Homem Do Mundo a Busca Da Leveza

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Homem Do Mundo a Busca Da Leveza rascunho.com.br EDIÇÃO 142 DESDE ABRIL DE 2000 O jornal de literatura do Brasil CURITIBA, FEVEREIRO DE 2012 | PRÓXIMA EDIÇÃO 2 DE MARÇO | ESTA EDIÇÃO NÃO SEGUE O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO ARTE: RICARDO HUMBERTO Não trato a literatura com romantismo, nem como se fosse algo fácil. Escolho a história, tento contá-la sem medo, todavia sempre desconfiando da qualidade daquilo que produzi.” Paulo Scott • 4/6 Homem do mundo Crônicas e cartas apresentam um Otto Lara Resende interessado em tudo o que acontecia no chamado espetáculo da vida • 12/14 A busca da leveza Em Italo Calvino, o ensaísta e o ficcionista andam de mãos dadas, jamais ensimesmados em mirabolantes e herméticos arroubos filosóficos • 20/22 FEVEREIRO DE 2012 2 : : eu recomendo : : CHRISTIAN SCHWARTZ CARTAS : : [email protected] : : Liberdade NO FACEBOOK LIBERDADE UEM SOMOS CONTATO ASSINATURA DO JORNAL IMPRESSO CARTAS Liberdade, de Jonathan Franzen, o ro- Jonathan Franzen O Rascunho é um excelente mance estrangeiro mais falado (só espere- Companhia das EDIÇÕES ANTERIORES COLUNISTAS DOM CASMURRO ENSAIOS E RESENHAS ENTREVISTAS PAIOL LITERÁRIO PRATELEIRA NOTÍCIASjornalOTRO de OJO (e sobre) literatura mos que também lido...) no Brasil ultima- Letras feita nesta terra brasilina. mente, levou muitos a se perguntarem se a 334 págs. ESCOBAR FRAN E LAS • Via Fa c e b o o k literatura de ficção não estaria retomando a posição de influência que algum dia já teve. Lá fora, Franzen chacoalhou o esta- Muito bom o jornal Rascunho! blishment político e a grande mídia com Jornalismo literário e cultural do essas 600 páginas que formam um vasto melhor nível. Parabéns pela coluna, painel da América atual, pós-11 de Setem- Affonso Romano! bro, traçado a partir da trajetória dos qua- JÓIS ALB E RTO • Via Fa c e b o o k tro membros da família Berglund. E mais: seu livro anterior, As correções — outras Rascunho, jornalismo literário 600 páginas no mesmo estilo mural de necessário em tempos sombrios uma época, aqui os anos 80 e 90 —, já ar- de ignorância e vale-tudo na rebatara por igual críticos e leitores. Quan- indústria cultural. to a Liberdade, acusaram-no por aqui de RICARDO LE ÃO • Via Fa c e b o o k conservadorismo na forma — “um roman- ção do século 19” que, além disso, traria Jornal porreta! Li umas coisas a marca (o pecado?) original do romance como gênero: o realismo. Não faria senti- CHRISTIAN sobre ficção e realidade que me SCHWARTZ deixaram cruzando o abismo sobre do emular, hoje, Guerra e paz, disseram. o fio da navalha. Gosto de gente Ok, ok. Mas lá vai: li essas irresistíveis É professor universitário, que pensa; me vi aí. Oxalá, vida 1.200 páginas de uma vez e com voracida- jornalista e tradutor. de — e, por isso, eu recomendo. Vive em Curitiba (PR). longa! Sou um seguidor. CLÁUDIO LE AL • Via Fa c e b o o k Interessantíssima a entrevista com a escritora Adriana Lunardi. : : translato : : EDUARDO FERREIRA YARA SOUZA • Via Fa c e b o o k continuidade Quero parabenizar toda equipe As superstições que do Rascunho pela continuidade. Fico feliz em poder fazer parte da história de vocês. assombram a tradução MARCO VASQU E S • Florianópolis – sc pa i o l literário Leio sempre e guardo as superstição assombra o mundo inundar por enxurradas de interpretações A suposta estabilidade do original lhe de formas variadas. Soprada diferentes e, às vezes, conflitantes. dá aura de texto sagrado e intocável. A tradu- reportagens do Paiol Literário. pela irracionalidade, acende a O original se apresenta como alvo mó- ção é fator de desestabilização que vem pro- Procuro nelas material para minhas esperança e atiça o medo. Atua vel, que não se deixa capturar, em sua intei- fanar essa impassível permanência. Não só a palestras, para fechar com as A com força também no campo literário, reza, com facilidade — às vezes nem mesmo tradução, claro. Interpretações heterodoxas minhas opiniões, para discordar especialmente na tradução da literatura. com muita dificuldade. Móvel em muitos podem funcionar igualmente como fator de das mesmas. Enfim, para aprender. A crença na superioridade do texto origi- sentidos, estrutura de inúmeras e comple- desestabilização — e serão duramente criti- Acabo de ler as entrevistas do nal, em relação a sua tradução, é supers- xas articulações, trajeto de muitas veredas e cadas, como as traduções por vezes o são. Nuno Ramos e Ronaldo Correia tição forte e difícil de debelar. A razão pa- rio de muitos meandros. Como dar conta de O texto somente não faz o original. de Brito. Esta última, achei-a rece ser outra crença, ainda mais forte, tanta possibilidade? O tradutor se esmera Há que haver uma interpretação colada a belíssima. O texto, as opiniões, na existência de textos estáveis, perma- no deixar o máximo de pontas soltas, como ele, que lhe dê sentido — a interpretação, a sensibilidade, o discurso, o nentes ou definitivos. no original. Outras soltas ficam — estas digamos, ortodoxa, que funcione como humanismo. Parabéns, mais uma O original ostenta, em geral, a cla- não intencionais, criaturas das novas arti- sua versão autorizada. A tradução poderá vez, por este projeto cultural. ra imagem de texto consolidado. Mas culações do novo texto. As ligaduras — se ou não decalcar a versão autorizada. Caso SE RGIO NAPP • po r t o al e g r e – rs não é. Não são poucos os autores que, na necessárias ou possíveis — serão feitas pelo dela se descole, não apenas representará o releitura, desejam modificá-lo. Alguns o leitor. A sombra de uma ou outra incom- natural processo de desorganização-reor- re s i s t ê n c i a fazem, em edições posteriores. Mesmo preensão sempre permanecerá pairando. ganização do texto em outra língua, mas Estou tomando conhecimento quando o texto não se modifica, altera-se Experiência normal de todo leitor. poderá significar verdadeiro desvio rumo sua interpretação — do próprio autor ou Essas imagens contrastam com a ilu- a tecido textual distinto. do jornal Rascunho, onde de outrem. Sua estabilidade é posta em são da estabilidade que nos é tão cara — e da Em qualquer dos casos — ortodoxia felizmente a literatura encontra xeque. Pouco resta de permanência. qual, de certa forma, precisamos para con- ou heterodoxia — permanece a superstição espaço. Para minha alegria o A tradução é mais um degrau na ceituar o original. É essa solidez que lhe con- da inferioridade das traduções — apontada mundo das letras ainda resiste a escada descendente que leva do Olimpo fere valor e beleza — qualidades essenciais, por Borges, entre outros. Superstição que tanta burrice, alienação globalizada. à planície costeira. Escada cheia de bi- aliás, para transformá-lo em produto. não poupa ninguém, bem incutida que está Poderemos ter esperança de furcações, comparável ao rio que se abre O mesmo princípio vale para o texto no DNA da espécie. Traduziu, transigiu — um Brasil menos inculto? em delta antes de desaguar no oceano. traduzido, que precisa se escorar na fir- necessariamente. E as concessões não serão Espero que sim. Por isso, Nada nesse processo aponta para a per- meza e na invariabilidade do original para sempre unanimemente aceitas: o que nos desejo vida longa ao jornal. manência. Tudo parece indicar turva in- afirmar-se, por sua vez, como novo origi- separa da controvérsia pode ser uma ques- ELSON AL E GR E TTI RODRIGU E S definição, terreno de aluvião que se deixa nal do mesmo texto em outra língua. tão de vírgulas. Versões homéricas. • os a s c o – sp Envie carta ou e-mail para esta seção : : : : com nome completo, endereço e telefone. rodapé RINALDO DE FERNANDES Sem alterar o conteúdo, o Rascunho se reserva o direito de adaptar os textos. As correspondências devem ser enviadas para: al. carlos de carvalho, 655 • conj. 1205 • cEP: 80430-180 • curitiba - PR. O namoro das páginas: Os e-mails para: [email protected]. literatura e história (4) ejamos como o debate acerca da de algum modo, inventado pelo historiador. se baseia na hipótese de que o discurso relação entre literatura e história Hayden White, neste ponto, põe a questão histórico se funda num duplo movimento: se situa em autores mais recentes de que todo relato histórico está a serviço do 1) a fidelidade ao passado (a partir dos do- V(alguns deles em diálogo, aberto fato examinado. Haveria uma correspon- cumentos de que o historiador dispõe); 2) ou tácito, com Aristóteles). Hayden White dência forte entre a construção narrativa e a utilização de uma forma para dizer esse (Meta-história: a imaginação histó- o acontecimento de que o historiador tra- passado (ou a armação de uma intriga apro- rica do século XIX. Trad. José Laurênio ta. Isto é que garantiria a verossimilhança priada a esse passado). Isto significa dizer de Melo. 2a ed. São Paulo: EDUSP, 1995) do relato, o seu poder de persuasão — e o que o historiador, antes de fazer a sua nar- entende que a história é uma narrativa en- faz passar por verdadeiro. É o mesmo que rativa/interpretação de um fato, seleciona e tre outras. O historiador tem como tarefa ocorre com uma narrativa literária. White, agrupa os documentos disponíveis de uma mais importante produzir uma versão plau- com isso, tenta combater uma concepção de certa maneira. Ou seja, configura os acon- sível do passado. De algum modo, ele cria história — em especial, a história positivista tecimentos de antemão, desenha itinerá- um passado. Daí a idéia de White de que a do século 19 — que apostaria em critérios rios. Essa armação de um enredo seria uma obra histórica é um artefato verbal — como científicos fechados, tomando como mode- operação poética. Entrariam nela, de algum o é a obra literária.
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