Ilha Da Trindade: a Ocupação Britânica E O Reconhecimento Da Soberania
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Relações coleção coleção Internacionais Ilha da Trindade MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES Ministro de Estado Embaixador Mauro Luiz Iecker Vieira Secretário ‑Geral Embaixador Sérgio França Danese FUNDAÇÃO ALEXANDRE DE GUSMÃO Presidente Embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais Diretor Embaixador José Humberto de Brito Cruz Centro de História e Documentação Diplomática Diretor Embaixador Maurício E. Cortes Costa Conselho Editorial da Fundação Alexandre de Gusmão Presidente Embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima Membros Embaixador Ronaldo Mota Sardenberg Embaixador Jorio Dauster Magalhães e Silva Embaixador Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão Embaixador José Humberto de Brito Cruz Embaixador Julio Glinternick Bitelli Ministro Luís Felipe Silvério Fortuna Professor Francisco Fernando Monteoliva Doratioto Professor José Flávio Sombra Saraiva Professor Eiiti Sato A Fundação Alexandre de Gusmão, instituída em 1971, é uma fundação pública vinculada ao Ministério das Relações Exteriores e tem a finalidade de levar à sociedade civil informações sobre a realidade internacional e sobre aspectos da pauta diplomática brasileira. Sua missão é promover a sensibilização da opinião pública nacional para os temas de relações internacionais e para a política externa brasileira. Martin Normann Kämpf Ilha da Trindade A ocupação britânica e o reconhecimento da soberania brasileira (1895 - 1896) Brasília – 2016 Direitos de publicação reservados à Fundação Alexandre de Gusmão Ministério das Relações Exteriores Esplanada dos Ministérios, Bloco H Anexo II, Térreo 70170 ‑900 Brasília–DF Telefones: (61) 2030‑6033/6034 Fax: (61) 2030 ‑9125 Site: www.funag.gov.br E ‑mail: [email protected] Equipe Técnica: Eliane Miranda Paiva André Luiz Ventura Ferreira Fernanda Antunes Siqueira Gabriela Del Rio de Rezende Luiz Antônio Gusmão Projeto Gráfico e Capa: Daniela Barbosa Programação Visual e Diagramação: Gráfica e Editora Ideal Impresso no Brasil 2016 K15 Kämpf, Martin Normann. Ilha da Trindade : a ocupação britânica e o reconhecimento da soberania brasileira (1895-1896) / Martin Normann Kämpf . – Brasília : FUNAG, 2016. 221 p. – (Coleção relações internacionais) Obra apresentada originalmente em dissertação de mestrado defendida no Instituto Rio Branco. ISBN 978 -85 -7631 -584-1 1. Diplomacia – Brasil. 2. História diplomática – Brasil. 3. Ilha da Trindade (ES). 4. Imperialismo – Reino Unido. 5. Primeira República (1889-1930). 6. Revolta Armada (1893-1895). 7. Soberania – Brasil. I. Título. II. Série. CDD 327.81 Depósito legal na Fundação Biblioteca Nacional conforme Lei nº 10.994, de 14/12/2004. À Elisa e ao pequeno Arthur. AGRADECIMENTOS Este estudo é o resultado, revisado, da dissertação que apresentei ao Instituto Rio Branco como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Diplomacia. As melhorias no texto decorrem, sobretudo, dos gentis comentários e sugestões recebidos dos professores Antonio Carlos Lessa, Clodoaldo Bueno e Francisco Doratioto, bem como do Embaixador José Humberto de Brito Cruz, aos quais muito agradeço. Aos meus pais e à Elisa, meu agradecimento pelo apoio e pela paciência de acompanharem a evolução da minha pesquisa e de, por tabela, se especializarem involuntariamente sobre o tema. Ao professor Doratioto, que em suas aulas no Instituto Rio Branco instigou a gratificante experiência de pesquisar em fontes primárias, agradeço por incentivar a elaboração deste trabalho e pela paciente e atenciosa orientação ao longo de seu desenvolvimento. À equipe do Arquivo Histórico do Itamaraty, que me recebeu com muita simpatia e disposição, meu sincero agradecimento pelo grande auxílio na pesquisa de documentos fundamentais para esta obra. Do mesmo modo, agradeço ao Dr. Ruas, arquivista da Fundação Casa de Bragança, que me possibilitou o acesso ao arquivo do Marquês de Soveral. Agradeço ao Embaixador Luiz Felipe Lampreia pela gentileza e disposição para explicar o envolvimento do diplomata português João Camelo Lampreia na solução do contencioso. Um agradecimento especial aos meus colegas e amigos do Instituto Rio Branco e da Casa, pelo convívio, apoio e oportunidade de troca de ideias e de experiências. APRESENTAÇÃO A Questão da Ilha da Trindade é pouco conhecida no Brasil. Nos manuais de História do Brasil, mesmo naqueles dedicados exclusivamente às relações internacionais, o tema é apresentado em poucas linhas. Em janeiro de 1895, essa ilha localizada a mais de mil quilômetros do litoral e desconhecida da maior parte dos brasileiros foi ocupada pela maior potência da época, a Grã-Bretanha. Prudente de Moraes, o primeiro presidente civil da República brasileira, tomara posse apenas três meses antes, com a árdua tarefa de superar a desordem financeira e administrativa, bem como o tenso ambiente político, herdados da chamada República da Espada (1889-1894), período em que o país foi governado pelos generais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Um dos muitos desafios de Prudente de Moraes era o de estabelecer uma política externa com finalidades e diretrizes claramente definidas, pois aquela executada no Império do Brasil, a partir do final da década de 1840, fora abandonada após 1889, acusada de ser causadora de desentendimentos internacionais. A ocupação da ilha da Trindade vinha somar-se a outro litígio territorial do Brasil com a Grã-Bretanha, que era a Questão de Pirara, resultante do expansionismo britânico na região amazônica, a partir da Guiana. Na realidade, em 1827, quando foi assinado o Tratado de Amizade, Navegação e Comércio entre o Brasil e a Grã-Bretanha, surgiu um certo sentimento anti-inglês em setores da sociedade brasileira. Esse sentimento teve continuidade na década de 1840, como reação às incursões da Marinha inglesa em águas territoriais brasileiras; persistiu na primeira metade dos anos 1860, como resultado da Questão Christie – onde houve, inclusive, rompimento de relações diplomáticas – e, afinal, continuou a repercutir devido à disputa entre os dois países por território amazônico. A situação em 1895 era, portanto, delicada para o frágil Governo brasileiro, pressionado internamente para restabelecer sua soberania sobre Trindade, mas que não dispunha, para tanto, de outros recursos além do diplomático. Enquanto isso, a oposição brasileira, composta basicamente por saudosistas da ditadura de Floriano Peixoto, instrumentalizava essa questão para enfraquecer Prudente de Moraes perante a opinião pública, tornando mais complexa a solução do problema com a Grã-Bretanha. Nesta, por sua vez, a questão da ilha da Trindade também adquiriu complexidade, já que sua ocupação foi decidida pelo Gabinete de Lord Rosebery, um defensor de ações imperialistas. As negociações diplomáticas, porém, sobre sua posse foram finalizadas no Governo de Lord Salisbury, menos agressivo que seu antecessor e mais pragmático. Este livro de Martin Normann Kämpf, originariamente uma dis- sertação de mestrado defendida no Instituto Rio Branco, reconstrói a complexidade da ocupação da ilha da Trindade pelos britânicos e a recuperação de sua soberania pelo Brasil. Para tanto, o autor utilizou- -se da bibliografia existente sobre o tema e, também, pesquisou em arquivos, o que resultou no uso de documentação inédita para o público brasileiro. Como consequência, este é um livro com texto claro, em que o raciocínio argumentativo, por ser embasado em documentos e no uso de teoria de relações internacionais, chega a conclusões pertinentes. O autor explica de que forma a ação diplomática brasileira solucionou um contencioso cujo desfecho parecia que a superioridade militar britânica poderia definir. A leitura da “Ilha da Trindade: a ocupação britânica e o reconhecimento da soberania brasileira (1895-1896)” nos lembra, uma vez mais, que o Brasil é uma construção histórica, na qual a ação diplomática teve um importante papel. O estabelecimento do critério do “uti possidetis” e sua competente utilização, desde o século XIX, em diferentes negociações – sendo emblemáticas aquelas chefiadas pelo Barão do Rio Branco – foram fundamentais para definir o vasto espaço nacional brasileiro. Também lembra que, em diferentes momentos de nossa trajetória como Nação, a sociedade brasileira sofreu ameaças ou pressões externas, que atingiram importantes interesses nacionais. São exemplos dessas ameaças: a territorial, sobre o centro-sul do país e a Amazônia, no século XIX; a ameaça nazista, no plano político- -militar, e os obstáculos protecionistas que, se na centúria passada dificultaram o acesso a mercados de países desenvolvidos, no início desta envolveram o direito de uso de conhecimento científico para o bem-estar de nossa população por intermédio da questão de patentes sobre remédios na Conferência Ministerial de Doha, da OMC, em 2001. São questões que demonstram uma das características da história da diplomacia brasileira: a de obter resultados positivos, mesmo quando o Brasil tinha um poder nacional inferior a de seus antagonistas. Em síntese, nas palavras finais de Martin Normann Kämpf, o desfecho da Questão da Ilha da Trindade “corrobora a tradição diplomática brasileira de superar adversidades na defesa do interesse nacional”. Francisco Doratioto Universidade de Brasília SUMÁRIO Lista de abreviaturas e siglas ..............................................................15 Introdução .............................................................................................17 Capítulo 1 O contexto pré-1895 ............................................................................27 1.1. Breve histórico