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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS

Edição Nº 73 [ 26/1/2012 a 1º/2/2012 ] Sumário

CINEMA E TV...... 3 Revista Bravo - Um Banquinho, Um Avião...... 3 Estado de Minas - Diretor de Dois filhos de Francisco filma história de Gonzagão e Gonzaguinha ...... 4 Folha de S. Paulo – Trama da Globo lembra reality político...... 6 Folha de S. Paulo - Boca do Lixo ganha mostra em Roterdã...... 6 Folha de S. Paulo - "Augustas" mostra jornada por rua paulistana famosa...... 7 Correio Braziliense - Ceilândia em alta ...... 8 O Estado de S. Paulo - O adeus do pioneiro...... 10 TEATRO E DANÇA...... 11 Corrreio Braziliense - Lamartine no teatro...... 11 Folha de S. Paulo – Teatro: Alvim estreia nova parceria com Ciocler...... 12 O Globo - Atração pelo universo pop e pelas relações familiares ...... 12 O Globo – Educação e teatro levam Brasil a Berlim...... 14 ARTES PLÁSTICAS...... 15 Revista Bravo - Cessar-fogo...... 15 Folha de S. Paulo – Painéis de Portinari recuperam brilho...... 17 El País – Sangre joven para la Bienal de Venecia...... 19 O Estado de S. Paulo - Todos os caminhos da arte...... 20 FOTOGRAFIA...... 21 O Globo - Mostra celebra um construtor de câmeras e imagens...... 21 MÚSICA...... 23 Folha de S. Paulo - Criolo faz clipe para tornar Ilê mais pop...... 23 O Globo - Devastação e cura que escoam pela música ...... 24 Jornal de Brasília - Roberta Sá à flor da pele ...... 26 O Estado de S. Paulo - Um tenor brasileiro em Paris...... 27 Correio Braziliense - Choro revivido...... 29 O Globo - Todo o requinte do ‘larari, lairiri’...... 31 Correio Braziliense - Confraria musical...... 32 LIVROS E LITERATURA...... 34 Estado de Minas - Nani usa humor para conquistar a garotada...... 34 Estado de Minas - Reedições de Drummond e Joyce são destaques em 2012...... 36 Estado de Minas - Livro traz pérolas da vida de ...... 37 Estado de Minas - Maria Beltrão lança O alto sertão – Anotações...... 39 Folha de S. Paulo – Evolução em revista...... 41 Folha de S. Paulo – Livro é essencial para entender a produção brasileira do século 20...... 42 O Globo - Dois livros para apreciar a arte gráfica...... 43 Jornal de Angola – Conto angolano em língua Árabe...... 44 QUADRINHOS...... 46 Correio Braziliense - HQ nacional em debate...... 46 POLÍTICA CULTURAL...... 47 Estado de Minas - Todos podem ser mecenas...... 47 MODA...... 48 Folha de S. Paulo – Criadores na SPFW não trazem novas imagens para moda...... 48 The Sidney Morning Herald – Brazilian bikini sizes up bigger bottom dollar ...... 49 OUTROS...... 51 Brasil Econômico – Nova sede do MAC de SP abre amanhã no antigo DETRAN...... 51 Folha de S. Paulo – Bienal tem contas bloqueadas por inadimplência...... 52 El Mundo – Brasil visita Salamanca...... 52

2 CINEMA E TV

REVISTA BRAVO - Um Banquinho, Um Avião

Alheias ao medo de voar que perseguia Tom Jobim, suas canções viajaram para os Estados Unidos e, depois, cruzaram o mundo, como demonstra o novo filme de Nelson Pereira dos Santos por Sérgio Cabral

Dueto dos Sonhos Frank Sinatra e Tom Jobim em 1967, quando gravaram um disco juntos. O cantor norte-americano foi um dos grandes divulgadores do músico brasileiro

(Janeiro / 2012) A trajetória internacional do autor de Garota de Ipanema – retratada no documentário A Música Segundo Tom Jobim, de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim, que estreia neste mês – teve início em 1961. Foi quando, involuntariamente, o maestro e pianista carioca virou pelo avesso a política de divulgação das produções musicais norte-americanas, implantada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. Naquela época, o governo de lá patrocinava excursões de renomados instrumentistas do pelo mundo, e o Brasil os recebeu em grande número. Eles rapidamente se apaixonaram por nossa música e saíram daqui com as malas repletas de discos. Assim, as criações de Antonio Carlos Jobim (1927-1994) acabaram conquistando tanto êxito na América que, dali a pouco tempo, o brasileiro seria considerado pela crítica e pelos músicos locais um compositor tão importante quanto George Gershwin e Cole Porter. A isca foi o de Uma Nota Só, canção de Tom e Newton Mendonça, que o trompetista Shorty Rogers e o trombonista Curtis Fuller gravaram em 1961. Logo depois, o genial trompetista Dizzy Gillespie ouviu o disco de João Gilberto lançado nos Estados Unidos e incluiu Desafinado (também da dupla Tom e Newton Mendonça) nas apresentações que fazia em Chicago, no Sutherland Lounge. Mas o sucesso mesmo só chegou quando o guitarrista Charlie Byrd, após se apresentar no Brasil, telefonou para Creed Taylor, produtor da gravadora Verve, e sugeriu realizar um disco apenas com músicas da . Taylor lhe propôs dividir o álbum com o saxofonista Stan Getz. A gravação ocorreu no dia 13 de fevereiro de 1962, data em que o produtor, os dois músicos e mais alguns instrumentistas se reuniram num estúdio improvisado, na Sala Pierce, da Igreja Unitária de Todas as Almas, em Washington. Com um equipamento paupérrimo – um modesto gravador Ampex, cuja fita

3 rodava na velocidade nada recomendada de 7 ½ –, conceberam o long play Jazz Samba. O disco vendeu mais de 1 milhão de cópias, número espantoso para a Verve na época (e ainda hoje). Quatro contra um Em julho de 1962, outro motivo fez com que as composições de Tom Jobim ficassem ainda mais conhecidas nos Estados Unidos: a exibição por lá do filme ítalo-franco-brasileiro Orfeu Negro, adaptação da peça Orfeu da Conceição, de . Tom assinava tanto a trilha do espetáculo quanto a do longa. Em agosto do mesmo ano, ele, Vinicius, João Gilberto e Os Cariocas protagonizaram um show no restaurante Au Bon Gourmet, em Copacabana, que chamou a atenção de empresários norte-americanos. Resultado: em novembro, parte da turma se apresentaria no Carnegie Hall, principal casa de espetáculos de Nova York. Também em agosto daquele ano, Stan Getz gravou o disco Big Band Bossa Nova, incluindo nele Chega de Saudade (de Tom e Vinicius), que logo seria registrada por diversos cantores norte- americanos. No entanto, a versão criada pela dupla Hendricks-Cavanaugh provocou em Tom o primeiro de muitos desgostos com as transposições para o inglês das letras de suas músicas. Ele quase brigou, por exemplo, com o amigo Norman Gimbel porque o parceiro não queria colocar o nome da praia ao traduzir Garota de Ipanema. O pretexto era que o norte-americano comum não tinha a menor ideia do significado dessa palavra. Tom venceu a discussão e o planeta inteiro aprendeu que existe um lugar chamado Ipanema. A música, aliás, se tornou uma das mais gravadas e tocadas em todo o século 20. O medo de avião quase impediu Tom de participar do espetáculo no Carnegie Hall. Na véspera da viagem, o artista acabou convencido a embarcar pelo escritor , que foi à casa dele especialmente para tratar do assunto. “Você garante que o avião não vai cair, Fernando?”, perguntou. “Garanto”, respondeu o cronista. “Então eu vou.” O fato é que ele driblou a fobia e permaneceu vários meses nos Estados Unidos, onde fez diversos amigos entre os nomes mais famosos do jazz, além de gravar o álbum instrumental The Composer of Desafinado, Plays, considerado por muitos o melhor de sua carreira. Em 1967, retornou à América especialmente para dividir um disco com o mito Frank Sinatra. Converteu-se, assim, num dos músicos mais executados naquele país durante a década de 1960. A partir de 1964, só perdia para os Beatles, desvantagem que encarava com realismo e bom humor: “Eu sou apenas um. Eles são quatro”.

Sérgio Cabral é jornalista, compositor e autor de Antonio Carlos Jobim – Uma Biografia.

O FILME A Música Segundo Tom Jobim, de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim. Estreia prevista para este mês.

ESTADO DE MINAS - Diretor de Dois filhos de Francisco filma história de Gonzagão e Gonzaguinha

Produção, que fica pronta ainda este ano, terá gravações em Minas

Um era urbano, mais liberal e introspectivo. O outro era rural, conservador e falastrão. Nem sempre filho de peixe peixinho é, mas por meio da música eles puseram de lado mágoas, divergências e ressentimentos e se reencontraram. Esse é o mote de Gonzaga – De pai para filho, novo longa do diretor Breno Silveira, que vai contar a história de dois grandes nomes da MPB: Gonzaguinha (1945- 1991) e Gonzagão (1912-1989). Com previsão de ficar pronto este ano, quando se celebra o centenário de nascimento do Rei do Baião, o filme começou a ser rodado no início de dezembro, no Marco Zero, no . As gravações serão retomadas no fim deste mês, em Exu, em , onde Gonzagão nasceu, e no . O diretor revela que também pretende filmar em Minas, onde os dois artistas tiveram passagens marcantes de suas vidas.

O papel de Gonzagão será interpretado por três atores: o sanfoneiro Nivaldo Expedito de Carvalho, de 31 anos, mais conhecido como Chambinho do Acordeom, interpretará dos 30 aos 50 anos, período em que a carreira do músico deslanchou. Os outros atores ainda não foram definidos. O filme marca a estreia de Chambinho no cinema, contracenando com o gaúcho Júlio Andrade, – que atuou em Cão sem dono e fez o Arthurzinho, de Passione, – no papel de Gonzaguinha, e Nanda Costa, que interpreta a dançarina e cantora Odaléia Guedes dos Santos, mãe de Gonzaguinha.

4 Breno Silveira, que ficou conhecido por levar mais de 5 milhões de espectadores aos cinemas com 2 filhos de Francisco, sobre a trajetória de Zezé di Camargo e Luciano, conta que depois da experiência com o filme sobre a dupla sertaneja pipocaram biografias na sua mesa, mas nenhuma o tinha empolgado. Até que um dia recebeu gravações em fita cassete de uma entrevista que Gonzaguinha tinha feito com o pai e isso o cativou. “Particularmente me interesso muito pelo drama particular, humano, assim como foi no 2 filhos de Francisco. E quando escutei essa entrevista, que foi muito reveladora, dava para perceber que havia um conflito muito sério entre pai e filho com perguntas e respostas muito emocionadas e isso me levou a querer filmar”, diz Breno.

Biografia O cineasta acrescenta que o livro Gonzaguinha e Gonzagão – Uma história brasileira, da jornalista Regina Echeverria, autora de biografias de sucesso como a de (Furacão Elis) e a de (Cazuza – Preciso dizer que te amo), serve de inspiração para seu longa, mas não é apenas nele que Breno Silveira se apoia. “Nós compramos os direitos da publicação, mas há outras fontes que me guiaram para fazer o roteiro. E quanto mais me aprofundo, a cada hora descubro uma história diferente, nuances que você nem esperava e aí já muda tudo. Com biografia, é natural que isso ocorra. Foi assim também com o 2 filhos de Francisco, mas nele eu contava a trajetória dos filhos por intermédio do pai, e com o Gonzaga – De pai para filho é o contrário. Conto a história do pai por meio do filho. Mas, na verdade, o Gonzagão é muito maior do que qualquer livro ou qualquer filme”, salienta o diretor.

Regina Echeverria afirma que chegou a ler um dos roteiros e tem as melhores expectativas sobre o filme. “É uma história de que gosto muito, uma relação delicada e amorosa. Foi muito importante para mim ter mergulhado nessa experiência, porque conheci muito o Gonzaguinha, que foi meu amigo. Certamente o Breno irá fazer um trabalho extremamente sensível”, acredita Regina, que está se preparando para escrever a biografia da princesa Isabel.

Provavelmente, boa parte das questões abordadas no livro, como os conflitos entre os dois e a complicada questão da paternidade – já que durante um tempo Gonzaguinha chegou a acreditar que não era filho legítimo de Gonzagão, mesmo tendo sido registrado – estarão presentes na telona, mas Breno Silveira adianta que pelo fato de a trajetória de ambos ser extremamente rica, não será fácil realizar a produção. “É um épico, um filme difícil. Ele deve ter o dobro do tempo do 2 filhos de Francisco. A trilha sonora também será um capítulo à parte e vamos fazer uma parceria com o . A equipe de edição vai trabalhar em paralelo para agilizar o filme para gente conseguir terminar tudo este ano e não perder o gancho dos 100 anos do Gonzagão”, acrescenta.

PAI E FILHO

“Eu não tenho o menor temor de ser ou não ser filho de Luiz Gonzaga. Eu não tenho o menor temor de ser filho de fulano ou sicrano. É preciso que fique claro que meu pai, como está escrito no cartório, é você, e minha mãe, Odaléia Guedes dos Santos, como está na minha carteira de identidade. Henrique Xavier Pinheiro e Leopoldina. Minha família é essa. E, também, a família de Luiz Gonzaga por outro lado. Infelizmente minha família é muito mais a de Leopoldina pela maneira que fui criado e o modo como acabamos no reencontrando, que não foi propriamente uma coisa muito agradável para mim. Se você falar que meu pai é outro não vai bulir com meus sentimentos, não estou preocupado com isso.” •Gonzaguinha

“Deus escreve certo por linhas tortas. Veja você, seu sangue não corre nas minhas veias. Você tem essas coisas todas, as pessoas chegadas a mim, porque você é meu filho. Acho que a pessoa que mais gosta de mim é você. E sua mulher agora. Você tem uma filha parecida comigo. Você me respeita, eu respeito você e a coisa mais bacana da minha vida é você. Você é Gonzaguinha. Eu sou Gonzagão. Encontramos esse slogan. Eu me envaideço muito de você, sabia? Nunca me pediu nada. Te dei um violão velho, barato. Nunca me preocupou. Claro, a preocupação de pai. Eu sou pai postiço mas sou pai e tenho sido pai, não é verdade?” •Gonzagão

GONZAGAS EM MINAS

Gonzaguinha e Gonzagão tiveram relações estreitas com Belo Horizonte. Durante 10 anos, na década de 1980, Gonzaguinha viveu na capital mineira ao lado de sua última mulher, Louise

5 Margareth Martins, a Lelete, e de sua filha caçula, Mariana. A vida em Minas foi mais calma, com longos passeios de bicicleta em torno da Lagoa da Pampulha, que ganhou até uma música do compositor: Lindo lago do amor. O corpo do cantor está enterrado no Cemitério Parque da Colina, na cidade.

Já o pai Gonzagão passou por Minas em 1932. O Rei do Baião foi destacado para BH, na época em que servia o Exército no 12.º RI (Regimento de Infantaria), que, segundo ele, havia se esfacelado na Revolução de 1930 por ter resistido, “leal e fiel ao governo, não se entregando e pagando um preço muito caro.” Em novembro de 1932, ele foi para Juiz de Fora, servindo no 10º RI. Ganhou o apelido de Bico de Aço, por ser um excelente corneteiro.

FOLHA DE S. PAULO – Trama da Globo lembra reality político

Personagens de "O Brado Retumbante" evocam figuras do poder, como o presidente "sósia" de Aécio Neves

Minissérie que acaba hoje é "caricata", diz Andrea Matarazzo; para deputado do PSOL, a "gangsterização" é real ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, DE SÃO PAULO

(27/01/12) "O Brado Retumbante" chega hoje ao último capítulo com vocação de "Big Brother" da vida política. Enquanto políticos acusam a minissérie global de ser caricata, espectadores se divertem comparando personagens da ficção com figuras de carne, osso e quilometragem nos bastidores do poder. Veja Paulo Ventura (Domingos Montagner). Características desse presidente fictício podem provocar déjà-vu quanto a três tipos políticos. 1) Ele tem pinta de galã e, "bon-vivant", está sempre cercado de belas mulheres. Na internet, foi fulminante a associação com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) -que não esconde o desejo de concorrer à Presidência em 2014. Via assessoria, Aécio disse que não assiste à série. Já em recente jantar com tucanos na casa de FHC, ele reconheceu semelhanças físicas com o mandatário da telinha. 2) Bom de voto, Ventura é "o cara" do povo, como Lula. 3) Avesso a alianças partidárias, lidera cruzada quixotesca contra corruptos. Na capital, o PSOL pleiteia esse papel. "É real, convivo com isso", diz o deputado da sigla Chico Alencar (RJ) sobre "a 'gangsterização' da política". Mas a trama peca por "descontextualizar o ambiente socioeconômico", critica Alencar. Em suma: faz parecer que o mal do país se restringe a picuinhas pessoais, e não a uma estrutura corrompida. São figuras "caricatas" que incomodam o secretário de Cultura de São Paulo, Andrea Matarazzo. "Está um pouco ficção demais. Isso para nós, que conhecemos o governo." A própria Globo frisa que "esta é uma obra de ficção [...] sem compromisso com a realidade". Mas algumas situações retratadas parecem ter saído direto dos noticiários. A trama explorou escândalo no Ministério da Educação com livros didáticos que ensinam a "falar errado" e de viés ideológico (Tiradentes seria precursor dos sem-terra). Em 2011, o MEC sofreu acusações parecidas. Na internet, a Globo foi acusada de promover campanha contra o ex-ministro Fernando Haddad, candidato do PT à Prefeitura de São Paulo. Recém-desligado da pasta, Haddad achou "divertida" a colocação, pois não vê "nenhum ponto de identificação", diz a assessoria do MEC. Já José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT, divertiu-se no Twitter com a "verossimilhança" na estreia, quando Ventura assume o poder após acidente com o titular. "Helicóptero com presidente e vice, decolando à noite de plataforma da Petrobras. Só mesmo na imaginação [dos corroteiristas] e Guilherme Fiúza." Porta-voz da Presidência, Thomas Traumann brincou com o fato de Luiz Carlos Miele interpretar um político. "Não é quebra de decoro?"

FOLHA DE S. PAULO - Boca do Lixo ganha mostra em Roterdã

Filmes com forte apelo sexual produzidos no Brasil entre os anos 60 e 80 chegam ao festival de cinema europeu

6 Curador Gabe Klinger selecionou desde clássicos de Sganzerla e Reichenbach até filmes raros e desconhecidos

INÁCIO ARAUJO, CRÍTICO DA FOLHA

Fiel à sua tradição de audácia, o Festival de Cinema de Roterdã abriu ontem, na série "Sinais", uma mostra só com longas-metragens paulistas produzidos na chamada Boca do Lixo entre os anos 1960 e 1980.

A Boca, alguns quarteirões entre as ruas do Triumpho, Vitória e Gusmões, em Santa Ifigênia, tornou- se o centro do cinema paulista depois da falência dos grandes estúdios (a Vera Cruz era o maior).

A proximidade das ferrovias foi o principal motivo dessa concentração, mas o nome -Boca do Lixo- foi herdado da zona de prostituição com a qual convivia.

Para chegar à seleção dos 15 longas que serão mostrados, o curador Gabe Klinger, visionou mais de 200 títulos e concluiu que o mais significativo era a referência frequente à sexualidade.

"Quem sabe isso é por que as questões em torno da identidade sexual, a prostituição, a repressão religiosa e a censura foram muito fortes durante muito tempo no Brasil -aliás, continuam sendo".

A seleção é heterogênea, indo desde filmes clássicos como "O Bandido da Luz Vermelha", de Rogério Sganzerla, "A Margem", de Ozualdo Candeias, "Liliam M", de Carlos Reichenbach, "O Despertar da Besta", de José Mojica Marins, até filmes de quando o sexo explícito era dominante, em meados dos anos 1980.

Desses, aparecem "Senta no Meu que Eu Entro na Sua", de Ody Fraga, "Fuk Fuk à Brasileira", de Jean Garret, e "Oh, Rebuceteio", de Claudio Cunha. "O critério de seleção foi a variedade de temas, gêneros e épocas. Filmes representativos e ao mesmo tempo bons", diz Klinger.

Há exemplares preciosos do "cinema marginal" até hoje desconhecidos, como "O Pornógrafo", de João Callegaro, "Orgia ou o Homem que Deu Cria", de João Silvério Trevisan, "O Vampiro da Cinemateca" e "O Insigne Ficante", de Jairo Ferreira.

Ali se encontram cineastas de prestígio, como (de "Um Convite ao Prazer"), mas a parte sem dúvida mais provocativa dessa seleção pode vir do policial "Snuff -Vítimas do Prazer", de Claudio Cunha, que esteve perdido durante anos.

Ou ainda de "O Império do Desejo", pouco conhecido, mas também um dos melhores trabalhos de Reichenbach -que também estava fora de circulação havia décadas.

A Boca teve muitos outros assuntos: cangaço, sertanejo, faroeste. "Mas a maior parte está impregnada de sexualidade. Por isso me pareceu uma oportunidade de fazer uma coisa atraente para público internacional. O sexo pareceu a melhor ponte para programar um monte de filmes que queríamos ver na tela grande em 35 mm."

A resposta, público e crítica deste festival iconoclasta começam a dar agora.

FOLHA DE S. PAULO - "Augustas" mostra jornada por rua paulistana famosa

Filme de Francisco Cesar Filho, que estreia hoje em Tiradentes, traz Mário Bortolotto em busca existencial

"Augusta é redoma que permite a pessoas de classes sociais distintas andarem na mesma calçada", diz diretor

MATHEUS MAGENTA, ENVIADO ESPECIAL A TIRADENTES (MG)

"As lojas elegantes, o alto comércio e a sofisticação das pessoas fizeram desta rua o local onde se mesclam tipos excêntricos nem sempre da alta burguesia", descreve o narrador de "Esta Rua Tão

7 Augusta", curta de 1968 do cineasta Carlos Reichenbach sobre uma das vias mais famosas de São Paulo.

Mais de 40 anos depois, o curta serve de introdução e paralelo ao ambiente de "Augustas", que será exibido pela primeira vez hoje na Mostra de Cinema de Tiradentes.

No longa, um jornalista desempregado e a companheira empreendem uma jornada por uma Augusta mais recente, de pessoas que vivem em cortiços, trabalham em salões de beleza ou bordéis e comem em bares pés-sujos.

"A rua Augusta é uma redoma que permite a pessoas de classes sociais e econômicas distintas andarem na mesma calçada. Isso não acontece no resto de São Paulo, cada vez mais segmentada", afirmou Francisco Cesar Filho, diretor do longa.

ATEMPORAL

A preocupação dele foi construir uma rua Augusta atemporal. As filmagens foram realizadas em 2008 (com celulares e carros modernos), mas orelhões vermelhos e fitas VHS circularam pelo set, já que "A Estratégia de Lilith", livro de Alex Antunes que inspirou o filme, se passa no final dos anos 1990.

É nesse ambiente que o protagonista (Mário Bortolotto) parte em sua busca existencial ao lado de prostitutas, empregadas domésticas e até da entidade Sish, que se torna sua conselheira.

Bortolotto foi escolhido para o papel pela semelhança com o personagem.

"Não preciso fazer laboratório para esse filme. Tenho uma vida boêmia como ele, sempre frequentei a rua Augusta, escrevi sobre rock pra jornal", afirmou Bortolotto.

Na época do lançamento do livro, em 2001, a quantidade de referências pop gerou comparações com o escritor inglês Nick Hornby ("Alta Fidelidade").

"Mas a comparação para por aí. Para mim, a cultura pop é como um folclore sintético: além das músicas, inclui os rituais neo-xamânicos em que o protagonista mergulha", afirmou o autor.

Nesse ponto, o livro está mais próximo do cultuado livro "Pornopopéia", de Reinaldo Moraes, que traz drogas, prostituição e até ritual com "xamanismo turístico".

O jornalista MATHEUS MAGENTA viajou a convite da organização da 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes

CORREIO BRAZILIENSE - Ceilândia em alta

Com o longa A cidade é uma só? o cineasta Adirley Queirós arrematou o principal prêmio da 15ª Mostra de Tiradentes Ricardo Daehn

8 Cena do filme A cidade é uma só?: a Ceilândia sob o olhar de Adirley Queirós

Fosse o cineasta Adirley Queirós um cara vingativo, ele estaria por cima da carne seca: como sentiu desrespeito, no tratamento reservado aos diretores, no mais recente Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, preferiu retirar o longa A cidade é uma só? da Mostra Brasília. Deu o destino as suas voltas, e, pronto: o filme, exibido na 15ª Mostra de Tiradentes (), levou o prêmio principal, despertando representantes da curadoria de eventos fílmicos como Cannes, Veneza e San Sebastián (Espanha).

“Abriu portas que a gente ainda nem tem noção”, comemora o “autêntico ceilandense” (nascido, na verdade, em Morro Agudo de Goiás). “Foi um filme que explodiu na tela. A coisa mais fantástica que já vivi. Algo parecido com a repercussão do curta Rap, o canto da Ceilândia, quando parou o Cine Brasília, na época. Fui aplaudido, em Tiradentes, por 800 pessoas do festival mais crítico do país”, observa o diretor de 41 anos.

Um ponta de vaidade aflora — ou melhor, de pertencimento, quando Adirley percebe que “a crítica começa a falar que existe um cinema diferente em Ceilândia, em relação ao cinema de Brasília”. Explica-se: A cidade é uma só? se atém a dado verídico, de cisão, “no filme, há a música tema que retirou Ceilândia de Brasília. Jogaram as pessoas para cá (Ceilândia), expulsaram”, como ele diz.

Alheia ao contexto socioeconômico da medida do governo, nos anos 1970, em que “crianças foram recolhidas em escolas públicas para integrar um coral que, pelo canto, deu base para aliviar a remoção”, uma menina acalentou o sonho de projeção, por meio da música. Nancy Araújo, do grupo Natiê, era a criança que agora dá depoimento para a fita de Adirley Queirós. Num misto de ficção e realidade, entram em cena os atores Wellington Abreu (do Hierofante) e Dilmar Durães. Feito pelo rapper Marquim (do grupo Tropa de Elite), um personagem marqueteiro completa a trama de A cidade é uma só?.

“Crio aquela confusão nos espectadores sobre quem são os atores”, explica, ao falar da trama que tem de candidato a distrital passando por corretor de lotes na periferia e apropriações fictícias de documentos verdadeiros. “Com o filme mostrado em Tiradentes, houve demanda muito grande de pessoas interessadas, lá fora. Para circular, vou ter que colocá-lo no suporte de película”, explica Queirós, em torno da produção que derivou de um projeto para a tevê (em edital que ofertou R$ 400 mil). Um ano e meio depois da fagulha inicial da fita, a perspectiva é a de que a versão abreviada seja exibida, via TV Brasil, em canal aberto, no aniversário de Brasília (em 21 de abril).

Tarantino

9 Atualmente, Adirley Queirós se aplica ao documentário (com pegada irreal) Branco sai, preto fica, em torno do popular baile Quarentão, uma referência da noite dos anos 1980. “Não será tão histórico, já que vai ter até ficção científica. A gente vai apostar na estética. A história traz pessoas amputadas que fazem o percurso de futuro para o passado”, adianta. Algo de Quentin Tarantino? “Não sei bem se é meu Tarantino. Centralizarei mais em perdas físicas, em pessoas, por exemplo, com pernas mecânicas que queiram reconstruir, buscar recuperação. Será uma metáfora de momento histórico, da amputação cultural de uma cidade. A minha geração foi amputada, em termos de valores de identidade”, pontua.

Saído de uma área rural próxima a Brazlândia, em 1977, Adirley Queirós chegou a Ceilândia, onde atua como agitador cultural, vez por outra, patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), “um privilégio para a classe artística do DF, em termos de política pública”. Uma meta para 2012 é a oficina, com duração de quatro meses, voltada a 20 ceilandenses interessados em formatar roteiro experimental.

No plano da cena cultural local, “um acúmulo histórico” incomoda o diretor: “Temos a necessidade de uma sala pública de cinema, em Ceilândia. Como a gente pode se conformar com o fato de um perímetro urbano que abriga Ceilândia, Samambaia, Águas Lindas e Santo Antônio do Descoberto não ter uma sala de cinema? Até temos o espaço do Sesc, mas que não passa filme aqui — passa uma mostra, de vez em quando”. Nos últimos cinco anos, aliás, a bandeira de um espaço para escoar a efervescência de “atores, diretores, músicos e escritores” tem sido uma constante. “O espaço público é intocável, e deve ser gerido pelo público”, conclui.

O ESTADO DE S. PAULO - O adeus do pioneiro

O cineasta Linduarte Noronha, morto ontem aos 81 anos, fez história ao antecipar o Cinema Novo com o documentário Aruanda, de 1960

LUIZ CARLOS MERTEN

Ele foi um dos precursores do Cinema Novo e seu documentário Aruanda, de 1960, é considerado uma das pedras de toque do movimento que revolucionou o cinema brasileiro naquela mesma década. Ontem, Linduarte Noronha morreu num hospital de João Pessoa, na Paraíba. Estava internado na UTI, havia dias, vítima de pneumonia. Morreu de parada respiratória. Tinha 81 anos.

Nascido em Ferreiros, Pernambuco, Linduarte Noronha desenvolveu sua carreira na vizinha Paraíba. O Estado foi (é) um celeiro de cineastas. Lá nasceram Vladimir Carvalho e seu irmão, Walter. Foi ele quem fez o primeiro longa de ficção do cinema da Paraíba. O Salário da Morte, de 1971, baseia-se no romance Fogo, de José Bezerra, e é interpretado por Margarida Cardoso, Horácio Freitas e por uma jovem que depois se destacou muito - Eliane Giardini. O Salário teve uma produção complicada. Poucos recursos, filmagem interrompida mais de uma vez. A própria crítica decepcionou-se e o público desertou dos cinemas, numa época em que a pornochanchada já dava as cartas no cinema do País. Mas a importância de Aruanda é indiscutível.

Formado em Direito, Linduarte exerceu o jornalismo (e a crítica). Foi cineclubista, amigo de Alberto Cavalcanti e admirador de Humberto Mauro. Acreditava no cinema de raiz e cunhou uma frase que virou a diretriz de seu pensamento - "O verdadeiro cinema brasileiro só poderá alcançar, um dia, a universalidade, ao se voltar para o elemento antropológico." Com essa convicção, e atraído pelo ator natural, não profissional, ele se lançou no curta. Fez Aruanda e, dois anos mais tarde, O Cajueiro Nordestino, que deflagraram o ciclo paraibano. Vladimir Carvalho foi seu assistente (no primeiro) e toda uma geração de intelectuais se formou no cineclube que animava em João Pessoa.

José Nêumane, jornalista do Estado que o conheceu quando jovem - e ele já era Linduarte Noronha -, conta que era uma daquelas personalidades que agrupam. Naquela época, quando fez Aruanda, era chamado de 'Gordo'. Depois, ficou magrinho, saúde frágil, mas o apelido ficou. Duas contribuições foram inestimáveis em Aruanda - a do cinegrafista Rucker Vieira e a do assistente Vladimir Carvalho. Vale contextualizar. Em 1960, o mundo e o cinema estavam mudando. Toda década carrega sua dose de transformações, mas os anos 1960 são considerados aqueles que mudaram tudo.

10 Influenciados pela nouvelle vague e imbuídos da herança neorrealista, surgiria no eixo Rio/Bahia o Cinema Novo, com a vocação de colocar a cara do brasileiro na tela. Linduarte antecipou-se a , que destaca sua importância no Panorama Crítico do Cinema Brasileiro. Linduarte pode não ter inventado o documentário reconstituído, mas foi o que fez. Aruanda, como gostava de dizer, significa 'terra prometida'. A terra do filme não é prometida. É o duro sertão, com sua dose de carências e dificuldades.

Uma família de quilombolas no alto sertão da Paraíba. Seus pequenos gestos cotidianos são minuciosamente reconstituídos, pelo menos em parte, frente à câmera - como Robert Flaherty havia feito quase 40 anos antes, em Nanook, o Esquimó, em 1922. Uma pegada social, típica do Cinema Novo, mas da solidão desses gestos se depreende também o que não deixa de ser uma dimensão ontológica, como em Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos.

O social volta em O Salário da Morte. Numa cidadezinha do sertão, o chefe político é assassinado e o criminoso, um matador de aluguel, acobertado por poderosos, se esconde na casa de uma família humilde. Mas ele termina morto e a família, chacinada. Linduarte Noronha foi homenageado, em 2007, pelo Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade. Há mais de dez anos, no 33.º Festival de Brasília, a gênese de Aruanda havia sido tema de um debate acalorado. Até que ponto a realidade pode ser encenada e o filme ser considerado documentário? A polêmica ainda não se esgotou, mas Aruanda e Linduarte Noronha fazem parte do história do cinema no Brasil. TEATRO E DANÇA

CORRREIO BRAZILIENSE - Lamartine no teatro

Antunes Filho escolhe um dos principais nomes da música brasileira para homenagear em peça que estreia hoje na cidade

Presença constante, e celebrada, no universo teatral brasileiro desde a década de 1950, o diretor Antunes Filho estreou recentemente no campo da dramaturgia autoral. As adaptações sempre foram frequentes, mas foi a música brasileira que o inspirou a criar um texto autoral. O espetáculo Lamartine Babo, uma homenagem ao compositor de diversas canções que fazem parte do imaginário brasileiro, estreia em Brasília, em sessões hoje e amanhã, na Sala Martins Pena do Teatro Nacional e também faz parte do 1º Festival Internacional de Artes de Brasília. “Além da pesquisa de linguagem e do método que desenvolve com seus atores, Antunes sempre teve o ideal de mostrar às plateias histórias de brasileiros”, conta Emerson Danesi, diretor da montagem e braço direito do idealizador do projeto em sua companhia teatral , o Centro de Pesquisa Teatral, CPT.

Lamartine é exemplo dessa intenção, por ter sido o tema escolhido para encerrar a trilogia carioca do diretor. As duas montagens anteriores foram Policarpo Quaresma, inspirado no romance de Lima Barreto, e Foi Carmen, espetáculo que prestou tributo à Pequena Notável Carmem Miranda, misturando o samba ao butô, dança japonesa. Na última etapa da tríade, Antunes pretendia fazer com que a peça fosse criada, dirigida e musicada pelo elenco, dividido em duplas, sendo fiel ao seu método de trabalho, que busca o maior conhecimento possível sobre o universo abordado. O resultado final, no entanto, nunca o satisfazia e o diretor resolveu, então, assumir o papel de dramaturgo. Lançou mão do texto Seis personagens à procura de um autor, do italiano Luigi Pirandello e criou uma situação semelhante.

No original, um ensaio teatral é interrompido por seis pessoas que tentam convencer o diretor a criar uma encenação de suas vidas. Já na versão “antuniana”, uma banda que prepara uma homenagem ao compositor tem o ensaio interrompido por um homem, Silveirinha, e sua sobrinha Catarina. Envoltos em uma aura de mistério, os dois complementam a encenação com informações sobre a vida e a obra do homenageado.

Como já é tradição no trabalho do CPT, toda a gênese da trama foi desenvolvida por completo, e cada personagem tem uma razão para estar ali, além de uma relação própria com Lamartine. Depois de pronto, o texto ficou engavetado, até ser repassado a Danesi, que ganhou a incumbência de torná- lo realidade. Em 2009, levou o Prêmio Shell na categoria música.

11 Em cena, os 11 atores atuam e cantam 11 composições clássicas do repertório do compositor. “O epíteto dele era Rei das Marchinhas, então incluímos alguns de seus temas de carnaval. Passamos pelo futebol, já que a maioria dos times do Rio de Janeiro tiveram seus hinos compostos por Lamartine”, destaca Danesi.

Como oscilava entre a irreverência e a melancolia, algumas de suas composições mais doloridas entraram no repertório. Até tema de festa junina ele compôs. “Ele tinha um lugar meio chapliniano, quase patético, e remete a um tempo em que o carnaval era uma brincadeira inocente”, destaca o diretor da montagem.

FOLHA DE S. PAULO – Teatro: Alvim estreia nova parceria com Ciocler

Criador do Club Noir volta a dirigir o ator em 'A Construção', adaptação de conto homônimo do escritor Franz Kafka Montagem retrata sujeito zoomórfico que vive amedrontado e no escuro; pré-estreia será hoje na Caixa Cultural GUSTAVO FIORATTI, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

(26/01/12) A parceria do ator Caco Ciocler com o diretor Roberto Alvim fermentou. Em 2011, eles levantaram o monólogo "45 Minutos" e, agora, voltam a imergir em um novo projeto, "A Construção", que tem pré-estreia na Caixa Cultural e segue em temporada no Sesc Pompeia no dia 10/2. "Imersão" é uma palavra que ambos usam, talvez por analogia com o sujeito que habita o conto homônimo de Franz Kafka (1883-1924) adaptado para a peça. Uma marmota? Uma toupeira? Um tatu? Ou um autor acuado em seu quarto, cavando corredores subterrâneos imaginários para se aliviar da iminência da morte? O pouco que se sabe sobre esse sujeito zoomórfico é que, para se proteger de um possível predador, ele amplia um sistema de túneis subterrâneos. Vive no escuro e com medo. Também com alguns poucos momentos de luz, pois há uma toca na superfície que lhe permite sair e entrar. O projeto parte de uma sugestão de leitura do psicanalista de Ciocler. "Como você reage às excitações que o outro lhe provoca? Se vivesse sozinho no mundo, talvez suas patologias psíquicas não existissem", propõe o ator. Embora possa ser lido sob a ótica da psicanálise, os significados se estendem para representações de situações político-sociais. Foram muitos os filósofos que se debruçaram sobre o texto, entre eles Sartre (1905-1980) e Heidegger (1889-1976). Alvim atenta para o título que a obra não tem. "Ela não se chama 'A Casa'", destaca. "Não é algo pronto, onde você vai morar. Ela se chama 'A Construção' e está em permanente ampliação, inclusive de seus significados." A construção empreendida no subsolo pode, por exemplo, espelhar com certo didatismo a estrutura que se entrelaça a fenômenos culturais contemporâneos, como explica Alvim. "O texto é obsessivamente repetitivo, e essa repetição remonta a toda criação de sistemas ao longo da história", diz. O socialismo de Stalin (1879-1953), por exemplo, poderia estar ali simbolizado? Para Alvim, sim. A peça pode representar "o sistema que se fecha para a ameaça externa, remoendo a existência de um inimigo para justificar a ampliação de sua estrutura". Com todos os símbolos que o texto possa desprender, Alvim prefere nomeá-lo "um enigma", o que tem influência direta sobre a montagem proposta. A primeira imagem da encenação é a de um homem na penumbra, com uma caneta. Ele está sentado junto a uma mesa, e mais adiante há, riscado no chão, o contorno de um corpo, como se um legista já tivesse passado por ali. Um outro homem, em cena, se aproxima, sem falas. Ciocler trabalha um tipo de interpretação que se aproxima do vértice minimalista do trabalho que Alvim vem desenvolvendo junto a sua companhia, o Club Noir. A imobilidade gestual proposta pelo diretor em outras montagens parece balançar, principalmente pela respiração do ator. Zoomorfismo, ali, é apenas um detalhe, quase imperceptível.

O GLOBO - Atração pelo universo pop e pelas relações familiares

Jorge Caetano dirige peça que fala do conflito de gerações e traz personagens como uma ‘cosplayer’ e um emo

Mauro Ventura

12 (28/01/2012) Desde adolescente, Jorge Caetano misturava histórias em quadrinhos e Edgar Allan Poe.

— Sempre tive ligação com o universo mais lúdico, pop, das animações, das HQs, e também com o universo mais sombrio.

Ele tem especial fascínio ainda pelas relações familiares, pela ficção científica e pelo rock. Nos próximos meses, as áreas de interesse de Jorge estarão todas representadas no palco. A começar por hoje, quando estreia, às 19h30m, na Caixa Cultural, “O céu está vazio”, a terceira parceria dele como diretor com a dramaturga Julia Spadaccini, após “Não vamos falar sobre isso agora” e “Os estonianos”, de 2008, unanimidade de crítica.

Personagens no limite

“O céu está vazio” gira em torno de uma família que vive um conflito de gerações. O pai, Ivan, de 50 anos, não consegue se comunicar com o filho, Lui, de 18, rapaz sensível e artístico, que é emo — e que representa aquele lado sombrio de que fala Jorge. A mãe, Laura, quer abandonar a casa por não aguentar mais a relação do marido com o filho e por descobrir que ele tem uma amante. O adolescente também quer sair de casa.

— Ao começar a peça, todos os personagens estão no limite — diz Jorge, que também pinta e fotografa como hobby.

Ivan, que está ficando surdo, vai para o centro terapêutico Clube do Zumbido e lá conhece uma jovem de 18 anos, Emília, que também está com problemas auditivos. Ela é cosplayer — alguém que se fantasia de um personagem de desenhos animados, mangás, quadrinhos ou games. Eles se tornam amigos e, graças à convivência com a garota, Ivan passa a compreender melhor o filho.

— Emília e Lui representam duas tribos urbanas — diz Jorge, que faz 50 anos em abril. — É a primeira vez que vai se falar de cosplay numa peça no Brasil.

Ele explica que os quatro anos entre “O céu está vazio” e “Os estonianos” se deveram à busca por dinheiro — a peça tem patrocínio da Secretaria estadual de Cultura, Eletrobras e Caixa.

Como diretor, Jorge fará ainda “O mundo é assim”, adaptação de contos de André Sant’Anna, a convite da atriz Cristina Mayrinki, da Cia. Fodidos Privilegiados. Mas é como ator — profissão que exerce há 25 anos — que ele estará mais ocupado nos próximos meses, com cinco projetos à vista. O primeiro, no segundo semestre, em São Paulo, é na verdade uma reestreia: “Outside”, musical de Pedro Kosovski inspirado num poema que David Bowie escreveu no encarte de seu disco. No espetáculo, com direção de Marcos André Nunes, Jorge é o transexual Ramon Ramona, que lhe rendeu o prêmio Fita de ator coadjuvante. Outro projeto é um desdobramento.

— Vamos retomar o personagem. Mostrar a vida do Ramon antes de virar o transexual Ramona. Vai ser mais underground, um minimusical com banda de rock ao vivo — diz ele, que já foi dirigido por nomes como Sergio Britto, Amir Haddad, e Miguel Falabella.

Com Kosovski e Nunes, da Aquela Companhia de Teatro, ele fará mais dois trabalhos, ambos entre o fim do ano e o começo de 2013. O primeiro é “Amazônia ópera rock”, musical com temática futurista. Trata- se de uma ficção científica em que a Humanidade foi dizimada, e existe uma Amazônia clonada na Terra. A outra peça com a dupla é inspirada na vida e na obra do cartunista Robert Crumb. Jorge vai interpretar um dos dois irmãos de Crumb — todos os três desenhavam, e um deles era esquizofrênico.

— Talvez eu faça o esquizofrênico. Para viver Crumb, foi convidado Lúcio Mauro Filho.

Ajuste de contas

13 É mais uma peça sobre família. Como também é o caso de “Aos domingos”, prevista para este ano, numa nova parceria com Julia Spadaccini, com quem ele criou em 2005 a Cia. Casa de Jorge. Mas agora Jorge atuará, enquanto Bruce Gomlevsky será o diretor.

— A Julia escreve alternadamente uma peça para eu dirigir e uma para eu atuar.

Na trama, Eduardo (Jorge) foge para a Europa após o pai sair de casa e a mãe enlouquecer. Seis anos depois, volta e reencontra a irmã, Ana (Juliana Teixeira). A história mostra o ajuste de contas dos dois irmãos.

O GLOBO – Educação e teatro levam Brasil a Berlim

O ator e pedagogo catarinense Ivo Müller está em “Tabu”, filme português que compete no festival alemão

Gilberto Scofield Jr.

COM A ATRIZ Ana Moreira em “Tabu”: único brasileiro no elenco

SÃO PAULO - Para o ator catarinense Ivo Müller, 34 anos, o poeta tcheco Rainer Maria Rilke, um dos mais importantes de língua alemã do século XX, é muito mais que o objeto de pesquisa de um ator fascinado com o uso da arte na educação. Em 2006, quando trabalhava com alunos da Escola Estadual Rodrigues Alves, em São Paulo, testando estímulos de dramaturgia, Müller achou na blioteca da escola o livro "Cartas a um jovem poeta", de Rilke, e percebeu que aquelas palavras inspiradoras renderiam uma bela montagem teatral.

Quatro anos depois, após o texto ser burilado e destrinchado muitas vezes, ele estreava o monólogo de mesmo nome em São Paulo (em cartaz atualmente no Sesc Consolação), um sucesso que já levou mais de 2,5 mil pessoas ao teatro, além de receber críticas elogiosas na imprensa. Em fevereiro de 2011, Rilke voltaria a ser fundamental na carreira de Müller: o ator foi sondado pela produtora Gullane Filmes para atuar em "Tabu", uma coprodução Brasil-Portugal-Alemanha- França dirigida pelo português Miguel Gomes (de "Aquele querido mês de agosto"). Ele é o único brasileiro em um elenco todo português; Gomes o escolheu após ver "Cartas a um jovem poeta" na internet.

— Rilke me inspira e vai me acompanhar a vida inteira — diz ele no saguão do teatro Sesc Consolação, ainda surpreso com os desdobramentos de sua decisão de fazer parte de "Tabu".

Afinal, o filme foi selecionado para a competição oficial do Festival de Cinema de Berlim, que acontece de 9 a 19 de fevereiro. Müller, um raro sul-americano na mostra competitiva do festival, embarca dia 13 para a Alemanha para acompanhar a pré-estreia mundial do filme, que conta a história de Aurora, uma idosa geniosa e sua relação com a empregada de Cabo Verde e a vizinha dedicada a causas sociais. Todas moram em Lisboa, e, quando Aurora morre, descobre-se um passado africano surpreendente.

— É um momento especial para mim — resume o ator.

De fato. Além de "Tabu" em Berlim e de "Cartas a um jovem poeta", Müller está em cartaz no teatro Tucarena com a montagem de "Doze homens e uma sentença", dirigida por Eduardo Tolentino de

14 Araújo. A peça, vista por mais de 50 mil pessoas, ganhou o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de Melhor Espetáculo de 2010 e duas indicações ao Prêmio Shell (melhor diretor para Tolentino e melhor ator, Norival Rizzo).

— O trabalho do Ivo vem amadurecendo com o tempo, o que só valoriza a dedicação e a seriedade com que ele encara seus personagens — diz Tolentino.

Nada mal para um advogado que, em 2002, recém-formado pela Universidade Federal de Santa Catarina, decidiu interromper no meio uma prova para a Advocacia Geral da União e abraçar a carreira de ator. Em 2002, Müller foi para o Rio, onde fez aulas com Enrique Diaz na Casa de Artes de Laranjeiras (CAL). No ano seguinte, largou a família em Florianópolis e embarcou para São Paulo, como diz, "na cara e na coragem".

— Foi uma decisão difícil. Meus pais são do interior de Santa Catarina, e tinha medo de decepcioná- los de alguma forma. Mas desde os 16 anos, quando fiz intercâmbio nos EUA e descobri o teatro, acabei me apaixonando por este mundo. No fim do curso de Direito, eu já meio que sabia que aquele não seria o meu futuro. Sempre que ia ao teatro pensava que podia viver no palco — conta.

Em SP, por indicação da atriz Dalia Palma (já falecida) — protagonista de "O diário de Anne Frank" em 1958, dirigida por Antunes Filho —, Müller procurou a atriz e professora Haydée Bittencourt, que lhe sugeriu uma conversa com o Grupo Tapa, ao qual ele se uniu em 2003. No grupo, atuou profissionalmente pela primeira vez, como substituto nas peças "Camaradagem", de Strindberg, e "Amargo siciliano", de Pirandello.

Entre 2006 e 2008, integrou o Centro de Pesquisa Teatral de Antunes Filho, onde conheceu sua atual mulher, a atriz e produtora Domingas Person. Em 2008, voltou ao Tapa. Apesar da atuação nos palcos, Müller conta que o que pagava as contas de casa era mesmo o trabalho de pedagogia através da arte nos colégios de São Paulo. Casado desde dezembro de 2007, o ator catarinense se prepara agora para desempenhar um papel inédito: o de pai. Sua filha nasce em junho. ARTES PLÁSTICAS

REVISTA BRAVO - Cessar-fogo

Como artistas da periferia paulistana fizeram Mônica Nador retornar à pintura de telas e se reaproximar das galerias por Gisele Kato

15 As paredes pintadas pelo Jamac na galeria Luciana Brito, em São Paulo. Oito artistas trabalharam no local por três semanas (Janeiro / 2012) Em 1996, pode-se dizer que Mônica Nador era uma artista do “circuitão”, ou seja, uma vez por ano apresentava uma individual em uma galeria de prestígio do país, como a Luisa Strina, em São Paulo, e tinha no currículo participações em duas bienais paulistanas – a de 1983 e a de 1991 –, além de coletivas em alguns dos principais museus brasileiros. Sua trajetória seguia o termômetro do grupo que ficou conhecido como Geração 80, com os jovens que, saídos da faculdade naquela década, encontraram o mercado sedento para acolhê-los sem reservas. Em pouco tempo, desfrutavam de visibilidade e dinheiro. Por 13 anos, Mônica esteve no meio deles. Até que um ensaio, escrito pelo historiador norte-americano Douglas Crimp em 1981, caiu em suas mãos. Intitulado O Fim da Pintura, o texto questionava o formalismo acadêmico e expunha uma espécie de impasse a que a atividade estritamente pictórica estaria submetida. Pouco importa aqui se muita gente depois de Crimp voltaria a declarar a morte da pintura e a pintura insistiria – sempre com louvor – em provar sua vivacidade. Na história de Mônica, as palavras do crítico tiveram um efeito definitivo. A paulista de Ribeirão Preto abandonou por anos as telas. Em busca de uma arte mais próxima do mundo, foi pintar paredes. É bem verdade que a primeira delas ainda não era lá muito distante do tal “circuitão”. Naquele ano de 1996, Mônica Nador ocupou o estreito corredor em frente ao restaurante do Museu de Arte Moderna de São Paulo: “Foi ali que me dei conta de que conseguia pintar uma parede e de que era isso o que queria fazer dali para a frente”. Para concluir a obra no MAM, a artista aprendeu a usar estêncil – os moldes vazados com padronagens – e spray. Teve de tirar o foco das referências clássicas e olhar para a rua. Mas hoje, 15 anos depois, a artista já não exibe uma atitude e um discurso muito radicais. Graças ao convívio com jovens e adultos do bairro Jardim Miriam, na periferia da Zona Sul paulistana, fez as pazes com as galerias e... voltou às telas. Pode-se dizer que os integrantes do Jardim Miriam Arte Clube, o Jamac, coletivo que fundou em 2004, diluíram seu preconceito em relação ao mercado. Prova disso é a exposição Mônica Nador – Autoria Compartilhada, em cartaz neste mês na galeria Luciana Brito, em São Paulo. Depois de romper de forma um tanto brusca com os endereços tradicionais, Mônica retorna a esses espaços de um jeito leve: “Eu tenho uma tese que é a da beleza pura, de enfeitar os lugares e com isso mexer com as pessoas”. Na mostra, as quatro paredes da principal sala expositiva estão tomadas por padronagens criadas pelo Jamac. Ao todo, oito pessoas trabalharam por três semanas no endereço, decidindo em parceria as cores – predominam o vermelho e o verde – e o número de sobreposições dos desenhos – em alguns casos, até quatro

16 camadas foram pintadas. Integram a individual ainda nove obras em papel, quatro telas e um videodocumentário com parte da história do grupo. PANO DE PRATO E MUSEU Até chegar à inauguração do Jamac, no entanto, o caminho em nada se pareceu com aquele início de carreira, tão facilitado por um mercado em ebulição. Depois de 1996, com o projeto Paredes Pinturas formatado, Mônica viajou para diversos estados do país, realizando trabalhos ainda pontuais. Em 1998, tomou conta de um coreto em Coração de Maria, na Bahia, e de uma casa de palafita no Amazonas. No ano seguinte, transformou as fachadas de residências da Vila Rhodia, em São José dos Campos (SP). E em 2001 entrou pela primeira vez em contato com a comunidade do Jardim Miriam, a convite na época de uma ONG dirigida pela empresária Milú Villela. A parceria não deu certo, mas Mônica não saiu mais do bairro. O Jamac propriamente dito funciona atualmente em um galpão que pode ser descrito como um misto de ateliê aberto e espaço cultural para jovens e adultos da comunidade local. Sem um apoio oficial, Mônica mudou-se em definitivo para o endereço no mesmo ano de sua abertura, em 2004: “Morar lá faz toda a diferença. Não sou mais uma pessoa de fora que chega definindo regras. Estou lá de igual para igual”, diz. A afinidade entre os dez frequentadores mais assíduos do galpão é tanta que o nome de Mônica nem aparece mais sozinho na assinatura de uma peça. Juntos, eles criam novas padronagens e transformam paredes aplicando várias camadas de estêncil, em um processo criativo que fica visível ao espectador. E os trabalhos são registrados como “Mônica Nador + Jamac”. Quem conhece suas peças do fim dos anos 80 e início dos 90 percebe as mudanças que a produção incorporou com o deslocamento dos circuitos protegidos das galerias e dos museus para as ruas. O uso das cores é mais atrevido. A aplicação dos traços é mais solta. Por outro lado, a artista não deixa de falar para os companheiros de ateliê sobre nomes como Josef Albers (1888-1976) e sua série Homenagem ao Quadrado, por exemplo. Há muito do legado do mestre alemão nas peças do grupo. “Tenho hoje outra percepção do mundo e da arte. Porque nosso principal intuito aqui não é mercado, e sim o efeito que teremos na vida das pessoas. A gente usa uma técnica que pode pintar pano de prato e estar ao mesmo tempo em museu”, diz Paulo César Meira, 26 anos, artista do Jamac desde seu início e que hoje cursa arquitetura na Faculdade Anhembi Morumbi. Já Cristiane Aparecida Alves da Silva, 33 anos, também artista do coletivo, produz tudo de forma mais intuitiva. “Vou testando cores, vendo o que funciona. Fiz as máscaras de duas paredes da galeria Luciana Brito, em exibição agora”, diz a jovem. Na busca pela “beleza pura” e por uma arte capaz de ser entendida por um número maior de pessoas, Mônica faz hoje uma revolução de caráter mais inclusivo: mantém um pé no circuito e outro na periferia.

FOLHA DE S. PAULO – Painéis de Portinari recuperam brilho Díptico 'Guerra e Paz', doado pelo Brasil à ONU em 1956, passou por restauro no país e será exibido em São Paulo

Exposição começa em 7/2 no Memorial da América Latina; obras irão para outros países antes de voltar a NY

17 Tela "Jesus e os Apóstolos" na Igreja Matriz de Batatais (Edson Silva -21.dez.11/Folhapress)

LEANDRO MARTINS, DE RIBEIRÃO PRETO

(26/01/12) São Paulo será a primeira cidade do mundo a receber os painéis "Guerra e Paz", de (1903-1962), com as mesmas cores vivas e detalhes que a obra exibia quando foi levada, há 56 anos, para a sede da ONU, em Nova York. Os dois painéis gigantes, cada um com 14 metros de altura, serão expostos de 7 de fevereiro a 21 de abril no Memorial da América Latina. A exposição inaugura uma turnê internacional das obras.

É a primeira mostra dos painéis desde que a restauração de "Guerra e Paz" foi concluída no Rio de Janeiro, em 2011 -quando puderam ser vistos enquanto ainda eram restaurados em uma espécie de ateliê aberto para visitação, no palácio Capanema.

Antes do restauro, entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, as obras levaram, em 12 dias, 44 mil visitantes ao Theatro Municipal do Rio.

Desde que o trabalho terminou, elas foram desmontadas, encaixotadas e transferidas para um local mantido em sigilo por segurança.

João Candido Portinari, filho do artista e diretor do Projeto Portinari, ressalta que, além dos painéis, a exposição trará, pela primeira vez, um conjunto de aproximadamente cem estudos originais.

São desenhos e maquetes feitos por Portinari como preparação para "Guerra e Paz".

João Candido conta que reunir o material foi trabalhoso, porque o acervo pertence a galerias e coleções particulares mundo afora.

A escolha do Memorial da América Latina para abrigar a exposição é simbólica, afirma o filho do artista.

Primeiro, porque o local foi projetado por , de quem Portinari foi parceiro em projetos como o da igreja da Pampulha, em Belo Horizonte. Além disso, diz Candido, há o vínculo entre as ideias expressas por "Guerra e Paz" e o projeto cultural do Memorial, pela integração da América Latina.

18 "É um lugar de cultura de paz, de integração dos povos, que tem tudo a ver com a mensagem dos painéis."

Depois que deixar São Paulo, "Guerra e Paz" vai percorrer outras cidades pelo mundo. Os dois países já definidos são Noruega e Japão.

No primeiro, a ideia é que as obras marquem presença em Oslo durante a entrega do Prêmio Nobel da Paz.

Já no Japão, a preferência recaía sobre Hiroshima, atingida pela primeira bomba atômica americana no fim da Segunda Guerra (1939-1945). Mas a inexistência de um espaço ideal deve transferir a mostra para Tóquio.

Outros países devem ser incluídos na turnê, como Argentina e Turquia. Os painéis voltam a Nova York em 2013, onde foram instalados em 1956, como presente do governo brasileiro.

Para que fossem trazidos ao Brasil e restaurados, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) investiu R$ 7 milhões. Já para a turnê que se inicia em São Paulo, o Projeto Portinari ainda busca mais patrocinadores.

EL PAÍS – Sangre joven para la Bienal de Venecia

Espanha – 01.02.12 - El nombramiento de Massimiliano Gioni para las Artes Visuales es la única sorpresa. Repiten en sus cargos, el catalán Alex Rigola, responsable de Teatro y el brasileño Ismael Ivo, en Danza

Roberta Bosco Barcelona

Massimiliano Gioni ha sido la verdadera sorpresa entre los nombrados para dirigir los diversos sectores, que componen la Bienal de Venecia, que dio a conocer ayer Paolo Baratta, presidente del Consejo de Administración de la institución veneciana. “Los nombramientos se producen en el marco del pluralismo y la continuidad necesarios para poder llevar a cabo programas de envergadura”, afirmó Baratta. El presidente reconfirmó a Ismael Ivo por otro año (su octavo), con el encargo de continuar las actividades de el Arsenale della Danza, que el coreógrafo y bailarín brasileño contribuyó a refundar.

También quedó reconfirmado el director barcelonés Alex Rigola, que se quedará otros dos años “para completar una experiencia muy productiva, basada en las actividades formativas, donde ha sabido combinar momentos de espectáculos y laboratorio”, según el presidente. En la edición anterior Rigola había satisfecho las aspiraciones de la Bienal, organizando un festival de grandes nombres, acompañado por un laboratorio internacional de formación que abarcaba todos los aspectos del teatro: técnica escénica, iluminación, dramaturgia, movimiento, etc. Según Baratta esta nueva fórmula festival-laboratorio ha vuelto a situar Venecia en el centro del debate sobre las artes escénicas contemporáneas.

Para el sector musical ha sido contratado el compositor italiano Ivan Fedele para un periodo de cuatro años, pero la mayor sorpresa ha sido la apuesta por un joven comisario, Massimiliano Gioni (Milán, 1973), para la Bienal de Artes Visuales, la más prestigiosa de todas, que celebrará su 55ª edición en 2013. Gioni, que ha sido comisario de alguna sección de la feria ARCO y ponente del Foro de Expertos, se dio a conocer como cazatalentos de artistas jóvenes. Inició su trayectoria por la puerta grande, como director artístico de la Fondazione Nicola Trussardi de Milán, pero rápidamente fue atrapado por el fenómeno más conocido como bienalización del arte. En 2004 dirigió la quinta edición de la bienal itinerante Manifesta y dos años después la cuarta Bienal de Berlín, que tituló Of Mice and Men. En 2010 comisarió 10.000 Lives para la octava Bienal de Gwangju en Corea, que fue todo un éxito, siendo el más joven y el primer europeo encargado de este evento. Además es director asociado del New Museum de Nueva York.

Gioni creció en el vivero del célebre crítico Francesco Bonami, de quien aprendió a no someter nunca su visión curatorial a los aspectos más comerciales del arte. Mientras que su gran amigo el artista

19 Maurizio Cattelan, conocido por sus obras provocadoras y anticlericales, le ha transmitido la habilidad de comunicar con los medios y la misión de poner en valor las nuevas generaciones de artistas.

Mañana el Instituto Ramon Llull de Barcelona dará a conocer el ganador del concurso para representar a Cataluña en la próxima Bienal de Arquitectura de Venecia, que se celebrará este año bajo la dirección del arquitecto británico David Chipperfield.

O ESTADO DE S. PAULO - Todos os caminhos da arte

Mostra no Rio põe em debate os processos tecnológicos usados na criação

ROBERTA PENNAFORT / RIO

Para que raios serve um motor de antena de rádio de carro a não ser para fazer mover antena de rádio de carro? A artista plástica Mariana Manhães enxerga no pequeno equipamento um mundo de possibilidades.

Atrelados a tubos de espuma, alto-falantes, duas telas de LCD e bases de antenas, motores como este, em geral vistos como sucata, compõem Dentre (Lâmpadas), trabalho de 2010 exposto então na mostra Paralela, em São Paulo, e trazido este mês ao Oi Futuro do Flamengo.

Na parede contígua à obra, o curador Alfons Hug alocou Bürostuhl (cadeira de escritório), performance gravada em vídeo, do suíço Roman Signer, que consiste no rodopio de uma cadeira impulsionada por foguetes nos braços.

Mais à frente, chega-se à Base para Unhas Fracas do carioca Alexandre Vogler: duas mãos mecânicas comandadas por um motorzinho daqueles que fazem rodar os frangos nas máquinas de assar das padarias.

A exposição se chama High Tech/Low Tech - Formas de Produção, e discute, nos interstícios de vídeos, esculturas, fotografias e performances, as relações entre homem e máquina, arte e tecnologia.

Diretor do Instituto Goethe no Rio, o curador, alemão há dez anos no Brasil, conclui que "quanto mais a sociedade avança tecnologicamente, mais o artista volta para trás, aposta na baixa tecnologia".

"A beleza desse tipo de obra (como a dos dois brasileiros) está no precário, no barato, na máquina que não tem funcionalidade. A máquina que funciona quase não pode ser arte contemporânea", afirma também Hug.

20 Mostrados em bienais tão distantes/distintas quanto a de Veneza e a de Xangai, e pescados durante um ano em estúdios europeus e asiáticos, os trabalhos têm imagens espetacularmente impactantes, como os helicópteros suicidas do vietnamita Dinh-Q; Lê, a siderúrgica totalmente automatizada, filmada em seus vermelhos e amarelos vibrantes pelo turco Ali Kazma e a "fantástica fábrica" de gelo em pleno Círculo Polar Ártico, visitada pelo norte-americano Chris Larson.

Outras comovem pela singeleza, como o carro dos Flintstones do canadense Michel de Broin, propulsado pelo pedalar conjunto dos passageiros, as marionetes da colombiana Libia Posada, os rituais disciplinadores chineses de 1, 2, 3, 4, de Zhou Tao e as imagens do casal de artistas Katia Maciel e André Parente, que se repetem projetadas na parede, como aquelas velhas bonequinhas recortadas no papel.

Há o elogio ao valor do trabalho, há a crítica quanto à obsolescência humana e tecnológica, a pujança e o abandono, a oposição entre a produção artesanal e mecanizada - questões que movem artistas tanto no mundo ainda em desenvolvimento humano e econômico (Brasil, Hong Kong, Índia), quanto nos países mais ricos (Canadá, Alemanha, França, etc.).

"Lido com o que tenho na loja de ferragem perto da minha casa. A mim interessa encontrar soluções, essa é a minha linguagem", conta Mariana, que é ajudada pelo pai, engenheiro. FOTOGRAFIA

O GLOBO - Mostra celebra um construtor de câmeras e imagens

Sebastião Barbosa apresenta fotos do Rio e de Paris e exibe máquinas feitas com materiais como lata e madeira

Mauro Ventura

SEBASTIÃO BARBOSA com suas máquinas feitas com latas recolhidas nas ruas: fotos da beleza do mundo

Ele é figura conhecida no “shopping chão” da Lapa, onde moradores de rua e catadores expõem suas mercadorias. Há dois anos, compra qualquer tipo de lata por R$ 1 ou R$ 2. O fotógrafo Sebastião Barbosa é chamado de professor pelos vendedores.

— Explico que transformo as latas em câmeras e que ensino adolescentes carentes — diz ele, que tem cerca de mil latas.

E é verdade. O lado professor também apareceu no projeto Lambe-Lambe Pós-Digital, em 2008, quando percorreu 60 escolas de 43 cidades do Rio dando oficinas para 1.800 alunos do ensino médio. Essa é apenas uma de suas facetas. Afinal, são 70 anos de histórias. Parte delas poderá ser vista a partir das 13h de hoje no Oi Futuro Ipanema, na exposição “Sebastião Barbosa, fotógrafo”, que tem curadoria de Wilton Montenegro.

21 Falso recado de político

Nascido no Amazonas, Barbosa começou aos 13 anos em Manaus, como assistente do fotógrafo Fernando Nascimento. Limpava o chão, até que passou a se interessar pela parte técnica. Em 1961, já fotógrafo, mudou-se para Belém e trabalhou no “Jornal do Dia”.

— Era um jornal escandalosamente esquerdista. Com o golpe militar, ele foi empastelado (as oficinas foram inutilizadas). Fomos presos, saiu uma foto nossa de cueca no jornal.

Solto, veio para o Rio. Diante da dificuldade de arrumar emprego, um colega sugeriu tentar “O Cruzeiro” ou “Manchete”, onde inventou para a secretária que tinha um recado de um político do Pará para Adolpho Bloch. Conseguiu pedir uma chance a ele, que disse: “Mas tu é fotógrafo mesmo ou é essas merdas que aparecem sempre?”

— Foi um relacionamento maravilhoso — lembra ele, que ficou dez anos na “Manchete”, onde trabalhou também na sucursal de Paris.

Ao sair, em 1974, montou com Claus Meyer a primeira cooperativa de fotógrafos do Brasil, a Câmara Três — Walter Firmo entrou um ano depois. Também teve um estúdio e fez fotos publicitárias. Barbosa não usa câmeras digitais.

— Essa facilitação que ela proporciona tirou todo o suspense entre o tempo de tirar a foto e revelá-la — diz ele, que só registra “a beleza do mundo”.

— Nunca vou fotografar criança de rua, desgraça, gente em situação constrangedora. Já tem muito fotógrafo ocupado com isso. Sou de família muito humilde. Meu pai casou-se com minha mãe índia, botoulhe 11 filhos, morreu leproso. De miséria chega a minha.

Em 1998, ele fez as fotos de “Gatos, a emoção de lidar”, último livro da doutora .

— No ano em que cheguei ao Rio, minha cabeça estava a mil e fui fazer tratamento na Casa das Palmeiras.

Entre as aventuras de Barbosa está a criação, no início dos anos 1980, de um parque temático para fotógrafos no Vale das Videiras, em Petrópolis, chamado VivaFotografia.

— Não deu muito certo. Tem bosque, lago artificial, três estúdios. De vez em quando vai gente lá.

A exposição traz a produção dos últimos dez anos. Junto às imagens do Rio e de Paris, estarão câmeras que construiu com madeira ou com latas. Tem até uma feita com um pequeno barril de 20 litros de óleo de milho que ele catou numa lixeira em Paris. Com ela, fotografou o Cristo Redentor. Também registrou o monumento com uma câmera feita com lata de filme cinematográfico.

Barbosa cria câmeras pinhole, que ele prefere chamar de “câmeras de orifício” — faz um furo de meio milímetro que permite a entrada de luz na caixa escura. Também serão expostos uma instalação — uma torre formada por mil latas — e um vídeo, com o processo de produção das imagens.

22 NEGATIVO do Cristo com turistas (acima) e imagem da Torre Eiffel feita a partir de lata de filme cinematográfico: em exposição a partir de hoje no Oi Futuro Ipanema MÚSICA

FOLHA DE S. PAULO - Criolo faz clipe para tornar Ilê mais pop

Lançamento de "Que Bloco É Esse?" acontece hoje em Salvador, com show do rapper paulista e do bloco baiano

Vídeo integra projeto que busca retomar a popularidade dos blocos afro, engolida pela indústria do axé

MARCUS PRETO, ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR (BA)

O plano original era Criolo emprestar a voz a uma nova gravação de "Que Bloco É Esse?", maior hit do Ilê Aiyê.

Mas, animado com o convite, o rapper foi adiante e fez uma música inédita para o bloco afro. Começou a compor ainda no avião, dez minutos antes de aterrissar na Bahia. Terminou no hotel.

23 Com seu produtor musical, Daniel Ganjaman, e com os músicos baianos, o paulista entrou no estúdio de , no Candeal, no dia seguinte. E só precisaram de mais dois dias para produzir o clipe -nas ruas do bairro da Liberdade e em terreiro de candomblé.

"Imaginei criar [para a letra] uma situação que antecedesse a canção deles, falando sobre o que fazem, relembrando as origens", diz Criolo. "É como chegar a um lugar pedindo licença. Como seu fosse um erê [criança] que veio aqui [na BA] aprender."

O vídeo vai ser lançado hoje à noite, em show na Bahia, como parte de um projeto da Petrobras que busca retomar o prestígio dos blocos afro.

"Queremos que atinjam um público novo e estamos usando a música pop para ajudar na reverberação", diz Pedro Tourinho, diretor do projeto. "Vamos criar uma série de outros conteúdos para povoar o mundo digital."

Além do clipe de Ilê e Criolo, estão programados documentários de cinco minutos para a internet, contando não apenas a história do Ilê, mas também de outros blocos.

De saída, vêm os do Muzenza (com participação da banda Nação Zumbi), do Malê Debalê (com Emicida) e do Cortejo Afro (com Preta Gil).

Na sequência, até o Carnaval, devem vir mais dez, entre os quais estão Okanbi, Os Negões, Bankoma e .

O material será colocado aos poucos, a partir de hoje, no site www.petrobras.com.br/queblocoeesse.

AXÉ

O ritmo dos tambores dos blocos afro está na raiz da música que é consumida hoje no Carnaval da Bahia, mas sua repercussão foi engolida pela indústria do axé.

"Daniela [Mercury] é a única cantora de axé que não tem medo de ensaio de bloco afro", diz Antonio Carlos Vovô, presidente do Ilê Aiyê. "Nenhuma outra canta [nosso repertório] de ouvido."

Criado em 1974, o Ilê é o primeiro bloco afro do Brasil.

"Antes do Ilê, negro só aparecia no Carnaval carregando alegoria", recorda Vovô. "O que a gente queria era resgatar nossa autoestima. Tínhamos influência do black power americano. "

Segundo ele, o bloco quase se chamou Poder Negro. Mas o Brasil vivia então em período de ditadura.

"Um militar da minha rua aconselhou, disse que essa ideia não daria muito certo. Mesmo assim, os seguranças mandavam as pessoas terem cuidado com a gente: 'Esses negrinhos são vermelhos!'."

O repórter MARCUS PRETO viajou a convite da Petrobras.

O GLOBO - Devastação e cura que escoam pela música

As dores da separação e o prazer da liberdade marcam os extremos do quinto disco do baiano Lucas Santtana

Carlos Albuquerque

(28/01/2012) Numa das músicas do seu novo disco, “O deus que devasta mas também cura”, Lucas Santtana conta como foi uma noite passada num quarto de hotel, em Belo Horizonte: “Sentidos que explodem/ Para que outros adormeçam/ O corpo vibra e torce/ O peito não alenta/ O sangue engrossa e corre/ A veia se adensa”, canta ele, por cima de uma batida seca, embalada por um sample do quarteto de cordas de Ravel e pelo baixo contundente de Ricardo Dias Gomes. Mas a aparência da letra engana. Ele não está descrevendo as sensações de uma jornada de sexo intenso.

24 “Jogos madrugais”, que tem regência do maestro Letieres Leite, é sobre uma noite de insônia, passada em frente a um videogame.

— Eu tinha um voo bem cedo e, como estava sem sono, virei a noite jogando, sozinho, no quarto do hotel. Quando reparei, estava com as pupilas dilatadas e muito excitado. Lembrei do meu filho, que também fica assim quando joga sem parar — conta. — Aí pensei numa letra que descrevesse essas sensações. Só depois, conversando com um amigo, é que reparei que ela parecia descrever o que não aconteceu: uma noitada de sexo.

Descrição por descrição, é a faixa-título que dá o verdadeiro tom do disco, o quinto da carreira de Lucas, o primeiro desde que seu casamento de onze anos ganhou o status de game over. Composta em parceria com Gui Amabis e Dengue (Nação Zumbi), a música foi gravada primeiramente no disco de Amabis, o belo e melancólico “Memórias Luso/ Africanas”, lançado no ano passado.

— Depois de ver a música gravada pelo Gui, reparei que ela era muito pessoal e descrevia o momento pelo qual eu estava passando. Normalmente evito esse tipo de coisa, mas nesse disco isso foi mais forte. Foi como uma necessidade de deixar escoar esses sentimentos, como um náufrago, sozinho numa ilha, escrevendo nas paredes para não enlouquecer. A separação me trouxe dois sentimentos distintos, mas que acabaram convivendo entre si: as sensações de tristeza e de liberdade. O disco acabou ficando assim também, com momentos mais intimistas e outros mais para cima.

Como encontrou a cura para suas feridas pessoais através da música, Lucas Santtana aproveitou para se cercar de bons amigos do meio nessa delicada transição. Além de Ricardo Dias Gomes e Letieres Leite, “O deus que devasta mas também cura” — produzido pelo autor e por Chico Neves — traz como convidados Céu, Curumin, Kassin, Gustavo Ruiz, Guizado, Maurício Fleury (do grupo Bixiga70). Marcos Gerez (do Hurtmold) e Rica Amabis, entre outros. Conhecidos mais distantes, como Beethoven, Debussy e Ravel, também estão presentes, através de meticulosos samples de suas obras, numa das boas sacadas do disco.

Regravação de Tom Zé

— Eu voltei a ouvir clássicos recentemente e acabei sendo contaminado por eles. Gosto de usar samples, mas de uma forma musical, como se fossem instrumentos, preocupando-me com o timbre e o tom, não apenas com o encaixe e o ritmo — diz o músico baiano, radicado no Rio há 17 verões.

Sucessor do elogiado “Sem nostalgia” — lançado no exterior em 2011 e escolhido o melhor disco do ano pelo jornal francês “Libération” — o novo trabalho traz uma versão de “Músico”, parceria de Tom Zé com os Paralamas do Sucesso, gravada no disco “Severino” (1994).

— Eu nunca esqueci essa música, desde que a ouvi pela primeira vez. A letra fala de genética e tem cortes nas palavras que vão dando a elas um outro sentido.

A solidão e São Paulo são lembradas em “Se pá ska SP” (“A solidão aqui tem moradia permanente”, diz a letra), enquanto “Ela é Belém” narra uma sonhada (e, enfim, concretizada) viagem à terra das aparelhagens e do tecnobrega. Os raios do sol surgem no fim do disco, com “Dia de furar onda no mar”, que Lucas dedica ao filho, Josué, de nove anos, parceiro na letra e na vida.

— Fiz a letra para ele, lembrando também seus constantes questionamentos, como o motivo de ter espuma no mar. Para esse, tive que pedir ajuda ao Google.

25 JORNAL DE BRASÍLIA - Roberta Sá à flor da pele

Cantora potiguar aposta em um ritmo mais pop, com o lançamento de Segunda Pele, quinto álbum da carreira

Raquel Martins

(29/01/2012) Roberta Sá tem se consolidado como uma das melhores vozes da Música Popular Brasileira atual desde a sua estreia, em 2004, com o CD Braseiro . Ao lado do Trio Madeira, com o álbum Quando o Canto é Reza, a intérprete conquistou o prêmio de melhor álbum de MPB na última edição do Prêmio da Música Brasileira. E eis que a potiguar, radicada no Rio de Janeiro, chega ao quinto disco de sua carreira quebrando a cadência do samba que a fez despontar.

Segunda Pele, seu novo álbum, aposta no ritmo mais pop, com direito a parceiros consagrados, como Pedro Luis, com quem divide a autoria da faixa No Bolso, e nas regravações de No Arrebol, do sambista Wilson Baptista, e Deixa Sangrar, de e interpretada em 1970 por . “Eu já cantava essas músicas em rodas de samba e bailes carnavalescos, mas só agora me senti pronta para regravá-las”, conta a cantora, em entrevista por telefone ao Jornal de Brasília.

Roberta vê seu novo estilo como uma renovação artística, uma forma de aproximação com o grande público. “Com Segunda Pele pude desmistificar alguns mitos e medos que eu tinha”, explica. Sá apresenta sua primeira canção em língua estrangeira, Esquirlas, do cantor e compositor uruguaio Jorge Drexler. “Ele veio ao Brasil e foi muito gentil, além de ser uma música inédita, Drexler soma uma nova identidade ao trabalho.”

Madura, a cantora pediu para Giovanni Bianco, autor da capa, ressaltar a sua sensualidade. “Q u e ro propor às mulheres uma maneira mais elegante e não vulgar de ser sedutora”, afirma. Roberta, que sempre se preocupou com a maneira de se expor, garante que seu lado sensual sempre existiu. “Eu não havia encontrado uma maneira de mostrá-lo de uma forma mais sutil”, e completa com um trecho da faixa Segunda Pele, que dá nome ao CD. “Quando ele vem, faço dele minha luva ou sutiã, a minha segunda pele, o meu cobertor de lã. Já viu frase mais sensual que essa?”, risos.

PATROCÍNIO

A artista, que irá fazer uma turnê de shows pelo Projeto Natura Musical, em que vai percorrer dez cidades nas cinco regiões do País, se diz entusiasmada com a parceria. “Me sinto lisonjeada por ter sido escolhida para o projeto, qualquer artista quer ter seu nome associado a essa marca”, acredita.

No final de 2011, ela ultrapassou o número de 200 mil discos vendidos, com dois CDs e um DVD de ouro e credita todo esse sucesso aos fãs. “Isso é graças ao público fiel e elegante que possuo e que faz questão de comprar ou baixar o álbum oficialmente”, orgulha-se. “O iTunes está vindo com força total. Antes, eu achava que ele era excludente, agora não penso mais assim”, explica.

26 A cantora afirma que não se rende às novas tecnologias. “Com o álbum Segunda Pele reencontrei o prazer do disco físico. Participar de cada detalhe, me deu muita alegria”, confessa. Roberta garante que a capital federal não está fora dos seus planos e promete passar com sua turnê por aqui até abril.

CRÍTICA Roberta Sá nasceu em Natal, em 19 de dezembro de 1980. Aos nove anos, mudou-se para o Rio de Janeiro. Aos 16, começou a frequentar aulas de canto. O marco zero de sua carreira foi um show no Mistura Fina, no Rio, em 2002.

Em 2004 veio o primeiro disco, Braseiro. O segundo álbum foi Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter Alegria, em 2007. Dois anos depois, Roberta Sá reuniu o repertório dos dois álbuns no show Pra Se Ter Alegria, que rendeu um CD e um DVD. Em 2010, ela se juntou ao Trio Madeira Brasil e gravou Quando o Canto é Reza, com 200 mil cópias vendidas. Apresentou, em 2011, mais de cem shows em vários estados e em Portugal.

O ESTADO DE S. PAULO - Um tenor brasileiro em Paris

O gaúcho Martin Muehle canta Tchaikovsky na Bastilha

ANDREI NETTO, CORRESPONDENTE / PARIS

(29/01/2012) A montagem da ópera A Dama de Espadas, de Pietr Tchaikovski, não chega a ser uma novidade na Ópera Bastilha, em Paris. Sua primeira exibição foi em 1991, sob direção musical de Myung-Whun Chung. Uma nova produção seria assinada por Vladimir Jurowski em 1999, 2001 e 2004. Agora ela volta a ser apresentada, desta vez sob a direção artística de Dmitri Jurowski. Para os brasileiros amantes de ópera, porém, a novidade maior do cartaz não é a sucessão entre os dois irmãos, mas a presença do tenor Martin Muehle no elenco - o primeiro cantor lírico do País a se apresentar na Bastilha.

A participação do brasileiro está longe de ser um acaso. Muehle e Nicolas Joel, atual diretor da Ópera Nacional de Paris, haviam trabalhado juntos quando da passagem do francês pelo Théâtre du

27 Capitole, de Toulouse, ocasião em que o brasileiro participou de A Mulher Sem Sombra, de Richard Strauss, entre 2007 e 2008.

É verdade que seu papel em A Dama de Espadas é antagonista. Na montagem, ele interpreta Tchekalinski, um jovem aristocrata, amigo de Hermann, o protagonista encenado por Vladimir Galouzine. Mas sua participação e seu nome estão lá. "Tchekalisnki pode me dar novas possibilidades na Europa."

Logo nos primeiros ensaios, Jurowski lhe propôs estender a parceria. Como o diretor musical é também chefe da Ópera de Antuérpia e tem relações sólidas na Rússia, novos horizontes devem abrir-se para Muehle.

Essas possibilidades premiam uma carreira que nem sempre foi coberta de glórias. Filho de um amante da música clássica, Muehle começou a ter aulas de música no Colégio Farroupilha, em Porto Alegre, e fez aulas particulares de piano, flauta, teoria musical e violão, antes de chegar aos corais de canto da capital gaúcha. Apesar da paixão, quase se tornou jornalista. Abandonou a faculdade de Comunicação e decidiu dedicar sua vida à música depois de conhecer um barítono uruguaio que se tornou seu professor, em 1989. Então descobriu a ópera. "Um dia, eu estava assistindo ao Pavarotti e durante o espetáculo comecei a chorar e disse: 'É isso que eu quero ser na vida'", recorda-se.

O percurso, entretanto, não seria fácil. Chegou a começar a Faculdade de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas mudou-se para a Alemanha, acompanhando sua namorada de então. Recomeçou sua formação universitária na cidade de Lübeck, onde ficou quatro anos. "Tinha muita gana, mas o processo de aprendizagem era bem lento", conta. Insatisfeito, continuou seus estudos em Hamburgo e passou pelas aulas de Carlo Bergonzi, em Siena, em 1993 e 1994. Aos 23, 24 anos, estava formado, mas só se tornaria profissional aos 27, quando passou por suas primeiras audiências em agências alemãs. Em uma delas, voltou a viver em uma pequena cidade, Bremerhaven, onde progrediu em termos profissionais, mas o isolamento foi um duro teste em sua vida pessoal. "O teatro me permitia aprender o métier, mas a vida social na cidade era zero." Além disso, Muehle descobriu na ópera uma profissão como as outras, com trabalho duro, precariedade e pouco glamour.

Decepcionado, só reavivou o interesse ao vivenciar uma nova experiência profissional, como professor de aulas particulares em Hamburgo. "Foi aí que percebi que tinha uma paixão que ainda não conhecia."

O resultado da fase de reciclagem foram novos papéis em Hamburgo, Leipzig, Viena, Lübeck e São Paulo, que lhe permitiram retomar a autoestima e aproveitar as oportunidades que surgiam com cada vez mais frequência por volta de 2001 e 2002. Em 2004, viria seu primeiro papel como protagonista em A Flauta Mágica, no Municipal do Rio. Na mesma época, em Viena, fez papéis nas tradicionais operetas do Teatro de Baden, crescendo em sua presença cênica graças ao aprendizado com o tenor búlgaro Ilko Natchev. "Aos poucos, tive a sensação de estar crescendo, embora não estivesse totalmente maduro."

A "maturidade" começou a aflorar em 2007, em Toulouse, onde conheceu Nicolas Joel. "Aí senti que tinha encontrado o meu caminho." O retorno ao Brasil e o casamento com soprano Claudia Riccitelli trouxeram satisfação à vida pessoal e novo impulso na carreira. No mesmo ano, foi protagonista no Palácio das Artes, de Belo Horizonte, e no Municipal de São Paulo.

Agora, Muehle se lança à luta contra a perda da tradição brasileira na ópera. "O Brasil foi uma rota lírica para cantores europeus que passavam pelo Rio e São Paulo em direção à Argentina. Mas faltou continuidade no ensino", lamenta. "Hoje, temos vozes maravilhosas, mas muitas se perdem no início, por repertórios errados, com falta de visão, de direcionamento. O resultado é que a tradição está se perdendo e temos poucos cantores em carreira internacional."

Abertas as portas de Paris, Muehle busca agora o reconhecimento internacional, o mesmo desafio de músicos como o barítono Paulo Szot, em Nova York, e da soprano Eliane Coelho, em Viena. Na rota, estão espetáculos na Argentina e Croácia e novas audições de peso na Alemanha, marcadas para 2012.

28 CORREIO BRAZILIENSE - Choro revivido

História do gênero musical em Brasília será reconstituída em documentário e livro por Beth Ernest Dias

Em novembro de 1967, dois amigos brasilienses, o médico Arnoldo Veloso e o advogado Francisco de Assis, apelidado de Six, pelo fato de ter seis dedos em cada mão, se encontraram com Jacob do Bandolim, no Rio de Janeiro. Eles eram fãs do instrumentista e chegaram com uma carta de uma amiga de Jacob, radicada em Brasília desde o início da cidade, a compositora Neusa França. Six era gaiato e se apresentou na condição de ginecologista. Jacob estava prostrado em uma cama havia quatro meses, com um sério problema na coluna. Veloso estudou na Alemanha e, com a ajuda de

29 Six, realizou aplicações da técnica terapia neural. No dia seguinte, Jacob se levantou, pegou o bandolim, começou a tocar e tudo virou uma festa com a chegada de Elizeth Cardoso e dos integrantes do seu conjunto regional.

Jacob se animou com o resultado e resolveu complementar o tratamento em Brasília, onde morou durante seis meses, na chácara Estrela Dalva, de Veloso. O contato de Jacob com Brasília durou de 1967 a 1969. Na verdade, já existia um grupo de choro na cidade, liderado pelo citarista Avena de Castro. O fio dessa história será reconstituído no documentário e no livro Sábado à tarde, por Beth Ernest Dias, a Beth da Flauta, numa parceria com os cineastas Waldir de Pina e Marcos Mendes.

As primeiras cenas do documentário foram gravadas no mês passado, em um condomínio de Sobradinho, numa roda de choro realizada na casa de Dolores Tomé, flautista e professora da Escola de Música. Tudo foi desencadeado pela vinda a Brasília do violonista Giovane Pasche, um dos dois remanescentes do grupo inicial do choro na cidade, ao lado de Arnoldo Veloso. Alexandre Pasche, filho de Giovane, procurou Beth para pedir uma partitura de Avena de Castro. Em seguida, o violonista veio a Brasília para participar de um documentário sobre a compositora Neusa França e Beth aproveitou para promover o encontro de Giovane e Veloso com duas outras gerações de músicos brasilenses: as flautistas Dolores e Meila Tomé, o violonista Jaime Ernest Dias, a violinista Liliana Gaioso e a cantora Alcione Tomé.

Jacob havia se encantado com o violão de sete cordas de Giovane, lhe deu um instrumento de presente e o convidou para tocar com ele: “Mas sem aparecer muito, lembre-se que eu sou a vitrine”. Beth e os outros colegas puderam apreciar o que fascinou Jacob com os seus ouvidos apurados de músicos. Foi uma festa movida a feijoada, caipirinha e histórias saborosas registradas no documentário.

Avena de Castro trabalhava como apontador de obras nos tempos da construção de Brasília. Exímio citarista, atuou como concertista na Orquestra do Teatro Nacional do Rio de Janeiro e na Rádio Nacional, durante a década de 1950. Lá, ficou amigo de Jacob, que lhe dedicou o choro Prá você, com a indicação “para meu melhor intérprete”.

A senha O grupo de chorões brasilienses liderado por Avena se reunia nos fins de semana à tarde no apartamento de Raimundo Brito, na 105 Sul. Em homenagem aos saraus, Avena compôs o choro Sábado à tarde. Participavam dos encontros, além de Avena, Giovane Pasche (violão), José Alves da Silva, o Dudu (violão); Raimundo de Brito (cavaquinho), Arnoldo Veloso (bandolim), Manuel Vasconcelos (pandeiro), Edigardo de Almeida (violão), Jorge da Fonseca (flauta) e Francisco de Assis, o Six, (cavaquinho).

“O Jacob está chegando.” Era a senha para os músicos candangos se empenharem firmes nos ensaios. As performances do bandolinista eram impressionantes e despertavam fascínio. Veloso conta que foram tocar em uma casa do Lago Norte e, em determinado instante da noite, Jacob o chamou angustiado: “Precisamos ir embora, pois a dona da casa é casada e está apaixonada por mim, com as malas prontas para fugir”, relembra Veloso. “A sua improvisação enfeitiçava e destruía corações femininos. Quando morreu, cinco mulheres ficaram na sonoterapia.”

A saúde de Jacob era delicada, se alimentava mal e devorava doces, segundo Veloso. Tanto que compôs Bole-bole, Doce de coco, Treme-treme, entre outras peças inspiradas no açúcar. “O doce é altamente inflamatório e pouco recomendável aos que têm problema de pressão alta. Mas Jacob não resistia a um prato de doce de coco”, comenta Veloso, do alto de sua autoridade de médico: “Jacob adorava Brasília. Passou muitas técnicas para gente. Compôs uma música para mim e outra para a minha sogra”.

Músicas de Jacob do Bandolim em Brasília:

De coração a coração — Valsa dedicada ao seu médico cardiologista de Brasília, Doutor Luciano Vieira

» Estímulo n 1 — Estudo composto para o doutor Arnoldo Veloso, seu médico em Brasília

30 La Duchesse — Valsa composta em dezembro de 1967 e dedicada à sogra do doutor Arnoldo Veloso

No jardim — Mazurca

Pra você — Choro dedicado a Avena de Castro

Ternura — Choro composto na casa do doutor Arnoldo Veloso e dedicado a ele e sua esposa

Pesquisa apaixonada

O atual Clube do Choro nasceu na casa de Odette Ernest Dias, a mãe de Beth. No entanto, o contato dela com o gênero é muito anterior. Beth Ernest morava no Rio de Janeiro, tocava no conjunto A Fina Flor do Samba, criado para acompanhar a cantora , quando recebeu, por correspondência, uma partitura de Avena de Castro: “O Avena não era uma pessoa; era um personagem. Sempre tive prazer de tocar a sua música. É uma obra fabulosa, ainda inteira a ser pesquisada, só conhecida por alguns amantes do choro”.

Beth considera fundamental que os brasilienses contem a própria história, pois , caso contrário, ela se perderá ou será distorcida. Ilustra a sua apreensão com o exemplo da editora norte-americana Global Music, que está realizando um trabalho de recuperação do acervo de partituras da música brasileira.

No livro sobre o Jacob do Bandolim se espantou ao ler que a valsa De coração a coração teria sido feita em Brasília, no ano de 1967, e, possivelmente, dedicada ao médico Luciano Vieira, cardiologista de Jacob. “Como assim ‘teria’?”, indaga Beth. “Essa música foi composta em Brasília. Parece que é assim: ‘Apaga Brasília da história porque ninguém vai reclamar.’ Então, temos de contar a nossa história. A história é para aquelas pessoas que sentem falta do que já passou. Em Brasília, a cada governo se destrói tudo e se recomeça de novo.”

O GLOBO - Todo o requinte do ‘larari, lairiri’

Tecladista e cantora da banda de Chico Buarque, Bia Paes Leme se desdobra no resgate da música brasileira

Silvio Essinger

Tecladista e vocalista da banda de Chico Buarque há 12 anos, Bia Paes Leme tem como um clássico a piada que o colega de trabalho Chico Batera soltou logo da sua chegada: “A minha vingança é essa, agora a banda tem quatro músicos, dois ritmistas e uma mulher!” O que, de fato, era apenas uma piada (já que a recepção dos músicos — e ritmistas — foi das melhores), mas que pouco colaborou para amenizar a insegurança que a arranjadora, pesquisadora, professora e coordenadora de música do Instituto Moreira Salles (IMS) sente até hoje. — Não sou instrumentista, na verdade, eu só toco com o Chico Buarque! — costuma dizer Bia, até hoje a única mulher na banda do cantor, que, até o dia 12, cumpre temporada carioca do show “Chico”.

Bacharel em Composição e mestre em Música Brasileira pela Universidade do Rio de Janeiro (UniRio), a tecladista estava quieta no seu canto, trabalhando com a Camerata da Universidade Gama Filho, quando o violonista e diretor musical da banda de Chico, Luiz Claudio Ramos, chamou-a para fazer parte do time. Bia foi dando desculpas, e Luiz argumentou: “Você não acha melhor pensar até amanhã?” Foi aí que ela achou melhor embarcar, sem olhar para trás.

— Eu faço no show o que as cordas e os sopros fazem no estúdio. Eu estudo, chego lá e toco. É a situação ideal — explica ela, que também solta a voz em alguns duetos com Chico, como na música “Se eu soubesse”, sucesso do show com seus “lararis” e “lairiris”.

E o mais curioso é que Bia também não se considera exatamente uma cantora.

31 — Eu não tenho nem resistência vocal pra isso! O cantor é um atleta. Tem que se alimentar bem, dormir bem...

Mas o canto era mesmo incontornável em sua vida. Quando criança, ela estudou flauta e mergulhou na música renascentista, que tinha muitos corais. Ao mesmo tempo, em casa, ouviu grupos vocais de MPB, como o Quarteto em Cy, e alguma música de rádio.

— Um negócio que era brega, mas pelo qual eu era louca, era a Karen Carpenter. Ouvi muito Carpenters por causa da voz dela — confessa Bia, que começou a carreira no grupo vocal Quatro Cantos, mais tarde rebatizado de Viva Voz, com a entrada dos arranjadores- cantores Ary Sperling e João Rebouças (pianista de Chico há mais de 20 anos).

‘Os cantores da Anistia’

Com o Viva Voz, ela teve a honra de registrar, num compacto, duas canções até então inéditas: “O bêbado e a equilibrista” (que viraria hino de Elis Regina) e “Tô voltando” (depois sucesso de Simone).

— Nós fomos chamados de “os cantores da Anistia” — recorda- se Bia, que saiu do grupo em 1981 (“Não estava satisfeita com o rumo que ele estava tomando, jogando todas as fichas no sucesso”) e foi estudar composição na UniRio.

E a vida seguiu seu rumo. Ela se tornou arranjadora e foi dar aulas de música. Quando, mais uma vez, estava quieta, na sua, veio a cantora Zélia Duncan pedir aulas.

— Eu ficava desconversando, até que não teve saída. Mas acabei ficando impressionada: a Zélia é uma cantora CDF! E nunca mais nos separamos.

Anos mais tarde, Bia acabou virando diretora musical do show e produtora do CD e DVD que promoveriam uma guinada na carreira de Zélia: “Eu me transformo em outras”, de 2004, o primeiro mergulho da cantora na memória da música brasileira.

— O segredo de Bia, além do imenso talento, é o amor pelo que faz. Sua segurança e sua sensibilidade destoam desse povo que usa a música e seu glamour como gasolina para a vaidade — diz Zélia, que repetiu recentemente a parceria com Bia no show “Tô tatiando”, só com músicas do compositor Luiz Tatit.

Quando não está no palco com Chico (ou com a turma do choro da Escola Portátil de Música), Bia pode ser encontrada no IMS, onde atua desde 2008. Lá, desenvolve o trabalho de recuperação de acervo que começou por . Até o dia 23 de abril (aniversário do músico), ela lança um livro com as transcrições de arranjos que ele fez para “O pessoal da Velha Guarda”, programa de Almirante na Rádio Tupi, que reuniu a nata do choro entre os anos de 1947 e 1952.

Ao mesmo tempo, Bia ataca em outras frentes, cujos acervos estão no IMS: Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth (que ganha em 30 de março um site com partituras e gravações, antecipando as comemorações do seu aniversário de 150 anos, em 2013). Mas seu grande sonho no instituto é recuperar a discografia brasileira em 78 RPM, que é de mais de 30 mil itens.

— É trabalho para várias gerações... — reconhece.

CORREIO BRAZILIENSE - Confraria musical

A cantora Maria Gadú lança o segundo disco, Mais uma página, com canções autorais e regravações de Beto Guedes, Miltinho Edilberto e Caetano Veloso

Maíra de Deus Brito

32 Maria Gadú divide parcerias com Ana Carolina e Edu Krieger

Maria Gadú definiu seu segundo álbum de estúdio como “um disco de banda”. Tanto que é possível vê-la com Cesinha (bateria), Fernando Caneca (guitarra e violão tenor), Doga (percussão), Gastão Villeroy (baixo) e Maycon (teclados) na autoria de algumas composições e em lugar de destaque nas fotos do encarte do CD. Em nenhum momento, ela aparece sozinha em Maria Gadú — Mais uma página. Até no material divulgado pela produção — usando a mesma técnica de Chico Buarque, que gravou um vídeo onde revela detalhes do processo de criação — , o sexteto está lá unido.

Com 14 faixas, oito autorais, o disco pede passagem com No pé do vento, que faz referência ao título do CD nos versos “Mais uma página do mesmo livro/Mais uma parte da mesma história”. A música de Gadú com Edu Krieger é uma das quatro parcerias do novo trabalho da cantora paulista, que divide canções com o norte-americano Jesse Harris (Like a rose e Long long time, a segunda também com Maycon Ananias); e Ana Carolina e Chiara Civello (Reis). “Conheço a Ana há muito tempo e ela sempre falava que tínhamos que fazer uma música juntas. Um dia, saindo do show do Paul McCartney, fizemos Reis. Ela nasceu do jeito mais despretensioso possível”, diz Gadú.

Produzido por Rodrigo Vidal, o CD ainda traz músicas do amigo Dani Black (Axé acappella e Linha tênue), as regravações Amor de índio (Ronaldo Bastos/Beto Guedes) e Anjo de guarda noturno (Miltinho Edilberto) e participações especiais. O pernambucano dá uma canja em Quem?, e A valsa ganha o sotaque luso do cantor Marco Rodrigues e a guitarra portuguesa de José Manoel Neto. “Depois que compus Quem?, lembrei-me na hora do Lenine. Fiz o convite para ele cantar comigo, mas fui muito cara de pau! Tive muita audácia e ele topou!”, conta, rindo.

Presente de Caetano Já que Mais uma página é um encontro de amigos, Caetano Veloso não poderia ficar de fora. O cantor baiano foi lembrado na sexta faixa do CD, Oração ao tempo. “Gravar essa música foi um convite-presente. Sempre gostei dela e, quando o Jayme Monjardim me chamou para gravá-la, respondi: 'Quero! Quero muito!'. Na verdade, eu gravaria qualquer uma do Caetano", derrete-se Gadú ao falar sobre a canção, tema de abertura da novela A vida da gente (TV Globo).

O compositor de Alegria alegria também está em Estranho natural. A composição da cantora — trilha do filme Teus olhos meus, de Caio Sóh — narra poeticamente o encontro dela com Caetano, que resultou na gravação do CD/DVD Multishow Ao Vivo. “Conto como Caetano é um estranho natural para mim. Ele é um músico que escuto desde quando estava na barriga da minha mãe e de quem, agora, estou muito próxima”, explica.

33 LIVROS E LITERATURA

ESTADO DE MINAS - Nani usa humor para conquistar a garotada

Cartunista mineiro lança novo livro infantil, A moedinha que queria comprar a felicidade

Conhecido como cartunista, o mineiro Nani – que também escreveu textos para os programas humorísticos de TV , Casseta e planeta urgente, Sai de baixo e atualmente integra a equipe de Zorra total – não se limita a fazer graça para os adultos. Aos 60 anos, ele tem um xodó: lançar livros para as crianças.

O mais recente é A moedinha que queria comprar a felicidade (Editora Melhoramentos), uma espécie de guia introdutório infantil no mundo das finanças. Nani conta a história do garoto às voltas com o dinheiro e seu poder de vender, de dar lucro, de impor prejuízo e, sobretudo, de dividir o planeta entre ricos e pobres.

“As pessoas me conhecem como cartunista, mas também sou escritor”, avisa Nani, que já lançou para a criançada, entre outros títulos, A menina que acordava as palavras (Melhoramentos), Abecedário hilário (Abacatte Editorial) e Gabriel da Conceição Bicicleta (Abacatte).

Nani fisga o pequeno leitor usando o que sabe fazer melhor: humor. Em A menina que acordava as palavras, deixa a criançada intrigada com vocábulos esquisitos como iníquo, desdém, plúmbeo e meditabundo.

Em A moedinha..., ele inventou uma corrida de cachorros, em pleno jóquei, para falar de apostas e prêmios. Ao abordar o tema investimento, deixou o economês de lado e criou história divertida para explicar a origem do lucrativo cachorro-quente.

Enquanto os casos se sucedem, a protagonista – a tal moedinha do título – se mete em várias confusões, passando pelos bolsos de um rei, de um malandro, de um apostador e, claro, de um ladrão.

Estado de Minas - Achados e perdidos encanta pela qualidade gráfica e canções que complementam uma arte impecável

Projeto foi financiado por crowfunding, sistema colaborativo via internet

Quem marcou presença no Festival Internacional de Quadrinhos deste ano, realizado em novembro, com certeza teve dificuldades diante do estande do grupo Pandemônio, que reúne artistas de Belo Horizonte. Lotado e quente, o cubículo estava tomado de pessoas que queriam, mais do que conhecer novos desenhistas, buscar um exemplar da graphic novel Achados e perdidos. Exaustos e felizes, os três autores da HQ se esmeravam em autografar as cópias dos futuros leitores, que bancaram, via crowdfunding, um financiamento colaborativo pela internet, a obra independente que conta a história de um menino que acorda um dia com um buraco negro na barriga.

A iniciativa de publicar só com a ajuda das pessoas já rendia elogios para os autores sem que ninguém ainda tivesse lido de fato a história. Mas depois que sites especializados em quadrinhos, críticos como Sidney Gusman e editoras como a Cia. das Letras destacaram a impressão notável, a trama envolvente e a qualidade geral de Achados e perdidos, não é exagero dizer que se trata de um marco nos quadrinhos independentes brasileiros. As 212 páginas da publicação trazem uma história madura, de traços contemporâneos firmes e cheios de personalidade. E de quebra, ainda é acompanhado de um CD para criar uma trilha sonora para os quadrinhos.

A repercussão tem impressionado os autores. “A gente não esperava tanto”, confessa Eduardo Damasceno, um dos desenhistas e redatores da história. “A gente confiava no nosso livro e por isso esperava que as pessoas fossem gostar, mas elas estão gostando muito mais do que se imaginou”, acrescenta Luís Felipe Garrocho, que também criou e desenhou a graphic novel. Completa o trio de autores o cantor Bruno Ito, que ficou responsável pelo disco que acompanha o livro.

34 Parcerias Antes mesmo de existir, Achados e perdidos já causava uma expectativa graças ao trabalho que a dupla de desenhistas faz no site Quadrinhos Rasos (www.quadrinhosrasos.com). Lá, eles aproveitam letras de músicas como ponto de partida para contar histórias. “Começamos esse projeto na internet simplesmente porque queríamos fazer quadrinhos. Não imaginávamos que alguém ia ler”, explica Luís Felipe. Ao contrário da expectativa, a ideia atraiu vários leitores. Quando descobriram que iriam precisar de R$ 25 mil para a publicação, os autores não tiveram dúvidas e pediram ajuda via crowdfunding, um financiamento colaborativo pela internet.

“Foi uma aposta nossa esse valor alto, e acho que se não funcionasse ia pegar mal para a tentativa de fazer quadrinhos nesse sistema colaborativo”, revela Luís Felipe. Mas a aposta deu mais do que certo: cerca de 570 pessoas apoiaram e a meta inicial foi superada, com mais de R$ 30 mil levantados. “A cada R$ 100 que entravam, o coração voltava a bater um pouco”, brinca Eduardo Damasceno. O dinheiro extra garantiu não só a publicação do livro, mas também de todos os brindes que o acompanhavam, como adesivos, bottons e camisetas.

Para ninguém se iludir com falsas expectativas, os autores se preocuparam em mostrar exatamente como era o trabalho. “Colocamos o primeiro capítulo na internet justamente para quem nos apoiava ver o que estávamos fazendo e saberem bem o que estavam pagando”, explica Luís Felipe, revelando que desde o início a busca pela qualidade foi uma obsessão dos autores. “A gente queria fazer o livro mais bonito do mundo, um negócio meio megalomaníaco mesmo. Fazer uma coisa difícil mesmo, e ainda pôr um CD junto, para complicar ainda mais.”

Tanto trabalho, segundo eles, valeu a pena. Principalmente agora que o livro está chegando à casa das pessoas que ajudaram financeiramente a obra, do Piauí ao Acre e Roraima, e até de outros países, como Portugal, Estados Unidos e Inglaterra. “Teve uma menina que disse se sentiu orgulhosa do resultado. Respondi que ela realmente foi fundamental”, conta Damasceno. “É muito bom ver as pessoas gostando de ter nas mãos uma coisa que elas de fato ajudaram a fazer. É um elogio que é bom de receber também”, completa Luís Felipe.

Independência Achados e perdidos talvez seja o melhor exemplo de quadrinhos independentes, mas com certeza não é o único. Com outros parceiros, Eduardo Damasceno e Luís Felipe criaram o grupo Pandemônio, que publicou também trabalhos de Ricardo Tokumoto, Lu Caffagi e Daniel Pinheiro Lima. Para eles, o crescimento da cena no Brasil deve muito ao apoio desta edição do FIQ. “Foi muito grande, e ao mesmo tempo muito organizado”, elogia Eduardo Damasceno. “No nosso caso, foi uma prova de confiança e pressão ao mesmo tempo”, conta.

Damasceno exalta também a oportunidade de apresentar seu trabalho para um público de 148 mil pessoas, número que faz do FIQ o maior evento dedicado aos quadrinhos da América, superando inclusive a tradicional San Diego Comic Con, que acontece desde 1970, nos Estados Unidos. Apesar disso, os autores evitam levantar bandeiras. “Teve gente que falou que nós provamos que não precisa de editora, e não é isso. Se provamos alguma coisa foi que existem alternativas que possibilitam a publicação. Não somos contra editoras, sabemos que as pessoas que trabalham nelas amam quadrinhos como todos nós”, argumenta Luís Felipe.

A dupla não descarta trabalhar com uma grande editora no futuro. “Até por ser formado em produção editorial, estaria mentido se falasse que não pensamos em um contato com uma editora grande. Mas não é fundamental, porque já fazemos as coisas que gostamos de fazer do nosso jeito”, pondera Eduardo Damasceno. “Uma hora isso vai dar algum retorno financeiro”, aposta.

Junto e misturado Um dos diferenciais de Achados e perdidos é o CD que acompanha o livro. A ideia surgiu da vontade da dupla de subverter o que fazem na internet: ao invés de quadrinhos inspirados por músicas, queriam experimentar música inspirada por quadrinhos. “Não pensei muito como ia funcionar, mas adorei a ideia e topei na hora”, recorda o compositor Bruno Ito, que nem sequer lia quadrinhos. Apesar de morar em Roraima desde 2010, ele garante que a distância não foi impedimento. “Tínhamos uma pasta compartilhada e todo dia ia trocando as novidades com eles. Se eu estivesse em BH talvez não funcionasse tão bem”, avalia o músico.

35 No começo da parceria, a dupla deixou Ito criar à vontade. Mas com o avanço da obra, passou a interferir cada vez mais na criação do músico. “O Bruno pedia que a gente desse pitaco nas músicas, isso fazia ele se sentir parte do livro. No final a gente estava falando sem parar, nossa diversão era dar uma bagunça para ele criar uma música em cima, e ele sempre conseguia”, detalha Luís Felipe. “A coisa fluiu bem e era tão funcional que parecia que ele estava aqui do lado”, garante Eduardo Damasceno.

“A música mudou totalmente a percepção da história e eu não achei que isso fosse possível”, admite Bruno Ito. O resultado foi que o nome dele acabou aparecendo como um dos autores de Achados e perdidos. “São duas artes distintas que funcionam bem separadamente e que, juntas, são uma experiência completa”, avalia. “Quando a gente vê que funcionou junto, se pergunta quais outras artes dariam certo unidas. É muito mais interessante a gente parar de segregar e passar a misturar”, finaliza.

ESTADO DE MINAS - Reedições de Drummond e Joyce são destaques em 2012

Datas comemorativas alimentam mercado editorial com reedições de clássicos da literatura

Jorge Amado e fariam 100 anos em 2012. Carlos Drummond de Andrade, 110. James Joyce, 130 - mas nesse caso, mais importante que a data do aniversário é que 2012 representa o primeiro ano desde a entrada de sua obra em domínio público, ou seja, qualquer editora interessada na obra do irlandês poderá ter sua própria edição sem passar pelo crivo, ou pelas garras, da família do escritor a partir do ano novo. Essas datas redondas são sempre um bom motivo para as editoras reavivarem a obra de seus autores, e os leitores podem esperar novidades para o ano que vem.

De Joyce, o selo Penguin-Companhia das Letras lança, em abril, uma nova tradução de Ulisses feita por Caetano Galindo. Já a Iluminuras publica o infantil O Gato E O Diabo, com tradução da pesquisadora e escritora Dirce Waltrick do Amarante, e De Santos E Sábios, seleção de escritos estéticos e políticos organizados por Sérgio Medeiros e por Dirce. Mais misteriosa é a programação de lançamentos da Nova Fronteira, que edita Nelson Rodrigues. Ela garante que publicará textos inéditos do autor, releituras de suas peças e edições populares, mas não dá detalhes.

Drummond ressurge nas livrarias com nova roupagem também pela Companhia das Letras, que ganhou, em 2011, o direito de publicar toda a obra do poeta mineiro. A Rosa do Povo, o primeiro, chega em março, em tempo da homenagem da 10ª Festa Literária Internacional de Paraty, marcada para julho. Ainda em 2012, outros três serão lançados.

Quando a obra de um autor muda de editora é natural que ela ganhe revisão e novo projeto gráfico. É isso o que também vai acontecer com Mario Quintana, antes no catálogo da Globo e agora no da Alfaguara. Os primeiros cinco títulos, entre os quais uma coletânea inédita, serão publicados no segundo semestre. Vale também para a obra de Pedro Nava, em novas edições da Companhia das Letras a partir de fevereiro. E para Cecília Meireles (38 livros em 40 meses), se nada mais der errado entre seus herdeiros, Manuel Bandeira (23 reedições e 13 inéditos) e Orígenes Lessa (34 antigos e 7 novos), todos agora no catálogo da Global.

Os 90 anos da Semana de Arte Moderna também serão lembrados em livro. Um deles será 1922, a Semana, do jornalista Marcos Augusto Gonçalves, que sai pela Companhia das Letras.

Mas nem só de datas comemorativas e reedições vive o mercado editorial brasileiro - que, a propósito, está deixando passar o bicentenário de Charles Dickens. Em 2012, serão lançados livros para todos os gostos e se a produção continuar em crescimento, como nos últimos anos de acordo com pesquisa feita pela Fipe, os leitores podem esperar pelo menos 18 mil novos títulos (e 36 mil reedições) no Brasil. Isso sem contar os e-books.

Para quem gosta de biografia e livros de memória, a dica é preparar o bolso, já que o gênero é um dos mais frequentes nas listas das editoras. A L? de Led Zeppelin e Eric Clapton, por Chris Welsh; de Keith Richards, escrita por Victor Bockris; dos Beatles, por Terry Burrows; e do Nirvana, por Gillian Gaar. Um livro sobre os 40 anos do Queen também está nos planos. A Melhoramentos vai editar um

36 livro de Paul McCartney, mas sem relação com sua história ou com música. Sem título definido, tratará sobre culinária vegetariana. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

ESTADO DE MINAS - Livro traz pérolas da vida de Chico Buarque

Almanaque Para seguir minha vida é composto de mais de 100 verbetes sobre a trrajetória do cantor

Chico Buarque foi reprovado no exame da Ordem dos Músicos em julho de 1967. Segundo os examinadores, não sabia solfejar. Só restava ao compositor cantar em programas de Iê-iê-iê. Pela lei, sem aprovação da ordem, ele estaria impedido de cantar em programas de MPB. Curiosamente, no ano anterior, Chico tentara convencer Roberto Carlos, o rei do Iê-iê-iê, a migrar para o lado da música brasileira e deixar de lado as guitarras. O compositor também gostava de escrever textos para os encartes dos discos, mas abandonou o hábito ao longo do tempo. E não, Chico Buarque não é tímido, é arredio mesmo, não gosta de assédio e ponto. Foi em uma coleção de revistas e jornais da tia Cecília, irmã de Sérgio Buarque de Hollanda, pai do músico, que a jornalista Regina Zappa encontrou a maior parte dos mais de 100 verbetes de Para seguir minha jornada, o almanaque que pretende percorrer a vida de Chico Buarque em pílulas independentes.

Cecília colecionava todas as publicações sobre o sobrinho e mantinha em casa uma fonte de histórias que Regina tratou de organizar. Para seguir minha jornada é um livro de pesquisa. Além do arquivo da tia, a jornalista mergulhou nas coleções do próprio Chico, aproveitou entrevistas feitas para outros três livros sobre o compositor e compilou tudo em um texto.

Originalmente, o livro consistia em uma narrativa única e corrida, mas a opção gráfica se tornou interessante diante da quantidade de imagens encontradas na pesquisa e o volume virou uma enciclopédia. “A opção gráfica foi uma coisa que veio depois, ele foi concebido mais ou menos como um almanaque que tivesse um texto como fio condutor, um texto-base com a trajetória do Chico e verbetes que fossem explicando e contando coisas sobre pessoas e acontecimentos que tiveram alguma ligação com a trajetória dele”, avisa Regina.

Repetições são uma das marcas do livro. Muitas histórias aparecem em vários verbetes e a autora não hesita em recontar a filiação do compositor em cada momento em que se refere à família ou de repassar várias vezes alguns acontecimentos, como a reprodução das impressões da crítica diante da música de Morte e vida severina ou as comparações com Guimarães Rosa, quando Chico inventou a palavra “penseiro” para Pedro pedreiro. “Imaginei que os verbetes pudessem ser lidos de forma independente. Sei que tem coisas repetidas propositadamente ao longo do livro por conta disso.”

O mais interessante do almanaque de Regina está na própria fala de Chico. O trabalho de pesquisa permitiu resgatar entrevistas das quatro últimas décadas, e é por essas frases que o leitor acompanha boa parte do desenvolvimento da música brasileira no século 20. Um dos últimos verbetes ajuda a dar a medida cronológica e do amadurecimento do próprio Chico. Dedicado aos vícios, um pequeno texto no fim do livro narra a fissura do compositor pelo uísque e pelo cigarro nos anos 1960, pela vodca e caipirinha nos 1970, o abandono dos destilados, nos 1980, e a chegada do vinho nos 1990. Em entrevista concedida à revista Fatos e fotos, em 1967, Chico fala do prazer encontrado no tabagismo. Em outra, para uma edição da Manchete, de 1980, revela gostar de beber, mas evita a apologia. Já na entrevista à Trip, de maio de 2006, conta ter fumado maconha e experimentado cocaína. O trecho é um exemplo de como a trajetória do artista é aos poucos resumida nas entrevistas e nos verbetes.

Canções Regina escreveu três livros sobre o compositor antes de se debruçar sobre o almanaque. Chico Buarque — Cidade submersa reúne fotos em que Bruno Veiga interpreta 30 canções comentadas pelo autor e Chico Buarque faz parte da coleção Perfis do Rio. Em Cancioneiro songbook Chico Buarque Biografia, Regina conta de forma cronológica e tradicional a história do biografado. A novidade em Para seguir minha jornada está na quantidade de periódicos de época aos quais a autora teve acesso. “Fiz questão de ser um livro de pesquisa, porque entrevistas com ele eu fiz muitas ao longo desses três livros. Mas eu o consultei algumas vezes, ele me contou algumas histórias.” Ao final do livro, o material foi digitalizado e está disponível no Instituto Tom Jobim, organizado e classificado para quem quiser consultar, inclusive, on-line.

37 Entre coisas que Regina nunca ouvira estava a versão de Chico para o show que todo mundo atribuía ao produtor André Midani. Não foi dele a ideia de Caetano e Chico e sim de Roni Berbert de Castro, amigo de Chico e dono de uma loja de discos em Salvador, que queria dar um fim ao circo em torno da rivalidade entre os dois compositores. Midani se apropriou da ideia e produziu o encontro no Teatro Castro Alves, em novembro de 1972. Outra lembrança que andava guardada foi a participação no programa do . “E eu não lembrava e nunca tinha lido de o Chico ter ido ao Chacrinha, então ele me escreveu contando como foi. Ele tem uma memória muito boa, corrigiu datas e informações, a gente foi trocando figurinha por e-mail, mas entrevista formalmente não fiz nenhuma para este livro.”

O livro Não é que tenha só novidades, porque tem alguma, mas não é tudo. Tem coisas que ficaram no passado e que eu trouxe de volta para ajudar a compor o quadro da história dele e entendê-lo melhor. Tem coisas muito singelas que a maioria das pessoas não lembra mais.

Timidez O Chico não é tímido não, ele é engraçado, espirituoso, fala bastante. É muito reservado, o que é diferente. Ele ficou muito famoso muito cedo, com 22 anos tinha feito A banda e virou uma celebridade, não podia sair na rua, era um pop star. A essa coisa de celebridade instantânea, ele reagiu se protegendo. Mas a própria Maria Amélia (mãe) dizia que Chico não era nada tímido, era o mais extrovertido dos irmãos, o mais bagunceiro. Então acho que não é timidez, é uma proteção, uma reserva. Ele diz que a imprensa elege uma época para falar mal dele, outra época para falar bem e também distorcer coisas ou falar da família como algumas revistas já falaram. São coisas que deixaram ele um pouco com o pé atrás. É o que eu acho, não é nada que ele já tenha dito para mim. Ele me disse uma vez que ele lia o jornal de capacete de tanta porrada. Ele fala bastante e às vezes elege um veículo. Mas se puder não falar acho que ele prefere.

Relação com Chico Começou quando fiz uma entrevista com ele sobre o disco As cidades. Acho que ele gostou da entrevista. Logo depois a editora Relume Dumará me pediu para escolher uma pessoa para produzir um perfil. Eu tinha acabado de fazer essa entrevista e falei em fazer o perfil do Chico. Aí eles falaram que ia ser impossível, que o Chico não ia topar e tal. Telefonei para ele e deixei um recado falando que queria escrever o livro. No dia seguinte ele me ligou, perguntou como era o livro e fui falando. Ele não falava nada e fui ficando meio aflita, achando que estava achando aquilo tudo um horror. Aí chegou uma hora em que parei e perguntei: “Então, o que você acha?”. Ele achou ótimo. Comecei a fazer as entrevistas para o livro, saía caminhando com ele, fiz muitas entrevistas, fui ver o show em outros lugares, conversei com toda a família, com os amigos, parceiros, outros artistas e aí fiz esse livro. A partir daí a gente estabeleceu uma relação de confiança, de respeito.

Trechos de entrevistas de Chico Buarque reproduzidas em Para seguir minha jornada (Regina Zappa)

"Eu não me sentia arquiteto, ou planejador. Não estava projetando, mas criando as cidades com problemas e coisas já funcionando. Não era urbanismo. Tinha a ver com fantasia, com a história e a realidade. Minhas cidades tinham ponto de ônibus, tinham cinemas…"

"A casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Mais tarde, num aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno da Iguatemi. Desse modo a casa do Oscar, antes de existir, foi demolida. Ou ficou intacta, suspensa no ar, como a casa no beco de Manuel Bandeira. Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra minha mãe e saí batendo a porta da nossa casa velha e normanda: só volto para casa quando for a casa do Oscar! Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguases, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco, decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia, que me reprovou no exame oral, respondi calado: lá em casa tenho um canudo com a casa do Oscar.

38 Depois larguei arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando a minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é a casa do Oscar."

"Eu não sou tímido na minha vida normal. Mas não acho que seja normal subir no palco e cantar. Ali, realmente, travo um pouco. Não sei como vai ser o próximo show, espero não sofrer. Eu gosto dos ensaios, gosto de viajar com os músicos, essa coisa toda é muito boa, a gente se diverte muito. Mas entrar no palco, uma estria, quando penso agora fico um pouquinho apreensivo. Às vezes, a boca fica seca; Sei lá, acontece mesmo de esquecer tudo, de dar tudo errado. Mas ao longo da temporada vai melhorando. (Entrevista a Fernando Eichenberg na revista Gol Linhas Aéreas Inteligentes, 2006)

"Eu gosto é de compor. Nunca estive à vontade no palco. Não é por timidez. É vergonha mesmo. Ando desengonçado e às vezes fico com cara de idiota (…). Acho que quem vai aos meus shows não fica esperando uma grande performance, um grande cantor. É um compositor que canta. (Vídeo do site de lançamento do disco Chico, 2011)

Este Mundo é meu Garotos do Morro do Papagaio fotografam moradores da comunidade e participam de mostra na Biblioteca Pública Estadual

Preste atenção nesta exposição: Meu morro é assim, em cartaz na Biblioteca Pública Estadual. Traz retratos de moradores do Morro do Papagaio, em Belo Horizonte, e a crônica do cotidiano local feitos por adolescentes de 13 a 16 anos, alunos de oficinas do projeto Olhar coletivo.

“As imagens vieram de jovens talentos, gente que pretende fazer fotografia, tem olhar apurado e fotografa com o coração”, avisa Jorge Quintão, um dos coordenadores do projeto. São eles: Ana Carolina, Ariel Francis, Carlos Eduardo, Carolaine, Cristiano Nascimento, Dayane Ribeiro, Gabriel Nascimento, Igor Vieira, João Paulo Almeida, Júlio César, Júnio Rodrigues, Mariane Ribeiro e Mateus Guedes.

As fotos surgiram de oficina voltada para o diálogo entre literatura e fotografia, ministrada na Biblioteca Pública Estadual, que pôs vários livros à disposição do Olhar coletivo. O escolhido foi Morro do Papagaio, da jornalista Márcia Cruz, moradora do Aglomerado Santa Lúcia. “A exposição é uma homenagem a ela”, informa Jorge.

A escolha veio do fato de o livro abordar o cotidiano local com riqueza de detalhes. Jorge conta que isso incentivou a garotada a valorizar o local onde mora. O resultado foram fotos muito bonitas, sem estereótipos, expressivas em todos os aspectos. “Em preto e branco, elas ganharam muita poesia”, garante o coordenador da oficina.

O projeto surgiu em 2009, quando a professora de arte Aline Guerra descobriu câmaras guardadas na escola em que trabalhava. Pediu à diretora para usá-las e chamou Jorge, seu marido, para as oficinas com os jovens.

“Foi desafiador. Aos poucos, os resultados foram aparecendo, pois os meninos têm predisposição para mexer em equipamentos que lhes despertam a curiosidade”, conta. Ano passado, um grupo pediu para se aprimorar e foi atendido: ganhou aulas especiais aos sábados.

“O mais saboroso são as descobertas que a fotografia proporciona. Nós, que ministramos as oficinas, vemos talentos surgirem, os alunos fazendo fotografia e se descobrindo. Há também a descoberta do local e das pessoas de onde eles moram. Aliado à autoestima, isso acaba transformando todo o contexto”, conta Jorge Quintão. A turma tem outros trabalhos e já foi convidada para nova mostra. Entre os projetos estão um documentário, em foto e vídeo, sobre o Morro do Papagaio.

No Guri Integrantes do projeto Olhar coletivo começam a ganhar prêmios. Em 2009 e 2010 foram vencedores do concurso de fotografia do caderno Guri, do Estado de Minas. Este ano, conquistaram o segundo e o terceiro lugares no evento. Quem quiser conhecer o projeto, os trabalhos ou doar câmaras para os participantes pode acessar o site www.olharcoletivo.org. ESTADO DE MINAS - Maria Beltrão lança O alto sertão – Anotações

39 O sertão sempre desafiou a inteligência brasileira. De Euclides da Cunha a Guimarães Rosa, passando por Afonso Arinos, , e muitos outros escritores, a região vem sendo inspiração para um mergulho revelador na realidade brasileira. Além da literatura, as artes visuais, o teatro e o cinema sempre tiveram no sertão um de seus pontos de inflexão, um lugar metafísico que é fonte de sentido. O que a arte indica como possibilidade (em certo sentido a ideia de povo brasileiro vem da saga de Canudos narrada por Euclides da Cunha), a ciência busca compreender com seu trabalho cuidadoso e pertinaz.

No caso do sertão, há uma tradição de estudos arqueológicos que tem contribuído bastante para dar ao tema um olhar mais abrangente. Nesse grupo se destaca o trabalho de Maria Beltrão, que há 30 anos vem se debruçando sobre o estudo de diversos aspectos do sertão da Bahia. E é dessa trajetória científica rica que brota o livro O alto sertão – Anotações, lançado pela Casa da Palavra. A inspiração confessada é exatamente a obra de Euclides da Cunha, que tem sua estrutura reproduzida nas três partes do livro da arqueóloga. Se em Os sertões a obra se divide nos capítulos “A terra”, “O homem” e “A luta”, em O alto sertão o leitor encontra “Cenários da natureza”, “A saga humana” e “Mergulho interior”.

A carreira científica que deu a Maria Beltrão o reconhecimento de instituições de pesquisa brasileiras e internacionais não foi traduzida no livro em erudição e linguagem técnica. Na verdade, com prosa quase confessional, ela vai descrevendo sua aproximação com o sertão baiano, traduzindo sua experiência e conhecimento em texto saboroso, ilustrado com fotos, obras de arte popular, mapas e diagramas que fazem do livro um volume em que a sofisticação não compete com a capacidade de comunicação.

A autora faz questão, o tempo todo, de humanizar seu objeto de estudo. Para ela, tanto são importantes informações referentes a pesquisas acadêmicas como extratos da sabedoria popular, da cultura local, dos hábitos e costumes da gente do sertão. Um cientista é feito em medidas iguais de espanto e curiosidade. Maria Beltrão mostra que seu interesse pelo sertão é fruto dessas duas inclinações da alma. O alto sertão é um livro de quem se sente encantado pelo que vai conhecendo com sua ciência e afeto.

Interessa tanto à pesquisadora as descobertas de profissionais da ciência como o linguajar e as crenças das pessoas mais simples. Tudo é sertão. Essa abertura ao saber não especializado, como reconhece a autora, muitas vezes pode significar uma dissonância em relação ao conhecimento codificado pela academia. Entra em cena então, numa posição ao mesmo tempo de humildade e diálogo, a defesa da ciência como um saber que contesta. “Se não fosse assim, ela fatalmente se estagnaria”, provoca Maria Beltrão.

No primeiro capítulo, “Cenários da natureza”, a autora trata de temas como os ciclos da seca, o nome e os sinais das chuvas (com um curioso poema, o “ABC da chuva-seca”), a pré-história da região e o fenômeno da grande lua. Em “A saga humana”, Maria Beltrão retoma elementos de sua formação em antropologia para explicar seu interesse pelo homem brasileiro, recupera elementos históricos da conquista do sertão, apresenta o cotidiano do homem da região há 300 mil anos, demonstra aspectos da sabedoria do sertanejo em vários campos do conhecimento, conta histórias sobre Lampião e Maria Bonita. No capítulo final, “Mergulho interior”, a autora coloca em primeiro plano os aspectos culturais do sertão, como a literatura de cordel, as práticas religiosas, os mitos e cosmologias que sobrevivem ao tempo. Maria Beltrão destaca ainda personagens históricos como Lamarca e Luís Carlos Prestes, heróis de outros tempos, que também sobrevivem no imaginário popular.

Doutora em arqueologia e geologia, Maria Beltrão tem projetado o Brasil com suas descobertas acerca do patrimônio cultural, natural e imaterial. Durante 18 anos foi conselheira do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, representou o Brasil na Associação Internacional de Paleontologia Humana, publicou 10 livros e mais de 400 artigos. Esteve envolvida na descoberta da mais antiga ossada humana do Brasil, datada de 11 mil anos, em trabalho com equipe de pesquisadores da França e do Brasil. Maria Beltrão é também conhecida como defensora da teoria da convergência cultural dos continentes, segundo a qual teria existido um intercâmbio de populações intercontinentais. Há 30 anos ela coordena o Projeto Central que estuda a região do Rio São Francisco, no interior da Bahia.

40 Com essas credenciais e com o desejo de levar sua experiência aos leitores não especializados, Maria Beltrão realizou uma obra imprescindível, que traz em medida equilibrada a informação científica, a emoção e a memória. Não é por acaso que a pesquisadora e cientista abre cada capítulo como um poema. Nos confins do sertão, a linguagem é uma só, como ensinou Guimarães Rosa. A boa ciência precisa ter poesia.

FOLHA DE S. PAULO – Evolução em revista

Megalivro revê a história do design gráfico no país, do século 19 à era moderna

Designers engajados, como Elifas Andreato, criaram capas de impacto, como a do jornal "Opinião" (ABI/Divulgação)

SILAS MARTÍ, DE SÃO PAULO

(26/01/12) Desde que as primeiras máquinas de impressão chegaram ao Brasil nos porões da esquadra de dom João 6º, há mais de 200 anos, o design gráfico não parou no país. Um livro que chega agora às livrarias documenta pela primeira vez toda a produção de jornais, revistas, capas de livro, discos, marcas e cartazes nos últimos dois séculos.

41 "Linha do Tempo do Design Gráfico no Brasil" (ed. Cosac Naify) entrega justo isso -uma cronologia alentada do que se fez nessa esfera por ilustradores como J. Carlos (1884-1950) e artistas como Di Cavalcanti (1897-1976) e Lasar Segall (1891-1957). Nos dez capítulos do livro, há trabalhos que vão da primeira década do século 19 ao final do século passado, da era da impressão de chumbo à era dos computadores e montagens fotográficas. "Esse livro muda um pouco a perspectiva", diz Elaine Ramos, uma das organizadoras do volume. "Ajuda a desmistificar a noção de design." Isso porque, na amplidão da pesquisa, a linguagem modernista e construtiva dos anos 50, até hoje tida como sinônimo da produção gráfica no país, fica reservada a seu contexto histórico, cedendo espaço a manifestações de outras vertentes até hoje quase despercebidas. ALÉM DO MODERNO "Tem coisas lindas, de encher os olhos, que eram design no sentido estrito do termo", diz Chico Homem de Melo, outro organizador do livro. "Embora a linhagem modernista tenha obras de grande envergadura, ela dificultou que a gente olhasse para outras coisas, foi um dos efeitos colaterais dessa espécie de hegemonia moderna." Fora dessa chave construtiva, está uma produção alinhada com o pensamento gráfico mais sofisticado dos anos 20, em que art nouveau e art déco tomaram Europa e Estados Unidos de assalto. "Para Todos", "O Malho", "Pr'a Você", "O Arlequim", "Sports" e "Revista da Cidade" são fortes exemplos de publicações em sintonia com a escola estética que despontou na belle époque e nos chamados anos loucos de Paris, no começo do século 20. Mas, mesmo mergulhadas numa roupagem europeia, as revistas brasileiras da época mantiveram um padrão gráfico considerado sem igual, imortalizado pelas melindrosas de J. Carlos estampadas nas capas, surfando ondas gigantes ou mergulhando em turbilhões lisérgicos de cores. "É impressionante pegar uma revista como a 'Para Todos' nas mãos", diz Homem de Melo. "Foi um título revolucionário e muito inovador." Do mesmo J. Carlos que estava por trás da "Para Todos", "O Malho" lançou moda já na virada para o século 20 com uma identidade visual mutante, que fazia de cada edição um exemplar diferente do anterior, com jogos cromáticos e ilustrações ousadas. Numa delas, em pegada metalinguística, um ilustrador aparece na capa desenhando aquela mesma edição. Noutra, um personagem segura a publicação com seu próprio rosto na capa. Depois de um hiato criativo nos anos 40, assombrados pela Segunda Guerra, a produção gráfica retomou o vigor com a linguagem construtivista dos anos 50 e na explosão desse repertório com a contracultura dos 60 e 70. Foi a época de revistas como "Senhor" e "Realidade", a primeira dominada pelo experimentalismo dos artistas Carlos Scliar (1920-2001) e Glauco Rodrigues (1929-2004); a segunda, uma ponte para a produção gráfica moderna, num sofisticado arranjo de textos e fotografias. Homem de Melo vê nesses trabalhos o germe do que se produz no design gráfico do país hoje, peças que sobreviveram aos anos de chumbo da ditadura e à produção mais fraca dos anos 80. "Esse livro é um megalevantamento", resume o autor. "E não quer comprovar teses ou defender uma ou outra linha do design."

FOLHA DE S. PAULO – Livro é essencial para entender a produção brasileira do século 20 Crítica artes plásticas MARA GAMA, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

(26/01/12) Ser o mais abrangente compêndio de design gráfico sobre o país já faz do livro de Chico Homem de Melo e Elaine Ramos um trabalho essencial para quem se interessa pela cultura visual brasileira. Mas, sobre uma pesquisa extensiva -cujos detalhes estão no capítulo "Crônica do Processo de Trabalho"-, houve uma seleção criteriosa nas qualidades expressivas de cada peça, aberta à contaminação dos contextos técnicos e históricos.

Como resultado, o livro, pensado inicialmente como apêndice da prestigiosa "História do Design Gráfico", de Philip Meggs e Alston Purvis, tem mais vocação para atingir o público não especializado do que o seu modelo original, tanto pela abordagem cultural como pelos textos analíticos, concisos e leves.

42 Revistas, livros, jornais, cartazes, capas de disco, sinais, selos e cédulas foram os grandes grupos de peças escolhidas para contar a história da criação gráfica no país a partir da vinda da família real portuguesa e a consequente autorização para impressão local, em 1808.

Incluir a produção anterior à difusão do conceito de design -que se dá nos anos 1950 e 1960- sinaliza uma perspectiva aberta. A mesma adotada por Rafael Cardoso em "O Design Brasileiro Antes do Design - 1870 - 1960", publicado em 2005, também pela Cosac Naify.

CAPAS SATÍRICAS

As 1.500 peças que figuram nesta "Linha do Tempo" são apresentadas com autor, datação e análise da composição. Dez capítulos panorâmicos exploram a produção de cada período histórico.

Para o público em geral, "Linha do Tempo do Design Gráfico no Brasil" é um saboroso passeio pelos repertórios de várias gerações. Estão ali desde as capas satíricas de Angelo Agostini para o jornal "Don Quixote", ainda no século 19, os memoráveis periódicos "O Malho", "A Maçã", "Para Todos", "O Cruzeiro", e trabalhos de ilustradores como J. Carlos, K. Lixto, Paim, Belmonte, Di Cavalcanti.

Há desde marcas e logotipos dos anos 60, 70 e 80, de Aloisio Magalhães, Alexandre Wollner e Cauduro e Martino, até famílias de tipos dos anos 1990, como a "Quadrada", de Priscila Farias, e a "Piercing", de Julio Dui.

Para quem quer estudar o tema, Chico Homem de Melo aponta lacunas de informação que sugerem bons temas de pesquisa.

O GLOBO - Dois livros para apreciar a arte gráfica

Cosac Naify lança publicação sobre a evolução do design no país e obra teórica que atualiza debate sobre forma e função

Catharina Wrede

Chova ou faça sol, todo sábado de manhã o designer paulistano Chico Homem de Melo vai a um sebo de sua cidade para fuçar raridades. Foi nessas incursões matutinas que garimpou cerca de 30% das peças presentes no livro “Linha do tempo do design gráfico no Brasil”, um registro maciço da linguagem visual brasileira do fim do século XIX à década de 1990, com mais de 1,6 mil imagens distribuídas em 744 páginas, e que acaba de chegar às livrarias pela Cosac Naify. Na mesma semana, outro lançamento da editora também chama a atenção: “Design para um mundo complexo”, de Rafael Cardoso.

Panorama da cultura brasileira

Organizado por Chico Homem de Melo, que assina textos e comentários, e pela diretora de arte da Cosac Naify, Elaine Ramos, responsável pelo projeto gráfico, o projeto de “Linha do tempo do design gráfico no Brasil” consumiu três anos de pesquisa no mapeamento de livros, revistas, jornais, sinais, cartazes, discos, selos postais e cédulas.

— A gente não quis fazer uma tábua de conceitos ou categorias para avaliar as peças, porque isso seria ter um preconceito e impor uma ideia pressuposta — explica Elaine. — Então, o processo foi o de levantamento. Colocamos as imagens sobre a mesa, comparamos, formamos conjuntos e analisamos.

A obra é organizada em dez capítulos, sendo o primeiro dedicado ao século XIX, o segundo às duas primeiras décadas do século XX e os restantes às demais.

— Apesar de não ser nosso objetivo inicial, vimos que o livro, depois de pronto, é também um panorama da cultura brasileira sob a ótica do design. E nesse ponto, acho que a publicação é importante para se perceber como o design participa da vida das pessoas — observa Melo, que também é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

43 A apresentação do livro avisa: “Prepare-se para iniciar uma viagem”. E é o que de fato acontece. Ao folheá-lo, o leitor se depara com inúmeras descobertas e redescobertas, como as capas da revista pernambucana “P’ra Você” e da popular “O Cruzeiro”, as movimentadas páginas do tabloide “Raposa”, a fantástica coleção de livros “Museus do Mundo”, as capas dos livros “Pau Brasil”, de Oswald de Andrade, e “Paulicea desvairada”, de Mario de Andrade, além de ilustrações de Lasar Segall e Cícero Dias para revistas dos anos 1940, a ousada capa de uma compilação de contos eróticos de 1977 e o cartaz da Copa do Mundo de 1950.

— O grau de surpresa do livro é impressionante — diz Melo. — Sou designer há mais de 30 anos e mesmo assim me deparei, ao longo da pesquisa, com várias peças que desconhecia. Acho que muita gente vai ficar surpreendida com a quantidade de coisas que achamos, que ou são completamente desconhecidas, ou pouquíssimas pessoas já viram. Ao fazer o livro, esbarramos numa história do design brasileiro muito mais rica do que eu imaginava.

Diferentemente do megalivro, o pequeno “Design para um mundo complexo”, que tem lançamento na próxima terçafeira, às 19h, na Livraria da Travessa de Ipanema, atualiza a discussão sobre o papel do design na sociedade através de um vasto estudo teórico.

No livro, Rafael Cardoso — que curiosamente não é designer, e sim historiador da arte — resgata a discussão iniciada pelo designer americano Victor Papanek em seu emblemático “Design para o mundo real”, publicado em 1971, que alertava para a perda de sentido do design de matriz modernista em face de um mundo assolado pela miséria.

Em seu livro, Rafael atualiza a questão apontando que o tal “mundo real” agora passou a ser envolvido por uma camada de informação e imaterialidade.

— Nossas ideias de design são as mesmas de 1960, onde tudo está ligado àquele clichê de ‘forma segue função’ — observa o autor. — Isso é uma bobagem absoluta, porque ninguém sabe definir o que é função. Hoje, com um mundo muito mais virtual do que material, a questão não é a forma, e sim o significado.

JORNAL DE ANGOLA – Conto angolano em língua Árabe

30-01-2012

Jomo Fortunato

Carmo Neto secretário-geral da União dos Escritores Angolanos instituição responsável pela tradução da antologia de contos Fotografia: JÁ

Está em curso um ambicioso projecto de traduções, pela União dos Escritores Angolanos, que passa pela versão em inglês, francês, alemão, italiano, incluindo a língua árabe, de títulos de referência da literatura angolana, concretizando um propósito que visa, fundamentalmente, o diálogo intercultural entre os países, pela via da literatura.

44 Com diversas variantes linguísticas, a língua árabe é falada por 280 milhões de pessoas, é o idioma oficial de 22 países, está próxima do hebraico e das línguas neo-aramaicas, e é a que possui mais falantes dentro do tronco linguístico semita.

Embora existam muitos autores angolanos traduzidos, sobretudo nas línguas naturais europeias, recorde-se o “World of Mestre Tamoda”, de Uanhenga Xitu e a versão francesa de “Quem me dera ser onda”, de Manuel Rui, e a obra de Pepetela, um dos autores angolanos mais traduzidos, a intervenção da literatura angolana, no universo da língua árabe, pelo menos enquanto projecto, é inédita e denota uma intenção ambiciosa da União dos Escritores Angolanos.

As traduções em língua árabe podem ser mais importantes do que possa parecer, porque não podemos perder de vista que há um substrato africano em toda a cultura mediterrânica, espaço de influência milenar da cultura árabe, e a divulgação da literatura angolana vai instaurar o reencontro de culturas que, por sua vez, pode propiciar o surgimento de clássicos universais, porque desconhecemos qual o impacto da recepção da estética da literatura angolana no universo dos virtuais leitores do mundo árabe. Sobre a hierarquia das leituras, importa recordar uma entrevista do ensaísta canadiano Alberto Manguel, concedida no dia 9 de Setembro de 1999 à revista brasileira “Veja” que, a dado momento, interrogado sobre se “É melhor ler publicações de má qualidade do que não ler nada?”, o autor de “Uma história da leitura” disse: “não acredito em hierarquias absolutas no campo da leitura.

Nos países árabes, que valorizavam a filosofia e a poesia em detrimento da ficção, ‘As mil e uma noites’ eram vistas como literatura barata. No ocidente, porém, o mesmo livro tornou-se um clássico. A dimensão de uma obra depende também da experiência pessoal de cada um, de quanto a nossa vida foi transformada por ela.

É um tanto arrogante dizer ‘este é o livro que deve ler e este é o que não deve’. Há obras certas para diferentes momentos da nossa existência”, argumenta o estudioso de origem argentina.

Traduções recentes

A União dos Escritores Angolanos celebrou vários acordos de cooperação com as embaixadas de Angola em Portugal, Israel, Egipto, Brasil e França, que visam a divulgação e tradução de autores angolanos, estando concluída a obra “Como se viver fosse assim: antologia do conto angolano”, em árabe, com textos seleccionados pela escritora Domingas de Almeida, somando uma tiragem de mil exemplares. No âmbito da literatura infantil, a União dos Escritores Angolanos retroverteu, para inglês e hebraico, as obras: “As duas amigas”, de Cássia do Carmo, e “Jonito, Vovo Jujú e o arco-íris”, da escritora Paula Russa, que, tal como a antologia de Domingas de Almeida, vão ser lançadas em Telavive, Israel. “Conversas de homens, antologia de contos angolanos”, uma selecção de António Quino, estará presente no certame “Correntes da escrita”, que se realiza de 23 a 25 de Fevereiro, na cidade do Porto, com apoio da Embaixada de Angola, em Portugal. Está ainda prevista a edição de uma outra antologia, em francês, pela Présence Africaine, fundada por Alioune Diop, em 1947, com tradução de Dominique Stoenesco e Iva Flores. O conjunto de textos denominado “Contes et nouvelles d’Angola” inclui 23 autores angolanos: António Fonseca, Arnaldo Santos, Benúdia, Boaventura Cardoso, Carmo Neto, Costa Andrade, Fragata de Morais, Henrique Abranches, Isaquiel Cori, Jacinto de Lemos, Jacques Arlindo dos Santos, João Melo, Jofre Rocha, José Eduardo Agualusa, José Luís Mendonça, José Mena Abrantes, Manuel Rui, Ondjaki, Óscar Ribas, Pepetela, Roderick Nehone, Rosário Marcelino e Uanhenga Xitu.

Neto em espanhol

Está em circulação no mercado uma tradução, em espanhol, do livro “Agostinho Neto – Obra poética completa”, com a chancela da Fundação Agostinho Neto. Sobre esta publicação, o Secretário-Geral da União dos Escritores Angolanos, Carmo Neto, afirmou o seguinte: “É muito importante que os falantes da língua espanhola tenham conhecimento das obras de Agostinho Neto, tendo em conta que no mundo existem milhões de pessoas que falam espanhol. Neste momento, estamos a trabalhar na tradução para outros idiomas, como francês, russo, inglês e alemão, de antologias que reúnem, além de Agostinho Neto, outros escritores nacionais. Já temos autores angolanos traduzidos em árabe. Significa que existe a preocupação de mostrarmos os nossos valores literários nos mais

45 recônditos lugares do mundo, com o objectivo de levarmos uma amostra da nossa literatura. A internacionalização da literatura angolana é um dos principais objectivos da UEA”. QUADRINHOS

CORREIO BRAZILIENSE - HQ nacional em debate

Autores do premiado livro Daytripper, os roteiristas e desenhistas paulistanos Gabriel Bá e Fábio Moon falam hoje sobre a evolução dos quadrinhos no país

Pedro Brandt

Ao longo dos últimos anos, os desenhistas e roteiristas de histórias em quadrinhos Gabriel Bá e Fábio Moon conseguiram uma série de prêmios, alguns deles até então inéditos para autores brasileiros de HQs. Entre as honrarias estão o Eisner Award e o Jabuti. Mas foi com seu trabalho mais recente, Daytripper (lançada em 2010 nos Estados Unidos e ano passado no Brasil), que os gêmeos paulistanos alcançaram um novo patamar. “Hoje, somos mais reconhecidos como autores, não só desenhistas”, comentou Bá em entrevista ao Correio.

A repercussão de Daytripper será um dos assuntos que os irmãos irão debater hoje, na primeira edição de 2012 do projeto Palco Iguatemi — a ser realizado a partir das 19h30, no Teatro Eva Herz, localizado na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi. Moon e Bá também falarão sobre suas trajetórias, projetos antigos e as novidades para 2012.

Os irmãos chegam a Brasília um dia após o Dia do Quadrinho Nacional. A data, instituída pela Associação dos Cartunistas de São Paulo, é uma homenagem ao pioneiro dos quadrinhos brasileiros, Angelo Agostini — que em 30 de janeiro de 1869 publicou a primeira edição de As aventuras de Nhô Quim — Ou impressões de uma viagem à corte, a primeiríssima HQ brasileira — e tem como objetivo celebrar a produção brazuca de histórias em quadrinhos.

Entrevista Fábio Moon e Gabriel Bá

Daytripper repercutiu muito bem, nacional e internacionalmente. Qual dos reconhecimentos recebidos pela obra deixou vocês mais felizes? Por quê? Gabriel — Todo reconhecimento do Daytripper nos deixa felizes, de formas diferentes. Nos Estados Unidos, foi nosso maior projeto autoral e serviu para nos consolidar como autores, não só como desenhistas. Aqui no Brasil, foi nosso primeiro trabalho que conseguiu reunir o reconhecimento que temos no exterior, os prêmios que a obra ganhou, a visibilidade que temos na mídia e o fato de o próprio livro estar sendo lançado e disponível no país inteiro. Estamos muito felizes com tudo. E qual o reflexo dessa boa repercussão na carreira de vocês? Gabriel — Hoje, somos mais reconhecidos como autores, não só desenhistas, e as editoras estão mais abertas para os projetos da gente — não só para usar nossos desenhos nas histórias dos outros. Vários convites para convenções e eventos de quadrinhos ao redor do mundo são resultado dessa repercussão e temos tentado balancear as viagens com o trabalho, pois é importante divulgar e promover os livros, mas é preciso continuar produzindo material novo. Vocês conseguem perceber o surgimento de novos leitores para o trabalho de vocês?

Fábio — Estamos sempre buscando novos leitores. Quadrinhos não são só pra “nerds” ou “crianças”. Queremos expandir o mercado de quadrinhos e mostrar a pessoas que não costumam ler HQs que elas podem encontrar ali histórias incríveis. Acredito que o Daytripper esteja fazendo um pouco isso, mas precisamos continuar produzindo esse tipo de quadrinhos para conseguir realmente formar este público “novo”.

Um assunto recentemente muito discutido por quem faz e lê quadrinhos foram as propostas de lei para cotas de produção nacional nas editoras brasileiras. Vocês acompanharam essa história? O que pensam a respeito dessas propostas?

Gabriel — Acho que pode ajudar na formação de público se bem utilizado nas escolas e faculdades (como propõe o artigo 5º da lei). Mas não acredito que resolverá a vida dos autores e criará

46 problemas para editoras, principalmente as pequenas. Nunca se publicou tanta HQ como hoje em dia, em variedade de gêneros e títulos, tanto estrangeiros quanto nacionais.

O que vocês leram de interessante de quadrinho nacional em 2011 e recomendariam para as pessoas?

Gabriel — Um projeto muito bacana de 2011 foi uma página de quadrinhos no IG, de onde surgiram três trabalhos excelentes: Beijo adolescente, de Rafael Coutinho; Roberto, do Edu Medeiros; e Tune 8, do Rafael Albuquerque. Tanto o Beijo adolescente quanto o Tune 8 foram compilados e publicados em papel. Outra HQ legal foi Achados e perdidos, do Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho, pois é uma boa história infantojuvenil, gênero pouco trabalhado no quadrinho nacional.

Fábio — E quem continua firme e forte numa ilustre carreira nos quadrinhos é o Gustavo Duarte, que depois das premiadas Có (2009) e Taxi (2010), lançou Birds, mais uma HQ sem falas, contando tudo com seus elegantes desenhos.

Quais os planos de vocês para 2012? Quando poderemos ler o próximo trabalho de vocês? Fábio — Este ano, vamos lançar um álbum da série Cidades Ilustradas, da Casa 21, sobre São Luís do Maranhão. Além disso, também deve sair por aqui o Casanova, série que fazemos nos Estados Unidos com o escritor Matt Fraction. Estamos trabalhando na adaptação para os quadrinhos do livro Dois irmãos, do escritor , mas vai demorar ainda para ficar pronto. POLÍTICA CULTURAL

ESTADO DE MINAS - Todos podem ser mecenas

Pouca gente sabe, mas é possível dar a parte do Leão para um projeto cultural por meio das leis de incentivo

Se por um lado sobram orientações de como apresentar projetos às leis de incentivo à cultura, por outro quem quer ajudar tem que se desdobrar em busca de orientações sobre como fazê-lo. Principalmente ser for pessoa física. Muita gente não sabe mas, assim como as empresas, cidadãos que devem ao Leão podem repassar o dinheiro a qualquer projeto cultural aprovado pelo Ministério da Cultura. Mas a iniciativa tem esbarrado na falta de informação e burocracia.

Na teoria, funciona assim: o contribuinte pode financiar um projeto cultural com até 6% do Imposto de Renda devido. Por exemplo, se o cidadão precisa pagar R$ 12 mil referente a 2011, pode destinar R$ 720 a um grupo teatral. Mas o problema é que, além das pessoas não saberem direito como realizar essa operação, elas precisam se programar. Os repasses relativos a 2011, por exemplo, devem ser feitos até 30 de dezembro. Ou seja, amanhã! O recibo da doação será descontado da declaração a ser feita em abril.

Na internet “A pessoa deve ter feito um controle aproximado para saber quanto poderá destinar”, comenta Débora Vieira, integrante da Uma Companhia. “Nem todo mundo é controlado. Pelo menos a maioria das pessoas que conheço só vai fechar as contas em março.” Com projeto aprovado pela Lei Rouanet, o grupo dela lançou na internet uma campanha para atrair doações de pessoas físicas. Fez barulho, mas o resultado não foi o esperado. “Conseguimos três pessoas interessadas em saber como funciona. A ideia foi muito compartilhada, a recepção foi boa, mas de gente comentando”, conta.

A iniciativa foi importante para fazer com que a companhia percebesse que há um interesse por parte da sociedade civil em ajudar, mas a divulgação precisa de reforço. “Este anos vamos falar depois dos espetáculos. Não é impossível as pessoas se programarem. É uma questão de planejamento”, acredita Débora, Ela ainda sugere que o próprio Ministério da Cultura contribua com a produção de cartilhas explicativas e a divulgação das informações no site. De fato, é muito difícil encontrar as informações a esse respeito no endereço do órgão na internet.

Cooperativa Foi justamente oferecendo essa assessoria que desde 2000 o Instituto Unimed tem conseguido cifras expressivas, ano após ano, somente com o repasse de médicos. Em 2011, foram

47 R$ 5 milhões reunidos com a participação 3.030 cooperados, pessoas físicas. O valor foi investido em projetos culturais e sociais. “De uma certa forma industrializamos esse processo burocrático. Temos parceiros que auxiliam os médicos. Fazemos uma divulgação muito forte e no final do ano começamos a captar”, detalha o diretor-presidente do Instituto Unimed, Helton Freitas.

Além de cuidar das burocracias para o patrocínio via lei federal, a equipe do Instituto Unimed seleciona previamente os projetos que receberão o incentivo. “Criamos todas as facilidades para quem tiver vontade de repassar. Só precisa querer que a gente viabiliza”, completa Freitas. Periodicamente os investidores recebem informações sobre quais foram os projetos apoiados e, como contrapartida, têm direito a entradas em apresentações realizadas especialmente para o grupo.

Contar com patrocínio de pessoa física, fora de um esquema como esse do Instituto Unimed, pressupõe um trabalho de formiguinha. Isso porque, para alcançar o mesmo montante de recursos que as empresas estão autorizadas a repassar, são necessárias muitas adesões avulsas. “Realmente não é tão atraente para o produtor porque vai precisar de mais ou menos umas 50 doações para fazer qualquer volume. É pouco, mas claro que ajuda. R$ 4 mil já representam uma tiragem de filipeta”, completa Débora. MODA

FOLHA DE S. PAULO – Criadores na SPFW não trazem novas imagens para moda

Edição fraca se inspira em itens batidos do mercado, como vampiros e bruxas, e repete 'veludo molhado' Atos violentos, protestos vazios e utopias de butique se refletiram nas coleções dos estilistas para 2012 VIVIAN WHITEMAN, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

(26/01/12) Na edição mais fraca da São Paulo Fashion Week nos últimos anos, as novas (ou, ao menos, vibrantes) imagens de moda foram raridade. E quando os criadores deixam de oferecer novas histórias para inspirar a roupa nossa de cada dia, o que sobra é uma lista de tendências parecida com a de compras feita para o supermercado. No seu armário existem peças transparentes, couro, dourados, veludo e tecidos metalizados? Então talvez você nem precise encher o carrinho para entrar na onda do inverno 2012. Talvez falte uma peça de couro em vermelho. O tom mais "sangue vivo" dessa cor apareceu no desfile da Ellus, especialmente no couro. De repente, você pode ter vontade de voltar a usar o "veludo molhado", aquele bem molenga e com brilho, sucesso nos anos 90. O tecido foi o campeão de presença nos desfiles. Gosta de vampiros, bruxas, e monstros das trevas? Pois essa foi uma das poucas imagens de inspiração propostas pelos estilistas da SPFW. Sabe a Natasha da novela "Vamp"? O Edward de "Crepúsculo"? Então. Os figurinos do filme "Drácula de Bram Stoker" também vão ajudar você a entender essa estética. Analistas políticos e pesquisadores de comportamento dizem que o mundo está num impasse. Entre atos violentos, protestos vazios e utopias de butique, as pessoas parecem mesmo presas num limbo infernal sugador de energia vital. E isso se refletiu nas coleções dos criadores mais dispostos a se conectar com as questões de seu tempo. A paranoia do "vender mais a qualquer custo" talvez tenha a ver com a fase sem vigor da moda (não só no Brasil). Assim como na vida fora das passarelas, o "ganhar mais a qualquer custo" tem levado muitas almas ao caminho triste da depressão e do esgotamento. Especialmente quando a defesa do dinheiro acima de todas as coisas tem de ser disfarçada sob ideais furados e justificativas capengas. Vários grandes criadores, do glamouroso Alber Elbaz, da Lanvin, ao rebelde Alexander McQueen, antes do suicídio, já falaram sobre como as pressões extremas do mercado afetaram negativamente seus trabalhos. FRIO N'ALMA Até a exposição armada pelo evento no térreo da Bienal era de dar calafrios. Em andaimes, roupas de estilistas da semana de moda dividiam espaço com telões exibindo filmes nos quais eles falavam de seus processos criativos.

48 Embaixo deles, pilhas de carvão. No ar, uma névoa artificial e paredes pretas. Entre os andaimes no local, fotos soturnas e, entre elas, imagens de pessoas pintadas de demônios, gente boiando em rios, figurações da morte. De arrepiar. Na passarela, as representações dessa era sinistra apareceram em poucas coleções. Da religião destituída de seus dogmas e transformada em cultura de rua ( masculino e Reinaldo Lourenço) ao tormento depressivo (João Pimenta), a Folha elenca as cinco imagens de moda mais fortes da temporada. São cinco personagens (veja no quadro ao lado), cinco tipos que ajudam o público a entender a inspiração dos estilistas e pensar sobre elas. E o resto? O resto são roupas, bonitas ou não, que vão estar (muitas delas, aliás, já estão) nas vitrines.

THE SIDNEY MORNING HERALD – Brazilian bikini sizes up bigger bottom dollar

30-01-2012

AUSTRÁLIA – Jenny Barchfield

Tall and tan and young and ... chunky?

The Girl From Ipanema has put on a few kilos, and for many sunbathers on ’s beaches the country’s iconic itsy-bitsy, teeny-weeny bikini just doesn’t suffice anymore.

A growing number of bikini manufacturers have woken up to Brazil’s thickening waistline and are reaching out to the ever-expanding ranks of heavy women with new plus-size lines

That’s nothing short of a revolution in this most body-conscious of nations, where overweight ladies long had little choice but to hit the beach in comely ensembles of oversized T-shirts and biker shorts.

"It used to be bikinis were only in tiny sizes that only skinny girls could fit into. But not everyone is built like a model," said Elisangela Inez Soares as she sunbathed on Copacabana beach, her oiled-up curves packed into a black size 12 bikini.

"Finally, it seems like people are beginning to realise that we’re not all Gisele," said the 38-year-old mother of four, referring to willowy Brazilian supermodel Gisele Bundchen.

Clothing designer Clarice Rebelatto said her own swimwear-hunting travails prompted her to found Lehona, an exclusively plus-size beachwear line.

"Honestly, the problem went way beyond just bikinis. In Brazil, it used to be that if you were even a little chunky, finding any kind of clothes in the right size was a real problem," said Rebelatto, herself a size 10.

"And I thought, 'I'm actually not even that big compared to a lot of women out there, so if I have problems, what are they doing?"

Since its launch in 2010, the line has become a hit. In brash leopard spots and flower prints not meant for wallflowers, the label’s 14 bikini styles aren’t what you’d normally associate with plus-size swimsuits.

The necklines plunge dramatically. Straps are mere strings. And while the bottoms provide too much coverage to qualify for the famed "fio dental" or "dental floss" category of Brazilian string bikinis, they’re significantly more audacious than the standard US cut.

"We’re working from the principle that bigger women are just like everyone else: They don’t want to look like old ladies, wearing these very modest, very covering swimsuits in just black," said Luiz Rebelatto, Clarice’s son and director of Lehona.

He said that recent publicity of the brand and several other new swimwear lines catering to plus sizes has triggered an overwhelming number of calls and emails from would-be customers.

49 "They’re all excited and they say, 'I've been looking everywhere for a bikini like that. Where can I get one?'" said Rebelatto.

Lehona is currently sold exclusively at big and tall specialty stores throughout Brazil. Its bikinis retail for about 130 reais or $A70 - a relatively high price-point here, but Rebelatto said sales have grown at a galloping pace, though he did not provide any figures.

It’s the same story at Acqua Rosa, a conventional swimwear label that added a plus-size line in 2008.

Now, plus-size purchases account for more than 70 per cent of the brand’s total sales, said director Joao Macedo.

It makes sense. For centuries, large swaths of Brazil were beset by malnutrition, and in 1970, nearly 10 per cent of the population in the country’s poor, rural northeast region was considered underweight, according to Brazil’s national statistics institute.

But the phenomenal economic boom that has lifted tens of millions out of poverty and into the burgeoning middle class over the past decade has also changed the nation’s once-svelte physique: A 2010 study by the statistics institute showed that 48 per cent of adult women and 50 per cent of men are now overweight.

In 1985 those figures were 29 per cent for women and 18 per cent for men (still, there’s been no rash of plus-size male swimwear lines, as men here wear Speedo-style suits that don’t impinge on big guts).

Analysts attribute Brazil’s rapidly widening girth to changes in nutrition, with chips, processed meats and sugary soft drinks replacing staples like rice, beans and vegetables.

And while the country’s elite are widely known to be fitness freaks - and also among the world’s top consumers of cosmetic surgery - those recently lifted out of poverty and manual labour are becoming increasingly sedentary.

A 2008 study showed that barely 10 per cent of Brazilian teens and adults exercise regularly.Still, despite their growing numbers, not everyone is eager to embrace ‘‘gordinhas’’ - or ‘‘little fatties’’, as chunky women are affectionately known here.

Many high-end bikini-makers have turned a seemingly deliberately blind eye to the burgeoning plus- size market.

Rio-based upmarket brand Salinas, for example, offers five sizes, from extra-small through extra-large.

But their sizing runs notoriously small and it’s hard to imagine anyone over a size six actually managing to fit into any of the brand’s minuscule two-pieces.

Luis Rebelatto of Lehona chalked it partially up to snobbery.

"Some brands, they don’t want their image to be associated with chunky women," he said.

"Only the thin, the rich and the chic."

While Brazilians’ increasing heft is a public policy preoccupation for the government, growth in the ranks of the overweight population has given them increased visibility in Brazilian society.

Extra-wide bucket seats for the obese have been installed in Sao Paulo’s metro system, and the city will host Brazil’s first ever Miss Plus Size beauty contest.

"It used to be that people would stare at me," said Soares, the voluptuous sun-worshipper on Copacabana beach.

"Now when I come to the beach I see women who are much bigger than me - and lots of them are wearing bikinis - so I’m not self-conscious any more.

50 "God makes some people thin but he made me like this," she said, rubbing down the well-oiled bulge of her stomach and thighs.

"So who am I to think that he was wrong?"

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BRASIL ECONÔMICO – Nova sede do MAC de SP abre amanhã no antigo DETRAN

Projeto de restauro do edifício custou R$ 76 milhões e vai abrigar o Museu de Arte Contemporânea paulista, que completa 50 anos em 2013. Cerca de 20% do acervo ficará exposto no local

Daniela Paiva

(27/01/12) A partir de amanhã, a arte determina a rota do antigo prédio do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), nas imediações do Parque Ibirapuera, em São Paulo. O Museu de Arte Contemporânea (MAC) ganha nova sede no local, que passou por uma longa reforma que custou R$ 76 milhões. Batizada de O Tridimensional no MAC: Uma Antologia, a primeira exposição reunirá 17 esculturas, objetos e instalações de artistas brasileiros e nacionais que integram o acervo da instituição.

O namoro entre o prédio de Oscar Niemeyer, inaugurado em 1954, e o MAC é mais do que antigo e desejado. Nos anos 40, Ciccillo Matarazzo fundou o Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo a partir da coleção da família. Nos anos 60, juntou obras do MAM e acumuladas pela Bienal Internacional de São Paulo, que presidia, e doou tudo para que a Universidade de São Paulo inaugurasse o MAC em 1963.

Até a nova sede, o acervo da instituição dividia-se entre um pedaço do terceiro Pavilhão da Bienal e a sede na USP, o que representava um espaço de exibição de apenas 5% dos seus mais de 8 mil títulos. Agora, o MAC dispões de 30 mil metros quadrados. “O MAC vai para um dos pólos culturais da cidade, que é o Parque do Ibirapuera”, diz Andrea Matarazzo, secretário da Cultura do Estado de São Paulo, e sobrinho de Ciccillo. “Quando o Ciccillo fez o MAC, imaginava ele lá”.

Reforma A reforma do edifício do Detran começou em dezembro de 2008. Entre as principais modificações, estão a modernização dos elevadores, instalações elétricas e hidráulicas, a cobertura do prédio principal e as fundações do novo anexo.

O prédio é tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e protegido pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat). A entrega estava prevista para o ano passado. “Como toda área tombada, há sempre problemas, mudanças de projeto”, explica Matarazzo sobre o atraso. “É um prédio delicado”.

Visibilidade Para o diretor do MAC, Tadeu Chiarelli, a nova sede trará visibilidade à instituição e a uma coleção de obras que circula pouco pelo Brasil. “O público pouco se dispõe a ir à USP”, diz. Com entrada gratuita, o MAC funcionará de terça a domingo, das 10h às 18h.

O Tridimensional no MAC: Uma Antologia inaugura uma série de 11 exposições até o final do ano. A perspectiva é de que o material corresponda a 20% do acervo em exibição, o que representará mais de 2 mil obras. Entre as joias guardadas e de menos circulação, Chiarelli destaca uma coleção de desenhos de Di Cavalcanti.

O MAC continuará com suas atividades na sede da USP. Porém, com a novidade, a ideia é reformar o espaço de sua sede e dedicá-la ainda mais às atividades de graduação e pós-graduação conduzidas ali.

51 Outro projeto é trazer do Pavilhão da Bienal os trabalhos que estão por lá.Acerimônia de inauguração é amanhã, às 11h. Depois dela, o espaço abre para o público, e ruma ao novo caminho.

FOLHA DE S. PAULO – Bienal tem contas bloqueadas por inadimplência

Processo da Controladoria Geral da União constatou uso irregular de verbas públicas no total de R$ 32 mi Fundação Bienal acionou a Justiça para resolver o caso; próxima edição da mostra, prevista para setembro, pode ser adiada FABIO CYPRIANO, CRÍTICO DA FOLHA

(27/01/12) Apesar de ter cerca de R$ 11 milhões em caixa, a Fundação Bienal ligou o botão de alarme em relação à realização da 30ª Bienal de São Paulo, cuja abertura está prevista para o dia 7 de setembro. Motivo: desde o dia 2 de janeiro as contas da instituição estão bloqueadas pelo Ministério da Cultura (MinC) por inadimplência. "A realização da Bienal está correndo risco, justo agora que estávamos com tudo para fazer uma mostra memorável, já que o curador foi selecionado com dois anos de antecedência e 80% do orçamento está garantido", disse, anteontem, Heitor Martins, presidente da Bienal. A inadimplência foi decretada devido a um processo da Controladoria Geral da União, que teve início em abril de 2009 (veja quadro ao lado). Ele apontava irregularidades em 13 processos da Bienal, ocorridos entre 1999 e 2006, nas gestões de Carlos Bratke e Manoel Francisco Pires da Costa. No total, a Bienal teria feito mau uso de verbas públicas no total de R$ 32 milhões, o que foi noticiado pela Folha na época. É de praxe que entidades inadimplentes tenham as contas bloqueadas pelo MinC. "Em 2009 eles nos pediram esclarecimentos sobre esses processos e nós fornecemos. No ano passado, chegamos a devolver ao MinC cerca de R$ 700 mil, porque foi alegado que, em 1999, foi consertado o telhado da Bienal sem que a verba estivesse liberada", conta Martins. Procurado pela Folha, o Ministério da Cultura não respondeu até o fechamento desta edição. BIENAL EM RISCO A Fundação Bienal entrou com petição na Justiça Federal solicitando a revisão do caso e espera resolver o problema rapidamente. "Se não conseguirmos reverter até meados de fevereiro, a situação fica complicada. Já tivemos que atrasar o início de ações do educativo. Enquanto eles analisam o passado, estão inviabilizando o presente", diz Martins. A 30ª Bienal, com curadoria do venezuelano Luis Pérez-Oramas, tem um orçamento de R$ 30 milhões aprovado pelo MinC. "Pela nossa experiência, sabemos que podemos realizá-la com menos, algo em torno de R$ 27 milhões, sendo R$ 22 milhões com dinheiro incentivado e R$ 5 milhões de recursos próprios", diz o presidente da Bienal -a quantia bloqueada é a que tem incentivo. "Mas só com R$ 5 milhões teremos que adiar a mostra", conclui Martins.

EL MUNDO – Brasil visita Salamanca

Espanha – 01.02.12

Alumnos y docentes se integran en su lengua y cultura

Brasil está ahora más cerca de España, y la universidad española menos lejos de los estudiantes brasileños. Éste es el éxito del proyecto Becas de Español para Brasileños USAL-Banco Santander, puesto en marcha a través de la División Global Santander Universidades, y que hasta el pasado viernes permitió que 160 personas, entre docentes y alumnos universitarios, profundizaran en la cultura y lengua españolas.

Elegidos entre 20.000 solicitudes, estos becados han pasado tres semanas empapándose de España en la Universidad de Salamanca. Entre los participantes se encontraba André León, uno de los docentes brasileños, quien apuntó que la de esta ciudad «es una de las mejores universidades del

52 mundo», y que un proyecto como éste también era una gran oportunidad para traer un pedazo de su cultura y de sus costumbres hasta la ciudad del Tormes.

Para Julio Monteiro, un estudiante de Medicina de la Universidad Federal do Pará, éste ha sido su primer viaje internacional. «Estoy muy feliz de conocer España, un país increíble, y porque me siento reconocido al haber resultado elegido entre tantos participantes en el proceso de selección de mi facultad. Aprovecharé al máximo esta oportunidad», expresó a su llegada a la ciudad.

Otra estudiante, Joemia Gomes, de la Universidad Federal de Roraima, afirmó: «Estudio Letras y Literatura Española, así que ésta es una oportunidad muy especial para mí. Quiero aprender mucho en este viaje, conocer lo viejo y lo nuevo, vivir las diferencias y llevar también un poco de nuestra cultura».

Este programa de becas, puesto en marcha por el Banco Santander, se enmarca en la colaboración que la entidad bancaria mantiene con la Universidad de Salamanca, iniciada en 1998, para el desarrollo de actividades académicas. Otro ejemplo es el proyecto de becas de movilidad internacional, del que se han beneficiado más de 700 universitarios desde 2001.

Esta institución académica cuenta también con el apoyo del banco para desarrollar iniciativas de investigación, enmarcadas en las cátedras de Empresa Familiar; Iberoamericana de Dirección de Empresas y Responsabilidad Social Corporativa; de Emprendedores; y la cátedra Wenceslao Roces, con la Universidad Nacional Autónoma de México, que está especializada en Humanidades.

También se ha podido poner en marcha la futura creación del Parque Científico de la Universidad de Salamanca, y un proyecto de búsqueda de talentos que está especialmente dirigido a alumnos de posgrado en dos ámbitos distintos: Español y Biociencias. Otras posibilidades abiertas ya son Salmántica Biomédica, que promueve la investigación, y Salmántica Digital, que aspira a digitalizar la biblioteca antigua.

Además, está más que cerca la próxima conmemoración del 800 aniversario de la Universidad. Habrá una tarjeta universitaria inteligente, una credencial que identificará a los miembros de la comunidad universitaria y que facilitará el acceso a los recintos y los préstamos bibliotecarios. Posibilidades que enriquecen una ciudad siempre ligada a la cultura académica.

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