Neotropical Biology and Conservation 6(3):227-249, september-december 2011 © by Unisinos - 10.4013/nbc.2011.63.09

Florística e fitofisionomias da planície de inundação do rio Piratini e a sua importância para conservação no Pampa do Rio Grande do Sul, Brasil1

Floristics and phytophysionomies in Piratini river floodplain and their relevance to the conservation in south Brazilian Pampa

Ricardo V. Kilca2* [email protected] Resumo A planície de inundação do rio Piratini (PIRP) localiza-se na região litorânea do Pampa no Rio João A. Jarenkow3 Grande do Sul e recentemente foi considerada como uma área prioritária para conservação [email protected] no bioma. Em vista das poucas informações sobre seus recursos naturais, o presente estudo objetiva inventariar a flora vascular, descrever, identificar e quantificar as principais fitofisiono- Júlio C. W. Soares4 mias nativas e antrópicas e discutir a relevância dessas informações para a conservação da [email protected] biodiversidade em escala regional no bioma. Os principais tipos fitofisionômicos foram locali- zados e identificados em fotografias aéreas utilizando critérios básicos de fotointerpretação, com verificações e correções feitas em campo, sendo, nessa etapa, ainda caracterizadas 5 Élen N. Garcia pelos modos de vida das espécies mais densas, pelo ambiente em que se encontram e pelo [email protected] estado de conservação de cada fitofisionomia. Nas formações florestais, foram realizadas coletas botânicas. Foram definidas cinco fitofisionomias naturais e três antrópicas subdivi- didas em 10 subtipos fisionômicos distintos. A cobertura atual de florestas nativas na PIRP é de 4.376,83 ha, sendo a segunda maior área remanescente no litoral do Pampa. Nessas florestas, foram inventariadas 199 espécies vasculares, distribuídas entre 146 gêneros e 71 famílias, com espécies incluídas na categoria de ameaçadas, com distribuição restrita na re- gião ou endêmicas. Na PIRP, estiveram representadas as principais fitofisionomias da região costeira do Pampa. Os resultados corroboram a indicação do Ministério do Meio Ambiente, de a área da PIRP constituir-se como de prioridade alta para conservação no bioma.

Palavras-chave: inventário florístico, fitofisionomias, flora vascular, riqueza vegetal, pla- 1 Parte da monografia de Graduação em nície costeira. Ciências Biológicas do primeiro autor. Bolsista PIBIC-FAPERGS ano 2000-2001. 2 Lab. de Dendrologia e Fitossociologia, Abstract Universidade Federal de Santa Maria, Av. Roraima, prédio 44c, Campus Camobi, Piratini river floodplain (PRFP) is located in coastal region of Pampa biome in southern Brazil. 97015-900, Santa Maria, RS, Brasil. Recently, the PRFP was considered as a priority area for biodiversity conservation in biome, in 3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Depto de Botânica, Av. Bento Gonçal- spite of the lack of knowledge about your natural resources. The aim of this study is to survey ves, 9500, Prédio 43432, Sala 206, 91501- the vascular flora, describe, quantify and identify the main native and anthropic phytophysiog- 970, Porto Alegre, RS, Brasil. nomies and discuss the relevance of these to information to biodiversity conservation in a re- 4 Laboratório de Física do Solo, Universi- dade Federal de Santa Maria, Av. Roraima, gional scale in biome. The main phytophysiognomic types were identified in aerial photographs prédio 42, Campus Camobi, 97015-900, using basic criteria of remote sensing, with checks and corrections in the field, estimated the Santa Maria, RS, Brasil. vegetation heights based in life-form categories, and assessed the condition of flooding 5 Depto de Botânica, Universidade Federal and conservation status of each vegetation type. In forest communities floristic inventory has de Pelotas, Cx. P. 354, 96010-900, Capão do Leão, RS, Brasil. been conducted. We defined five native and three anthropic phytophysiognomies, that were * Autor para correspondência. subdivided into ten different floristic subtypes. The present cover of native forests in PRFR is Ricardo V. Kilca, João A. Jarenkow, Júlio C. W. Soares, Élen N. Garcia

4,376.83 ha, the second major remnant area in coastal Pampa. In these forests, we sampled 199 species distributed in 146 genera and 71 botanical families, some of them clas- sified as threatened, with restricted distribution to the region or endemic. The main phytophys- iognomies of coastal Pampa were found in the PRFP. These findings corroborate the state- ment made by the Ministry of Environment that PRFP is an area of high priority for conserva- tion in the biome.

Key words: floristic survey, floodplain, vascular flora, coastal plain, plant richness.

Introdução res, marismas, deltas, praias e planí- de grande importância para conserva- cies fluviais (Waechter, 1990; PNMA, ção no bioma. Assim, o estudo teve O Pampa é um bioma predominante- 1997). Embora o bioma apresente um como objetivos específicos: 1) identi- mente campestre e abrange a maior número muito baixo de unidades de ficar e caracterizar as principais fitofi- parte do estado do Rio Grande do Sul conservação decretadas (Vélez et al., sionomias florestais e antrópicas exis- (63%), estendendo-se por todo o terri- 2009), uma área significativa já se en- tentes e apontar os principais agentes tório da República do Uruguai e a par- contra mapeada e enquadrada dentro de perturbação que as ameaçam; 2) te central da República Argentina (ver de diversas categorias de relevância determinar a flora vascular ocorren- IBGE, 2004; Viglizzo et al., 2006; para conservação, segundo o Mi- te nas fitofisionomias florestais; e 3) Figura 1), reconhecido como Provín- nistério do Meio Ambiente (MMA, distinguir as principais características cia Pampiana por Cabrera e Willink 2002; ver http://mapas.mma.gov.br/ da PIRP em relação às outras áreas de (1973) ou do Pampa, por Morrone mapas/). Uma dessas áreas corres- conservação similares existentes no (2001). Embora o emprego do ter- ponde à planície de inundação do rio bioma Pampa. mo “Pampa” para essa região predo- Piratini (PIRP), considerada recente- minantemente campestre ainda seja mente como de prioridade muito alta Material e métodos discutido entre os pesquisadores (ver para conservação (MMA, 2007). As Bilenca e Miñarro, 2004; Overbeck planícies de inundação e as matas ci- Área de estudo et al., 2007), neste trabalho, adotou- liares associadas são estratégicas para se essa denominação por proposição a conservação dos recursos florestais Corresponde a um trecho da planície de e uso oficial em órgãos de gestão na região, pois essas comportam os inundação do rio Piratini (PIRP), loca- ambiental brasileiros (IBGE, 2004; últimos representantes da flora sil- lizada entre o cruzamento do rio Pira- MMA, 2007). Dentre os cinco biomas vática tropical que chegam ao bioma tini com a ponte da BR-116 (31°54’S reconhecidos para o Brasil, se destaca (ver Lindman, 1906; Rambo, 1956; e 52°39’O) e a sua foz, no canal São por ser o único localizado totalmente Waechter, 1992). Alguns inventários Gonçalo (32°00’S e 52°25’O), que em clima subtropical e é o segundo realizados em planícies de inundação equivale a uma extensão de 39 km de bioma com menor extensão no país no bioma têm demonstrado grande di- seu curso (Fig. 1). Essa região situa-se (IBGE, 2004). Em nível de conserva- versidade de fitofisionomias e riqueza entre os municípios de Capão do Leão, ção, apresenta o menor percentual de florística, como no delta do rio Para- à margem esquerda do rio Piratini, e Pe- área protegida e um dos mais carentes ná, na Argentina (ver Franceschi et dro Osório e Arroio Grande, à margem em informações científicas (MMA, al., 1985; Malvárez, 1999), na lagoa direita. Dentre as áreas elencadas para 2000; 2002). Mirim, no Uruguai (Clara e Maneyro, conservação pelo MMA, esse trecho A região litorânea do Pampa brasileiro 1999) e naquelas localizadas no com- compreende partes das áreas Pp007 – coincide com a porção centro-sul da plexo formado pela lagoa dos Patos e Mata ciliar do rio Piratini, em destaque Planície Costeira (Waechter, 1985), Mirim no Brasil (ver Oliveira, 1998; como área muito importante para con- que abriga o enorme complexo das la- MMA, 2002). servação e PpZc006 – Várzea do canal goas dos Patos-Mirim e, por sua vez, A carência de informações a respeito São Gonçalo, na categoria de área ex- se destaca entre as grandes áreas úmi- da vegetação e flora na PIRP (Cunha e tremamente alta para conservação (ver das no Brasil (Diegues e Nuñes, 1990). Silveira, 1992, 1995; Waechter, 1992; http://mapas.mma.gov.br/mapas/). Essa região é de grande importância Cunha et al., 1997) levou ao desen- A bacia do rio Piratini dispõe-se parte para conservação da biodiversidade, volvimento do presente estudo, que na região geomorfológica do Planalto pois comporta, além das lagoas, dis- tem como objetivo fornecer subsí- Sul-Rio-Grandense (até 400 m de al- tintos ecossistemas: campos arenosos dios técnicos para dar suporte à deci- titude), nas áreas à montante, e parte secos, campos arenosos úmidos, ba- são do Ministério do Meio Ambiente na Planície Costeira Interna (4 a 15 nhados, florestas de restinga, palma- (MMA), por eleger a PIRP como área m de altitude), à jusante. A disposi-

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Figura 1. Mapa da América do Sul com a distribuição do bioma Pampa (hachurrado) nos três países de sua ocorrência (Brasil, Argentina e Uruguai) e a localização da planície de inundação do rio Piratini (PIRP), na porção litorânea do Pampa brasileiro, seguida das áreas de visitas para coleta e caracterização fitofisionômicas da vegetação (elipses). Fonte: Landsat 7 ano 2002 (cortesia: Embrapa Clima Temperado). Figure 1. Scope of the Pampa biome in South America (gray), map location of the Piratini river on the south brazilian coast and vegetation sampled areas (ellipses).

ção espacial dessa bacia, em planta, O clima regional enquadra-se no tipo Determinação e quantificação assemelha-se a um leque aberto nas subtropical úmido (Cfa), pela classi- dos tipos fitofisionômicos e dos nascentes, estreitando-se conside- ficação de Köppen. Segundo as mé- agentes perturbadores ravelmente para a foz (Justus et al., dias para o período 1971-2000, toma- 1986). Os gradientes de declividade dos na estação agroclimatológica da No acervo de fotografias aéreas da acentuados entre as regiões à mon- EMBRAPA (www.cpact.embrapa.br/ Agência da Lagoa Mirim/Universida- tante e à jusante proporcionam para laboratorios/estacao/mensal.html), de Federal de Pelotas (ALM-UFPEL), esta última, uma série de alagamen- distante 15 km do limite norte da área foram escolhidos aerofotogramas tos frequentes nas épocas das chuvas de estudo, a temperatura média anual do tipo pancromático em escala de (Justus et al., 1986; Telles, 2001). é 17,8°C, sendo janeiro o mês mais 1:20.000 (realizadas no período do Esses alagamentos também são for- quente (23,2°C) e julho, o mais frio verão de 1987), que apresentaram temente influenciados pela dinâmica (12,3°C). Uma média de 23,9 dias ótimas resoluções espaciais da área hídrica das enormes lagoas costeiras com geadas no inverno é registrada. de estudo. Os principais tipos fito- (dos Patos, com 9.800 km2, e Mirim, A umidade relativa média anual é de fisionômicos naturais e antrópicos com 3.750 km2) e são determinadas, 81%, e a precipitação pluviométrica foram identificados nas fotografias além da pluviosidade, pelo compor- anual é de 1.367 mm. Sazonalmente, aéreas utilizando critérios básicos de tamento dos ventos na região e pela a precipitação é maior no período do fotointerpretação segundo os quais construção de uma barragem eclusa inverno e do verão e menor no ou- os elementos nas fotografias foram no Canal de São Gonçalo (Ministério tono e na primavera (www.cpact. reconhecidos pelas formas, pelos ta- do Interior, 1970). embrapa.br/laboratorios/estacao/es- manhos, pela sombra, pela tonalidade, A vegetação predominante no alto e tacional.html). pela textura e pela posição topográfica no médio cursos pertence à região das Cunha e Silveira (1992, 1995) e (Avery e Berlin, 1992). Os diferentes Estepes, com elementos das florestas Cunha et al. (1997) descreveram as padrões de cobertura da vegetação estacionais semideciduais, enquan- principais classes de solos e os tipos foram demarcados em um fotomosai- to que no baixo curso predominam geomorfológicos ocorrentes na planí- co, realizado com os citados aerofo- as Áreas de Formação Pioneira, to- cie de inundação do rio Piratini. Essas togramas da região em estudo. Com das situadas nos domínios do Pampa informações serão apresentadas poste- esse mapa prévio, foram realizadas (www2.ibge.gov.br/pub/Cartas_e_ riormente no texto (ver item Resulta- diversas excursões à área em estudo, Mapas/Mapas_Tematicos). dos e Discussão). para verificar in loco a equivalência

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das fitofisionomias demarcadas nas nea de alturas de árvores e arbustos por vel, floresta de interflúvio e floresta imagens orbitais e, então, realizar as comparação a uma vara de altura co- em estádio inicial de regeneração; 2) correções e descrições fisionômicas nhecida. Procurou-se também abranger classe florestal antrópica: plantação das formações vegetais (caracteriza- as áreas de bordas e interior da mata de Eucalyptus sp.; 3) classe herbáceo- das pelos modos de vida herbáceas, em distintos graus de umidade do solo, arbustiva nativa: banhados e matorral subarbustos e arbustos das espécies conservação e estádios sucessionais. espinhoso; 4) classe herbáceo-arbus- dominantes e pelas características do O material botânico, em estágio fértil tiva de origem antrópica: lavouras de ambiente em que ocorrem). As excur- ou vegetativo, foi processado segundo arroz e campos antrópicos sob paste- sões perduraram pelo período de julho metodologia usual (Fidalgo e Bono- jo. Em alguns casos, essas fitofisio- de 1999 até dezembro de 2001, e foi ni 1984) e, depois de selecionado, foi nomias ainda foram subdivididas em percorrida toda a extensão do rio com tombado no acervo do herbário da Uni- grupos florísticos identificados pelas florestas ribeirinhas (realizadas com versidade Federal de Pelotas (UFPEL). espécies predominantes. barco), bem como alguns dos mais A delimitação familiar seguiu Tryon e A área de florestas existente na PIRP, representativos e acessíveis tipos flo- Tyon (1982) para Pteridófitas e APG- no ano de 1987, foi de 4.045 ha e, no restais não ribeirinhos (por caminha- III (2009) para Angiospermas. Para ano de 2006, foi de 4.376,83 ha de flo- mento). As atividades de campo tam- cada espécie, determinou-se ainda o restas. No geral, a área total da PIRP bém incluíram medidas de localização modo de vida (arbóreo, arbustivo, ar- apresentou 9.4434 ha de fitofisio- geográfica (com GPS) e anotações da bustivo-apoiante, herbáceo, epifítico, nomias nativas e antrópicas. Assim, condição de alagamento do sítio, do trepador e hemiparasítico). As identi- foi possível estimar que a cobertura estado de conservação e das fontes ficações dos táxons em nível de espé- florestal avançou 3,51% nessas duas de perturbações antrópicas (Figura 1). cies foram realizadas por consulta à últimas décadas, e que as maiores in- Posteriormente, com o fotomosaico bibliografia específica e auxílio de es- tensidades de perturbação nos ecos- (de 1986), foi possível estimar, por pecialistas (ver item Agradecimentos). sistemas florestais ocorreram antes da meio de cálculos planimétricos, a área Foi organizada uma lista das espécies década de 1980. total de floresta nativa remanescente e inventariadas na PIRP, complementa- Na PIRP, as fitofisionomias nativas e as áreas de cada tipo fitofisionômico da com a de outras regiões do Pampa, antrópicas com áreas de maior exten- na PIRP. Considerou-se essa técnica no Rio Grande do Sul, assinalando-se são foram os campos antrópicos (3.040 satisfatória devido à uniformidade do a presença/ausência de espécies para o ha), seguidos das florestas ciliares pe- relevo da região (Cunha e Silveira, cálculo da similaridade florística (pelo riodicamente inundáveis (2.861 ha), 1992; 1995). índice de Jaccard) (Marrugan, 1988). das lavouras de arroz (1.534 ha), das Posteriormente, um mapa de vegetação Por fim, foram analisadas as informa- florestas ciliares sazonalmente inun- foi elaborado através da classificação ções ecológicas de outras unidades de dáveis (977 ha), de banhados (493 supervisionada da imagem capturada conservação (particulares, municipais, ha), áreas em regeneração (318 ha), de pelo receptor SPOT (2006), sendo a estaduais e federais) existentes no Pam- plantação de Eucalyptus sp. (72 ha), primeira etapa do trabalho realizada pa sul-riograndense, e relacionados aos das florestas de interflúvio (70 ha) e por meio da obtenção de pontos notá- resultados encontrados na PIRP. do matorral espinhoso (49 ha) (Figura veis com o receptor de GPS, que repre- 2; Tabela 1). As características de cada sentassem as fitofisionomias avaliadas, Resultados tipo fitofisionômico encontram-se de- lavouras, lâmina de água e cruzamen- e discussão talhadas a seguir. tos de estradas. Logo após, foi realiza- da a georreferência da imagem, utili- Caracterização e quantificação Florestas ciliares zando a projeção Universal Transversa das principais fitofisionomias sazonalmente inundáveis de Mercator, com datum de referência (FCSI) Córrego Alegre zona 22S. Por meio das atividades conjuntas de fotointerpretação e identificações Foram identificadas nas fotografias Inventário florístico em campo, foi possível classificar a aéreas com tonalidade cinza-médio a vegetação na PIRP em duas grandes cinza-escuro, textura rugosa e formas Foram feitas coletas em todas as fito- classes temáticas, florestal e não flo- irregulares. Sua maior área de ocor- fisionomias florestais, procurando-se restal, que puderam ainda ser subdivi- rência limita-se principalmente aos 16 correlacioná-las às principais estrutu- didas quanto à origem, em nativa ou km iniciais da área estudada (Figura 3, ras deposicionais existentes na planície antrópica. Dessa forma, foram identi- Tabela 1). Devido à grande variação de inundação (diques marginais, lagos ficadas: 1) classe florestal nativa: flo- florística em pequena escala decorren- ferraduras, cordões arenosos, terraços resta ciliar periodicamente inundável, te do estádio sucessional da floresta e fluviais etc.) com estimativa simultâ- floresta ciliar sazonalmente inundá- às condições ambientais variáveis do

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Tabela 1. Principais fitofisionomias nativas, características encontradas na planície de inundação do rio Piratini, e seus respectivos grupos florísticos representados pelas espécies mais comuns e o estado de conservação dessas. As descrições foram correspondentes com as análises de fotointerpretação e constatação a campo. Table 1. Main native vegetation types of the Piratini river floodplain, and their floristic groups represented by the most common species and communities conservation status assessment. The descriptions were determinated by analysis of the photo interpretation and field observation.

Fitofi sionomias nativas/ Altura Grupos fl orísticos * Estado de preservação das fi tofi sionomias nativas área total (m) Representa a segunda maior área fl orestal da PIRP. Florestas ciliares A maior parte da área encontra-se preservada ou 1.1 Mistos em estádio mais sazonalmente inundáveis 13-16 em estádio avançado de sucessão ecológica. Em avançado (Ver Resultados) (976,77 ha) poucos trechos, foram observados impactos como pastoreio bovino no interior da mata, contaminação por agrotóxicos e supressão da fl oresta. 1.2 Mistos secundárias Grande área fl orestal em bom estado de 10-13 (Ver Resultados) conservação. 2.1 Salix humboldtiana + 8 As comunidades monodominantes estão restritas Cephalanthus glabratus a pequenos trechos junto à margem do rio Piratini. 2.2 Phyllanthus sellowianus 6 Estão ameaçadas apenas na região da foz do rio Florestas ciliares Piratini. 2.3 Sebastiania schottiana 3 periodicamente inundáveis Ocorrem juntamente com banhados, estão 2.4 Erythrina cristagalli + (2.891 ha) 3-5 ameaçadas pela drenagem do solo para práticas Sebastiania commersoniana agrícolas/pastoris. Ocorrem em trechos adjacentes à mata ciliar 2.5 Syagrus romanzoffi ana + 10-15 juntamente com banhados internos à mata. A Sebastiania commersoniana principal ameaçada é a drenagem dos banhados. 3.1 Ficus cestrifolia + Zanthoxylum hyemalis + Sapium glandulosum + Florestas de interfl úvio Opuntia monoacantha + Miconia Extremamente ameaçadas devido à pequena área (69,89 ha) hyemalis 16-17 remanescente ocupada por essas fi tofi sionomias na 3.2. Trichilia claussenii + PIRP. Myrcianthes gigantea + Eugenia rostrifolia + Ficus luschnatiana Juncáceas (Juncus marginatum ou 1,5 Ameaçadas por drenagem do solo para práticas Banhados Juncus sellowianus) agrícolas/pastoris. (493,26 ha) Ciperáceas (Schoenoplectus. 1,5 californicus ou Scirpus giganteus ) Matorral espinhoso Schinus polygamus + Condalia A menor área remanescente de uma fi tofi sionomia (49,20 ha) 3-4 buxifolia + Cereus hildmannianus. nativa da PIRP. Extremamente vulnerável a impacto.

* Denominados mistos quando apresentam diversas espécies características e, caso contrário, são consideradas monodominantes ou co-dominantes quando apresentam uma ou poucas espécies com maior cobertura ou densidade na comunidade. * Communities denominated “Mistos” when represented by many species, otherwise are called monodominant or co-dominant with they have represented by one or two species. terreno, não foi possível definir os pluviosidade, devido à elevação do das em dois grandes grupos, de acordo limites exatos dos distintos tipos flo- rio ou do lençol freático (Cunha et al. com o estádio sucessional: FCSI em rísticos nas fotografias aéreas e, por 1997). Em campo, foi possível obser- estádio secundário médio de desen- isso, considerou-se toda a região de var que as FCSI podem atingir grande volvimento (8 a 12 m de altura) e as ocorrência como pertencendo ao mes- porte e riqueza específica, sendo esta FCSI em estádio avançado de desen- mo tipo fitofisionômico (Figura 2, 3A distribuída em diversos componentes volvimento (13 a 17 m). No compo- e 3B). As florestas se encontram sobre florestais, de herbáceos a arbóreos, nente herbáceo-subarbustivo, entre as mesorelevo muito irregular e sobre ne- além daqueles dependentes (epífitos espécies frequentemente encontradas ossolos fluviais e gleissolos passíveis e trepadores). De forma geral, essas estão Doriopteris lorentzii, Asplenium ao alagamento nas épocas de maior florestas puderam ser ainda classifica- sellowianun e espécies de Solanum

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Figura 2. Localização das grandes classes de fitofisionomias na planície de inundação do rio Piratini-PIRP (Capão do Leão/Arroio Grande, RS). Onde: Are = Áreas de regeneração; BA = ba- nhados; CAp = campos antropizados; FCPI = florestas ciliares periodicamente inundáveis; FCSI = florestas ciliares sazonalmente inundáveis; Peu = Plantação de Eucalyptus sp.; FI = floresta de interflúvio; LAr = lavouras de arroz; Ma = matorral espinhoso; Rio = talvegue do rio Piratini. Figure 2. Map location of the vegetation types in Piratini river floodplain-PIRP (Capão do Leão/ Arroio Grande, RS): Are= regeneration areas; BA= marshes; CAp= degraded grassland; FCPI= periodically flooded riparian forests; FCSI= seasonally flooded riparian forests; Peu= Eucalyptus sp. plantation; FI= interfluve forests; Lar= Rice crop; Ma= thorny bushes; Rio= river channel.

(ver Tabela 2). No componente arbus- predominaram Sorocea bonplandii, Piratini (aproximadamente 6 km antes tivo, são frequentes Acacia bonarien- Trichilia claussenii, Chrysophyllum da foz), onde o terreno apresenta as sis, brasiliana, Calliandra gonocarpum, Sebastiania brasilien- menores altitudes. Para essa região, tweediei, Daphnopsis racemosa e Tri- sis, Myrcianthes gigantea, Nectandra as florestas ocupam áreas pouco mais chilia elegans. O componente arbóreo megapotamica e Ocotea pulchella e, elevadas entre um grande emaranhado apresentou maior riqueza, sendo fre- no dossel, Luehea divaricata, Eugenia de meandros, lagoas interiores e leitos quentes Allophylus edulis, Cupania rostrifolia e Ficus cestrifolia. Na re- abandonados do rio, que estão geral- vernalis, Chrysophyllum marginatum, gião de abrangência das FCSI, os prin- mente alagados durante a maior parte Nectandra megapotamica, Lithraea cipais agentes de distúrbios antrópicos do ano (Tabela 1; Figura 2, 3C-F). Nas brasiliensis, Guettarda uruguensis, foram a contaminação de trechos da fotografias aéreas, as FCPI puderam além de espécies dos gêneros Casea- floresta ciliar por herbicidas, devido ser distinguidas facilmente na planície ria, Myrsine e Zanthoxylum (ver Ta- à pulverização por aviões agrícolas de inundação, pelas características de- bela 3). As espécies que se destacaram nos trechos de lavouras adjacentes à nominadas anteriormente. As florestas no dossel foram Erytrhoxylum argen- floresta ciliar, o pastoreio de bovino apareceram nas imagens orbitais com tinum e Luehea divaricata. O estádio e a remoção de pequenos trechos de tonalidade cinza-médio, textura áspe- mais avançado de sucessão nessa fito- floresta para abertura de canais de ir- ra e formas irregulares. Nessas áreas, fisionomia apresentou um menor nú- rigação para a orizicultura (Tabela 1). foram observados diques fluviais que mero de espécies e as maiores alturas sustentaram poucos exemplares de das plantas (13 a 17 m de altura). Para Florestas ciliares FCSI. Próximo à foz do rio Piratini (os o componente herbáceo dessa flores- periodicamente inundáveis últimos 6 km do rio), as FCPI ocorrem ta, foram registradas poucas espécies (FCPI) como faixas estreitas e lineares sobre de Poaceae (Pharus lapullaceus e terreno, sem nenhum ou pouco meso- Ichnathus pallens), e, no arbustivo, Essa fitofisionomia ocorreu em toda a relevo, e alagado na maior parte do predominaram Faramea montevi- extensão da PIRP, sendo que a maior ano (Cunha e Silveira, 1992; Figura densis, Psychotria carthagenensis e área de florestas se localiza entre as 2). Na região de predomínio das FCEI, Gymnanthes concolor. No subdossel, FCSI e a região próxima à foz do rio as FCPI foram limitadas a pequenos

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Figura 3 A-P.. Imagens de algumas das principais fitofisionomias da planície de inundação do rio Piratini: florestas ciliares sazonalmente inundáveis- sobre dique fluvial (A) e na borda com campo adjacente (B); florestas ciliares periodicamente inundáveis: com Salix humbol- dtianum (C) (primeiro plano); com Phyllanthus sellowianus (D), com Erythrina cristagalli (E) e com Syagrus romanzoffiana (F); floresta de interflúvio tipo arenosa (G) e tipo mesófila (H); matorral espinhoso (I); banhado com juncáceas (J) e com ciperáceas (L); campo antrópico seco (M); campos inundáveis para pecuária derivados da drenagem de banhados e matas paludosas (N); lavouras de arroz (O) e área com regeneração florestal (P). Figure 3 A-P.. The most important vegetation types of Piratini river floodplain: seasonally flooded riparian forests- on the river embank- ment (A) and on the border with the adjacent grasslands (B); periodically flooded riparian forests- Salix humboldtianum (C) (first plan); Phyllanthus sellowianus (D), Erythrina cristagalli (E) and Syagrus romanzoffiana (F) communities; interfluvial sandy (G) and mesophytic (H) forests; thorny bushes (I); Juncaceae (J) and Cyperaceae (L) marshes dominated; dry degraded grasslands (M); wet degraded gras- slands (N); rice crop (O) and naturally regenerated forest communities (P).

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Tabela 2. Levantamentos florísticos realizados em formações florestais no Pampa brasileiro, onde: NE = número de espécies, NF =

Número de famílias e ISJ = índice de similaridade de Jaccard. Tipos de florestas: 1. matas ciliares, 2. matas de restingas arenosas e paludosas. Table 2. Floristic forests inventories realized in brazilian Pampa: NE= species number, NF= families number, ISj= Jaccard similarity índex. Forests types: 1. riparian forests; swampy and sandy forests.

Tipos de Região do Pampa Local NE* NF* IS Famílias fl orestas J Litoral1,2 P.E. Delta Jacuí 1 166 55 20,6 b (15); a (13); d (9); i (8); h (7) Litoral3 R.B. Lami 1, 2 144 57 22,6 f (10); a, c (8); b, d (6) Litoral4 Baixo Jacuí 1, 2 151 56 22,1 b (23); a, c (10); j (8); f (7) Litoral5,6 ESEC Taim 2 151 67 22,4 e, h (10); d, g (8); c (7) Litoral7 HBITL 2 245 73 30,7 e (30); c (10); b (14); g (13); d (12) Litoral Este estudo 1,2 195 73 100 e (12); b (10); a, g (9); c, h, i (8) Campanha oeste8 P.E do Espinilho 1 102 49 11,6 b (9), a (8), d (7), f (6), e (5)

* Foram considerados apenas os táxons coletados em formações florestais. 1Longhi-Wagner e Ramos (1981); 2. Oliveira (1998); 3. Baptista (1979); 4. Bueno et al. (1987); 5. Porto e Dillenburg (1986); 6. Waechter e Jarenkow (1998); 7. Jarenkow (dados não publ.); 8. Galvani e Baptista (2004). Família com maior riqueza específica: a) Fabaceae, b) Myrtaceae, c) Rubiaceae, d) Poaceae, e) Asteraceae, f) Bromeliaceae, g) Orchidaceae, h) Solanaceae, i) Euphorbiaceae e j) Sapindaceae. * We considered only the taxa collected in forested areas of the following studies: 1Longhi-Wagner and Ramos (1981); 2. Oliveira (1998); 3. Baptista (1979); 4. Bueno et al. (1987); 5. Porto and Dillenburg (1986); 6. Waechter and Jarenkow (1998); 7. Jarenkow (unpublished data); 8. Galvani and Baptista (2004). The most diverse families: a) Fabaceae, b) Myrtaceae, c) Rubiaceae, d) Poaceae, e) Aste- raceae, f) Bromeliaceae, g) Orchidaceae, h) Solanaceae, i) Euphorbiaceae and j) Sapindaceae.

trechos que correspondem a antigos ocorrem organossolos e gleiossolos formas irregulares a regulares. Foi braços do rio, canais de ligação entre tiomórficos salinos (Cunha e Silveira, possível identificar nos aerofotogra- lagoas e margens baixas (Figura 2). 1992; Cunha et al., 1997, adaptado mas os terraços fluviais onde essas Estudos preliminares demonstraram conforme EMBRAPA, 1999), apare- formações ocorreram. Dentro das flo- que as florestas inundáveis apresen- cem indivíduos dispersos de Syagrus restas nativas, essas fitofisionomias tam-se sobre solos do tipo neossolos romanzoffiana (com altura de até 12 cobriram uma das menores áreas na fluviais, gleissolo, gleiossolos tiomór- m) ou Erythrina cristagalli (com até 5 PIRP (Tabela 1). O maior fragmento ficos salinos e organossolos, onde os m de altura). O estado de conservação dessa formação localizou-se em um sedimentos são predominantemente das FCPI variou entre as diferentes fi- trecho de terraço alto próximo da BR- arenosos (Cunha e Silveira, 1992; tofisionomias. De forma geral, pôde- 116, pertencente à Fazenda Capão Cunha et al., 1997, adaptado con- se considerar que na região próxima Bonito. Outros pequenos fragmen- forme EMBRAPA, 1999). As FCPI à foz, nos últimos 6 km do curso do tos foram identificados em locais de apresentam cinco subtipos fitofisio- rio, essas fitofisionomias encontra- ocorrência de terraços médios, próxi- nômicos distintos, que respondem ram-se mais ameaçadas, pois estão mo à foz (Figura 3; Figura 3G). Es- aos diferentes períodos de alagamen- limitadas a pequenos trechos lineares sas áreas estão localizadas numa área to dos solos e são representadas por às margens do canal principal, quando sedimentar plana e extensa entre uma grupos de espécies monodominantes não ocorrem trechos ciliares comple- planície mais alta, seguida de porções ou co-dominantes que, geralmente, tamente destituídos de vegetação. As mais baixas, que se encontram livres formavam comunidades de pequeno duas formações associadas aos ba- de alagamentos que ocorrem normal- porte (Tabela 2; Figura 3A-F). Dessa nhados, também se destacaram como mente nas épocas de enchentes. As forma, puderam ser identificados cin- as mais ameaçadas na PIRP devido à classes dos solos nessas áreas são dos co subtipos fitofisionômicos: aqueles drenagem das áreas úmidas, para utili- tipos neossolos quartzarênicos e pla- geralmente restritos às margens do zação do espaço para pecuária e orizi- nossolos (Cunha et al., 1997; adap- rio, dominados por Salix humbol- cultura (Cunha e Silveira, 1992). tado conforme EMBRAPA, 1999). dtiana (atingindo até 8 m de altura), Na primeira classe de solos, as FI se Phyllanthus sellowianus (com até 6 Florestas de interflúvio (FI) assemelham às florestas arenosas do m) e Sebastiania schottiana (com até litoral sul-riograndense (sensu Wae- 2 m) (Ver Tabela 1). Nas comunida- Nas fotografias aéreas, essas foram chter, 1985; 1990), apresentando três des restritas a ambientes de banhados identificadas com tonalidade cinza- componentes verticais: o herbáceo (com predomínio de herbáceas), onde escuro e médio, textura rugosa e (principalmente com Pharus lapulla-

234 Volume 6 number 3  september - december 2011 Florística e fi tofi sionomias da planície de inundação do rio Piratini e a sua importância para conservação no Pampa ceus, Tradescantia fluminensis, Pa- nativas, mas onde não foram realizadas com tonalidade cinza-claro e cinza- vonia sepium, Solanun americanun), coletas botânicas. escuro, textura lisa e formas circulares o arbustivo (destacando-se Miconia regulares. Ocorrem nas áreas planas e hyemalis, Opuntia monoacantha, Matorral espinhoso (Ma) permanentemente encharcadas duran- Randia ferox) e o arbóreo (com Sa- te o ano (com lençol freático próximo pium glandulosum, Myrsine coriacea, Essa fitofisionomia arbustiva somen- à superfície), principalmente nas áre- Zanthoxylum rhoifolium, Ficus ces- te pode ser identificada durante as as próximas à foz do rio Piratini, em trifolia e Syagrus romanzoffiana) (Fi- excursões de campo. Sua terminolo- condições ambientais aparentemente gura 3G). Nas áreas de planossolos, gia foi adotada devido à semelhança similares àquelas em que ocorrem as a estrutura se assemelha às florestas florística e fitofisionômica com as florestas paludosas (Tabela 1, Figura estacionais da encosta da Serra dos formações de mesmo nome encontra- 3J e 3L). Foi possível distinguir, em Tapes (Waechter, 1990; Jurinitz e Ja- das no Pampa uruguaio costeiro, onde campo, dois tipos de banhados (Tabe- renkow, 2003), com a presença de três predominam arbustos e árvores baixas la 1): aqueles onde predominam cipe- componentes na distribuição vertical: (máximo de 3 m de altura), geralmen- ráceas (Scirpus californicus e Cyperus o herbáceo (Oxalis amara, Ichnan- te espinhosos, que, com frequência, se giganteus; Figura 3l) e aqueles carac- thus pallens e Panicum grumosum), instalam em solos arenosos e pouco terizados por juncáceas (Juncus mar- o arbustivo (Erythroxylum substria- sujeitos ao alagamento (Ver Paz e Ba- ginatus e J. sellowianus; Figura 3j), tum, Psychotria brachyceras, Styrax sagoda, 2002). Nas fotografias aéreas, ambas com altura média de 1,5 m. Os leprosum, Solanun sanctaecatarinae, o Ma apresentou as mesmas caracte- banhados com ciperáceas foram en- Gymnanthes concolor e Sorocea bon- rísticas de imagem que algumas áre- contrados em manchas no interior das plandii) e o arbóreo (Allophylus edu- as de regeneração natural: tonalidade florestas ciliares e os com juncáceas, lis, Trichilia claussenii, Prunus myrti- cinza-claro com pontos escuros isola- nas regiões de transição da floresta ci- folia, Myrcianthes gigantea, Eugenia dos, textura áspera e forma irregular. liar para o campo. Em todos os locais involucrata, Cupania vernalis e Ficus O Ma foi encontrado em apenas dois onde ocorreram essas fitofisionomias, luschnathiana) (Figura 3h). Estudos pequenos trechos na PIRP, ambos na foi observada a ameaça de drenagem anteriores na região já relataram que transição da floresta ciliar com cam- da área para utilização como pastagem grande parte dessas formações ve- pos de pastagens (Figura 2, 3I) sendo, para pecuária ou lavoura de arroz. getais foi convertida para sistemas portanto, a fitofisionomia com a me- agropastoris (Cunha e Silveira, 1992; nor área total (Tabela 1). Na PIRP, o Campos antrópicos (CAp) Cunha et al., 1997). Durante as excur- Ma apresentou uma cobertura herbá- sões a campo, foi possível observar cea densa e contínua, do tipo campo Nas fotografias aéreas, os CAp apresen- que os poucos trechos remanescentes sujo, sobre solos arenosos. O compo- taram-se com tonalidade cinza-claro, encontram-se cercados e protegidos nente arbustivo, de menor densidade, textura lisa e formas irregulares ou re- dos impactos antrópicos, pela iniciati- onde se destacam Opuntia monacan- gulares na paisagem. Localizaram-se va dos proprietários das terras. tha, Schinus polygamus, Condalia nas margens das fitofisionomias flores- buxifolia, Acanthosyris spinescens e tais, citadas anteriormente, e nas áreas Plantação de Eucalyptus (PEu) Acacia caven, com árvores ocasionais das imediações da PIRP, o que justifi- (Cereus hildmannianus, Myrsine lae- cou a exclusão de amostras descritivas e Nas fotografias aéreas, esse agrupa- tervirens e M. coriacea) (Figura 3I). coletas botânicas. Durante as excursões mento vegetal apresentou-se com to- De acordo com Cunha et al. (1997), a a campo, foram distinguidos dois tipos nalidade cinza-escuro, textura rugosa região onde se localizam essas fitofi- de campo antrópicos: não alagáveis e e forma regular. A área total estimada sionomias são caracterizadas pela au- alagáveis, ambos geralmente com altu- dessa fitofisionomia foi baixa (83 ha) sência de alagamentos e solos do tipo ra da cobertura vegetal menor do que e restringiu-se a um trecho de terraço neossolos quartzarênicos. Devido ao 20 cm. O primeiro tipo representou as fluvial próximo à margem do rio (Fi- local de ocorrência dessa fitofisiono- áreas de campo nativo sobre terreno on- gura 2). Nas constatações a campo, ve- mia e à facilidade de conversão para dulado, que são utilizados para pecuá- rificou-se que se tratava de uma plan- áreas de pastagem, pode-se considerá- ria, na região. A maior área com esses tação de Eucalyptus sp., destacando-se la como a mais ameaçada na PIRP. campos encontra-se no trecho adjacente na paisagem da PIRP, pelo seu elevado à floresta ciliar, da margem esquerda do porte (entre 25-30 m de altura). Foi a Banhados (Ba) rio Piratini (Figura 2 e 3M). O campo única formação arbórea exótica mono- alagável localizou-se principalmente dominante identificada, com trechos Fitofisionomia nativa higrófila, carac- na região periodicamente inundável nos quais a regeneração natural está se terizada como essencialmente herbá- próxima à foz, onde o terreno é baixo dando por estabelecimento de espécies cea. Nas imagens orbitais, aparecem e plano (Figura 2 e 3N). Esses campos

Neotropical Biology and Conservation 235 Ricardo V. Kilca, João A. Jarenkow, Júlio C. W. Soares, Élen N. Garcia

foram originados pela drenagem e subs- lares. Essas fisionomias puderam ser 2002) ou então formações herbáceas de tituição de banhados e matas paludosas identificadas somente in loco, onde ciperáceas e juncáceas (Oliveira, 1998; nativas. No geral, a pecuária não causa representaram os diferentes estádios de Kalesnik, 2001; Bó, 2005; Pezzani, grande impacto nas áreas de campo na- sucessão secundária das diferentes fito- 2007). Essas comunidades são forma- tivo, entretanto, quando desenvolvida fisionomias florestais nativas, como as das pela tolerância de algumas plan- em sistema de superpastejo, o pisoteio florestas ciliares e as florestas de inter- tas ao alagamento frequente, devido a altera as características físico-químicas flúvio. Foram duas as maiores áreas em adaptações morfofisiológicas e à com- dos solos, modificam a estrutura e a regeneração na PIRP: uma faixa ime- petição por umidade que determina as composição das comunidades vegetais, diatamente adjacente à floresta ciliar, mudanças na estrutura das diferentes disseminam espécies vegetais invasoras na margem esquerda (Pedro Osório), e comunidades ribeirinhas (Naiman e e alteram o balanço de nutrientes e água outra que compreende uma grande área Décamps, 1997). no sistema (Chaneton et al., 2002; Me- na margem esquerda (Capão do Leão), As informações provenientes dos le- deiros et al., 2009). na região próxima à foz do rio Piratini vantamentos de campo permitiram es- (Figura 2). Essas duas áreas estavam timar que as fitofisionomias de maior Lavouras de arroz (LAr) em fase de regeneração natural, com riqueza específica relacionaram-se cobertura vegetal de 3 a 8 m de altura positivamente aos sítios com solos Nas fotografias aéreas, apresentaram- (Tabela 1; Figura 3P) e não apresenta- melhor drenados e em estádio médio se com tonalidade cinza-claro, textura vam indícios de distúrbios antrópicos de sucessão. Isso reflete a condição lisa e formas regulares. Ocorrem em frequentes. de a maioria das plantas estar adapta- vários trechos da PIRP, entretanto, As planícies de inundação (ou pla- da a ambientes mésicos e à condição a maior parte da área com cultivos nícies fluviais) associadas aos rios de distúrbio intermediário (Naiman localizou-se na margem direita do rio comportam um complexo mosaico de e Décamps, 1997). Outra condição Piratini (municípios de Pedro Osório fitofisionomias naturais e uma gran- ambiental em hábitats ribeirinhos são e Arroio Grande) (Figura 2 e 3O). O de diversidade, criadas a partir dos os sítios não sujeitos ao alagamento, terreno é plano com solos do tipo pla- distintos regimes hidrológicos e pela onde predominam as plantas que não nossolo e gleissolo (Cunha e Silveira, estreita interação entre os processos suportam o alagamento (Rodrigues e 1992, 1995; Cunha et al., 1997; adap- geomorfológicos e biológicos. Nes- Shepherd, 2000). No caso da PIRP, tado conforme EMBRAPA, 1999). ses ambientes, grandes trechos são essas formações florestais ocorreram Não foi mensurado o tamanho de área periodicamente alagados e somente nos terraços fluviais onde a fisiono- ocupada por essa fitofisionomia, pois nas porções mais elevadas do terreno, mia foi semelhante às florestas semi- seu limite extrapola a área da PIRP. chamadas de terraços fluviais, os ala- decíduas da encosta do escudo cris- A orizicultura representa atualmente a gamentos não ocorrem (Junk et al., talino sul-riograndense (ou Serra do atividade de maior impacto ambiental 1989; Oliver e Larson, 1996). Dentro Sudeste), que utilizaram o ambiente na PIRP, seguido da pecuária (Caldas, do contexto das planícies fluviais do ribeirinho como corredores para dis- 1990). Além da remoção total das fito- Pampa, as comunidades vegetais adap- persarem-se pela região costeira (ver fisionomias originais (e a consequente tadas ao alagamento apresentam carac- Waechter, 1992; Souza, 2001; Juri- eliminação das espécies vegetais) para terísticas fisionômicas distintas daque- nitz e Jarenkow, 2002;), assim como a realização dos plantios, a atividade las ocorrentes em solos bem drenados as florestas de restinga arenosas que orizícola (com plantio pré-germinado (ver Franceschi et al., 1985; Oliveira, são as principais formações florestais em área alagável) altera fortemente 1998). A PIRP apresentou uma grande da Planície Costeira, no Rio Grande a estrutura dos solos e indiretamente heterogeneidade ambiental (feições do Sul (ver Waechter 1985, 1990; contamina os ecossistemas nativos por geomorfológicas, tipos de solos, área Waechter e Jarenkow, 1998). agroquímicos (Mattos, 2004; Primel et sujeita ou não à inundação, florestas A riqueza e a composição florística al., 2005). No entanto, faz-se a ressalva em diferentes níveis de sucessão), que das fitofisionomias florestais na PIRP que os resultados indicam que pouco se refletiu diretamente nos aspectos fi- Foram inventariadas 199 espécies, foi o avanço dos limites agrícolas e tofisionômicos das suas comunidades sendo que destas, 189 são Angiosper- pastoris sobre as fitofisionomias nati- vegetais. Algumas das fitofisionomias mas, pertencentes a 141 gêneros e 65 vas nessas duas últimas décadas. determinadas na PIRP também se en- famílias. As Pteridófitas foram repre- contram descritas para outras planícies sentadas com 10 espécies pertencen- Áreas em regeneração (Are) de inundação no Pampa, como, por tes a 9 gêneros e 6 famílias (Tabela 2 exemplo, as florestas monodominan- e 3). Apenas três gêneros não puderam Mostram-se nas fotografias aéreas com tes de S. humboldtiana e E. cristagalli ser identificados em nível específico, tonalidades cinza-claro a cinza-escuro, (ver Franceschi et al., 1985; Kalesnik, devido à não obtenção de material em textura lisa a áspera e formas irregu- 2001; Oliveira, 1998; Paz e Bassagoda, estádio fértil. Os resultados compara-

236 Volume 6 number 3  september - december 2011 Florística e fi tofi sionomias da planície de inundação do rio Piratini e a sua importância para conservação no Pampa tivos entre a PIRP e seis inventários espécies ocorreu nas matas ciliares (Figura 4), com grande riqueza con- realizados em florestas ribeirinhas e inundáveis (periódica ou sazonalmen- centrada entre as arbóreas e as herbá- não ribeirinhas na região pampiana te) ou associadas às florestas de inter- ceas, diminuindo sensivelmente para no Rio Grande do Sul revelaram que flúvio (Tabela 3), o que permitiu infe- as epifíticas, arbustivas e trepadeiras a área em estudo se destaca como a rir que um grande número de espécies (Figura 4). segunda em riqueza. Apenas o Horto utilizou os corredores ecológicos das A estimativa da similaridade florística Botânico Irmão Teodoro Luis (HBI- florestas ribeirinhas para expandir sua demonstrou que a PIRP compartilhou TL) teve registrada maior riqueza distribuição (Rambo, 1956; Naiman e mais espécies com o fragmento flores- específica do que a PIRP (Tabela 2). Décamps, 1997). tal mais próximo, o HBITL (31%). A O HBITL é uma pequena unidade de Entre as espécies inventariadas, des- relação florística foi equivalente entre conservação (10 ha) no Campus da tacaram-se algumas que merecem as florestas ciliares do norte e outra flo- UFPEL (Capão do Leão) que com- atenção especial para conservação. resta de restinga no sul do Pampa (em porta remanescentes de florestas de Foi o caso de nove espécies que se en- torno de 22%). A menor proporção de restinga (brejosa e arenosa), com for- contram na lista das espécies da flora espécies compartilhadas foi com uma te influência de florestas estacionais ameaçada no Rio Grande do Sul, con- floresta galeria do extremo oeste do adjacentes. Nesse fragmento, foram forme Decreto Estadual 42.099/2002: Pampa (11%) (Tabela 2). Esses baixos realizados inventários contínuos e Butia capitata e Condalia buxifolia, valores de similaridade podem estar minuciosos por aproximadamente 5 que estão em perigo, Aechmea recur- relacionados à existência de regiões anos (Jarenkow, J.A. dados não publi- vata, Tillandsia geminiflora, T. usneoi- florísticas distintas no Pampa, con- cados). Talvez essa singular condição des, Vrisea friburgensis, V. gigantea, forme constatado para as epífitas (ver de esforço de coleta possa ter sido um Celtis ehrenbergiana e Erythroxylum Waechter, 1992). Essa suposição pode fator decisivo para elencar essa área substriatum (Tabela 3), consideradas ser reforçada pelo fato de que 45 espé- entre as de maior riqueza específica como vulneráveis, sendo esta última cies, cerca de 22,5% da riqueza total, na planície costeira sul, encravada no endêmica nas formações florestais ocorreram apenas na área de estudo e Pampa sul-riograndense. litorâneas no estado (Marquioreto e em nenhum dos outros inventários, de- A considerável riqueza de espécies ve- Siqueira, 1998). Não menos impor- monstrando também a lacuna de infor- getais presentes na PIRP pode ser sus- tantes para a conservação encontram- mações a ser preenchida, para melhor tentada por características intrínsecas se aquelas espécies que desempenham compreensão de padrões em menor e singulares da área, como a grande um grande papel funcional para os escala. Entretanto, ao nível taxonômi- extensão da área florestal remanescen- ecossistemas na PIRP, como Ficus co de família, as de maior riqueza es- te, as diversas feições geomorfológi- cestrifolia, F. luschnathiana, Syagrus pecífica na PIRP também ocorreram cas da planície de inundação, o grande romanzoffiana e várias Mirtáceas de de forma equivalente na maioria dos número de fitofisionomias florestais grande porte (Campomanesia xantho- inventários do Pampa sul-riograndense existentes e a condição da mata ciliar carpa, Eugenia rostrifolia, Myrcian- (Tabela 2). Na PIRP, as famílias mais atuando como corredor ecológico, fa- thes gigantea), que são árvores com ricas foram Asteraceae (12 espécies), vorecendo a dispersão de inúmeras es- elevada produção de frutos, funda- seguidas de Myrtaceae (10), Orchida- pécies proveniente de regiões fitoeco- mentais para sustentar a fauna silves- ceae e Fabaceae (ambas com nove), lógicas distintas (ver Waechter, 1992; tre. As duas primeiras juntamente com Rubiaceae, Euphorbiaceae e Solanace- Naiman e Décamps, 1997; Metzger, a Luehea divaricata se destacam por ae (com oito). Em nível regional, os re- 1999; Rodrigues e Shepherd, 2000). serem os principais forófitos utiliza- sultados dos inventários demonstraram Entretanto, como foi demonstrado dos por epífitos na região costeira (ver que Asteraceae, Myrtaceae, Fabaceae e no item anterior, essa fitodiversidade Waechter, 1992). Rubiaceae são as mais bem representa- não se encontrou dispersa de forma As espécies classificadas de acordo das nas formações florestais considera- homogênea na PIRP, na qual algumas com seu modo de vida mostraram das (Tabela 2). espécies demonstraram distribuição as arbóreas como as mais ricas, com Embora os resultados preliminares restrita e adaptada a uma determinada 81 espécies (40,5%), seguidas de 58 sobre a riqueza florística na PIRP te- condição ambiental. O matorral espi- herbáceas (29,15%), 23 epifíticas nham sido relevantes para a região li- nhoso, por exemplo, destacou-se pela (11,1%), 22 arbustivas (10,55%), 11 torânea do Pampa brasileiro (Tabela 2), presença de quatro espécies exclusivas trepadoras (6,5%), três arbustivo- salienta-se que novos inventários nas (Schinus polygamus, Berberis lauri- apoiantes (1,5%) e uma hemiparasita fitofisionomias não detalhadas como na, Condalia buxifolia e Acanthosyris (0,5%) (Figura 4). Essa mesma ten- os banhados, a vegetação aquática ri- spinescens), enquanto nas florestas de dência de distribuição da riqueza por beirinha e os campos nativos, com interflúvio foram registradas outras modo de vida se manteve nos demais certeza, acrescentariam centenas de 17 espécies (Tabela 3). A maioria das inventários das florestas do Pampa outras espécies à listagem. No presente

Neotropical Biology and Conservation 237 Ricardo V. Kilca, João A. Jarenkow, Júlio C. W. Soares, Élen N. Garcia

Tabela 3. Espécies da flora vascular encontrada nas fitofisionomias florestais da planície de inundação do rio Piratini seguidas de seu hábito, a fitofisonomia de ocorrência principal e o número do registro no Herbário PEL. Table 3. The list of vascular plants found in Piratini river floodplain florests with life form, vegetation types occurence and herbarium registration number (HPEL).

Família/Espécies Hábito Fitof. PEL* PTERIDOPHYTA ASPLENIACEAE Asplenium sellowianum C. Presl. Er 1 22225 Asplenium ulbrichtii var. serrato-dentata Rosenst. Ep 1,2 22226 POLYPODIACEAE Campyloneurum nitidum (Kaulf.) C. Presl Ep 1,2,3 22227 Microgramma squamulosa (Kaulf.) de la Sota Ep 1,2,3 22228 Polypodium pleopeltidis Fée Ep 1 22229 PTERIDACEAE Adiantum raddianum C. Presl Er 1,3 22230 Doryopteris lorentzii (Hieron.) Diels Er 1,3 22231 SCHIZAEACEAE Anemia phyllitidis (L.) Sw. Er 1,2,3 22232 SELAGINELLACEAE Selaginella muscosa Spring Er 2 22233 THELYPTERIDACEAE Thelypteris riograndensis (Lindm.) C.F. Reed. Er 1,2 22234 MAGNOLIOPHYTA Justicia brasiliana Roth At 1,3 22051 Justicia fl oribunda (C. Koch) Wass. At 1,2 22052 Ruellia angustifl ora (Ness) Lindau At 1,2,3 22053 AMARANTHACEAE Gomphrena elegans Mart. Er 1 22054 ANACARDIACEAE Lithraea brasiliensis Marchand Ar 1,3 22055 Schinus molle L. Ar 3 22056 Schinus polygamus (Cav.) Cabrera Ar 4 22057 APOCYNACEAE Forsteronia glabrescens Müll. Arg. Tr 1,3 22058 AQUIFOLIACEAE Ilex dumosa Reissek Ar 3 NT ARECACEAE Butia capitata (Mart.) Becc.* Ar 3 NT Syagrus romanzoffi ana (Cham.) Glassman Ar 1,2,3 22059 ASTERACEAE Baccharis sp. Er 1 22060 Bidens pilosa L. Er 1,2,3 22061 Blainvillea biaristata DC. Er 1,2 22062 Chaptalia nutans (L.) Polak. Er 1,2 22063 Dasyphyllum spinescens (Less.) Cabrera Ar 1 22064

238 Volume 6 number 3  september - december 2011 Florística e fi tofi sionomias da planície de inundação do rio Piratini e a sua importância para conservação no Pampa

Tabela 3. Continuação. Table 3. Continuation.

Família/Espécies Hábito Fitof. PEL* Eupatorium hecatantum DC. Er 1,2 22065 Hypochoeris microcephala (Sch.-Bip.) Cabrera Er 1,2 22066 Mikania involucrata Hook. et Arn. Tr 1, 22067 Mikania micrantha Kunth Tr 1,2,3 22068 Pluchea sagittalis (Lam.) Cabrera Er 3 22069 Senecio brasiliensis Less. At 1,2,3 22070 Sonchus oleraceus L. Er 1,2 22071 BEGONIACEAE Begonia cucullata Willd. Er 1,2 22072 BERBERIDACEAE Berberis laurina Billb. At 4 NT BIGNONIACEAE Bignonia callistegioides Cham. Tr 1,2,3 NT Dolichandra unguiscati (L.) L.G. Lohmann Tr 1,2,3 NT BORAGINACEAE Heliotropium elongatum Hoffm. Er 1 22073 Cordia ecalyculata Vell. Ar 3 22074 BROMELIACEAE Aechmea recurvata (Klotzsch) L.B.Sm.* Ep 3 22076 Bromelia antiacantha Bertol. Er 1,2,3 NT Tillandsia geminifl ora Brongn.* Ep 1,2 NT Tillandsia usneoides (L.) L.* Ep 1,3 22078 Vriesea friburgensis Mez* Ep 2,3 NT Vriesea gigantea Gaudich.* Ep 2,3 NT CACTACEAE Cereus hildmannianus K. Schum. Ar 1,3,4 22082 Lepismium cruciforme (Vell.) Miq. Ep 1,3 NT Lepismium lumbricoides (Lem.) Barthlott Ep 1,3 NT Opuntia monacantha (Willd.) Raw. At 1,3,4 NT Rhipsalis teres (Vell.) Steud. Ep 1 22086 CANNABACEAE Celtis ehrenbergiana (Klotzsch) Liebsm.* Ar 1 22093 Celtis iguanaea (Jacq.) Sarg. Ata Todas 22092 CARYOPHYLLACEAE Stellaria media (L.) Vill. Er 1,3 22088 CELASTRACEAE Maytenus muelleri Schwacke At 1,3 22089 CLEOMACEAE Cleome trachycarpa Klotzch Er 1 22087

Neotropical Biology and Conservation 239 Ricardo V. Kilca, João A. Jarenkow, Júlio C. W. Soares, Élen N. Garcia

Tabela 3. Continuação. Table 3. Continuation.

Família/Espécies Hábito Fitof. PEL* COMBRETACEAE Terminalia australis Cambess. Ar 1,2,3 22094 COMMELINACEAE Commelina diffusa Burm. Er 1,2,3 22095 Tradescantia fl uminensis Vell. Er 1,2 22097 Tripogandra diuretica (Mart.) Handlos Er 1,2 22098 Tripogandra glandulosa (Seub.) Rohweder Er 1,3 22099 CONVOLVULACEAE Ipomoea alba L. Tr 1,3 22100 CYPERACEAE Cyperus cf. consaguineus Kunth Er 1,2 22101 Cyperus eragrostis Lam. Er 1,2, 22102 Killinga brevifolia Rottb. Er 1,2,3 22103 Torulinium odoratum (L.) S.S. Hooper Er 2,3 22104 DIOSCOREACEAE Dioscorea multifl ora Mart. Tr 1,3,4 NT EBENACEAE Diospyros inconstans Jacq. Ar 1,3 22105 ERYTHROXYLACEAE Erythroxylum argentinum O.E.Schulz Ar 1,3 22106 Erythroxylum substriatum O.E.Schulz* Ar 3 NT EUPHORBIACEAE Acalypha gracilis Müll. Arg At 1,2,3 22108 Acalypha multicaulis Müll. Arg. Er 1,3 22109 Gymnanthes concolor Spreng. Ar 1,2,3 22110 Manihot grahamii Hook. Ar 3 22111 Sapium glandulosum (L.) Morong Ar 1,3 22113 Sebastiana brasiliensis Spreng. Ar 1,3 22114 Sebastiana commersoniana (Baill.) L.B.Sm. et Downs Ar 1,2,3 22115 Sebastiana schottiana (Müll. Arg.) Müll. Arg. Ar 1,2 22116 FABACEAE Acacia bonariensis Gillies Ata 1,2,3 22121 Acacia caven (Molina) Molina Ar 4 22122 Calliandra breviceps Benth. At 1 NT Calliandra tweediei Benth. Ar 1,2 22124 Erythrina cristagalli L. Ar 1,2 22117 Mimosa pilulifera Benth. Ar 2 22125 Lupinus albescens Hook. et Arn. Er 1,4 NT Sesbania punicea (Cav.) Benth. At 2 22119 Sesbania virgata (Cav.) Pers. At 2 NT LAMIACEAE Vitex megapotamica (Spreng.) Moldenke Ar 1,2,3 22131

240 Volume 6 number 3  september - december 2011 Florística e fi tofi sionomias da planície de inundação do rio Piratini e a sua importância para conservação no Pampa

Tabela 3. Continuação. Table 3. Continuation.

Família/Espécies Hábito Fitof. PEL* LAURACEAE Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez Ar 1,2,3 22132 Ocotea acutifolia Mez Ar 3 NT Ocotea puberula (Rich.) Ness Ar 1,3 22133 Ocotea pulchella (Ness) Mez Ar 1,2,3 22134 LOGANIACEAE Spigelia humboldtiana Cham. et Schltdl. Er 1,2 22135 LORANTHACEAE Tripodanthus acutifolius (Ruiz et Pav.) Tiegh. Hp 1,3 22136 LYTHRACEAE Cuphea racemosa (L.f.) Spreng. Er 1,2 22137 MALVACEAE Pavonia sepium Vell. At 1,2,3 22138 Sida rhombifolia L. Er 1,2,3 22139 Luehea divaricata Mart. et Zucc. Ar 1,2,3 22217 MELASTOMATACEAE Miconia hiemalis A.St.-Hil. et Naud. At 3 NT Miconia pusillifl ora (DC.) Naudin Ar 3 NT MELIACEAE Trichilia claussenii C.DC. Ar 1,2,3 22140 Trichilia elegans A. Juss. Ar 1,2,3 22141 MOLLUGINACEAE Mollugo verticillata L. Er 1 22142 MORACEAE Ficus luschnathiana (Miq.) Miq. Ar 3 22143 Ficus cestrifolia Schott Ar 1,2,3 NT Sorocea bonplandii (Baill.) W.C.Burger, Lanj. et Boer. Ar 1,3 NT MYRTACEAE Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O.Berg Ar 1,3 22149 Calyptranthes concinna DC. Ar 3 NT Campomanesia xanthocarpa O.Berg Ar 1,2,3 22150 Eugenia involucrata DC. Ar 1,3 22151 Eugenia rostrifolia D.Legrand Ar 1,3 22152 Eugenia unifl ora L. Ar 1,2,3 22153 Eugenia uruguayensis Cambess. Ar 1,2,3 22154 Myrcia palustris DC. Ar 2 NT Myrcianthes gigantea (D.Legrand) D.Legrand Ar 1,3 22155 Myrrhinium atropurpureum Schott Ar 1,3 22156 NYCTAGINACEAE Pisonia zapallo Griseb. Ar 3 NT ONAGRACEAE Ludwigia major (Micheli) Ramamoorthy Er 1,3 22157

Neotropical Biology and Conservation 241 Ricardo V. Kilca, João A. Jarenkow, Júlio C. W. Soares, Élen N. Garcia

Tabela 3. Continuação. Table 3. Continuation.

Família/Espécies Hábito Fitof. PEL* Ludwigia multinervia (Hook. et Arn.) Ramamoorthy Er 1,2,3 22158 Oenothera indecora Cambess. Er 1,3 22159 ORCHIDACEAE Aspydogine sp. Er 1 22160 Campylocentrum aromaticum Barb. Rodr. Ep 1,3 22161 Trichocentrum pumilum (Lindl.) M.W.Chase & N.H.Williams Ep 1,3 22162 Gomesa ciliata (Lindl.) M.W.Chase & N.H.Williams Ep 3 22163 Gomesa cornigera (Lindl.) M.W.Chase & N.H.Williams Ep 1,3 22164 Gomesa longipes (Lindl.) M.W.Chase & N.H.Williams Ep 1 22165 Acianthera pubescens (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase Ep 1,2,3 22166 Acianthera sonderiana (Rchb.f.) Pridgeon & M.W.Chase Ep 1,3 22167 Cyclopogon polyaden (Vell.) 1,2 F.S.Rocha & Waechter Er 22168 OXALIDACEAE Oxalis amara A.St.-Hil. Er 1,2,3 22169 Oxalis niederleinii R. Knuth. Er 1 22170 PASSIFLORACEAE Passifl ora caerulea L. Tr 1 22171 PHYLLANTHACEAE Phyllanthus sellowianus (Klotzsch) Müll. Arg. Ar 1,2,3 22112 PHYTOLACCACEAE Phytolacca dioica L. Ar 1,2,3 22172 PIPERACEAE Peperomia catharinae Miq. Ep 1,3 22173 Peperomia caulibarbis Miq. Ep 1,2,3 22174 Peperomia tetraphylla (G. Forst.) Hook. et Arn. Ep 1,2,3 22175 Piper xylosteoides (Kunth) Steud. At 3 NT PLANTAGINACEAE Scoparia montevidensis (Spreng.) R.E. Fr. Er 1,2 NT POACEAE Bambusa trinii Ness At 1,3 NT Digitaria ciliaris (Retz.) Koeler Er 2 22177 Ichnanthus pallens (Sw.) Munro Er 1,2 22178 Ophismenus setarus (Lam.) Roem. et Schult. Er 1,2,3 22179 Panicum grumosum Nees Er 1,2,3 22180 Pharus lappulaceus Aubl. Er 1,2,3 22181 POLYGONACEAE Coccoloba cordata Cham. Ar 1,3 22182 Polygonum acuminatum Kunth Er 1,2 22183

242 Volume 6 number 3  september - december 2011 Florística e fi tofi sionomias da planície de inundação do rio Piratini e a sua importância para conservação no Pampa

Tabela 3. Continuação. Table 3. Continuation.

Família/Espécies Hábito Fitof. PEL* Polygonum punctatum Elliott Er 1,2 22184 Ruprechtia laxifl ora Meisn. Ar 1 22185 PRIMULACEAE Myrsine coriacea (Sw.) R. Br. Ar Todas 22146 Myrsine laetevirens (Mez) Arechav. Ar 1,2,3 22147 Myrsine lorentziana (Mez) Arechav. Ar 1 22148 QUILLAJACEAE Quillaja brasiliensis Mart. Ar 1 22186 RHAMNACEAE Condalia buxifolia Reissek* Ar 4 NT Scutia buxifolia Reissek Ar 1,2,3 22187 ROSACEAE Prunus myrtifolia (L.) Urb. Ar 1,3 22188 RUBIACEAE Borreria verbenoides Cham et Schltdl. Er 1,3,4 22189 Cephalanthus glabratus (Spreng.) K. Schum. Ar 2 NT Faramea montevidensis (Cham. et Schltdl.) DC. Ar 1,2,3 22190 Guettarda uruguensis Cham. et Schltdl. Ata 1,2,3 22192 Psychotria brachyceras Müll. Arg. At 1,3 22193 Psychotria carthagenensis Jacq. At 1,2,3 22194 Randia ferox (Cham. et Schltdl.) DC. Ar 1,3 NT Richardia brasiliensis Gomes Er 1,2,3 22196 RUTACEAE Zanthoxylum fagara (L.) Sarg. Ar 1 22198 Zanthoxylum rhoifolium Lam. Ar 1,2,3 NT SALICACEAE Banara parvifl ora (A. Gray) Benth. Ar 1,3 NT Banara tomentosa Clos Ar 1,3 22127 Casearia decandra Jacq. Ar 1,2,3 22128 Casearia sylvestris Sw. Ar 1,2,3 22129 Salix humboldtiana Willd. Ar 1,2 22199 Xylosma pseudosalzmannii Sleumer Ar 1,2 NT Xylosma tweediana (Closs) Eichler Ar 1 22130 SANTALACEAE Acanthosyris spinescens (Mart. et Eichl.) Griseb. At 1,4 NT SAPINDACEAE Allophylus edulis (A.St.-Hill. et al.) Radlk. Ar 1,2,3 22200 Cardiospermum sp. Tr 1,2,3 22201 Cupania vernalis Cambess. Ar 1,2,3 22202 Dodonaea viscosa Jacq. Ar 1,4 22203 SAPOTACEAE Chrysophyllum gonocarpum (Mart. et Eichler) Engl. Ar 1,3 22204

Neotropical Biology and Conservation 243 Ricardo V. Kilca, João A. Jarenkow, Júlio C. W. Soares, Élen N. Garcia

Tabela 3. Continuação. Table 3. Continuation.

Família/Espécies Hábito Fitof. PEL* Chrysophyllum marginatum (Hook. et Arn.) Radlk. Ar 1,2,3 22205 Pouteria gardneriana (A.DC.) Radlk. Ar 1,2 22207 Pouteria salicifolia (Spreng.) Radlk. Ar 1,2 22206 SMILACACEAE Smilax campestris Griseb. Tr Todas 22208 SOLANACEAE Nierembergia scoparia Sendtn. Er 1,2 22209 Solanum americanum Mill. Er 1,2 22210 Solanum guaraniticum A. St.-Hil. At Todas 22211 Solanum laxum Spreng. Tr 1,3 22212 Solanum mauritianum Scop. Ar 1 22213 Solanum paniculatum L. At 1,2 22214 Solanum sanctaecatharinae Dunal Ar 3 NT Vassobia brevifolia (Sendtn.) Hunz. Ar 1 22215 STYRACACEAE Styrax leprosum Hook. et Arn. Ar 3 NT THYMELAEACEAE Daphnopsis racemosa Griseb. At 1,2,3 22216 TROPAEOLACEAE Tropaeolum pentaphyllum Lam. Tr 1,3 22218 VERBENACEAE Citharexylum montevidense (Spreng.) Moldenke Ar 1,3 22219 Glandularia selloi (Spreng.) Tronc. Er 1,2 22220 Glandularia tenera (Spreng.) Cabrera Er 1,2,3 NT Verbena ephedroides Cham. Er 1,2 NT Verbena intermedia Gillies et Hook. Er 1,2 22223 VITACEAE Cissus striata Ruiz et Pav. Tr 1,3 22224

As espécies assinaladas com asterisco (*) são consideradas da flora ameaçada do Estado do Rio Grande do Sul. Modo de vida: Ar = arbóreo, At = arbustivo, Ata = arbustivo-apoiante, Er = herbáceo, Ep = epifítico, Tr = trepador e Hp = hemiparasítico. Fitofisionomias: 1. Florestas ciliares sazonalmente inundáveis; 2. Florestas ciliares periodicamente inundáveis; 3. Florestas de interflúvio; 4. Matorral espi- nhoso. NT = Espécies coletadas, mas não tombadas por apresentarem problemas no processo de herborização. The indicated species (*) are considered endangered in Rio Grande do Sul state. Life form: Hp = hemiparasite, Ata = shrubby scrambler, Tr = Vines, At = , Ep = epiphyte, Er= Herbs and Ar = Arboreal. Vegetation types; 1. FCSI= seasonally flooded riparian forests; 2. FCPI= periodically flooded riparian forests; 3. FI= interfluve forests; 4. Ma= thorny bushes; NT= colected species but was not then incor- porated in the herbarium HPEL

estudo, as coletas botânicas foram mais Principais características da do Sul. A maioria dessas unidades de intensivas nas florestas ciliares devido PIRP em relação às outras conservação (12 UCs), está localizada a enorme área que ocupam (FCEI e áreas sob conservação na porção norte do litoral, seguida da FCPI), sem descartar-se, porém, que porção sul (7 UCs) e, por fim, na por- um maior esforço de coleta nas flores- O litoral do Pampa apresenta o maior ção média ou central (5 UCs) (Tabela tas de interflúvio e paludosas poderiam número de áreas protegidas em relação 4). A proporção de área protegida nes- ainda acrescentar algumas espécies à às outras regiões do bioma (Serra do sa região do bioma declinou seguindo listagem apresentada. Sudeste e Campanha) no Rio Grande o mesmo sentido. Em escala regional,

244 Volume 6 number 3  september - december 2011 Florística e fi tofi sionomias da planície de inundação do rio Piratini e a sua importância para conservação no Pampa

Figura 4. Percentual de espécies por modo de vida nos levantamentos florísticos realiza- dos no Pampa. Onde: Hp = Hemiparasitas, Ata = Arbustivo-apoiante, Tr = Trepadeiras, At = Arbustivas, Ep = Epífitas, Er = Ervas e Ar = Arbóreas. Locais dos inventários: Parque Estadual do Espinilho (PEE); Estação Ecológica do Taim (ESECTaim); Reserva Bioló- gica do Lami (RBLami); florestas ciliares do baixo curso do rio Jacuí (B Jacuí); Parque Estadual do Delta do Rio Jacuí (PEDJ); Horto Botânico Irmão Teodoro Luis (HBITL); este estudo (PIRP). Figura 4. Number of species (axes Y) and species life form (axes X) performed of the flo- ristic inventories in Pampa biome: Hp = hemiparasite, Ata = bush-supporter, Tr = Vines, At = shrub, Ep = epiphyte, Er= Herbs and Ar = Arboreal. Sampling sites: Espinilho State Park (PEE); Taim Ecological Station (ESEC Taim); Lami Biological Reserve (RBLami), riparian forests of the Jacuí river (B Jacuí), Delta Jacuí River State Park (PEDJ), Luis Teodoro Botanical Garden (HBITL), this study (PIRP).

foram registradas 9 UCs com mais de (ver Tabela 4; Waechter, 1985, 1990; não fica impedida mesmo no caso em 1.000 ha, porém, apenas 2 dessas abri- Dillenburg et al., 1992). A falta de que apenas um ecossistema de maior gam remanescentes de florestas (Ta- levantamentos na região limita uma tamanho prevaleça sobre os outros bela 4). Essa constatação deixa claro análise pormenorizada da diversidade de menor tamanho (Primack e Rodri- que são raras as áreas protegidas que de comunidades florestais, da riqueza gues, 2000), como é o caso da PIRP. mantêm grandes fragmentos flores- e as relações florísticas numa escala Estabelecer uma análise criteriosa tais no Pampa. Nesse sentido, a PIRP de bioma. com essa abordagem vai além dos ob- apresentou-se como a segunda maior A abordagem moderna a respeito da jetivos do presente estudo. Entretanto, área com florestas nativas, superada conservação da biodiversidade re- salienta-se que a área preenche alguns apenas pela planície de inundação do quer uma visão que considera diver- importantes requisitos que apontam a rio Camaquã, na qual se considerou sos níveis da organização biológica, funcionalidade da PIRP para conser- apenas a área do Parque Estadual do como o da variabilidade genética das vação. A grande riqueza de espécies e Camaquã (Tabela 4). Esse cenário não populações, da diversidade de espé- de fitofisionomias nativas conectadas muda se forem abrangidas todas as cies, de comunidades, de paisagens numa única matriz da paisagem, que áreas protegidas e regulamentadas no e os processos e padrões ecológicos se apresenta em bom estado de preser- bioma, ou quando se considerarem as em múltipla escala (CBD, 2002). Na vação, pode ser um atributo funcional 105 áreas informadas no Portal Bra- prática, essa abordagem demonstra a importante. Essa condição favorece sileiro sobre Biodiversidade (disponí- importância de se conservar o maior importantes processos ecológicos, vel no site: http://www.mma.gov.br). número possível de comunidades na- como a manutenção de populações Dessa forma, a PIRP destacou-se no turais para proteger a maior quantida- viáveis e dos dinâmicos do ecossis- contexto do Pampa, pela grande área de de espécies ou, em outras palavras, tema (p. ex., a regeneração florestal remanescente de florestas nativas e a área precisa ter uma relevância fun- e a capacidade de resistir a impactos por contemplar a maioria das fitofi- cional (ver revisão em Poiani et al., naturais e antrópicos). A maioria das sionomias típicas da região litorânea 2000). A viabilidade dessa estratégia fitofisionomias está ameaçada por al-

Neotropical Biology and Conservation 245 Ricardo V. Kilca, João A. Jarenkow, Júlio C. W. Soares, Élen N. Garcia

Tabela 4. Unidades de conservação situadas no Pampa brasileiro. Onde PE = Parque Estadual; PN = Parque Nacional; ACA = Área de Conservação Ambiental; RVS = Reserva da Vida Silvestre; REBIO = Reserva Biológica; ESEC = Estação Ecológica; RPPN = Reserva Particular do Patrimônio Natural. Os itens identificados com (-) representam ausência de dados. Table 4. Conservation areas in brazilian Pampa biome: PE= State park; PN= National park; ACA= Enviromental conservation area; RVS= Wildlife reserve; REBIO= Biological reserve; ESEC= Ecological Station; RPPN= Private Reserve of Natural Patrimony. Absence os data were marked with (-).

Província/ Instrumento Fitofi sionomias Área Nome/Administração Área (ha) Região legal protegidas* fl orestal (ha) Litoral ACA Banhado Grande Dec. 38.971/98 133.000 Banhados - Norte (Estadual) Litoral PE Itapuã Dec. 22.575/73 5.566,5 Mata restinga, banhados, campos - Norte (Estadual) Dec. 33.886/91 Litoral PE Delta do Jacuí Ilhas, mata ciliar, banhados e campos Dec. 24.385/76 14.242,05 2.867,94 Norte (Estadual) alagáveis Litoral RVS Banhado dos Banhados, mata ciliar, mata de Dec. 41.559 2.543,46 - Norte Pachecos (Estadual) restinga Litoral PN da Lagoa do Peixe Dec. 93.546 34.4000 Mata de restinga e banhados - Norte (Federal) Mata ciliar, banhados, mata de Litoral REBIO do Lami (Municipal) Dec. 4.097/75 179,78 restinga, vassourais e campos - Norte arenícolas Litoral PM Saint-Hilaire Dec. 14289/03 1.148,62 Florestas e banhados - Norte (Municipal) Litoral RPPN Sítio Porto da Capela Port. 62/95-N 14 Florestas de encosta - Norte (Particular) Litoral RPPN Costa do Cerro Port. 30/00 8 - - Norte (Particular) Litoral RPPN Jardim da Paz Port. 53/01 1,5 - - Norte (Particular) Litoral RPPN Prof.Delamar Harry Port. 047/99-N 10 - - Norte dos Reis (Particular) Litoral RPPN Mariana Pimentel Port. 06/99-N 46 - - Médio (Particular) Litoral PE do Camaquã Mata ciliar, fl oresta de interfl úvio, Dec. 23.798 7.992 7.992 Médio (Estadual) mata de restinga Litoral REBIO Lagoa dos Patos -- - - Médio (Municipal) Litoral RVS Molhe Leste Lei 007/96 30,49 - - Médio (Municipal) Litoral RPPN Reserva do Capão Port. 98/98-N 9 - - Médio Grande (Particular) Litoral REBIO do Mato Grande Dec. 23.798 5.161 Banhados e mata ciliar - Sul (Estadual) Litoral ESEC Taim (Federal) 81.606 33.395 Banhados e mata de restinga - Sul Litoral EcoMuseu Ilha da Pólvora - 42 Marismas - Sul (Federal) Litoral Horto Botânico Irmão - 16 Mata de restinga e banhado 8 Sul Teodoro Luis (Federal) Litoral RPPN Pontal da Barra Port. 080/99 65,33 Mata de restinga, banhado e campo 1 Sul (Particular) Litoral Parque Municipal do Totó - - Mata de restinga e banhado - Sul (Municipal)

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Tabela 4. Continuação. Table 4. Continuation.

Província/ Instrumento Fitofi sionomias Área Nome/Administração Área (ha) Região legal protegidas* fl orestal (ha) Litoral RPPN Estância Santa Rita Port. 167/98 340 - - Sul (Particular) Campanha PE Espinilho (Estadual) Dec. 41.440/02 1.617,14 Mata de galeria e savana - Sudoeste Campanha REBIO Ibirapuitã Mata de galeria, fl oresta sobre Dec. 31.778/76 351,42 - Sudoeste (Estadual) afl oramentos e campo Campanha REBIO do Banhado São Mata galeria, banhados, campo, mata Dec. 23.798/75 4.392 - Oeste Donato (Estadual) xerófi la Campanha RPPN Estância Santa Isabel Port. 94/96-N 135 - - Oeste do Butuí (Particular) Campanha RPPN Fazenda Caneleira Port. 51/96-N 45 - - Sudoeste (Particular) Campanha RPPN Reserva dos Port. 65/00 11,11 - - Sudoeste Mananciais (Particular) Campanha RPPN Fazenda Branquilho Port. 49/96-N 13 - - Sudoeste Campanha RPPN do Uruquá Port. 08/99-N 29 - - Oeste (Particular) Serra do PE do Podocarpus Dec. 23.798 3.645 Florestas de encosta - Sudeste (Estadual) Serra do RPPN Fazenda de Palmas Por. 20/01 160 - - Sudeste (Particular) Serra do RPPN Minas do Paredão Port. 094/99 15 - - Sudeste (Particular) Serra do RPPN Fazenda Curupira Port. 28/99-N 100,2 - - Sudeste (Particular) Litoral Sul Planície de inundação do rio Mata ciliar, mata de interfl úvio, (presente -- 4.376,83 Piratini matorral, banhados, matas paludosas estudo)

Fontes: http://www.biodiversidade.rs.gov.br/; http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smam; http://www.ambientebrasil.com.br/; http://www. sema.rs.gov.br/. gum tipo de distúrbio recorrente, den- como de importância para conserva- Agradecimentos tre essas se destacam o matorral, os ção do bioma. Fica patente a grande banhados e as florestas com Erythri- diversidade fitofisionômica e florísti- Agradecemos aos taxonomistas: Dr. na cristagalli + Sebastiana commer- ca na área, além do tamanho dos rema- Marcos Sobral, Dr. Jorge L. Wae- soniana e Syagrus romanzoffiana + nescentes florestais, que são relevan- chter; Dr. Fernando Rocha, Dr. Nel- Sebastiana commersoniana, na foz do tes para a região litorânea do Pampa son I. Matzenbacher (UFRGS), Pesq. rio Piratini. De acordo com o IBAMA, no Rio Grande do Sul. Além disso, as Rosana M. Senna (FZB); ao sempre essas fitofisinomias, típicas do bioma baixas similaridades com outras áreas prestativo técnico Elmo Herwig da Pampa, estão ameaçadas em todo o li- florestais no bioma e a presença de toral sul-riograndense, principalmente espécies vegetais de distribuição res- ALM-UFPEL, que realizou os cál- devido ao avanço das atividades agro- trita ou endêmica justifica muito bem culos planimétricos e nos ajudou pecuárias (PNMA, 1997). o rótulo atribuído pelo MMA. A pre- em diversas ocasiões; ao prof. Dr. Os dados ora apresentados são bási- sente base de dados permite levantar a Yoshihiro Yamasaki, do CPMet da cos, mas relevantes sobre a PIRP, área questão se a PIRP não deveria passar UFPEL, que contribuiu para as aná- que foi recentemente distinguida pelo para a categoria de Unidade de Con- lises de fotointerpretação; ao prof. Ministério do Meio Ambiente (MMA) servação Integral, no bioma. Dr. Frederico N. Widholzer (UFPEL)

Neotropical Biology and Conservation 247 Ricardo V. Kilca, João A. Jarenkow, Júlio C. W. Soares, Élen N. Garcia

no empréstimo de equipamentos, à município de Pedro Osório. Pelotas, EMBRA- 1981. Composição florística do Delta do Jacuí, Patrulha Ambiental de Pelotas e aos PA/CPACT, 40 p. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Iher- CUNHA, N.G.; SILVEIRA, R.J.C.; SEVERO, ingia, Série Botânica 26:145-163. colegas que contribuíram de diversas C.R.S. 1997. Estudos dos solos do municí- MAGURRAN, A.E. 1988. Ecological diversity formas durante o estudo: Eduardo pio de Arroio Grande. Pelotas, EMBRAPA/ and its measurements. London, Chapman and M. Medeiros, Camila F. Schnestski, CPACT, 50 p. Hall. 192 p. Agnaldo D. Piske, Cristiano A. Sou- DIEGUES, A.C.S.; NUÑES, M. 1990. In- MALVÁREZ, A.I. 1999. El delta del rio Paraná za e Giovanni Maurício. O estudo foi ventário de áreas úmidas do Brasil. São Paulo, como mosaico de humedales. In: A.I. MALVÁ- USP/UICN/Ford Foundation, 450 p. 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Neotropical Biology and Conservation 249