[Recensão a] RODRÍGUEZ, Casimiro Torres - El reino de los Suevos Autor(es): Freire, José Geraldes Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Publicado por: Clássicos URL URI:http://hdl.handle.net/10316.2/29139; persistente: http://hdl.handle.net/10316.2/29139

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CASIMIRO TORRES RODRIGUEZ, EI reino de los Suevos, Fundación «Barrié de la Maza», La Coruna, 1977, 346 pp., 32 ilustrações.

Recenseámos no n. 35-36, 1983-1984, p. 464-467, da Humanitas a obra de C. Torres Rodriguez La Romana. O apreço pela obra e seu autor e o real interesse que ela tem para todos os estudiosos da Antiguidade do Ocidente Hispâ­ nico levou-nos a desejar conhecer o livro que, do ponto de vista cronológico, é a sua continuação, embora tenha sido publicado anteriormente, Galicia Sueva, como vem apenas na capa de resguardo. Trata-se do fruto da benemerência da Fun­ dação «Pedro Barrié de la Maza, Conde de Fenosa», sediada em La Coruna, que assim apoia o Instituto «P. Sarmiento de Estúdios Gallegos», com sede em Madrid. Este Instituto projectou, desde 1948, uma colecção sob o título de «Galicia Histó­ rica», de que a obra de Torres Rodriguez, de 1977, veio a ser o primeiro volume. Professor universitário em Santiago de Compostela e bibliotecário do Ins­ tituto «Rosalia de Castro», C. Torres utiliza um rigoroso método de investigação cientifica, histórica, jurídica e linguística que o leva a pesquisar lenta e minuciosa­ mente todos os acontecimentos ocorridos na Galaecia desde a invasão dos bárbaros (20.9.409 ou, segundo outros, terça-feira, 13.10.409) até à conquista do reino dos suevos por Leovigildo, no primeiro trimestre de 585. Não se ocupa, porém, apenas dos suevos, mas de toda a movimentação dos bárbaros no Centro e Oeste da Europa desde o séc. III, da vida agitada e agonizante do Império do Ocidente (até 476) e depois ainda da acção na Hispânia dos imperadores bizantinos. Este estudo é conduzido não só à base das fontes literárias da época, como são as obras de Orósio, Hidácio de Chaves, João de Bíclaro, Isidoro de Sevilha e Gregório de Tours, mas ainda dos cronistas e historiadores do Império do Ocidente e do Oriente e dos possíveis contributos de outros escritores, como S. Jerónimo, Santo Agostinho, Paulo Diácono, etc. Além disso, os modernos críticos deste período, como W. Reinhart, M. Macias y Garcia, R. Martinez Murguía e tantos outros, estão continuamente a ser confrontados com as fontes: — ora seguidos, ora corrigidos. Perpassam assim perante nós, além da invasão e do estabelecimento dos suevos na Galécia (cujos limites geográficos são discutidos e precisados, p, 6 e mapa da p. 44), o governo de todos os reis suevos (Hermerico, 409-441; Réquila, 441-448; Requiá- rio, 448-456; Frantão e , 456-459; Remismundo, 459-...; o período obscuro de 468 a 559, de que apenas se conhece o nome e pouco da acção de Teodemundo e Carriarico; Teodomiro, antes de 559-570; Miro, 570-583; Eurico, logo deposto por , 583-585) até à tentativa de sublevação de Amalarico (585) contra a conquista do reino dos suevos por Leovigildo e sua definitiva integração na monar­ quia visigótica até à invasão árabe de 711. Impossível pôr aqui em relevo tantos aspectos da vida da Galécia que foram magistralmente esclarecidos pelo Prof. Torres Rodriguez. Limitemo-nos apenas a indicar alguns pontos em que tomou posição contra outros investigadores : região onde se estabeleceram exactamente os suevos, centrados no conueníus bracarense, com a justa distinção entre a Galécia do Noroeste e a Galécia Mesética, ocupada 350 pelos vândalos asdingos (p. 51-56); situação e nome exacto dos Montes Nerbasos, onde os suevos afastaram o perigo vândalo (p. 61-62); correcção de Austrigonia para Autrigonia como limite oriental da Galécia no tempo de Requiário (p. 79); prova de que os suevos até Réquila eram pagãos e não arianos (p. 111-112 e p. 186-187); importância da batalha do Rio Orbigo, perto de Astorga (5.10.456), que, ganha por Teodorico II, decide do futuro da Hispânia a favor dos visigodos (p. 137-142); identificação de Ájax, como gaulês e não gaiata, o pregador do aria­ nismo aos suevos no tempo de Remismundo (p. 175); toda a curiosa discussão sobre se existe apenas a conversão de Requiário (em 448) e de Teodomiro (em 559) ao catolicismo ou se deve aceitar-se uma prévia conversão de Carriarico (por 550), nome este e relato apenas transmitido por Gregório de Tours e que, além do fundo verdadeiro que é a posterior conversão de Teodomiro, não passará de uma confusão com o nome e conversão de Requiário (p. 197-204); ambiente de diferenciação de civilização, (de liturgia?) e de sentido autonomista dos suevos no tempo de S. Mar­ tinho de Braga (p. 213-214); clara distinção entre Teodomiro e Miro (p. 230-231); identificação dos runcones ou roccones ou arragones ou aragonês atacados por Miro, com «um povo vasco que controlava a passagem dos Pirenéus, que pode ter deixado marcas da sua existência no toponímico Vale de Roncai» (p. 240-243); tentativa de conciliar os Aregenses Montes, atacados por Leovigildo, com os loca Auregen- sium, vocábulo que estará na etimologia de Orense (p. 247-248); apresentação do carácter de Miro como o de um rei místico, «no estilo de S. Luís, de Otão III e de Filipe II» (p. 255); convicção de que a revolta de Audeca não foi uma manobra palaciana, mas um autêntico conflito político-militar (p. 262-263); notícia sobre os concílios de Braga, o de Lugo (569) e outros supostamente realizados na Galiza (p. 274-281); etc. Numa obra com tanto interesse e com tão abundante documentação, é natural que alguns lapsos tenham passado. Lembremos, em primeiro lugar que, embora publicada em 1977, a G alicia Sueva estava dada como pronta para publicação em 1974, como o Autor diz ao citar a obra de A. Tranoy sobre Hidácio (p. 21 e 299). Porém, a propósito de Prisciliano, algumas vezes cita ainda a magistral obra de H. Chad- wick (1976). Sendo assim, também ao tratar de Paulo Orósio poderia ter acrescen­ tado à edição de 1889 (p. 18), a nova revisão Le Storie contro i Pagani, a cura di Adolf Lippold, Traduzione di Aldo Bartalucci, 3 vols. (Aldo Mondadori, Milano, 1976). O leitor actualizado sabe ainda que desta obra saiu em 1986 a tradução História contra os pagãos, pelo Dr. José Cardoso (Braga, Universidade do Minho). «No primeiro de Janeiro, em Narbona, casa Ataúlfo com Gala Pla- cídia» (p. 42). Mas de que ano? — Impossível responder pelo contexto, senão que entre 411 e 415. Anotámos também algumas datas erradas. Em pleno ambiente de lutas, entre os bárbaros, no século VI é mencionada a vitória dos francos sobre os godos na Gália em 407 (ou referir-se-á antes a 507?) cf. p. 194. Também (p. 279) se diz que o Parochiale Suevum deve ter sido redigido «entre os anos 572 e 592», dentro do reinado de Miro (570-555)! A data supostamente exacta é a de entre 572 e 582, como se lê na p. 277 (cf. Pierre David, Études, p. 68). Menos de esperar seria que fosse colocada a morte de S. Martinho de Braga em 580 (cf. p. 206-207) quando faleceu «a 20 de Março de 579 (...) segundo o testemunho fidedigno do Breviário de Soeiro e não em 580, como afirmam outros», no dizer rigoroso de 351

Avelino de Jesus da Costa, S. Martinho de (Braga, 1950, p. 16). O mapa das Dioceses Suevas e seus Bispos (p. 196), que poderia ser um muito útil instrumento de trabalho, parece-nos algo arbitrário. Existiriam então as dioceses de Bragança, Zamora e Ciudad Rodrigo, como vemos aqui apontadas? Cremos que esta última se encontra ali por confusão com Caliábria, hoje arqueologicamente bem identi­ ficada no antigo concelho de Almendra (Vila Nova de Foz Côa). Aliás, ao resumir o Parochiale Suevum (p. 278-281), vem citada entre as paróquias de Viseu, uma com o nome de «Calibrica»! E a par destes, outros pequenos erros e omissões. Por exemplo, causa má impressão o facto de as palavras gregas virem mal acentuadas ou não terem acento (p. 61 e 216). Pascásio de Dume, um tradutor bem individualizado, sobre cuja Versão latina dos Apophthegmata Patrum publicámos dois volumes, já em 1971, não chegou a merecer três linhas, estando ainda errado o título da sua obra (p. 304). A par do índice de pessoas, lugares e temas (p. 307-340), faz muita falta um índice de bibliografia antiga e moderna. O índice de gravuras (p. 341-342) remete para uma das belezas documentais desta valiosa obra. Do mesmo modo é muito útil o índice de figuras (p. 343), isto é, de mapas, desenhos de moedas, de igrejas e de inscrições sepulcrais. Pela publicação da Galicia Romana e da Galicia Sueva vivamente felicitamos a Fundação «Pedro Barrié de la Maza», da Corunha. Pena é que o Prof. Dr. Casi­ miro Torres Rodriguez não tenha vivido o bastante para nos deixar escritos os seus projectados estudos sobre a Galicia Visigótica e sobre Paulo Orósio. Restam-nos sobre estes e outros temas galegos os numerosos artigos que deixou dispersos por diversas revistas. JOSé GERALDES FREIRE

MARIA CLARA DE ALMEIDA LUCAS, Hagiografia Medieval Portuguesa, Ministério da Educação, Lisboa, 1984, 143 pp.

O Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, na sua Biblioteca Breve, através da Série Literatura, publica como seu n.° 89, esta interessante obra de Maria Clara de Almeida Lucas, docente de Teoria da Literatura na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. No prefácio (p. 9-13) situa a obra literária na Idade Média, especialmente a tradução, meio através do qual nos chegaram 19 vidas de santos portugueses. Notemos que há, de facto, em todas as literaturas, vidas escritas «depois de séculos de oralidade» (p. 11). A este número não pertencem, porém, as narrativas «da história de Cristo e dos Evangelhos»! Os primeiros testemunhos, se partiram de um relato oral, foram consignados por escrito por testemunhas oculares ou pelo menos por ouvintes da primeira geração cristã. O cap. I, As edições de Quinhentos (p. 15-20) e II, Hagiografia... Medieval. Até quando? (p. 21-31) traçam-nos um utilíssimo quadro das edições (seus autores