O Mandonismo Mágico Do Sertão
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA - PPGH Luís Carlos Mendes Santiago O MANDONISMO MÁGICO DO SERTÃO CORPO FECHADO E VIOLÊNCIA POLÍTICA NOS SERTÕES DA BAHIA E DE MINAS GERAIS - 1856-1931 - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES Montes Claros, maio de 2013 Luís Carlos Mendes Santiago O MANDONISMO MÁGICO DO SERTÃO CORPO FECHADO E VIOLÊNCIA POLÍTICA NOS SERTÕES DA BAHIA E DE MINAS GERAIS (1856-1931) Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Montes Claros como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em História. Área de concentração: História Social Linha de pesquisa: Poder, trabalho e identidades Orientadora: Profa Dra Carla Maria Junho Anastasia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA - PPGH Montes Claros, maio de 2013 Santiago, Luís Carlos Mendes. S235m O mandonismo mágico do sertão [manuscrito] : corpo fechado e vio- lência política nos sertões da Bahia e de Minas Gerais – 1856-1931 / Luís Carlos Mendes Santiago. – 2013. 194 f. Bibliografia: f. 184-194. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, Programa de Pós-Graduação em História/PPGH, 2013. Orientadora: Profa. Dra. Carla Maria Junho Anastasia. 1. Mandonismo local - Norte de Minas (MG) - Centro-sul - Bahia (BA). 2. Corpo fechado - Crença. 3. Sertão. 4. Dominação carismática. I. Anas- tasia, Carla Maria Junho. II. Universidade Estadual de Montes Claros. III. Título. IV. Título: Corpo fechado e violência política nos sertões da Bahia e de Minas Gerais - 1856-1931. Catalogação Biblioteca Central Professor Antônio Jorge Catalogação Biblioteca Central Professor UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA - PPGH Dissertação intitulada “O mandonismo mágico do sertão - Corpo fechado e vio- lência política nos sertões da Bahia e de Minas Gerais (1856-1931)” aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores. _________________________________________ Profa Dra Carla Maria Junho Anastasia - Orientadora (UNIMONTES) ________________________________________ Prof. Dr. Áureo Eduardo Magalhães Ribeiro (UFMG) ________________________________________ Prof. Dr. Renato da Silva Dias (UNIMONTES) ______________________________________ Profa Dra Ilva RUAS DE ABREU Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História - PPGH / UNIMONTES Montes Claros, 7 de maio de 2013 RESUMO A presente dissertação analisa a política das pequenas localidades do norte de Minas e do centro-sul da Bahia ao longo do Segundo Império e da Primeira Repú- blica por meio da crença no carisma do Corpo Fechado (invulnerabilidade mágica a disparos de arma de fogo e golpes de arma branca), atribuído a quatro mandões locais: o padre José Vitório de Souza, o subdelegado Afonso Lopes Moitinho, Antônio Antunes de França (o bandido Antônio Dó, originalmente proprietário de terras) e o coronel Horácio de Matos. Primeiramente são estudadas as peculiarie- dades e as origens da crença no corpo fechado, passando-se, em seguida, a uma análise do contexto geográfico no qual esses mandões estavam inseridos, enfati- zando a situação de fronteira, não apenas entre a Bahia e Minas Gerais, mas tam- bém entre áreas de exploração econômica da mineração e da pecuária extensiva, além da vizinhança das áreas “oficialmente” colonizadas com povos indígenas, quilombolas e outras populações tradicionais sertanejas. Passa-se então à análise da situação de violência coletiva endêmica, e mesmo de guerra, nas regiões onde esses mandões atuavam, focalisando preliminarmente as instituições dessa forma de violência para em seguida estudar quatro “guerras”, começando com os con- flitos de natureza política nas margens mineiras do São Francisco, prossseguindo com a guerra mais bem caracterizada na região da Chapada Diamantina, inclusive a passagem da Coluna Prestes pela região (1926), quando os revolucionários se bateram com os mandões locais; e terminando com a luta entre clãs partidários dos “mocós” e dos “tamanduás”, que teve lugar na região de Vitória da Conquista (1895). A última parte da dissertação é dedicada ao estudo dos carismas próprios dos mandões locais, inclusive a atuação política de sacerdotes católicos, e o as- sassinato entendido como instrumento para acabar com dominações demasiada- mente carismáticas. PALAVRAS-CHAVES: Mandonismo local, corpo fechado, sertão, dominação carismática. ABSTRACT This dissertation examines the politics of small towns in the north of Minas Gerais and southern and central Bahia throughout the Second Empire and the First Re- public analysing the belief in the charisma of Corpo Fechado (magic invulner- ability to gunfire and weapon hits) assigned to fourmandões (local bosses): father José Vitório de Souza, the subdelegado (kind of sherif) Afonso Lopes Moitinho, Antônio Antunes de França (bandido Antônio Dó, originally landowner) and Col- onel Horácio de Matos. Firstily we studie the peculiarities and the origins of the Corpo Fechado belief, passing then to an analysis of the geographical context in which these mandões were inserted, emphasizing the frontier situation, not only the border between Bahia and Minas Gerais, but also the frontier between areas of economic exploitation of mining and ranching, and indeed the vicinity of “of- ficially” colonized areas with indigenous peoples, Maroons and other traditional hinterland populations. From then on the dissertation focus the endemic collec- tive violence, and even war, in the regions where these mandões acted, studing preliminarily the institutions of this forms of violence and passing to the analysis of four “wars”, starting with the conflicts of a political nature on the São Fran- cisco region, passing to better characterized war in the Chapada Diamantina, in- cluding the passage of the Prestes Column through the region (1926), when the revolutionaries have fought with the local bosses; and concluding with the inter- clan fighting between partisans of “mocós” (cavies) and “tamanduás” (anteaters), which took place in the region of Vitória da Conquista (1895). The last part of the dissertation is devoted to the study of the charisms of local mandões, including political action of Catholic priests and the murder understood as a tool to finish too charismatic dominations. KEYWORDS: Local authoritarism, corpo fechado, sertão, charismatic domination. DE D ICO ESTE TRABALHO A CLIO , A MUSA D A HISTÓRIA , D EUSA D AS FONTES D E ÁGUAS TURVAS , MAS SABOROSAS AGRADECIMENTOS Conforme o costume sertanejo, agradeço primeiramente a Deus, depois à minha família, sobretudo aos meus pais, Haroldo e Marina, sem quem esta dissertação não existiria. Aos professores da graduação no curso emergencial de História, ministrado pela UNIMONTES em Pedra Azul, em particular Marina Queiroz e César Porto, que “provocaram” as ideias contidas nesta dissertação, e Wilma Amaral, que me fez pensar pela primeira vez em fazer um mestrado. A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em História da UNIMONTES, em particular a Carla Anastasia, que para mim é a “Professora”, e também a Renato Dias, Simone Lessa, Rejane Meirelles, pelas valiosas indicações, e ainda a Regina Calheiro, Laurindo Méckie e Ilva Ruas, que dirigiram o programa ao longo destes dois anos. Um agradecimento especial ao professor Eduardo Magalhães Ribeiro, do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, cujos trabalhos têm permitido uma melhor compreensão acerca das especificidades da história das populações tradicionais, pelos seus conselhos oportunos. Agradeço ainda a todos que me deram suporte: livreiros, bibliotecários, informantes, etc., sem esquecer a CAPES, com a bolsa que permitiu que eu me dedicasse a esta pesquisa. Agradeço aos diretores do Cinema Novo, Nelson Pereira dos Santos e, postumamente, a Glauber Rocha e a Schubert Magalhães, que influenciaram minha adolescência e agora inspiram esta pesquisa. Por último, agradeço também postumamente aos mandões cujos desatinos revelaram tantos elementos da cultura sertaneja. O caminho está aberto. Métodos, meios, abordagens poderão variar (já se sabe disso), mas é importante estabelecer que não haverá história completa, muito menos história rural digna desse nome, enquanto não for possível fazer uma prospecção sistemática da vida das pessoas que estão abaixo do estágio de mercado. Fernand Braudel Civilisation matérielle, économie et capitalisme (trad. nossa) Enfrentar a morte e as irracionalidades do destino humano com coragem é para o guerreiro uma coisa cotidiana, e os riscos e aventuras deste mundo ocupam tanto espaço em sua vida que não exige nem aceita de bom grado de qualquer religião outra coisa que não a proteção contra feitiçarias e ritos adequados ao sentimento de dignidade estamental, que se tornam componentes da convenção estamental, e, quando muito, ainda preces sacerdotais pela vitória ou por uma morte feliz, que conduza ao céu dos heróis. Max Weber Economia e sociedade Política! Tudo política, e potentes chefias. João Guimarães Rosa Grande sertão: veredas Lá na roça, quando quebraram a cabeça ao juiz de paz, disseram que era por política; o que achei esquisito, porque política seria não quebrar a cabeça... Machado de Assis Contos fluminenses SUMÁRIO INTRO D UÇÃO ..................................................................................................................................11 Capítulo 1 - O CORPO FECHA D O .........................................................................................................21