Revista-Brasileira-37.Pdf

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Revista-Brasileira-37.Pdf Revista Brasileira o Fase VII OUTUBRO-NOVEMBRO-DEZEMBRO 2003 Ano IX N 37 Esta a glória que fica, eleva, honra e consola. Machado de Assis ACADEMIA BRASILEIRA REVISTA BRASILEIRA DE LETRAS 2003 Diretoria Diretor Alberto da Costa e Silva – presidente João de Scantimburgo Ivan Junqueira – secretário-geral Lygia Fagundes Telles – primeira-secretária Conselho editorial Carlos Heitor Cony– segundo-secretário Miguel Reale, Carlos Nejar, Evanildo Bechara – tesoureiro Arnaldo Niskier, Oscar Dias Corrêa Membros efetivos Produção editorial e Revisão Affonso Arinos de Mello Franco, Nair Dametto Alberto da Costa e Silva, Alberto Venancio Filho, Alfredo Bosi, Ana Maria Machado, Assistente editorial Antonio Olinto, Ariano Suassuna, Frederico de Carvalho Gomes Arnaldo Niskier, Candido Mendes de Almeida, Carlos Heitor Cony, Carlos Nejar, Celso Furtado, Projeto gráfico Eduardo Portella, Evandro Victor Burton Lins e Silva, Evanildo Cavalcante Bechara, Evaristo de Editoração eletrônica Moraes Filho, Pe. Fernando Bastos Estúdio Castellani de Ávila, Ivan Junqueira, Ivo Pitanguy, João de Scantimburgo, João Ubaldo ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS Ribeiro, José Sarney, Josué Montello, Av. Presidente Wilson, 203 – 4o andar Lêdo Ivo, Lygia Fagundes Telles, Rio de Janeiro – RJ – CEP 20030-021 Marcos Vinicios Vilaça, Miguel Reale, Telefones: Geral: (0xx21) 3974-2500 Moacyr Scliar, Murilo Melo Filho, Nélida Setor de Publicações: (0xx21) 3974-2525 Piñon, Oscar Dias Corrêa, Paulo Coelho, Fax: (0xx21) 2220.6695 Sábato Magaldi, Sergio Corrêa da Costa, E-mail: [email protected] Sergio Paulo Rouanet, Tarcísio Padilha, site: http://www.academia.org.br Zélia Gattai. As colaborações são solicitadas. Sumário Editorial . 5 PROSA JOSUÉ MONTELLO Uma explicação da conferência de Graça Aranha. 9 MIGUEL REALE Variações sobre a humildade . 15 CELSO FURTADO A responsabilidade dos cientistas . 19 BASÍLIO LOSADA A literatura brasileira vista da Espanha. 25 IVAN TEIXEIRA Literatura como imaginário: introdução ao conceito de poética cultural . 43 RUBENS RICUPERO Prefácio ao Livro do Museu de Arte de Brasília . 69 DORA FERREIRA DA SILVA Hoelderlin, a proximidade e a distância do Sagrado . 75 J.O. DE MEIRA PENNA Nietzsche e a loucura . 87 Prêmio Senador José Ermírio de Moraes – 2003 MIGUEL REALE Sentido universal da Poesia. 95 BRUNO TOLENTINO Discurso . 105 CICLO DOS FUNDADORES DA ABL JOÃO DE SCANTIMBURGO O fundador José do Patrocínio . 115 MURILO MELO FILHO Patrocínio: um jornalista na Abolição . 125 OSCAR DIAS CORRÊA O ficcionista Inglês de Sousa. 149 ALBERTO VENANCIO FILHO O fundador Valentim Magalhães . 167 EVANILDO BECHARA Silva Ramos: mestre da língua . 205 POESIA IVAN JUNQUEIRA O que me coube . 221 MARCELO DINIZ Ócio / Agulhas . 223 LENA JESUS PONTE Soneto volátil / Neve sobre brasa. 225 ILDÁSIO TAVARES Restos / Sem título . 227 HILDEBERTO BARBOSA FILHO Distonia poética / Insônia . 229 FOED CASTRO CHAMMA Inverno . 231 GERALDO HOLANDA CAVALCANTI Fim de verão em Itaipava . 235 HELENA ORTIZ Ante-sala . 238 PAULO BOMFIM Poemas . 239 GUARDADOS DA MEMÓRIA SYLVIO B. PEREIRA À margem das Décadas. 249 Editorial om este número encerramos mais um ano na tarefa que nos Cpropusemos de cultuar as letras no Brasil, fazendo-o de vári- as opções, uma delas com a edição da Revista Brasileira, considerada por todos os seus leitores como a melhor revista do país, tanto pelo conteúdo de suas matérias, como pela elegância da forma com que é apresentado o seu sumário. Neste número Josué Montello traz a lume a participação de Graça Aranha na Semana de Arte Moderna, para sermos mais precisos, no Modernismo, pois, ademais da confe- rência no Teatro Municipal de São Pauto, na abertura da própria Semana, ainda foi o autor do episódio de que foi palco a própria Academia Brasileira de Letras. O elegante Graça Aranha saiu carre- gado nos ombros de vários intelectuais, dentre eles Alceu Amoroso Lima, já crítico literário de nomeada em todo o Brasil, em início de uma gloriosa carreira de maître à penser de uma fase da evolução literá- ria do país. Miguel Reale, uma das glórias da inteligência brasileira, nos escreve sobre a humildade, essa virtude que falta a tanta gente e que, não raro, tanto mal a sua lacuna acarreta às relações sociais, principalmente no campo da literatura. Temos um conto de Dora Ferreira da Silva, erudita cultora de vários gêneros literários, em to- dos com superioridade. Evanildo Cavalcanti Bechara apresenta um estudo sobre o filólogo Silva Ramos, mestre da língua, que mereceu Editorial 5 Editorial Editorial de Alcântara Machado um dos mais belos elogios que já se ouviu nas sessões de posse da Academia. Em seguida, Rubens Ricupero, grande diplomata bra- sileiro, servindo em Genebra, escreve sobre Wladimir Murtinho, o saudoso Wladimir, que nos deixou, partido para o outro lado, para uma das moradas de Deus Nosso Senhor, à espera dos companheiros que aqui deixou. Na segunda parte, dedicamos a Revista às comemorações de acadêmicos fundadores, que devem ser lembrados, para não ficarem perdidos seus nomes ilustres no limbo do esquecimento. Terão os leitores a série de conferências proferidas na Academia sobre membros da Ilustre Companhia: Valentim Ma- galhães, Inglês de Sousa, José do Patrocínio. Temos ainda a seção da Revista dedicada à poesia. São os novos que vêm, cada qual com sua contribuição à Musa eterna, sem a qual, queira-se ou não, o ser humano não pode viver. Provam-no os grandes nomes do mundo, desde o Graça Aranha no Salão Nobre da ABL, no dia 19 de junho de 1924, lendo sua conferência. Foto publicada na mesma tarde pelo jornal A Noite. No medalhão, uma das atitudes do conferencista. 6 Editorial passado remoto de Homero aos dias de hoje, com tantas manifestações poéti- cas que é difícil destacar, sem cometer injustiças, um ou outro nome, salvo quando se trata de poetas que ultrapassaram os limite da plena inspiração para se colocarem na área do gênio. E esse o motivo por que deixamos ao leitor a leitura dos poetas e o julgamento, íntimo ou não, da qualidade da poesia que assimilaram. Finalmente, temos um Guardado da Memória dos mais curiosos, que acolhemos para reviver, nas páginas da Revista as Décadas, que Sylvio Perei- ra, um colaborador do Jornal do Brasil, escreveu no remotíssimo ano de 1925. Não envelheceu esse texto, pois as Décadas são sempre as mesmas para encantar os leitores com as suas referências de importância histórica. Esse o comentário que fazemos, a título de editorial da Revista Brasileira que encerra um ano civil, mas que continuará para gáudio dos nossos leitores. 7 Carta de Graça Aranha a Afonso Celso Acervo do Arquivo da ABL – Cadeira 38 Uma explicação da conferência de Graça Aranha Josué Montello Membro da ABL (Cadeira 29) desde 1954. uando Graça Aranha, a 19 de junho de 1924, proferiu a sua Além de conferência polêmica sobre o Espírito Moderno, propon- romancista e Q ensaísta, é autor do na Academia Brasileira de Letras a morte da própria Academia, se de várias obras esta não se colocasse ao lado dos moços que se batiam pela renova- de história ção total de nossa literatura, várias foram, ao tempo, as interpreta- literária e sobre a ções suscitadas por seu gesto rebelde. Como entender-lhe a rebelião? Academia, entre as quais O Como explicar-lhe a atitude intempestiva, querendo pôr a pique o presidente Machado barco de que era também tripulante? de Assis, e Diplomata, homem de sociedade, discípulo de Joaquim Nabuco, organizador do volume O o mestre de Canaã era o homem polido por excelência, sem deixar modernismo na sentir na sua elegância de maneiras o homem de lutas que se revelaria Academia, reunião de textos básicos de repente na tribuna da Academia. e artigos sobre o Dois anos antes, em fevereiro de 1922, na conferência com que movimento inaugurou a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São modernista. 9 Josué Montello Paulo, havia ele ensaiado a sua oposição à Academia. Mas, entre essa conferên- cia e a outra, o acadêmico parecia reconciliado com a instituição, tanto assim que, assíduo às suas sessões, delas participou sem dar mostras de que iria bre- vemente romper com ela. O gesto de rebeldia, contrastando com a mansidão da figura polida, tinha de se constituir numa indagação. Por que o diplomata de ontem, tão fino, tão educado, se colocara à frente da insurreição dos moços, atirando pedradas na própria Casa? Houve quem dissesse, para responder a essa pergunta, que Graça Aranha, de regresso ao Brasil como diplomata aposentado, tentava, com aquela atitude, refazer à sua volta o ambiente de prestígio que os muitos anos de ausência ti- nham desvanecido. Afirmou-se ainda que, escritor de poucos livros, tendendo a levar mais a sé- rio a vida literária que a literatura, nada mais havia feito do que transformar o Modernismo em excelente pretexto para ocupar a cena como figura de primei- ro plano, arvorando-se em chefe do movimento com a autoridade do seu gran- de nome. Na verdade, teimava no escritor, por ocasião de seu regresso ao Brasil, não obstante o decreto de aposentadoria que o mandava descansar, um saldo de ju- ventude, confirmado por seu pendor a entusiasmar-se com as idéias novas. Esse saldo de juventude identificava-o com os moços. E era ainda um traço de união com o seu passado, visto que Graça Aranha, ao tempo de sua juventu- de, vivera sob o fascínio de Tobias Barreto, que elegera como seu patrono na Academia e em cujo exemplo recolhera a lição do escritor em perene rebeldia contra todas as formas de apego excessivo aos valores consagrados. A lição de Tobias Barreto, recolhida assim na mocidade, ia servir de modelo a Graça Aranha no declínio da maturidade, quando ele se encontrou com os moços da Semana de Arte Moderna. No famoso terror cósmico, a que reiteradamente aludiu na sua nebulosa fi- losofia literária da estética da vida, militava, em última análise, como princípio e substância, o terror da velhice.
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