O Aprendiz Da Lei Do Amor -.:: Biblioteca Virtual Espírita

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O Aprendiz Da Lei Do Amor -.:: Biblioteca Virtual Espírita O APRENDIZ DA LEI DO AMOR Paulo Bastos Meira Ditrao por Antoine de Quélem de Caussade APRESENTAÇÃO 2006 - setembro-outubro. Informado há poucos dias que vou ser avô novamente, senti grande alegria. Como sempre, fiz minhas orações pedindo a Deus que nos dê, uma vez mais, uma criança saudável e inteligente. Tenho que dar muitas graças a ELE, pois todos os nossos filhos, neta e netos são assim. Ao mesmo tempo, comecei a sentir uma forte intuição para escrever uma história, que fosse sobre uma alma, em resgate, através de uma experiência difícil, não só para ela, mas, também, para os parentes mais próximos. Esta alma, que estaria partindo para a dor, viria à Terra em busca do caminho da libertação. Fixei meu pensamento naquela ideia. Esperei por mais inspiração e, como resultado, estou começando a escrever a história de Giacomo (1782-1799), Louis (1830-1875) e Antonio Mário (1940-1960), três nomes, uma mesma alma, viajor do tempo, aprendiz da lei do amor e da moral. Desejo explicar que, para bem compreender a narração, é indispensável que o amigo leitor tenha em mente premissas básicas do Espiritismo Cristão, segundo a Codificação de Allan Kardec, principalmente: A Lei da Reencarnaçáo e a Comunicação entre Encarnados e Desencarnados. Que Deus nos inspire, aos meus guias e a mim, para narrarmos esta história de modo claro, e que ela sirva de consolo e inspiração a todos os que derem a este livro seu interesse e atenção. Paulo Bastos Meira Sob a inspiração do espírito Antoine de Quélem de Caussade - duque de La Vauguyon. Este livro é um romance espírita. Seus principais personagens são fictícios, qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é pura coincidência. As pessoas e organizações reais citadas no texto o foram apenas para compor a história, e foram mencionadas com total respeito por suas individualidades, capacidades profissionais, finalidades sociais, sem nenhuma distorção da realidade a que se dedicavam e dedicam. Ainda sobre as pessoas e organizações reais aqui mencionadas, não fazemos nenhum julgamento ou juízo de conceito. Nosso objetivo, ao colocá-las em nossa história, foi unicamente o de revestir de cunho de realidade uma história que, no seu âmago, é fictícia. PRIMEIRA PARTE 1782 -1799 Transcorre o ano de 1782, em Gênova nasce um gênio. Destinado a deixar sua marca indelével na música, Niccolò Paganini vem ao mundo. Naquele mesmo ano, numa pequena vila do Veneto, nas cercanias de Treviso, em uma casa de pessoas muito simples nasce Giacomo. Também um gênio na mesma arte, que faria a glória de Paganini, mas um espírito ainda em formação no que diz respeito aos sentimentos. Um aprendiz das Leis Divinas. Ao vê-lo rosado, sorridente e forte, a mãe Isabela, agradeceu a Deus o filho saudável que acabava de dar à luz, e o pai Mateo, homem trabalhador e honrado, agradeceu pelo filho, que poderia vir ajudá-lo nos afazeres de marceneiro, já que até então tinham recebido duas meninas por filhas do coração. Isabela e Mateo cultivavam um pelo outro um amor tranquilo e sereno, amparado na bondade de suas almas e na esperança de poderem dar aos filhos um lar, que os ajudasse em sua formação moral. Vivendo em um país de maioria Católica, tinham desenvolvido conceitos mais amplos sobre a moral aplicada à vida cotidiana. Sem deixarem a fé de seus pais, entendiam que muitos dos pontos defendidos pelos Reformistas tinham validade e lógica. Por outro lado, eram dos que pensam que Deus, na Sua onipotência e sabedoria, não criaria o Homem, para que este vivesse durante algumas décadas e, depois de uns poucos anos, de experiências difíceis, nem sempre bem sucedidas ou bem encaminhadas, fosse paralisado no nível moral e intelectual que atingisse, para ficar em eterna gloria ou castigo, sem mais crescer, sem mais cooperar para o engrandecimento da eterna obra de Deus. Mateo era competente mestre na sua arte e tocava seu negócio auxiliado por três outros trabalhadores. Se não dispunham de fortuna material, tinham-na no espírito, e trabalho não lhes faltava. A chegada de Giacomo mudou um pouco a rotina daquele lar. Desde pequeno, ele mostrou uma grande energia física. Tamanha era a sua atividade que a mãe e as irmãs - Eleonora e Stefania - tinham que estar sempre de atenção voltada para ele. A mãe, também, era cuidadosa com tudo o que servia à mesa, com a limpeza da casa, com a limpeza das roupas e, de certo modo, muitos preceitos de higiene, ainda não popularizados no mundo deles, já vigoravam em seu espírito cuidadoso. Tudo era bem limpo. Roupas sempre bem lavadas. Comida saudável. Como resultado, as crianças eram, também, saudáveis e passavam ao largo de enfermidades endêmicas para a época. Isabela também notou que Giacomo, desde que havia completado dois anos de idade, sonhava muito. Tinha sobressaltos e ficava com frequência agitado durante as horas de sono, muitas vezes chorando com sentimento. Algo dizia ao seu coração de mãe que era necessário orar muito por ele. Assim, em silêncio, ela o fazia. Outras vezes, enquanto Giacomo se distraia com os brinquedos de madeira que o pai lhe fizera, ela o encontrava cantarolando trechos de músicas que ela desconhecia. O pai, que era dotado de excelente voz, e conhecia um belo repertório do folclore do Veneto, também ficava surpreso, pois não reconhecia naqueles sol- fejos nenhuma das músicas de seu tempo. O tempo passava no ritmo lento da época, com as estações muito bem definidas. Primavera e Verão trazendo conforto e alegrias, Outono com muita beleza e certa nostalgia, mas o Inverno trazia preocupações e exigia cuidados maiores para a manutenção da saúde. Isabela e Mateo, cercados pelos três filhos, seguiam cultivando as leis de Deus, como os únicos princípios básicos para a condução de uma vida correta. No ano de 1786, um evento incomum, agitou a vida no pequeno vilarejo. Era primavera. Uma família de ciganos, em várias carroças, chegou à vila. Ofereciam suas mercadorias -'panelas de metal principalmente - mostravam suas danças e seus animais de trote para venda, as mulheres se ofereciam para dizer a sorte das pessoas. Batendo de porta em porta, vieram até a oficina de Mateo. Como era quase a hora do almoço, este não se preocupou e deixou que todos - família e empregados - fossem ver os ciganos. Povo alegre, comunicativo, trajando roupas coloridas e diferentes, era sem dúvida uma grande novidade, quebrando a monotonia do lugar. Giacomo, vendo todo aquele ruído, aquela língua estranha que falavam os ciganos, sentiu curiosidade e, também, foi vê-los. Nessa época, seus cabelos louros, encaracolados, davam-lhe um ar de querubim. Mas eram seus olhos - grandes e azuis, de um azul profundo - o que mais chamava atenção naquele rosto tão belo. Ao vê-lo, uma das ciganas parou estática. Sua admiração e sua atitude, ficando parada defronte da criança, chamaram a atenção de Mateo. Aproximou-se e perguntou o que acontecia. A mulher olhou para ele, com olhos cheios de lágrimas e falou numa algaravia - apontando para Giacomo. - Dolor, mucha dolprl La musica, si Ia musica es el ca- mino. Siglos, siglos! [Dor, muita dor! A música, sim a música é o caminho. Séculos, séculos! Nesse instante, atraída pelo ruído incomum, Isabela havia chegado até onde estavam Mateo e os filhos. Ouvindo e vendo a mulher cigana falar, apontando, espantada para o pequeno Giacomo, num gesto protetor, natural nas mães, pegou-o no colo. Talvez temendo alguma reação, os ciganos logo se afastaram e, naquela tarde, após terminar a jornada do trabalho, quando Mateo os foi procurar no centro da vila, soube que tinham partido logo na hora do almoço. Durante toda aquela tarde Mateo ficara pensando sobre o que havia sido dito pela cigana. Afinal, a mulher tinha se emocionado fortemente e chorado de verdade, ele mesmo viu, e o que dissera precisava ser esclarecido. Em todas as épocas, médiuns são portadores de mensagens do plano espiritual. Algumas são claras, outras herméticas. As manifestações espíritas são universais, ocorrem nos mais diferentes locais e momentos, não sendo necessários nem lugar nem pessoas especiais para tanto. Todos nós, em maior ou menor grau somos médiuns. Assim não foi Kardec, nem os espíritas que “inventaram” o espiritismo. Kardec apenas o estudou e codificou, explicando-o à luz do Cristianismo. Sem saber nada sobre manifestações mediúnicas, Mateo, baseado nos costumes da época, acreditou que a cigana podería ter lançado uma praga sobre seu filho. Daí querer falar de novo com ela, para buscar retirar o “mau olhado”. Mas, chegou tarde. Os ciganos tinham partido. À noite, de volta ao lar, Mateo e Isabela, trocaram impressões. - Nosso filho é inocente e puro, nenhum mal fez e, por sua índole, nenhum mal irá fazer. - Sim, minha querida, eu sei. Tenho firme a ideia de trabalhar mais ainda na formação do caráter dele, de modo a afastá-lo de qualquer mal. Felizmente conto com você. Vamos agradecer a Deus por estarmos de acordo e vamos pedir a ELE que proteja as meninas e o pequeno Giacomo. Naquela noite, quer pela forte impressão causada pelo evento vivido, quer porque já era chegado o momento de começarem a se inteirar da verdade ou mesmo recordá-la, Isabela teve um sonho. Viu-se em um grande salão, vestida com o luxo do período medieval, em meio a um grupo de cortesãos. Sentados, em duas imponentes cadeiras, fazendo as vezes de tronos, um homem de certa idade e uma mulher jovem, estavam, nitidamente, em meio a uma festa. Isabela instintivamente soube que se tratava de um nobre e sua esposa. Vestidos com grande luxo, a mulher, curiosamente, tinha os mesmo traços da cigana que ela tinha visto naquela tarde.
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