A Tolerância Como Um Valor Central Na Configuração Das Instituições E Práticas Das Relações Internacionais Da Modernidade
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS RAPHAEL SPODE A tolerância como um valor central na configuração das instituições e práticas das relações internacionais da modernidade Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Relações Internacionais do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Relações Internacionais. Orientador: Prof. EIITI SATO , Dr. Brasília, 2007 AGRADECIMENTOS À Universidade de Brasília. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, pelo financiamento desta pesquisa. Ao orientador desta dissertação e amigo, professor Eiiti Sato. Aos professores do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. À professora Ana Flávia Granja e Barros, pela orientação nos primeiros passos desta pesquisa. Ao professor Antônio Jorge Ramalho da Rocha, pela qualificação do projeto de pesquisa e correção de rumos deste estudo. Aos colegas do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade de Brasília, turma de 2005. À secretaria do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade de Brasília, na pessoa prestimosa da Sra. Odalva de Araújo Otavio. À professora Cristina Y. A. Inoue e ao professor Frederico Seixas Dias, pela orientação amiga durante a prática supervisionada de ensino em Relações Internacionais. Ao pai Germano, à mãe Carmem e ao irmão Guilherme, pelo amor que vivifica, consola e alivia. Ao Sr. Marco Maciel, a Sra. Wanda Maciel, a Sra. Karine Maciel e ao amigo Alex Maciel pela amizade e mão amiga sempre presente. ii “Não é mais aos homens que me dirijo, é a ti, Deus de todos os seres, de todos os mundos e de todos os tempos. Se é permitido a frágeis criaturas perdidas na imensidão e imperceptíveis ao resto do universo, ousar te pedir alguma coisa, a ti que tudo criaste, a ti cujos decretos são imutáveis e eternos, digna-te olhar com piedade os erros decorrentes de nossa natureza. Que esses erros não venham a ser nossas calamidades. Não nos deste um coração para nos odiarmos e mãos para nos matarmos. Faz com que nos ajudemos mutuamente a suportar o fardo de uma vida difícil e passageira; que as pequenas diferenças entre as roupas que coBrem nossos corpos diminutos, entre nossas linguagens insuficientes, entre nossos costumes ridículos, entre nossas leis imperfeitas, entre nossas opiniões insensatas, entre nossas condições tão desproporcionadas a nossos olhos e tão iguais diante de ti; que todas essas pequenas nuances que distinguem os átomos chamados homens não sejam sinais de ódio e perseguição; que os que acendem velas em pleno meio-dia para te celeBrar suportem os que se contentam com a luz de teu sol; que os que coBrem suas vestes com linho branco para dizer que devemos te amar não detestem os que dizem a mesma coisa soB um manto de lã negra; que seja igual te adorar num jargão formado de uma antiga língua, ou num jargão mais novo; que aqueles cuja roupa é tingida de vermelho ou de violeta, que dominam soBre uma pequena porção de um montículo da lama deste mundo e que possuem alguns fragmentos arredondados de certo metal usufruam sem orgulho o que chamam de grandeza e riqueza, e que os outros não os invejem, pois saBes que não há nessas vaidades nem o que invejar, nem do que se orgulhar. Possam todos os homens lemBrar-se de que são irmãos! Que aBominem a tirania exercida soBre as almas, assim como execram o banditismo que toma pela força o fruto do traBalho e da indústria pacífica! Se os flagelos da guerra são inevitáveis, não nos odiemos, não nos dilaceremos uns aos outros em tempos de paz e empreguemos o instante de nossa existência para aBençoar igualmente em mil línguas diversas, do Sião à Califórnia, tua bondade que nos deu esse instante.” (Oração a Deus. Cap. XXIII, pp. 125 – 126. VOLTAIRE, François Marie Arouet de. Tratado soBre a tolerância : a propósito da morte de Jean Calas. Trad. Paulo Neves. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000). iii R E S U M O Esta dissertação analisa a tolerância como um valor político e social para sugerir, em sua hipótese central, que este valor pode ser considerado um elemento central na configuração e na construção de instituições e práticas das relações internacionais da modernidade. O estudo, de caráter essencialmente doutrinário e histórico, consistiu na observação de como a questão da tolerância evoluiu dentro do ambiente filosófico e dos acontecimentos que cercaram as guerras religiosas nos séculos XVI e XVII, que culminaram com a assinatura dos Tratados de Westphalia e que são considerados como marco no surgimento das instituições e práticas das relações internacionais da modernidade. PALAVRAS -CHAVE : Teorias Clássicas das Relações Internacionais; História das Relações Internacionais; Filosofia Política Renascentista; Filosofia Política Moderna. A B S T R A C T This dissertation discusses tolerance as a social and political value and how it became a real driving force in shaping modern international relations institutions and practices. The research was based on historical and philosophical approach to the process of development of the concept of tolerance in the XVI and XVII centuries. The dissertation argues that tolerance had played a central role in coping with religious wars in Europe and also to achieve Westphalian Peace which is considered as a true landmark in the process of forming basic patterns of modern international relations. KEY -WORDS : Classical Theories of International Relations; History of International Relations; Renaissance Political Philosophy; Modern Political Philosophy. iv SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 1 CAPÍTULO 1 A TOLERÂNCIA COMO VALOR NO SÉCULO XVII E A EPISTOLA DE TOLERANTIA DE LOCKE ..................................................................................................................................... 4 Introdução ....................................................................................................................... 4 O problema da intolerância religiosa na Inglaterra ................................................... 5 A questão da tolerância na França ............................................................................... 33 A tolerância em questão: a Epistola de Tolerancia de Locke ....................................... 54 CAPÍTULO 2 A TOLERÂNCIA COMO VALOR SOCIAL E POLÍTICO NO HUMANISMO RENASCENTISTA E ILUMINISTA ................................................................................................... 70 Introdução ....................................................................................................................... 70 O humanismo renascentista: valor, virtude e reforma .............................................. 71 O humanismo iluminista: a tolerância como valor social e político no Tratado soBre a Tolerância de Voltaire ............................................................................. 88 O humanismo cosmopolita: a tolerância como valor universal e a idéia da Great Community of Mankind de Hugo Grotius ................................................ 101 CAPÍTULO 3 A TOLERÂNCIA COMO VALOR CENTRAL NA CONFIGURAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES E PRÁTICAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA MODERNIDADE ............. 111 Introdução ........................................................................................................................ 111 The Idea that Conquered the World : a tolerância como garantia da soberania na ordem política moderna ................................................................................................ 112 A tolerância como valor na política internacional ....................................................... 117 A tolerância como um princípio da Lei Natural aplicada à conduta das unidades políticas soberanas ou O Direito das Gentes de E. de Vattel ...................... 134 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 148 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 152 APÊNDICE ..................................................................................................................................... 156 v Introdução Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza Dos desertos, das matas e do oceano: Bárbara poracé, banzo africano, E soluços de trova portuguesa. E em nostalgias e paixões consistes, Lasciva dor, beijo de três saudades, Flor amorosa de três raças tristes. (OLAVO BILAC . Música brasileira ) A história do Brasil, desde o princípio, esteve de certo modo ligado ao valor da tolerância. Tal como ocorreu em outras regiões do Novo Mundo, muitos aventureiros e mesmo famílias inteiras fugiram de perseguições que sofriam na Europa, para se estabelecerem nas terras deste continente. Mesmo no século XX, muitas pessoas oriundas da Europa e do oriente encontraram refúgio aqui, diante dos distúrbios violentos das guerras mundiais. Homens e as mulheres de todos os lugares encontraram refúgio no Brasil, desde suas primeiras idades, contra os traumas das guerras e contra as perseguições da intolerância. Aqui, misturaram-se, negros e brancos, índios e europeus, católicos e protestantes, na constituição da civilização brasileira. É desnecessário afirmar que a tolerância é um valor importante. Qualquer um é capaz de