Os Critérios De Noticiabilidade Empregados Pelas Revistas Veja E Cartacapital Na Cobertura Das Manifestações Que Mobilizaram O Brasil Em Junho De 20131

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Os Critérios De Noticiabilidade Empregados Pelas Revistas Veja E Cartacapital Na Cobertura Das Manifestações Que Mobilizaram O Brasil Em Junho De 20131 ISSN 2175-6945 Os critérios de noticiabilidade empregados pelas revistas Veja e CartaCapital na cobertura das manifestações que mobilizaram o Brasil em junho de 20131 Angela Miguel CORRÊA (Mestranda)2 Danusa Santana ANDRADE (Doutoranda) 3 Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, SP. Resumo Amparado no suporte teórico da hipótese de newsmaking, este estudo levanta uma discussão sobre os critérios de noticiabilidade empregados pelas revistas Veja e CartaCapital nas edições de 26 de junho de 2013, na cobertura realizada sobre o início das manifestações que mobilizaram o Brasil ao pleitearem mudanças e melhorias em diversos setores do país, a começar pela redução das tarifas de ônibus em São Paulo. A pesquisa identifica os critérios de noticiabilidade empregados por essas revistas e apresenta como abordaram o episódio. Para isso, recorre ao método Análise de Conteúdo e aplica uma análise de enquadramento. O corpus do estudo constitui-se das reportagens divulgadas pelas revistas sobre o assunto – a CartaCapital dedicou duas reportagens em sua edição e a Veja, 10. Palavras-chave: História do Jornalismo; critérios de noticiabilidade; CartaCapital; Veja; análise. Introdução Na história dos estudos sobre a mídia, essa área da pesquisa foi influenciada por diferentes teorias como: a teoria da informação, a teoria hipodérmica, a abordagem empírico-experimental, a abordagem dos efeitos limitados, a teoria funcionalista, a teoria crítica, a teoria culturológica, além das teorias do jornalismo: a teoria do espelho, a teoria do gatekeeper, a teoria organizacional, as teorias de ação política, as teorias construcionistas, a teoria estruturalista e a teoria interacionalista, que buscavam novas abordagens e que refletiam o contexto do ambiente em que afloraram. 1 Trabalho apresentado ao GT História do Jornalismo integrante do 11º Encontro Nacional de História da Mídia. 2 Mestranda em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo. Endereço eletrônico: [email protected]. 3 Doutoranda em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo. Endereço eletrônico: [email protected]. 2 Uma das tendências nesses estudos refere-se aos emissores e aos processos de produção nas comunicações – hipótese de newsmaking – que permeia dimensões importantes na construção de uma notícia. Amparado nesse suporte teórico, este estudo objetiva levantar uma discussão sobre os critérios de noticiabilidade empregados pelas revistas Veja e CartaCapital nas edições de 26 de junho de 2013, na cobertura realizada sobre o início das manifestações que mobilizaram o Brasil ao pleitearem mudanças e melhorias em diversos setores do país, a começar pela redução das tarifas de ônibus em São Paulo. Nesse contexto, o estudo pretende responder aos questionamentos: quais foram os critérios de noticiabilidade empregados por essas revistas? Elas contribuíram para o debate sobre o assunto? De que forma? A pesquisa parte da hipótese que o conteúdo noticioso desses magazines reflete as posições ideológicas deles e, na produção das reportagens, são empregados critérios de noticiabilidade que reflitam essa visão. Para responder a essas indagações, o estudo recorre ao método Análise de Conteúdo e à análise de enquadramento. A análise de enquadramento proposta por Porto (2002) oferece uma nova perspectiva para entender o papel da mídia. A Análise de Conteúdo, cristalizada na obra de Bardin (1977), é aplicada como referencial metodológico seja no seu aspecto quantitativo (estatístico), seja no qualitativo (inferencial) da análise. Trata-se de uma técnica de investigação que objetiva a interpretação das comunicações. Este breve ensaio apresenta-se como válido especialmente ao tentar entender alguns aspectos da produção de reportagens dessas revistas acerca do período histórico. Esses veículos devem, por suas funções sociais, estabelecer debates sobre assuntos de interesse da sociedade, além de cumprir o papel de vigilantes e fiscalizadores da coisa pública. Essas características de agentes sociais imprimem nessas revistas relevância suficiente para ser objeto de estudo científico. Neste sentido, Marques de Melo (1986, p. 105) sustenta que “na medida em que o jornalista assume o papel de agente social, responsável pela observação da realidade, ele se torna mediador entre os fatos de interesse público e a cidadania”. Este estudo está estruturado da seguinte forma: inicialmente a pesquisa apresenta uma síntese sobre as revistas Veja e CartaCapital; aborda os estudos sobre gatekeeper e sobre a hipótese de newsmaking para situar os critérios de noticiabilidade; realiza a análise das reportagens dos magazines e, por fim, propõe algumas considerações. 3 1. Veja e CartaCapital: interpretação e opinião sobre os fatos Esta seção levanta um breve resgate sobre as revistas Veja e CartaCapital, objetivos da presente análise. Lage (2005, p. 153) pondera que “os magazines de informação geral flutuam entre a interpretação e a opinião manifesta. Esta, quando torna evidente a postura dominante na sociedade – isto é, nas elites –, tende a não ser percebida como tal: o que está escrito parece constatação ou evidência”. A revista CartaCapital, que integra o grupo da Editora Confiança, foi fundada em 1994 pelo jornalista ítalo-brasileiro Mino Carta, ex-diretor de redação da Veja. Segundo Mesquita (2008), a revista passou por algumas alterações quanto à sua periodicidade em sua história recente. Mensal na criação, depois quinzenal e em agosto de 2001, passou a circular semanalmente. Desde 2008, CartaCapital mantêm parceria com a The Economist e publica semanalmente conteúdos da edição inglesa, relatórios ao longo do ano e o anuário traduzido The World in. Conforme o Grupo de Mídia São Paulo, no relatório do Mídia Dados 2013, em 2012 a circulação da revista, em média, por edição, foi de 28,9 mil. Em seu portal, a CartaCapital anuncia que atualmente a tiragem semanal é de 65 mil exemplares, auditados pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC). Contudo, Mesquita (2008) pondera que mais do que sua modesta tiragem, a revista conquistou importância nacional pela sua atuação crítica em relação à imprensa em geral. Mesquita (2008) explica que a CartaCapital também tem posição política declarada em seu editorial. “Principalmente durante o período da campanha eleitoral de 2006, não raras vezes a revista – representando o posicionamento de seu diretor, Mino Carta – declarou explicitamente o estreitamento entre suas idéias e as de Luiz Inácio Lula da Silva (MESQUITA, 2008, p. 58)”. A CartaCapital sustenta ter uma visão crítica dos acontecimentos da política, economia e cultura, no Brasil e no mundo. Sustenta, ainda, que nasceu calcada no tripé do bom jornalismo baseado na fidelidade à verdade factual, no exercício do espírito crítico e na fiscalização do poder. A revista Veja existe desde 1968. Fundado por Victor Civita, o projeto de Veja (MESQUISTA, 2008) ganhou força em 1967, um ano antes em que a Editora Abril lançou a revista Realidade, que teve grande aceitação do público e que rendeu à editora considerável consistência jornalística. 4 Conforme Mesquita (2008), a história da revista começa dez anos antes de sua fundação, em 1958, quando Roberto Civita, filho de Victor Civita, volta dos Estados Unidos com uma ideia fixa na cabeça: montar uma revista aos moldes da Time. Veja integra um dos 190 títulos da Abril, como divulga o Grupo de Mídia São Paulo, no Mídia Dados 2013. A média de circulação semanal da revista, em 2012, segundo o Mídia Dados 2013, foi de 1.071,5 mi. A Veja publica todas as semanas dois suplementos regionais: Veja São Paulo e Veja Rio. Periodicamente faz edições especiais e edições regionais, como Veja Belém, Veja Belo Horizonte, Veja Brasília, Veja Porto Alegre, Veja Goiânia, etc. A Abril apresenta como missão contribuir para a difusão de informação, cultura e entretenimento, para o progresso da educação, a melhoria da qualidade de vida, o desenvolvimento da livre iniciativa e o fortalecimento das instituições democráticas do país. Ao analisar o peso político da Veja, Mesquita (2008) aponta que a revista é um dos semanários com maior ênfase nas temáticas políticas. Lage (2005, p. 151) sustenta que “por detrás da revista, há compromissos nem sempre evidentes” e faz uma ponderação sobre a revista Veja: Revista opinativa, centenas de milhares de pessoas consomem suas matérias como se fossem relatos fidedignos. No entanto, o texto, se olhado atentamente, revela-se estranho: se um funcionário tem a incubêmbia de selecionar currículos de pessoas indicadas para cargos públicos, diz-se que o homem “bisbilhota” a vida desses candidatos; se o presidente da República assina expedientes de rotina sem ler – coisa inevitável para qualquer executivo, chama-o de “nefelibata”. É algo capaz de impressionar quem não conhece bem o sentido de “bisbilhotar” e de “nefelibata”. E esses são só exemplos de uma coleção muito rica de inventos presunçosos (LAGE, 2005, p. 153). As revistas CartaCapital e Veja possuem abordagens distintas em seus textos noticiosos. A primeira assume que é favorável ao governo; a segunda, apesar de não declarar sua conduta, não se posiciona de forma velada. Adotando as definições formuladas por L. Althusser sobre ideologia, Lúcia Santaella (1980), a entende como um sistema de representações, dotados de uma existência e de um papel histórico no seio de uma sociedade. 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