Do Ressentimento À Cicatriz: Memória E Exílio Em Ferreira Gullar
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VIVIANE APARECIDA SANTOS DO RESSENTIMENTO À CICATRIZ: MEMÓRIA E EXÍLIO EM FERREIRA GULLAR PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS: TEORIA LITERÁRIA E CRÍTICA DA CULTURA Novembro de 2010 VIVIANE APARECIDA SANTOS DO RESSENTIMENTO À CICATRIZ: MEMÓRIA E EXÍLIO EM FERREIRA GULLAR Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Letras da Universidade Federal de São João del-Rei, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Letras. Área de Concentração: Teoria Literária e Crítica da Cultura Linha de Pesquisa: Literatura e Memória Cultural Orientadora: Profª. Drª. Maria Ângela de Araújo Resende PROGRAMA DE MESTRADO EM LETRAS: TEORIA LITERÁRIA E CRÍTICA DA CULTURA Novembro de 2010 VIVIANE APARECIDA SANTOS DO RESSENTIMENTO À CICATRIZ: MEMÓRIA E EXÍLIO EM FERREIRA GULLAR Banca Examinadora: Profª. Drª. Maria Ângela de Araújo Resende - UFSJ Orientadora Profa. Dra. Terezinha Maria Scher Pereira- UFJF Profa. Dra. Eliana da Conceição Tolentino – UFSJ Profa. Dra. Eliana da Conceição Tolentino Coordenadora do Programa de Mestrado em Letras São João del-Rei, 05 de novembro de 2010 A arte existe porque a vida não basta. Ferreira Gullar AGRADECIMENTOS A Deus, fonte primeira de inspiração e grande responsável por esta vitória. À Maria Ângela que, mais do que orientadora, foi uma amiga paciente e compreensiva, sempre apontando os caminhos a serem trilhados. Obrigada por acreditar na minha capacidade, por contribuir para o meu crescimento. Agradeço os direcionamentos, interferências e contribuições tão necessárias e decisivas para a realização deste trabalho. A meus pais, Heitor e Maria, a quem eu devo tudo o que tenho e sou. Obrigada pelo exemplo de vida que sempre foram para mim; pelo incentivo, apoio e paciência diários e pela confiança que sempre depositaram em meu potencial. Esta vitória é de vocês! A minha irmã, Ana Maria, pela paciência em dias conturbados e sem inspiração. A minha irmã, Andresa, que, onde quer que esteja, sei que pediu a Deus para que eu cumprisse esta etapa tão importante da minha vida. A minha avó, Herondina, por seu afeto e ternura. A meus professores do mestrado, com quem aprendi não apenas conteúdos acadêmicos, mas lições concretas de humildade e respeito. Agradeço a vocês pela competência, seriedade e compreensão. Não poderia deixar de mencionar de maneira especial minha gratidão à Profª. Adelaine, que desde a graduação sempre acreditou no meu potencial e incentivou-me a continuar meus estudos. Agradeço ainda ao Prof. Cláudio Leitão que, na graduação, concedeu a mim a oportunidade de pesquisar e conhecer Ferreira Gullar. Vocês foram (e são) muito importantes em minha formação acadêmica. Aos amigos do mestrado, Rafael, Erivelton, Aílton, Anielli, Kátia, Juçara, Sérgio, Anamélia e Michelli. Aprendi muito com vocês e com vocês vivi os momentos mais felizes do meu mestrado. Obrigada pelo companheirismo, apoio, desabafos e pela troca de experiências. A minhas amigas Bete e Natália, presentes desde o dia da prova de seleção do mestrado. Obrigada pelo apoio e incentivo naquele momento tão difícil e, agora, por comemorar comigo mais esta vitória. À Ana Paula, amiga que sempre procurou tranquilizar-me nos momentos de desespero e falta de inspiração. Obrigada por ouvir meus desabafos e sempre ter uma palavra de incentivo para mim. À Lílian, revisora do meu texto, por sua competência, seriedade e perfeccionismo. À CAPES, pelo apoio financeiro que foi fundamental durante o curso. RESUMO Este trabalho propõe uma leitura de Poema sujo (1976) e Rabo de foguete (1998), de Ferreira Gullar, através da reflexão sobre o processo de construção da escrita memorialista, de modo a estabelecer relações entre memória e exílio. Conceitos como história, identidade, autobiografia e ficção, propostos pelas recentes teorias, foram importantes para que se pudesse construir um modo de leitura dessas obras, não perdendo de vista o conjunto da obra do autor e sua atuação como intelectual nos últimos sessenta anos da história brasileira, através de sua atividade artística, literária e intelectual. Ao discutirmos parte da poética de Gullar, procuramos buscar os pontos-chave que a nortearam e que configuram sua temática. Considerando o entrelaçamento entre as duas obras estudadas e o papel não somente literário, mas também histórico e político desempenhado por elas, abordamos as questões que se colocaram a partir da conflituosa relação entre memória, ficção e exílio. Palavras-chave: Ferreira Gullar, Literatura, memória, exílio, autobiografia. ABSTRACT The aim of this work is to read Poema Sujo (1976) and Rabo de foguete (1998) by Ferreira Gullar, reflecting about the process of writing memories in order to establish relations between memory and exile. Concepts such as history, identity, autobiography and fiction proposed by current theories were important to build a way of reading these poems. The poems have been analyzed without disregarding the author’s collection of works and his performance as an intellectual in the last sixty years of Brazilian history, through his artistic, literary and intellectual activity. When discussing part of Gullar’s poetry, we tried to find the key facts which guided it and built its main themes. Bearing in mind the relation between the two studied poems and their literary, historical and political role, we have approached the questions raised by the conflicting relation among memory, fiction and exile. Keywords: Ferreira Gullar, Literature, memory, exile, autobiography. SUMÁRIO Introdução.............................................................................................................09 Capítulo 1. A trajetória poética de Ferreira Gullar ...........................................17 1.1. Da paixão nordestina à consciência artística: Gullar sai do Maranhão e ganha as terras cariocas....................................................21 1.2. Gullar: de A luta corporal (1954) a Muitas vozes (1999).................24 Capítulo 2. A vida à margem: exílios..................................................................58 2.1. Exílios..............................................................................................59 2.2. O exílio sob o viés da memória de Ferreira Gullar..........................64 Capítulo 3. Ferreira Gullar: militância política e poética................................105 3.1. Ferreira Gullar: do neoconcretismo ao cordel................................108 3.2. A cultura e a arte sob a ótica de Ferreira Gullar............................122 3.3. O intelectual resiste em tempos de ditadura..................................127 3.4. O intelectual exilado.......................................................................130 3.5. O intelectual hoje...........................................................................134 Considerações finais.........................................................................................137 Bibliografia.........................................................................................................143 INTRODUÇÃO A memória constitui tema de interesse consolidado na crítica contemporânea, uma vez que a escrita autobiográfica e a memorialista suscitam caminhos teóricos sempre novos. Assim, os debates atuais que abordam essa questão indicam um direcionamento voltado para a revisão do passado e a forma pela qual o passado e a tradição têm sido (re)inventados e transmitidos. Há um grande interesse, acadêmico ou não, pelo que foi feito, dito ou escrito. Andreas Huyssen, no texto “Passados presentes: mídia, política, amnésia” (2000), defende que tal interesse não se configura pelo mero desejo de armazenar ou recuperar informações, mas pela vontade de se repensar o passado e o presente e, ainda, por entender o modo como se dá a inserção do sujeito histórico nesse tempo de transição. O discurso memorialista, então, passa a ganhar cada vez mais terreno no campo intelectual, tendo em vista que esta forma de expressão vai além de um processo literário de escrita, estando intimamente ligada às representações culturais, históricas, políticas e identitárias. Segundo Huyssen (2000), essa memória poderia ser considerada um instrumento de revisão da memória oficial, aquela aceita pela maioria e oficializada através de uma “violência simbólica”, como diria Michael Pollak, no texto “Memória, esquecimento, silêncio” (1989), ao fazer uso da expressão antes cunhada por Pierre Bordieu. Essa violência simbólica seria a forma encontrada pelos grupos dominantes, por assim dizer, de “oficializar” seu modo de ser, pensar e agir, incutindo nas classes dominadas suas ideias e costumes. Trata-se da tentativa de legitimar o ilegítimo de maneira tão hábil e sutil que a dominação imposta seja vista como algo natural e inevitável. Essa forma de violência se dá em diversos âmbitos e proporções, mas a cultura é o principal elemento em que ela se manifesta. O teórico alemão, no entanto, posiciona-se em defesa das memórias coletivas não reconhecidas pelos sujeitos hegemônicos, com o intuito de preservar a memória cultural. Ao refletir sobre a chamada “cultura da memória”, Huyssen, agora no livro Memórias do modernismo (1996), afirma que, a partir dos anos de 1980, a cultura modernista, apostando no futuro, começou a mudar o foco de sua atenção, de modo que houve, em todo o mundo, uma verdadeira explosão do 11 discurso da memória como um grande sintoma cultural nas sociedades ocidentais (HUYSSEN, 1996, p.12). A ideia era, a partir daquele momento, recolocar passados no presente, como uma tentativa conservadora, política, cultural e ideológica de restaurar,