Andrielle Câmara Amaral-Lopes1,2,4, Taciana Barbosa Cavalcanti3
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Rodriguésia 66(1): 203-220. 2015 http://rodriguesia.jbrj.gov.br DOI: 10.1590/2175-7860201566112 Habranthus (Amaryllidaceae) do Brasil Habranthus (Amaryllidaceae) of Brasil Andrielle Câmara Amaral-Lopes1,2,4, Taciana Barbosa Cavalcanti3 Resumo Habranthus é um gênero com forte apelo ornamental e apresenta de 30 a 40 espécies distribuídas desde o sudeste dos Estados Unidos, México até a América do Sul. Sua delimitação, bem como das espécies, é confusa e a taxonomia é complicada, com vários casos de tipificação necessitando serem esclarecidos. Os objetivos deste estudo foram realizar o levantamento das espécies brasileiras de Habranthus do Brasil e apresentação de descrições, ilustrações, chave de identificação e comentários para todas as espécies. Foram identificadas 21 espécies cujas distribuições abrangem os domínios fitogeográficos da Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal, ocorrendo em vegetação de caatinga arbustivo-arbórea, campo rupestre, carrasco, mata de galeria, campo limpo, cerrado sensu stricto, cerrado de altitude e em locais alagáveis. Palavras-chave: Habranthus, florística, Brasil, taxonomia, plantas bulbosas ornamentais. Abstract Habranthus is an ornamental genus with 30–40 species distributed from the southeastern United States and Mexico to South America. Genus and species delimitation are confusing with several situations that need to be clarified. The aim of this study was to conduct a survey of the Brazilian species of Habranthus, and contribute to the knowledge of these species through descriptions, illustrations, identification key and comments on all species. Twenty one species were identified, distributed in Caatinga, Cerrado, Atlantic Forest and Pantanal phytogeographic domains, inhabiting cerrado vegetation, rocky fields, gallery forest, grassland, flooded and disturbed areas. Key words: Habranthus, floristic inventories, Brazil, taxonomy, ornamental bulbous plants. Introdução número de espécies. No Brasil, Amaryllidaceae Amaryllidaceae J. St.-Hil. está dividida está representada por cerca de 15 gêneros e 150 espécies, sendo Cearanthes Rav., Griffinia Ker- em três subfamílias: Agapanthoideae, Allioideae Gawler, Tocantinia Rav. e Worsleya (W. Watson e Amaryllidoideae (Chase et al. 2009). Os 51 ex Traub) Traub, gêneros endêmicos (Meerow & gêneros da família apresentam distribuição Snijman 1998) cosmopolita, entretanto é predominantemente Há controvérsias entre os autores em tropical (Meerow et al. 1999 2000). Na Região relação à delimitação dos gêneros na família. Neotropical, a família está representada por As classificações para Amaryllidaceae ainda cerca de 30 gêneros, ocorrendo no México, não estão perfeitamente estabelecidas, sendo América Central e América do Sul. Segundo frequentemente reestruturadas, de forma que ainda Meerow (2004) o Brasil, Chile e os Andes no não há um modelo estável, limites precisos, bem Equador e Peru apresentam áreas de notável definidos e difundidos no meio científico. Isto diversidade, onde Hippeastrum Herb. (50–60 se reflete também dentro dos gêneros nativos espécies), Hymenocallis Salisb. e Zephyranthes brasileiros, para os quais o número total de Herb. (ca. 50 espécies cada) e Clinanthus Herb. espécies e suas delimitações taxonômicas ainda (ca. 30 espécies) são os gêneros com maior carecem de elucidação. 1Parte do estudo realizado no curso de Doutorado em Botânica da Universidade de Brasília, UnB, Campus Universitário Darcy Ribeiro, 70910-900, Brasília, DF. 2Embrapa Hortaliças, Rodovia Brasília/Anápolis BR-060 km 09, C.P. 218, 70359-970, Gama, DF. 3Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Embrapa Cenargen, SAIN, Parque Estação Biológica, C.P. 02372, 70.770-917, Brasília, DF. 4Autor para correspondência: [email protected] 204 Amaral-Lopes, A.C. & Cavalcanti, T.B. Habranthus Herb. pertencente à tribo O presente estudo apresenta o levantamento Hippeastreae Herb. ex Sweet de Amaryllidoideae, das espécies de Habranthus ocorrentes no Brasil apresentando entre 30 e 40 espécies, distribuídas cujos resultados foram embasados em observações desde o sudeste dos Estados Unidos e México de material depositado em herbário, das espécies em até a América do Sul (Meerow & Snijman 1998; campo e em casa de vegetação e incluem descrições Flagg et al. 2007). Os representantes do gênero são detalhadas, ilustrações, comentários taxonômicos e caracterizados pela presença de bulbos perenes, chave de identificação para as espécies. folhas anuais, brácteas fundidas em tubo, flores zigomorfas e estames em quatro comprimentos Materiais e Métodos diferentes. As espécies ocorrem em campos, O levantamento bibliográfico reuniu um total matas, cerrados e em locais alagáveis dos domínios de 40 protólogos e outros 40 artigos relacionados fitogeográficos da Caatinga, Cerrado, Mata ao gênero. Trinta materiais-tipo foram analisados, Atlântica e Pantanal. obtidos por empréstimo de herbários nacionais e A identificação das espécies brasileiras internacionais, além de outros de outros espécimes, de Habranthus é em geral dificultada, pois cujos acrônimos são citados segundo o Index muitas foram descritas apenas baseadas na parte Herbariorum (Thiers, continuamente atualizado), reprodutiva, a partir do material herborizado, muito BHCB, CEN, CESJ, CH, ESA, FLAS, FTG, HB, em função de algumas espécies não apresentarem HUEFS, IBGE, INPA, MBM, MO, NY, PACA, RB, folhas durante o período fértil. Além disso, a SGO, SP, SPF, TEPB, UB, UEC, UFG, US. Para delimitação do gênero é às vezes controversa com as espécies com um número elevado de material relação a Zephyranthes. Há uma grande dúvida apenas um espécime de cada localidade foi listado no entre os estudiosos da família sobre a separação material examinado, e em função disso, foi adotada morfológica entre esses dois gêneros devido a terminologia “material selecionado”. O estudo foi à similaridade na estrutura floral, ocorrência também embasado em trabalho de campo através simpátrica e falta de caracteres satisfatórios para do qual 21 expedições foram realizadas. O material separar os dois gêneros, o que levou a diferentes fértil foi prensado e as flores tiveram as suas peças delineamentos genéricos e infragenéricos e montadas separadamente em cartão com fita adesiva multiplicidade de transferências de espécies entre transparente, de forma esquemática, segundo a Habranthus e Zephyranthes. A diferença estaria na técnica apresentada por Amaral (2007). O material simetria da flor, sendo Zephyranthes caracterizado coletado foi incorporado ao Herbário CEN. por apresentar flores actinomorfas, eretas, com Bulbos de espécimes foram coletados, estames eretos de mesmo comprimento, enquanto mantidos vivos e cultivados em casa de vegetação Habranthus teria flores zigomorfas, declinadas, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, estames declinados e de diferentes comprimentos em Brasília. Em casa de vegetação puderam ser (Dutilh & Assis 2005). Essa foi a delimitação acompanhados o desenvolvimento e as fenofases adotada nesse trabalho. das plantas, e também observadas e anotadas A única obra que trata as espécies brasileiras as características que se perdem no processo de Habranthus de forma geral é o trabalho de de herborização. A coleção viva de espécies de Seubert (1847) na “Flora Brasiliensis”, onde não Habranthus conta atualmente com 10 espécies, constam chaves de identificação ou pranchas e representadas por populações distintas. apresenta caracterizações genéricas e específicas. A maioria das espécies brasileiras foi descrita por Resultados e Discussão Ravenna (1988, 1999a, 1999b, 2001, 2002) estando Habranthus Herb. Botanical Magazine t. 2464. 1824. mal caracterizadas e com problemas de tipificação. Espécie-tipo: Habranthus gracilifolius Herb. Bot. Por estes motivos, as espécies brasileiras encontram- Mag. t. 2464. se, na grande maioria, mal delimitadas. Bulbos perenes, subterrâneos, ovais ou Estudos mais recentes e expressivos são os globosos, tunicados, negros ou marrons, às de Arroyo (1990) realizados para a Argentina e vezes continuado em um colo alongado. Folhas Uruguai, que incluem espécies que ocorrem no anuais ou persistentes, dísticas, sésseis, eretas Brasil, Oliveira (2006), para a Cadeia do Espinhaço, ou declinadas, lisas, raramente excedendo ca. 2 Dutilh & Assis (2005) para a Flora de São Paulo e cm larg., lineares, filiformes. Escapo fistuloso, Dutilh & Oliveira (2013) para a Flora do Brasil. cilíndrico; brácteas espatáceas unidas na porção Rodriguésia 66(1): 203-220. 2015 Habranthus (Amaryllidaceae) do Brasil 205 proximal formando um tubo; bractéolas às gancho, denteados, setiformes, fimbriado ou vezes presentes; inflorescências geralmente por calosidades; filetes filiformes, fasciculados unifloras, raramente 2-flora. Flores amarelas, a semi-fasciculados, declinados, distalmente brancas, róseas, lilases ou vermelhas, declinadas recurvados, em até 4 comprimentos; anteras linear- a sub-eretas, zigomorfas, infundibuliformes a oblongas, geralmente paralelas à linha central da campanuladas; pedicelo geralmente presente; flor; ovário ínfero, estilete filiforme; estigma tubo do hipanto formado pelas tépalas basalmente trífido ou trilobado, lóbulos lineares. Cápsulas conatas, estas com comprimento diferente, e loculicidas, 3-locular, depresso-globosas; adnatas aos filetes; paraperigônio geralmente sementes papiráceas, aladas, arredondadas a presente, formado por segmentos em forma de deltóides, marrom-escuras a negras. Chave artificial de identificação para as espécies deHabranthus ocorrentes no Brasil 1. Flores violetas, roxas, púrpuras