Lideranças Políticas Em Glauber Rocha: Narrativa Cinematografia E Discurso Político1
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1 Título de la ponencia: Lideranças Políticas em Glauber Rocha: narrativa cinematografia e discurso político1 Autores: Miguel Chaia2 e Telmo Dinelli Estevinho 3 Área temática: Política, Cultura, Ideología y Discursos “Trabajo preparado para su presentación en el 9º Congreso Latinoamericano de Ciencia Política, organizado por la Asociación Latinoamericana de Ciencia Política (ALACIP). Montevideo, 26 al 28 de julio de 2017.” 1 O artigo é produto do Projeto Temático “Lideranças Políticas no Brasil: características e questões institucionais”, financiado pela FAPESP (processo nº 12/50987-3). As opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações expressas neste material são de responsabilidade dos autores e não necessariamente refletem a visão da FAPESP. 2 Miguel Chaia - Professor do Departamento de Política e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, pesquisador do Neamp (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política) da PUC/SP e da FAPESP. Contato: [email protected] 3 Telmo Dinelli Estevinho – Professor da Universidade Federal de Mato Grosso, pesquisador do Neamp (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política) da PUC/SP e da FAPESP Contato: [email protected] 2 LIDERANÇAS POLÍTICAS EM GLAUBER ROCHA: NARRATIVA CINEMATOGRAFIA E DISCURSO POLÍTICO Resumo: Análise das diferentes dimensões e tipos de lideranças políticas a partir das atividades e projetos desenvolvidos pelo cineasta Glauber Rocha durante o ciclo do Cinema Novo no Brasil, na década de 60 e 70 do século passado, supondo seu papel fundamental para desenvolver a área da cultura numa perspectiva nacionalista. Enquanto intelectual crítico e atuante, o cineasta Glauber Rocha produziu personagens cinematográficos que expressaram as alternativas políticas do país, bem como exerceu práticas efetivas para a constituição de necessárias lideranças políticas - para assim diagnosticar e analisar a política do país.Neste sentido, será avaliada a sua proposta, em meados da década de 70, de indicação de uma liderança militar para dirigir a transição política brasileira, no contexto da quebra da democracia e da consequente instauração da ditadura militar. A comunicação terá como linha básica a análise interna do filme "Terra em Transe”, 1967, tendo em vista estruturar e arrolar as diferentes situações das presenças e práticas das lideranças políticas nas conjunturas de crises democráticas e das mudanças sociais e, inclusive, focando as redes e conflitos que envolvem tais práticas de governo. Espera-se, assim, que o estudo da representação cinematográfica e das práticas de uma liderança cultural constitua-se em uma forma de pensamento/conhecimento para melhor se compreender os meandros da política brasileira. Palavras Chaves: liderança Política; Cinema Novo, Glauber Rocha POLITICAL LEADERSHIP IN GLAUBER ROCHA: CINEMATOGRAPHIC NARRATIVE AND POLITICAL SPEECH Abstract: Analysis of distinct dimensions and types of political leadership from the activities and projects developed by the filmmaker Glauber Rocha during the Cinema Novo cycle in Brazil in the 60s and 70s of the last century, assuming his fundamental role in developing the area of culture in a nationalist perspective. As a critical and active 3 intellectual, Glauber Rocha created cinematographic characters that expressed the country's political alternatives, as well as exercised effective practices for the constitution of necessary political leadership - in order to diagnose and analyze the country's politics. In this sense, it will be evaluated his proposal to indicate a military leadership to lead the Brazilian political transition in the context of the breakdown of democracy and the consequent establishment of military dictatorship. The article will have as its basic line the internal analysis of the film "Entranced Earth" (1967), in order to structure and list the distinct situations regarding the presence and practices of political leaders in the conjunctures of democratic crises and social changes, and even focusing on the networks and conflicts that involve such practices of government. It is hoped, therefore, that the study on the cinematographic representation and the practices of a cultural leadership constitute in a form of thought and knowledge to better understand the meanderings of Brazilian politics. Keywords: Political Leadership, Cinema Novo, Glauber Rocha Introdução Cineasta; escritor; jornalista, são muitas as atribuições reivindicadas para o cineasta Glauber Rocha, que poderia ele mesmo acrescentar outras à sua carreira, desenvolvida especialmente no campo do cinema mas que extrapola esta atividade. Mas foi nesta área que Glauber ganhou notoriedade com um grupo de filmes cuja característica marcante era um desejo de sumarizar a identidade nacional e a luta política no Brasil, retratando estas questões por meio de uma estética inovadora e uma narrativa cinematográfica que ampliaram o diálogo internacional do cinema brasileiro. Produzidos a partir dos anos 1960, seus filmes foram objeto de debates e polêmicas nos mais diferentes meios – no próprio pensamento cinematográfico, nos meios impressos, no mundo da política e da cultura, entre outros espaços – catalisando ao redor de si um grupo de artistas – e também políticos – que estavam dispostos a compartilhar de sua visão sobre o desenvolvimento da cultura e arte no Brasil. A emergência de Glauber Rocha no interior da cultura brasileira também significou a demarcação de um papel e de uma linha de atuação que não ficou circunscrita ao campo do cinema mas que irradiou-se para outros setores. A sua ambição – registrada em 4 diversos artigos, coletâneas e livros publicados por ele em vida – era reinserir o cinema brasileiro nos debates e fluxos internacionais mas também impelir um rumo e influenciar a vida política no país. Neste artigo vamos analisar a emergência e consolidação de uma liderança no campo da cultura brasileira em um período de rupturas democráticas, aspecto esse que se amplia: podemos atestar que Glauber foi um líder entre seus pares mas também um importante articulador político. O objetivo é analisar os mecanismos pelos quais o artista/cineasta mobiliza a narrativa cinematográfica para expor um conjunto de diferentes lideranças – políticas, sindicais, etc. – mas que também extrapola o universo fílmico ao impor um determinado fluxo junto aos seus colegas e também no interior da vida política no país. O artigo está dividido em duas partes: na primeira examinamos uma documentação histórica para visualizar os diferentes processos pelos quais Glauber Rocha - de forma voluntária - elegeu para si o papel de liderança cultural; na segunda parte analisamos seu filme “Terra em Transe” (1967) a partir da exposição das lideranças abordadas e seu papel contraditório no jogo político desenvolvido naquele contexto. Parte I Glauber Rocha foi o principal articulador do cinema novo, um movimento artístico ligado ao campo cinematográfico com o objetivo de modernizar o cinema brasileiro nos seus aspectos técnicos e estéticos. Os marcos iniciais e finais do movimento são muito variados (podemos citar o documentário Aruanda, de Linduarte Noronha, de 1959 como ponto de partida e A idade da terra, de Glauber Rocha, de 1980, como ponto final) e não nos cabe aqui discutir a cronologia do cinema novo. Importa ressaltar que, entre o final dos anos 1950 até o começo dos anos 1970, uma série de filmes procurou interpretar o Brasil nos seus aspectos políticos e sociais utilizando uma linguagem estética inovadora. Em uma entrevista de 1976, Glauber procurava manter em circulação suas teses sobre o movimento: (o cinema novo) é o único movimento cultural brasileiro que não fracassou. Nós do cinema novo nos mantivemos unidos para a produção de filmes e para a conquista de um mercado. Nunca fomos à caça de dólares. Nossa intuição sempre foi de salvar do subdesenvolvimento a cultura brasileira e a do Terceiro Mundo. E hoje, 5 vindos de uma situação de dependência, tornamo-nos líderes. (Veja, 30/06/1976, p. 75) Vindo da Bahia, Glauber Rocha já tinha filmado Barravento (1961), articulando elementos que seriam recorrentes nos filmes do cinema novo: o jogo entre afirmação da autonomia política e seus entraves, que poderiam ser de ordem religiosa, social ou econômica. O filme ajudou Glauber a expandir sua atuação além do campo do cinema, tornando-se então o líder inconteste do movimento. Assumindo para si o papel de porta- voz cultural, dialogou com críticos de arte, jornalistas, políticos de diferentes perfis ideológicos, sempre enfatizando o caráter revolucionário do que se fazia – e seria visto – nos filmes do cinema novo. Esta defesa de um modelo de cinema e o papel do artista na sociedade tornou-se permanente na vida de Glauber até o fim. 4 O impacto artístico dos filmes de Glauber Rocha, especialmente Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e Terra em Transe (1967), ao lado da repercussão internacional de sua obra, proporcionaram um espaço a ser ocupado e Glauber o fez: os mecanismos originais que mobilizava para a divulgação de suas teses se alargam além dos meios tradicionais – como os veículos de comunicação, por exemplo – e ganham força no sistema político. Se no interior da comunidade cultural a sua liderança era vista como inconteste, as tentativas de interlocução com atores do mundo político serão alvo de uma crescente polêmica dos anos 1960 em diante. 5 A faceta de polemista e de intelectual controverso mantinha Glauber Rocha no centro do debate artístico e político, mas sua personalidade marcante também merece atenção. Suas intervenções no espaço público – seja em festivais