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Tim Maia Racional Volume 1 Produtor: Tim Maia (Seroma 1974/ 1975)

“Não havendo energia racional deformada, não há micróbio, não havendo micróbio não haverá vida”. Essa era apenas uma das impenetráveis máximas estampadas na capa de Tim Maia Racional – volume 1, gravado em 1974, que circulou em 1975, vendido em shows do cantor, mas também pelos fiéis em sinais de trânsito e outros pontos inusitados.

Era o que (junto com o volume 2) marcava a efêmera, porém intensa, conversão de Tim Maia à seita Racional Superior, do guru Manoel Jacintho, acantonado numa casa em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.

Deveria ser o álbum duplo da estréia do Grão-Mestre do Soul Brasil na “major” RCA, após ruidoso rompimento com a Polydor (hoje Universal, mas sem parentesco com a outra igreja), que o lançou para o sucesso em 1970.

Só que a gravadora de matriz americana não quis encampar aquele estranho ideário, que pregava a imunização racional e o posterior resgate pelos voadores. Não houve litígio.

Um Tim Maia inacreditavelmente careta, de cabelos curtos e sensato, propôs “o cancelamento do contrato e a compra das dez fitas já gravadas com dinheiro dado por Manoel Jacintho”, como relata na biografia Vale tudo: o som a fúria de Tim Maia (Editora Objetiva, 2007).

O próprio Tim mandou prensar as cópias que distribuiria e venderia através do pioneiro selo “indie” Seroma (de Sebastião Rodrigues Maia, seu nome completo).

Só uma entidade sonora capaz de musicar até catálogo telefônico explica que o disco repleto de pregações caóticas se transformaria em “cult”, disputado a tapa nos sebos, trinta anos depois, até ser relançado (o primeiro volume) em CD.

Em Aquele frevo axé (1998), Gal Costa regravou uma das músicas (Que beleza), de refrão irresistível, também entoado pelo Monobloco, em 2002.

De voz limpa e fome estética apurada, Tim dá show de bola também em outras faixas como na emissão amarrotada que usa no Bom Senso.

Navega num soul em Universo em desencanto, flutua nas baladonas Contato com o mundo racional e Leia o livro Universo em desencanto.

E deleita-se nos improvisos de mais de 12 minutos do devorador funk gospel (com sermão do próprio, em inglês impecável) Rational culture. ( TÁRIK DE SOUZA )