Sexta-feira 3 Setembro 2010 www.ipsilon.pt

Alexandra Lencastre, “Um Eléctrico Chamado Desejo” Actriz de cristal ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 7456 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE DO PÚBLICO, EDIÇÃO Nº 7456 INTEGRANTE DA PARTE FAZ ESTE SUPLEMENTO

MIGUEL MANSO MIGUEL

IsobelCampbell MarkLanegan JoãoTordo ChristopheHonoré João Nicolau Gayngs ER‚A T 7 DIA : 21 Dezembro. Dia da semana: Tera-feira. Limitado existente. ao stock Tera-feira. Dia da semana: : 21 Dezembro. Gr‹o Josefa Domingos Henrique Columbano Ant—nio Vasco de îbidos Sequeira Pous‹o B. Pinheiro Carneiro 14 Setembro 21 Setembro 28 Setembro 5 Outubro 12 Outubro 19 Outubro

AurŽlia Maria Helena Amadeo de Almada Ant—nio M‡rio de Sousa Vieira da Silva Sousa Cardoso Negreiros Dacosta Eloy 26 Outubro 2 Novembro 9 Novembro 16 Novembro 23 Novembro 30 Novembro COLEC‚ÌO PINTORES PORTUGUESES.

Descubra 16 grandes pintores portugueses numa edi‹o ricamente ilustrada e de grande rigor biogr‡fico. Conhea as pequenas hist—rias de cada quadro, Paula Jœlio Nikias o seu significado no contexto da obra e as Rego Pomar Skapinakis 7 Dezembro 14 Dezembro 21 Dezembro curiosidades tŽcnicas do seu autor. Colec‹o Pintores Portugueses. A melhor exposi‹o que pode ver em casa. Todas as teras, com o Pœblico. 16 Livros. PVP vol.1: Û3. PVP restantes: Û6,90. Preo total Portugal Continental: Û106.50. Data de in’cio: 7 Setembro. Data fim Data de in’cio: Continental: 7 Setembro. total Portugal Preo Û106.50. Û6,90. PVP restantes: Û3. PVP vol.1: 16 Livros. As cabanas de pescadores são “actos de resistência” aos arranha-céus galopantes do Bahrein: o júri apreciou a lucidez da auto- análise proposta pelos arquitectos Noura Al-Sayeh e Fuad Al-Ansari

simples onde as pessoas podem A fragilidade das cabanas dos de espaços, sem o peso da O júri da Bienal de socializar ao ar livre e “actos de pescadores parece fazer sentido teoria de edições anteriores. Arquitectura de resistência” para preservar o numa bienal como a deste ano Edwin Heathcote, do que ainda resta das áreas que, na leitura – bastante “”, conta no Veneza gostou do costeiras do país, ameaçadas coincidente – dos enviados de seu texto que desta vez Bahrein pelos arranha-céus. Os jornais como o “New York demorou apenas dez minutos a arquitectos Noura Al-Sayeh e Times”, o “Guardian” ou o percorrer a exposição principal Uma exposição em torno de três Fuad Al-Ansari foram os “Financial Times”, é diferente e ficou sobretudo com cabanas tradicionais de curadores da exposição – que do que tem sido em anos “algumas experiências pescadores do Bahrein marca a primeira participação anteriores. É a primeira vez que sensoriais memoráveis”. conquistou o Leão de Ouro para do Bahrein na Bienal de Veneza. a bienal tem como comissário- Experiências que se podem o melhor pavilhão nacional da O júri premiou também o geral uma mulher e uma asiática viver em espaços como Bienal de Arquitectura de atelier japonês Junya Ishigami – a arquitecta japonesa Kazuyo “Cloudscapes”, de Trassolar & Veneza 2010. O júri, salientando Associates com o Leão de Ouro Sejima. E a opção de Sejima fica Tetsuo Kondo, uma rampa que o país do Golfo podia ter para o melhor projecto da clara logo no título: “People ondulante que conduz a uma tido a tentação de mostrar exposição principal, enquanto o Meet in Architecture”. Esta quer nuvem de vapor, ou “Split Flash projectos modernos, mostrou- Leão de Prata foi atribuído ao ser uma bienal (também) sobre Second House”, instalação do se “impressionado com a atelier belga Office Kersten as pessoas e as relações destas artista plástico Olafur Eliasson, escolha”, que considerou “uma Geers David Van Severen (com o com os espaços. com estruturas de água auto-análise lúcida e poderosa fotógrafo Bas Princen) para a O resultado da exposição iluminadas por luz strobe. sobre a relação do país com as melhor jovem promessa. O principal é não uma Bonito, sem dúvida, escreve o rápidas mudanças na sua linha arquitecto holandês Rem apresentação de projectos, de jornalista do “Financial Times”, costeira”. Koolhaas, autor da Casa da edifícios mais ou menos mas demasiado “leve no que diz As cabanas são construções Música no Porto, recebeu o extravagantes, mas um respeito a ideias”. Uma bienal de madeira, muito frágeis, Leão de Ouro pela carreira e o conjunto em que “a política foi excluída” situadas no extremo de pontes japonês Kazuo Shinohara, que e “a experiência privilegiada em estreitas, mas são também, morreu em 2006, recebeu um relação ao intelecto”. lembrava o “Guardian”, espaços Leão de Ouro póstumo. Alexandra Prado Coelho

perto de um romance Jonathan Franzen do século XIX do que Sumário de um do século Alexandra Lencastre 6 está em toda a parte XXI. E explicou: Bruscamente, neste Verão, Não pára o “hype” à volta do nas livrarias de todo o enquanto os ela regressa ao teatro novo romance de Jonathan país. Os seus assessores escritores de hoje Franzen, “Freedom”, tiveram de vir explicar que costumam escrever 14 oficialmente lançado afinal Obama não comprou sobre subculturas e Pela América fora, com Mark anteontem nos EUA. O o livro, nem podia porque microcosmos, Lanegan último episódio envolveu não estava à venda, mas que Franzen escreve sobre Jonathan Franzen demorou a cultura e o cosmos. Barack Obama. O presidente lhe tinha sido oferecida uma nove anos a escrever o novo livro Gayngs 18 norte-americano, durante as “advance reader copy”. Nos “Freedom” é, mais uma 10cc para sempre suas férias habituais em EUA, estes exemplares de seus vez, a história de uma Martha’s Vineyard, entrou novos livros, as provas não melhores família disfuncional. João Tordo 20 na livraria Bunch of Grapes, corrigidas encadernadas, amigos se ter suicidado. Era Começa por nos apresentar Fechou-se com as suas em Vineyard Haven, e saiu são dados pelas editoras outro escritor, David Foster Walter Berglund, um personagens numa casa em de lá com um exemplar do com meses de antecedência Wallace. advogado casado com Patty, Itália novo romance de Franzen a bibliotecários, livreiros e Ainda antes de “Freedom” mãe suburbana e dias antes de ele começar a jornalistas para que, no dia estar nas livrarias, a revista descontente que toma conta Christophe Honoré 24 ser vendido em que os livros começam norte-americana “Time” fez dos filhos Jessica e Joey. Fez um fi lme para Chiara a ser vendidos, já tenham capa com Jonathan Franzen; Aparentemente, é uma Mastroianni sido lidos e comentados e a última vez que um escritor família que faz sentido até possa começar a vivo aparecera na capa da um dia em que tudo se João Nicolau 27 funcionar o “boca a revista tinha sido em Março desmorona. Um óvni do cinema boca”, que faz vender de 2010, cabendo então a Alguém obrigou Jonathan português em Veneza ainda mais. honra a Stephen King. Franzen a fazer um vídeo Jonathan Franzen não Nessa capa de 12 de para promover o novo livro Ficha Técnica publicava nada desde Agosto, Lev Grossman (pode ser visto no seu “site” 2001, ano em que escreveu: “Ele não é o mais oficial). São pouco mais de Directora Bárbara Reis lançou “As Correcções” rico ou o mais famoso dos dois minutos em que ele Editor Vasco Câmara, (Dom Quixote), romancistas. As suas afirma mais do que uma vez Inês Nadais (adjunta) como se sente Conselho editorial Isabel National Book Award personagens não resolvem Coutinho, Óscar Faria, Cristina nesse ano e mais tarde mistérios, não têm poderes desconfortável a fazer Fernandes, Vítor Belanciano considerado o livro da mágicos nem vivem no vídeos daqueles. Em que Design Mark Porter, Simon década. Demorou sete futuro. Mas no seu mais suspira e lembra que um Esterson, Kuchar Swara anos a escrever esse recente romance, livro não permite que Directora de arte Sónia Matos façamos várias coisas ao Designers Ana Carvalho, que foi o seu terceiro ‘Freedom’, Jonathan Carla Noronha, Mariana Soares Até Barack Obama levou uma livro, e nove a Franzen mostra-nos como mesmo tempo: ou estamos a Editor de fotografi a cópia provisória de “Freedom” escrever “Freedom”, vivemos hoje”. Considerou ler um livro ou não. para a sua casa de férias em Isabel Coutinho Miguel Madeira iniciado depois de um dos que “Freedom” está mais E-mail: [email protected] Martha’s Vineyard

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 3 Flash

Capas, posters, “fl yers”, fanzines: o melhor das artes gráfi cas do punk numa exposição em Londres

lisboetas, autores de um dos Pedro Costa hoje melhores discos de estreia de que no All Tomorrow’s há memória na música feita neste rectângulo (é uma fantástica Parties súmula de música futuro-primitiva, inspirada pelo e pelo O Festival All Tomorrow’s dub, mas sem filiação óbvia), Parties, programação de lançarão um novo EP com quatro música, exposições e cinema temas, com edição nos EUA pela (hoje e este fim-de-semana no Golf Channel, especializada em Kutshers Country Club, música electrónica. No Myspace já Monticello, Nova Iorque) que se ouvem dois temas: um sem títuloo este ano é comissariada por Jim (guitarras em cascata e África no Jarmusch, tem uma presença horizonte) e “Rauze” (com portuguesa: Pedro Costa e “Ne sintetizadores a explodir de euforia Change Rien”, o projecto com a e um “sample” de voz feminina). A cantora e actriz francesa Jeanne banda acabou de reeditar o Balibar. Foi uma escolha de primeiro disco em vinil pela Gala Jarmusch e da editora Criterion, Drop Records. Pedro Rios que edita o cineasta português nos EUA. O filme passa hoje no festival, onde Pedro Costa O punk estará presente para um debate ainda é uma arte com Jim Jarmusch, e tem estreia americana agendada para 3 de Quem não se lembra das Novembro nos EUA: Nova míticas cores garridas da capa Iorque, Los Angeles, Seattle, dos , a rosa choque Chicago e Boston. Alguns e amarelo, criada por Jamie destaques musicais, do rock à Reid? Era 1977, o punk dava oss música de vanguarda passando seus primeiros passos, e os pelo hip-hop: Iggy Pop and the autores de “Never mind the Stooges, Sonic Youth, Fuck bollocks” mal imaginavam quee o Buttons, Tortoise, The Books, “artwork” do disco ia estar Fursaxa, Avi Buffalo, Sunn 0))) exposto em 2010. Nem eles, nemem and Boris present Altar, Hope os Clash, quando lançaram o ssingleingle Sandoval & The Warm “Clash city rockers” em 78: no Inventions, GZA, Girls, The poster, as letras grafitadas e a Brian Jonestown Massacre, The mensagem “Shut Your Mouth”.”. Breeders ou Fucked Up. Em , designer e curador,dor, 2008, o All Tomorrow’s Parties começou a coleccionar posterss e foi comissariado pelo grupo My “Ne Change Rien”, projecto do cineasta português material variado do punk rockk na Bloody Valentine e em 2009 por com a cantora e actriz francesa Jeanne Balibar, década de 70, quando era um Wayne Coyne, dos Flaming foi uma escolha de Jim Jarmusch para o festival adolescente como tantos outros. ViVenison, em LLondres. d Os O trabalhos blh Lips. Também não imaginava que esse fotográficos de Pennie Smith e Kate Cardoso num dos textos do ciclo, Sebta”, de Frederico Lobo e Pedro espólio - fanzines, “flyers”, posters Simon, ou o trabalho gráfico de “trata do desentendimento entre o Pinho) e 1 de Outubro (“Juventude –, coleccionado de forma amadora, Linder Sterling para o single África é já ali, homem branco e o homem negro, em Marcha”, também de Pedro ao melhor espírito “do it yourself” “Orgasm addict”, dos Buzzcoks, em Miragaia detendo-se nos equívocos e na Costa). que era o lema do punk, iria podem ser vistos na capital violência que a presença dos O nome do ciclo – o terceiro que transformar-se no mote para uma britânica de 24 se Setembro a 30 de “As Estátuas também Morrem”, artefactos africanos nos museus se realiza no Auditório do Grupo exposição, “Loud Punk: British Outubro. Mas, para Mott, o mais filme de 1953 de Alain Resnais e europeus (tanto quanto a sua Musical de Miragaia, depois de “O Punk on Paper. The Mott importante na sua colecção é o Chris Marker sobre a relação entre ausência do Louvre, o mais nobre porto, ÒPorto” e “A gosto de Verão” Collection”. Depois de ter passado “material anónimo” reunido de o Ocidente e África através dos desses museus) desvenda”. No de – é inspirado numa frase da pelo MUSAC (Museu de arte forma espontânea por vários objectos que se guardam nos Herzog, que surge na vaga do Novo personagem Zé Maria, do filme Contemporânea de Castilla y León), adolescentes, sem qualquer museus, abre amanhã, às 21h30, o Cinema Alemão, “são evocadas as “Peixe Lua”, de José Álvaro Morais. em Março deste ano, a colecção propósito comercial, confessou ao ciclo “África_já ali”, no Auditório do várias formas de destruição e de Em “Reinos Desencantados”, sobre viaja agora para a galeria Haunch of “The Guardian”. GrupoGrupo MusicaMusicall ddee opressãoopre étnica, aproximando o a obra de José Álvaro Morais, anti-semitismoanti- nazi e o racismo Saguenail e Regina Guimarães colonialista,colo a história política e a recordam esse momento: “É militânciamili ecologista.” quando ele [Zé Maria], no pontão “África_já“Á ali” é programado de Alcochete, recusa o convite do porpor José Maia e prossegue até 1 Gabriel para ir jantar com ele a dede Outubro: há sessões segunda, Lisboa: ‘Quem me tira de África...’. diadia 6 ( “África 50”, de René Como se a África fosse já ali.” Vautier,Va e “Apontamentos para umaum Oréstia Africana” de Pier PaoloPa Pasolini), sábado, dia 11 Gala Drop em Nova (“Os(“ Mestres Loucos” e “Eu, Iorque a convite umu Negro”, ambos de Jean Rouch),R e ainda nos dias 13 de Panda Bear “As Estátuas também Morrem”, (“alheava_filme”,( de Manuel de Alain Resnais e Chris Marker Santos Maia, e “A Costa dos Os Gala Drop vão dar dois Murmúrios” de Margarida concertos em Nova Iorque, a 10 e 11 Cardoso),Cardo 18 (“Non, ou a Vã Glória de Setembro. O segundo concerto MiragaiaMiragaia, PortoPorto. Segue-se, Segue se às de MaMandar”, de Manoel de acontecerá na Governors Island, ao 22h, “África, Paraíso e Inferno Oliveira), 20 (“Terra Sonâmbula”, lado de Panda Bear (Animal (1971), de Werner Herzog. O de Teresa Prata), 25 (“Casa de Collective), que convidou o grupo. primeiro filme, explica João Sousa Lava”, de Pedro Costa), 27 (“Bab No final de Setembro, os Os Gala Drop vão dar dois concertos na “Big Apple”

4 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon APRESENTAÇÃO AO VIVO LANÇAMENTO EXPOSIÇÃO AGENDA CULTURAL FNAC entrada livre

LANÇAMENTO MORRO BEM, SALVEM A PÁTRIA! Livro de José Jorge Letria Apresentação por Annabela Rita e Miguel Real A acção deste livro centra-se no dia da morte de Sidónio Pais, recuando aos tempos que precederam o homicídio e prolongando-se até depois do seu desaparecimento. 09.09. 18H30 FNAC COLOMBO

AO VIVO AFONSO PAIS TRIO Fluxorama Na Fnac Chiado, Afonso Pais, a solo, faz um percurso por alguns dos temas de Fluxorama, que tem como base a interpretação de “standards” e temas de grandes nomes da história do jazz. Evento realizado em parceria com o Festival jazz.pt

07.09. 18H30 FNAC CHIADO

AO VIVO HUGO CARVALHAIS Nebulosa A FNAC recebe o trio do contrabaixista Hugo Carvalhais, que acaba de lançar o seu disco de estreia, Nebulosa, que conta com a participação especial do saxofonista norte-americano Tim Berne. Evento realizado em parceria com o Festival jazz.pt

08.09. 18H00 FNAC STA. CATARINA

AO VIVO FEROMONA Desoliúde Com Desoliúde recentemente editado e Selvagem Tosco em rotação nas rádios nacionais, estes rapazes lisboetas prometem colocar o país em tronco nu.

10.09. 22H00 FNAC FORUM COIMBRA

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA FOTOGRAFIAS DE RODAGEM DO CINEMA PORTUGUÊS Composta por material pertencente ao Arquivo Fotográfico da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, esta série de fotografias de rodagem, feitas entre os anos 20 e os anos 70, focaliza-se sobretudo em dois períodos: o período clássico do cinema português, nos anos 30 e 40, e o Cinema Novo, nos anos 60. 06.09. - 16.11.2010 FNAC ALMADA

Consulte todos os eventos da Agenda Fnac, assim como outros conteúdos culturais em http://cultura.fnac.pt

Apoio: MIGUEL MANSOMIGUEL Uma mulher sob infl uência Bruscamente neste Verão. Alexandra Lencastre volta ao teatro, 12 anos, uma vida inteira depois. A partir de dia 9, vamos vê-la em “Um Eléctrico Chamado Desejo”, encenação de Diogo Infante no D. Maria, em Lisboa, vamos vê-la em Blanche DuBois, “femme fatale” voraz, retirada de cena, caçadora transformada em presa. Alexandra não está a fazer de si própria, embora descubra sinais em tudo. Como Blanche, é uma mulher em perigo: “Tenho medo de não passar. Isto é tudo um grande sofrimento”. Anabela Mota Ribeiro*

Ao longo da peça, diz Alexandra Lencastre, Blanche DuBois vai-se sujando, vai-se amarrotando

Ela está naquela fase “ai, ai, ai, ai, não do encenador Diogo Infante. Do en- de Alexandra Lencastre e a poder di- sedutoras; são borboletas tristes, acin- me digam nada”. É a altura da aflição. contro em palco com Albano Jeróni- zer dela que é uma grande actriz. zentadas. Que é aquilo que vai acon- “Talvez isto tenha que ver com os 12 mo, Pedro Laginha, Lúcia Moniz. Um público diferente daquele que tecendo ao branco da Blanche ao lon- anos de afastamento, com bloqueios “Impressiona-me a intensidade deles. a segue em formato folhetinesco nas go da peça. Vai-se sujando, amarro- que posso ter criado, e quanto mais Sinto-me sempre atrasada. Como se revistas cor-de-rosa e na televisão. tando. Deixa-se afundar numa espiral se aproxima a data da mostra, da ex- não mergulhasse. Ou mergulhasse em Um público que não a quer confun- de desgraças, mas também é respon- posição, mais eles emergem”. Não diz seco. Vou atrasada por causa dos dir com Blanche, retirada de cena. sável por isso. Representa toda uma “estreia” por superstição? Não. “Es- meus bloqueios. Porque achei que Este não é o ocaso de Alexandra educação sulista daquela época. Há treia até é uma palavra bonita – como não era capaz. Enquanto pensei e não Lencastre. Não a vamos ver a descer a noção de pecado e de culpa. Vários ‘première’. ‘Mostra’ é que é violenta. pensei e não me entreguei e não me a escada devagar, pronta para o seu tipos de vícios. As pessoas fumam e Mostramo-nos.” atirei, já tiraram a água, não dei por último “close-up”. Não a vamos ver a bebem a uma velocidade estonteante. Mostra-se como quem diz: este é o nada, magoo-me. Eles mergulham depender da bondade de estranhos. O sexo. O jogo. A peça acaba de uma meu corpo, tomai e vede todos. muito mais. Mas depois eles dizem- O que vamos ver é uma peça que não maneira horrível: ela vai para um asi- Mas a roupa é a mesma, por supers- me que eu mergulho tão intensamen- é mais uma peça. O que vamos ver é lo de loucos e eles continuam a jogar tição. Entrevista em dois tempos. Um te… e isso devolve-me a energia de uma hipótese de felicidade. póquer. mês e meio antes da estreia da peça, que preciso para continuar”. Na peça, fala-se de Blanche Póquer aberto. e dez dias antes. O mesmo blazer pre- Bruscamente neste Verão, Alexan- Dubois como uma borboleta Sim. Não é por acaso: a vida é um jo- to, as mesmas botas de cano alto. Ape- dra Lencastre volta ao teatro. Doze nocturna. Alguma vez pensou go, a vida continua. sar da brasa do Verão. anos depois. Doze anos é muito tem- em si como uma borboleta O que é que tem da Blanche No primeiro encontro, tem dispo- po. Uma vida se passou entretanto. nocturna? Dubois? nibilidade para pensar no pai que não Há um público que quer reconhe- Já, e com o decorrer dos ensaios vou Procuro não ter muito porque me as- queria que desperdiçasse a polpa da cer na peça e em Blanche Dubois a pensando cada vez mais. As borbole- susta. Há uma série de coincidências fruta ao descascá-la. No segundo, a jovem esperança que encontrou no tas nocturnas têm uma atracção enor- entre nós. Estar só. A idade. Ela passa conversa desagua quase exclusiva- Teatro da Graça e não só. Um público me pela luz, mas quando se aproxi- a vida a disfarçar e a poupar-se; das mente nos ritmos da peça, em Blan- que reprova as opções de carreira que mam de mais morrem. Não são umas luzes, por exemplo.

Capa che Dubois. Da severidade elegante tomou. Que quer continuar a gostar borboletas como as outras, com cores Diz: “Não quero ser vista

6 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 7 debaixo desse clarão Não, não. Fazia por esconder. Tinha “Fiz dez anos impiedoso”. um peito exageradamente grande pa- de natação, Uma lâmpada sem um “abat-jour”, ra a minha estatura. o que tornou

sem um filtro, é um horror. Eu tenho Vimos várias fotografias suas. o meu corpo MANSOMIGUEL isso. Não é só de agora. Com 20 anos A não ser que seja um exercício muito pouco já me sentia incomodada. Adorava ir de representação, existe uma feminino. a uma cervejaria comer uma grande exibição orgulhosa do seu peito. Fui-me mariscada e beber umas imperiais, Não foi sempre assim. Quando come- protegendo mas aquela luz néon, cruel... cei a fazer teatro, fiz uma série de in- dos outros, Que revela tudo... génuas dramáticas, a Maria do “Frei camufl ando Afligia-me. Compreendo tão bem a Luís de Sousa”. Estreei-me a fazer esse corpo, Blanche. Neste ponto estabeleço um uma ninfa dos bosques numa peça muito laço imediato. Ainda por cima está do Pasolini, com o Mário Feliciano. arrapazada” tanto calor… Estamos em Nova Or- No Teatro Experimental de Cascais, leães, estão 38 graus, é um calor pe- o Carlos Avillez deu-me a Chantal, gajoso, é uma coisa pesada, fabril. uma jovem prostituta em “O Balcão”, Não é propriamente como estar numa do Jean Genet. Pela primeira vez fui sombra refrescante, com uma brisa, obrigada a deixar crescer as unhas a tomar um refresco de uísque. Há (estão sempre a partir-se, não há re- características da Blanche que não médio, nunca tive boas unhas) e a têm nada a ver comigo, mas as pes- pintá-las de vermelho. Muito maqui- soas pensam que têm. Têm mais a ver lhada, um grande decote, uma saia com a imagem que as pessoas têm de com uma abertura de lado. A entrada mim. dela era marcada pela unha num gra- Que características? deamento a fazer [imita o barulho] A questão da sedução. A ideia de que ra-ta-ta, e pelos saltos. Eu achava que tive muitos homens. as minhas pernas eram iguais às que Quando Blanche é desmascarada estão nos supermercados, seis coxi- pelo cunhado, ele fala dos nhas de frango, todas juntas. Não ti- incontáveis amantes que nha sequer aquela perna longa… ela teve. Descreve-a como Quando é que percebeu que o sexualmente voraz. Teme que as seu corpo era um trunfo, e que pessoas, porque lhe colaram o podia ser uma máscara? estereótipo da “femme fatale”, Comecei por perceber que era uma apontem isso como sendo máscara. O João Perry dizia, de uma comum às duas? forma muito engraçada, que eu pin- Sim. A minha primeira reacção foi: tava uma carinha em cima da minha “Nem pensar!”. Vão dizer: “Ela está num trabalho que fizemos juntos; e a fazer de ela própria”. Mas não. Tra- que depois aprendi a fazer isso no dia- ta-se de uma louca, vai-se desequili- a-dia, que nunca mais consegui dei- brando. O Diogo [Infante] só dizia: xar de o fazer. Foi quando fizemos “A “Estou-me a borrifar!”. Na peça, me- Banqueira do Povo”. ninas desta estirpe, de famílias com A sua primeira novela. grandes propriedades, eram desde Exactamente. Como é que o rótulo se cedo, tal como as meninas do povo, instala? É por um acaso, azarento, e sem tanta educação e sem prepara- por uma sucessão de papéis. Estava ção, lançadas para a vida com um a fazer uma peça terrível, “Terminal objectivo: entreter o macho. Foram Bar”, no Teatro da Graça, do Paul Se- educadas para serem “la belle de la lig, que morreu entretanto com sida. fête”. E sempre com um optimismo Fazia novamente uma prostituta, que sulista. Há uma desgraça, morre al- se chamava Martinelle. Ela tinha de guém, “oh que maçada”, mas há sem- vestir-se de Estátua da Liberdade. pre uma piada. Álcool à mistura, se- Uma coroa, um archote, umas luzes dução, sedução. tipo feira popular, uma coisa meia “Sex symbol” foi o seu primeiro ridícula, meia triste, pobre. Já só era rótulo. aquilo que brilhava, o resto estava a Foi, e sempre me revoltei contra isso. morrer. E, no meio disto, andava de Tenho de recuar e lembrar que, entre patins e com uma espécie de fato-de- mim e o meu irmão, ele é que era o banho de época. Num dos ensaios bonito. O que se comentava na famí- para a imprensa, ao levantar o archo- lia era: “Que pena não terem nascido te, descoseu-se qualquer coisa… Apa- ao contrário, ela rapaz e ele rapariga. receu no “7ete” uma fotografia minha Ele é tão bonitinho e ela é toda torta”. com a maminha de fora. Chorei tanto, Fui crescendo com grandes comple- tanto, não queria sair de casa. As pes- xos. Fui uma adolescente muito im- soas achavam que era uma falsa pu- popular. Não tinha namorado, não dica. Quem me conhece bem sabe quem se aproximar virá por amor, eram só brasas à minha volta. De bo- Algés e Dafundo, liceus públicos. Fui tinha hordas de rapazolas atrás de que sou pudica. quem conseguir passar essa barrei- as famílias, lindas, saídas de filmes. para a Faculdade de Letras estudar mim. Fui-me refugiando no desporto. Pudica? Traduza lá isso. ra…”. Eram Scarlett O’Haras, eram Mari- Filosofia. E depois Conservatório. Fiz dez anos de natação, o que tornou As minhas colegas de piscina nunca Essa foi a sua forma de dizer, de lyns, eram miúdas tiradas do “Easy Voltando à questão do “sex-appeal”: o meu corpo muito pouco feminino me viram nua, não tomava duche pedir: olhem para mim, gostem Rider”, com imenso dinheiro, imenso fugiu-me ao controlo, fugiu-me por e muito pouco gracioso. Com os om- com elas. Tive uma educação um bo- de mim? mundo, iam imenso a Londres. entre os dedos. Não percebia, achava bros largos, com um peito largo. E cadinho conservadora. Eu tinha uma grande dificuldade em E você, era o quê? que tinha colegas muito mais giras, depois um bocado a direito, sem Como é que depois aparece em perceber em quem é que me tinha Era filha de uma família da pequena, muito mais bem-feitas. aquela anca feminina que sempre de- poses provocantes? tornado. O que é que as personagens média burguesia. Não vivia numa ca- Ao mesmo tempo, gostou de ser sejei ter. Fui-me protegendo dos ou- São personagens. Havia um lado in- contribuíam para me acrescentar, ou sa com jardim, vivia num apartamen- olhada, apreciada. tros, camuflando este corpo, sendo fantil e provocador, mais do que se- para me retirar, ou para me baralhar? to. Daqueles muito familiares, com Houve uma altura em que fiquei vai- muito arrapazada. Vestia blazers, dutor. Brincar às “pin-ups”, mais do Andava num comboio que não para- um quarto para os pais, um quarto dosíssima. “Está tudo maluco, mas é muitas vezes do meu pai, com as man- que ser a “pin-up”. Quando chega a va. Fiz 38 peças de seguida. Estive para cada filho, uma sala, uma cozi- tão bom”. Recebi imensas flores de gas enroladas, largueirões. Umas t- um certo ponto, fujo, nem que seja oito anos sem férias, sem folgas, nada. nha. O meu pai não tinha carro e o desconhecidos no teatro. Se me dis- shirts fora dos jeans, botas de cane- preciso desaparecer. É um exercício E fazia televisão ao mesmo tempo. meu irmão e eu éramos gozadíssimos. sessem que isto ia acontecer quando leiras alentejanas com protectores, para gostarem de mim? Acho que sim. Entrei num filme do João Canijo, pe- Só tivemos carro quando eu tinha se- tinha 13 anos, eu diria: “Não, antes para fazer barulho como os homens. Todos os actores têm esta necessida- quenos papéis. Estava no Teatro de te e o meu irmão oito anos. Estudá- disso já cortei os pulsos, já me suici- Tinha graça. de muito premente e manifestam-na Cascais, no Teatro Nacional, tinha mos primeiro na Academia de Música dei”. Passei uma adolescência marti- Agora vou provocá-la e falar com de várias maneiras. Há pessoas que aulas de condução. Tinha para aí 22 de Santa Cecília. Depois acabou-se o rizada, com imensas crises existen- a crueza do Stanley: tinha um até são muito arrogantes porque es- anos. Tinha muita vontade. Nem se- dinheiro, porque os meus avós ma- ciais. Achava que nem sequer ia che- peito que fazia com que isso não tão a pedir que as entendam, que se quer tinha consciência do que me ternos deixaram de ajudar, começa- gar a adulta. importasse nada. aproximem – “Eu sou uma besta, estava a acontecer. Cresci no Restelo, ram a nascer mais netos. Fomos para Já lhe ouvi essa expressão: “Vou Procuro não ter muito da Blanche DuBois porque me assusta. Há coincidências. Estar só. A idade. Ela passa a vida a poupar-se; das luzes, por exemplo. Eu tenho isso

8 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon ali cortar os pulsos e venho já”. Continua a dizer isso? É uma coisa que agora podia dizer ao Diogo Infante, não fosse ele um ence- nador tão fantástico. Tenho uma gran- de admiração por ele. Cumpre as ta- Alexandra c’est elle! refas todas, tão bem cumpridinhas que nem se nota o esforço. Preocupa- De 1984 a 1997, houve uma actriz que se mostrou de coração e cabeça, sem que a imagem que anos mais tarde teríamos se com o subtexto, com o que está por dela fosse uma preocupação. Retrato de Alexandra em cena. Tiago Bartolomeu Costa dentro, o que está por baixo, com o passado. Sempre lhe reconheci capa- cidade de liderança, uma assertivida- de enorme, que já tinha quando era Ouvimos os passos vindos de “Terminal um jovem de 20 e poucos anos. En- longe e aquela silhueta é-nos Bar” frentava, questionava. Nós todos, ac- familiar. Sabemos o seu nome de (Teatro da tores mais velhos, mais novos, da cor, mas quem é esta actriz que Graça, 1990), mesma geração, começámos a olhá-lo chega com uma mala de mão e encenação com um imediato respeito. Ele é a ao fi m de três horas parece que Carlos pessoa que eu conheço que diz “não” descobrimos pela primeira vez? Fernando GOMES/ TEC MARIA LUÍSA com mais elegância. Diz “não” e pa- Há 12 anos que Alexandra (com Elisa DO TEATRO CEDÊNCIA MUSEU rece que está a dizer “sim”. Lencastre não pisava um Lisboa Começaram na mesma altura, a palco. “É muito nova para um e Manuel fazer as mesmas coisas, televisão regresso”, diz-nos Miguel Mendes) “O Balcão” (Teatro incluída. É interessante que Esteves Cardoso, autor de “Os Experimental de Cascais, agora se reencontrem neste Homens”, peça escrita para ela 1987), encenação Carlos lugar, nestes lugares. e Graça Lobo, em 1993. Pode Avillez (com Diogo Infante) É. Como encenador, tinha-me feito regressar quem nunca partiu? alguns convites, e as coisas nunca Focando-nos na sua passagem aconteceram. Ele sempre preferiu pelos palcos, fi xado entre 1984, “Quando aparece que eu não conciliasse o teatro e a onde começou com Beckett na televisão. Ou estava completamente Faculdade de Letras de Lisboa, um caso assim, disponível ou preferia não me dividir no grupo Pote de Ginjas, e 1997, percebe-se. com outro projecto qualquer. Espe- onde no Teatro Aberto fez Ensaio rou. E veio uma oportunidade de ou- “Fernando Krapp escreveu-me de “Frei Luís Perguntamo-nos ro. Neste processo o Diogo tem sido esta carta”, de Tankred Dorst, de Sousa” crítico, severo. Depois desta grande descobrimos uma actriz à qual (ACARTE, não de onde é que paragem, é assustador voltar. Seria ninguém poupa elogios. José 1986), sempre assustador fazer esta peça, Wallenstein lembra-se de ver encenação apareceu mas como para qualquer actriz. entrar no Auditório do Centro Jorge é que apareceu” No texto, diz-se de Blanche: “É de Arte Moderna da Gulbenkian Listopad uma flor colhida há alguns dias”. uma rapariga de 17 anos e (com Carlos Carlos Avillez, É isso que ela é. Diz isso dela própria: grandes olhos. Por sugestão de Wallenstein) FCG CEDÊNCIA CAM/ GAGEIRO. EDUARDO que está a murchar. Por desespero, Olga Prats, essa rapariga, sua Teatro Experimental escolhe as piores soluções, vai pelos sobrinha, estava indecisa com o piores caminhos. Mete-se com um futuro. “Linda. Uma menina. Ela de Cascais miúdo de 17 anos, um aluno. Torna-se fi cou ali a assistir aos ensaios. “persona non grata” na cidade, é Era a Alexandra, eu estava a vê- proscrita. Vem com um baú, tudo o la”, recorda o actor. “Ajudei-a a que ela possui está naquele baú. Pede decidir ir para o Conservatório”. auxílio a uma irmã. A juventude já se Jorge Listopad era professor está a ir embora, já não chegam os no Conservatório quando a filtros na luz, a maquilhagem, os ves- conheceu: “Logo no início tidos. Já não chegam esses disfarces pareceu-me defi nitiva. No modo todos. Cai na sua própria armadilha. como olhava, como estava, como Tanto enganou, tanto forjou que aca- falava. Tinha uma sensibilidade personagem isso ela conseguia de forma ba caçada. Deixa de ser a caçadora absoluta. Ela transformava-se completamente extraordinária logo que entrava “Fernando Krapp para passar a ser a presa. como um camaleão”, recorda diferente e em cena”. escreveu-me esta carta” Podemos dizer o mesmo quando o encenador que acabaria logo aí se via a Para Wallenstein, que a (Teatro Aberto, 1997), olhamos para a sua relação com por revelá-la em “Frei Luís de versatilidade da dirigiu em “Estrelas da Manhã” encenação João Lourenço as revistas cor-de-rosa? É como Sousa” (1986), no ACARTE. “Foi Alexandra. Ela entregava- (1992), “essa confusão é uma se tivesse caído na armadilha de o Eurico Lisboa que me disse se”. capacidade interpretativa característica dos actores de expor a sua vida e ficasse refém que eu tinha encontrado a Maria, excepcional, com cambiantes grande personalidade”. Esteves daquela que ali estava exposta. e nunca mais a esqueci”. Coração e cabeça belíssimos de voz e uma Cardoso acrescenta: “Como Sim, isso é um grande problema do Seria a terceira peça que É essa força, que Miguel capacidade de se movimentar todas as estrelas, ela não tem qual me apetece falar pouco. Às vezes Lencastre faria no extinto Esteves Cardoso apelida impressionante”. o particular e o público. O que pergunto a jornalistas com quem con- serviço da Fundação de “Stanislavskiana”, Essa “corporalidade”, para parece ser uma representação, verso: “Porque é que não me deixam Gulbenkian. Um ano antes já relacionando-a com o método usar uma expressão da crítica é tão sério como a vida dela, e o um bocado em paz?”. “Porque você tinha vomitado em “Pílades”, de interpretação teatral, que Anabela Mendes a propósito da contrário também é verdade. Ela vende, Alexandra”. Vendo pelas pio- de Pasolini, a peça de estreia mais vezes é referida como uma sua presença numa outra peça, não se esconde, mostra-se”. res razões. profi ssional. “Nunca vai qualidade. “Não é uma entrega”, “Terminal Bar” (1990), já tinha João Perry, que com ela Transformou-se na ficção melhorar”, disse-lhe Manuela de diz Wallenstein. “É uma verdade sido notada em “Quem pode, contracenou no Teatro Aberto, Alexandra Lencastre? Freitas antes de entrarem de coração e de cabeça”. pode”, texto de David Mamet não acredita na imagem Espero que não. em cena. Depois foi “O “Uma pessoa tem que dar dois encenado por João Canijo, ainda superfi cial. “Há uma exposição Essa vida a que temos acesso Indesejado”, de Jorge de Sena. passos atrás quando a vê entrar no ACARTE. Essa imagem de intensa, que não corresponde nas revistas, os casamentos, E a seguir uma Maria que em palco”, diz Esteves Cardoso. rapariga sensual, que usava o a uma visão da pele do lado de as separações, os novos marcaria o ano teatral. “Eu Listopad, em 1990, levou-a corpo para seduzir, iria colar-se fora, mas ao que a pele contém. namorados, as tentativas de obriguei-a ir mais longe que para o Teatro da Graça para à pele. “Foi muito esquisito”, Uma ansiedade de ter coisas, reconciliação, as filhas, as férias, o longe. Ao vê-la a ela vi toda substituir Maria José Paschoal disse Alexandra numa de avançar, de estar sempre as rugas, o aumento de peso, as a peça”, recorda Listopad. “A em “Benilde ou a Virgem entrevista na altura da estreia. em movimento. É uma pessoa dietas… é um álbum que todos Alexandra foi, e é, a minha Mãe”, de José Régio. Recorda “As pessoas começaram a achar rápida, lenta e frágil. E deve ser folheamos. Maria.” Gastão Cruz, poeta, que na que tinha aparecido uma actriz essa fragilidade que lhe dá a Sim, como se eu tivesse dado permis- “Quando aparece um caso altura pertencia à direcção tipo sex-symbol”. intensidade. Pode ser-se forte são e estivesse muito contente com assim, percebe-se. Perguntamo- do Grupo de Teatro Hoje, a Diz Gastão Cruz que “a numa coisa e em vez de se ir para isso... Quando perguntam: “O que é nos não de onde é que apareceu companhia residente. “Foi muito imagem que lhe colam é trás, foge-se para a frente”. que faz para contrariar?”, já fiz tudo. mas como é que apareceu”, controverso. O Listopad fez uma redutora. Ela era, e é, uma Alexandra Lencastre, 44 anos, A única coisa que nunca fiz foi pro- diz-nos Carlos Avillez, do Teatro encenação que escandalizou mulher bonita, mas o talento entra em cena. A sua sombra, cessar ou pôr providências caute- Experimental de Cascais onde muitas pessoas, porque inseria excede em muito essa ideia. ampliada por um projector, a actriz iria passar os anos no contexto do espectáculo A aparição dela no primeiro enche a tela que nos separa do seguintes. ‘O Judas’, do António acto de ‘A Gaivota’ [que o palco. Confundida, pergunta se Com “O Balcão”, de Genet, Patrício. A interpretação dela poeta encenou em 1992 e aquela pode mesmo ser a Alexandra recebeu os Prémio impressionou-me muito”, onde Alexandra fez de Nina] morada que procura. À de Revelação Feminina das conta, trazendo à memória a era impressionante. Era um personagem parece estranho revistas Nova Gente e Sete. imagem da actriz que tinha fulgor que entrava em cena. A que seja ali que vai acabar. Mas Conta Avillez que “foi um visto em Cascais: “Tinha maneira de lançar as primeiras a actriz parece ter chegado, êxito estrondoso. Era uma dotes extraordinários e uma frases, de se mover, tudo fi nalmente, a casa.

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 9 “Um Eléctrico Chamado Desejo” não é só mais uma peça: “Tennessee Williams fazia parte do meu imaginário de adolescente que já queria ser actriz”

lares. Não tenho dinheiro para is- so. As pessoas imaginam que é rica,

MIGUEL MANSO MIGUEL que é a actriz de telenovela mais bem paga. Que é loura, que toda a vida à sua volta é glamourosa. Como é que depois diz que não tem dinheiro? Essa é outra fabricação. Não corres- ponde à verdade. Fabricam uma Ale- xandra Lencastre que não é a verda- deira, que não ganha o que anunciam que ganho, que não tem aquele tipo de vida. Quando não estou nas festas ficam danados. Muitas vezes, não vou aos lançamentos, às inaugurações, não estou em lado nenhum. Mas apa- recem fotografias minhas, com texto. Para dizer que não estive lá porque estou muito em baixo, que não aguen- to enfrentar a realidade porque ter- minei uma relação. A quantidade de namorados que me inventam…, de alguns não sei sequer o nome. Já vi “paparazzi” à porta da minha casa, fiquei revoltadíssima, disfarçam car- ros, estacionam ali dias inteiros. Porque é que acha que vende tanto? [pausa] Não sei, já se tornou quase um hábito. Acho que as pessoas até estão cansadas. Não posso andar com um cartaz a dizer que é tudo mentira. O que é que faço? Já não vou, já não falo, já não atendo o te- lefone, porque isso já é dizer qual- quer coisa, e mesmo assim publicam. Bato-lhes? Quando se é uma actriz de telenovela, e nos últimos anos é isso que tem sido, faz parte do pacote aparecer nessas revistas. De certa forma sim. As produtoras têm esses compromissos e essas re- vistas vão, semanalmente, publicitan- do o que se passa nos bastidores. Porque é que só faz novela?

Parei de faze estar a dar um p

Frequentemente diz-se da Alexandra Lencastre: “É uma bela actriz, mas perdeu-se”. Primeiro, não é uma opção, tem sido uma obrigação. A partir do momento em que começo a trabalhar na TVI, a oportunidade de trabalho tem sido esta. Para além do “Equador”, não tem havido muitos telefilmes, muitas mini-séries. A novela ocupa um tempo total na minha vida. Todos os fins-de- semana tenho 150 páginas de texto para decorar para a semana seguinte. E mais a família, e mais a saúde, e mais não sei o quê. Num ano recusei cinco filmes. Fartei-me de espernear. Recusou porque tem um contrato com a TVI que não lho permite? Não é que não possa fazer, mas a prio- ridade é aquela. Se tenho uma perso- nagem pequena, com pouca incidên- cia, que grava duas ou três vezes por semana, posso conciliar; mas não te- nho tido essa sorte. Porque é que escolhe isso para a sua vida? Porque é que escolhe assinar contratos? Não escolhi. É também uma seguran-

10 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon ça económica, como é evidente. É não é mais uma peça. Embora as pe- Encontro coincidências em tudo, des- po livre. Conheci um fotógrafo ame- Manuela de Freitas e Mariana como estar numa companhia de tea- ças nunca sejam só mais uma peça. cubro sinais. Como se nada fosse por ricano que era uma brasa, daquelas Rey Monteiro interpretaram tro. Tennessee Williams fazia parte do acaso. Dou por mim a dizer frases de- brasas Marlboro Man que impressio- Blanche no passado. Procurou Ganha um ordenado fixo por meu imaginário de adolescente que la em circunstâncias banais. Um nam qualquer jovem com 19 para 20 informação sobre essas mês independentemente das já queria ser actriz. Vim a descobrir exemplo: “A crueldade intencional anos. Ele devia ter 27. E queria levar- representações, quis ver novelas que faz. É funcionária. que participou em imensos guiões de não se pode perdoar”. me. Só falámos duas vezes e percebi fotografias? Sim, é uma exclusividade que me filmes. Até no “Sentimento”, de Vis- Voltemos à frase do João Perry, logo que nunca dependeria da bon- O Diogo pediu-nos muito, a todos, obriga a estar disponível. Com o José conti. As suas personagens femininas à cara pintada sobre a sua. Sabe dade de estranhos... para não vermos o filme. Tinha visto Eduardo Moniz foi discutida esta pe- permitem trabalhar em quase todos sempre o que é a mascara e o O que é que lhe desperta desejo? o filme há muitos, muitos anos, e ça, se não teria sido muito difícil fazê- os registos. Blanche é um desafio que é o “eu”? A peça chama-se “Um Eléctrico eventualmente revi-o na televisão. la. Também já recusei várias porque enorme, um perigo enorme, um pre- Sei. Acho que acontece à maior parte Chamado Desejo”, mas antes de Tenho o filme em casa, em DVD. Es- o teatro é tão absorvente que é im- sente enorme. dos actores: somos simultaneamente chegar a Desejo passa por um tive três ou quatro vezes com o CD na possível. Ainda mais com as miúdas, Um presente que lhe permite exibicionistas e hiper-críticos connos- sítio chamado Cemitério. mão…, foi difícil vencer a tentação. e morando mais longe. Ao fim de du- dizer novamente a um certo co. Gostamos pouco de nós próprios. Um eléctrico chamado desejo? Co- Mas não o vi. Nem vi a Manuela de as semanas morria, ia-me abaixo, ia público “estou aqui, valho isto”? Se calhar por isso temos necessidade mecei a pensar: “Que disparate, então Freitas [em 1990]. Não sei se já era ao tapete. Aí sim, é que a Alexandra “Estou aqui, a dar o meu melhor”. de nos transformarmos neste e na- nós não temos [em Lisboa] um que nascida quando a Mariana a repre- Lencastre se perdia. Não me perdi O medo do regresso ao teatro: quele. De sair de uma coisa que não vai para os Prazeres?” E outro da Gló- sentou [1963]. Os meus pais viram-na. nada a fazer novelas. As pessoas verdadeiramente era o medo de tem solução. A cara com que acordo ria. O que ainda me desperta desejo? A minha mãe falou-me de uma ima- quando dizem isso são cruéis. Tenho quê? é aquela cara, não é outra, mas gosto Nadar. Dormir com as duas miúdas e gem que nunca esqueceu: a da Ma- aprendido imenso. A novela é uma De já não saber usar a voz, o corpo. de a disfarçar. acordarmos bem dispostas. Ter tem- riana, que fazia sempre as meninas musculação do actor fortíssima. Tem De me ter esquecido das coisas do Os actores não gostam de si po. Ler. Ter tempo para reler “A Es- pudicas, recatadas, intocadas, a des- coisas más, pode criar vícios, mule- Conservatório. De ter criado os tais próprios?, é um problema de puma dos Dias”, do Boris Vian, que cer uma escada de combinação. Era tas, zonas de conforto em que nos automatismos, as recusas, as defesas. auto-estima? me marcou muito quando era novi- uma imagem sensual. Não quis saber encostamos à box, mais do mesmo, De já não saber oferecer-me de corpo Sim. Somos sempre nós, mais as cir- nha. Às vezes prefiro reler do que mais. Quis descolar. cria frustrações, isso é tudo verdade. e alma e sangue. cunstâncias que nos rodeiam. Eu vivi abraçar um desconhecido. O desejo Gena Rowlands, que é uma Mas se se é actor, se se tem alguma Na peça, o cheiro é a suor, entre pólos opostos. O lado da família de estar em paz, sem angústia. actriz que admira, interpreta coisa para dar, não se perde; aprende- sangue e perfume de jasmim. da minha mãe e o lado da família do Existe uma relação entre a uma mulher preocupada com se e dá-se qualquer coisa ao grande Isso sim, tenho em comum com a meu pai proporcionaram-me um cho- Blanche e as outras mulheres o envelhecimento em “Rostos” público, Blanche: estar sempre a borrifar-me que – como existe nesta peça –, não que fez no teatro. São quase [de John Cassavetes]. O filme Gosta de fazer novelas? de perfume. À Blanche, toda a anima- só cultural. De um lado tinha uma fa- sempre sedutoras ou marginais ocorreu-lhe durante o processo É com orgulho que faço novela, não lidade do Stanley, que a percorre com mília onde prevalecia o colo, as 30 e ou à beira do abismo. de construção da Blanche? Mais é com vergonha. Às vezes é com mui- um arrepio, repugna-a simultanea- tal pessoas à mesa a almoçar, o apoio À beira do abismo, muito. do que envelhecimento, na peça to cansaço e com pena de não crescer mente. A irmã diz, referindo-se a permanente, o conforto, a segurança, É escolhida para estes papéis? trata-se de decadência. Muitas mais como actriz, trabalhando em Stanley: “Ele não é do tipo de apreciar o optimismo. Do outro lado, o pessi- Escolhe estes papéis? vezes coexistem. cinema e em teatro, com pena de ter perfume de jasmim, mas talvez seja mismo, os pés na terra, o trabalho Não, eu nunca escolhi nenhum papel. Ocorreu. Mas, mais uma vez, procurei perdido a oportunidade de trabalhar o tipo ideal para misturar com o nos- como valor primeiro, o ter cuidado a Escolhem-me porquê? Posso encaixar não ver. A tentação seria… não é imi- com pessoas fascinantes e com quem so sangue”. descascar a fruta para não desperdi- nestas mulheres. Outras actrizes en- tar, não é calcar, como num desenho; adoraria experimentar esta troca. Há É uma frase que fala de sentidos, çar. De repente, apetece-me mais caixam também. Não sou uma actriz é ir por ali. Tentar fazer a pausa no pessoas que me dizem que é pena não de carne. E tudo aquilo é identificar-me com o lado confortá- cómica por excelência. Nesta peça, o mesmo sítio. Gostava de me parecer voltar ao teatro, perguntam porque crepuscular ao mesmo tempo. vel. Mas depois começamos a crescer Diogo encontrou mais rapidamente com ela, mas não me pareço. Sou um é que não quero, se tenho medo. Stella, a irmã de Blanche, diz e a perceber que a vida é outra coisa, o que pretendia de mim nas cenas tipo de actriz diferente. Talvez eu te- Boa pergunta: tinha medo de que os homens, a sua força começamos a aproveitar do outro la- mais dramáticas, mais desequilibra- nha uma intensidade eléctrica e ela voltar ao teatro? animal, a deixam electrizada. do também. Há uma confusão: quem das e desequilibrantes do que nas uma intensidade estática. Tão esma- Tinha. Parei de fazer teatro quando As metáforas estão lá, e as alusões, e é que quero ser? Quero sair a quem? (supostamente) mais triviais. Aqui, gadora. Ocorreu-me a Gena Rowlan- tive a minha segunda filha, há 12 anos. os duplos sentidos. Blanche não é por O que é mais importante? Foi uma nunca nada é trivial. Há sempre uma ds, também, por causa da zona de Tinha uma peça agendada com o João acaso, Stella também não. Acho que coisa que nunca consegui resolver. perturbação latente. Há sempre qual- desequilíbrio que leva à loucura, no Lourenço, o “Quase”, no Teatro Aber- são memórias do Tennessee Williams, Tentei, como faz parte da minha na- quer coisa, mais qualquer coisa. Qual- “Uma Mulher sob Influência”. Há

zer teatro quando tive a minha segunda fi lha. Percebi que podia m pontapé na sorte, a insultar quem acreditava em mim

to, e não consegui fazê-la. Estava a da sua infância, um ajuste de contas tureza, harmonizar. quer coisa terrivelmente humana. uma cena mágica, depois de ela vir fazer uma depressão pós-parto e não com o seu passado. Através desta per- Mesmo que grite. Alexandra, humana, da casa de saúde, quando se pensa estava a perceber. Tinha medo que sonagem, faz a crítica ao sistema. Es- Mesmo que grite. Depois peço des- terrivelmente humana… que está bem, mas ainda não está; elas morressem a qualquer instante. ta mulher, que chegou ao ponto de se culpa. Há coisas que não se explicam. [Gargalhada, seguida de riso melan- senta-se no alpendre e o espectador Compliquei mesmo a minha vida. É prostituir, de se entregar a estra- Se fizer análise – nunca fiz –, se for ao cólico] Com tudo o que isso implica. sente que alguma coisa se passa nas como se me tivesse quebrado, me ti- nhos… Ela foi ganhando uma repug- fundo dos fundos... Até tenho medo. Cheirar a um perfume bom e cheirar suas costas; sente, mas não vê, o ca- vesse colado e a cola ainda não esti- nância a tudo o que é brutal, animal, Não de ir ao fundo. Não quero é arru- demasiado a um perfume barato. belo tapa. Ela diz assim: “Porque é vesse seca. Ia-me partir e depois já espontâneo. Por isso é que passa a mar. Só quero ter arrumado aquilo Evoco outra frase famosa que se que as vossas mãos pequeninas são não se encontrava um bocado ou ou- vida a tomar banhos quentes, com que é suficiente para sobreviver com pode aplicar a essas personagens aquelas que me sabem melhor?” (Isto tro. Então o melhor era ficar ali até uma necessidade de se purificar. É alguma tranquilidade. que interpreta: “Nada do que é dito assim parece um poema foleiro! aquilo solidificar. Foi a primeira vez interessante como é que uma pessoa Não quer arrumar porque usa humano me é estranho”. Ah, não devia dizer foleiro. Um poe- que percebi que podia estar a dar um que já se sujou tanto tem esta arro- essa matéria para trabalhar? Sinto isso, que nada do que é humano ma de fraca qualidade. Como seria se grande pontapé na sorte. Que podia gância enorme, sulista, este lado qua- Exactamente. Essa falta de auto-esti- lhes é estranho. Sempre ouvi a Euni- fosse escrito por mim). estar quase a insultar as pessoas que se aristocrático, palhaço, de criticar ma tem-me dado tanto jeito, não a ce Muñoz dizer que temos de defen- Mãos pequeninas? acreditavam em mim. Nunca pensei tudo à volta. quero resolver. Isso manifesta-se der a personagem até ao fim. “É uma Vi o filme antes de ter filhas e depois estar tanto tempo sem fazer teatro. “Não sei durante quanto tempo quando tem de se manifestar, de pre- assassina? Temos de legitimar os ac- de ter filhas. Mas eu já sabia que aque- Mas, depois, uma novela são 11 meses, conseguirei manter a ilusão”, ferência no trabalho. tos dela.” As pessoas têm de compre- las mãos eram as que sabiam melhor. mais um mês de ensaio, e cortes de diz Blanche. No seu caso, nunca Vamos à frase famosa: “I have ender a motivação da personagem. O toque das minhas filhas… Não que- cabelo e provas de guarda-roupa. Te- perde de vista o que é postiço always depended upon the Porque é que ela levantou o copo nes- ro que elas se assustem, que pensem nho 45 anos, não tenho 25 nem 35. e o que faz parte do seu núcleo kindness of strangers”. Nesta ta altura e não na outra. Porque é que que eu e Blanche somos a mesma pes- Tenho muito calor, transpiro, doem- inviolável? versão, traduz-se “kindness” por não esperou. Porque é que ela se po- soa. Em casa dizem que a mãe anda me as pernas, doem-me as costas. Não. Isso é muito importante para bondade. Alguma vez disse essa dia ter salvo e não se salvou. muito enervada, sem paciência. Gos- Esta peça é uma prova de fogo? qualquer actor, para não perder a sua frase? Porque é que não se salvou? tava que elas percebessem que levo Tenho medo de não passar. [comove- identidade. É lógico que somos con- Não, não gosto de desconhecidos [ri- A Blanche já não teve forças. para casa bocadinhos da Blanche, se] Às vezes penso que as pessoas não taminados. Não fazemos as coisas por so]. Não confio. E primeiro que um E você, está a salvar-se? mas que não sou a Blanche. Thank vão perdoar certas coisas. Isto é tudo fora. Até chegar a casa demoro um desconhecido passe a ser conhecido, Espero muito bem que sim. Espero God. Ela sofre muito mais do que eu, um grande sofrimento, mas, se não bocadinho a expulsar a Blanche de ui. Numa peça que fiz, “O Indeseja- que Deus me ajude porque é exacta- coitadinha. fosse assim, não valia a pena. Para dentro de mim. Blanche tomou mais do”, do Jorge de Sena, fazia um pe- mente disto que preciso para come- mim, isto não é uma situação normal, conta de mim do que eu esperava. queníssimo papel, tinha imenso tem- çar, para recomeçar. * Com Tiago Bartolomeu Costa

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 11 Uma peça chamada d A história parece ser conhecida de todos, mesmo os que nunca a leram, sobretudo porque no imaginário está implantada a Mas a intenção de Diogo Infante é a libertação do texto da carga simbólica do seu legado. Tiago B ALÍPIO PADILHA

TNDMII, 2010, encenação Diogo Infante, com Alexandra Lencastre, Albano Jerónimo, Lúcia Moniz, Pedro Laginha

“É pena, sem dúvida, que uma “É uma tragédia com parte tão grande do trabalho criativo esteja tão intensamente o objectivo clássico de relacionada com a personalidade daquele que o produz”. A frase, produzir uma catarse escrita por Tennessee Williams e incluída no volume que a Relógio de piedade e terror

d’Água publicou em 2009, e DO TEATRO DO MUSEU ARQUIVO onde se encontra a versão de e, para que esse “Um Eléctrico chamado desejo”, objectivo possa ser

assinada por Helena Briga DE PESQUISA - TEATRO COMUNA DA ARQUIVO Nogueira, que o Teatro Nacional D. cumprido, a Blanche Maria II apresenta, dá bem conta do espírito que desde sempre deve ser entendida envolveu as peças do norte- americano. “Eu quero continuar e compreendida.” a falar convosco sobre aquilo por que vivemos e morremos. E quero Tennessee Williams Comuna, 1990, encenação João fazê-lo sem reservas, intimamente, Mota, com Manuela de Freitas, como se vos conhecesse melhor do Almeno Gonçalves, Manuela que qualquer pessoa”, escreveu. Couto e Alfredo Brissos Publicada em 1947 a peça surge quero magia”, gritará. Expulsa momento em que deixamos de na sequência de um exercício da cidade, perseguida pelo controlar o destino e são os outros de um acto intitulado “Interior: passado, humilhada pelo cunhado, que nos conduzem e, através das Panic”, apresentado anos antes, internada pela irmã “para sua suas acções, produzem mudanças onde o autor já experimentava própria protecção”, Blanche segue, na nossa vida.” traçar o percurso de uma mulher de braço dado a um médico, o Quando a peça foi publicada, fora do tempo, que representava estranho que ela confunde com um conta o dramaturgo Arthur Miller a decadência de uma utopia face amante rico e de quem dependerá, num ensaio publicado em 2004, ao modernismo impresso pela como sempre dependeu da “ecoava o destino dos marginais na Blanche dirá a Stella, e sobre Companhia reorganização social e económica bondade de estranhos. sociedade americana e levantava a corpos moribundos, perdidos no Rey Colaço- da América da primeira metade do questão da justiça. E fazia-o a partir calor doentio do sul dos Estados Robles século XX. Espetar a bandeira do seu interior”. Unidos. Está lá tudo escrito: a força Monteiro, A história parece ser conhecida da beleza “Williams não era poeticamente bruta de Stanley, os esquemas 1963, de todos, mesmo os que nunca A violência da peça não é física, é neutro, como se imaginava, e mentais (as suas protecções) de encenação a leram, sobretudo porque psicológica. Está presente na sua parte da imensa vaga de apreço Blanche, a neutralidade de Stella, Henriette no imaginário colectivo está linguagem, no desenho expressivo de ‘Eléctrico’ deve-se ao tributo o desejo frustrado de Mitch... Morineau, implantada a memória do fi lme de das personagens, organizadas que fazia quer à realidade social, está lá tudo, “nessa linguagem com Mariana Elia Kazan, de 1951. Uma mulher, como se estivessem num quer à sua personalidade poética”, que escorria da alma” (palavras Rey Monteiro, Blanche DuBois, chega a Nova julgamento. continua. “O que a peça fez foi de Arthur Miller). Williams Varela Silva, Orleães de visita à irmã, Stella, Diogo Infante, que assina esta espetar a bandeira da beleza nas explicará, numa entrevista que fez Lurdes depois de ter perdido a herdade de encenação, assinala a evidência margens do teatro comercial. a si mesmo em 1957, que “nunca Norberto e Belle Reve, onde as duas passaram de “uma assembleia grega, onde A peça, mais do que qualquer escreveu sobre nenhuma violência José de Castro a infância. É uma beleza do sul que há um esgrimir de argumentações outra peça dele antes ou depois, que não pudesse observar em si o sol consumiu. Uma traça e já não que visam defender pontos de aproxima-se da tragédia e do seu mesmo”. uma borboleta, que foge da luz. vista distintos”. Mas o que o negrume. Contudo, o real e o lírico Tornou-se, por isso, um lugar Do confronto com o cunhado, inquieta “é a incapacidade que as são suavemente misturados e comum dizer que as personagens, um “bruto, um macaco”, revelar- personagens têm de se emergem numa voz unifi cada”. e em particular as femininas, se-á um passado complexo, colocar no lugar do outro. É isso A peça, “um grito de dor”, continham traços biográfi cos de que a conduziu a um estado que me interessa retratar, porque como lhe chamou Miller, é sobre Williams. “Um Eléctrico...”, faz de alucinatório. “Não quero realismo, acho que isso é intemporal. Há um cegos que conduzem cegos, como Blanche, ou no caso de Tennessee,

12 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon a desejo UM MUNDO DE ESPECTÁCULOS A PENSAR EM SI! a a memória do fi lme de Elia Kazan. UM MUNDO DE ESPECTÁCULOS A PENSAR EM SI! o Bartolomeu Costa um poço de contradições. Numa no São Luiz, numa encenação de carta a Elia Kazan, que em 1948 Henriette Morineau, com Mariana LEONARD dirigiu a peça na Broadway e em Rey Monteiro como protagonista, 1951 realizou o fi lme com Marlon Varela Silva como Stanley, Lurdes Brando, Vivien Leigh, Kim Hunter Norberto como Stella e José COHEN e Karl Malden, Williams diz que de Castro como Mitch. Lurdes WORLD TOUR 2010 “não há boas nem más pessoas. Norberto não sabe explicar Algumas são melhores ou piores, como é que uma peça com uma 10 SET | PAV. ATLÂNTICO mas todas são activadas por linguagem tão física conseguiu mal-entendidos ou malícia. Há passar na censura. Sabe, uma cegueira que lhes invade os contudo, que a versão utilizada, e corações”. traduzida por António Quadros, Diogo Infante diz que lhe seguia o argumento do fi lme de “interessa encontrar um espaço Kazan. Nela, a explicação das orgânico onde as personagens razões do suicídio do primeiro se possam relevar na sua marido de Blanche são elípticas. 14 SETEMBRO tridimensionalidade. Elas têm A homossexualidade não era segredos, receios e isso interessa- bem vista na altura. E mesmo a me explorar. É algo que vai violação de Blanche por Stanley PAV. ATLÂNTICO evoluindo narrativamente, é apenas sugerida. “Na altura não elas olham-se de maneira trabalhávamos as personagens diferente e olham para as outras com a densidade psicológica com diferentemente. Nisso, o nosso que hoje se faz, mas havia um olhar sobre elas também se jogo entre nós que não fugia às altera. O que me interessa nessa temáticas da peça”. exposição é evitar sermos Acolhida com sucesso, a escolha maniqueístas. Seria fácil fazer do do São Luiz prendia-se com um Stanley um vilão. A forma como desejo de Mariana Rey Monteiro de as personagens se expressam, e o “se libertar da mãe”. “Ela sempre modo como podemos condicionar tinha feito papéis de grande 22 SETEMBRO essa ideia, através da acção, é algo dramatismo, mas ali foi uma 19 SETEMBRO ao qual fui particularmente atento. surpresa para muitas pessoas”. COLISEU LISBOA Eu consigo imaginar que há coisas Para a actiz, que pertenceu COLISEU LISBOA com as quais não me revejo na ao elenco fi xo da companhia Blanche e outras no Stanley. O que Rey Colaço–Robles Monteiro, o me interessa, no limite, é o que texto inscrevia-se numa “linha posso retirar daqui”, diz Infante. progressista que Amélia Rey A peça, ao invés de apresentar Colaço desde sempre quisera 6 OUTUBRO uma moralidade, permite que imprimir, mas nem sempre a o julgamento pode ser feito por censura permitiu”. quem assiste. Williams, nessa Foi preciso esperar por 1990 mesma carta a Kazan, pergunta para que a peça voltasse a ser PAV. ATLÂNTICO o que deve o público sentir por apresentada. Com encenação de Blanche: “Piedade, certamente. João Mota, estreou com Manuela É uma tragédia com o objectivo de Freitas como protagonista. clássico de produzir uma catarse Eugénia Vasques, no livro de piedade e terror e, para que comemorativo dos 25 anos da esse objectivo possa ser cumprido, companhia, escreveu que a a Blanche deve ser entendida e entrada em cena desta peça, a par compreendida. Isto sem que se de outros autores anglo-saxónicos, crie um desdém pela vilania de permitiu “testar um estilo de Stanley”. encenação e interpretação que, de O modo como a peça foi sendo maneira mais clara, experimental, vista ao longo das décadas produziu um compromisso (ou dá ideia da multiplicidade de o confronto?) entre um teatro interpretações para essa lógica ritual, pulsional e colectivista, e as de aparente neutralidade. André exigências postas pela dinâmica Previn fez, em 1998, uma ópera individualizada (e até psicologista) a partir do texto, prolongando emergente dos textos escolhidos. a ideia de Williams de que Diogo Infante defende a ideia “Um Eléctrico...” se constituía de que muitas pessoas pensam não a partir de monólogos ou que conhecem a peça pelas solilóquios, “mas de árias, com imagens impressionistas do longos e refl exivos voos de fi lme. Arthur Miller diria que se discurso poético”. Previn diz já estava tudo escrito, “foi quando mesmo que “vários actores que Stanley conheceu o corpo de DIRECTED BY FRANCO DRAGONE se distinguiram em peças de Marlon Brando que fi nalmente Williams falam da musicalidade surgiu”. A intenção do director das palavras e, muitas vezes, do Teatro Nacional está num 13 A 24 DE OUTUBRO entoam em vez de recitarem as regresso aoao primado do palavras”. texto e à exposiçãoe das PAVILHÃO ATLÂNTICO Prolongando essa lógica, já personalidadespersonali dos actores,

este ano, o polaco Krzysztof num gestoge de libertação are trademarks owned by Cirque du Soleil and used under license. UM ESPECTÁCULO INTIMISTA Warlikowski apresentou, do textotex em relação à em Paris, “Un Tramway”, cargacarga simbólica do seu

livremente inspirado no texto legado.lega “Interessa-me Cirque du Soleil cirquedusoleil.com and de Williams e interpretado criarcria um painel de uma OFFICIAL SPONSORS MEDIA PARTNERS por Isabelle Huppert, onde sociedadesoci que não era a música e a forte carga tem necessariamenten Photo: Al Seib Costume: Dominique Lemieux © 2007Saltimbanco Cirque du Soleil imagética do rosto da actriz queue a verver comc a nossa e um conduziam a acção. pretextopretex para mostrar Antes desta encenação no actoresactore em evolução”. BILHETES: FNAC, WORTEN, CTT, EL CORTE INGLÉS, MEDIA MARKT, AGÊNCIA ABEP, D. Maria, “Um Eléctrico...” tevee Tennessee Como,Com no fundo, outras duas apresentações emm Williams pretendiapret Tennessee SALAS DE ESPECTÁCULOS, TICKETLINE 707 234 234 | WWW.TICKETLINE.PT | M/6 Portugal. A primeira, em 1963,3, Williams.Wil

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 13 Isobel Campbell vai estar em Dezem- ros, o de poucas pala- o céu é tão impressionante como Van “Identifico-me mais com fundo em tom suave e borboletas bro no All Tomorrow’s Parties. Este vras e semblante imperturbável, pois Zandt o descreve” – “Ao ouvi-lo, sen- esvoaçando. Com Mark Lanegan, o ano, a etapa britânica do festival tem bem, esse é a Nancy Sinatra dela. timos que há existe algo maior e mais com Lee Hazlewood percurso alterou-se. Prego a fundo como curadores os Belle & Sebastian, importante do que nós próprios”. Mas pela Route 66 e lá os vimos, há alguns e os Belle & Sebastian convidaram a “Americana” nas veias isso é Isobel Campbell enquanto ou- do que com Nancy anos, no palco de um festival portu- sua antiga vocalista, teclista e violon- Isobel Campbell tem a voz que imagi- vinte. Quando fala enquanto música, guês: ele, o cowboy de ganga e botas celista a apresentar ali “Hawk”, o ter- návamos, mas não o tom. Uma voz enquanto criadora das canções de Sinatra. Ela só a condizer, ela com vestido branco e ceiro álbum que gravou com o ame- doce e sussurrada, entrecortada por “Hawk” (que tal como os álbuns an- botas castanhas de pioneira do Velho ricano Mark Lanegan. Isobel Camp- curtos risos guinchados. Mas não há teriores com Lanegan, compôs, pro- cantava, eu sou um Oeste (ou de rainha folk da década de bell, que cantou “Is it wicked not to no seu discurso nada de esfíngico, duziu e orquestrou), é directa e asser- pouco mais complexa. 60). care”, foi a terna, frágil e belíssima nenhuma vontade de se esconder em tiva. “Pode parecer estranho, visto ser “pin-up” da geração indie de 90, antes pausas e de fazer do mistério uma Já tinha uma carreira a solo, en- Estou sempre no uma rapariga da Escócia, mas sou de os Belle & Sebastian terem enve- pose. Sonhadora? Certamente. Quan- quanto Gentle Waves, antes de aban- apaixonada por soul, country e blues. lhecido, antes de ela se ter separado do abordamos Townes Van Zandt, donar os Belle & Sebastian. Depois, estúdio a trabalhar É essa música que me corre nas veias, do vocalista Stuart Murdoch e de ter nome maior da folk americana, herói pôs o seu nome, Isobel, na capa de é essa música que me excita. Não con- abandonado a banda que co-fundara maldito cuja grandeza o mundo reco- um disco, e lançou “Amorino”. Era com os rapazes” sigo evitar ser conduzida até ela quan- em Glasgow. nhecerá um dia, descreve-nos como ainda ela a cumprir as expectativas do componho. O que faço é tentar Quase uma década depois da sepa- descobriu quão especiais são as can- – as do público – quanto à imagem que recriar nas minhas canções as sensa- ração, o Ípsilon entrevista Isobel Cam- ções dele: “Deitada durante semanas projectava. Bastava, de resto, olhar a ções que toda essa música me trans- pbell e, quando a conversa caminha sem fim no Midwest americano, onde capa do disco: a sua face em gravura, mite”, explica. “Hawk”, onde se para o final, os Belle & Sebastian atra- vessam-se no caminho. “Convidaram- nos para tocar num festival”, lança num aparte, sem dar grande impor- tância à coisa. “Foi simpático”, é tudo o que tem a acrescentar, sem vestígios de qualquer tipo de entusiasmo. Na verdade, até pode ser que aquilo – o concerto no All Tomorrow’s Parties – venha a ser um grande aborrecimen- to. “[Como os Belle & Sebastian são os curadores], aquilo vai ser a Escócia em Inglaterra, o que será bizarro. Não gosto nada daquela atitude, ‘bandas escocesas, juntemo-nos’”. Justifica: “A maior parte dos músicos da minha banda são dos EUA ou da Dinamarca. Gosto de abraçar diferentes culturas e nacionalidades. Por isso, veremos como corre o concerto. Espero que não seja aborrecido ter lá tanto esco- cês.” Resposta compreensível e pací- fica, desde que não estejam por perto Sean Connery ou um Mel Gibson eti- lizado a imaginar-se no plateau de “Braveheart”. Mas ouçamos “Hawk”, o terceiro álbum que a reúne ao ex- Mark Lanegan, dono de uma expressiva voz de barítono que se tor- nou bem mais interessante e expres- siva no negrume da carreira a solo do que nas datadas “grungices” dos Tre- es. Isobel Campbell, que colaborou pela primeira vez com Lanegan em 2004, no EP “Time Is Not The Same”, adora a forma como a “voz america- na” dele se liberta “sem esforço”. Iso- bel Campbell, de resto, adora tudo o que é americano, ou melhor, tudo o que é América clássica, a do blues e da country, a do glamour das décadas de 50 e 60, a de Nancy Sinatra can- tando “These boots are made for walking” e a de Lee Hazlewood can- tando o surrealismo pop de “Some velvet morning”. Nos Belle & Sebastian, ela foi a Jean Seberg da música indie - mas isso foi há muito, muito tempo. “Hawk”, o álbum que agora edita, um mosaico de Américas que ofereceu à voz ame- ricana de Lanegan, será o ponto alto da sua segunda vida. Nele, Isobel Campbell já não é a frágil Jean Seberg. A escocesa de voz etérea e olhar enig- mático é Lee Hazlewood. Quanto ao americano de voz grave e traços du- Isobel Campbell ao volante Mark Lanegan é o homem de poucas palavras e Isobel Campbell a rapariga tímida dos Belle & Sebastian. Esta era a história, até que “Hawk”, novo álbum da dupla, veio contar outra. Mário Lopes

14 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon Duos ele e ela teatro Ao longo da história da música, os duos têm sido espaço de encenação, drama em representação.

Os duos têm um lugar respeitável na história da música popular. Porque a Humanidade ainda é a Humanidade, complexa e contraditória, complementar e maravilhosa, os duetos que juntam um homem e uma mulher servem como espelho refl ector de relações banais, amplifi cando desgostos paralisantes e eufóricas palpitações.

Música Por mais impressionante que seja a fusão das vozes de Art Garfunkel Casos e Paul Simon, por mais que os exemplares Everly Brothers nos maravilhassem do par com as suas cristalinas harmonias na história vocais, nunca seria, a uns e outros, da pop: possível atingir o pathos e a tensão a inocência sensual de Serge Gainsbourg e adolescente de Jane Birkin em “Je t’aime (moi Sonny & Cher, non plus)”, o idílio apaixonado a fórmula indie de Johnny e June Cash em dos “Jackson” ou o poder de sugestão She & Him, do erotismo psicadélico de “Some o erotismo velvet morning”, cantado por Lee psicadélico de Patrícia Portela Hazlewood e Nancy Sinatra. Nancy Sinatra O poder de sugestão do par e Lee torna-se ainda mais evidente se Hazlewood, A Colecção Privada excluirmos da equação encontros a tensão sexual ocasionais, como o de Nick Cave de Serge de Acácio Nobre M/12 com Kylie Minogue em “Where Gainsbourg the wild roses grow” ou o de e Jane Freddie Mercury e Montserrat Birkin (excepto dia 13) Caballé no épico “Barcelona”. Por e a explosão 10 a 18 Setembro mais impacto que venham a terer hormonal de terça a sábado 21h30 | domingo 19h00 | 12€ / <30 anos 6€ na memória colectiva, existemm Ike & Tina ali, ligados a uma música e a Turner apresentações no âmbito da rede co-financiado por Os duetos que juntam um homem e uma mulher servemm música como espelho reflector de relações banais uma imagem específi ca, mas não fora delas. Tornam mais difícil efabular. E efabular é grande parte do que faz da pop pop. Não é preciso ser tão radical quanto Lee Hazlewood que, descontente com os primeiros takes de “These boots are made for walking”, terá dito a Nancy Sinatra para “cantar como uma miúda de 16 que fode camionistas” – Nancy respondeu “consigo fazer isso”. A verdade é que, das inocências adolescentes de Sonny & Cher (“I got you babe” e o mundo é bonito assim), a Ike & Tina Turner transformando uma carta de amor, “I’ve been

loving you too long”, original de Rabenau© Kai von Otis Redding, em impressionante explosão hormonal, um duo é um espaço de encenação, um drama em Mark Lanegan representação. anbb: sabia quem Nesse sentido, Isobel Campbell ela era nos e Mark Lanegan são perfeitos Belle & em “Hawk”. Ela da voz frágil e alva noto & Sebastian, discreta, ele do tom grave que se Isobel impõe; ela soprando harmonias Campbell não leves como o ar, ele chegando até blixa bargeld o conhecia dos nós com o peso de uma vida de Screaming excessos e sabedoria. Ela do sorrisoo Trees: confiou beatífi co, sorrindo ao mundo, ele em quem lhe da expressão rígida, desconfi ada. 21 Setembro 22h00 M/6 disse que Ouvi-los os dois, assim reunidos e 15€ / <30 anos 7,50€ aquela era a assim contrastados, transforma as voz americana canções num espaço de intimidadee de que ela a que acedemos – simulado, claro precisava está, mas isso, como sabemos, faz parte do jogo. M.L. www.teatromariamatos.pt

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 15 cruzam orquestrações próximas de Lee Hazlewood, memórias de ve- lhas histórias folk, blues-rock de elec- tricidade exposta e perigo iminente, pode ser visto como a inspirada con- cretização do seu fascínio pela músi- ca americana - soa realmente a obra de alguém que tem aquela música a correr-lhe nas veias. Em estúdio com os rapazes Foi uma união curiosa, a de Mark La- negan a Isobel Campbell. Ela não o conhecia, e até hoje não ouviu uma música que fosse dos Screaming Tre- es – foi Eugene Kelly, dos Vaselines, que lhe disse que a voz de Lanegan era ideal para algumas das suas can- ções. Já ele tinha uma vaga noção de quem ela era, mas conhecê-la não era importante: gostou das canções que ouviu e, pouco depois, propôs-lhe que gravassem um álbum. Lanegan, 45 anos, tem fama de ser homem austero e de poucas palavras, metido consigo mesmo. De Campbell, 34 anos, continua a guardar-se a ima- gem de rapariga tímida com sorriso envergonhado. Tendo isto em pers- pectiva, não impressiona a reacção ao primeiro álbum enquanto duo, “Ballad Of The Broken Seas” (2006). “A bela e o monstro”, titulou-se mun- do fora, comparando-os a Lee Haz- lewood e Nancy Sinatra e colocando Isobel no papel da adorável mulher frágil e Lanegan no de homem duro envolto em escuridão. Estaria tudo muito bem, não se desse o caso de Isobel, a adorável Isobel ser, na reali- dade, quem tudo orquestrou. De cer- ta forma, a escuridão dele era dela, em entrevista à webzine “Popmat- “Pode parecer surpreendem com o facto de ser ela, que escreve as letras e compõe as can- ters”, Campbell dizia isto: “Talvez as a pequena loura escocesa, ex-vocalis- ções. Lanegan é um instrumento nas mulheres que surgem como compo- estranho, visto ser ta dos Belle & Sebastian, o cérebro suas mãos – um óptimo instrumento, sitoras tenham de ser duras. Por ve- por trás dos discos com Mark Lane- diga-se, trabalhado com mestria. zes, temos simplesmente de lutar uma rapariga da gan, mas Isobel tem “mais que fazer”. Assim sendo, não nos deixemos mais”. E disparava “eu tenho tomates, Teve mais que fazer enquanto grava- iludir pela imagem. Logo em 2006, à minha maneira”, para concluir por Escócia, mas sou va “Hawk”. “Trabalhei no álbum al- guns anos e o Mark esteve lá seis ou apaixonada por soul, sete dias a gravar as vozes. O resto do country e blues. tempo estive por minha conta, a pre- parar tudo o que era necessário” Não É essa música que me é queixume. Ela gosta do processo, de se entregar sozinha à moldagem corre nas veias, é essa das canções. E continua a ter muito que fazer agora. Está a terminar um música que me excita” álbum a editar proximamente com a cantora folk americana Victoria Williams, cronista do Sul: “É das pes- soas mais incríveis com que já cola- fim: “Estão sempre a escrever sobre borei. É tão bom trabalhar com uma eu ser muito querida. Nunca escreve- mulher, principalmente depois de ter PRÉMIO LUSO-ESPANHOL riam isso sobre um homem”. gravado com tantos homens. Dá-me Quatro anos depois, quando a algum equilíbrio”, sorri. DE ARTE E CULTURA “Ballad Of The Broken Seas” já suce- Depois disso, talvez se entregue a deu “Sunday At Devil Dirt” (2008), um sonho antigo. “Gostava de procu- quando depois desse chega “Hawk”, rar vocalistas para gravar um álbum ainda falamos de Hazlewood e Sinatra soul, um álbum soul a sério. Sou gran- Apresentação de Candidaturas – é inevitável. Ela separa as águas: de fã da Betty Lavette e sei que há “Identifico-me mais com Lee Haz- mais cantoras como ela à espera de lewood do que com Nancy Sinatra. A serem trabalhadas.” Nancy Sinatra só cantava, eu sou um Isobel, claro, sabe como fazê-lo. O Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais pouco mais complexa. Estou sempre “Quero compor as canções e pô-las no estúdio a trabalhar com os rapa- em estúdio. Sentir-me-ia no céu”. A do Ministério da Cultura informa que decorre até ao dia 8 de Outubro de 2010 zes.” Fica por aqui. Não vale a pena pequena escocesa ao volante, a co- o prazo para apresentação de candidaturas à 3.ª Edição do Prémio Luso- repisar um assunto que já devia estar mandar as operações. Não precisa de resolvido na cabeça de toda a gente. um bigode imponente como o de Lee Espanhol de Arte e Cultura. Ainda se irrita quando alguns se Hazlewood. As candidaturas devem ser instruídas com todos os elementos que permitam a sua apreciação de acordo com o Regulamento do Prémio, disponível para consulta em www.gpeari.pt

As candidaturas devem ser enviadas por via electrónica para [email protected] ou, não sendo possível, ser entregues no Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais, cujos contactos são:

Av. Conselheiro Fernando de Sousa, 21 A 1070-072 Lisboa Telefone: 213241930

16 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon venha visitar-nos!

Marque a sua visita guiada: [email protected]

Horário: 10.00-18.00 Sexta-feira: 10.00-22.00 Entrada gratuita.: 18.00-22.00 Encerra à segunda-feira

Av. Brasília, Doca de Alcântara (Norte) | Tel.: 213 585 200 | E-mail: [email protected] | www.museudooriente.pt

Seminário de Gestão Cultural por Michael M. Kaiser Presidente do Kennedy Center for the Performing Arts de Washington DC, EUA

Michael M. Kaiser, referência mundial na área da Gestão Cultural, apresentará Uma iniciativa do: no dia 14 de Setembro em Lisboa, um Seminário sobre temas desta disciplina, discutindo práticas correntes nos EUA e formas como as mesmas poderão ser relevantes para as organizações culturais portuguesas:

• Planeamento Estratégico 14 de Setembro de 2010 • Marketing Programático e Institucional 09h00 às 13h30 • Angariação de Fundos • Planeamento Artístico Centro Cultural de Belém Na abertura do seminário estará presente Sua Excelência a Ministra da Cultura.

Seminário leccionado em inglês. Inscrição gratuita, até 7 de Setembro, sujeita a lotação da sala, em www.portaldacultura.gov.pt

Organização Apoio Parceria

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 17 Gayngs Nenhum prazer é culpado Uma canção de 1975 inspira alguma da melhor música de 2010. Mais do que um disco dos Gayngs, “Relayted” é uma carta de amor a “I’m not in love”, o clássico dos 10cc. Pedro Rios

A melhor canção de 2010 é de Ariel Pink, candidato a disco pop do maram-lhe “chillwave”, o último “Vai ficar tudo bem. Compro cigarros 1975? ano, denunciava uma paixão assola- grande micro-género da música in- como um profissional”). Está ainda Há meses, nas páginas do Ípsilon, pada pela matéria 10cc-iana. Não é dependente. a tentar compreender o impacto cau- Noah Lennox (Panda Bear, Animal uma matéria qualquer, dizia, em Ju- A melhor canção de 2010 não é sado por “Relayted”, originalmente Collective) tecia loas a “I’m not in lho, Daniel Lopatin (Oneohtrix Point obviamente “I’m not in love” (per- uma brincadeira de amigos. O “Guar- love”, o clássico dos ingleses 10cc, Never) à revista “Wire”: é “uma doem-nos a hipérbole absurda da dian” escreveu que era o “álbum do gravado em 1975. “Adoro a produção obra-prima”, com uma produção introdução, inspirada pelo “Guar- ano até agora” e o “New Musical Ex- das vozes em fundo, parecem ‘sam- “totalmente sonhadora” que, a es- dian”, que a considerou a canção press” considerou os Gayngs uma das ples’”, dizia. Prazer culpado? Esque- paços, põe as vozes a soar como sin- mais influente deste ano), mas é di- 50 melhores novas bandas de 2010. çam: “Sou contra o conceito de pra- tetizadores. fícil não reconhecer que os tempos De volta a “I’m not in love”. “A ra- zer culpado, sou contra gostar de De 2009 para cá, uma enxurrada estão de feição para o clássico radio- zão por que estou interessado nela uma coisa por qualquer outra razão de músicos de quarto, munidos de fónico, cujo mero elogio consistiria, é o facto de a estrutura da canção

Música que não dar-te prazer ouvi-la”. computador e “samplers”, também noutros tempos, num pecado indie ser completamente louca. Demora Meses depois, “Round and round”, se têm entretido a explorar as águas - o que é uma pena. quatro minutos até aparecer a ponte tema do espantoso “Before cálidas do soft rock (os 10cc, mas E se ainda faltassem sinais, basta- [interlúdio que liga duas partes de Today” de também Hall & Oates, Steely Dan, ria olhar para isto: 2010 deu-nos um uma canção], um intervalo de minu- alguns discos dos Fleetwood Mac e disco inteiramente concebido sob o to e meio mandado para o espaço, outros álbuns da discoteca dos signo de “I’m not in love”. Chama-se as vozes entram depois. É tão pouco pais), fazendo passar as qualida- “Relayted” e envolveu uma pequena ortodoxo, funciona tão bem”, expli- des etéreas de “I’m not in love” constelação indie - 25 músicos - de- ca Olson, que é produtor e toca nos por uma nuvem de baixo do nome Gayngs. No Myspace Building Better Bombs e Digitata. reverberação. Cha- do grupo, na secção “Sounds Like” Com estas ideias na cabeça, Olson (em português: “soa a”), lê-se ape- deu início à empreitada. Chamou Za- nas: “10cc’s ‘I’m Not In Love’” (uma ch Coulter e Adam Hurlburt, dos So- mentira, mas já lá vamos). lid Gold, que o ajudaram a escrever as bases das canções no seu aparta- Noah Lennox, Sem ponta de cinismo mento. Seguiram depois para estú- Ariel Pink e “É estranho que tantas pessoas este- dio, no Wisconsin, com um corre- Oneohtrix jam a referir esta canção. Não faço corre de músicos, oriundos de grupos Point Never ideia do que tudo isto significa. É uma como os Lookbook, Leisure Birds, primeiro, os boa canção, uma canção maravilho- Rhymesayers (o “rapper” POS, trans- Gayngs sa. Mas não faço ideia do que se pas- formado em “crooner” romântico em agora: de sa, é bizarro”, diz Ryan Olson, a rir- “No sweat”), Rosebuds e Bon Iver repente, se, ao telefone com o Ípsilon a partir (sim, Justin Vernon, rapaz da folk, toda a gente das ruas de Minneapolis, nos Estados rendeu-se a “I’m not in love”). anda atrás Unidos. O mentor dos Gayngs é um “Não estava a tentar fazer uma dos 10cc rapaz bem disposto (queixamo-nos banda de 25 pessoas. Nem é uma do ruído e ele diz-nos, cripticamente: banda, sequer. Foi um projecto de

18 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon Os Gayngs são 25 músicos (“rappers” como POS, rapazes da folk como Bon Iver) sob a infl uência dos 10cc estúdio”, prossegue Olson. “Só que- tos num programa informático de “A ideia não foi fazer para que toda a banda soasse incrí- nais de aprovação. O primeiro veio ria fazer música numa certa onda. É criação musical; nos anos 70, fechou vel...”, aponta. de Kevin Godley, um dos 10cc, que geralmente assim que faço discos: a banda em estúdio durante três se- um álbum para foder, A única regra imposta foi - aí, sim - pediu para entrar no teledisco de trago pessoas à minha casa. Desta manas a gravar vozes). uma piada. Todas as canções de “Re- “Cry” (versão dos Godley & Creme, vez trouxe mais gente”. Apesar da “Relayted” está longe de ser uma mas acho que layted” têm as mesmas batidas por um projecto de dois 10cc), depois de dimensão, os Gayngs não são uma piada, e Ryan Olson garante que não minuto: o curioso número 69. A refe- ter considerado o tratamento que os rebaldaria. “Toda a gente pôde dar há ponta de cinismo ou de jogo iró- [Relayted] se rência não é inocente, ou não fossem Gayngs fizeram à canção “assombra- os seus dois cêntimos, mas eu é que nico no disco (a excepção, reconhece, estas canções verdadeiros monumen- do”. O segundo foi mais inesperado decidi onde os gastar”, diz. Pedaços é “Last prom on Earth”, dona das li- transformou nisso, tos à libido. Ryan explica: “A ideia não e veio de Prince, que protagonizou de horas e horas de gravações (mui- nhas de sintetizador mais pirosas e a julgar pelo que ouvi foi fazer um álbum para foder, mas uma misteriosa aparição na parte tos sintetizadores, um ou outro solo divertidas de 2010). Na linha do que acho que se transformou nisso, a jul- lateral do palco durante um concer- de saxofone, essa suposta heresia, e Noah Lennox disse ao Ípsilon, os nas mensagens com gar pelo que ouvi nas mensagens com to do grupo em Minneapolis. “Ele cânticos de veludo, tudo coisas que Gayngs recusam a ideia de prazer cul- demasiada informação que tenho re- estava a tocar guitarra, mas não es- os 25 Gayngs não podem fazer nas pado. Nenhum prazer é culpado. demasiada cebido”. Terá “I’m not in love” as mes- tava ligada. Fui falar com ele e per- suas bandas originais sob pena de mas batidas por minuto? “Acho que guntei se queria tocar. Ele disse que serem olhados de soslaio) foram de- 69 batidas por minuto informação que tenho não. Ainda não vi isso, é uma coisa sim, expliquei-lhe que havia uma pois editados e seleccionados por Para um produtor, como Olson, “é que devia saber [risos]. Deve estar pausa na última canção e que ele Olson - o estúdio foi um instrumen- muito interessante” e “inspirador recebido” perto. Estou curioso, acho que podia entrar. Mas quando começá- to, arte que os 10cc levaram a níveis perceber o quão longe eles [os 10cc] Ryan Olson vou ver isso agora”. mos a ultima canção ele desapare- impensáveis até então. foram na altura”. Mas “Relayted” é Para além das mensa- ceu”, conta. É fácil qualificar o objectivo inicial também reflexo da evolução tecno- gens dos fãs, os Gayngs “Relayted” não é um ponto final de “Relayted”, fazer um disco inspi- lógica. “Não foi como se tivéssemos receberam já dois si- na vida dos Gayngs. “Planeamos fa- rado por “I’m not in love”, como que gravar 256 vozes; tenho um efei- zer um novo disco, mas vai demorar uma piada. Durante décadas, o punk to de teclado [que faz o mesmo]”, algum tempo, não deve acontecer e a posterior “intelligentsia” indie exemplifica. Para além da aura soft nos próximos anos”, revela. Enquan- baniram o “magnum opus” dos 10cc rock, há também piscadelas de olho to isso não anda, a banda prepara-se do grupo de canções que é desejável à contemporaneidade r&b (o omni- para lançar uma versão de “One mo- ouvir. Mas em 1975, quando foi lan- presente “auto-tune” também faz re try”, de George Michael, um es- çado, foi uma verdadeira revolução aqui uma perninha) e à soul de um pectro que habita várias canções de e permanece até hoje um objecto D’Angelo, como que se os Gayngs “Relayted”, e algumas remisturas. O fascinante, a meio caminho entre a explorassem o fio condutor de uma monumento meloso do ex-Wham! pop declarada e a experimentação. certa pop baladeira e romântica. pode muito bem ser o ponto de par- A canção assenta em 256 (sim, 256) “Estou interessado em várias eras tida para um segundo álbum. “É al- camadas de vozes guardadas em “lo- de estúdio. Inspiro-me em produto- go que quero fazer há sete anos: GRAHAM TOLBERT ops” de fita analógica, que a mesa res dos anos 50 e 40. Aqueles rapa- Ryan Olson, o cérebro por trás da prestar um grande tributo a George de mistura do estúdio transformou zes tinham de fazer coisas loucas operação de reanimação de “I’m not in Michael”. numa massa etérea (hoje, obter o para chegar a um som. A forma co- love”, e da transformação do clássico de efeito exige apenas uns cinco minu- mo usavam apenas um microfone 1975 num dos acontecimentos de 2010 Ver crítica de discos na pág. 39 e segs.

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 19 1. E depois do prémio já vivem da escrita. Mas muitos fazem- um frustrado que passa o dia fechado escrevem nada. Os livros não servem a ser contada. Para mim, escrita é pu- “O Bom Inverno” é o quarto romance no profissionalmente de uma maneira em casa”. Está a um passo de sair da para nos vingarmos do mundo, muito ro trabalho, puro ofício. Estar ali, todos de João Tordo, 35 anos, e o primeiro que não quero fazer. Há uma profissão realidade, diz Tordo, sobretudo quan- menos para sermos famosos ou para os dias, horas e horas, até as coisas sa- MIGUEL MANSOMIGUEL após o Prémio José Saramago, que de escritor que é ir a todas as conferên- do sofre um acidente e se magoa na ganharmos fortunas. írem bem. venceu em 2009, com “As Três Vi- cias, a todos os debates, aceitar todos perna. Ciente de que irá coxear para Complementando a sua própria Quando um livro não parte desse das”. os convites que lhe são feitos. É um gé- o resto dos seus dias (apesar de as ra- opinião, o autor escreve no livro: “Co- lugar honesto, é aí que um escritor se Se ganhas um prémio, há um boca- nero de viver da escrita para o qual não diografias e os médicos lhe dizerem mo quase sempre acontece a quem pode transformar num cobarde e dinho aquela tendência para que o pró- tenho disponibilidade mental: passar que não há nada de errado com a per- toma este género de decisões, escre- num mentiroso. ximo livro seja uma coisa semelhante, o ano a viajar, em Portugal ou para fo- na), compra uma bengala Rosewood, vi muito pouco mas bebi imenso en- É quando te começas a levar muito que estejas à altura do romance ante- ra, passar o ano no aeroporto, a falar em mogno castanho. E se antes este quanto falava de páginas que só exis- a sério, quando não tens pingo de auto- rior. Eu quis fazer precisamente o con- de mim próprio em debates e conferên- narrador era um “pessimista, depois tiam na minha imaginação.” ironia, de te olhares ao espelho e de te trário, ou seja, uma coisa que não ti- cias... Confesso que não é a minha on- de comprar a bengala pass[ou] a ser Para Tordo, um livro tem de partir rires um bocadinho do que és e do que vesse nada a ver, com excepção do fac- da. Por isso, faço tradução, pouco guio- um cínico”: uma espécie de Dr. Hou- de um lugar honesto porque os leito- fazes. Isto tem o seu lado cómico: é inu- to de haver algumas personagens que nismo, e quero manter uma regulari- se dos livros. res percebem se um escritor está a sitado pensar que pões palavras nas saltam do romance anterior para este. dade de publicação de livros, de 18 em Ele julga que pode apropriar-se de escrever para si próprio, para o seu páginas e que as pessoas pagam para Mas isso é uma coisa que faço em todos 18 meses. Até ao ponto em que tenha novo do mundo, da realidade, escre- ego, se acredita no que escreve ou se as ler. Quando pensas nisso a sério, pa- os livros. livros suficientes no mercado para viver vendo uma obra magnífica, que o fará tem outros propósitos. O leitor sabe. rece um pouco extravagante. Claro que Dito isto, os livros de João Tordo dos direitos. vingar-se. A partir do momento em que E esse lugar honesto não tem nada de tem o seu valor, mas não podemos dei- podem ser lidos independentemente usas a escrita para te vingares do mun- místico. xar-nos levar pela sensação de que so- uns dos outros, não são sequelas. As 3. O livro é um lugar honesto do, acontece-te isto. Chegas ao ponto Não quer dizer que quando se escre- mos mais importantes do que os ou- personagens vêm do seu “mundo fic- O narrador de “O Bom Inverno” não em que não escreves mas falas sobre ve se tenha de estar num lugar puro da tros. cional” – já vamos falar dele. Antes, passa a vida em conferências, mas escrever. A procrastinação de que falo alma. Não acredito nada nessas coisas, E João Tordo não tem medo que é preciso dizer que “O Bom Inverno” promete escrever o livro que o vinga- ao longo do livro aconteceu com muitas sou um escritor muito anglo-saxónico, isso lhe aconteça: “Tenho uma auto- é a história de um escritor frustrado rá do mundo e do ostracismo a que pessoas que almejavam tornar-se escri- dou primazia à narrativa, às persona- ironia fortíssima, sou muito crítico de e hipocondríaco que relutantemente este o votou. É “cínico, sarcástico e tores, que falam sobre isso mas não gens, aos diálogos e à história que está mim próprio e tenho sentido de hu- aceita um convite para participar num encontro literário em Budapeste, on- de conhece um escritor italiano, Vi- cenzo, que o convence a ir até Sabau- dia, em Itália, à casa do famoso pro- dutor de cinema Don Metzger. Até que Metzger é encontrado morto no seu próprio lago. 2. Profi ssão: escritor No princípio de “O Bom Inverno”, há um escritor que “já vivia do subsídio de desemprego havia seis meses”. Que, embora sendo escritor, “não acreditava na literatura”. E que assim entrou “numa espécie de marasmo criativo e sentimental”, lê-se no li- vro. Este narrador representa aquilo de que todos os escritores têm medo, aque- la situação em que, quando se é escri- tor, quando se pensa que é escritor, quando se escreve com o puro intuito de se escrever, quando se escreve para almejar outra coisa que não seja a es- crita, ou seja, o sucesso, facilmente acontece o que aconteceu com este nar- rador. Ele claramente não gosta da pessoa que é, não gosta de ser escritor, e não gosta de escritores. Chama-lhes cobardes e mentirosos; serve como de- núncia da pessoa que se quer fazer pas- sar por isto: ser escritor. Este escritor tornou-se um “assal- tante profissional” e, além de escrever romances, foi “jornalista, revisor, tra- dutor, criativo numa agência de pu- blicidade, escrev[eu] prefácios e pos- fácios de livros, discursos de político de segunda”, entre outras coisas que um escritor profissional tem de fazer para viver da escrita e não ter uma profissão paralela. João Tordo “ainda não é” um escritor profissional, ainda não vive da escrita. Noutro país, não seria assim. Noutro país com outra dimensão, como a Inglaterra ou os Estados Uni- dos, com quatro romances já estaria a viver da escrita. [Em Portugal], com 10 milhões de pessoas, evidentemente isso João Tordo transportou para “O Bom Inverno” não só a sua voz, não acontece. Há escritores que têm a como todo o seu mundo fi ccional, povoado por personagens tão minha idade ou pouco mais e, de facto, reais que fazem coisas inesperadas, até para o próprio autor O cerco de Joã O vencedor do Prémio José Saramago 2009 falou com o Ípsilon sobre o seu novo em direcção ao inferno numa casa perdida num bosque em Itália. Não há aqui toda a gente se vai odiar e trair até não haver ninguém, nem mesmo um

20 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon mor acerca disto. Levo os meus livros “A partir do momento narrador, as personagens principais a sério, mas não me levo a mim mui- (e, por acaso, algumas são pessoas to a sério.” em que usas a escrita que existem, de facto), o enredo até Se no princípio de “O Bom Inver- à chegada a Sabaudia. A partir daí, no” há um narrador frustrado, que já tanto o escritor como o seu protago-

para te vingares do silva!designers não acredita nos livros e acha que se nista e as suas dezenas de persona- vai vingar do mundo, no final, pelo mundo, acontece-te gens embarcam naquela aventura que contrário, ele é obrigado a “imaginar terá consequências trágicas – pelo SÃO pelas suas próprias palavras o fim da- isto. Chegas ao ponto menos, para alguns. À partida, o es- quela história”. Há a viagem física de em que não escreves critor não sabia quase nada sobre o Lisboa para Budapeste para Sabaudia seu livro. para um balão dali para fora; há a via- mas falas sobre Só sabia que, às tantas, ia ter 12 ou LUIZ gem para um reencontro com esse 13 personagens naquela experiência lugar honesto do escritor. “Uma via- escrever. Os livros de cerco, ia conduzi-las àquela situa- gem de alguém que não acredita no ção limite, em que estão enclausuradas ~ poder das palavras e no fim é obriga- não servem para nos naquela casa, naquele bosque. Algu- 1O 11 do a usá-lo para viver. Foi essa a me- mas [personagens] são mais superfi- Set 2010 a Jul 2011 táfora que, não intencionalmente, vingarmos do mundo, ciais, outras mais profundas; algumas quis pôr neste romance.” muito menos para mais engraçadas, outras mais trági- cas. Mas são todas personagens a 4. O mundo tordiano sermos famosos ou quem que eu quis ver o que acontecia. um teatro diverso, “O Bom Inverno” é um “estudo de Também foi uma aventura para mim, envolvente personagens”, diz João Tordo. Isso para ganharmos porque não fazia ideia do que lhes ia aconteceu porque só parte da estru- acontecer. e apaixonante tura estava conjecturada – a voz do fortunas” João Tordo esticou a corda das suas personagens até ao limite. Ao ponto de recorrer uma vez mais ao seu “mundo ficcional” e buscar Nina Mi- lhouse Pascal, que em “As Três Vidas” era uma criança e em “O Bom Inver- no” tem pouco mais de 40 anos. Ex- plica Tordo que, uma vez “tendo este mundo ficcional à disposição, é mui- to difícil não o usar”. Nina já estava “a viver” com Tordo há alguns anos (este “mundo ficcional” são pessoas que vão vivendo com o autor). Mas, se calhar, ela começou a ocupar mui- to espaço: já tinha entrado em três romances. “Neste entrou quase que involuntariamente da minha parte: estava a escrever o livro e não sabia que ela ia entrar e, de repente, era óbvio que ela tinha de estar ali. Já es- tava na altura de lhe fazer uma espé- cie de elegia”. O “mundo ficcional” tordiano fun- ciona assim. Não é Tordo que recorre a esse mundo: “Ele é que me recorre a mim”. As personagens estão lá nu- ma espécie de limbo até Tordo come- çar um livro e, de repente, aparecem. Para o autor, “é óbvio” que eram elas que tinham de estar ali. Talvez por Artistas Unidos isso saltem de uns livros para os ou- Noites Ruminantes tros. Talvez por isso, então, Tordo Clube da Palavra escreva no final do livro: “Nunca mais Ana Brandão e João Paulo Esteves da Silva tornei a ver Elsa Gorski [uma perso- Paula Morelenbaum nagem da casa de Sabaudia]. Embora Amor Solúvel tenha a certeza de que, um dia destes, nos voltaremos a encontrar.” Clara Andermatt e Marco Martins Desde que comecei isto, não quis Festival Temps D’Images escrever só livros. Quis construir um Encontros Dramaturgia Contemporânea mundo ficcional no qual me sentisse Grupo Fernando Pessoa completamente à vontade e no qual Gala Noite dos Travestis as personagens fossem muito reais Lisboa Mistura para mim. E que fossem tão reais [ao InShadow ponto de], neste romance, ainda que InArte pareça um cliché ou uma mistificação, Celeste Rodrigues elas fazerem coisas de que não estava A Lenda de São Julião Hospitaleiro à espera. [...] Não sei de onde vêm cer- tas ideias ou certas opções que as per- A Hora de Viktor Ullmann sonagens às vezes tomam. São ideias Ricardo Pais que me surgem, não sei de onde me Camané surgem, mas tem a ver com a criação Carlos do Carmo desse mundo ficcional, desde o primei- Ciclo de Teatro do Porto ro romance. No começo podia ser um Cristina Branco

Livros mundo ficcional frágil, mas, com o 9ª Festa do Jazz do São Luiz Jacinto Lucas Pires e Carlos Martins O Jogador Ciclo Novos x9 Festival para um instrumento Viva o Povo Brasileiro O São Luiz no Festival de Almada

tudo sobre a nova temporada em www.teatrosaoluiz.pt siga-nos também no twitter e no facebook oão Tordo 2010~2011 A Temporada Municipal Teatro do São Luiz Alto Hotel tem o apoio do Bairro o romance, “O Bom Inverno”, uma espiral descendente SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOA á saída, diz o escritor, nem mesmo para a literatura: [email protected]; TEL: 213 257 640 m narrador, a sobreviver para contar. Raquel Ribeiro

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 21 passar do tempo e dos livros, vai-se tornando mais sólido.

5. Da natureza do mal MANSOMIGUEL No novo romance de João Tordo há mais do que um crime. No início, um narrador (o tal Dr. House dos livros) de mal com o mundo vai a Budapeste e aí encontra Vicenzo, um escritor italiano, acompanhado da sua agente, Nina, e da sua namorada, Olivia. Vin- cenzo é jovem, louco e audaz e con- vence o narrador a “arrastar” a sua bengala de Budapeste para passar o “bom Inverno” na espectacular casa do produtor de cinema Don Metzger em Sabaudia, no Lácio italiano. Na casa de Metzger encontram Bos- co, um artista catalão que constrói balões e depois os faz voar (criatura gigantesca, careca e de quem todos parecem ter medo), com o seu assis- tente Alipio, e a sua mulher cozinhei- ra; e também encontram Roger, um realizador de filmes porno, Stella, a sua mulher e actriz-musa, e os actores da rodagem de um filme. Entre eles está Elsa Gorski: ela mesma, a famosa actriz “em quem era difícil não repa- rar”. Quando Metzger é encontrado morto, Bosco toma conta da situação e cerca todas as personagens até elas confessarem quem cometeu o odioso crime. Outros crimes serão cometidos até a verdade ser encontrada – se é que a verdade existe. Ao contrário dos balões que se ele- vam no ar dando conta da leveza efé- mera da obra de arte, “O Bom Inver- no” é uma espiral descendente em direcção ao inferno de um cerco, de Tordo não quis repetir a fórmula com que ganhou uma clausura numa casa perdida na o Prémio José Saramago : quis fazer exactamente uma clareira de um bosque. Não há saída. coisa que não tivesse nada a ver com “As Três Vidas” O mal confunde-se com a justiça, a “Há uma profissão gótico, opressor, de calafrio, que vem verdade com a mentira. Aquelas per- das influências do escritor (Poe, es- sonagens vão odiar-se, trair-se e de- de escritor que é ir a critores vitorianos do século XIX, nunciar-se até não restar ninguém Dostoiévski, Kafka, Kurt Hanson), para contar a história. todas as conferências, tornam-se capazes de fazer o mal pe- São todos culpados. Não se sabe lo bem. É esta a natureza do mal? quem mata o Don Metzger porque é a todos os debates (...). Não são impulsionadas pela malda- uma solução que não me interessa. Isso de, mas estão obcecadas com um certo seria escrever um policial e eu não es- É um género de viver objectivo. Não sei dizer o que é o mal, crevo policiais, até porque um policial da escrita para o qual mas acho que nos meus livros há sem- tinha de ter polícias e aqui não os há. pre personagens que não são exacta- Interessa-me que estes elementos do não tenho mente más, mas também não são exac- policial e do mistério sejam integrados tamente boas. [...] Não gosto de perso- numa ficção que não tenha necessaria- disponibilidade nagens que sejam más por natureza, mente esses rótulos. Nesse sentido, porque isso torna-as unidimensionais. aquele crime serve apenas para despo- mental” O Bosco é tudo menos isso: ao mesmo letar a história. tempo que pode ser um assassino, tam- Assim enclausuradas entre quartos bém é um filósofo de pacotilha. [...] Não e corredores, no meio da clareira no acho que qualquer destas personagens bosque, estas personagens que à par- faça o mal pelo mal. Acho que têm ca- tida pareciam seguras tornam-se frá- minhos muito definidos e fazem-no por geis, expostas ao horror da luta pela seriam despedidas, acossadas, presas, uma questão de sobrevivência. É uma sobrevivência. Do que o leitor não humilhadas, desprezadas, e que em amoralidade completa do mal. estava à espera era que o narrador ficção são as que mais gostamos de ver. As personagens estão neste círculo inicial (hipocondríaco, lembram-se?) Apesar das suas falhas iniciais e dos vicioso, sem saída. E não há ninguém se tornasse agora no elemento mais defeitos que têm, continuam a ser fas- que as julgue, explica Tordo. Nem forte da narrativa. É essa a ironia da cinantes. Um tipo pode ser pérfido e polícia, nem deus. ficção: um tipo débil no mundo real, cruel e ser fascinante à mesma. atirado para dentro de um livro, tor- Como o Dr. House, por exemplo, Ver crítica de livros na pág. 30 e segs. na-se um herói. Estas são as persona- ou o Sherlock Holmes (outro exem- gens preferidas de Tordo. plo, de Tordo). Depois, estes “loo- O Ípsilon agradece ao Hotel Tivoli Personagens imensamente falhadas sers”, falhados, são jogados para den- Lisboa a cedência do espaço para as que nesta vida, a que chamamos real, tro do texto e, num ambiente escuro, fotografias

22 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon T / 12 SE 12 AGO LISBOA NA RUA COM’OUT LISBON A LIVRE ENTRAD MANA ESTA SE

EXTA E REAL ET S RÍNCIP 3 S M DO P JARDI 19H / ZZ OUT JA UES / RG RODRIG SA MÁLIA RDIM A I 2H / JA RDO VI 2 E EDUA PARQU RUA AS NA FIT XTRA SSÃO E RIA SE HISTÓ IRRA FADO – NTADE MA CA E U IROGA D ÃO QUE PERDIG

ÁBADO ET S STRELA 4 S M DA E ÇÃO JARDI ONVIC 19H / COM C SOLOS SÓS AGEM) HOMEN MA E (U S NDLAN FIA FITA DO MO SO EDUAR PRAÇA ADO) 22H / COND RO DO (BAIR A RUA O FITAS N UADR A DE C UER JEIRA F LARAN 18 SET MÁRCIO RETO, ATO P O SÁB 18:00 SALA SUGGIA | € 10 G ANC ÁUSTRIA 2010 ATO BR G ICA PETER RUNDEL direcção musical KUSTUR EMIR WOLFGANG MITTERER órgão e electrónica

Anton Bruckner (arr. H. Eisler/K. INGO DOM Rankl/E. Stein) Sinfonia nº 7 (1º e 2º ET CARMO 5 S O DO andamentos) / LARG A RUA 19H ICOS N TAIS Georg Friedrich Haas Remix (encomenda CLÁSS E ME TETO D A conjunta da Casa da Música e QUIN OLITAN Klangforum Wien) OP ES / Wolfgang Mitterer The Church of ETR DRIGU DA M LIA RO Bruckner (estreia mundial; encomenda IM AMÁ / JARD VII da Casa da Música) 22H UARDO QUE ED PAR A RUA No âmbito do ano Áustria, o Remix FITAS N ATOS apresenta dois andamentos da mais RETR célebre sinfonia de Bruckner e estreia OMEM LUÍSA H VÃ uma encomenda ao destacado compositor N OU A DAR austríaco Wolfgang Mitterer, para NO DE MAN quem Bruckner é uma forte influência. ÓRIA IRA Completa o programa uma obra escrita GL OLIVE para o Remix Ensemble Casa da Música OEL DE MAN pelo austríaco Georg Friedrich Haas.

Jantar + Concerto | € 25 www.casadamusica.com | www.casadamusica.tv T 220 120

ORGANIZAÇÃO

MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA

PARCEIROS PATROCINADORES PARCEIROS MEDIA

APOIOS

INVESFER TODA A PROGRAMAÇÃO EM WWW.EGEAC.PT SEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE DUPLO PARA silva!designers BRUCKNER REVISITADO. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES. Christophe Honoré entre as mulheres “Não Minha Filha, Tu Não Vais Dançar” é o “fi lme feminino” que Christophe Honoré escreveu para Chiara Mastroianni. Ao Ípsilon, o cineasta fala de mulheres, das famílias do cinema francês e do escândalo “Homme au Bain”, que acaba de chocar Locarno. Francisco Valente

Depois de uma trilogia marcada pela acaba por ser “a rebelde” é Léna. A que se encontram na mesma situa- que, a partirpartir dodo momento em qqueue se presença de Paris na vida de diferen- ideia é mostrar que esta liberdade tem ção. tornamm mães, sentem que cchegaramhegaram tes gerações (“Em Paris”, “As Canções um preço. A sociedade sempre fez Apesar de este não ser um “filme à grandede realizarealizaçãoção das suas vidas, de Amor” e “La Belle Personne”), pagar caro às mulheres que quiseram social”, existe um sentimento embora,ra, “a priori”, não existam rara-- Christophe Honoré regressou à sua ultrapassar os seus papéis de mães e de deslocação em Léna zões, hojehoje em dia, para que se sintam nativa Bretanha para realizar “Não de esposas. Numa sociedade moderna relativamente ao seu papel... unicamentemente realizadasrealizadas pepelala materni-materni- Minha Filha, Tu Não Vais Dançar”, em que se fala da igualdade entre os Sim. Não faço, de todo, um cinema dade. CComoomo não me interessava retra- filme que o cineasta francês escreveu sexos como um dado garantido, uma “sociológico”, mas interessa-me sem- tar apenasnas uma vítima, trabalhei muimui-- para colocar Chiara Mastroianni num mulher que decide deixar o seu ma- pre apanhar o “ar do tempo”. Sinto to comm Chiara Mastroianni pparaara o filfil-- papel principal e que se revelou o seu rido e levar os seus filhos com ela ain- que estamos a dar alguns passos atrás, me nãoo estar sempre do seu lado. A maior sucesso comercial até à data. da é vista como uma marginal. vejo que pessoas como a minha mãe sua personagemrsonagem também é insupor- A essa actriz-fétiche, Honoré juntou Simon, a personagem de Louis eram muito mais livres nos anos 70 tável, nãonão é amáveamável,l, não lhelhe damosdamos aqui, num gesto característico da sua Garrel, diz a Léna: “A tua do que agora. Existe um lado retró- sempree razão.razão. Interessava-me mostrar Depois dos obra, actores de diferentes heranças vida será aquilo a que estarás grado e reaccionário na nossa socie- que a liberdadeberdade ppassaassa também pporor um filmes que fez do cinema francês, prolongando um pronta a renunciar”. É preciso dade que recai sobre as mulheres. Não comportamentoortamento que incomodaincomoda.. em Paris, e estudo que tem vindo a assumir-se renunciar a alguns sentimentos se trata de uma pressão exclusivamen- É inevitávelvitável a comparacomparaçãoção sobretudo como um dos pontos centrais da sua para viver em liberdade? te masculina, é algo que elas próprias constanteante eentrentre as ttrêsrês mmães.ães. AAss com homens, carreira. No filme que agora se estreia A personagem de Louis Garrel, que é reivindicam. Vemos muitas mulheres suas conversasonversas são ddiscussõesiscussões Honoré quis em Portugal, Honoré mostra-nos o mais jovem do que as outras, acaba violentasntas sobre o ppapelapel de cada realizar um universo feminino de uma família de por ter um sentido moral algo estra- uma. O sentimento de culculpapa filme de três mães (Mastroianni, Marina Foïs nho. Diz que por ela ter deixado o maternalnal é cconstanteonstante nnoo seseuu mulheres, e Marie-Christine Barrault) e as suas marido terá de renunciar a outras coi- “Muitas mulheres da filme. passado na relações com homens e filhos, expon- sas, que o preço a pagar será deixar A culpaa associaassociadada ao ppapelapel ddee mãe província (a do a luta pela sobrevivência de Léna os seus filhos. Existe muito a ideia de minha idade torna-sese semsemprepre o seu cacalcanharlcanhar dede Bretanha, de (Mastroianni), mãe solteira que sufo- que uma mulher que ambiciona esca- divorciam-se e [os] Aquiles.s. Existem poucaspoucas mulheres onde vem) ca por um reconhecimento do seu par ao seu papel de mãe e de esposa que nãoo comecomeçamçam a sentir essa culpa papel familiar e social. Um filme que não o consegue fazer sem um sacrifí- quandoo são acusadas de serem más pais, da geração do REUTERS VINCENT WEST/ se insere numa tendência recente do cio. É bastante surpreendente para os mães. OsOs homens,homens, enquanto pais, rara-- cinema francês (os “filmes de famí- dias de hoje, mas vejo-o muito à mi- Maio de 68, caem-lhes ramentete se sentem cuculpadoslpados ddoo qqueue lia”), e que Honoré iniciou com o seu nha volta: mulheres da minha idade quer queue seja, tanto em relaçãorelação àqui-àqui- olhar sobre os homens de “Em Pa- que se divorciam e cujos pais, da ge- logo em cima (...). lo que fazemfazem como em relaçãorelação àquilo ris”. ração do Maio de 68, lhes caem logo que poderáderá influenciar a vida dos seus “Não Minha Filha, Tu Não Vais em cima. A separação é sempre um Estamos a dar passos filhos. É um sentimentosentimento muitomuito femi- Dançar” foca-se no papel das Cinema escândalo. Falamos muito de uma atrás, [as] pessoas nino. É fácil culpabilizar uma mmãe,ãee, mulheres dentro da família. mulher livre, mas vemos que, na vida desde o início. QuandoQuando falamosfalamos delas,delas, Léna, a personagem de Chiara real, existe uma grande pressão sobre eram muito mais é semprepre pparaara ddizerizer qqueue estão ppróxi-róxi- Mastroianni, é a única mulher as mulheres, muito maior do que mas ouu distantes de mais, mas nuncanunca que deixou a relação em que aquela que existe sobre os homens livres nos anos 70” se conseguesegue definir o que é uma boboaa vivia, estando, em teoria, mais livre do que as outras. Contudo, ela sufoca na sua solidão. Chega a recair sobre ela, a dado momento, uma sensação de morte. O que lhe interessou na liberdade destas mulheres? O interesse principal era perceber se, numa época em que a suposta eman- cipação das mulheres é algo assente, esta seria compatível com a ideia de liberdade tal como é vista no entendi- mento masculino. Interessava-me pe- gar em três mulheres com relações diferentes com os seus parceiros, mas que tinham vivido, ao mesmo tempo, episódios iguais na sua vida amorosa. Todas as três personagens sentiram a tentação de abandonar o papel de “mulher caseira” para viver uma aven- tura fora da esfera conjugal. A perso- nagem de Marie-Christine Barrault fica no seu casamento graças à reli- gião, foi dessa forma que conseguiu viver. A personagem de Marina Foïs tem também essa tentação, mas acaba por ficar com o marido. A única que

Chiara Mastroianni é Léna, a mulher contracor- rente de “Não Minha Filha...” 24 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon mãe.mãe. Por isso, foifoi iinteressantennteressante ver qqueue partirpartir daí,daí, tratrabalharbalhar com Marina Foïs existeexistte semsemprepre aqaquelauela iideiadeia ddaa “mãe e Marie-CMarie-Christinehristine Barrault.Barrault. Obviamen-Obviamen- perfeita”,perfeeita”, mmasas qque,ue, pparaara uma mulher te, a forma como se trabalha com as conseguirconsseguir serser a mãe que é, é um infer- actrizesactrizes é muitomuito diferente dada formaforma no.no. PensoPPenso que Léna é uma mãe muito comocomo se trabalhatrabalha comcom osos actores.actores. boa,boa, emboraembora de uma maneira diferen-diferen- Atraía-meAtraía-me muitmuitoo a ideiideiaa de fafazerzer um te ddoo qqueue se convencionouconvencionou.. “filme“filme feminino”,feminino”, da mesma maneira AApesarpesar de não renunciar à queque fiz “Em Paris”, com Romain Duris, crítica,crítica, o filme pprestaresta uma LouisLouis Garrel e GuyGuy Marchand. Era um homenagemhomenagem às personapersonagensgens “filme“filme masculino”masculino” sobresobre comocomo osos ho-ho- feffemininas...miininan s... mensmens se tornam pais, e o que significasignifica TrTTrata-se,ata-a ses , sosobretudo,bretudo, ddee umumaa von- serser um homem.homem. tadetat de ddee tratrabalharbalhar com cecertasrtas EscreveEscreve os seus filmes a ppensarensar actrizes.aca trrizes. A origemorigem deste fil-fil- em certoscertos iniintérpretes.térpretes. Interessa- mem eestástá em “As CançõesCanções lhe,lhe, portaportanto,ntto, trabalhar com a ded Amor”,Amor”, onde traba- sua ““famíliafamília de actores”?actores”? lheilhl ei comcom ChiaraChiara Mas-Mas- Agrada-meAgrada-me a iideiadeia ddee ter uma trupe à troiannitrt oiiana ni num ppapelapel minhaminha vovolta,lta, ppessoasessoas com quemquem sei secundário.ses cuundário. Aqui,Aqui, queque podereipodeerrei contar e cujo talentotalento ad-ad- exprimieexprrimi a minha miro.miro. Interessa-meInteressa-me ter actores a qquemuem vontadevvontade de cco-o- possoposso proporprropor papéis muito diferentes, locá-lallocá-la nnoo como sese fôssemosfôssemos uma companhia de centrocceentn ro dodo ffil-il- teatro.teattro. Tem a ver com os desadesafiosfios qqueue mem e ddee lhlhehe cadacada filmefiilme propõepropõe e com uma vontade darddar um ppa-a- dee sugerirsuugerir coisas diferentes aos acto- pelppel que fi- resres comccom quem trabalho. zessezzeesse avan-avan- Consegue,Consegue, dessa forma,forma, reunir çarçar a his-hhis- diferentesdiferentes linhalinhagensgens do cinema tória,tória, francês.francês. Neste filme, pparaara e, a além de Mastroianni, existe umauma outra presençapresença forte, a de Marie-Christine Barrault, que evoca outros ffilmesilmes e papéis feffemininos,mininos, pois está muito lilligadagag da ao seu papel em “A MiMMinhanha Noite em Casa ded Maud”Maud”,, de Éric RoRRohmer...hmer... É umauma tentativatentativa ded mostrar quequq e a hhis-is- tó-tót -

25 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon Marie- Christine Barrault (em cima) e Marina Foïs (em baixo), as duas outras mulheres deste filme feminino

ria do cinema passa também pelos flectem outras coisas. Nos filmes de seus actores. Os meus filmes passam Desplechin, sentimos algo ligado ao cada vez mais pela interrogação romanesco, uma lógica de ajuste de daquilo que é, hoje em dia, o cinema contas familiar e uma vontade de criar francês. Ainda existirá uma ideia de famílias algo monstruosas, no seu es- meu ofício, sem ser de forma muito cinema francês tal como existiu na tilo grotesco. No centro do cinema de pretensiosa. “Nouvelle Vague” e que possamos de- Olivier Assayas, vemos outra coisa: a Mas é um filme sobre a fender ainda hoje, num tempo em que herança que a sociedade francesa ac- sexualidade, algo que não à partida isso já não interessa a nin- tual recebeu da França que existia é necessariamente novo no guém? Gosto de me confrontar com antes. Admiro muito esses filmes, mas seu cinema. O que procurava actores que participaram em filmes não sei se o meu filme, por retratar mostrar? antes de eu chegar ao cinema. Os fil- uma família na sua casa de província, A representação da sexualidade sem- mes que faço hoje com eles carregam terá mais pontos em comum com eles. pre foi trabalhada de forma diferente todos os filmes que se filmaram antes Houve um filme japonês importante: por vários cineastas. Mas relativamen- de mim. Em relação a Marie-Christine “Andando”, de Hirokazu Koreeda. te à homossexualidade, ainda não Barrault, creio que sempre teve uma Inspirou bastante a criação da perso- foram feitos muitos filmes. Não é exac- imagem muito doce, um lado bastan- nagem de Léna como alguém que re- tamente a mesma coisa termos dois te católico e de mãe de família, mas gressa aos pais e sente dificuldade em rapazes a fazer amor do que termos que tem, por outro lado, um lado mais ser tratada como um adulto. um rapaz e uma rapariga. Não tinha, voraz, tal como aparece em “Recor- Uma cena importante do filme de todo, vontade de filmar pessoas dações” do Woody Allen: alguém que leva-nos a outra tradição do que fizessem amor e mais nada. Inte- acaba por ver os seus desejos sexuais cinema francês - a tradição ressava-me mostrar que a homosse- afirmarem-se mais do que o seu pu- teatral. Trata-se da cena da Belle Personne”, ganhou a representação da homossexualidade: xualidade é muito plural, que existem dor. Interessou-me muito essa ideia: dança, que é adaptada de reputação de ser um cineasta filmar corpos nus, criar uma ficção muitos corpos diferentes. Fui buscar uma superfície doce e um lado mais um conto da Bretanha. Essa parisiense. Sentiu a necessidade, que não passasse tanto pelo diálogo. o François Sagat [estrela do cinema provençal, numa personalidade que tradição é bastante forte em neste filme, de regressar às suas Vejo-o como um trabalho muito livre porno francês], que é uma imagem acaba por ser descomplexada a reve- cineastas como Jacques Rivette. origens na Bretanha, ao seu e experimental. O filme foi seleccio- masculina muito forte e que se tornou lar os desejos mais apaixonados que O Christophe Honoré está mais passado e à sua família? nado para o Festival de Locarno, o que na representação cliché da homosse- a superfície não deixa expor. Interes- associado a um cinema que se Sim, a verdade é que já estava um pou- significa que terá uma saída comercial xualidade. Quis confrontá-lo com cor- sa-me também trabalhar com actores apoia na literatura, sendo que co farto de filmar a cidade, queria fil- nas salas. Isso coloca-o num patamar pos actuais, que são muito diferentes como Louis Garrel, que filmei desde também escreve livros. Sente-se, mar outras paisagens. Apesar de não igual ao dos outros [filmes que eu fiz], e não se encontram no mesmo regis- os seus inícios, e por outro lado, com de alguma forma, ligado a essa ser algo que me incomode profunda- o que é estranho. Não significa que to. Quis construir uma ficção à volta actores de outros universos, alimen- tradição teatral? mente, essa definição de “cineasta não goste dele, pois tem muitas coisas disso e contar, ao mesmo tempo, aqui- tando-me da diferença que trazem O que é interessante no cinema fran- parisiense” é um pouco cínica, visto que me interessam muito, mas é difí- lo que é um sentimento amoroso para os meus filmes. cês é existir tanto uma forte ligação à que cheguei muito tarde a Paris e que cil. É um filme centrado num lado quando se filma muito sexo. Penso Ao ver obras mais recentes literatura como ao teatro. Interessa- tenho um olhar algo provinciano so- mais sexual, o que choca ainda muitas que é um filme muito doce. Estou no do cinema francês, vemos me, tanto a mim como a alguém como bre a cidade. Não sou parisiense, por pessoas que estejam apenas à espera exacto oposto daquilo que são cine- que existe uma tendência em Arnaud Depleschin, trabalhar uma isso não me vejo como um cineasta de mais um filme meu, na sequência astas provocadores como Bruce La- fazer filmes à volta de famílias. linguagem que não pretenda ser ultra- de Paris. Sei que vou lá filmar bastan- dos outros que já fiz, e que surge pro- Bruce ou Catherine Breillat. Não tenho Olivier Assayas e Arnaud realista. Gosto dos filmes que pro- te no meu próximo filme, mas tam- positadamente como um objecto algo nenhum prazer em chocar. Fiquei um Desplechin fizeram “Tempos põem catarses ao espectador, mas que bém sei que existe a ideia, no cinema incompleto. Reflecte a minha vontade pouco surpreendido com a reacção de Verão” e “Um Conto de passem, também, por um certo arti- francês, de que Paris tem uma influ- de experimentar coisas dentro do ao filme em Locarno, com as pessoas Natal”, respectivamente. Quais fício. Não quero fazer filmes que sejam ência algo vampírica na sua própria que sentiram agredidas. Sei que se são as diferenças entre as apenas um espelho da vida e da rea- ficção. “Gosto de me tivesse filmado um casal heterossexu- sensibilidades destes filmes e o lidade social. Este filme baseia-se nu- A sua obra mais recente - al, não se teriam sentido assim. seu? ma crónica familiar realista, mas a “Homme au Bain” -, representa confrontar A família é algo que está muito pre- presença desta cena de dança permi- uma certa mudança em relação VerVer críticaccrítica de cinema na pág. 42 e se-se sente no cinema francês, tal como, de te partir o corpo realista que o filme aos seus filmes precedentes. O com actoress qqueue gs.gsg . outra forma, no cinema americano. impôs ao espectador até esse momen- que mais o desafiou, ao filmar Filma-se a família com um “local de to, e lembrar-lhe, através de uma se- com um actor que vem do participaramm em ficção”. É verdade que esses filmes quência num tempo longínquo e com cinema porno, por exemplo? filmes antess de eeuu surgiram num curto espaço de tempo códigos diferentes, que está a ver um É uma experiência que vejo, agora, e que mostram um determinado en- filme. não ser tão fácil e tão compreendida. chegar ao cinema.inema. Honoré quadramento familiar. São obras que Foi isso que quis fazer também Tenho vontade de experimentar coi- construiu lançam também um olhar sobre as quando pôs os actores a cantar sas diferentes, mas, como o cinema é Os filmes queue faço uma família diferenças entre a metrópole de Paris em “As Canções de Amor”? uma arte cara, sentimo-nos muitas no cinema e as casas de província, com uma mis- Exactamente. Foi o reflexo de uma vezes presos. Por ter, de repente, a hoje com eleses francês: dela tura de actores que evoca um espírito vontade de filmar de maneira simples tecnologia que permite filmar de for- fazem parte de companhia teatral. Tanto Assayas e directa, mas também a vontade de ma mais fácil e rápida — este filme foi carregam todosodos Louis Garrel como Desplechin sãoão ccineastas eastas que lembrarebaaoe ao espectador que estamos, filmado com uma máquina fotográfi- os filmes quee ssee e Chiara admiro imensamente,, mas não fazem de facto,fa no cinema.nema. ca em apenas uma ssemana —, arris- Mastroianni bem parte da minha ggeração.eração. ComeCome-- ComCom “Em Paris”,ris”, quei. As pessoas estavames mais dis- filmaram antesntes çaram a fazer filmeses há bastante “As“As Canções de poníveis,poníveis, pudepude trabalhartrab de manei- mais tempo e os seuss trabalhostrabalhos re- Amor”Am e “La ra mmaisais cconcentradaonc na de mim”

Arnaud Desplechin e Olivier Assayas: outros cineastas franceses que recentemente se viraram para o tema da família

26 • Sexta-feira 3 Setembrombrbrbroo2 220100100101010 • ÍpsÍpÍÍpsilonpspsililoilolon Mas o que é isto? (e até Manoel de Oliveira, cuja curta os que espero fazer a seguir, apenas Veneza não sabe que não é “isto” sobre os Painéis de São Vicente de pela lógica daquilo que me dá gozo. que se espera de um filme de autor Fora faz parte da selecção), na secção Não gozo de gargalhar, mas gozo de português? paralela Orizzonti (“as novas direc- tirar alguma coisa do próprio proces- “Isto” sendo um filme “de aventu- ções do cinema mundial”). so de feitura sem me preocupar mui- ras” com piratas anarco-tecnológicos Sem problemas com o facto de, to em que estética ou em que corren- à solta numa caravela chamada Vera com 2h20 de duração, “A Espada e a te vai ser integrado pelos outros.” Cruz, que é também um filme “musi- Rosa” ser a mais longa escolha da sec- Mesmo que exista um certo nível cal” com músicos que não cantam, ção este ano, ou de o filme (apesar de expectativas por “A Espada e a Ro- um filme “fantástico” à volta da uto- dos pontos de contacto com os filmes sa” ir a Veneza? “Confesso que estou pia e da criação, e um filme “de gera- de Miguel Gomes) não se parecer com muito curioso. Há uma alegria enor- ção” com uma sensibilidade “slacker” mais nada que o cinema português me, quase ao nível da fascinação, e e descontraída, nos antípodas da ima- tenha feito nos últimos anos. ao mesmo tempo fico bastante apre- gem que se faz hoje em dia da cine- Questão que, aliás, também não ensivo, porque sei que apesar de tudo matografia portuguesa à conta da incomoda Nicolau por aí além. “Es- é um filme que pode ser algo duro, austeridade de Pedro Costa ou Mano- pero bem que não, nunca houve essa pela duração que tem, pela linguagem el de Oliveira. vontade da minha parte”, diz-nos ele que utiliza. E nos grandes festivais há Pelos vistos, não. O Festival de Ve- ao princípio da tarde de um sábado muito aquela coisa de supermercado, neza aceitou “A Espada e a Rosa”, quente num café de Telheiras, bica e de as pessoas entrarem, espreitarem, também alguma curiosidade junto do “A Espada e a primeira longa-metragem de João Ni- copo de água à frente, maço de cigar- verem meia hora e irem para outra público português.” Rosa” não se colau, 35 anos, e colocou-a a concur- ros e isqueiro a jeito. “Não tenho uma projecção... Mas para o filme é exce- Nicolau não é exactamente um no- parece nada so, no mesmo patamar de gente como relação tão pensada quer com o meio lente, porque lhe vai permitir ser se- vato em festivais: as suas duas curtas, com o cinema José Luis Guerín ou Paul Morrissey, quer, com o cinema português. Faço leccionado para outros festivais, ser “Rapace” (2006) e “Canção de Amor português dos Guillermo Arriaga ou Vincent Gallo filmes, este como os outros que fiz e visto por outras pessoas, e pode gerar e Saúde” (2009), foram à Quinzena últimos anos O que é isto, João Nicolau? Cinema “A Espada e a Rosa”, inclassifi cável primeira longa-metragem de João Nicolau, está a concurso no Festival de Veneza. O realizador explica o sufi ciente para percebermos porque é que este fi lme de utopias, aventuras, solidão e fi m de Verão faz fi gura de óvni no cinema português. Jorge Mourinha

A primeira longa de João Nicolau, 35 anos, vai a concurso RAQUEL ESPERANÇA RAQUEL ombro-a- ombro com fi lmes de Vincent Gallo, José Luis Guerín, Guillermo Arriaga: “Estou muito curioso, e ao mesmo tempo bastante apreensivo”

27 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon “Construí [‘A Espada “É um filme de utopias, que traba- lha e relativiza essa ideia, e é um filme e a Rosa’] como um de aventuras que passam muito pela sociedade que se propõe.” épico - o argumento Ou ainda: “ É um filme de fim de Verão, porque essa ideia do fim do era muito maior, Verão ser o fim do mundo, como diz a certa altura uma personagem, resu- a rodagem também, me um pouco o espírito do filme.” e mais não pôde ser Ou também: “É um pouco sobre a tensão entre acomodarmo-nos ou porque um filme vive não, entre compreender que existe um individualismo irremediável mes- também dos mo quando gostamos de estar em sociedade.” constrangimentos Ou, mais pragmaticamente: “Cons- truí-o, quase entre aspas, como um práticos que épico – o argumento era muito maior, o afectam” a rodagem também (a primeira versão tinha três horas) e mais não pôde ser porque um filme vive também dos constrangimentos práticos que o afec- tam.” Para quem vê, é um filme cinéfilo Filme de (cita os filmes de piratas, os filmes utopias, musicais, a ficção científica clássica). de fim dos Realizadores em Cannes, pelo “Talvez porque sou um bocadinho de Verão que a experiência do grande certame mais inocente e ainda acredito numa (ou de fim internacional já não lhe cria taquicar- coisa mais clássica”, explica João Ni- do mundo), dia. “Tive a sorte de a minha primei- colau. Mas entre uma olhadela ao jo- “A Espada ra curta ter sido seleccionada para a go do Chelsea no televisor do café e e a Rosa” Quinzena – eu só queria provar a mim mais um cigarro, João Nicolau avança é também próprio que poderia fazer um filme, que isso é mais “questão de gosto pro- um objecto e o choque foi tão grande que, mais priamente do que de frequência”: cinéfilo, do que as expectativas, havia já um “Não sou cinéfilo, nunca fiz a escola que cita as misto de alegria e fascínio por poder de cinema, nunca sonhei fazer filmes aventuras difundir o filme nesses sítios. Mas são – estudei Antropologia, fiz o mestrado de piratas, coisas que escapam completamente em Antropologia Visual, convidaram- os musicais ao criador do filme. E também não se me a trabalhar em montagem, um dia e a ficção pode atribuir demasiada importância arrisquei fazer uma curta e agora che- científica a isso.” guei a fazer uma longa. Não passei clássica muitas horas da minha juventude a O sonho comanda o fi lme ver filmes e a discuti-los. Há imensos “A Espada e a Rosa”, então. A Espada filmes do Howard Hawks que não vi, é o símbolo do Plutex, uma substância só há relativamente pouco tempo é primordial capaz de tudo e mais al- que descobri musicais de um dos guma coisa. A Rosa é um pirata refor- meus realizadores preferidos, o Vin- mado e misantropo com mau feitio cente Minnelli, como a ‘Gigi’ ou ‘0 que se desmultiplica em Michael Bi- Pirata dos Meus Sonhos’. Como qual- berstein, Luís Miguel Cintra e José quer pessoa da minha geração, devo Mário Branco. ter crescido a ficar fascinado com as Há também o Manuel (o músico e coisas do David Lynch e do João César cúmplice Manuel Mesquita, que já Monteiro, quando há um filme do participava na primeira curta de Ni- Otar Iosseliani ou do Aki Kaurismaki colau, “Rapace”): vive de biscates, gosto de ver, mas isso é mais uma evita o fiscal, tem um gato chamado questão de serem os filmes que gosto Maradona (que rouba o filme sempre de ver.” que entra) e abandona tudo para ir Se “A Espada e a Rosa” é um filme para alto mar com os piratas da cara- que outras pessoas vão gostar de ver, vela. Há canções, aventuras, piadas logo se verá - a passagem na secção privadas, raptos, empregadas brasi- Orizzonti é na próxima quarta, dia 8, leiras, francesas petulantes, traições, em sessão aberta ao público; a estreia cinema mudo, engenhocas e alemães em sala por cá só muito mais lá para com helicópteros. a frente. Nas palavras de um dos três Rosas João Nicolau já está descansado no final do filme, “sonho, amor, arte, com uma coisa, no entanto: o seu não ciência, literatura, música, tecnolo- é o filme mais longo de Veneza 2010: gia, café e rum”. “À mesma hora passa o filme do Ab- “Holy Santa Maria fuck!”, diz al- dellatif Kechiche na competição, que guém a certa altura, e dizemos nós. ainda é maior que o meu. Tem O que é isto, João Nicolau? 2h40.”

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 28 MIGUEL SILVA MIGUEL

Fanfarlo O indie que fala sueco (com sotaque londrino) revela-se no Lux. Pág. 36

Sita Valles Reencontrada, numa biografia que é também uma História de Angola. Pág. 31

Gore Vidal “Washington D.C.”, primeiro volume da saga sobre o lugar a que este escritor chama casa: os corredores do poder americano. Pág. 30

Nouvelle Vague meets Rui Veloso Rui Pregal da Cunha 2-set 9-set m/18

Visite a página Casino Estoril Red Carpet no Facebook e aceda a passatempos exclusivos, bilhetes para DJ até às espectáculos e muitos 03H00 outros prémios.

Programa sujeito a alterações www.casino-estoril.pt Reservas: [email protected] | +351 919 938 114 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

O novo romance de Michel criticando tudo, da presença para alguns produtos”. Houellebecq, “La Carte et de Houellebecq como “La Carte et le Territoire”, le Territoire”, foi arrasado personagem da sua própria que sai esta semana, era, por Tahar Ben Jelloun, história às abundantes dizia-se, o romance com que escritor membro da referências a marcas: “Que Houellebecq ia fi nalmente Académie Goncourt, que novidade nos oferece este ganhar o Goncourt. Agora Polémica atribui o prémio literário romance? Alguma conversa sabe-se que pelo menos um homónimo. Num artigo no sobre a condição humana, dos dez membros do júri “La Repubblica”, Tahar uma escrita afectada (...), não estará muito para aí Ben Jelloun desfaz o livro, um bocado de publicidade virado...

Ficção norma chamamos erradamente sem uma perna, que depois deixará que mandam nos EUA. Tudo o que “universal”, também esta saga parte de o ser porque a todos chega o aqui se narra podia pertencer a de factos reais, uns conhecidos momento de vergar – quando não se meia-dúzia de episódios de “Donas A cozinha outros apenas acessíveis aos Vidais vergam, acontece o que aconteceu a de Casa Desesperadas”. Só que o deste mundo, para chegar a essa tal Enid, que casará com Clay e se diabo do contexto de Vidal, a bomba “universalidade”; e, segunda razão, entregará ao deboche e à dissolução, nuclear (que também por aqui dos lençóis essa “universalidade” não é mais do não se sabe se à conta da indiferença passeia), a noção de aqui começa o que mostrar como os fios invisíveis deste se à conta da indiferença do Império americano, tudo isso não Gore Vidal à porta de um que fazem o mundo girar são, muitas pai, se à conta de tudo isto. nos deixa de provocar um pequeno vezes, baseados em mesquinharia, Este é o valor fundamental de arrepio na espinha. Mas, enfim, a clube muito exclusivo: o nas simpatias pélvicas ou em “Washington D.C.”: todos têm de história sempre se jogou na cozinha e poder norte-americano. minúsculos detalhes que, noutro pactuar com alguma coisa. O nos lençóis. João Bonifácio contexto social, seriam conversa de senador, para conseguir ser eleito, porteira. tem de ser um pouco menos O Verão Washington D.C. Neste caso tudo começa em 1937, honesto; Clay tem de envergar um Gore Vidal quando Roosevelt está no poder. fato que não é o seu (mas que deseja verdadeiro (Trad. Maria João da Rocha) Roosevelt não é uma personagem, os profundamente) e, chegado o Casa das Letras bastidores dos seus inimigos sim: o momento, trair quem mais o apoiou; senador James Day (que na dúvida Blaise tem de pôr a sua máquina Tordo demarca-se da aura escolhe sempre não actuar), a sua mediática ao serviço de quem mais mmmmn do escritor, mas não abdica

Livros filha feia, recta e posteriormente lhe convém, nem que para isso tenha Podemos defender esquerdista adúltera, a sua mulher de sacrificar a filha. E Enid comete o do jogo paródico nem da que, até um certo incontinente verbal, o poderoso erro de dizer ao pai que este está intertextualidade. ponto, a literatura Blaise Sanford, com a sua filha Enid e “apaixonado” pelo genro. Mais do possa ser “lida” o seu filho Peter, tendencialmente que uma insinuação homossexual, Eduardo Pitta sem contexto e anafado, tendencialmente apagado. esta é a grande reflexão de Vidal O Bom Inverno que, face a um Todas estas personagens se entretêm sobre o poder: o homem que mexe João Tordo poema, conto, em pequenos jogos de manipulação, os cordelinhos enamorou-se da sua Dom Quixote enfim, romance, o adulação e pequenas traições. Vindo criação e está disposto a destruir a leitor, sem do nada há uma personagem sua própria criação por simples furor mmmmn qualquer acesso às notas de rodapé fundamental, Clay Overbury, narcísico. históricas que levaram à prossecução assessor do senador, que gostaria de Bem vistas as coisas, podemos A literatura comparada também é da obra, “entende-a”. É uma tese casá-lo com a filha, apaixonada que concluir que Vidal funciona como isto: com 48 horas de intervalo, dois válida apenas enquanto “pede” à esta está por ele. Mais tarde ela porteira, mas como porteira de um escritores nos antípodas um do obra que mantenha uma certa casará com um esquerdista radical clube muito exclusivo: o clube dos outro, o americano Bret Easton Ellis “legibilidade” paratemporal, isto é, que não se deixe submergir de tal modo no tempo da sua acção e da sua escrita que a torne ilegível sem manual de instruções. Mas nenhuma obra resiste verdadeiramente à passagem do tempo, razão pela qual mesmo os clássicos são “reescritos” à luz das mudanças da língua. E no caso particular de um escritor como Gore Vidal, é difícil não trazer o contexto pessoal do escritor para os romances históricos americanos: Vidal faz parte das mais poderosas oligarquias americanas, o que traz ao conjunto de obras que produziu (e que retratam as altas esferas do poder na vida americana) uma credibilidade que mais ninguém tem. Não podemos escapar ao contexto e neste caso não podemos sequer escapar à visão que o autor tem do seu contexto: no texto de introdução a esta reedição de “Washington D.C.”, o primeiro livro que Vidal escreveu da mencionada saga (embora posteriormente tenha escrito outros que se situam antes deste, nomeadamente “Empire”, que antecipa a personagem de Blaise Sanford, homem dos jornais, e da sua meia-irmã, que rivalizou com Randolph Hearst nos media escandalosos), Vidal defende o romance histórico face àquele em que cada um conta a sua historizainha. É, claramente, um argumento falacioso, por duas razões: tal como quando um romancista conta a sua (ou da vizinha) historiazinha para Gore Vidal faz parte de uma das mais poderosas oligarquias americanas e é justamente o chegar a algo mais lato e a que por seu olhar de “insider” que dá uma credibilidade invulgar aos seus romances sobre o poder

30 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon A tragédia de Sita Valles abate-se sobre o leitor, neste livro da jornalista Leonor Figueiredo, de forma quase íntima, familiar

(n. 1964) e o laia de “companion” de português João narratologia, as extensas notas de Tordo (n. 1975), rodapé que fecham cada secção repetem as (não confundir com capítulos) mesmas ideias de sinalizam o subtexto com grande forma quase minúcia. literal. O narrador vai de Lisboa a Entrevistado pelo Budapeste participar num ciclo de Ípsilon, Ellis conferências, e é na capital húngara afirma: “Não me que conhece as personagens que preocupo com a Literatura.” Põe animam a intriga. Em pouco tempo aspas em literatura. Entevistado estamos enredados num “thriller” pelo “i”, Tordo diz o que pensa do contagiante sobre o desejo e as caso português: “Existe um expectativas de um grupo de conjunto de regras das quais não se criadores jovens que tudo fará para deve sair se queremos fazer o que “agitar as águas” em Sabaudia: “Os cá se chama literatura.” Tal como verões na propriedade de Metzger Ellis, que evita o Panteão americano são conhecidos na comunidade ( James, Faulkner, Bellow, etc.), artística internacional, e não apenas Tordo faz questão de deixar claro a do cinema.” A escolha de que “o que cá se chama literatura” Sabaudia para cenário da história adequados às circunstâncias e às é-nos revelada em pode não ser literatura, de facto. É estabelece um contraponto irónico personagens. Contrariamente ao ritmo lento, de forma quase estudante de Medicina primeiro o postulado de quem escreve ao com as contradições sociais e que tantas vezes sucede na inesperada – como se fosse possível em Luanda e depois em Lisboa, arrepio dos experimentalismos políticas da contemporaneidade. literatura portuguesa, ninguém se esperar outro final, menos trágico. tornou-se numa distinta líder do abjeccionistas e metafísicos que Sabaudia é uma estância balnear exprime como se estivesse a Sita Valles foi executada (como movimento estudantil na União de fizeram o mito da “ficção” italiana da região do Lácio, invocar o senhor Manuel Luís de muitos milhares de pessoas), depois Estudantes Comunistas (UEC) e portuguesa dos anos 60. (Quem a lê frequentada por homens tão Sousa Coutinho (cf. Garrett) numa de violada por agentes da polícia depois num dos nomes mais hoje?) Não está sozinho: Paulo diferentes quanto Mussolini e sessão espírita. Essa desenvoltura política (DISA) do regime do importantes da contestação ao Castilho, Hélia Correia e Ana Teresa Pasolini, famosa pelo urbanismo de contribui para sedimentar o “plot”, Presidente Agostinho Neto, num poder de Agostinho Neto, dentro do Pereira, para dar exemplos claros, Cancellotti, Montuori, Scalpelli e mantendo a fluência do ritmo país que vivia os primeiros tempos MPLA. (A saída do PCP foi-lhe são predecessores bem sucedidos. outros arquitectos fascistas. É lá narrativo. – com encantos e desencantos – de imposta quando decidiu regressar a Mas Tordo é o primeiro da sua que Vincenzo e os amigos uma independência declarada em Angola, em 1975.) geração a demarcar-se sem encontram a prova da sua finitude: Biografia Novembro de 1975. Estava prestes a No momento do fuzilamento, Sita complexos da aura do escritor. “Todos a carregamos connosco de fazer 26 anos. Tinha um filho de Valles quis olhar de frente os seus Ainda que possa dizer, como a uma maneira ou de outra, porque seis meses, e possivelmente estaria carrascos, recusando a venda nos Llansol disse de si mesma: “escrevo estamos agora e para sempre A revolucio- grávida de um segundo. Dedicara a olhos. Morreu como viveu e como sem romantismo, sem drama e sem predestinados ao fracasso.” Faz vida a um ideal, a uma revolução. abraçou a causa da revolução – sem consolação”. O futuro dirá se valeu parte do jogo paródico que os nária sem Entregou-se à luta antifascista e medo. A sua morte foi um choque a pena. protagonistas se chamem Vincenzo anticolonial em Portugal e, mais para muitos que a conheciam e que “O Bom Inverno” é o quarto (e o Gentile e Don Metzger. medo tarde, em Luanda, junto do a lembram, neste livro, como uma melhor) romance do autor, que se O desenlace lembra “A História movimento dos “nitistas”, que figura exemplar, uma líder estreou na literatura em 2004, Secreta” (1992), de Donna Tartt. De contestava o rumo seguido pela estudantil insubstituível, depois de ter feito jornalismo certo modo, a propriedade de “Sita Valles - Revolucionária, liderança de Agostinho Neto e do carismática e inteligente, idealista e literário e escrita criativa. No dia Metzger é o equivalente boémio de Comunista até à Morte” não MPLA (Movimento Popular para a sonhadora, e ao mesmo tempo em que decidiu escrever o primeiro Hampden; e o narrador podia ser Libertação de Angola) e era organizada e com uma capacidade romance, “O Livro dos Homens Sem Richard Papen: “Se, por hipótese, é um romance, antes um liderado por Nito Alves. Este tinha a de trabalho e de argumentação Luz”, mandou o curso de Nova nenhum dos presentes fosse olhar sobre um episódio da seu lado José Van-Dunem, ímpares. Iorque às urtigas. Aparentemente, culpado do assassinato de Don História de Angola. Ainda companheiro e pai do filho de Sita Vítima dos acontecimentos? Ou não perdeu nada. A segurança da Metzger, isso só serviria para que por vezes Sita Valles se Valles. dela própria? Sita Valles entregou- voz dá a medida do domínio dos suscitar ainda mais incógnitas: A intensidade dos se com uma tal intensidade à luta recursos estilísticos. quem então o fizera?”. confunda com a heroína de acontecimentos abate-se no livro da que a pergunta se coloca. Para a Como em livros anteriores, Apesar das uma trágica ficção. jornalista Leonor Figueiredo de maioria ela foi corajosa, para alguns a acção tem lugar fora de diferenças Ana Dias Cordeiro forma quase íntima, com o discreto foi imprudente. Portugal. O narrador apagar de um pai, Edgar Francisco O livro deixa outra questão em é português e, Sita Valles - Revolucionária, Valles, subjugado pelo desgosto, e aberto – o 27 de Maio foi “um apesar da pouca Comunista até à Morte (1951- as súplicas de uma mãe incrédula, golpe”, “uma acção?” – e relembra a idade, coxo. 1977) Lúcia Valles, incrédula, em cartas tese de que a intenção dos “nitistas” (Coxo à sem resposta dirigidas ao ministro era enfrentar o poder, contando MIGUEL MANSO MIGUEL Leonor Figueiredo maneira do Alêtheia Editores da Justiça a perguntar pela filha e com o apoio de uma parte do Dr. House, pelo filho Ademar, depois do Exército e das tropas cubanas, o com pose, mmmnn desaparecimento de ambos. Apesar que não aconteceu. bengala de ser do MPLA, Ademar não era Rosewood Sendo este um livro militante do partido e não estava e consumo que conta a história envolvido na política ou no AGENDA CULTURAL FNAC imoderado da vida da movimento nitista. Mas também ele entrada livre de revolucionária foi preso e executado, por ter o vicodin.) O angolana Sita Valles nome Valles – tal era a frieza do expediente e, ao mesmo sistema, tal era a influência de Sita e ilustra o tempo, retrata um o impacto do seu activismo. óbvio: “O episódio trágico da Quando nasceu em 1951, os seus ponto de vista é História de Angola, pais, como que adivinhando um a condição “O Bom Inverno” é o quarto e o seu desfecho está selado. percurso excepcional, escolheram LANÇAMENTO primeira da melhor romance de João Tordo Aconteceu em 1977, o 27 de Maio. E, para ela um nome que aludia à MORRO BEM, narrativa e a narrativa a geracionais, sobre ele, não há um voltar atrás. deusa Sita, “personagem de um SALVEM A PÁTRIA! condição primeira da o imaginário de Sita Valles desapareceu. Não se sabe épico hindu, símbolo da mulher Livro de José Jorge Letria ficção.” Vem a propósito notar que Tordo tem afinidades onde repousa. Apenas se sabe que ideal, brilhante e com uma força e Apresentação por Annabela Rita e Miguel Real seria temerário confundir o com o de Tartt. teve um fim insuportável. Porém, a uma coragem únicas”. A menina 09.09. 18H30 FNAC COLOMBO narrador com a pessoa do autor. À Verosímeis, os diálogos são inevitabilidade dos acontecimentos angolana, de uma família de Goa, Todos os eventos culturais FNAC em http://cultura.fnac.pt

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 31 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

O Oxford English ditou esta decisão, que começou a ser preparada Dictionary (OED), afectará já a terceira há 21 anos por uma equipa Livros a principal obra de edição do OED: “O mercado de 80 especialistas, vai referência da língua dos dicionários impressos sair apenas em formato Última inglesa, vai deixar de ter está a desaparecer”, electrónico. Não há ainda edição uma versão impressa. disse Nigel Portwood, data de lançamento A quebra nas vendas, director executivo da prevista, mas estima-se provocada pela crescente Oxford University Press, que faltem mais de dezez popularidade das ao “Sunday Times”. A anos para que a obra eestejasteja alternativas “on-line”, nova edição do OED, que completa.

Várias versões se cruzam. Os popular, conduzindo uma linha objecto da crítica é o texto, uma coincidir a qualidade literária com o “Le Mariage d’Amour a-t-il números dos mortos que não marxista-leninista dentro do MPLA. entidade que existe; mas o objecto pequeno reduto das suas Échoué?” (em português: o deixaram rasto nem registos apenas Estaria ele disposto a tudo? Terão as desta crítica da crítica não existe preferências? É verdade, mas o gosto casamento por amor podem ser aproximados. Muita pessoas da direcção do MPLA exactamente. Pouco mais temos, em é mais do que isso. O gosto é uma fracassou?), cuja edição gente continua a não querer falar encontradas às primeiras horas termos concretos, do que algumas forma de juízo, e a crítica de jornal, francesa está prevista para sobre o que se passou. Por receio desse dia 27 de Maio sido mortas picardias com os críticos de poesia imediatista por natureza, exige um este ano, “O Paradoxo do ou para não despertar os seus pelos “nitistas”, como fez crer o do “Expresso” e uns sarcasmos juízo. Amor” é mais uma espiral do próprios fantasmas. Mais de 20 mil regime? avulsos. “ABC da Crítica” inclui aliás uma autor em volta do tema da pessoas terão desaparecido, entre Sem o 27 de Maio, que MPLA teria Ou seja, há uma base polémica passagem que reconhece isso. Um felicidade amorosa, desde que os quais portugueses do PCP que Angola hoje? É outra questão, de neste ensaio que parece mal crítico tem uma espécie de em 1977 publicou, em co-autoriaia viviam em Luanda. Muitas outras resposta já impossível. conduzida. Acerta na água, uma vez “autoridade” que resulta da sua com Alain Finkielkraut, “A novaa foram torturadas. Sobreviveram ou que só existe água. A crítica em “voz”. O crítico não é neutral e Desordem Amorosa”. não. Esta ainda é uma história por Portugal acabou nos tempos de inócuo, não é simplesmente Partindo da herança da geraçãoção ddee contar. E o que nos dá este livro é Ensaio Gaspar Simões e dos suplementos analítico, porque, na imprensa, o 60/70 (a sua), que criou (e praticou)icou) a uma parte dessa história, bem literários. Hoje ainda há uns quantos leitor espera uma orientação ideologia da paz por via da libertaçãortação como um olhar humano sobre uma “críticos”, mas já não há “crítica”. E prática. E nesse aspecto a empatia é sexual, Bruckner analisa em “OO figura heróica que, para alguns, A crítica da os críticos, ao contrário do que essencial: “O que importa num Paradoxo do Amor” a sua pecou pelos excessos e, para Júdice sugere, não têm grande discurso crítico é o reconhecimento consequência mais evidente: o outros, fez apenas aquilo que crítica autonomia. Textos curtos? As da pessoa que está por detrás dele: dilema social transferiu-se para o foro acreditava ser justo para contribuir nefandas estrelinhas? Isso são para além da objectividade íntimo. O que era uma fractura para um mundo melhor. ditames editoriais, que poucos indispensável, há também um factor exposta tornou-se uma hemorragia Muito dizem da época que se Será o gosto o pecado capital críticos apreciam. O espaço da subjectivo fundamental para que se interna. A sagração do erotismo (que vivia os testemunhos e documentos da crítica? crítica luta todos os dias pela sua dê a empatia do leitor com a opinião gerou formulações carismáticas, publicados pela ex-jornalista do Pedro Mexia sobrevivência. do crítico. É essa qualidade de como a “economia libidinal” de “Diário de Notícias”: os discursos Dito isto, reconheçamos que Nuno convencimento que o crítico tem de Lyotard ou as “máquinas do desejo” de Agostinho Neto em que este ABC da crítica Júdice escreve coisas sensatas neste transmitir; e é por isso que, quando de Deleuze e Guattari) pacificou a anuncia que não haverá perdão Nuno Júdice pequeno manual de título o crítico dispõe de uma qualidade, sociedade, mas faz a guerra ao para os “fraccionistas”, os apelos ao Dom Quixote poundiano, e que cita os mestres na uma originalidade e uma percepção indivíduo: “Grande reviravolta: o povo a pedir ajuda para prendê-los, matéria, de Eliot a Bloom. A crítica, pessoal nos textos que escreve, eles prazer deixa de ser suspeito e passa a os editoriais no “Jornal de Angola” a mmmnn diz Júdice, não é uma reacção sobrevivem e continuam a ser lidos” ser obrigatório, e todo o homem que diabolizá-los. Ou as cartas pessoais imediata a um objecto, nem uma (p. 111). A subjectividade e o gosto, se negue a ele possivelmente sofre de dos familiares de Sita. A crítica da crítica elaboração teórica, mas a leitura bem como a qualidade da escrita, uma doença grave. Um novo Depois do 27 de Maio, o silêncio empreendida por inteligente de um texto. A obrigação não são desvarios, mas os elementos terrorismo do orgasmo substitui as das autoridades sobre os Nuno Júdice neste de ser inteligente, já reclamada por que nos levam a seguir ou a rejeitar antigas proibições.” desaparecidos adensa o medo que breve ensaio peca Trilling, é o primeiro dever de um determinado crítico. Porque, e isso é Não há nada de novo na se adivinha nas ruas e nas casas de por alguma crítico, que se põe no lugar do leitor importante, o leitor habitual e interpretação da relação amorosa outras vítimas. A tragédia é a de um imprecisão. Qual é e o guia. A crítica não é uma habituado também tem um gosto, e como uma guerra e da dependência terror organizado e imparável, o seu objecto? A sentença, é uma iluminação. também escolhe os seus críticos. É do casal como uma doença. O que como que anestesiado, contra os crítica portuguesa? Há por isso uma série de tudo uma questão de gosto. Bruckner, autor do romance “Lua-de- que desafiaram a política do MPLA. Mas a “crítica competências que se exigem a um mel, Lua-de- fel”, afirma, ao coligir os Nito Alves, o carismático líder portuguesa”, como Júdice bom crítico, nomeadamente sintomas da vida contemporânea, afastado, como José Van-Dunem, reconhece, já não existe enquanto capacidade de contextualização, O amor em acompanhados de velhos aforismos dos importantes cargos que havia instituição estável e influente no acutilância, brevidade, literários, é que “o velho mundo não ocupado no MPLA, ambicionava o espaço público. E os praticantes que comunicabilidade. Todos morreu”: “O amor continua a ser lugar de Lúcio Lara, “número dois” ainda sobrevivem são demasiado conhecemos instâncias daquilo a visita de uma aldeia encantada de onde estão do regime. Mas também acreditava diferentes para uma teoria global. que Júdice chama ignorância e excluídos os velhos, os feios, os que seria possível instaurar o poder Nuno Júdice diz, e é óbvio, que o biografismo na crítica, bem como de estudo disformes, os sem vinténs”. Mais: “O impressionismo ou poder e a fortuna são factores pseudocientismo. Mas aquilo que eróticos, o conto de fadas continua mais preocupa Júdice é que a crítica Quietude ou arrebatamento? muito próximo da conta bancária, (portuguesa) se tornou, escreve, Segurança ou liberdade? Um ama-se sobretudo dentro da mesma MIGUEL MADEIRA MIGUEL demasiado justiceira, relevando uma pássaro na mão ou os outros classe social e do mesmo meio social “forte resistência” aos autores e, se possível, num meio superior ao portugueses. Júdice não dá a voar? O dilema amoroso seu”. O amor como instrumento de exemplos que comprovem essa tese, é um quebra-corações. Até uma “evolução espiritual” falhou. e confunde a recepção crítica dos quebrou o discernimento do “O que ganhámos com esta textos com outro tipo de opiniões do autor. Rui catalão libertação? O direito a estarmos sós! jornalismo cultural. E aí perde o E este não é um pequeno passo, se rumo ao discurso. Quando Júdice diz O Paradoxo do Amor nos lembrarmos que a igreja que os escritores portugueses mais Pascal Bruckner condenou, durante muito tempo, a traduzidos são os mais importantes (Trad. Duarte da Costa Cabral) autarcia (bastar-se a si próprio, não só pode estar a fazer género. Publicações Europa-América ter necessidade de ninguém), Em todo o caso, o argumento de considerando-a uma prova de Júdice dirige-se essencialmente mmnnn orgulho, e que o século XIX votava o contra o gosto. “O gosto é o pecado celibato, com o seu perfume a capital do crítico”, escreve. O trabalho de onanismo e mal-estar material, ao Especialmente atacada é a Pascal Bruckner opróbio (…), Subsiste a ideia de que implacável “crítica-guilhotina”. E (Paris, 1948) oscila estamos perante uma conquista com razão. Mas é discutível chamar entre reflectir negativa, pelo simples facto de uma a essa prática “crítica de gosto”. sobre a relação do pessoa não ser amada nem desejada Segundo o autor, o bom crítico pensamento por um outro.” Ou isso, ou o desejo distancia-se ao ponto de conseguir ocidental com o de muitos: a vida sexual alguma objectividade, e é isso que resto do mundo, e contemporânea não se distingue faz dele um crítico. Mas essa sobre aquilo a que pela monogamia nem pela descrição fraqueja. A objectividade, podemos chamar poligamia, mas pela monogamia em O argumento de Júdice dirige-se essencialmente contra o gosto em crítica, fica-se pela ficha com o as ideologias da sociedade série: “Sentimos por este acervo de da crítica, ignorando a questão essencial: a crítica, em Portugal, título e a editora. Tudo o mais é contemporânea. Depois de “A homens e de mulheres, que nos acabou nos tempos de Gaspar Simões e dos suplementos literários subjectivo. Um crítico não deve fazer Euforia Perpétua” (2000), e antes de foram queridos, que foram amantes

32 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon Ciberescritas Os e-books do senhor Wylie

assim que eles se apresentam: “As edições Odyssey são uma empresa de publicação de e-books destinada a levar clássicos de fi cção

OLIVIER HANIGAN É e de não-fi cção para os leitores a uma escala Neste ensaio sobre global.” o amor, a erudição Quando chegamos agora ao “site” das Odyssey, somos habitual em Pascal Isabel informados de que os seus autores disponíveis são Saul Bruckner resvala Coutinho Bellow, Jorge Luis Borges, William S. Burroughs, Louise para o senso comum Erdrich, Norman Mailer, Oliver Sacks e Evelyn Waugh. ardentes, que magoámos, que mal Há um mês não era assim. amámos, um enorme Tudo começou quando Andrew Wylie, o mais famoso reconhecimento; eles fizeram de nós agente literário norte-americano, que representa cerca o que nós somos, e um pouco da sua de 700 autores, abriu um “site” onde disponibilizou essência continua entranhada na 20 títulos, antigos, de fundo de catálogo, de alguns dos nossa carne”. mais importantes autores que agencia. Estavam lá obras Outra distinção entre o antigo e o como “O Complexo de Portnoy”, de Philip Roth, “A novo regime da vida amorosa: onde Cidadela Branca”, de Orhan Pamuk, “Filhos da Meia- antes havia códigos e valores, agora Noite”, de Salman Rushdie, “London Fields”, de Martin impera uma cartografia de Amis, a trilogia do Coelho, de John Updike, e “Lolita”, pormenores: “Um pequeno senão de Nabokov. pode virar-se contra nós ou então No “site”, estes livros podiam ser comprados através jogar a nosso favor, a idade, a de um “link” que nos enviava para a loja Kindle da estatura, o aspecto, o vestuário, a voz Amazon. Os eBooks não podiam ser adquiridos em (...). Quem não viveu essas mais sítio nenhum, nem noutro formato. Andrew Wylie reviravoltas instantâneas em que se tinha feito um acordo exclusivo com a empresa norte- passa do gostar ao não gostar só por americana. Isso enfureceu muita gente, porque o formato causa de um pormenor, de uma Kindle só pode ser lido em aparelhos comercializados careta, de um jeito de rir?” pela Amazon ou, então, com a ajuda da aplicação desta Nesta nova economia, em que o empresa para telemóveis como o iPhone e o Blackberry negócio amoroso é mais liberal, os ou para computadores (PC ou Mac) que tiverem instalado feios também participam, e muito o programa disponibilizado gratuitamente. As obras activamente. O preço é escutarem as fi cariam à venda exclusivamente na loja Kindle durante confidências dos amantes, e dos seus dois anos a 9,99 dólares (o preço normal seria 15) e desgostos, abandonados que foram assim era excluída a leitura por quem era mais bonito. Ou talvez em qualquer outro aparelho. não: “Encontramos (...) na Internet Vale a pena navegar no Quem não fi cou nada contente ‘sites’ de apreciadores de obesos e de com isto foi a editora norte- velhos de idade provecta, “site” das Odyssey por americana Random House. gerontófilos inveterados que Enviou à Amazon uma carta a denunciam o seu apetite pelos corpos causa das informações contestar o direito de Andrew delibitados ou envelhecidos. Wylie poder vender estes Extraordinária tendência que não úteis sobre os livros títulos alegando que estavam deixa ninguém de fora!” sujeitos a contratos activos Pela mostra de citações, o leitor já com ela. O passo seguinte foi ameaçar Andrew Wylie terá notado que a confusão de considerando-o um “concorrente directo”: não iriam Bruckner não é menor do que a dos fazer nenhum negócio de direitos para língua inglesa amantes. Bruckner, que faz parte de com a sua agência até que a questão estivesse resolvida. uma geração de intelectuais com Wylie defendia-se dizendo que os contratos dos direitos uma espantosa erudição, escreve destes livros tinham sido assinados antes de 2000,         sobre tanta coisa… até derrapar no altura em que ainda não havia uma cláusula específi ca senso comum e estatelar-se no não- para os direitos digitais. Um mês depois, Andrew Wylie         importa-o-quê. Há elegância na e o grupo editorial Random House sentaram-se a uma fluidez, no discorrer, as citações são mesa e chegaram a acordo quanto aos direitos de abundantes e as anedotas ilustrativas e-books de fundo de catálogo. O agente literário, e agora generosas, mas o discurso é circular, editor, retirou do “site” da Odyssey vários dos e-books contraditório, e a estrutura disponíveis. Ficaram só sete livros dos 20 anteriores. inexistente (apesar da aparente Apesar disso, vale a pena navegar no “site” das Odyssey arrumação). por causa das informações úteis sobre os livros que A capacidade de análise de vendem. Por exemplo, na secção do e-book “The Bruckner é semelhante à de alguém Adventures of Augie March”, de Saul Bellow, é possível que observa os estilhaços de um Edições Odyssey ler um excerto, um texto de Philip Roth sobre Bellow e )    (     + (, ,+ -      " /  vidro partido e em todos vê reflexos http://www. ainda ver páginas do manuscrito. O mesmo acontece com da realidade. Tudo acaba por ficar odysseyeditions. outras obras. Estão lá pedaços dos manuscritos de Louise   resumido a generalidades. A uma com/ Erdrich, Oliver Sacks e Norman Mailer, entre outros.    !" graciosa conversa de “bistrot”. #$ %&' ( &(%&' Nota sobre o tradutor: The Wylie Agency [email protected] provavelmente até faria boa figura, http://www. www.fch.ucp.pt não se desse o caso de o trabalho de wylieagency. (Ciberescritas já é um blogue http://blogs.publico.pt/ revisão ter sido esquecido. com/ ciberescritas)

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 33 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

A fotografi a é um dos Municipal de Lisboa um território estrangeiro destaques da próxima recebe uma exposição de mesmo no centro da edição do Festival TODOS Camilla Watson, Carlos cidade. A exposição pode FestivalFe - Caminhada de Culturas Morganho, Cláudia ser vista entre as 10h e as 2010, que ocupa o Martim Damas, Luís Pavão e 20h e há visitas guiadas Moniz, em Lisboa, de 16 a Luísa Ferreira: cinco por moradores da zona. 19 de Setembro. O Núcleo olhares sobre a identidade Fotográfi co do Arquivo múltipla do Martim Moniz,

A cosmologia de Rui Toscano

Depois de “The Great Curve”, no Espaço Chiado 8, o espaço celeste regressa ao trabalho do artista. José Marmeleira

Out of a Singularity

Lisboa. Cristina Guerra Contemporary Art. R. Santo António à Estrela, 33. Tel.: 213959559. Até 11/09. 3ª a 6ª das 11h às 20h. Sáb. das 15h às 20h. Desenho. Pintura. mmmnn

Já lá vai o tempo em que a música pop-rock ou a auto-representação se revelavam de forma assertiva nas exposições de Rui Toscano (Lisboa, 1970). Desde o início da década “Messier 5 (NGC 5904)”, a maior e melhor pintura passada, a obra deste artista tem da exposição: uma explosão bidimensional de luz e acrílico estabelecido relações mais intensas com outros motivos e contextos, movimento convidava a uma continuação desse interesse, embora 1993, quando pintou com Rui Valério sendo a paisagem um dos mais percepção do infinito da paisagem no domínio da cosmologia. Em vez “The Space Experience”) e não será recorrentes. Vale a pena lembrar os urbana; ou os desenhos que realizou de planos de cidades, vemos estrelas, alheio ao gosto do artista pela ficção vídeos “The Sprawl” (1999/2002), sobre a cidade de São Paulo entre poeiras cósmicas, aparentes eclipses. científica, partilhado com Miguel “São Paulo 24 SET 01” (2001), “Faial” 2002 e 2003. O espaço celeste não é um assunto Soares e Alexandre Estrela – aliás, já (2002) ou “To The Mountain Top” “Out of a Singularity”, na Galeria inédito no percurso de Rui Toscano merece uma tese a dialéctica entre (2004), em que a imagem em Cristina Guerra, parece surgir na (a sua primeira abordagem remonta a fenómenos e paisagens naturais vs. Agenda Inauguram Fotografia, Pintura, Vídeo, Som, Tudo O Que é Sólido Dissolve-Se Castro, 210. Tel.: 226156500. Até 26/09. Outros. no Ar: O Social na Colecção 3ª a 6ª das 10h às 17h. Sáb., Dom. e Feriados Berardo das 10h às 19h. Victor Willing: Grazia Toderi Pintura, Fotografia, Escultura, Uma Porto. Museu de Serralves. Rua Dom João de Castro, Vídeo, Instalação. Retrospectiva 210. Tel.: 226156500. Até 31/10. 3ª a 6ª das 10h às 17h. Cascais. Casa das Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 20h. Summer Calling Histórias - Paula Rego. Av. Desenho, Fotografia, Vídeo. De Daniel Lipp, Deborah Engel, da República, 300. Tel.: Filipa Burgo, entre outros 214826970. De 09/09 a Quando os Convidados se Tornam Lisboa. 3 + 1 Arte Contemporânea. Rua António 02/01. 2ª a Dom. das 10h às 20h. Visita Guiada: 18/9 Anfi trião - Porto Maria Cardoso, 31. Tel.: 210170765. Até 18/09. 3ª a e 19/9 às 10h. Inaugura 9/9 De WochenKlausur, Supersudaca, 6ª e Sáb. das 14h às 20h. às 18h30. Freee. Pintura, Fotografia, Vídeo, Exposições Pintura. Porto. Culturgest. Avenida dos Aliados, 104 - Edifício Instalação, Escultura. da CGD. Tel.: 222098116. Até 15/10. 2ª a Sáb. das 10h Lisboa. Museu Colecção Berardo. Praça do Império Paula Rego Anos 70 - Contos às 18h. - Centro Cultural de Belém. Tel.: 213612878. Até 12/09. O Caçador de Borboletas Populares e Outras Histórias Instalação, Outros. Sáb. das 10h às 22h. 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 19h. De Eduardo Matos. De Paula Rego. Pintura, Outros. Lisboa. Galeria Zé dos Bois. Rua da Barroca, 59 - Cascais. Casa das Histórias - Paula Rego. Av. da POVOpeople Bairro Alto. Tel.: 213430205. Até 18/09. 4ª a Sáb. República, 300. Tel.: 214826970. De 09/09 a 16/01. De Almada Negreiros, Paula Rego, Zao Wou-Ki das 18h às 23h. 2ª a Dom. das 10h às 20h. Visita Guiada: 18/9 e 19/9 Nuno Cera, Joana Vasconcelos, entre Lisboa. Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva. Fotografia, Outros. às 14h30. Inaugura 9/9 às 18h30. outros. Praça das Amoreiras, 56/58. Tel.: 213880044. Até Pintura, Desenho. Lisboa. Museu da Electricidade. Avenida Brasília - 26/09. 2ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb. e Dom. das 10h às 18h. O Contra-Céu - Ensaio Sobre o Edifício Central Tejo. Tel.: 210028120. Até 19/09. Sáb. Pintura. Hiato Tales From... Nowhere das 10h às 20h. 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 18h. De Mattia Denisse. De António de Sousa. Documental, Pintura, Fotografia, A Secreta Vida das Palavras Lisboa. Galeria Zé dos Bois. Rua da Barroca, 59 - Porto. Reflexus Arte Contemporânea. R. Miguel Vídeo, Outros. De Nuno Cera, Ana Jotta, Vasco Costa, Bairro Alto. Tel.: 213430205. Até 18/09. 4ª a Sáb. Bombarda, 531. Tel.: 936866492. De 03/09 a 15/09. entre outros. das 18h às 23h. 3ª a Sáb. das 15h às 19h. Inaugura 3/9 às 21h. Marlene Dumas: Contra o Muro Sines. Centro Cultural Emmerico Nunes. Largo do Desenho. Outros. Porto. Museu de Serralves. Rua Dom João de Castro, Muro da Praia, 1. Tel.: 914827713. Até 25/09. 2ª a Sáb. 210. Tel.: 226156500. Até 10/10. 2ª a 6ª das 10h às das 14h30 às 18h30. Mata-Velhos Arroz em Pó 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 20h. Pintura, Escultura, Fotografia, Vídeo, De António Carrapato. De Ana Borges. Pintura. Instalação, Outros. Lisboa. Ermida de Nossa Senhora da Conceição. Tavira. Museu Municipal de Tavira - Palácio da Travessa do Marta Pinto, 12. Tel.: 213637700. Até Galeria. Calçada da Galeria. Tel.: 281320540. De Sem Limites - Nadir Afonso Summer @ My Place 12/09. 3ª a 6ª das 11h às 17h. Sáb. e Dom. das 14h às 09/09 a 09/09. 5ª das 22h30 às 0h. Lisboa. MNAC - Museu do Chiado. Rua Serpa Pinto, De André Almeida e Sousa, Bela Silva, 18h. Instalação, Performance. 4. Tel.: 213432148. Até 03/10. 3ª a Dom. das 10h às Diogo Guerra Pinto, entre outros. Fotografia. 18h. Lisboa. Alecrim 50. R. do Alecrim, 48-50. Tel.: 1990/2010 Cabinet D’ Amateur Continuam Pintura. 213465258. Até 22/09. 2ª a 6ª das 11h às 19h. Sáb. das 11h às 18h. De Ahmed Ismael, Ana Vieira, WARHOL TV Mais Que a Vida Pintura, Desenho, Escultura. Armanda Duarte, Barbara Lessing, De Andy Warhol. De Vasco Araújo, Javier Téllez. entre outros. Lisboa. Museu Colecção Berardo. Praça do Império Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian. Regresso a Casa Lisboa. Museu Nacional de História Natural - Sala - Centro Cultural de Belém. Tel.: 213612878. Até Avenida de Berna, 45A. Tel.: 217823700. Até 06/09. De Helena Almeida, Silvia Bachli, do Veado. Rua da Escola Politécnica, 58. Tel.: 17/10. Sáb. das 10h às 22h. 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 3ª a Dom. das 10h às 18h. Christian Boltanski, entre outros. 213921800. Até 30/10. 3ª a 6ª das 10h às 17h. Sáb. e 19h. Vídeo, Fotografia, Instalação, Outros. Porto. Museu de Serralves - Casa. Rua Dom João de Dom. das 11h às 18h.

34 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon percepção que estes e outros nomes composta por pinturas de formatos (por exemplo Daniel Malhão, Edgar médios, onde as estrelas sofrem Martins e Raquel Feliciano) têm ligeiras variações de cor e forma. abordado, com objectivos e meios O jogo de escalas é um dos distintos, com maior ou menor aspectos mais interessantes e a frequência, nos seus trabalhos. montagem assegura ao espectador tal A actual exposição de Rui Toscano experiência, como acontece nos consiste, fundamentalmente, em pequenos desenhos da série “The pinturas e desenhos, mas também Olbers Paradox”, feita com inclui duas obras de “The Great “dripping” de tinta do spray. Este Curve”, individual que Rui Toscano trabalho torna o paradoxo apresentou no final de 2009 no descoberto em 1823 pelo astrónomo Espaço Chiado 8 e na qual alemão Heinrich Wilhelm Olbers – predominavam a instalação, o vídeo como pode o céu manter-se negro à e a escultura. A sua inclusão explica- noite se está cheio de estrelas se pelo vínculo que liga os dois infinitas de um universo também ele momentos, o estudo do cosmos: a infinito? – objecto de uma ficção origem e o destino do Universo, a sobre papel: o céu é branco e as sua forma, os elementos que o estrelas são pontos negros. Os compõem, restantes trabalhos remetem mais A exposição “inspira-se” numa directamente para “The Great Curve” teoria específica, a teoria do Big (“Mother And Child”) ou sugerem Bang, como resultado de uma movimento (“Across The Universe”). “singularidade” ou zona de Permanece admirável na prática densidade infinita, um fenómeno artística de Rui Toscano a capacidade que, pensam os cientistas, habita os de substanciar ideias, sejam elas buracos negros. Da singularidade do inspiradas pela observação de processo do artista nascem, objectos celestes ou simples entretanto, as pinturas de objectos paisagens. No entanto, a experiência estelares, sobretudo de enxames e que algumas obras oferecem à aglomerados de estrelas como o percepção (sobretudo “Mother And “Messier 5 (NGC 5904)” Child” e “Across the Universe”) nem representado na maior e melhor sempre tem a energia de outros pintura de “Out of a Singularity”: trabalhos. É como se houvesse um uma explosão bidimensional de luz e certo ensimesmamento acrílico que sugere uma narrativa (independente dos suportes), uma com a série “Untitled (Cluster)”, esta rarefacção. Demasiado cósmica.

Pintura, Desenho, Escultura, Oeiras. Centro Cultural Palácio do Egipto. R. Instalação, Outros. Álvaro António dos Santos - Vila de Oeiras. Tel.: 915439065. Até 26/09. 3ª a Dom. das 11h30 às 18h. Donnerstag e Outros Desenhos Pintura. De Jorge Queiroz. Arena Lisboa. Chiado 8 - Arte Contemporânea. Largo do Chiado, 8 - Edifício Sede da Mundial- De Carla Filipe, João Tengarrinha, Confiança. Tel.: 213237335. Até 17/09. Paulo Brighenti. 2ª a 6ª das 12h às 20h. Lisboa. Fundação Carmona e Costa. Ed de Desenho, Outros. Espanha - R. Soeiro Pereira Gomes L1 - 6º A/C/D. Tel.: 217803003. Até 16/10. 4ª a Sáb. das 15h às Chapéus-de-Sol 20h. De Inês Lobo. Desenho, Outros. Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian - Pra Quem Mora Lá, O Céu é Lá - Jardim. Avenida de Berna, 45A. Tel.: 217823700. Até OSGEMEOS 30/9. Instalação. Programa Gulbenkian De Gustavo Pandolfo, Otávio Próximo Futuro/Next Future. Pandolfo (OSGEMEOS). Lisboa. Museu Colecção Berardo. Praça do Império Natureza Morta - Centro Cultural de Belém. Tel.: 213612878. Até 19/09. Sáb. das 10h às 22h. 2ª a 6ª, Dom. e Feriados De Barrão. das 10h às 19h. Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian. Avenida de Berna, 45A. Tel.: 217823700. Pintura, Outros. Até 30/9. René Bertholo Instalação, Escultura. Programa Estói. Ruínas Romanas de Milreu. Rua de Faro. Gulbenkian Próximo Futuro/Next Tel.: 289997823. Até 29/09. 3ª a Dom. das 09h30 Future. às 18h. Allgarve 2010. Azulejos. Der Geist Unserer Zeit De Fernando Brito. Guimarães. Centro Cultural Vila Flor. Avenida D. Afonso Henriques, 701. T. 253424700. Até 27/6. 3ª a sáb das 10h às 12h30 e das 14h às 19h. Domingo e feriados das 14h às 19h. Escultura, Pintura, Outros. A Invenção Da Glória. D. Afonso V e as Tapeçarias de Pastrana Lisboa. Museu Nacional de Arte Antiga. Rua das Janelas Verdes - Palácio do Alvor. Tel.: 213912800. De 12/06 a 12/09. 3ª das 14h às 18h. 4ª a Dom. das 10h às 18h. Tapeçaria, Outros. O Jardim das Maravilhas De Joan Miró.

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 35 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

A ZDB já tem (1 de Outubro), Josephine Master Musicians of programação musical Foster (21 de Outubro, com Bukkake, que vem de para os próximos três Barn Owl) e Scout Niblett Seattle para actuar na sala ZDBZ meses, com destaque (5 de Novembro, dia de de Lisboa a 17 de Outubro para as visitas das aniversário da ZDB), e e dois dias depois sobe ao meninas Nina Nastasia também para o colectivo Passos Manuel, no Porto.

Pop Fanfarlo, a caminho de serem Arcade Fire

Terça-feira, no Lux, um concerto no momento certo. Mário Lopes

Fanfarlo Lisboa. Lux Frágil. Av. Infante D. Henrique - Armazém A (Cais da Pedra a Santa Apolónia). 3ª, dia 7, às 22h30. Tel.: 218820890. 20€.

Foram buscar o nome a um conto de Baudelaire, já foram ouvidas versões dos Neutral Milk Hotel nos seus concertos e o seu álbum de estreia foi produzido por Peter Kaits, que trabalhou anteriormente com os National e os Interpol. Os Fanfarlo têm tanto dos Arcade Fire que Chamam-se Fanfarlo, são a banda suspeitamos que o concerto de terça-feira no Lux que o sueco Simon Balthazar seja só um primeiro passo para o Pavilhão Atlântico juntou em Londres, e a prova de Flowering Tree” (uma alusão a “A panorama musical. Tem-se que os Arcade Fire já têm Clássica Flauta Mágica”), no dia 11, e destacado num imenso repertório, descendência directa. intérpretes tão notáveis como os que se estende do barroco ao século Ou seja, banda séria e literata, Um mestre maestros René Jacobs e Phlippe XX, tanto a solo como na música de banda que procura extrair algo de Herreweghe, o pianista Andreas câmara, e possui uma premiada épico e catártico das diabruras da Staier ou os violinistas Florian discografia, na qual se inclui a vida normal. Também são uma do violino Zwiauer e Christian Tetzlaff. integral dos concertos de Mozart banda grande, não tanto pelo O festival começa já na próxima com a Deutsche número de elementos (cinco), mas abre o quarta-feira, pelo que esta semana Kammerphilharmonie Bremen. É mais pelos instrumentos em que se haverá apenas dois concertos. O também colaborador habitual de dividem: nas suas canções ouvem- Festival primeiro (dia 8,8, às 19h,19h, no Auditório pianistas como Leif Ove Andsnes e se, para além dos habituais 2) apresenta osos solistassolistas dodo FestivalFestival LarsLars Vogt.Vogt.

Concertos guitarras, baixo, bateria e teclados, Cantabile na interpretaçãointerpretação ddoo Trio violinos e trompetes, vibrafones e Mozart para piano e ccordasordas K. 502 e o bandolim, clarinetes e Quarteto K. 447878 (ver texto seguinte). glockenspiel. O violonista alemão O segundo (noo mesmo dia, às 21h, “Reservoir”, de 2009, foi o no Grande Auditório)uditório) traz a LisLisboaboa álbum de estreia dos Fanfarlo e é o Christian Tetzlaff dirige o violinista e maestro alemãoalemão que vêm apresentar terça-feira, dia a Orquestra Gulbenkian. Christian Tetzlaff,zlaff, que irá dirigirdirigir a 7, ao Lux, a partir das 22h30. Ainda Cristina Fernandes Orquestra Gulbenkianulbenkian num chegam no momento certo, programa compostomposto pela quando são fenómeno circunscrito Orquestra Gulbenkian Sinfonia nº 80,0, de

a um núcleo de entusiastas Com Christian Tetzlaff (direcção Haydn, a Sinfoniafonia ALEXANDRA VOSDING conquistados por esta musical e violino) e Hanna Concertante KK.. 36364,4, moderníssima confluência de Weinmeister (viola). de Mozart, e “A“A Noite referências. Os Fanfarlo têm muito Transfigurada”,a”, op. 4, Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian - dos supracitados Arcade Fire na Grande Auditório. Avenida de Berna, 45A. 4ª, 8, às de Schönberg,g, obra instrumentação e no crescendo das 21h. Tel.: 217823700. 10€ a 20€. apaixonante eestreadastreada melodias, apreciam certamente os Festival Mozart. Obras de Haydn, em Viena em 1902,1902, Beirut de Zach Condon (a voz Schönberg e Mozart. que faz a despedidapedida segue-o e o trompete não engana) e do Romantismomo e fazem da pop uma caminhada A primeira temporada Gulbenkian anuncia o sobre a ténue linha que separa o da responsabilidade do novo Expressionismo.mo. lúdico da grandiloquência. director do Serviço de Música, o Christian Em 2008 tocaram no Festival finlandês Risto Nieminem, marca a Tetzlaff, que Sudoeste. Dois anos depois, com diferença logo desde o início, voltará a Lisboaboa ao um álbum que os tornou nome começando várias semanas antes longo do ano para sussurrado e respeitado entre a do que era habitual e propondo um outros concertosrtos comunidade indie, chegam ao Lux festival temático, este ano (incluindo a e, se tudo correr como mandam os dedicado a Mozart. Em Setembro e interpretaçãoo ddasas manuais de mitificação, darão um Outubro poderemos ouvir um Sonatas e concerto que levará muitos a programa centrado nas primeiras e Partitas de afirmar orgulhosamente, quando nas últimas obras do grande Bach), é um dosdos os Fanfarlo forem anunciados para compositor austríaco, incluindo mais ilustres Christian Tetzlaff é um dos mais ilustres violonistas o Pavilhão Atlântico daqui a uns um olhar contemporâneo através violinistas do actuais, com um repertório que vai do barroco ao anos, “eu estive lá em 2010”. da ópera de John Adams, “A actual século XX, das interpretações solo à música de câmara

36 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon ANDRÉ NACHO

Lisboa é protagonista no primeiro concerto da temporada da Orquestra Metropolitana

Um novo cruza-se com o festival para a Festival Mozart da música de câmara Gulbenkian e no dia 9 (no Goethe Institut) os instrumentistas do Festival Cantabile 2010 - A Arte festival participam no projecto da Música de Câmara “Música e Arte”, em colaboração Com Elina Vähälä (violino), Diemut com a artista dinamarquesa Lone Poppen (violeta), Alexander Haugaard Madsen. Do programa Chaussian (violoncelo) e Ralf fazem parte obras de Ravel, Bruno Gothóni (piano), Laia Falcón Maderna e Alfred Schnittke. Haverá (soprano) e Maximilian Schmitt ainda actividades pedagógicas como (tenor). a “masterclass” de canto com o barítono Tom Krause no São Carlos Lisboa, Sintra e Mafra. Programa completo em http://wwww.goethe.de/Portugal (de 2 a 9 de Setembro). C.F. Obras de Bach, Mozart, Schnittke, Brahms, Schumann, Ravel e Crumb. Sons de Lisboa com a Um novo festival promete dar cartas Metropolitana neste início de temporada. Trata-se do Festival Cantabile 2010, Orquestra Metropolitana de organizado pelo Goethe-Institut e Lisboa vocacionado para o repertório de Direcção Musical de Pedro Neves. câmara e para a formação de jovens Com Ricardo Parreira (guitarra intérpretes. Desde ontem e até dia portuguesa). 11, um pequeno grupo de Lisboa. Câmara Municipal - Salão Nobre. Pç. do instrumentistas de nível Município. 3ª, 7, às 18h30. Tel.: 213617344. Entrada internacional (Elina Vähälä, Diemut gratuita (mediante confirmação de lugar). Poppen, Alexander Chaussian e Ralf Obras de Saint-Säens, Milhaud, Gothóni) e os cantores Laia Falcón e Frederico de Freitas e Carlos Maximilian Schmitt apresentam-se Paredes. em recitais de câmara em locais tão emblemáticos como o Teatro Para o primeiro concerto da Nacional de São Carlos, o Palácio de temporada, a Orquestra Monserrate em Sintra, o MUDE - Metropolitana escolheu uma série de Museu do Design e da Moda, o obras raramente ouvidas, todas elas Palácio Nacional de Mafra, a inspiradas na cidade de Lisboa. O Fundação Gulbenkian, o Centro concerto, marcado para terça, dia 7, Cultural de Belém e o próprio às 18h30, no Salão Nobre da Câmara Goethe-Institut Portugal. Tal como Municipal, terá direcção musical de os locais são representativos de Pedro Neves e inicia-se com “Une várias estéticas e épocas históricas, nuit à Lisbonne”, op. 63, de Camille também o programa,p idealizado pela Saint-Saëns, uma barcarola dedicada viovioletistaletista e pedagoga alemã Diemut ao rei D. Luís de Portugal e publicada Poppen (uma(um das fundadoras da em 1881. O género da barcarola, pprestigiadarestigiada Orquestra de Câmara da muito em voga no século XIX, Europa), ppercorree um largo espectro inspirava-se nas canções dos temtemporal,poral, qque vai do Barroco ao gondoleiros venezianos, sécuséculolo XX e compreende obras de correspondendo neste caso a uma compositocompositoresr como J. S. Bach, visão idealizada de Lisboa e marcada MMozart,ozart, Brahms,Br Ravel, Schumann, pelo gosto da época pelo exótico e Schnittke ouo George Crumb. pelo pitoresco. Segue-se “Prelúdio O pprimeirorime recital, dedicado a J. sobre um pregão de Lisboa” (1924), S. BachBach,, realiza-serea no dia 4, às 19h, de Frederico de Freitas, uma obra nnoo PalácioPalácio de Monserrate (Sintra), que data do tempo em que este seseguindo-seguindo-se nono diadia 5 (às(às 21h,21h, no eclécticoecléctico compositorcompositor — autorau de MUDE) umum programarograma com composiçõescomposições arrojadasarrojadas no sonatas de Mozart,ozart, Hindemith campocampo da música eruerudita, e Crumb e o QuartetoQuarteto oop.p. 47, masmas tambémtambém de fadosfados e de ddee SchumSchumann.a n. O bicentenário música de sucesso parapa o ddee RoRobertbert SchumannS humann será teatroteatro ddee revista — ttambémambém assinaladoas nalado nnoo ddiaia 7 frequentavafrequentava ainda o cursoc ((àsàs 21h, no Sãoo Carlos) com o superior dodo conservatório.conservat ciclo de cacançõesn ões “Musique“Musique pourpour Lisbonne”,Lisbon “Dichterlie“Dichterliebe”,b ”, ppeloelo op.op. 420, de Darius Milhaud,Milh tenor MaxiMaximillianm llian resultouresultou ddee uma ScSchmitt.hmitt. NNoo diaia encomendaencomenda dad seguinte, o GulbenkianGulbenkian FFestivalestival realizadarealizada eem CaCantabilentabile 1966,1966, tendotend a obraobra sidsidoo estreadaestreada em 1968,1968, non TeatroTeatro Tivoli,Tivoli, no O tenor Maximillian Schmitt XIIXII FestivalFe festeja o bicentenário de Schumann GulbenkianGulbe com o ciclo de canções “Dichterliebe” de

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 37 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Concertos

O super-guitarrista Kurt Rosenwinkel Jean-Luc Ponty no Festival junta-se à Orquestra de Jaz de de Jazz de Sines Matosinhos na Festa do Avante

Música. Na mesma época, Milhaud escreveu várias peças dedicadas a Agenda outras cidades (Praga, Nova Orleães, Graz, São Francisco, etc.). Foi ainda Sexta 3 Centenário da República. Angola, às 21h30. Tel.: 219383100. 10€. Direcção Musical de Hugo Alves. lançado o desafio ao jovem Silves. Castelo, às 21h. Tel.: 282445624. 10€. Quarteto de André Matos Ana Moura Festival de Jazz de Silves. compositor Tiago Derriça (n. 1986) 25 anos da Carvalhesa + Porto. Maus Hábitos. R. Passos Manuel, 178, às 22h. Santiago do Cacém. Parque de Feiras e Exposições, às para orquestrar “Lisboa e o Tejo”, de Catarina dos Santos + Dany Tel.: 222087268. 22h. Tel.: 269829400. Entrada gratuita. Carlos Paredes, obra que terá Ricardo Silva e Celina Pereira + Muxima Segunda 6 Amora. Quinta da Atalaia, às 21h. Tel.: 212224000. Cambatango Mariza Parreira como solista na guitarra 19,5€ (pré-venda) a 29€ (passe). Sesimbra. Cine-Teatro Municipal João Mota. Av. Salvaterra de Magos. Praça de Touros. Av. Dr. Trio portuguesa. C.f. Festa do Avante 2010. Liberdade, 46, às 21h30. Tel.: 212234034. 10€. Roberto Ferreira Fonseca, às 22h. Tel.: 263504201. Com Elina Vähälä (violino), Diemut 11€ a 15€. Poppen (viola), Alexander Gene Loves Jezebel + Tarantula + Âme (Kristian Bayer) Trio Chaushian (violoncelo). Lisboa. Lux Frágil. Av. Infante D. Henrique - Miss Lava + Alter Ego Jazz Com Elina Vähälä (violino), Diemut Mafra. Palácio e Convento de Mafra - Biblioteca. Armazém A, às 23h. Tel.: 218820890. Devesa. Estádio da Devesa, às 20h. 7,5€ (dia) a 12€ Terreiro de D. João V, às 21h30. Tel.: 261817550. (passe). Poppen (viola), Alexander Chaushian Entrada gratuita. Kristi Stassinopoulou GSM Fest 2010. (violoncelo). Festival Cantabile 2010 - A Arte da Jazz Avante Barcarena. Fábrica da Pólvora. Estrada das Monserrate. Palácio de Monserrate - Sala de Música. Fontaínhas, às 22h. Tel.: 214387460. Entrada Estrada de Monserrate, às 19h. Tel.: 219231201. Música de Câmara. Obras de Bach e gratuita. Sábado 4 Entrada gratuita. Hindemith. Festival Sete Sóis Sete Luas 2010. Jean-Luc Ponty & His Band Festival Cantabile 2010 - A Arte da Com Kurt Rosenwinkel, Música de Câmara. Carminho + Amigos do Alheio Silves. Castelo, às 22h. Tel.: 282445624. 20€. Terça 7 a Orquestra de Jazz de Festival de Jazz de Silves / Allgarve’10. Montemor-o-Novo. Parque de Exposições Cordas na Intimidade Micaela Vaz Municipal, às 21h30. Tel.: 266898100. Entrada Matosinhos marca um Com Gerardo Ribeiro (violino), Xavier Porto. Casa da Música - Sala 2. Pç. Mouzinho de gratuita. Diabo na Cruz + Cacique ‘97 + dos pontos altos da Festa. Bunnyranch + Deolinda + Pedro Gagnepain (violoncelo), Jorge Alves Albuquerque, às 19h30. Tel.: 220120220. 7,5€. Mariza Abrunhosa e Comité Caviar + A (viola), Alexei Eremine (piano). Novos Talentos do Fado. Rodrigo Amado Vila Nova da Barquinha. Praça de Touros. Rua José Naifa + Bernardo Sassetti Trio Guimarães. Centro Cultural Vila Flor. Avenida D. Felipe Rebordão, às 22h. Tel.: 249710469. 15€ a 25€. Afonso Henriques, 701, às 22h. Tel.: 253424700. 5€. Amora. Quinta da Atalaia, às 11h. Tel.: 212224000. Maximilian Schmitt e Ralf Orquestra de Jazz ddee MMatosinhosatosinhos 19,5€ (pré-venda) a 29€ (passe). Encontros Internacionais de Música Gothóni Fernando TordoTordo de Guimarães. e Kurt Rosenwinkell Espinho.Espinho. Casino. R. 19, 85,8 às 23h. Festa do Avante 2010. Lisboa. Teatro Nacional de São Carlos - Salão Nobre. Lg. S. Carlos, 17, às 21h. Tel.: 213253045. 7€. Amora. Quinta da Atalaia. Amanhã,manhã, à meia-noite. Tel.: 227335500. 32,5€32,5€ (jantar- Soulwax + 2 Many DJs + Dada Life Quarteto de André Matos Tel.: 212224000. 19,5€ (pré-venda)nda) a 29€ ((passe).passe). concerto).concerto). Festival Cantabile 2010 - A Arte da + Goose + Moulinex Fundão. A Moagem, Cidade do Engenho e das Artes. Largo da Estação, às 22h. Tel.: 275774052. Entrada Música de Câmara. 200 anos de Festa do Avante 2010.0. Lisboa. Cais da Matinha. Rua da Cintura do Porto de Ana Moura gratuita. Schumann. São João da Pesqueira. Anfiteatro,A às Lisboa, às 23h. 15€ a 20€. A decorrer novamentee nnoo 21h30. Tel.: 254489999. EEntrada Optimus Hype. Mind da Gap + MC Berna + Jovens Músicos espaço da Quinta da Atalaia,Atalaia, gratuita. Lisboa. Goethe-Institut. Cp. Mártires Pátria, 37, às Alek Rein + Iconoclasts + Sonoplastia + Contrabando 88 no Seixal, a Festa do AvanteAvante Devesa. Estádio da Devesa, às 20h. 7,5€ (dia) a 12€ 18h. Tel.: 218824510. Entrada gratuita. SandorSaS ndor MesterMester Youthless + DJ MadM Festival Cantabile 2010 - A Arte da constitui já um eventoo Cascais. Centro CuCulturalltural dde Cascais. Av. (passe). Lisboa. LX Factory. Rua Rodrigues Faria, 103, às 22h. GSM Fest 2010. Música de Câmara. obrigatório na “rentrée”ée” Rei Humberto II de ItáliaItália,, às 21h30. Tel.: 213143399. cultural do país. Numaa TTel.:el.: 214848900. 5€. LX Popfest 2010. ObrasObras de DowlanDowland,d Bach, programação jazz quee inclui Domingo 5 Quarta 8 Seixas, Gulliani, SSor, Blind Zero ainda espectáculos peloelo Tarrega, Bartok e Paredes. Paços de Ferreira. Jardim Municipal, às 22h30. Tel.: Melech Mechaya + Expensive Grünen + João Gomes Sexteto de Ricardo 255860700. Entrada gratuita. Soul + Dazkarieh + Peste & Sida + Lisboa. Odessa. Av. Infante D. Henrique - Armazém Pinheiro, o trio de DoDo RenoReno aos AAlpes Tim e Companheiros de Aventura B, Lj.9, às 0h. Tel.: 218822898. 5€ (dia) a 25€ MarítimosMarítimos Squeeze.Theeze.Pleeze + Virgem (passe). Bernardo Sassetti ou o Suta + Os Tornados + Brigada Victor Festival Jazz.pt. Guimarães.Guimarães. Centro CCulturalu Vila Jara + Demian Cabaud Quarteto quarteto de Demian Flor. Avenida D. AAfonsofon Henriques, Cuba. Recinto da, às 22h30. Tel.: 284419900. Cabaud com o pianistata Leo 701701,, às 22h. Tel.: 253424700.253 5€. Entrada gratuita. com Leo Genovese + António Quarteto EncontrosEncontros Chaínho Com Elina Vähälä (violino), Diemut Genovese, o grande Micro Audio Waves + Kaviar + Mr. InternacionaisInternacionais de Poppen (viola), Alexander destaque vai para o Smith + DJ Fernando Alvim MúsicaMúsica de GuGuimarães.i Chaushian (violoncelo), Ralf Gothóni concerto da nortenhaa Abrantes. Quinta Santa Catarina - Abrançalha de (piano). Baixo, às 22h. Tel.: 966651374. Entrada gratuita. Orquestra de Jazz de Tord GustavsenGustav Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian - LANfestival 2010. Matosinhos, tendo comomo EnsembleEnsemble Grande Auditório. Avenida de Berna, 45A, às 19h. convidado o super- Silves.Silves. CasteCastelo,lo, às 222h. Tel.: The Legendary Tigerman + Tel.: 217823700. Entrada gratuita. 282445624. EntradaEntra gratuita. Festival Mozart/Festival Cantabile guitarrista Kurt Livin’Paradies + Chocaise Festival de JJazza de Figueira. Polidesportivo. Mexilhoeira Grande - 2010 - A Arte da Música de Câmara. Rosenwinkel. Com a edediçãoição Silves.Silves. Estrada Nacional, 125, às 21h30. Tel.: 282470832. Mariza de um novo disco previstavista Entrada gratuita. ainda para este ano, ““KurtKurt OrquestraOrquestra de Jazz Águeda. Largo 1º de Maio, às 22h30. Tel.: 234610720 / 234610722. 3€. Rosenwinkel & OJM: OurOur de LagoLagoss Tiago Bettencourt & Mantha DirecçãoDirecção MusicalM de Mangualde. Av. Conde D. Henrique, às 22h30. Tel.: Secret World”, o ensemblemble Amora. Quinta da Atalaia, às 11h. Tel.: 212224000. HHugougo Alves.Alve 232619880. Entrada gratuita. Quinta 9 liderado por Pedro Guedesuedes 19,5€ (pré-venda) a 29€ (passe). Lagos. CentroCen Cultural Buraka Som Sistema Festa do Avante 2010. e Carlos Azevedo dá Mariza em Vila Nova ddee LaLagos.g R. Peter Murphyphy Viseu. Expovis - Feira de São Mateus. Campo de da Barquinha, Salvaterra LançLançarotea de Águeda. Largo 1º ddee continuidade a uma Viriato, às 22h. Tel.: 232422018. 2,5€. Quarteto Nelson Cascais + DJ de Magos e Águeda FreitaFreitas,s 7, às 21h30. Maio, às 22h30. TelTel.:.: brilhante colaboraçãoo que TeTel.:l.: 28282770450.2 Enigma 234610720 / tem já alguns anos. Jorge Fernando Trio Lisboa. Tapada das Necessidades. Largo das 234610722. 3€. ComemoraçõesComemor do Olival Basto. Centro Cultural da Malaposta. Rua Necessidades, às 17h. Entrada gratuita Out Jazz 2010. Faustino/ Roder/ Deolinda + Diabo Na Cruz Eberhard/ Montemor-o-Novo. Parque de Exposições Municipal, às 21h30. Tel.: 266898100. Entrada gratuita. Neuser + Johnny Quarteto Lisboa. Odessa. Av.v. Com Elina Vähälä (violino), Diemut Infante D. Poppen (viola), Alexander Chaushian Henrique - Armazém B, Lj.9, (violoncelo), Ralf Gothóni (piano). às 0h. Tel.: Lisboa. MUDE - Museu do Design e da Moda. Rua 218822898. 5€ Augusta 24, às 21h. Tel.: 218886117. Entrada gratuita. (dia) a 25€ Festival Cantabile 2010 - A Arte da (passe). Música de Câmara. Festival Jazz.pt. Quinteto de Metais Afonso Pais Trio Lisboa. Largo do Carmo, às 19h. Tel.: 213617320. Lisboa. Odessa. Av. Infante D. Entrada gratuita. Henrique - Armazém B, Lj.9, às Clássicos na Rua / Lisboa na Rua. 22h30. Tel.: 218822898. Entrada gratuita. Orquestra de Jazz de Lagos Festival Jazz.pt.

38 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Pop pós-punk, “Simple man” é “trip” cósmica com sintetizador ameaçador, “Night of the pigs” é Pirómano sátira de um Kurt Weill encharcado em LSD. Ouvem-se canções sabotadas em estúdio, retalhadas e visionário montadas novamente para, soluçantes, acentuarem o ambiente O anti-herói do “flower ameaçador do álbum. Ouve-se a voz de Arthur Brown, qual barítono power” redescoberto em perverso, brincando com o ouvinte, dois discos irrepetíveis da provocando-o com tom de anjo música experimental. negro que vocifera, abanando-o com os gritos de gárgula que são a sua Mário Lopes imagem de marca. Galactic Zoo De certa forma, percebe-se que Dossier ninguém tenha ouvido “Galactic Zoo Disaster” em 1971. Tudo isto era Kingdom Come Esoteric Recordings; demasiado. Um experimentalismo distri. Mbari fincado no seu tempo por onde se escapavam visões de um futuro por mmmmn vir. Uma tresloucada obra-prima. Discos Os Crazy World of Arthur Brown não tiveram tempo Vanguardista, inimitável e irrepetível. para ser mais do que uma nota de rodapé da história Arthur Brown da pop - mas é uma nota de rodapé fascinante The Crazy World of Uma viagem Arthur Brown Esoteric Recordings; London”. Nada de guitarras, antes Come, com os quais gravaria três americana distri. Mbari um combo jazz tripado, convertido à álbuns até 1973. ideia de rock’n’roll sem o tocar “Galactic Zoo Dossier” é o Isobel Campbell & Mark Lanegan declaradamente – as canções primeiro – e é uma obra-prima de mmmnn Hawk “crescem” com as secções de cordas um experimentalista esquizóide. V2; distri. Nuevos Medios “I am the God of hellfire, and I bring e metais que, a espaços, nos fazem Continuam as visões apocalípticas, you... Fire!”. Nada discreto o grito de lembrar uns zombies que levassem à mas já não há orquestrações ou mmmmn alerta, nada discreta a forma como letra o nome com que se baptizaram. sugestões de “vaudeville”, antes Arthur Brown se anunciou ao Acompanhado pelo teclista guitarras e experimentalismo de Toda a América mundo: uma linha de teclado em Vincent Crane, pelo baixista Nick estúdio, sintetizadores acentuando cabe neste disco contraponto ao “Fire” que a voz Greenwood e pelo baterista Drachen um tom demente e, genericamente, saído da cabeça de gritava, um refrão a dar ares de Theaker, Arthur Brown recita textos um ambiente de “Thick As A Brick” uma escocesa. canção pop diabólica e, ali em 1968, pirómanos, alterna entre voz que correu bem (por ser Ouve-se blues-rock Brown a surgir como anti-herói do tonitruante e gritos de gárgula absolutamente anarca e como o que Chicago “flower power”, com a cara pintada assustadora. A música alterna entre verdadeiramente visionário), ou de nos ofereceu em 1950 ou 1960, e um capacete ritual libertando o “vaudeville” inquietante e a uns Van der Graaf Generator levados ouvem-se baladas country labaredas. elegância de um Hammond que ao extremo. assombradas, passamos pelos Na história da pop, Arthur Brown fervilha sobre a secção rítmica. “I can feel insanity” é das cenários pop misteriosos e não tem direito a mais que nota de “Fire” é o grande single, um bizarro primeiras coisa que ouvimos a opulentos de orquestração de Lee rodapé, mas não podemos dizer que teatro pop com linha melódica Arthur Brown e os ecos dessa Hazlewood, pela folk acústica de tenha sido um óvni que surgiu tão inesquecível e metais aumentando a primeira declaração atravessam cantautor e pela folk espectral que já rapidamente quando desapareceu, estridência da canção. “I put a spell todo o álbum. Riffs hard-rock não ouvimos desde que deixando olhares estupefactos à sua on you”, por sua vez, é a versão cruzam-se com jogos vocais que desapareceram os Mazzy Star. Mais curta passagem. A reedição de “The inevitável – Screamin’ Jay Hawkins é Peter Hammil apreciaria e ouvem-se uma vez, a ex-violoncelista dos Belle Crazy World Of Arthur Brown”, o um dos pais espirituais de Brown. dissonâncias que os exploradores & Sebastian é quem orquestra toda a seu primeiro álbum, gravado em O problema da estreia de Arthur noise de início de século XXI música, quem desenha os ambientes 1968, depois de a sua banda ter sido Brown é a incapacidade de levar até poderiam ter tido como inspiração – e quem compõe as canções. Mark assinada por insistência de Pete às últimas consequências a ideia se tivessem ouvido este disco, claro Lanegan, o ex-vocalista dos Townshend, e de “Galactic Zoo original. A partir de “I put a spell on está. “Metal monster” prenuncia o Screaming Trees, colaborador de Dossier”, editado em 1971, quando o you”, o pirómano ganha um pouco ambiente soturno e paranóico do e dono de trio Crazy World já dera lugar aos de compaixão e perde inspiração. Kingdom Come, permite-nos Exagerando, diríamos que um compreender melhor o alcance da Arthur Brown serenado é um Arthur história. Arthur Brown é um louco Brown aborrecido. “The Crazy genial, um apocaliptíco obsessivo, World Of Arthur Brown” é, assim um Screamin’ Jay Hawkins que, em sendo, um grande meio album – vez de se erguer do caixão para nos agora reeditado com segundo CD, aterrorizar, caminha na nossa onde encontramos as habituais direcção gritando que o mundo vai versões alternativas e um single não acabar, que olha em frente e vê incluído no disco original, “Devil’s apenas dor e sombras, que grip” e “Give him a flower”. caminhemos com ele e aproveitemos Os Crazy World Of Arthur Brown o que for possível: “the price of your desapareceriam em 1970, quando entry is sin”. Vincent Crane e Carl Palmer, “The Crazy World Of Arthur baterista que entretanto substituíra Brown”, meio álbum conceptual – Drachen Theaker, saem para fundar ideia única, fogo, labaredas, os Atomic Rooster (Palmer seria regeneração -, que não chegou a depois o terceiro apelido nos álbum conceptual inteiro por Emerson, Lake & Palmer). Brown, pressão da editora, temendo gravar naturalmente, não parou. Juntou algo demasiado alienante, é ópera novos músicos e criou os A América da escocesa Isobel Campbell é uma de terror com groove da “swinging criminosamente ignorados Kingdom viagem que vai do blues-rock à country e à folk

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 39 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Discos

A meio-soprano Sarah Connoly canta Handel com elegância e expressividade

uma muito recomendável carreira Um álbum inteiro a partir de “I’m not in love”, dos 10cc? Pode recorrem apenas a três cantores (a a solo, é quem lhes dá o tom. parecer estranho, mas “Relayted” é uma pequena maravilha soprano Mónica Monteiro e os Handel vezes dois Que Isobel se coloque numa tenores Filipe Faria e Sérgio posição subalterna (só surge como Peixoto), instrumentos melódicos vocalista principal em “To hell and (oboé, flauta, violino barroco) e uma Handel back”, a que recorda ambientes ampla secção de baixo contínuo Duets Mazzy Star, e em “Sunrise”) só revela (violoncelo e contrabaixo barroco, Rosemary Joshua que tem perfeita noção daquilo que tiorbas, órgão). Algumas peças Sarah Connoly melhor serve a música que cria. De vocais (como “Adjuva nos”, de The English Concert resto, o facto de Lanegan não ser o Melgaz, e “Tanta grassabatur”, de Direcção de Harry Bickert único vocalista masculino do álbum Teixeira) surgem assim em versões Chaconne / Chandos – Willy Mason surge num par de puramente instrumentais, enquanto canções, incluindo uma versão de outras assumem configurações mmmmn “No place to fall”, do obrigatório mistas. Em ambos os casos, os Townes Van Zandt -, é prova disso instrumentos contribuem para uma A música de mesmo. Lanegan, contudo, e como maior riqueza de colorido e uma Handel tem não poderia deixar de ser, é a maior nitidez da textura. ocupado um lugar presença marcante: o grão da sua voz Se as peças com efectivos mais de destaque nas grave é veículo perfeito para dar às amplos (como “Si quaeris miracula”, carreiras da canções a sensibilidade dramática, estúdio com liberdade total. de Almeida, ou “Hodie nobis” e soprano Rosemary vivida, que pedem - a voz dela, frágil Dupla vitória Segunda: conseguir fazer disso um “Sicut cedrus”, de Seixas) são as que Joshua e da meio-soprano Sarah e discreta, quase sussurrada, surge Gayngs disco coerente. Aqui está ele, ilustram melhor o esplendor do Connoly, tanto nos palcos de ópera e como contraponto perfeito, como “Relayted”. Que a aventura Gayngs estilo barroco e avultam entre os concert como em disco. Para o Relayted que um refúgio de doçura. Jagjaguwar; distri. Flur não fique por aqui. Pedro Rios momentos altos da gravação, em boa presente álbum, em colaboração com Álbum de fascínios, os de Isobel parte dos casos o grupo cria um a prestigiada orquestra barroca The por linguagens clássicas da música mmmmn ambiente intimista e meditativo, English Concert, seleccionaram americana, “Hawk” poderia resultar Clássica mais próximo da música de câmara alguns dos mais belos duetos da noutras mãos numa colecção de A estreia dos do que do contexto sumptuoso das produção dramática de Handel, exercícios de estilo. Tal não sucede Gayngs é um cerimónias litúrgicas do tempo de D. incluindo óperas sérias à italiana porque se sente nestas 13 canções objecto estranho. Recriando João V, em que provavelmente (“Radamisto”, “Rodelinda”, uma naturalidade na interpretação A intenção inicial algumas destas peças chegaram a ser “Ottone”, “Ariodante”, “Tamerlano”, que as resguarda de qualquer tipo de de fazer um álbum o barroco interpretadas. Há também situações “Sosarme”, “Agrippina”, “Giulio cinismo, um conhecimento profundo inspirado por “I’m em que a voz superior (soprano) é Cesare”) e oratórias em inglês com do universo em que viajam que nos not in love”, dos português cantada uma oitava abaixo por um grande potencial dramático, como é transmite uma sensação de verdade 10cc, não é um truque de tenor, originando um ambiente o caso de “Theodora” e “Belshazzar”. e, tão ou mais importante do que o “marketing” - o clássico da pop sonoro mais sombrio e opaco, como Na época, a maior parte destes resto, um talento óbvio de melosa está presente, em espírito, Os Sete Lágrimas mostram sucede, por exemplo, em “O quam duetos era destinada a um soprano e composição. “Hawk” não são nestas 11 canções. A boa notícia é que novas facetas e novas cores suavis”, de Almeida. a um “castrato”. Como era habitual canções dispersas reunidas num os Gayngs – supergrupo com 25 Um conjunto vocal mais amplo no Barroco, Handel compunha para mesmo disco: cada uma delas surge músicos do universo indie - beberam de alguns nomes maiores do seria mais fidedigno em termos cantores específicos, tendo contado como peça necessária ao puzzle que, do clássico de 1975 as suas melhores barroco nacional. históricos e a adição de com a colaboração de estrelas como a no fim, veremos na sua totalidade. características, rejeitando o exercício Cristina Fernandes instrumentos no contexto das soprano Francesca Cuzzoni ou o O blues eléctrico e cortante de copista ou reverente. práticas de execução da época “castrato” Senesino. Como tal, a “You won’t let me down again”, com É certo que “Relayted” está muitas Sete Lágrimas carece de mais investigação. No escrita vocal é exuberante e Lanegan a cantar assombrações e vezes a um passo do gosto duvidoso. entanto, a filiação dos Sete Lágrimas luminosa, percorrendo uma ampla Pedra Irregular Isobel pairando como fantasma de Há teclados e solos de saxofone a não é a das “interpretações paleta expressiva e exigindo quer Direcção artística de Filipe Faria e sensualidade provocadora, olha de pingar romantismo, cantores a carpir historicamente informadas”, ainda agilidade e virtuosismo, quer um Sérgio Peixoto frente o veneno dos banjos de “Snake mágoas de amor, mas o prazer que se Arte das Musas / MureRecords que os seus membros tenham excelente domínio do “legato” e do song” (a segunda versão de um retira da sua audição não tem ponta formação nessa área e usem “cantabile”. Apesar da sua original de Townes Van Zandt de ironia. Boa parte da culpa recai na mmmmn instrumentos antigos. É antes a da diversidade tímbrica, as vozes de incluída neste disco). O sentido forma engenhosa como Ryan Olson experimentação e da proposta de Rosemary Joshua e Sarah Connoly trágico de “Come undone”, produziu o álbum, revestindo as “Pedra Irregular”, um olhar próprio, como o grupo tem combinam bastante bem. As duas magnífica na sua dramática canções com uma mesma toada o mais recente CD demonstrado através de uma intérpretes transmitem segurança orquestração, resolve-se na vagamente narcótica e organizando dos Sete Lágrimas, original discografia onde cabem técnica, encontram uma boa sintonia reconfortante “Time of the season”, contextos em que um determinado evoca projectos tão diversos como “Kleine ao nível da arte de frasear e cantam serenata a dois com o espírito de som de baixo ou de sintetizadores, simbolicamente a Musik”, “Diáspora.pt” ou “Silêncio”. com elegância e expressividade, Hazlewood e Nancy Sinatra pairando que poderia ser justamente origem Nesse sentido, “Pedra Irregular” é oferecendo-nos momentos de grande por perto. desprezado noutras situações, revela portuguesa da palavra “barroco”, uma aposta ganha, até porque beleza em trechos como “Io O álbum que começa com folk a sua beleza intrínseca. sinónimo de pedra irregular, e o contribui para realçar a qualidade t’abbraccio” (da ópera “Rodelinda”), descarnado, crepuscular, afundar- “The gaudy side of town”, com nascimento desta corrente estética da música e revelar novas facetas de “Streams of leasure ever flowing” se-á em amor amaldiçoado e camadas de vozes encharcadas em em Portugal, através de uma cada obra através de uma (“Theodora”), “Vivo in te” encontrará redenção. Será telúrico, reverberação e baixo “sexy”, lembra criteriosa selecção de obras de Diogo interpretação cuidada e de um (“Tamerlano”) ou “Caro! Bella!” com cheiro a terra e convocando tanto a canção dos 10cc como George Dias de Melgaz (1638-1700), Carlos estudo atento à retórica barroca e à (“Giulio Cesare”). Tanto as cantoras imagens de mitos folk, será sonhador Michael. “Cry” desacelera o original Seixas (1704-1742), Francisco relaçãoç texto-música. como a direcçãoç musical de Harry nessa “Sunrise” feita do eco de uma dos Godley & Creme e trá-lo para António de Almeidaida (c. 1702-1755?) e Bicket ((queque em 20072007 substituiu voz etérea e do dedilhar da guitarra territórios fantasmagóricos, António Teixeira ((1707-1774).1707-1774). Com a Trevor PinnockPinnock,, o llendárioe fundador (um “Bang bang” sem tragédia), será enquanto “No sweat” é uma excepção de algumasumas ddoo grupo)grupo) mantêmm porém grandioso quando as orquestrações espantosa balada ao piano com uma sonatas de Seixas,s, o alguma contençãoc e se ouvem e eléctrico e urgente voz à Luther Vandross. “Crystal repertório é de naturezaatureza ssobriedade,obried abdicando quando o espírito de John Lee rope”, que Sade não enjeitaria, é sacra e foi compostoosto ddee contrastesco Hooker é convocado. Terminará, outro ponto alto. Há ainda espaço para coro (com ouu dedemasiadosm incisivos como não podia deixar de ser, com para um momento extraterrestre, sem solistas) e oouu dde grandes rasgos um soul gospel de coro bem afinado e “False bottom”, pequena maravilha baixo contínuo, ddee teatralidade,te o que ambiente geral de celebração. de saxofones, teclados, percussão mas os Sete coconferenf uma certa “Hawk” não é simplesmente uma desordeira e vozes manipuladas. Lágrimas recriam-m- uuniformidadenifo ao colecção de canções inspiradas. É “Relayted” é uma dupla vitória. no através de A vocação dos Sete Lágrimas para a experimentação a programa,p quando uma viagem pela qual Isobel Primeira: a ideia inicial foi um mero combinações partir do repertório é um dos méritos de “Pedra Irregular” ouvidoo no seu Campbell nos guia com mestria. M.L. pretexto para uma aventura de variadas que conjunto.co C.F.

40 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon A Either Orchestra é a suprema “small big-band experience” ERIC ANTONIOU

complexas e arranjos sinuosos que Jazz evocam não só Mingus, mas também Duke Ellington, Sun Ra, Carla Bley, Time bandits Burt Bacharach ou a vibração africana de Trevor Watts. Boogaloo, rumba, calypso, funk, afro-beat, e toda uma A Either Orchestra lança-se infinda variedade de detalhes numa nova aventura, entre as musicais fazem da Either Orchestra a suprema “small big-band experience”. estruturas de Ellington e os salões do Cairo. Rodrigo Amado Um passo certeiro

Either Orchestra Gonçalo Marques Mood Music for Time Travellers Da Vida e da Morte dos Animais Accurate Tone of a Pitch; distri. Dargil mmmmn mmmnn

Construída em A calma atravessa torno da todo o registo de comunidade estreia de Gonçalo musical de Boston, Marques, dando- a Either Orchestra lhe uma é uma pequena consistência “big band” (os músicos são apenas assinalável. Uma dez, mas o som é enorme), liderada calma relativa – todo o disco se pelo saxofonista Russ Gershon e desenvolve em torno de andamentos formada com o intuito de explorar as médios e lentos – que só é quebrada ligações das “outras músicas” à pela intensidade exploratória de Bill improvisação jazz. Com uma ligação McHenry, saxofonista americano que de anos à riquíssima tradição musical se revela uma escolha certeira para etíope e aventuras partilhadas com os contrapor fogo e intuição às “enormes” Mulatu Astatke abordagens de Marques, Demian (composição, piano, vibes), Mahmoud Cabaud (contrabaixo), e Bruno Ahmed (voz) ou Getachew Mekurya Pedroso (bateria). McHenry improvisa (saxofone), viram já o seu som com imaginação e enorme imortalizado em registos como “Live criatividade, contrapondo-as à in Addis” (inserido na série postura mais ponderada (por vezes “Ethiopiques”, e absolutamente demasiado) dos restantes músicos. obrigatório) ou “The Brunt”. Neste Quando entra em cena, a música “Mood Music”, a primeira sensação é abre-se e surgem de imediato novos de que estamos num dos muitos horizontes melódicos e harmónicos. “nightclubs” do Cairo, em plenos anos Nada disto retira mérito ao conceito 60, a escutar uma banda de repertório trabalhado por Gonçalo Marques, que profundamente influenciada pelo jazz assina a quase totalidade das norte-americano. É precisamente composições. Ao som quente e nesta irónica sensação de deslocação envolvente do saxofone tenor de temporal que reside o grande fascínio McHenry, Marques responde com um da Either Orchestra. Isso e, claro, o tom bem construído (a lembrar Dave PERCUSSÃO SOLISTA B A candidatura (com CV), a ser enviada facto de todos os seus elementos Douglas), fruto de um percurso que o FUNÇÕES: MULTI-PERCUSSÃO, LÂMINAS, TÍMPANOS por correio, fax ou e-mail para o serem incríveis instrumentistas, levou do Hot Clube para a Berklee CONTRATO PERMANENTE seguinte endereço, deverá ser recebida impulsionados pelas improvisações College of Music. “Da Vida e da Morte até a data mencionada acima. poderosas de Gershon e convidados, dos Animais” tem o raro mérito de, DOMINGO 21 NOVEMBRO 2010 com destaque para o fabuloso quando chega ao fim, nos deixar Orquestra Sinfónica do Porto (Audições) saxofonista barítono Charlie Kohlhase. vontade de ouvir mais. Está tudo lá, Fundação Casa da Música A uma música acessível, quase falta só um pouco mais de ousadia e PROGRAMA Avenida da Boavista 604-610 dançável, juntam-se melodias de sentido de aventura.R.A. ACCESSÓRIOS · JF Lézé: Étude pour acessoires d’orchestre 4149-071 Porto | Portugal (ed. F Dhalmann) tel: +351 220 120 200 MARIMBA · JS Bach: Gavotte en rondeau de 3ª Partita para violino solo fax: +351 220 120 298 CAIXA DE RUFO E ACESSÓRIOS · M Jarre: Gigue de Suite Ancienne (ed. Leduc) e-mail: [email protected] MULTI-PERCUSSÃO · M Jarre: Rigaudon de Suite Ancienne (ed. Leduc) www.casadamusica.com Excertos do repertório orquestral a comunicar. As provas decorrerão na Casa da Música Os candidatos serão alvo de uma pré-selecção DATA LIMITE PARA RECEPÇÃO e receberão uma resposta até 10 dias QUINTA 23 OUTUBRO 2010 após o encerramento das candidaturas. As partituras e demais informações serão fornecidas aos candidatos admitidos.

MECENAS ORQUESTRA SINFÓNICA MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA DO PORTO CASA DA MÚSICA

Gonçalo Marques: só lhe falta um pouco mais de sentido de aventura

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 41 Jorge Luís M. Mário Vasco As estrelas do público Mourinha Oliveira J. Torres Câmara Casamento a Três mmnnn mmnnn nnnnn nnnnn A Dança mmmmn mmmmm nnnnn nnnnn Entre Irmãos mmnnn nnnnn nnnnn nnnnn Irène mmmnn mmmmn nnnnn mmmmm Não, minha fi lha, tu não vais dançar nnnnn mmnnn nnnnn nnnnn Os Mercenários mmmnn mmmnn nnnnn nnnnn Origem mmmmn mnnnn mmmnn A Predadores mmmnn nnnnn nnnnn nnnnn Presente de Morte mmmmn mmnnn nnnnn mnnnn Salt mmmnn mnnnn nnnnn nnnnn Cinema

Chiara Mastroianni: uma personagezm “refractária” ao “statu quo” familiar, mesmo que Chiara fi que a milha trabalhada como referente em amorfia completa, um cinema 24h; CinemaCity Beloura Shopping: Cinemax: 5ª Estreiam 6ª 2ª 3ª 4ª 13h55, 16h35, 18h45, 21h30, 23h50 primeiro lugar afectivo (sobretudo subjugado ao argumento e aos Sábado Domingo 11h45, 13h55, 16h35, 18h45, 21h30, em “As Canções de Amor”), mas no diálogos (é o filme de Honoré que é 23h50; CinemaCity Campo Pequeno Praça de melhor caso (“Em Paris”) um pouco mais “argumento filmado”, e Touros: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª No cravo e na 13h40, 15h45, 17h50, 19h55, 21h55, 00h10; UCI mais do que apenas isso. Sem incluímos na conta o indigesto “Ma Cinemas - El Corte Inglés: Sala 5: 5ª 6ª Sábado 2ª abandonar a questão familiar, “Não, Mère”), uma espécie de abandono 3ª 4ª 14h30, 16h55, 19h20, 21h40, 00h20 Domingo ferradura 11h30, 14h30, 16h55, 19h20, 21h40, 00h20; UCI Minha Filha...” despe-se desse tipo auto-complacente, ou pior ainda Dolce Vita Tejo: Sala 9: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª de referências para encontrar outro auto-compungido (climax disto: 14h15, 16h40, 19h25, 21h50 6ª Sábado 14h15, 16h40, 19h25, 21h50, 00h25; ZON Lusomundo Alvaláxia: Uma relativa dureza rio tradicional do cinema francês: o perto do final, a entrada a martelo 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h25, 15h50, realismo naturalista, ou o de Antony & the Johnsons na banda 18h20, 21h30, 23h55; ZON Lusomundo sentimental, mas é o filme naturalismo realista, que íamos sonora), aos rodriguinhos narrativos CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, 15h40, 18h20, 21h15, 23h50; ZON Lusomundo de Honoré que é mais qualificar com o adjectivo e ao “roteiro psicológico” da Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, “famigerado” se depois não fosse personagem central na sua viagem 15h30, 18h10, 21h20, 23h55; ZON Lusomundo “argumento filmado”. Odivelas Parque: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h30, Luís Miguel Oliveira preciso explicar longamente porque de progressivo abandono familiar, 18h20, 21h30 6ª Sábado 13h, 15h30, 18h20, 21h30, é que o fazíamos. Assim, muito sempre sublinhada e, na relação 00h15; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª abreviadamente diríamos que dessa com o espectador, sempre Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h50, 18h30, Não Minha Filha, 21h45, 00h20; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª Tu Não Vais Dançar tradição há uma tendência dura e manipulada com recurso aos 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, cheia de ossos (modelo Pialat) e cordelinhos mais gastos e 18h50, 21h50, 00h20; Castello Lopes - Rio Sul Non ma Fille, tu n’iras pas Danser Shopping: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª outra mole e fácil de mastigar estereotipados. A força esvaiu-se, e o De Christophe Honoré, 4ª 13h, 15h40, 18h10, 21h20, 23h50; ZON (modelo, sei lá, Claude Miller, ou o impacto emocional fica, certamente, com Chiara Mastroianni, Marina pior Truffaut, o Truffaut pasmado com quem se deixar conquistar para Foïs, Marie-Christine Barrault, Louis que enfureceu Godard). Não é certo ele – mas, e isto também é certo, já Garrel. M/12 para qual das tendências aponta não há aqui nem sombra de um MMnnn Honoré, mas parece-nos – pior das “momento Kim Wilde”… opções – que procurou uma no cravo Lisboa: Medeia Monumental: Sala 1: 5ª 6ª Sábado e outra na ferradura. Uma relativa série ípsilon II Predadores Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h30, 17h40, 19h50, dureza sentimental, uma não 22h, 00h30 Predators desinteressante aspereza no +3 DVD De Nimród Antal, “Em Paris” e “As Canções de Amor” desenho das personagens, psicologia com Adrien Brody, Laurence Sexta-feira, fizeram de Christophe Honoré uma e relacionamentos, até mesmo na Fishburne, Topher Grace, Alice Braga. dia 10 de Setembro,bro, das novas coqueluches do cinema presença dos actores (sobretudo de M/16 o DVD “Em Paris”,”, francês. Como este “Não, Minha Chiara Mastroianni, na sua de Christophe Honoré.onoré. Filha, Tu Não Vais Dançar” de título personagem “refractária” ao “statu MMMnn longo e loboantunesiano, eram quo” familiar, mesmo que Chiara filmes que trabalhavam o tema da fique a milhas da atitude desafiante, Lisboa: Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 1: 5ª Todas as sextas,t “família em convulsão” mas que o antipática, “anti-empática”, da 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h10, 18h40, “Predadores” não é o prego 21h30, 23h50; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 8: no caixão do “franchise”, faziam sob uma muito explícita melhor Sandrine Bonnaire). Mas, 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h, 18h20, 21h50, 24h por + €1,95. 20anos memória da “nouvelle vague”, depois, o risco permanente da Sábado Domingo 11h30, 13h40, 16h, 18h20, 21h50, antes a sua ressurreição

42 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

O Auditório de Collective (música) e Serralves apresenta Danny Perez (imagem). a 16 de Setembro, Depois de a Filho Único Serralves às 21h30, ODDSAC, ter apresentado o fi lme -),+ fi lme experimental em Lisboa (foi em TbcaT^dìPìBIìSTìPQaX[ìSTìB@A@ì]PìeìVP[PìX]cTa]PRX^]P[ìì STìQPX[PS^ìSPìR^\_P]WXPì]PRX^]P[ìSTìQPX[PS^ concebido e realizado Junho), é agora a vez #/2%/'2!&)!ìP]Saì\Tb`dXcP pelo grupo Animal de o mostrar no Porto. ).4b202%4%3ìcTaTbPìP[eTbìSPìbX[ePzì Vdi\Ñ]ìa^bPS^ 3/,/ ]^ePìRaXP€·^ì}ìTbcaTXPì\d]SXP[ìPìA@ìSTìbTcT\Qa^ìSTìB@A@ #/2%/'2!&)!Ð%Ð).4%202%4!a/ì bWd\_TXì]T\^c^ 3UGGESTIONSÓ &ORÓ7ALKINGÓ !LONE Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado TbcaTXPì\d]SXP[ìPìA@ìSTìbTcT\Qa^ìSTìB@A@ Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h40, 18h15, 21h10, #/2%/'2!&)!ìP]Saì\Tb`dXcPìì 00h05 vT\ìR^[PQ^aP€·^ìR^\ì^bìX]ca_aTcTbw ).4b202%4%3ìcTaTbPìP[eTbìSPìbX[ePzì Porto: Arrábida 20: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo b·^ìRPbca^zìZT[[hì]PZP\daPzìbh[eXPì 2ª 14h15, 16h45, 19h15, 21h55, 00h30 3ª 4ª 16h45, aXY\TazìbWd\_TXì]T\^c^ 19h15, 21h55, 00h30; ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h50, 18h20, 21h30 6ª Sábado 15h50, 18h20, 21h30, 24h; ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado .OVAÓ#RIAljOÓ Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h50, 18h20, 21h20, 00h10; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª $)2%#a/Ð!24º34)#! Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h10, 18h40, 4OK«!RT P]Saì\Tb`dXcPìTìcTaTbPìì 21h30, 24h; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª P[eTbìSPìbX[eP Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 17h10, 19h40, 22h10, 00h50; ZON Lusomundo Parque Nascente: %STREIAÓ-UNDIAL 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h40, 18h30, 21h30, 00h10; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h35, 21h20 6ª Sábado 13h10, 15h50, 18h35, 21h20, 00h10 #DMSQNÒ#TKSTQ@KÒ Para quem recear de “Predadores” o #@QS@WN mais recente exemplo de como SEXSfB Hollywood pode destruir de vez um “franchise”, bastarão duas palavras  3ET para os reconfortar: Robert “Entre Irmãos”: um fi lme que não chegou a ser Rodriguez. O amigo de Tarantino e Portugal). Os dois irmãos são aqui, H Entre Irmãos aficionado das emoções baratas do como no original, um arruaceiro Brothers cinema xunga de salas de bairro e local e um militar exemplar, e o De Jim Sheridan, “drive-ins” tomou as rédeas da saga “gatilho” da situação é o com Jake Gyllenhaal, Natalie do caçador extra-terrestre e entrega desaparecimento do militar durante Portman, Tobey Maguire, Sam com “Predadores” a digna e uma missão no Afeganistão e o Shepard. M/16 XJìBDCG@AF@@ verdadeira sequela do original de modo como o irmão se torna no Q JìHRMìvìE@tìì 1986 com Arnold Schwarzenegger MMnnn apoio da cunhada e dos sobrinhos. ìC@ìì\}FEìw dirigido por mestre John McTiernan. Mesmo que a fidelidade ao original o Verdade seja dita, nem Rodriguez Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 5: 5ª 2ª impusesse, o lado de filme de guerra (que apenas produziu, mas cujas 3ª 4ª 15h40, 18h40, 21h40 6ª 15h40, 18h40, 21h40, que a narrativa implica (sobretudo 00h10 Sábado 13h, 15h40, 18h40, 21h40, 00h10 mãozinhas se notam à distância) nem Domingo 13h, 15h40, 18h40, 21h40; Castello Lopes nestes tempos em que o o húngaro Nimrod Antal (“O Motel”, - Londres: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, envolvimento americano no Iraque e 2007) são McTiernan. E, para quem 19h, 21h30 6ª Sábado 14h, 16h30, 19h, 21h30, no Afeganistão é um alvo bastante 24h; CinemaCity Campo Pequeno Praça de tem memória cinéfila, o guião de Touros: Sala 5: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 14h, 16h05, 19h10, assestado por Hollywood) é uma Alex Litvak e Michael Finch é 22h, 00h05 Sábado Domingo 11h50, 14h, 16h05, “figura obrigatória” que claramente demasiado derivativo de coisas como 19h10, 22h, 00h05; Medeia Saldanha interessa menos a Sheridan, com Residence: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª “O Malvado Zaroff” (Irving Pichel e 4ª 13h30, 15h45, 17h50, 19h55, 22h, 00h30; UCI evidentes consequências na Ernest Schoedsack, 1932) ou “A Presa Cinemas - El Corte Inglés: Sala 14: 5ª 6ª Sábado 2ª economia narrativa e emocional do Humana” (Cornel Wilde, 1966): um 3ª 4ª 14h, 16h25, 19h, 22h, 00h20 Domingo 11h30, filme. “Entre Irmãos” resulta 14h, 16h25, 19h, 22h, 00h20; ZON Lusomundo grupo de soldados e assassinos de Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª desequilibrado, sem conseguir dar elite acorda num planeta distante e 13h10, 15h50, 18h30, 21h30, 00h10; ZON aos actores tudo o que eles compreendem rapidamente estarem Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª necessitam para o sustentar — Jake 3ª 4ª 13h20, 16h10, 18h40, 21h25, 00h15; ZON ali como caça para os alienígenas. Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Gyllenhaal e Sam Shepard são muito Mas se Antal (que está a provar ser Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h30, 18h, 21h10, bons, Natalie Portman tem pouco um digno herdeiro dos funcionários 23h55; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª que fazer com um papel ingrato, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h25, 16h05, 18h40, clássicos especializados em séries B) 21h15, 00h15 Tobey Maguire não consegue acertar não consegue nunca tornar Porto: Arrábida 20: Sala 10: 5ª 6ª Sábado no tom de uma personagem difícil. “Predadores” no angustiante Domingo 2ª 14h20, 16h50, 19h25, 22h, 00h35 3ª 4ª Mas quando tudo se entrosa – e não exercício de estranheza que algumas 16h50, 19h25, 22h, 00h35; ZON Lusomundo Dolce são poucos os momentos em que o Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª cenas (e, sobretudo, a partitura muito 13h05, 15h30, 19h30, 22h, 00h30 consegue, quase todos quando a Jerry-Goldsmithiana) sugerem, isso é família se confronta – é um filme muito mais do que compensado pela Há um grande filme dentro de notável. E é nesses momentos em eficácia despachada, económica, dir- “Entre Irmãos” que só escapa a que “Entre Irmãos” é um grande se-ia mesmo clássica, da sua espaços: a tragédia clássica da filme que lamentamos o que podia encenação. “Predadores” não é o família destroçada e dos irmãos ter sido e não chegou a ser. J.M. prego no caixão do “franchise”, antes desavindos confrontados com o pai a sua ressurreição - discreta, mas que desaprova de um e prefere o indesmentível. Jorge Mourinha outro. Por si, nada de novo; mas o Continuam modo como o irlandês Jim Sheridan (“Em Nome do Pai”, 1993; “Na Presente de Morte América”, 2002) o filma é algo de The Box magistral, sobretudo nas cenas de De Richard Kelly, refeição onde basta uma palavra com Cameron Diaz, James Marsden, inocente ou um olhar de esguelha Frank Langella. M/12 para fazer explodir a tensão insuportável que se sente no ar. Esse Mnnnn filme é o que eleva “Entre Irmãos” a alguns grandes momentos de Lisboa: CinemaCity Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 7: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª cinema, com o elenco de luxo a 14h10, 16h35, 19h40, 22h05, 00h30; Medeia carburar a toda a força em perfeito Monumental: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h50, 19h20, 21h50, 00h20; ZON www.ipsilon.pt entrosamento. O problema é o outro Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª dos dois filmes que aqui se esconde 3ª 4ª 13h50, 16h30, 19h05, 21h45, 00h25; ZON e que é inseparável do anterior, Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª porque faz parte do código genético 3ª 4ª 21h40, 00h25; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, do projecto, uma “remake” do filme 15h35, 18h30, 21h10, 23h50 da dinamarquesa Susanne Bier Porto: Arrábida 20: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo “Brødre” (2004, inédito em 2ª 13h55, 16h35, 19h20, 22h05, 00h45 3ª 4ª

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 43 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmmmmMuitoMuito BomBoBommmmmmmmmmmmmExcelenteExce

Acto 8 para a dupla 60, história de uma

Cinema Burton/Depp: “Dark família, os Collins, uma Shadows”, adaptação mansão, zombies e outrasas Projecto de uma “soap opera” aparições. Depp vai ser americana dos anos um vampiro de 175 anos..

“Wendy & Lucy” em Viana do Castelo JACKY NAEGELEN/ REUTERS NAEGELEN/ JACKY

filme-limite dessa procura: ao 4ª 13h10, 15h30, 18h, 21h15 6ª Sábado 13h10, 15h30, mesmo tempo exorcismo da e 18h, 21h15, 23h50; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h45, penitência pela morte da sua mulher 18h15, 21h30, 24h; ZON Lusomundo Torres Vedras: Irène, falecida num acidente de 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, 15h, 17h15, automóvel em 1972, nele Cavalier se 19h30, 21h50, 00h15; ZON Lusomundo Vasco da Cineclubes Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, expõe de um modo 15h30, 18h50, 21h50, 00h15; Algarcine - Sines : Sala para mais informações consultar www.fpcc.pt insustentavelmente doloroso, 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h, 18h30, 21h30 6ª filmando um fantasma que não está Sábado 15h, 18h30, 21h30, 24h; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Cine-Teatro S. Pedro lá, os vazios resultantes na sua obra 13h30, 16h, 18h25, 21h25, 24h; ZON Lusomundo Largo S. Pedro - Abrantes e na sua vida, o modo como o tempo Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Uma Outra Educação as transforma. “Irène” evita o 13h, 15h30, 18h10, 21h50, 24h De Lone Scherfig, 2010, M/12 voyeurismo graças à sinceridade Porto: Arrábida 20: Sala 11: 5ª 6ª Sábado 08/09, 21.30h Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h25, 18h55, 21h35, terminalmente confessional de 00h20; Arrábida 20: Sala 12: 5ª 6ª Sábado Cinema Teixeira de Cavalier, mas a coragem admirável Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h25, 18h55, 21h35, com que o cineasta se expõe levanta 00h20; Vivacine - Maia: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Pascoaes Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h10, 18h40, 21h40, Centro Comercial Santa Luzia - Amarante uma série de questões (sobre o 00h05; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Tudo Pode Dar Certo olhar, sobre as fronteiras da Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h10, 19h15, Diaz e Marsden: demasiado saudáveis 21h50, 00h20; ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª De Woody Allen, 2009, M/12 privacidade) que o tornam numa Domingo 2ª 3ª 4ª 15h, 17h20, 19h40, 22h 6ª 03/09, 21.30h para a ambiguidade (a)moral que se pedia experiência tão formalmente Sábado 15h,,, 17h20, 19h40, ,,; 22h, 00h25; ZON Lusomundo GaiaShopping:GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado 16h35, 19h20, 22h05, 00h45; ZON Lusomundo ou bluff? Estava já tudo explicitado fascinante como emocionalmente DominDomingogo 2ª 3ª 4ª 1313h15,h15, 1616h05,h05, 1818h50,h50, 2222h,h, Casa das Artes GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª no tal “Donnie Darko”, aliás, começa desconfortável. J. M. 0000h20;h20; ZON LusomundoLusomundo MaiaShopping:MaiaShopping: 5ª 21h40, 00h30 4ª 00h30; ZON Lusomundo a ser algo próximo do paradigma: a Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h30, 19h05, 21h40 6ª de Vila Nova de NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Sábado 13h2013h20,, 16h3016h30,, 19h0519h05,, 21h4021h40,, 00h2500h25;; ZON 13h10, 16h, 18h50, 21h10, 23h30; ZON Lusomundo incompletude. Como uma criança Famalicão Salt LusomundoLusomundo Marshopping:Marshopping: 5ª 6ª SáSábadobado DominDomingogo Parque de Sinçães – Famalicão (CC de Joane) Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª que se farta do(s) brinquedo(s), Kelly 2ª 3ª 4ª 1313h30,h30, 1515h50,h50, 1818h20,h20, 2121h40,h40, 0000h10;h10; ZON 4ª 14h20, 17h, 20h, 22h40; ZON Lusomundo Fórum Salt LusomundoLusomundo NorteShopping:NorteShopping: 5ª 6ª SáSábadobado Conto de Verão começa um filme, depois passa a Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h40, De Phillip Noyce, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h50, 18h20, 21h20, De Eric Rohmer, 1996, M/12 21h30 6ª Sábado 13h, 15h40, 18h40, 21h30, 00h20 outro e depois passa a outro... (e em 23h50; ZON Lusomundo ParqueParque Nascente: 5ª 6ª6ª com Angelina Jolie, Liev Schreiber, 07/09, 21:30h “The Box”, filme sem ponta de SábadoSábado DominDomingogo 2ª 3ª 4ª 1313h40,h40, 1616h10,h10, 1919h,h, Chiwetel Ejiofor, Daniel Olbrychski, 21h50,21h50, 0000h20;h20; ZON LusomunLusomundodo Fórum Fantasia Lusitana Porque é que ao olharmos para estes mistério, pode passar de Lynch a Aveiro:Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, Andre Braugher. M/12 De João Canijo, 2010, M/6 dois, Cameron Diaz e James Kubrick) mas sempre tudo dentro do 16h15,16h15, 18h45,18h45, 21h20 6ª Sábado 13h4013h40,, 09/09, 21:30h 16h15,16h15, 18h45, 21h20, 23h55; ZONZON Marsden, temos saudades do Kyle mesmo filme. Resultado: não chega Mnnnn LusomundoLusomundo Glicínias:Glicínias: 5ª 6ª SábadoSábado MacLachlan e da Laura Dern do a completar a coisa. Vasco Câmara Domingo 2ª 3ª 4ª 14h,14h, 1616h40,h40, Cinema ao Ar Livre 19h15,19h15, 21h5021h50,, 00h25 Cemitério antigo de Cacela-a-Velha - Faro “Blue Velvet”? Porque não há pinga Lisboa: CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 2: 5ª 6ª de sinuosidade (a)moral nos Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h35, 15h30, 17h30, Nem tudotudo o que NoNoyceyce Signifi cado… Irene 19h30, 21h35, 23h40; CinemaCity Beloura saudáveis Cameron e James, e isso ffezez é totalmente mau, De Tiago Pereira, 2010, M/6 Irene Shopping: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª era fundamental para este casalinho 4ª 13h50, 15h50, 17h55, 19h50, 21h50, masmas a meimeioo ddoo (PRESENÇA DO REALIZADOR) De Alain Cavalier, Polifonias- Paci é saluta mais que perfeito que um dia recebe 23h50; CinemaCity Campo Pequeno Praça de vvisionamentoisionamento de ““Salt”Salt” o com . M/12 Touros: Sala 4: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h35, 15h45, De Michel Giacometti e Pierre-Marie uma caixa e as seguintes instruções: 17h50, 19h50, 21h55, 00h15 Sábado Domingo 11h35, qqueue nos salta à Goulet, 1997, M/6 carregam no botão e ganham um MMMnn 13h35, 15h45, 17h50, 19h50, 21h55, mmemóriaemória sãosão as 07/09, 22:00h milhão de dólares – mas alguém há- 00h15; CinemaCity Classic Alvalade: Sala 3: 5ª bboasoas históriashistórias Domingo 2ª 3ª 4ª 15h35, 17h35, 19h35, 21h45 6ª Ruínas Lisboa: Medeia Saldanha Residence: Sala 5: 5ª 6ª de morrer. Depois do tal filme de Sábado 15h35, 17h35, 19h35, 21h45, 24h; Medeia qqueue eelele De Manuel Mozos, Portugal, 2009, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 14h55, 16h40, culto, “Donnie Darko” (2001), Fonte Nova: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª M/12 20h30, 22h15, 00h10 Richard Kelly pôs-se em bicos de pés 4ª 14h30, 17h, 19h30, 22h; Medeia Saldanha 09/09, 22:00h Residence: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª e entregou-nos “Southland Tales” Não sabemos o que nos leva a 4ª 14h, 16h, 18h, 20h, 22h, 00h30; UCI Cinemas - El Centro Cultural Vila (2006), filme de um auto- retrair-nos deste modo perante Corte Inglés: Sala 13: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª convencimento que se admirava à “Irène” - afinal, o cinema recente do 14h30, 16h55, 19h20, 21h40, 00h20 Domingo 11h30, Flor 14h30, 16h55, 19h20, 21h40, 00h20; UCI Dolce Vita Av. D. Afonso Henriques, 701 - Guimarães distância, pela “lata”, mas que não francês Alain Cavalier (que apenas Tejo: Sala 9: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h25, O Tempo Que Resta convencia. Foi um desastre que tem chegado a Portugal através de 19h10, 21h45 6ª Sábado 14h, 16h25, 19h10, 21h45, De Elia Suleiman, 2009, M/12 pode ter prejudicado as ambições de exibições pontuais em festivais) 00h20; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h40, 18h, 21h40, 05/09, 21:45h carreira do realizador mas ajudou a baseia-se todo na exposição pública 00h15; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado sublinhar um suposto “enigma”: da sua vida privada, numa espécie Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h20, 17h50, 21h, Jardim do Breyner85 Richard Kelly, ele próprio. O filme de diário audiovisual do seu 23h20; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Rua do Breiner, 85 - Porto seguinte, este “The Box”, já é coisa quotidiano onde o cineasta Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h20, 18h40, Curtas ao Ar Livre 21h30, 23h50; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª realizada com o rabinho entre as simultaneamente explora uma nova (info www.cineclubedoporto. Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h25, 17h55, pernas (é o lado “contos do linguagem documental e afina uma 21h15, 23h45; ZON Lusomundo Dolce Vita wordpress.com) Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h20, 07/09, 22h imprevisto”, redondo...). E o variação muito pessoal sobre o 21h20 6ª Sábado 15h20, 18h20, 21h20, 00h20; ZON “enigma” Kelly, afinal? Wonder-boy filme-ensaio. “Irène” é , talvez, o Lusomundo Odivelas Parque: 5ª Domingo 2ª 3ª Cinema Passos “Irène”: experiência Manuel tão formalmente fascinante Rua Passos Manuel, 137 - Porto como emocionalmente Pierrot le fou desconfortável De Jean-Luc Godard, 1965, M/12 09/09, 22h Cine-Teatro António Pinheiro R. Guilherme Gomes Fernandes, 5 - Tavira Mother - Uma Força Única De Joon-ho Bong, 2009, M/16 “Salt”: a acção é desenxabida, 05/08, 21.30h género “montagem frenética Eu Sou o Amor a ver se parece que alguma De Luca Guadagnino, 2009, M/12 coisa de emocionante 09/08, 21.30h está a acontecer” Cinema Verde Viana Praça 1º de Maio, Centro Comercial - Viana do Castelo Wendy & Lucy De Kelly Reichardt, 2008, M/12 09/02, 21.45h

44 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon     Mestrado em Ciências da Comunicação (5 especializações) Comunicação, Organização e Liderança Media e Jornalismo Internet e Novos Media Comunicação e Gestão Cultural “Minority Report” Comunicação, Marketing e Publicidade Mestrado em Ciências da Família (3 especializações) arruinou - “Calma de Morte”, ainda Políticas de Família na sua Austrália natal (e com uma Cinemateca Portuguesa R. Barata Salgueiro, 39 Lisboa. Tel. 213596200 Orientação e Mediação Familiar muito jovem Nicole Kidman), ou Contextos Familiares de Risco 21h30 - Sala Félix Ribeiro “Sliver”, já na América (e com Sexta, 3 Mestrado em Estudos de Cultura - integrado na Rede THE LISBON CONSORTIUM* Sharon Stone no seu apogeu). Não Sonhos de Ouro Estudos de Cultura quer dizer que a história de “Salt” Romance Sogni d’oro Performance e Criatividade NOVO seja particularmente boa, apenas De Catherine Breillat. De Nanni Moretti . Com Nanni *em parceria com várias instituições culturais da cidade de Lisboa. que ganharia com um cineasta 15h30 - Sala Félix Ribeiro Moretti. 104 min. Mestrado em Línguas Estrangeiras Aplicadas: interessado em ter personagens em As Vinhas da Ira 22h - Sala Luís de Pina vez das silhuetas baças que tem (o TEFL (Teaching English as a Foreign Language) The Grapes of Wrath Business and Languages - Línguas e Negócios NOVO marido de Salt, por exemplo, é uma De John Ford Terça, 7 anedota que só lá está para resolver 19h - Sala Félix Ribeiro O Intruso Mestrado em Tradução NOVO um ponto da intriga) e em reduzir a Onde Quer que Estejas L´Innocente Mestrado em Serviço Social (2 especializações) narrativa ao seu esqueleto - é tudo Wherever You Are De Luchino Visconti Serviço Social tão inverosímil que cada nova De Krzysztof Zanussi 21h30 - Sala Félix Ribeiro Acompanhamento Social e Inserção “explicação” só piora as coisas (o 19h30 - Sala Luís de Pina desfecho da história com o Moonlighting Mestrado em Filosofia (3 especializações) De Jerzy Skolimowski. Com Jeremy “presidente russo” é francamente Aquela Loira Filosofia da Linguagem e Ciências Cognitivas Casque d’Or Irons. 97 min. ridículo). A acção é desenxabida, Estética e Filosofia da Arte NOVO De Jacques Becker 19h - Sala Félix Ribeiro Filosofia Ibérica ggéneroénero “montagem frenética a ver se 22h - Sala Luís de Pina pparecearece que algumaalguma coisa de O Fim da Aventura emocionante está a acontecer”acontecer”,, Nome de Código: Cloverfi eld The End of the Aff air        De Edward Dmytryk ababundamundam os ddiálogosiálogos em Cloverfi eld Doutoramento em Ciências da Comunicação 15h30 - Sala Félix Ribeiro chatíssimoschatíssimos camposcampos-- De Matt Reeves 22h30 - Esplanada Doutoramento em Estudos de Cultura - integrado na Rede ccontracampos.ontracampos. Por amor de Corações na Penumbra THE LISBON CONSORTIUM* Deus: há mais personagens, Sweet Bird of Youth Sábado, 4 *em parceria com várias instituições culturais da cidade de Lisboa mais imaginaçimaginação,ão, mais De Richard Brooks.

“panache”,“panache”, memelhoreslhores O Sr. e a Sra. Smith 120 min. Doutoramento em Serviço Social Secretariado 217214194 | 217214202 Cristina Nunes e Ana Morais | Tel: Email: [email protected] | [email protected] www.fch.lisboa.ucp.pt diálogosdiálogos melhor Mr. And Mrs. Smith 19h30 - Sala Luís de Pina filmados, no filme do De Alfred Hitchcock Onde Quer que Estejas 2010/2011 desgraçado Stallone. 15h30 - Sala Félix Ribeiro Wherever You Are L.M.O.L.M.O. Os Ídolos do Estádio De Krzysztof Zanussi. 107 min. Olympia, Teil - Fest der Völker 22h - Sala Luís de Pina De Leni Riefenstahl. 19h - Sala Félix Ribeiro Quarta, 8 A Mãe Steamboat Round the Bend Mat De John Ford. Com Anne Shirley 96 min. M16. 15h30 - Sala Félix Ribeiro Ana e As Suas Irmãs Hannah and Her Sisters De Woody Allen 19h - Sala Félix Ribeiro Que Pena Seres Vigarista! Peccato che Sia una Canaglia De Alessandro Blasetti 19h30 - Sala Luís de Pina Algemas de Cristal The Glass Menagerie De Paul Newman 21h30 - Sala Félix Ribeiro Fanny e Alexandre De Vsevolod Pudovkin. Com Anna Fanny och Alexander Zemtsova. 80 min. De Ingmar Bergman 22h - Sala Luís de Pina 22h - Sala Luís de Pina Relatório Minoritário Minority Report Quinta, 9 De Steven Spielberg 22h30 - Esplanada Caught De Max Ophuls Segunda, 6 15h30 - Sala Félix Ribeiro Trás-os-Montes + Jaime Ulisses De António Reis, De Mario Camerini, Mario Bava. Margarida Cordeiro. Com Kirk Douglas. 91 min. 19h - Sala Félix Ribeiro 15h30 - Sala Félix Ribeiro Belíssima Corações na Penumbra Bellíssima Sweet Bird of Youth De Luchino Viscont De Richard Brooks 19h30 - Sala Luís de Pina 19h - Sala Félix Ribeiro A Casa e o Mundo A Multidão Ghare-Baire The Crowd De Satyajit Ray. De King Vido 22h - Sala Luís de Pina 19h30 - Sala Luís de Pina Planeta dos Macacos Vontade Indómita Planet of the Apes The Fountainhead De Tim Burto De King Vidor 22h - Esplanada

Ípsilon • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • 45 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

De 7 a 12 deste mês, o “Toute L’Europe à Cluny”, Fromages, a instalação da Visões Úteis está em encerramento ofi cial companhia portuguesa Cluny para apresentar das comemorações dos foi criada na sequência de Lá fora “A Língua das Pedras”, 1100 anos daquela ordem viagens a quase 20 sítios instalação multimédia religiosa. Espalhada pelos cluniacenses de França, que integra o programa de seis pisos da Tour des Alemanha, Itália e Suíça.

de sexo (Xana Miranda). Lisa, Magda contradição nestas personagens e As regras da e Bruna, respectivamente. Várias em nós próprios.” No combate, a Agenda “ledges” azuis e vermelhas e acompanhar as personagens, a holofotes iluminam a passadeira moral individual e a Teatro manipulação vermelha, inóspita e evocando um moralcolectiva. “cabaret-reality-show”. Na bizarra “Cem Lamentos” trava o duelo Estreiam “Irmandade do Ciclo”, este lugar “na entre ficção e realidade, entre os No purgatório da Tenda de defensiva não se consegue vencer o instintos mais primitivos e os Um Eléctrico Chamado Desejo Saias, não há espaço para combate”, as regras são explícitas e racionais. Mas ali, naquele jogo de De Tennessee Williams. Encenação lamentações. Só para a “a decisão da Mestre de Cerimónias regras sem regras,, todos têmtêm de Diogog Infante. Com Alexandra é soberana” (regra número 3) direito ao descontrolo.trolo. LLencastre,encast Albano Jerónimo, Lúcia Verdade. Filipa Mora mesmo que a regra número 7 seja Inclusive a Mestree Moniz,M entre outros. Lisboa.L Teatro Nacional D. Maria II - Sala “não haver regras”. Não importa. que só quando Garrett.G Pç. D. Pedro IV. De 09/09 a 31/10. Cem Lamentos Porque “o importante é acreditar” usa a máscara de 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: (regra número 6). As frustrações porco (de 213250835. 7,5€ a 30€. De Marta Freitas. Pela Tenda de VerV texto na pág. 6 e segs. Saias e Teatro Bruto. Encenação de mais inquietantes de vidas tão carrasco), se anónimas como comuns são revela. Para Ana Ana Luena. Com Olinda Favas, Rute TheThe Man and the Show Pimenta, Tânia Dinis, Xana Miranda. instigadas por uma Mestre de Luena, que preferere De e comc Ennio Marchetto. Cerimónias “dominatrix” cujos trabalhar as novass Lisboa.Lisboa. Casino. Alameda dos Oceanos. De 07/09 Porto. Fábrica Social / Fundação José Rodrigues. R. a 3131/12./12. 33ª a Sáb. às 22h. Dom. às 17h. Tel.: da Fábrica Social. De 08/09 a 18/09. 5ª a Sáb. às maneirismos e provocações não dramaturgias, o Ennio Marchetto 218929070.2189290 18€ a 22€. 22h. Tel.: 919063185 / 912071530. 5€ a 7€. deixam ninguém indiferente. desafio passou porr O purgatório criado por Marta trabalhar o texto Sexo?Sexo? Sim, Mas Com Orgasmo Façam apostas. Três mulheres num Freitas e encenado por Ana Luena original de Marta DeDe DarioDari Fo. Encenação de António jogo para a ansiada absolvição dos em “Cem Lamentos”, em cena a Freitas, autora quee Pires,Pires, CCassiano Carneiro. Com Guida “pequenos pedaços da vida sujos”. partir de quarta-feira na Fábrica conhecia as actrizeses comcom Maria.Maria. Estoril. CaCasino.s Pç. José Teodoro dos Santos. De Há regras neste combate e uma Social, Porto, nada mais procura do as quais trabalhouu 08/0908/09 a 31/12.31/ 4ª a Sáb. às 22h. Dom. às 17h. Tel.: Mestre de Cerimónias – eximiamente que a Verdade. Para tal, cada uma durante todo o processo.ocesso. 214667700.214667700 10€ a 20€. interpretada pela convidada do das participantes se submete às “Não é um texto clássicolássico CondomínioCondom elenco, Rute Pimenta – que é manipulações mais cruéis da Mestre. que toda a gente cconheceonhece e encarregue de levar os participantes Desenvolvida em parceria entre a do qual tem referências,ências, foi ao limite. Fá-lo lasciva e Tenda de Saias e o Teatro Bruto, um texto especificamentecamente sadicamente, num jogo que conduz “Cem Lamentos” é ua peça sobre escrito para a Tendanda de as três mulheres à total submissão “voyeurismo, manipulação, Saias”. A ideia passoussou pporor dos limites da moral humana. adrenalina e insatisfação” que trata “extravasar para outro ambiente e Manipulam-se estímulos e os questões de moral, “sem querer ser cruzar zonas em dimensões pensamentos mais egocêntricos e moralista”. A arma de defesa é a diferentes, que vão para um mesquinhos podem vencer. ironia que preenche toda a peça. universo de sonho a partir das Os participantes: uma mulher que “Chega a ser ridícula”, conta Ana histórias de cada personagem.” acumula graus académicos, Luena. Em conversa com a Foram vários os filmes De Ana Mendes. Pelo Teatro Nova depressões e dívidas (Olinda Favas); encenadora, desmonta-se a ideia do relacionados com o universo de Europa. Encenação de Luís Mestre. uma mãe de família (Tânia Dinis) “espectáculo onde são expostos Marta Freitas que serviram de Com Ana Luísa Azevedo e Tiago com dois filhos que “obtém tudo assuntos que só deveriam dizer inspiração às actrizes: do Correia. com muito esforço”; e um Bruno respeito às pessoas envolvidas”. O “Transamérica” de Duncan Tucker Porto. Balleteatro Auditório. Pç. 9 de Abril, 76. De 07/09 a 12/09. De 3ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. que se sente Bruna e pretende com o voyeurismo cabe ao público, ao “Veludo Azul” de Lynch, Tel.: 225508918. “concurso” ter dinheiro para a espectador da podridão deste passando pelos “Sacanas sem Lei” operação que lhe permitirá mudar “show”. “Acaba por haver de Tarantino. Continuam Mulher Mim De e com Rafaela Santos. Lisboa. Clube Estefânia. R. Alexandre Braga, 24 A. De 09/09 a 12/09. De 5ª a Sáb. às 21h30. Dom. às JOAO GUILHERME 16h. Tel.: 915039568. 10€. Cabeças Falantes - Festival de Monólogos. Janis e a Tartaruga

De Pedro Pinto, Filipe Pinto. Encenação de Luísa Pinto. Com Carla Galvão. Teatro/Dança Matosinhos. Cine-Teatro Constantino Nery. Avenida Serpa Pinto. Até 04/09. 5ª a Sáb. às 21h30. Tel.: 229392320. Uma Família Portuguesa De Filomena Oliveira, Miguel Real. Pelo Teatro Aberto. Encenação de Cristina Carvalhal. “Cem Lamentos” é um combate a quatro: três mulheres Guarda. Teatro Municipal. Rua Batalha Reis, 12. e uma sádica e lasciva Mestre de Cerimónias Dia 04/09. Sáb. às 21h30. Tel.: 271205241. 7,5€.

46 • Sexta-feira 3 Setembro 2010 • Ípsilon Banco deInvestimento projecto co-financiadopelaUniãoEuropeia www.blog.artemrede.pt www.artemrede.pt PERFORMANCE, ARTE COMUNITÁRIA UM PERCURSODEESCULTURAS HUMANAS PONTO DEENCONTRO: 60 MIN.S/INTERVALO |M/6ANOS CIE. WILLIDORNER SEX 10SET|18H30 SÁB 11SET10|11H00 RUA ANTÓNIO FORTUNATO DESOUSA MONTIJO apoio PASSEIO RIBEIRINHO/ ENCENADAS CIDADES

www.casadamusica.com | www.casadamusica.tv | T 220 120 220 DUPLO PARAESTECONCERTO.OFERTALIMITADAAOSPRIMEIROS10LEITORES. SEJA UMDOSPRIMEIROSAAPRESENTARHOJEESTEJORNALCOMPLETONACASADAMÚSICAEGANHECONVITE

€ 1 5 MECENAS CASADAMÚSICA

F e i l Y R i M a i p m t a J a n i i M o n P a u v a F á e o h r q a i i u l z s l i o i d e L , i m ’ o p J APOIO INSTITUCIONAL M O b b

e T a J a a o

e l n

e r i

a

c R l i

n v i

q x D

n v

r a e p

M o t o

- u o

a

t e

m p i s

o

i z a v

v

s e

D

v i

a o ú

a h

r l

o ( o

q s

e S u r

i s d

r

s

ç

o

o

à Q

z

s

u

a U a

o o M

d

i b

i

õ

m

n u

s

e

+

e l

m

a

M a

f

c

c g

e i

e e p

O

s

B o

a t

n a

c

e n u

a

o

C p i

s n

s

u m

e e

u

c

o é i

r

f a

n

o

r

a

t

v é

r

n r l

d ) t e

M

r n e

u

t

n

o g

e i

o

a i

u

e o a l

a e

n

n

o

c

p p

e

a

a s

s r

p

h s

N

t

d e

r

e MECENAS PRINCIPALCASADAMÚSICA õ

m e R

g

d

u r

ó

r

o

e r e

a

n

r e

a

e

’ a m

l

f t

a

o c

n

g

s m

o

t

ú

m s

O a

i e

o

e u

o j

.

r

e

s o

l

l c t n

c s

n

s

e

a

o

n

c l

i

r

, s

u

a

à

| t

c I o

.

t a

é õ

v

i

l

s

a

t n s

a

d s j

€ e

l

e

c

A

t

o d

i

a s

u

o

e

s

i

i l u

3

i

s n

n

r

b

c

o

r

a g r

0 p

d

t

i

r

r

n

a

i

u a d

w

o

a

g

e

i

s

s

m s a

o

e

m

i

a

a ,

e

d

- n

d

s

e

é

a

o

l

o