A Visita Dos Espíritos: Ritual, História E Transformação Entre Os Matses Da Amazônia Brasileira
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Universidade Federal do Rio de Janeiro Museu Nacional Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social A Visita dos Espíritos: ritual, história e transformação entre os Matses da Amazônia brasileira Beatriz de Almeida Matos Rio de Janeiro 2014 Beatriz de Almeida Matos A Visita dos Espíritos: ritual, história e transformação entre os Matses da Amazônia brasileira Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2014 ii A Visita dos Espíritos: ritual, história e transformação entre os Matses da Amazônia brasileira Beatriz de Almeida Matos Tese submetida ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional (PPGAS/MN) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor. Aprovada por _______________________________ Prof. Dr. Eduardo B. Viveiros de Castro (orientador) _______________________________ Profa. Dra. Lydie Oiara Bonilla Jacobs _______________________________ Profa. Dra. Luiza Elvira Belaunde Olschewski _______________________________ Prof. Dra. Elsje Maria Lagrou _______________________________ Prof. Dr. José Antonio Kelly Luciani Rio de Janeiro, fevereiro de 2014. iii Matos, Beatriz de Almeida A Vista dos Espíritos: ritual, história e transformação entre os Matses da Amazônia brasileira / Beatriz de Almeida Matos. --- 2014. XXX f.: il Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal de Rio de Janeiro, Museu Nacional, PPGAS. Rio de Janeiro, 2014. Orientador: Eduardo B. Viveiros de Castro. 1. Etnologia Indígena 2. Matses 3. TI Vale do Javari 4. Antropologia Social – Teses I. Viveiros de Castro, Eduardo (Orient.) II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Museu Nacional. Programa de Pós- graduação em Antropologia PPGAS. III. Título. iv v Resumo Essa tese tem como fio condutor a análise dos rituais de constituição das pessoas femininas e masculinas e de um grande ritual coletivo de iniciação entre os Matses, povo de língua Pano habitante da bacia do rio Javari, na fronteira Brasil-Peru. A tese aborda as consequências vividas pelos Matses pela impossibilidade atual da realização do ritual de iniciação masculina, resultado da transgressão de uma interdição, ocorrida com a chegada de missionárias do Summer Institute of Linguistics no território matses. Analisando as transformações deste ritual no espaço e no tempo, o trabalho contribui com novos elementos para pensar a questão da “mudança cultural” entre povos nativos em situações coloniais. vi Abstract This thesis takes as its central thread the analysis of the ritual constitution of the maculine and feminine person and a large collective initiation ritual, among the Matses, a Pano-speaking people of the Javari river basin, on the Brazil-Peru border. The thesis discusses the consequences for the Matses of the current impossibility of performing the male initiation ritual as a result of the transgression of a prohibition, which occurred with the arrival in Matses territory of missionaries of the Summer Institute of Linguistics. Analysing the transformations of this ritual in time and space, this study contributes new elements with which to think through the question of “cultural change” among native peoples in colonial situations. vii Agradecimentos Aos Matses por tudo que com eles aprendi. Pela paciência, carinho e respeito com que me brindaram, tornando maravilhosa e interessante essa longa experiência. Especialmente a Vitor Mayoruna, Raimundo Mëan Mayoruna e família, Manoel Nacua, Oswaldo Mayoruna (in memorian), Arceu Mayoruna e família (aldeia Lobo), André Chapiana Waldik e família, Raul Mayoruna e família (aldeia Nova Esperança), Unan e família, Uaqui Mayoruna, Gilson Mayoruna (Gaúcho), Gilson Mayoruna e família (Soles), Antônio Mayoruna (Soles), Antônio Mayoruna (Flores), João Êpê e família (Nova Esperança). A meu orientador Eduardo Viveiros de Castro pelo seu contínuo apoio, conversas, aulas e textos inspiradores. Aos professores que foram fundamentais na minha formação, especialmente a Tania Stolze Lima, Marcio Goldman, Aparecida Vilaça, Ruben Caixeta, Eduardo Vargas e José Kelly. A Maria Elisa Ladeira e Gilberto Azanha, pela oportunidade de trabalhar no Vale do Javari, conhecer os Matses e por tudo que me ensinaram. A Luisa Elvira Belaunde por sua amizade e apoio durante a escrita da tese, e a Elsje Lagrou e Oiara Bonilla, que aceitaram o convite para fazer parte da minha banca de defesa. Aos meus colegas e amigos no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, especialmente aos meus compadres Bruno Marques e Indira Caballero. A Beatriz Filgueiras, André Dumas, Gabriel Banaggia, Luciana França, Paulo Maia, Leonor Valentino, Antonia Walford, Virna Plastino, Ana Carneiro, Marina Vanzolini, Marina Vieira, Felipe Sussekind, Julia Sauma, Guilherme Heurich, Orlando Calheiros, Floriberto Vazquez, Luana Almeida, Ana Gabriela Morim, Gerome Ibri, Luzimar Pereira. Um agradecimento especial a Walter Castelo Balta e a Gleide Cambria, que tornaram meu corpo mais sábio. Às amigas de sempre Letícia Cesarino, Alice Soares, Rachel Starling e Ana Lanza. A Maria Elisa Leite e aos Mebêngokrê, por me levarem para conhecer suas lindas aldeias e realizar trabalhos tão bonitos. Aos colegas e amigos do CTI, Maria Fernanda, Helena Ladeira, Bernardo Perondi e especialmente a Hilton Nascimento, Conrado Rodrigo Octavio e a Janekely Reis D’Ávila, por tudo que realizamos e vivemos juntos no Vale do Javari. A Idinilda Obando e a Fabricio Amorim da FPVJ-FUNAI, pelo super apoio em Tabatinga. Aos amigos da fronteira: Barbara Figueiredo, Janaína Saba, Diego Builes, Alejandra Currea, Arnold Vasquez, especialmente a minha querida amiga Diana Rosas, pelo que compartilhamos de vida, idéias e de nossas vivências nos rios. Aos colegas antropólogos do Javari: Elena Welper, Pedro Cesarino, Luis Costa, Bárbara Arisi. A Walter Coutinho Jr., Júlio Cezar Melatti e a David Fleck, pelas conversas em que compartilharam comigo seus trabalhos entre os Matses, e pela bibliografia que me disponibilizaram. Aos meus pais Kleber Matos e Maria Ines de Almeida, e meus irmãos Marcos Matos e Guilherme Abujanra, todos eles contribuíram com o seu apoio, carinho, comentários e ao compartilhar comigo suas diferentes experiências de trabalho com povos indígenas. A Edgar por todo amor, carinho, apoio, leitura, conversas, conselhos. Sem ele não teria sido possível. Agradeço finalmente às agências CAPES e CNPQ pela bolsa e auxílios financeiros para a pesquisa de campo. viii ix Abaixo apresento os fonemas da língua matses (segundo Fleck, 2003:72), representados com os símbolos IPA (primeira tabela) e na ortografia elaborada pelo SIL (segunda tabela). A ortografia do SIL é usada atualmente pelos Matses do Brasil e Peru para a escrita da língua matses. Nessa tese as palavras em matses estarão grafadas de acordo com a ortografia do SIL. Fonemas matses (alofones maiores entre parênteses) representados com os símbolos IPA. Consonantes Vogais Bilab Alv. Ret. Pal. Vel. Glot. Front. Cent. Post. Oclusiva p t k (Ɂ) Glides (j) (w) não vozeada Oclusiva b d Alta i ɨ u[ɯ] vozeada Nasal m n (ŋ) Tepe (ou (ɾ) Media e(ε) o[ϒ] flepe) Frivativa s ṣ ʃ Africada ts tṣ tʃ Baixo a Aproxim. w j Fonemas Matses representados na ortografia do SIL Consonantes Vogais Bilab Alv. Ret. Pal. Vel. Front. Cent. Post. Oclusiva p t c/qu Glides (w) não vozeada Oclusiva b d Alta i ë u vozeada Nasal m n Tepe (ou Media e o flepe) Frivativa s sh sh Africada ts ch ch Baixo a Aproxim. u y x Sumário Introdução ................................................................................................................................. 1 Matses: onde vivem, dados linguísticos, história recente da região ................................................... 7 Guerras de captura de mulheres ........................................................................................................... 8 O contato com as missionárias ........................................................................................................... 14 Contatos pacíficos com os brancos no Brasil .................................................................................... 18 O Vale do Javari ................................................................................................................................... 23 A pesquisa de campo ............................................................................................................................ 25 A tese ...................................................................................................................................................... 28 Parte 1 – A Pessoa Matses ...................................................................................................... 30 Capítulo 1 – Pessoas Compostas ......................................................................................................... 31 1.1. Matses ......................................................................................................................................... 31 1.2. A pessoa e seus múltiplos ........................................................................................................... 34 1.3. Tëbo ............................................................................................................................................. 44 1.4. Nomes ........................................................................................................................................