Mensagem Do Novo Milênio
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Mensagem do Novo Milênio Siavon - A República de Rates - Filósofos, sociólogos, teólogos e outros pensadores, no de- curso dos milênios, a pesar dos esforços empreendidos, não logra- ram êxito na obtenção de uma fórmula conciliadora entre os inte- resses de uns e as carências de outros. - E, assim, a Humanidade chega aos nossos dias, constituída de alguns abastados, de poucos remediados e de muitos desventu- rados. - E, ao surgimento da mais tênue crise econômica, homens e mulheres, velhos e crianças, em deplorável condição social, va- gueiam pelos caminhos da vida, andrajosos, famintos e desespe- rançados de melhores dias. - É a miséria!... Estigma vergonhoso!... Fruto da supremacia de alguns, sempre dispostos a reprimir ideais, que, se aceitos, dis- cutidos e desenvolvidos, poderiam conduzir-nos ao bem-comum, sem prejuízo das aspirações de quem quer que seja! - Filósofos, sociólogos, teólogos!... – disseste bem -, mas não nos esqueçamos de que os donos do mundo contemporâneo são os políticos – cidadãos conduzidos ao poder, às vezes, por meio de campanhas demagógicas, e, em muitos casos, incompetentes para os cargos a que se propõem -, que só aceitam, como subsídio das suas decisões, a opinião dos abastados, desconhecedores das ne- cessidades alheias. - E, quando surge alguém com pensamentos, que podem con- duzir a Humanidade por outros caminhos, a repressão é acionada, com o intuito de se evitar uma evolução mais profunda. - Assim nos testemunha a História!... - E, nos nossos dias, os clarins do Capitalismo já ressoam, convidando o Socialismo a sair pela porta dos fundos. - Triste horizonte para os que têm como receita econômica o trabalho, cada vez mais escasso e menos remunerado. - Não podemos esquecer-nos de que o mundo contemporâneo divide-se em duas grandes correntes ideológicas: Capitalismo e Socialismo. - E o sensato não é combatê-las!... Mas, sim, harmonizá-las, para o bem de todos, pois, impregnadas, que estão, no íntimo dos I - 22 Que a Constituição Universal seja a Aurora do Novo Dia! Mensagem do Novo Milênio seus seguidores, constituem anseio, não perecendo por simples an- tagonismo. - Sintetizando as ansiedades dessas duas correntes, vemos que o Capitalismo prima pela Pecúnia, base do Comércio, da Indústria, da Prosperidade e dos Meios de Comunicação, impondo o Socia- lismo a Comunidade dos Bens e da Produção, com a repartição ge- ral do Trabalho e dos Resultados. - Ambos aspiram a uma trilogia digna: trabalhar, produzir e consumir, mas esbarram na edificação dos seus projetos ideológi- cos. - No do Capitalismo, entra a cooperação do proletariado, que, alheio aos proveitos, exige salários e encargos sociais elevados. Já o Socialismo pretende erigi-lo sobre os alicerces da nacionaliza- ção. - E sabeis quando o conseguirá? Nunca!... Porque a pro- priedade, para os portugueses, é tradicional. E o que é tradicional, é do povo. E o que é do povo, não se usurpa! - O direito de propriedade circula na Civilização Lusíada, co- mo o sangue nas veias de um corpo, e, extinguí-lo, seria como de- cretar a morte desse corpo. Este era o tema das conversas nas reuniões da quinta do fidalgo Aguiar, homem rural de aparência elegante e de fino trato, com os amigos, que, regularmente, a frequentavam. Alguns diziam que es- te distinto cinquentão era formado em Direito. Outros, porém, con- testavam esta versão, afirmando não ter a sua vida acadêmica pas- sado do terceiro ano daquela faculdade. A pesar desta discor- dância, era pessoa de grande cultura e de boa convivência. Entre os conversadores, destacamos o Silva, cuja cultura limitava-se a um curso técnico comercial, mas possuidor de grandes dotes de comu- nicação. Intitulava-se ideólogo e defendia um sistema aglutinador do Capitalismo e do Socialismo, os quais definia como ideologias elementares, por se chocarem entre si, não conduzindo a Humani- dade ao bom termo. Não disfarçava o seu regozijo, quando o trata- vam de predestinado, ao que acrescentava: - “portador da mensa- gem do novo milênio, para a confraternização dos homens” -, Para a felicidade das pessoas e a tranquilidade das nações I - 23 Siavon - A República de Rates pugnando pela divisão equânime e meritória da renda nacional, ao mesmo tempo em que respeitava, profundamente, a propriedade privada, a prosperidade e quaisquer outros bens, herdados ou aufe- ridos regularmente, o que lhe conferia a admiração dos conterrâ- neos, entre os quais, o doutor Figueiredo, militante socialista, que, por várias vezes, tentou atraí-lo para as suas fileiras, ao que sempre declinou, por desejar dedicar-se – como dizia – a missão mais ele- vada, sem qualquer comprometimento. Esta conduta mais aguçava a admiração dos que, consigo, falavam frequentemente, a ponto de decidirem gravar aquelas conversas, para posteriores subsídios. Além destes personagens e de outros menos expressivos, registra- se a empregada Rosalina, que a todos encantava com a sua beleza e a sua afabilidade. Apreciemos, então, estas gravações: - Todo o sofrimento social é imposto ao Homem pelo poder comportamental e só com a sua extinção é que, um dia, seremos felizes. - Mas... Sem esse poder, que rege a Humanidade desde os seus primórdios, como seria mantido o controle da sociedade? Haveria ordem? Não viria o caos? - O poder comportamental facilita a atuação dos governantes, mas atormenta a maioria dos cidadãos, que, alheios aos benefícios da prosperidade nacional, só podem contar com a incerteza do fu- turo. - Todos gostam de mandar e ninguém, de obedecer. Isto é que é a pura verdade! O poder comportamental deve ser substituído pe- lo poder universal, para o bem de todos. - Qual o motivo dessa substituição? - Do nada fez Deus o universo esplendoroso e, com vontade, pode o Homem, à sua semelhança, construir a felicidade das gera- ções. Para reverter a iniquidade, que paira sobre a Humanidade, conferindo a uns o poder, a outros a prosperidade e a muitos a in- certeza do futuro, outra alternativa não nos resta senão procurar novos caminhos. - É evidente que, para se mudar de situação, outros caminhos têm de ser percorridos, mas isso implica em grandes convulsões e, I - 24 Que a Constituição Universal seja a Aurora do Novo Dia! Mensagem do Novo Milênio consequentemente, em perda de vidas e de haveres, cicatrizes que levam muito tempo a desaparecer. - A própria natureza comprova-nos isso, pois a tempestade sempre foi o grande regulador climático. - E, quem paga, são sempre os humildes, porque os fortes e os poderosos dão as ordens dos seus gabinetes. No final da contenda, enterram-se os mortos, tratam-se os feridos e avalia-se o resultado, tão inexpressivo, que nem dá para se sentir. - Analisando-se bem, conclui-se que os dirigentes, salvo a tro- ca de alguns mais conflitantes, continuam, quase sempre, os mes- mos. - Sim!... Porque a classe governamental é constituída de uma minoria, dominadora da maioria, e, em tal sentido, os seus compo- nentes entendem-se, entre si, com a troca de concessões. - É ao que se chama Política, arte de governar, sem choques antagônicos. - Eu acredito que o Silva, ao provocar esta discussão, traz, na sua mente, uma fórmula conciliadora. - Todos me conhecem. Não sou homem de atritos. Se, há al- guns anos atrás, nos tempos da ditadura, fui detido, para averigua- ções, por delação de alguém, até – quem sabe? – considerado meu amigo, porque, graças a Deus, não tenho inimigos, daquela deten- ção livrei-me, após pequenos interrogatórios, a qualquer hora do dia ou da noite. O que me empolga, de fato, é a convicção da men- sagem, que tenho, para transmitir. E, para tanto, não quero que al- guém sofra a mais leve desilusão. Gozo do privilégio de ter sido convidado por quase todos os partidos de maior expressão na polí- tica nacional, para ingressar nas suas fileiras, não me tendo filiado a qualquer um, por nenhuma dessas agremiações se coadunar com as minhas aspirações. - Ó Silva, não estaremos a perder tempo? Se nenhum partido satisfaz o teu anseio!... - Deus é o Criador e o Homem, o Construtor. Em assim sendo, peço-vos que me ajudeis a colocar a pedra angular na Catedral da Civilização. Não me pergunteis como a levarei até o cimo, mas, Para a felicidade das pessoas e a tranquilidade das nações I - 25 Siavon - A República de Rates enquanto penso, preparai o adro, para, depois, crianças, adultos e velhos passearem pelos jardins, deleitando-se com o perfume das flores e o sorriso das donzelas. O mundo deverá ser como nós o queremos. Se Deus coloca todas as coisas à nossa disposição, por- que não nos servirmos, apenas, das boas, desprezando as más? Não quero alongar-me em dissertações, pois a minha intenção é mos- trar-vos, somente, as opções disponíveis. A vida é uma longa jor- nada. Na primavera, um homem inexperiente iniciou uma viagem, mas, como ia só e o caminho era pedregoso, pouco andou. Outros, seguindo a mesma trilha, foram mais longe, sem, contudo, alcançar o horizonte almejado. Um outro, valendo-se daquelas experiências, resolveu seguir o mesmo percurso; todavia, para evitar o fracasso dos anteriores e não se vencer pelo tédio, preveniu-se com sandá- lias, roupas e agasalhos, convidando a namorada a acompanhá-lo, entretanto, receoso da sua desistência, acariciou-a e falou-lhe de amor. Até o meio do caminho, tiveram os cuidados com a prole, mas, depois, a sua ajuda e, ao terminar, o descanso e a felicidade. Reuniram, então, os filhos, dizendo-lhes: - “A nossa vitória só foi alcançada, porque, no princípio, seguimos os passos dos primei- ros contendores e, depois, tivemos a vossa ajuda, conseguindo, desta forma, o nosso objetivo, recordando, agora, a distância per- corrida. É o que também vos aconselhamos a fazer, indo além.” – Assim é a civilização: o trilhar das ideologias contendoras, em busca de conciliações e de resultados. Eu estou aqui tão somente para coordenar essas ideologias e escrever a doutrina da Fraterni- dade Universal.