Erotismo, Subversão E Repúdio Em Florbela Espanca (1894 - 1930) E Judith Teixeira (1880 - 1959)
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SUILEI MONTEIRO GIAVARA POÉTICAS INTERDITAS: erotismo, subversão e repúdio em Florbela Espanca (1894 - 1930) e Judith Teixeira (1880 - 1959) ASSIS 2015 SUILEI MONTEIRO GIAVARA POÉTICAS INTERDITAS: erotismo, subversão e repúdio em Florbela Espanca (1894 - 1930) e Judith Teixeira (1880 - 1959) Tese apresentada à Faculdade de Ciências e Letras de Assis - UNESP - Universidade Estadual Paulista para a obtenção do título de Doutora em Letras (Área de Conhecimento: Literatura e Vida Social) Orientador(a): Profª Drª Ana Maria Domingues de Oliveira Coorientador(a): Profª Drª Isabel Maria da Cruz Lousada ASSIS 2015 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca da F.C.L. – Assis – UNESP Giavara, Suilei Monteiro G436p Poéticas Interditas: erotismo, subversão e repúdio em Florbela Espanca (1894 – 1930) e Judith Teixeira (1880 – 1959) / Suilei Monteiro Giavara. - Assis, 2015 223 f. : il. Tese de Doutorado – Faculdade de Ciências e Letras de Assis – Universidade Estadual Paulista. Orientadora: Profª Drª Ana Maria Domingues de Oliveira Coorientadora: Profª Drª Isabel Maria da Cruz Lousada 1. Espanca, Florbela, 1894-1930. 2. Teixeira, Judith, 1880-1959. 3. Poesia portuguesa – escritoras. 4. Mulheres e literatura. 4. Erotismo na literatura. I. Título. CDD 869.1 A elas, porque me auxiliaram a escrever a minha história! Agradecimentos É impossível não agradecer primeiramente à Profª Drª Ana Maria, pois foi quem primeiro aceitou navegar comigo nessa aventura, acreditando em mim muito mais do que eu mesma e nunca, realmente nunca, deixando de me apontar a direção a seguir e ao mesmo tempo, dando-me toda a liberdade de seguir um rumo próprio. Obrigada por me ajudar a cumprir mais essa etapa de minha vida! Agradeço também à querida Profª Drª Isabel Maria da Cruz Lousada, mão e mãe amiga que me acompanhou na etapa do trabalho realizada em Portugal e jamais mediu esforços para que tudo corresse a contento. Também à Prof. Drª Maria Lúcia Dal Farra pela generosidade de compartilhar com os membros do seu grupo do CNpQ, do qual faço parte, todo o material sobre Florbela Espanca recolhido por ela ao longo dos anos, assim como fez com o espólio da poetisa pertencente ao Grupo de Amigos de Vila Viçosa. Aos Profes Dres Cleide Rapucci e Paulo Andrade pela disposição em participar de minha qualificação e contribuírem para o enriquecimento da pesquisa. Aos amigos Michelle Vasconcelos, Clêuma Magalhães, Fábio Mário e outros do grupo de pesquisa, de congressos e outras paragens, por todas as vezes que serviram de muro para minhas lamentações. Enfim, ao Eduardo Giavara, porque assumiu comigo esse doutorado, e às minhas filhas pelas horas de ausência. Por último, à Fapesp pela bolsa sem a qual eu não poderia ter dedicado o tempo necessário à pesquisa. GIAVARA, Suilei Monteiro. POÉTICAS INTERDITAS: erotismo, subversão e repúdio em Florbela Espanca (1894 – 1930) e Judith Teixeira (1880 – 1959). 2015. 223 f. Tese (Doutorado em Letras). – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Assis, 2015. RESUMO Esta pesquisa pretende verificar, nas obras líricas de Florbela Espanca (1894 - 1930) e Judith Teixeira (1880 - 1959) - poetisas portuguesas do começo do século XX -, as representações do feminino, com enfoque prioritário no aspecto erótico por acreditar que este, além de ser o diferencial de sua linguagem poética, é também o moto gerador das contestações sofridas por elas. A sociedade portuguesa e também a crítica literária da época ainda mantinham traços misóginos bastante perceptíveis, por isso, as obras das referidas poetisas foram alvo de críticas bastante contundentes, uma vez que deixam transparecer uma imagem do feminino que destoava dos padrões aceitáveis. Assim, na análise dos poemas, dificilmente pode ser desconsiderado o contexto sócio-literário de produção/recepção, pois com o intuito de compreender a dissonância de tais obras tanto com a produção literária de autoria feminina, quanto com o horizonte de expectativas da crítica literária da época. Palavras-chave: Literatura portuguesa. Florbela Espanca. Judith Teixeira. Erotismo. Poesia. GIAVARA, Suilei Monteiro. Prohibited poetics: eroticism, subversion and renunciation in Florbela Espanca (1894 - 1930) and Judith Teixeira (1880 - 1959). 2015. 223 f. Tese (Doutorado em Letras). – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Assis, 2015. ABSTRACT This study aims to analyze the female representations in the lyrical works of Florbela Espanca (1894 - 1930) and Judith Teixeira (1880 - 1959), focusing on its erotic aspects seeing that as the main differential of their poetic language and as a reason to both of their works oblivion. In the beginning of 20th century the Portuguese society as well as its literary critics still kept a very clear misogyny face, that's why both poetess works were victims of hard criticism for showing a female's profile in disagreement to their admissible social standards. Thus, besides poetry analysis it is necessary to check the social context of the literary production/reception in order to understand the dissonance of those works to the production from other contemporary female authors. Key-words: Portuguese Literature. Florbela Espanca. Judith Teixeira. Eroticism. Poetry. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................... 09 1 Entre a ordem e o progresso: a construção da mulher burguesa............. 16 1.1 O contexto e a ideologia burguesa .…………………………………………… 16 1.2 A mulher burguesa: entre perdas e ganhos ………………………………….. 20 1.3 O feminino construído: o discurso sobre a mulher …………………………… 33 2 Literatura de autoria feminina: uma história em letras miúdas ................ 46 2.1 Preliminares ………………………………………………………………………. 46 2.2 Mulher e literatura: uma ligação perigosa?.................................................... 48 2.3 O "lirismo inofensivo" e o "olhar condescendente": a literatura de autoria feminina do começo do século XX e a crítica em Portugal ……………………… 57 2.4 "Um coro de pasmaceiras": Florbela Espanca e Judith Teixeira nos periódicos ( 1919-1926) ……………………………………………………………... 79 3 Florbela Espanca: "desejo de ser" e "ser de desejo" ................................ 86 3.1 O acender da chama: amor e erotismo como elementos para a construção 86 de um antimodelo de feminino ……………………………………………………… 3.2 Livro de Mágoas ou o desejo de completude ………………………………… 92 3.3 Livro de "Soror Saudade": entre o desejo aspiração e o desejo apetite .….. 101 3.4 O saber do sabor: o desabrochar do desejo-apetite em Charneca em Flor 116 4 As "flores" do mal no Modernismo português: o feminino subversivo na poesia de Judith Teixeira............................................................................. 138 4.1 Muito prazer, Judith Teixeira! ....................................................................... 138 4.2 A polêmica em torno da "literatura de Sodoma" ……………………………. 143 4.3 Judith Teixeira e o contexto literário modernista: uma história de esquecimentos forçados…………………………………………………………….. 151 4.4 O êxtase agônico e o império do corpo insurreto em Decadência………….. 160 4.5 O erotismo conformado de Castelo de sombras……………………………… 183 4.6 Eros revisitado: a poética ousada de Nua. Poemas de Bizâncio…………… 189 CONCLUSÃO: para não dizer que não falei das "flores" ............................. 202 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 208 INTRODUÇÃO Não permitis que uma mulher fale em público, abra uma escola, funde uma seita ou um culto. Uma mulher em público está sempre deslocada. (Pitágoras, s/d, apud PERROT, 2005, p. 318) Falar de literatura produzida por uma mulher é sempre uma tarefa espinhosa, porque, de início, é priorizar uma classe cuja representatividade intelectual foi considerada pouco confiável durante longo tempo da história e depois porque requer o questionamento dos critérios de inclusão/exclusão no cânone literário constituído e alicerçado sobre critérios exclusivamente patriarcais. Na perspectiva de Mary Louise Pratty, o cânone se tornou um instrumento de exclusão na medida em que é construído por seus idealizadores com base em argumentos que visam a uma suposta manutenção de uma estrutura que perpetua saberes instituídos por uma tradição cujos valores nem sempre são questionados. Tais argumentos podem ser resumidos em dois, que seguem adiante: Primeiramente, eles [canonizadores] demonstraram que cânones, "eternos" como talvez podem parecer em um determinado momento histórico, são tudo menos estáveis no tempo, que a obra- prima de hoje foi a má obra de ontem e provavelmente de amanhã também. Depois, os críticos têm explorado as formas como os cânones e os processos de canonização são socialmente determinados, juntamente com as linhas que correspondem às da hierarquia social. (Mesmo muitos tradicionalistas aderem a essa ideia, concordando que os cânones são construídos a partir dos interesses e ideologias das classes, gêneros e raças dominantes, e simplesmente argumentam que essas são ideologias nas quais eles, como tradicionalistas, apoiam-se.) (PRATTY, 1998, p. 86)1 1 First, they have demonstrated that canons, 'eternal' as they may seem in a given historical moment, are anything but stable over time, that today's masterpiece was yesterday's doggerel, and probably tomorrow's too. Second, critical scholars have explored the ways canons and canonization processes are socially determined, along lines that correspond to lines of social hierarchy. (Even many traditionalists concede this point. Many