CIÊNCIA E Liberdade: Escritos Sobre Ciência E Educação No Brasil
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CIÊNCIA e lIberdAde: escritos sobre ciência e educação no brasil 1 UFRJ Reitor José Henrique Vilhena de Paiva Coordenador do Forum de Ciência e Cultura Afonso Carlos Marques dos Santos EDITORA UFRJ Diretora Yvonne Maggie Editora Executiva Maria Teresa Kopschitz de Barros Coordenadora de Produção Ana Carreiro Editora Assistente Cecília Moreira Conselho Editorial Yvonne Maggie (presidente), Afonso Carlos Marques dos Santos, Ana Cristina Zahar, Fernando Lobo Carneiro, Peter Fry, Silviano Santiago 2 CIÊNCIA e lIberdAde: escritos sobre ciência e educação no brasil José leite lopes Organização de Ildeu de Castro Moreira Editora UFrJ Cbpf/MCt 1998 3 Copyright © by José Leite Lopes Ficha Catalográfca elaborada pela Divisão de Processamento Técnico - SIBI/UFRJ L853e Lopes, José Leite Ciência e liberdade: escritos sobre ciência e educação no Brasil/José Leite Lopes. Organização de Ildeu de Castro Moreira. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; CBFP/MCT, 1998. 288 p.; 13 X 19 cm 1. Ciência – Brasil 2. Educação – Brasil I. Título. CDD: 500.981 ISBN 85.7108.212.X Capa Janise Duarte Edição de Texto Josette Babo Revisão Ana Paula Paiva Josette Babo Projeto Gráfco e Editoração Eletrônica Alice Brito Janise Duarte Universidade Federal do Rio de Janeiro Forum de Ciência e Cultura Editora UFRJ Av. Pasteur, 250/sala 107 - Rio de Janeiro CEP: 22295-900 Tel.: (021) 2951595 r. 124 a 127 Fax: (021) 5423899 E-mail: [email protected] Apoio: Foto da capa: Francisco Alcantara Gomes, Elisa Frota Pessoa, Jayme Tiomno, Joaquim da Costa Ribeiro, Luigi Sobrero, Leopoldo Nachbin, José Leite Lopes e Maurício M. Peixoto. Despedida de Sobrero que voltava para a Itália. Faculdade Nacional de Filosofa, na época Escola José de Alencar, 1942. 4 SuMárIO 7 um testemunho pessoal 9 15 36 a reforma universitária 45 de segunda classe 49 contemporâneo: o problema brasileiro 62 80 87 desenvolvimento 95 106 humanos na América Latina 118 5 a experiência frustrada do Brasil 122 América Latina 144 evocações 185 213 transferência de tecnologia e cooperação científca França-Brasil 227 aspectos culturais e educacionais 242 257 269 é tarefa de cientistas 273 276 Universidade e ciência: as ameaças do Governo Federal 281 6 lIStA de SIglAS AID – Agency for International Development ANDES – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior AsoVAC – Asociación Venezolana para el Avance de la Ciencia BNDE – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico CALTECH – California Institute of Technology CAPES – Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CBPF – Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas CERN – European Laboratory for Particle Physics CIA – Central Intelligence Agency CLAM – Centro Latino-Americano de Matemática CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científco e Tecnológico CNRS – Centre National de la Recherche Scientifque COSUPI – Comissão Supervisora dos Institutos DASP – Departamento Administrativo do Serviço Público CLAF – Centro Latino-Americano de Física ELAF – Escola Latino-Americana de Física FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos FNFi – Faculdade Nacional de Filosofa A ciênciA e A liberdA de FUNTEC – Fundo para a Tecnologia e Ciência GRESIL – Cooperação Nuclear Grenoble/Brasil IMPA – Instituto de Matemática Pura e Aplicada INPA – Instituto de Pesquisas da Amazônia MARE – Ministério da Administração e da Reforma do Estado MIT – Massachussets Institute of Technology NASA – National Aeronautics and Space Administration NORDITA – Instituto Nórdico de Física Atômica ONU – Organização das Nações Unidas REHSEIS – Grupo de Pesquisas em História e Filosofa das Ciências (CNRS) SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência SLAC – Stanford Linear Accelerator UDF – Universidade do Distrito Federal UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNICAMP – Universidade de Campinas USP – Universidade de São Paulo 8 leIte lOpeS e A fÍSICA NO brASIl: uM teSteMuNHO peSSOAl* Cesar M. g. lattes no Brasil. A cidade em que nasceu – Recife, no Estado de Pernambuco – é famosa por sua produção de notáveis pintores, escritores, sociólogos e também físicos e matemáticos, que são Eu o conheci em 1943, quando veio para a Universi- dade de São Paulo para seu curso de pós-graduação. Junta- mente com Sonja Aschauer (que mais tarde trabalhou com timos aos cursos de Gleb Wataghin e Mário Schenberg. Isto ocorreu imediatamente antes de minha ida para Bristol para trabalhar com o grupo que estava desenvolvendo a técnica da emulsão nuclear – C. F. Powell, G. Occhialini – , e Leite Lopes foi para a Universidade de Princeton para trabalhar com W. Pauli e J. M. Jauch. * Publicado em Leite Lopes Festschrift, N. Fleury, S. Jofly, J. A. Martins Simões, A. Troper (orgs.). World Scientifc, 1988. Tradu- ção de Fábio Sá Earp. C iênC ia e liberdade Em São Paulo, em 1943, Leite Lopes começou a trabalhar com Schenberg na teoria clássica do elétron à qual, alguns anos antes, Dirac tinha dado importante contribuição – com sua defnição do campo de radiação como a diferença entre a metade do campo avançado e a metade do campo retardado. Este trabalho foi estendido posteriormente ao caso de partículas com momentos dipolares por Schenberg, tinha grandes professores, como Luiz Freire; após graduar-se em engenharia química, fez seu curso de graduação em física no Rio de Janeiro e, depois de trabalhar com Schenberg em São Paulo, foi para Princeton. Já em 1943 falávamos sobre a possibilidade de formar um grupo de pesquisa em física nuclear e de partículas no Rio. Tornamos a discutir este ponto em 1946 ou em 1947 quando Leite Lopes já havia sido indicado para a cadeira de física teórica na Universidade do Rio de Janeiro e eu voltara de Bristol para expor as emulsões nucleares no Laboratório Chacaltaya, que fca a 5.500 metros de altitude, perto de La Paz, o qual é mais favorável para a investigação de raios cósmicos do que o laboratório situado nos montes Pireneus, na França, a 2.800 metros de altitude, onde foram feitas as primeiras observações sobre píons. Quando mostrei a Leite os primeiros decaimentos π-µ obtidos em Chacaltaya, ele fcou excitado como se este pudesse ser um processo fun- damental – uma opinião que foi confrmada depois que en- contramos aproximadamente uns 30 destes decaimentos. Leite imediatamente começou a trabalhar sobre estas questões, eu lhe passei os resultados de nossas medidas e ele tentou verifcar o esquema Moller/Rosenfeld de mistura de mésons vetoriais e pseudo-escalares. Lembro-me de que, voltando de Chacaltaya, a caminho de Bristol, usei o microscópio de Costa 10 L eite Lopes e a física no BrasiL Ribeiro, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para ver a terceira emulsão nuclear com um decaimento π-µ. Eu a mostrei a Guido Beck e a Leite; para mim este era já um processo fundamental. Durante minha estadia em Bristol, em uma de minhas viagens ao Rio, Leite e eu conversamos com o representante brasileiro na Comissão das Nações Unidas para a Energia Atômica, Álvaro Alberto, para solicitar a concordância da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos para que eu fosse trabalhar no Laboratório de Radiação de Berkeley, onde havia um acelerador para se obter partículas alfa com 380MeV. Isto proporcionava 95MeV para cada nucleon e, se adicionasse energia de Fermi, eu poderia produzir mésons. Leite e eu fzemos testes e concluímos que o processo era viável. Este laboratório era classifcado mas Álvaro Alberto obteve, através de Mr. B. Baruch, permissão para que eu fosse trabalhar nele. Leite Lopes encorajou-me a ir para Berkeley para verifcar se poderíamos obter mésons através de colisões nucleon-nucleon. A detecção de píons nestas colisões foi obtida pela primeira vez em 21 de fevereiro de 1948, por Eugène Gardner (que estava muito doente e morreu poucos dias depois); só então pudemos ver claramente que píons negativos eram absorvidos por núcleos para produzir estrelas, enquanto os positivos se transformavam em múons. Esta descoberta teve uma repercussão enorme nos Estados Unidos e também no Brasil, onde Leite Lopes escreveu artigos para a imprensa, de forma a explicar seu signifcado para o público. Ainda em Berkeley, encontrei Nélson Lins de Barros e começamos a discutir sobre a possibilidade de criarmos um centro de física no Rio. Em dezembro de 1948, estive visitando o Rio e, juntamente com Leite, fomos conversar com João Alberto Lins de Barros, irmão de Nélson. João Alberto era 11 C iênC ia e liberdade apoio para a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Em 1949, Leite foi para o Instituto de Estudos Avançados de Princeton, onde nos encontramos com Jayme a física no Brasil. Quando voltei dos Estados Unidos, João Alberto Lins de Barros obteve alguns recursos para a instalação provisória do Centro; Richard Feynman e Cecile Morette vieram ao Rio, onde fizeram palestras em junho e julho de 1949. Contando com o apoio de Leite, convidamos personalidades e professores universitários para juntarem-se a nós como fadores do novo laboratório, e fui indicado para a recém- criada cadeira de Física Nuclear da Universidade Federal do Rio de Janeiro, proposta apresentada por Leite Lopes e Costa Ribeiro. Tiomno voltou de Princeton e juntou-se a nós; Guido Beck, que estava na Argentina e tinha visitado o Rio anteriormente, veio para o CBPF em caráter permanente. Tentamos obter recursos da iniciativa privada; um jornalista, Lourenço Borges, auxiliou-nos com a publicidade. Uma contribuição privada nos ajudou a construir uma pequena casa para nosso laboratório no campus universitário. O primeiro trabalho científco do CBPF foi realizado por Elisa Frota Pessoa e Neusa Margem. Elas estabeleceram o primeiro limite experimental para o decaimento méson em elétrons. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) mandou-nos uma missão científca integrada pelos físicos G. Occhialini, Ugo Camerini e Gert Molière e pelo especialista em eletrônica e alto vácuo G.