Novos Espaços Da Imigração Boliviana No Brasil: Perfil E Tendências De Inserção Laboral Em Belo Horizonte-MG
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Novos espaços da imigração boliviana no Brasil: perfil e tendências de inserção laboral em Belo Horizonte-MG Resumo O Brasil revela, ao longo de sua história, distintas realidades migratórias. Até a primeira metade do século XIX, a via marítima era o meio dominante para o deslocamento de migrantes, evidenciando a irrelevância da migração fronteiriça. Após a Segunda Grande Guerra, porém, o caráter migratório para o Brasil experimenta uma mudança, perceptível com a redução da entrada desses imigrantes provenientes majoritariamente da Europa. E, paralelamente, o impacto da migração fronteiriça apresenta seus primeiros sinais. Brasileiras e brasileiros continuam saindo do país, mas, também, outros retornam e, somados a eles, vêm pessoas de outras partes do mundo, sobretudo latino-americanos, entre os quais, bolivianas e bolivianos. Neste contexto, a imigração boliviana se destaca enquanto ferramenta para concretizar a sociedade brasileira como receptora de novos contingentes de imigrantes. A imigração boliviana, assim, configura-se no Brasil em áreas fronteiriças, com um passado histórico de migração de vizinhança, e, mais recentemente, a partir dos anos 1980 do século XX, em áreas metropolitanas, em especial São Paulo. O século XXI, com a intensidade da espacialização da produção globalizada, acrescenta a Região Metropolitana de Belo Horizonte na rede migratória de bolivianas e bolivianos no Brasil. Este texto busca conhecer e traçar um perfil sociodemográfico da imigração da Bolívia em Belo Horizonte, utilizando diferentes fontes de informação: censos demográficos, RAIS, Sistema Nacional de Cadastro de Estrangeiros – Sincre. Abstract Brazil reveals, throughout its history, different migratory realities. Until the first half of the nineteenth century, the sea route was the dominant means for the displacement of migrants, evidencing the irrelevance of border migration. After World War II, however, the migratory character of Brazil experiences a change, which is perceptible with the reduction of the entry of these immigrants, mainly from Europe. At the same time, the impact of border migration has its first signs. Brazilians and Brazilians continue to leave the country, but also, others return and, along with them, come people from other parts of the world, especially Latin Americans, including Bolivians and Bolivians. In this context, Bolivian immigration stands out as a tool to concretize Brazilian society as a recipient of new immigrant contingents. Bolivian immigration thus forms in Brazil in frontier areas, with a historical past of neighborhood migration, and, more recently, since the 1980s in the metropolitan areas, especially São Paulo. The 21st century, with the intensity of spatialization of globalized production, adds the Metropolitan Region of Belo Horizonte to the migratory network of Bolivians and Bolivians in Brazil. This text seeks to know and to draw a sociodemographic profile of the immigration of Bolivia in Belo Horizonte, using different sources of information: demographic censuses, RAIS, National System of Cadastre of Foreigners - Sincre. Novos espaços da imigração boliviana no Brasil: perfil e tendências de inserção laboral em Belo Horizonte-MG Introdução Viver em uma metrópole — como São Paulo ou como Belo Horizonte — revela, do ponto de vista macroestrutural e teórico, para imigrantes de diferentes nacionalidades, a inserção de tais espaços na rota do capital e das migrações internacionais (SASSEN, 1988). O urbano como referência para análise de migrações internacionais exige uma reflexão acerca dos processos de reestruturação produtiva, pois “[...] compreender a realidade urbana exige considerar que a cidade [...] é também uma prática, as práticas sociais com e no espaço.” (MARTINS, 2008, p. 59). Nesse sentido, considerando a metrópole como uma prática, ela reúne, segundo Carlos (2008), tanto o que é hegemônico — e imposto pelo processo de globalização mercantil —, quanto o que é não-hegemônico — e que pode se transformar em contra hegemônico, a partir dos fundamentos construídos cotidianamente nos lugares. A metrópole pode ser entendida como mediação entre os níveis local e global [...]. No plano global permite pensar a orientação da sociedade em direção ao processo de constituição de uma ‘sociedade urbana’. Na escala do lugar, permite compreender a materialização desse processo em suas contradições, revelando, nesse plano, a escala do vivido, enquanto prática socioespacial — é o nível do cotidiano que ilumina concretamente o modo como a justaposição dos planos se realiza, orientando e determinando a vida. (CARLOS, 2008, p. 131). A inserção das localidades na divisão social e territorial do trabalho (BAENINGER, 2014) contribui em nível nacional, regional e local, para a configuração de espaços urbanos selecionados (SASSEN, 1988). É nesta nova realidade que Belo Horizonte emerge como importante espaço da migração da atualidade (CASTRO; FERNANDES, 2014) e, entre os imigrantes, acredita-se no destaque de bolivianas e bolivianos. De acordo com Lefebvre (2006), o espaço é produzido e produz. Ele é produtor, também, das relações, das ações sociais, do cotidiano. Essa é a dialética. O espaço não é um receptáculo, por isso o termo produção do espaço ganhou tanta importância, por ser muito mais preciso e por valorizar, assim, o papel do espaço nesse processo. Dessa forma, vivências múltiplas estão presentes nas cidades, como aponta Lefebvre (2006). Nesse contexto, a imigração boliviana em Belo Horizonte revela esta vivência da cidade, com a apropriação diferenciada dos seus espaços. Para uma primeira aproximação do conhecimento acerca dessa vivência na cidade da nova imigração internacional de bolivianas e bolivianos em Belo Horizonte, buscaremos caracterizar o perfil dessa imigração com olhar para sua inserção laboral, utilizando diferentes fontes de informação: censos demográficos, Relação Anual de Informações Sociais - RAIS, Sistema Nacional de Cadastro de Estrangeiros - Sincre. Métodos A proposta desta pesquisa é compreender Belo Horizonte como um novo espaço da imigração boliviana no Brasil, apreendendo seu perfil e as tendências de inserção laboral desses sujeitos. Para viabilizar o estudo, apostou-se na exploração e análise de três fontes de dados: os censos demográficos, a RAIS, e o Sincre. Os censos demográficos produzem informações imprescindíveis para a definição de políticas públicas e a tomada de decisões de investimento, sejam eles provenientes da iniciativa privada ou de qualquer nível de governo. Constituem, assim, importante fonte de referência sobre a situação de vida da população nos municípios brasileiros, cujas realidades dependem de seus resultados para serem conhecidas e terem seus dados atualizados. Dessa forma, os censos são relevantes referências em estudos de população. Uma vez que o interesse desta pesquisa é compreender a dinâmica recente de Belo Horizonte como novo espaço da imigração, optou-se pelo uso de dados coletados nos dois últimos censos — 2000 e 2010. A utilização das bases dos Censos Demográficos 2000 e 2010 requer, antes, um estudo da documentação de cada um deles, a fim de elencar as variáveis que serão selecionadas. Inicialmente, extraiu-se a base de dados referente à Belo Horizonte para os dois anos sob foco. Foi feita ainda a análise da documentação dos microdados da amostra do Censo Demográfico 20003, e, a partir dela, selecionou-se as seguintes variáveis: V0419 - Nacionalidade (1 - Brasileiro nato, 2 - Naturalizado brasileiro, 3 - Estrangeiro); V4210 - Código da UF ou País de nascimento. Já a partir da análise da documentação referente ao Censo Demográfico 20104, chegou-se às variáveis a seguir: V0620 - Nacionalidade (1 - Brasileiro nato, 2 - Naturalizado brasileiro, 3 - Estrangeiro); V6224 - País estrangeiro de nascimento - Código. A partir da análise dos dados, buscou-se compreender a atual apropriação do espaço da capital mineira pela população boliviana imigrante, verificando-se importantes números relativos a estes sujeitos em 2000 e em 2010. A gestão do setor do trabalho pela administração pública conta, por sua vez, com o importante instrumento de coleta de dados denominado Relação Anual de 3 A coleta do Censo Demográfico 2000 foi realizada no período de 1º de agosto a 30 de novembro de 2000, abrangendo 215.811 setores censitários. 4 A coleta do Censo Demográfico 2010 foi realizada no período de 1o de agosto a 30 de outubro de 2010, utilizando a base territorial que se constituiu de 316.574 setores censitários. Informações Sociais (RAIS). A RAIS tem por objetivo suprir as necessidades de controle da atividade trabalhista no país, prover dados, elaborar estatísticas referentes ao trabalho formal, disponibilizar informações do mercado de trabalho às entidades governamentais. O processamento das bases da RAIS permite, desta forma, leituras acerca do emprego formal de bolivianas e bolivianos em Belo Horizonte. Optou-se por usar os últimos três anos de registros disponíveis: 2006, 2010 e 2016. Acredita-se que esse período permita comparações que sugiram a evolução dos aspectos sob análise, contribuindo com a leitura que se pretende fazer. Como o objetivo desta pesquisa é visitar dados que permitam compreender a inserção laboral de imigrantes bolivianas e bolivianos em Belo Horizonte, acredita-se na contribuição desta fonte. Torna-se necessário registrar, porém, que ela apresenta apenas os vínculos laborais ativos naquele determinado período. Isso significa que os números não podem ser lidos enquanto número total de imigrantes bolivianas e bolivianos, mas são