O Negócio Da Comida Quem Controla Nossa Alimentação?
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ESTHER VIVAS O NEGÓCIO DA COMIDA QUEM CONTROLA NOSSA ALIMENTAÇÃO? ESTHER VIVAS ESTEVE O NEGÓCIO DA COMIDA Quem controla nossa alimentação? 1ª edição EXPRESSÃO POPULAR São Paulo • 2017 Copyright © 2017, by Editora Expressão Popular © 2014, Icaria editorial Projeto gráfico e diagramação: ZAP Design Revisão: Joana Tavares e Nilton Viana Tradução: Omar Rocha ? Título original: El negocio de la comida. Quién controla nuestra alimentación? Impressão: Graphium Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização da editora. Os direitos autorais desta obra foram cedidos pela autora e pela Icaria editorial para a Editora Expressão Popular. 1a edição: outubro de 2017 EXPRESSÃO POPULAR Rua Abolição, 201 – Bela Vista CEP 01319-010 – São Paulo – SP Tel: (11) 3112-0941 / 3105-9500 [email protected] www.facebook.com/ed.expressaopopular www.expressaopopular.com.br SUMÁRIO PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA .............................................................. 7 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 21 OS JOGOS DA FOME ...................................................................................... 23 DE ONDE VEM O QUE COMEMOS? .......................................................... 43 ADEUS AO CAMPESINATO? ......................................................................... 63 AGRICULTURA E ALIMENTAÇÃO, NOMES DE MULHER ................... 79 TRANSGÊNICOS NÃO, OBRIGADO! ......................................................... 95 ESTÃO NOS ADOECENDO! .........................................................................117 SOBRE ANIMAIS E PEIXES ......................................................................... 133 OS BASTIDORES DO AGRONEGÓCIO ....................................................151 O PODER DOS SUPERMERCADOS ...........................................................169 SIM, EXISTEM ALTERNATIVAS! ................................................................191 O QUE ENTENDEMOS POR COMÉRCIO JUSTO? .................................217 PASSAR À AÇÃO ............................................................................................. 237 BIBLIOGRAFIA ...............................................................................................255 PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA Andei pelo mundo afora querendo tanto encontrar um lugar prá ser contente onde eu pudesse mudar. Mas a vida não mudava mudando só de lugar. Geraldo Vandré, De como um homem perdeu seu cavalo e continuou a andar “Comer é um ato político!”. Se assim o compreendemos, temos o dever de conhecer ao máximo seu conteúdo e significado. É isso que almejamos ao trazer ao público brasileiro o livro O negócio da comida: quem controla a nossa alimentação?, da jornalista, socióloga e ativista Esther Vivas, publicado originalmente na Espanha, em 2014, pela Icaria Editorial, já em sua terceira edição. Organizado didaticamente em 12 capítulos, o livro se propõe a desvendar as entranhas do sistema agroalimentar capitalista: o que comemos é mercadoria (!) que realiza valor no ato de compra- -consumo, e o alimento que colocamos no prato é proporcional ao dinheiro que o compra alienando a mercadoria-alimento. Resultado: também nos transformamos em “mercadoria”, uma vez que somos o que compramos-consumimos. Essa lógica capi- talista na qual o alimento está inserido é a mesma que produz as desigualdades econômicas e sociais. Não importa que milhões passem fome ou se alimentem inadequadamente gerando um mundo de famélicos ou obesos. Prefácio à edição brasileira Uma visão panorâmica do negócio da comida Em consonância com a narrativa da autora, sem rodeios e direta ao ponto, trazemos algumas considerações em torno do que entende- mos como os principais eixos que estruturam este livro. Depois disso, traçamos algumas breves notas sobre o contexto geral da agricultura vinculado à realidade brasileira, com suas particularidades. Sabores e saberes expropriados Um importante fato neste contexto alimentar é que vão nos impondo uma comida cada vez mais padronizada. Além da “mcdonaldização” das nossas sociedades e do consumo global de Coca-Cola, a ingestão mundial de alimentos depende cada vez mais de algumas poucas variedades de culturas. Ou seja, avançamos para um mundo com mais alimentos, mas com menor diversidade e segurança alimentar. Vivas aponta os prejuízos sociais, nutricionais e ambientais de uma alimentação “viciada”, por exemplo, no consumo de carne, em produtos lácteos e bebidas com açúcar. São os mercados alimentares com claros interesses comerciais. Assim, perde-se a diversidade agrí- cola, com consequências ecológicas e culturais. O saber camponês, ao longo dos séculos, foi melhorando as variedades, adaptando-as às diversas condições agroecológicas a partir de práticas tradicio- nais, como a seleção de sementes e cruzamentos para desenvolver culturas. Mas a situação atual caminha para o desaparecimento de sabores, de nutrientes das plantas e de conhecimentos gastro- nômicos, além de ameaçar a segurança alimentar ao depender de algumas poucas culturas e espécies de gado. A carne nossa de cada dia A carne tornou-se indispensável em nossas refeições. Parece que não podemos viver sem ela. Se há alguns anos seu consumo 8 Prefácio à edição brasileira era um privilégio, hoje tornou-se um hábito diário. Talvez até demasiado comum. No que tange à pecuária, a autora demonstra como o setor tornou-se uma parte fundamental do sistema alimentar atual, inves- tindo num modelo industrial e intensivo que tem sido chamado de “revolução pecuária”. Este sistema implica um aumento exponencial da produção e consumo de carnes e produtos derivados, seguindo o mesmo padrão produtivista da “revolução verde” na agricultura (uso intensivo da terra, insumos químicos, “melhoria” genética etc.), ao mesmo tempo que modifica nossa dieta. Um modelo que promove a concentração empresarial, deixan- do para um punhado de empresas transnacionais a capacidade de decidir quais carnes e derivados consumimos, o quanto e como elas são processadas. Transgênicos e agrotóxicos A propagação de sementes híbridas e transgênicas foi outro mecanismo usado para controlar sua comercialização. As semen- tes geneticamente modificadas também contaminam variedades tradicionais – através do ar e da polinização – condenando-as ao desaparecimento e impondo um modelo de alimento nas mãos do agronegócio. Segundo a autora, Syngenta, Bayer, Basf, Dow Che- mical, Monsanto e DuPont controlam 60% do mercado mundial de sementes que está extremamente monopolizado. De acordo com o Grupo ETC, a Monsanto além de ser a maior empresa de sementes no mundo é, ao mesmo tempo, a quarta maior produtora de pesticidas e a quinta maior empresa agroquímica do mundo. Ou seja, as mesmas empresas que vendem ao agricultor as sementes híbridas e transgênicas são as que lhes fornecem os pesticidas. Frente a este cenário, os movimentos sociais no Brasil e em várias partes do mundo, através da Via Campesina, têm travado 9 Prefácio à edição brasileira lutas contra esse modelo. Como se pode encontrar ao longo da obra, são diversos os exemplos de resistência. Nas palavras de João Pedro Stedile, da Direção Nacional do Movimento dos Traba- lhadores Rurais Sem Terra (MST), “a função principal da terra e da nossa sonhada Reforma Agrária é a produção de alimentos, mas não quaisquer alimentos: alimentos sem veneno. Pois esse alimento não pode ser mercadoria, ele é um direito”. * Dependência do petróleo Outro tópico certeiramente incluído pela autora dentro do esquema do negócio da comida diz respeito aos deslocamentos das mercadorias alimentares em escala global. O sistema vigente tornou a agricultura industrial dependente do petróleo. Precisa- -se dele desde o cultivo, passando pela colheita e chegando na comercialização e consumo. A mecanização dos sistemas agrícolas e o uso intensivo de fertilizantes químicos e pesticidas são os melhores exemplos. Esta política privatizou a agricultura, deixando agricultores e consumidores à mercê de umas poucas empresas do agronegócio. O sistema agrícola atual precisa de altas doses de fertilizantes feitos à base de petróleo e gás natural, tais como a amônia, a ureia etc., que substituem os nutrientes do solo. Transnacionais petrolíferas como Repsol, Exxon Mobile, Shell, Petrobras têm em sua carteira investimentos na produção e comercialização de fertilizantes agrícolas. O petróleo também é intensamente demandado para dar conta dos transportes dos alimentos. A globalização alimentar e * Fala de João Pedro Stedile durante a Conferência “Alimentação Saudável: um Direito de Todos e Todas”, que ocorreu dia 6 de maio de 2017, como parte da programação da 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária (www.mst.org.br). 10 Prefácio à edição brasileira a deslocalização da agricultura nos impõe “alimentos viajantes”. Esther Vivas traz a estimativa, de acordo com um relatório da Fundação Terra, de que a maioria dos alimentos viaja entre 2.500 e 4 mil km antes de serem consumidos, 25% mais do que em 1980. Ou seja, os chamados alimentos quilométricos tornaram- -se parte da dieta diária. Assim, nos alimentamos de produtos que trazem vários elementos, entre eles a injustiça para com as pessoas, os animais e o meio ambiente. A permanência dos impérios da junk food Outro dado importante que a autora nos traz é que “a cada segundo se consomem 18.500 latas ou garrafas de Coca-Cola em todo o mundo, de acordo com a empresa. O império Coca-Cola hoje vende suas 500 marcas em mais de 200