27 Set 2015 Coro 18:00 Sala Suggia -

Casa da Música TRANSGRESSÕES direcção musical

Inglaterra Interlúdio Henry Purcell (1659­‑1695) / Paul Hillier (1949) I was glad when they said unto me Clapping Music (arranjo vocal) John Blow (1649­‑1708) Salvator mundi Inglaterra Purcell/Sven‑David­ Sandström (1942) (1563­‑1626) Hear my prayer / Paul Hillier Lacrimae 1 a 3 Interlúdio Henry Bishop (1786­‑1855) Steve Reich (1936) Who is Silvia Clapping Music John Dowland / Paul Hillier Lacrimae 4 e 5 América Thomas Morley (1557/8­‑1602) Justin Morgan (1747­‑1798) Sweet nymph come to thy lover Montgomery Robert Lucas de Pearsall (1795­‑1856) Abraham Wood (1752­‑1804) Sing we and chaunt it Brevity John Dowland / Paul Hillier Justin Morgan Lacrimae 6 e 7 Amanda William Billings (1746­‑1800) Jargon Duração aproximada: 1 hora sem intervalo Elisha West (1756­‑1832) Tradução dos textos originais nas páginas 7 a 11 Evening Hymn A CASA DA MÚSICA É MEMBRO DE O conceito de originalidade é, indubitavel‑ compositores explorar e patentear as suas mente, um dos valores mais propalados próprias capacidades e, em simultâneo, no paradigma artístico contemporâneo. homenagear os autores dos seus modelos. Associada de um modo umbilical a uma ima‑ Já durante o período Barroco, por motivos gem idealizada de qualquer processo de que o musicólogo J. Peter Burkholder associa natureza criativa – fazendo­‑o depender de ao carácter funcional da música coeva, esta um momento de inspiração ou de um rasgo de acabava, muitas vezes, por ser executada e genialidade –, a emergência deste conceito escutada exclusivamente na ocasião para a é, no entanto, relativamente recente. Com qual havia sido concebida. Neste contexto, os efeito, a conotação fortemente negativa hoje compositores sentiam­‑se legitimados, e até associada à noção de plágio na criação artís‑ mesmo compelidos, a aproveitar e reutilizar tica, enquanto apropriação reprovável e não ideias, modelos ou excertos de obras ante‑ declarada de parte do produto de uma origi‑ riores nas suas novas criações, fenómeno a nalidade alheia, apenas se principiou a fazer que não eram alheios os músicos mais proe‑ sentir a partir de meados do século XVIII. minentes, como J. S. Bach (1685­‑1750) ou G. F. No caso particular da criação musical, Händel (1685­‑1759) – compositor que, tendo várias ordens de factores concorreram para assistido à clivagem de paradigma a este pro‑ que, até então, a utilização de material musi‑ pósito, se viu a braços com acusações de plá‑ cal pré­‑existente nas novas obras fosse uma gio no ocaso da sua vida. prática corrente e generalizada. Desde logo, Talvez a forma mais directa e evidente na esteira de um consistente aproveitamento de aproveitamento de material musical pré­ do vasto repertório de cantochão como um ‑existente consista, contudo, na adaptação dos alicerces para os primeiros séculos de de uma obra inicialmente concebida para um polifonia, Leonel Power (c.1370­‑1445), com a determinado efectivo vocal ou instrumen‑ sua Missa Alma Redemptoris Mater (baseada tal, tendo em vista a sua execução por uma na homónima antífona mariana), terá sido pio‑ formação distinta da original. Materializada neiro na apropriação de uma melodia única em transcrições ou arranjos, esta práctica é como elemento estruturante e unificador do transversal à música ocidental, abarcando género Missa. desde as ibéricas intabulações para vihuela A partir do século XVI, tornou­‑se fre‑ de polifonia de matriz vocal ao longo do quente a utilização da técnica de paródia, que século XVI, até às hodiernas reduções para implicava não apenas o uso de uma melodia piano de obras culminantes do repertório pré­‑existente na concepção de uma nova orquestral. As suas motivações são pragmá‑ obra musical, mas a incorporação de elemen‑ ticas: por um lado, promovem um exponencial tos da própria estrutura e substância da obra alargamento do alcance das obras musicais, que serve de referência, incluindo temas, rit‑ quando viabilizam a sua execução por efecti‑ mos e harmonias. Esta técnica – dominada vos muito inferiores; por outro lado, permitem com grande mestria, entre outros, por Duarte a ampliação do repertório disponível para Lobo (c.1565­‑1646), que baseou várias das determinado instrumento ou ensemble. suas missas em motetes de Giovanni Pierluigi da Palestrina (c.1525­‑1594) – permitia aos

3 É este o caso de Clapping Music, obra Enquanto Purcell é apontado como o axial do programa de hoje, apresentada na nome cimeiro do panorama musical inglês versão original, composta em 1972 por Steve da segunda metade do século XVII, John Reich (n.1936), e no recente arranjo para Dowland (1563­‑1626) pode ser considerado vozes da responsabilidade do Maestro Titular o seu mais ilustre antecessor. Porém, desen‑ do Coro Casa da Música, Paul Hillier (n.1949). volveu grande parte da sua carreira fora da Steve Reich – Compositor em Associação na Inglaterra natal, tendo passado por cida‑ Casa da Música em 2011 e um dos precurso‑ des como Paris, Wolfenbüttel, Roma, Veneza res do Minimalismo, corrente musical sur‑ e Copenhaga antes de ver atingido o maior gida na cidade de Nova Iorque em meados objectivo profissional em 1612, ano em que, da década de 1960, centrada na estaticidade finalmente, se tornou alaudista da corte e na repetição –, concebeu Clapping Music inglesa. A sua influência não se circunscre‑ como uma peça que pudesse ser facilmente veu ao prolífico e aclamado engenho musi‑ ensaiada num quarto de hotel, contornando cal: antecipando a premência de arranjos ou os habituais constrangimentos associados transcrições a posteriori, engendrou um for‑ às digressões. Nos seus próprios termos, mato editorial que permitia uma simultânea e Hillier adaptou esta obra para vozes “numa indistinta adequação para voz solista acom‑ tentativa de aumentar a escassa quantidade panhada ao alaúde ou para um agrupamento de música de Steve Reich que os cantores vocal ou instrumental. O ciclo de Lachrimae podem interpretar sem acompanhamento”. (sub­‑tituladas de Seaven Teares), inicial‑ Por seu turno, a intervenção de Sven­ mente publicado em 1604 numa versão para ‑David Sandström (n.1942) sobre Hear my alaúde ou ensemble instrumental, é hoje Prayer, o Lord, de Henry Purcell (1659­‑1695), apresentado numa adaptação vocal com decorreu de um imperativo muito pessoal: textos de alguns dos maiores escritores de de acordo com Rolf Ruggaard, o composi‑ expressão inglesa, como Walter Raleigh tor sueco ter­‑se­‑á apaixonado pelo hino de (c.1554­‑1618), Robert Burton (1577­‑1640), Purcell, tendo­‑se sentido impelido a continuá­ George Herbert (1593­‑1633), T. S. Elliot (1888 ‑lo e a comentá­‑lo musicalmente. Assim, a ‑1965) ou Dylan Thomas (1914­‑1953). sua interacção com a peça apenas princi‑ Contemporâneo de Dowland, Thomas pia no ponto culminante, que é então prolon‑ Morley (1557/8­‑1602) estudou com William gado e ampliado na construção de um novo Byrd (c.1540­‑1623) enquanto enveredava clímax, subsequentemente desmontado até por uma carreira que o levou a ocupar car‑ um murmúrio final. Antes desta obra, serão gos de grande destaque nas Catedrais de interpretadas I was glad – outro dos quase Norwich e de St. Paul (Londres) e, a partir de setenta hinos da autoria de H. Purcell, escrito 1592, na Capela Real, ao serviço da rainha para a coroação de James II, em 1685 – e, Isabel I (1533­‑1603). Músico dotado de uma do seu amigo e provável mestre John Blow grande versatilidade, tornou­‑se num extre‑ (1649­‑1708), Salvator mundi, que consti‑ mamente bem sucedido compositor, editor tui um eloquente e arrojado exemplo da utili‑ e teórico musical. Do seu marcante legado, zação das dissonâncias e do cromatismo ao sobressaem o tratado A Plaine and Easie serviço de uma expressividade patética. Introduction to Practicall Musicke (1597)

4 – livre e elaborada mas acessível súmula de a A lieta vita (ou L’innamorato), contida em vários tratados coetâneos, com uma notó‑ Balletti a cinque voci (1591), de G. G. Gastoldi. ria influência de Byrd – e a importação do flo‑ O recital de hoje fica completo com rescente repertório madrigalista italiano para uma incursão pela música vocal norte­ o ambiente e gosto ingleses, com frequen‑ ‑americana da segunda metade do século tes adaptações directas de obras de com‑ XVIII. Este repertório autóctone, hoje em dia positores como Orazio Vecchi (1550­‑1605), amplamente negligenciado, gozou de grande Giovanni Giacomo Gastoldi (1554­‑1609) popularidade num período de afirmação dos ou Felice Anerio (c.1560­‑1614). O madrigal Estados Unidos da América, concretizada Sweet nymph, come to thy lover, incluído na proclamação de independência no ano por Morley nas suas Canzonets to Two de 1776. Fortemente associado às dinâmicas Voyces (1595), baseia­‑se, precisamente, em comunidades cristãs locais, começou por se Su questi fior t’aspetto, obra publicada por estabelecer em torno de melodias simples Anerio apenas nove anos antes. sobre textos religiosos. Foi­‑se posteriormente Who is Sylvia, de Henry Bishop (1786 alargando a temas mais variados, como a jor‑ ‑1855), e Sing we and chaunt it, de Robert nada de trabalho ou outras cenas da vida Lucas Pearsall (1795­‑1856), constituem, ainda mundana, mantendo quase sempre, porém, que indirectamente, mais dois exemplos das uma ligação ao divino. intervenções de Morley sobre madrigais Neste contexto, um dos mais reco‑ italianos. No primeiro caso, H. Bishop – com‑ nhecidos compositores foi o autodidacta positor controverso, reconhecido como res‑ Justin Morgan (1747­‑1798). Montgomery e ponsável pela sobrevivência da ópera inglesa Amanda, compostas sobre versões dos sal‑ na primeira metade do século XIX mas acu‑ mos 63 e 90 da autoria do teólogo Isaac Watts sado de, no processo, ter mutilado obras (1674­‑1748), são duas das suas obras mais de Wolfgang Amadeus Mozart (1756­‑1791) e emblemáticas, contando­‑se entre as peças Gioachino Rossini (1792­‑1868) – apropriou­ mais frequentemente impressas durante o ‑se de melodias criadas por Morley e Thomas século XVIII. Apesar de ter tido uma carreira Ravenscroft (c.1592­‑c.1635) para o conhecido relativamente mais obscura que Morgan, poema de William Shakespeare (1564­‑1616), Elisha West (1756­‑c.1832) foi um dos promo‑ sendo que, por sua vez, Morley se havia inspi‑ tores de uma forma alternativa de notação rado em So ben mi c’hà bon tempo, publicada musical, que se pretendia mais intuitiva e, por Orazio Vecchi na colectânea Selva di varia consequentemente, mais adequada a grupos ricreatione (1590). O segundo caso patenteia amadores. Esta notação foi utilizada na colec‑ o profundo interesse do músico e advogado tânea The Christian Harmony (1805), onde se Robert L. Pearsall pela Música Antiga, que o inclui Evening Hymn. levou a ser um dos membros fundadores da Numa perspectiva mais secular, a produ‑ Bristol Madrigal Society, em 1837, e a emular ção musical de Abraham Wood (1752­‑1804) é o estilo de T. Morley na composição de madri‑ indissociável do seu percurso militar durante gais. Aqui, a obra homónima que serviu de o período revolucionário, como fica claro em base às duas versões de Pearsall, a quatro e A Hymn on Peace (1784) – em que se celebra a oito vozes, constitui uma referência directa o Tratado de Paris, que pôs termo à Guerra

5 da Independência dos Estados Unidos da América – ou Funeral Elegy on the Death of General George Washington (1800). Brevity é uma pungente reflexão sobre a brevidade e o carácter transitório da vida humana. A figura mais influente no estabelecimento desta corrente musical estado­‑unidense foi, no entanto, Walter Billings (1746­‑1800). Com uma formação quase exclusivamente auto‑ didacta, à semelhança de vários dos seus coetâneos, forjou uma extraordinária repu‑ tação enquanto pedagogo e compositor. A sua primeira publicação, The New England Psalm­‑Singer (1770), é o mais antigo exem‑ plo de um livro exclusivamente dedicado a um único compositor norte­‑americano. Jargon, obra incluída no seu The Singing Master’s Assistant (1778), materializa uma bem­‑humorada resposta aos críticos que o acusavam de transgredir demasiadas regras de composição. LUÍS TOSCANO, 2015

6 Henry Purcell Justin Morgan Montgomery Alegrei­‑me quando me disseram De madrugada meu Deus, sem demora, Alegrei­‑me quando me disseram: Vamos eu me apresso a buscar a Tua face; para a casa do Senhor. A minha alma sedenta desfalece, Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor: Sem a Tua graça encorajadora: para testemunhar por Israel, para dar graças Também os peregrinos na areia tórrida, ao Nome do Senhor. Sob o céu escaldante, anseiam por um Lá está o trono do julgamento: o trono da riacho refrescante, casa de David. E devem beber ou morrer. Orai pela paz de Jerusalém: prosperarão aqueles que vos amam. Abraham Wood Brevidade A paz esteja dentro dos teus muros: e prosperidade nos teus palácios. Homem, nascido da mulher, como uma flor Glória ao Pai, ao Filho, e ao Espírito Santo; de vida breve se vê desabrochar; Como era no princípio, agora, e para todo o De manhã floresce, ao anoitecer sempre. Ele murcha, cai, e morre. O Mundo não terá fim Ele murcha, cai, e morre. Ámen 2. As suas alegrias são sombras ilusórias, John Blow Salvator mundi E instáveis como o vento: Como os navios, como as setas no ar, Salvador do mundo, Eles não deixam rasto para trás. pela tua cruz e paixão nos redimiste. Eles não deixam rasto para trás. Salva­‑nos e ajuda­‑nos, humildemente Te pedimos. 3. No meio da vida chega a morte: Dela não há refúgio; Purcell/Sven‑David­ Sandström Mas, todos apontados, para nos parar a Escuta a minha oração respiração, Dez mil dardos voarão. Senhor, escuta a minha oração Dez mil dardos voarão. E aceita o meu clamor Justin Morgan Amanda

1. A morte, como uma enxurrada, Arrebata­‑nos a nossa vida é um sonho. Um conto vazio, uma flor da manhã Cortada e murcha ao fim de uma hora.

7 2. Vivemos até aos setenta anos de idade: 4. E quando cedo nos levantarmos, Tão curto o prazo! E virmos o incansável sol, Tão frágil o estado! Que nos proponhamos a ganhar o prémio, E se chegamos aos oitenta, E atrás da glória corramos. Mais iremos suspirar e gemer que viver. 5. E quando os nossos dias passarem 3. Ensinai‑nos­ Senhor, a fragilidade do E do tempo formos arrancados, homem; Possamos no teu peito repousar, E por caridade alongai o nosso tempo: O peito do teu amor. Até que um sábio golpe de piedade nos prepare para morrer, e ir morar John Dowland Lacrimae 1 a 3 convosco. 1. Lachrimae Antiquae, texto de John William Billings Jargão Dowland, em 2º Livro de Canções (1600)

Que o horrendo Jargão rasgue o Ar e Correi lágrimas minhas, jorrai de vossas fontes, desfaça os nervos em pedaços. Exilado para sempre deixai­‑me chorar; Que a odiável discórdia saúde o ouvido tão Onde o pássaro negro da noite sua triste terrivelmente como o Trovão. infâmia canta, Que a harmonia seja banida daqui e que a Aí deixai­‑me viver abandonado. Consonância parta; Que a dissonância erga o seu trono e reine Esmorecei vãs luzes, não brilheis mais! dentro do meu Coração. Nenhuma noite é escura o suficiente para aqueles Elisha West Oração da Noite Que em desespero sua derradeira sorte lamentam. 1. O dia passou e foi­‑se, A luz revela apenas a vergonha. Surgem as sombras da noite, E que todos lembremos bem Jamais o meu infortúnio poderá ser aliviado, Que a noite da morte nos aproxima. Pois a compaixão abandonou­‑me; E lágrimas e suspiros e queixumes, os meus 2. Tapamo­‑nos com nossos mantos, extenuados dias Nas nossas camas para descansar; De todas as alegrias privaram. Para que a morte em breve nos dispa a todos, Do que aqui nós possuímos. Do mais alto pináculo da felicidade Minha fortuna foi lançada; 3. Senhor protegei­‑nos esta noite, E medo e angústia e dor para o meu Guardai­‑nos dos nossos medos; desamparo Que os anjos nos guardem no sono, São a minha esperança, pois a esperança Até que a luz da manhã nasça. foi‑se­ embora. Escutai! Vós sombras que as trevas habitais,

8 Aprendei a desprezar a luz Homens justos, no último aceno, clamando Felizes, felizes aqueles que no inferno com que alvura Não sentem o desdém do mundo. Os seus frágeis actos bailariam numa verde baía, 2. Lachrimae Antiquae Novae, texto Burnt Revoltam­‑se, revoltam‑se­ contra a luz que Norton de T.S. Eliot em Quatro Quartetos esmorece. (1941) Homens loucos que abraçaram e cantaram O tempo e o sino enterraram o dia, o sol em pleno voo, A nuvem negra leva consigo o sol. E aprenderam, tarde demais, que o afligiam Irá o girassol virar‑se­ para nós, irá a clematite na sua travessia, Desprender­‑se, debruçar­‑se sobre nós; a Não entram suavemente nessa noite serena. gavinha e a vergôntea Unir‑se­ e agarrar‑se?­ Homens graves, próximo da morte, que vêem com clareza ofuscante, Os frígidos Olhos cegos que podem brilhar como Dedos do teixo enrolar­‑se­‑ão meteoros e ser alegres, Sobre nós? Depois de a asa do guarda­‑rios Revoltam­‑se, revoltam‑se­ contra a luz que Ter respondido à luz com luz, e se silenciar, a esmorece. luz está suspensa No fulcro do mundo em rotação. E tu, meu pai, lá no triste apogeu, Maldiz­‑me, abençoa­‑me agora com tuas 3. Lachrimae Gementes, texto de Dylan lágrimas dilacerantes, eu te suplico. Thomas, Não entres suavemente nessa Não entres suavemente nessa noite serena. noite serena (1951) Revolta­‑te, revolta­‑te contra a luz que esmorece. Não entres suavemente nessa noite serena, A velhice deveria queimar e revoltar­‑se ao Henry Bishop Quem é Sílvia? fim do dia; Revolta­‑te, revolta­‑te contra a luz que Quem é Sílvia? O que é ela, esmorece. Que todos os nossos varões a elogiam? Ela é santa, bela, e sábia; Ainda que no fim os homens sábios aceitem Os céus tanta graça lhe emprestaram, as trevas, Que ela pode ser adorada. Porque se esgotou o raio nas suas palavras, eles Não entram suavemente nessa noite serena. Será bondosa, como é bela? Pois a beleza vive com a bondade. O amor vem aos seus olhos curar­‑se Para o ajudar na sua cegueira, E sendo ajudado aí mora.

9 Cantemos então a Sílvia 5. Lachrimae Coactae, texto de Robert Que Sílvia se supera; Burton em A anatomia da Melancolia Ela supera todas as criaturas (1621) Que vivem nesta terra enfadonha Para ela traremos grinaldas. Muitos homens ficam melancólicos ao ouvir música, John Dowland Lacrimae 4 e 5 Mas é uma melancolia agradável que é causada; 4. Lachrimae Tristes, dois poemas de Sir E portanto, para os que estão descontentes, Walter Raleigh, escritos na noite antes da pesarosos, receosos, tristes ou desanimados, sua morte e deixados na Casa do Guarda É um remédio muito presente; (1618) Afasta as preocupações, altera as suas mentes perturbadas, Assim mesmo é o tempo, que leva na confiança E alivia­‑as por um instante. A nossa juventude, nossas alegrias, tudo o que temos, Thomas Morley E que apenas nos paga com idade e pó: Doce ninfa vinde ao vosso amado Quem na campa escura e silenciosa Quando já percorremos todos os caminhos Doce ninfa vinde ao vosso amado, Cala a história dos nossos dias. Hei, aqui sós o nosso amor podemos E dessa terra e laje e pó descobrir, O Senhor me ressuscitará, eu acredito. Onde o rouxinol trina lascivas glosas, Ouvi! O seu amor também ela mostra. 2. O que é a nossa vida? Um teatro de paixão, A nossa alegria a música da divisão, Robert Lucas Pearsall Trovemos e cantemos Os ventres das nossas mães são os camarins, Onde nos vestimos para a curta Comédia, Trovemos e cantemos O Céu é o espectador judicioso e incisivo, enquanto o amor o permite, Que se senta e regista as falhas na nossa fa la la, la la la actuação, As nossas sepulturas que nos escondem do Não durou muito a juventude, Sol ardente, e muito dura a velhice; São como as cortinas corridas quando a agora é melhor lazer peça acaba. Saborear o prazer, Assim representando caminhamos para a fa la la la la. nossa última morada, Só que morremos a sério, não a brincar.

10 John Dowland Lacrimae 6 e 7 7. Lachrimae Verae, texto Little Gidding de T.S. Eliot, em Quatro Quartetos 6. Lachrimae Amantis, texto de George (1942) Herbert em Homem de O Templo (1633) A pomba mergulhando rasga o ar Com chamas de terror incandescente Meu Deus, eu ouvi hoje, Da qual as línguas declaram Que ninguém deve construir uma casa A única redenção do pecado e do erro. majestosa, A única esperança, ou então o desespero A não ser que pretenda lá morar. Jaz na escolha entre a pira ou a pira Que casa mais majestosa terá havido Ser redimido do fogo pelo fogo. Ou possa existir, do que o Homem? Quem pois concebeu o tormento? O perante cuja criação Amor. Todas as coisas se tornam pequenas. Amor é o Nome não familiar Por trás das mãos que tecem Pois o Homem é tudo A intolerável camisa de fogo E mais: É uma árvore, mas não dá fruto; Que poder humano algum não pode É um animal, e no entanto é, ou deveria retirar. ser, mais: Apenas vivemos, apenas suspiramos Razão e discurso só nós possuímos. Consumidos pelo fogo ou pelo fogo. Os papagaios podem agradecer­‑nos, se não forem mudos, TRADUÇÃO: JOAQUIM FERREIRA Imitam bem aquilo que ouvem.

As estrelas têm­‑nos para adormecer; A noite fecha a cortina, que o sol retira; Música e luz anseiam pela nossa mente. Tudo na nossa carne é bom Na sua descendência e existência; na nossa mente Na sua razão de ser e causa.

11 BBC Proms, Ópera Real Dinamarquesa Paul Hillier direcção musical em Copenhaga, Carnegie Hall, Festival de Edimburgo e Musikfest Berlin com o Coro da Paul Hillier, Director Fundador do Hilliard Rádio de Berlim. Ensemble e do , tor‑ Paul Hillier nasceu em Dorchester e estu‑ nou-­ se um dos principais maestros corais dou na Guildhall School of Music and Drama do mundo. Foi Maestro Titular do Coro de em Londres. Ensinou na Universidade da Câmara Filarmónico da Estónia (2001-­ 2007) Califórnia (Santa Cruz e Davis) e foi Director e é Titular do Ars Nova Copenhagen desde do Early Music Institute na Universidade de 2003. Em 2008 tornou-­ se Maestro Titular Indiana entre 1996 e 2003. Os seus livros do Coro de Câmara Nacional da Irlanda, e em sobre Arvo Pärt e Steve Reich, juntamente 2009 assumiu o mesmo cargo no Coro Casa com numerosas antologias de música coral, da Música. são publicados pela Oxford University Press. As suas mais de 150 gravações em CD Em 2006 foi condecorado com a Ordem do incluem sete recitais a solo e foram aclamadas Império Britânico pelos serviços prestados à em todo o mundo, conquistando numerosos música coral. Em 2013 foi nomeado Cavaleiro prémios. Recebeu um Grammy Award por Da da Ordem de Dannebrog. Pacem de Arvo Pärt (Melhor Gravação Coral) com o Coro de Câmara Filarmónico da Estónia, e outro por The Little Match Girl Passion de com o Theatre of Voices e o Ars Nova Copenhagen (Harmonia Mundi). Colabora regularmente com os prin‑ cipais coros de câmara europeus e artis‑ tas como Kronos Quartet, Peter Sellars, Bobbie McFerrin, Tim Rushton e Richard Alston. Como convidado, dirigiu a London Sinfonietta, Orquestra de Câmara St. Paul, Concerto Copenhagen, Athelas Sinfonietta, Orquestra de Câmara de Tallinn, Orquestra Barroca Irlandesa, Remix Ensemble, Concerto Palatino, Fretwork, Ensemble de Sopros da Holanda, I Solisti del Vento, Ensemble de Sopros da Suécia, Orquestra Sinfónica Estatal da Estónia, Filarmónicas de Copenhaga e de Tóquio, Sinfónicas de Sønderjyllands, Taiwan e Utah e Sinfónica do Porto Casa da Música. Entre os seus compromissos recentes destacam-­ se concertos no Southbank em Londres, Festival Internacional de Bergen,

12 grandes polifonistas do Renascimento mas CORO CASA DA MÚSICA também na música do século XX. Tem inter‑ Paul Hillier maestro titular pretado diversas obras em estreia nacional e fez a estreia mundial de Motetes de Carlo O Coro Casa da Música estreou­­‑se em 2009 Gesualdo na versão reconstruída por James sob a direcção do seu maestro titular Paul Wood e de uma nova obra de Carlos Caires. Hillier, referência incontornável da música Na temporada de 2015, o Coro Casa coral a nível internacional. É constituído por da Música volta­­‑se especialmente para a uma formação regular de 18 cantores, que se grande tradição coral germânica, interpre‑ alarga a formação média ou sinfónica em fun‑ tando o Magnificat de Bach, a Missa Solene ção dos programas apresentados. O reper‑ de Beethoven, a Oratória de Natal de Schütz e tório do Coro estende­­‑se a todos os períodos ainda obras de Stockhausen e Lachenmann. históricos desde a Renascença até aos nos‑ O Coro Casa da Música faz digressões sos dias, incluindo a música a cappella ou com regulares, tendo actuado no Festival de orquestra, neste caso ao lado dos agrupamen‑ Música Antiga de Úbeda y Baeza (Espanha), tos da Casa da Música – Orquestra Barroca, no Festival Laus Polyphoniae em Antuérpia, Orquestra Sinfónica e Remix Ensemble. no Festival Handel de Londres, no Festival de Desde a sua fundação, o Coro Casa Música Contemporânea de Huddersfield, no da Música foi dirigido pelos maestros Festival Tenso Days em Marselha, e em várias James Wood, Simon Carrington, Laurence salas portuguesas. Cummings, Andrew Bisantz, Kaspars Putniņš, Iris Oja é a maestrina co­­‑repetidora do Andrew Parrott, Antonio Florio, Christoph Coro Casa da Música. König, Peter Rundel, Paul Hillier, Robin Gritton, Michail Jurowski, Martin André, Marco Mencoboni, Baldur Brönnimann e Olari Elts, a que se juntam em 2015 as estreias de Gregory Rose, Takuo Yuasa e Nicolas Fink. Colaborou com os agrupamentos instru‑ mentais da Casa da Música na interpretação da Missa em Dó menor de Mozart, Cantatas de Natal de Bach (no Porto e em Ourense), O Cântico Eterno de Janáček, a Sinfonia Coral de Beethoven, o Requiem à memória de Camões de Bomtempo, o Requiem Alemão de Brahms, a 3ª Sinfonia de Mahler, o Messias de Händel, o Te Deum de Charpentier, a Oratória de Natal e Cantatas de Bach, o Te Deum de António Teixeira e o Requiem de Verdi. Em programas a cappella, destaca­­ ‑se a presença regular da música portu‑ guesa, com especial incidência nas obras dos

13 Sopranos Ana Caseiro Ângela Alves Eva Braga Simões Leonor Barbosa de Melo Rita Venda

Contraltos Ana Calheiros Brígida Silva Iris Oja Joana Valente

Tenores Almeno Gonçalves André Lacerda Luís Toscano Miguel Silva

Baixos João Barros Silva Luís Rendas Pereira Nuno Mendes Pedro Guedes Marques Ricardo Torres

Maestrina co-repetidora Iris Oja

14 FUNDAÇÃO CASA DA MÚSICA

CONSELHO DE FUNDADORES EMPRESAS AMIGAS DA FUNDAÇÃO Presidente CACHAPUZ LUÍS VALENTE DE OLIVEIRA CIN S. A. Vice-Presidentes CREATE IT JOÃO NUNO MACEDO SILVA DELOITTE JOSÉ ANTÓNIO TEIXEIRA EUREST GRUPO DOUROAZUL ESTADO PORTUGUÊS MANVIA S. A. MUNICÍPIO DO PORTO NAUTILUS S. A. GRANDE ÁREA METROPOLITANA DO PORTO SAFIRA FACILITY SERVICES S. A. ACA GROUP STRONG SEGURANÇA S. A. ÁGUAS DO PORTO AMORIM INVESTIMENTOS E PARTICIPAÇÕES, SGPS, S. A. OUTROS APOIOS ARSOPI - INDÚSTRIAS METALÚRGICAS ARLINDO S. PINHO, S. A. FUNDAÇÃO ADELMAN AUTO - SUECO, LDA. I2S AXA PORTUGAL, COMPANHIA DE SEGUROS, S. A. PATHENA BA VIDRO, S. A. RAR BANCO BPI, S. A. SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA BANCO CARREGOSA VORTAL BANCO COMERCIAL PORTUGUÊS, S. A. BANCO SANTANDER TOTTA, S. A. PATRONO MAESTRO TITULAR REMIX ENSEMBLE CASA DA MÚSICA BIAL - SGPS S. A. SONAE SIERRA CAIXA ECONÓMICA MONTEPIO GERAL CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS PATRONO DO CONCERTINO DA ORQUESTRA SINFÓNICA DO PORTO CASA DA MÚSICA CEREALIS, SGPS, S. A. THYSSENKRUPP CHAMARTIN IMOBILIÁRIA, SGPS, S. A. COMPANHIA DE SEGUROS ALLIANZ PORTUGAL,S. A. COMPANHIA DE SEGUROS TRANQUILIDADE, S. A. CONTINENTAL MABOR - INDÚSTRIA DE PNEUS,S. A. CPCIS - COMPANHIA PORTUGUESA DE COMPUTADORES INFORMÁTICA E SISTEMAS, S. A. FUNDAÇÃO EDP EL CORTE INGLÊS, GRANDES ARMAZÉNS, S. A. GALP ENERGIA, SGPS, S. A. GLOBALSHOPS RESOURCES, SLU GRUPO MEDIA CAPITAL, SGPS S. A. GRUPO SOARES DA COSTA, SGPS, S. A. GRUPO VISABEIRA - SGPS, S. A. III - INVESTIMENTOS INDUSTRIAIS E IMOBILIÁRIOS, S. A. LACTOGAL, S. A. LAMEIRINHO - INDÚSTRIA TÊXTIL, S. A. METRO DO PORTO, S. A. MSFT - SOFTWARE PARA MICROCOMPUTADORES, LDA. MOTA - ENGIL SGPS, S. A. MUNICÍPIO DE MATOSINHOS NOVO BANCO S.A. OLINVESTE - SGPS, LDA. PESCANOVA PORTO EDITORA, S.A. PORTUGAL TELECOM, SGPS, S. A. PRICEWATERHOUSECOOPERS & ASSOCIADOS RAR - SOCIEDADE DE CONTROLE (HOLDING), S. A. REVIGRÉS - INDÚSTRIA DE REVESTIMENTOS DE GRÉS, S. A. TOYOTA CAETANO PORTUGAL, S. A. SOGRAPE VINHOS, S. A. SOLVERDE - SOCIEDADE DE INVESTIMENTOS TURÍSTICOS DA COSTA VERDE, S. A. SOMAGUE, SGPS, S. A. SONAE SGPS S. A. TERTIR, TERMINAIS DE PORTUGAL, S. A. TÊXTIL MANUEL GONÇALVES, S. A. UNICER, BEBIDAS DE PORTUGAL, SGPS, S. A.

15 MECENAS PROGRAMAS DE SALA MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA