 Figura 6 – S1mone 42 Figura 7 – Sarita di Gzuis 43 Figura 8 – Xirley Tão 44 Figura 9 – Luna Skyyssime 45 Figura 10 – Perséfone de Milo 46 Figura 11 – Yndjáh Báh 47 Figura 12 – Pandora Rivera Raia 48 Figura 13 – Gigi Híbrida Bolero 49 Figura 14 – Monique Lafon 50 Figura 15 – Rudá Urbana 51 Figura 16 – A.K.A. Della 52 Figura 17 – Flores Astrais 53 Figura 18 – Lady Milady 54 Figura 19 – Black Jambú 55 Figura 20 – Leid 56 Figura 21 – Don Pine 57 Figura 22 – Shayra Brotero 58 Figura 23 – La Falleg Condessa 59 Figura 24 – Rubi da Bike 60 Figura 25 – Luka Cortez 61 Figura 26 – Bunny 62 Figura 27 – Amoras 63 Figura 28 – Condessa de Devonshire 64 EKOAOVERÁ | INTRODUÇÃO 1. INTRODUÇÃO Aconteceu no dia 06 de fevereiro de 2016, fui cedendo e deixando incidir. Noite Suja Carnevale, a primeira edição: o dia em que me montei pela primeira vez, o dia em que Luna Skyyssime apareceu na minha vida. Foi quando tudo mu- dou. Eu, recém-comunicóloga que fugia das artes há algum tempo por acreditar na premissa de “não dar dinheiro”, não conseguia mais lutar contra, no fim das contas eu era artista, eu sempre havia sido. Passo a entender o meu espaço enquanto artista drag na cidade de Belém e a identificar a pesquisa ali, entre as minhas irmãs, nos seus processos criativos e em suas formas transgressoras de agir e reagir no mundo, percebendo em mim mesma as mudanças ocorridas a partir do processo de montação, o quanto isso tudo era potente e como a cidade dava suporte para essa construção e ao mesmo tempo alterava toda ela. Uma cidade quente, úmida, tranbordando uma cultura densa que perpassa o corpo de cada artista que produz aqui. Era isso, essa era a minha pesquisa. Pulei de cabeça nesses atravessamentos, e assim começou a se estruturar essa escritura, em um primeiro momento, ainda sem um método propriamente escolhido, eu precisava me situar, e nasceu o capítulo What’s Goin’ On? . Para organizar os pensamentos, foi realizado um largo estudo historiográfico, geran- do o primeiro sub-ítem: Pistas de uma Possível Trajetória, que aborda a própria montação – ação de montar – e o montare (colocar sobre), desde as primeiras civilizações e seus rituais, passando pelas civilizações orientais, africanas, mani- festações artísticas por todo o mundo e chegando à suposta gênese da palavra Drag, no Renascimento.