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Evangelizar e civilizar

MESQUITA, Zuleica (Org.). Evangelizar e civilizar. Cartas de Martha Watts, 1881-1908. : Ed. UNIMEP, 2001.

Lindamir Cardoso V. Oliveira Doutora em Educação pela UNIMEP Diretora da Faculdade de Educação da Universidade Metodista de São Paulo - UMESP

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○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○ ○○○ is aqui a criada do Pai: com seguir, cronologicamente organizadas, E estas palavras Miss Martha estão as cartas agrupadas nos quatro Watts, com sete anos de experiência períodos de trabalho da missionária em escolas nos Estados Unidos, no Brasil. O primeiro corresponde ao aceita a tarefa missionária no trabalho desenvolvido no Colégio Brasil. Aqui permaneceu dos 33 aos Piracicabano, município de Piracicaba, 60 anos. Como o título do livro SP, entre 1881e 1895. O segundo sugere, são suas as cartas que corresponde ao período vivido no Co- compõem a obra. légio Americano de Petrópolis, RJ, de Na apresentação, o diretor geral 1895 a 1900. O terceiro, no Colégio Mi- do IEP, Almir de Souza Maia situa, de neiro de /MG, entre 1902 e forma breve e precisa, a versão bilín- 1904. O quarto, no Colégio Izabela güe organizada, com brilhantismo, Hendrix, no município de Belo Horizon- pela Profª. Zuleica Mesquita (coorde- te, entre 1904 e 1908. A obra é encerra- nadora do projeto Memória do IEP). da com uma carta de homenagem pós- Ele pontua informações sobre a vida tuma à grande educadora e pioneira de Martha Watts, sua trajetória, sua do metodismo no Brasil, que foi escri- qualidade de grande missivista e suas ta por uma amiga e companheira de impressões dos conteúdos das car- trabalho da Woman’s Missionary tas reunidas. Society, Miss Tula C. Daniel e datada de No prefácio, a organizadora desta- fevereiro de 1910. A organizadora Como observa bem o apresenta- ca a importância das cartas enquan- destaca a importância to documentos para a história da par- das cartas enquanto dor, cartas são tipos peculiares de tex- ticipação do protestantismo na documentos para a to que navegam entre o literário e o história educação brasileira. Zuleica aponta dissertativo, o formal e o coloquial. E também que elas interessam aos lei- nestas características residem a ri- tores de uma forma geral “...pela car- queza dos documentos coletados. ga de informações históricas, descri- Miss Martha não tem a pretensão de ções de espaços urbanos, forma de descrever mais que suas impressões, organização da sociedade e os usos e seus sentimentos sobre a terra que costumes da época registrados pelo vai conhecendo, descobrindo e tem olhar atento de uma estrangeira...”. um destinatário do qual espera fun- Apresenta, ainda, uma biografia de damentalmente três formas de apoio: Miss Watts e considerações rápidas orações, financeiro e de novos mis- sobre o metodismo, o financiamento sionários. Sua linguagem é belíssima, do projeto educacional metodista no de profunda sensibilidade, delicade- Brasil pela Women’s Missionary Society za e compromisso cristão, o que tor- da Igreja Metodista do Sul (criada em na a leitura muito agradável. 1878) e sobre o metodismo no Brasil. Suas observações são preciosas e A obra traz as cartas em portu- colocam novos objetos de estudo Inicialmente está a guês e no original, em língua inglesa. para os historiadores das cidades en- indicação de Martha volvidas. Seguramente das cartas po- Inicialmente está a de indicação de Watts para sua tarefa dem surgir muitos olhares e estudos. Martha Watts para sua tarefa mis- missionária no Brasil, 1 sionária no Brasil, datada de 1881 e, a datada de 1881 Como escreveu Ariés , a vida de to- dos os dias é apaixonante e há sem- 1Philippe Ariés. O tempo da históriahistória. : Francisco Alves, 1989.

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○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○ pre um desejo de encontrar um mis- Illinois, Miss Martha recebe uma car- tério central. Nunca ele é encontrado. ta, datada de dezembro de 1900, de A curiosidade guia, excita, maravilha- Petrópolis. Nela uma professora rela- se. Por que isto? Por que aquilo? E é ta sua luta para que seja compreendi- sempre o presente o ponto de partida da a importância do trabalho reali- para buscar o passado e sinalizador do zado com o jardim da infância. Um nosso interesse. A leitura das cartas mês depois relata a mesma professo- desperta a curiosidade do leitor, joga ra o sucesso do jardim da infância de luzes aqui, sombras ali. Petrópolis, com seus vinte alunos, e A título de exemplo, em algumas da ajuda de uma professora alemã na escreve sobre o Rio Piracicaba de Informações ricas rotina da escola. Informações ricas então (visto do Colégio) e as festas para a construção da para a construção da história deste religiosas ali desenvolvidas com seus história deste patamar da educação básica, a edu- patamar da educação rituais e práticas, alguns ainda hoje cação infantil, que somente no final existentes. Na carta datada de outu- básica, a educação infantil do século XX vai transformar-se em bro de 1881, a autora menciona objeto de política pública no Brasil. nuances do cotidiano, escreve que os Fica a vontade de saber mais, de mendigos de Piracicaba eram extre- ouvir mais. É pouco o que ela conta. mamente numerosos e inoportunos. Devia ter escrito muito mais. A autora Diz que havia uma licença da Câma- mostra ter sido uma dessas raras pes- ra Municipal para que mendigassem soas que olha de forma positiva, confi- aos sábados e domingos. A igreja ca- ante e benevolente para a vida, pronta tólica enviava mendigos uniformiza- a ouvir e com um compromisso incon- dos, com uma imagem de um santo dicional com a tarefa missionária. negro dentro de uma caixa para men- Na carta datada de 1886, retrata digarem para aquele santo no domin- go e os italianos desocupados ficam o falecimento do missionário J. W. com os outros dias (p.25). E aí ficam Koger, que viera com ela dos EUA e as sombras sobre o cotidiano destes era, também, professor do Colégio. estrangeiros desocupados (no caso Escreve com simplicidade: Ele foi a italianos), trazidos da Europa para Deus e não Deus o levou. Elogia a con- um município que permaneceria fiel fiança em Deus e a força da fé que em plantar cana de açúcar (funda- leva a esposa do Reverendo a trans- da no trabalho escravo), mesmo formar a dor em trabalho missioná- quando esta vivia sua maior crise. rio. Em todos os instantes, deixa evi- Observa-se que naquele momento dente que evangelizar é educar. as regiões de Campinas e Itu iam Trata-se de uma leitura imprescin- centrando sua economia na cafeicul- dível para os historiadores da edu- tura e não havia ainda ocorrido a cação cristã no Brasil e muito inte- abolição dos escravos. ressante e rica para os estudiosos da Em Abril de 1901, quando está história social dos municípios envol- passando um período em Oak Park, vidos e cristãos em geral.

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○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○○ Revista de Educação do COGEIME

O COGEIME é uma instituição sintonizada com seu tempo. Em suas respectivas edições, vem acompanhando as intensas modificações – nos campos político, econômico, social e cultural – da sociedade e relacionando-as à educação, numa perspectiva interdisciplinar. Nos últimos números foram abordados os seguintes temas:

NO 16 - DESAFIO DO SÉCULO XXI: EDUCAR PARA SER HUMANO - IX Encontro Nacional Metodista de Educadores - Educação e Comunicação

NO 17 - A DIMENSÃO HUMANA DA PEDAGOGIA - Alaime - IV Encontro de Secretarias Acadêmicas

NO 18 - IDENTIDADE, ÉTICA E GESTÃO EDUCACIONAL - Confessionalidade - Educação e Políticas Educacionais - IX Encontro de Tesoureiros e Contadores - Comunicação e Educação

NO 19 - EDUCAÇÃO PARA A RESPONSABILIDADE HUMANA NO SÉCULO XXI - 2001 IAMSCU Conference - Confessionalidade

NO 20 - FÉ E CULTURA / EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ALAIME – Fé e Cultura - Educação a distância - Presença da mulher na educação - Pró-memória

Números anteriores da revista podem ser solicitados no endereço abaixo: Revista de Educação do COGEIME Redação e Administração Rua Rangel Pestana, 762 CEP 13400-901 - Piracicaba, SP - Brasil Tel. e Fax: (0XX19) 433-7241 - Tel.: (0XX19) 430-1831 e-mail: [email protected] home page: http://www.cogeime.org.br

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