Máquinas De Ver, Modos De Ser: Vigilância, Tecnologia E Subjetividade CONSELHO EDITORIAL DA COLEÇÃO CIBERCULTURA
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CIBER CULTURA # MAQUINAS DE VER, MOODS DE SER: vigilancia, tecnologia e subjetividade Fernanda Bruno Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e subjetividade CONSELHO EDITORIAL DA COLEÇÃO CIBERCULTURA Adriana Amaral André Lemos Alex Primo Clóvis Barros Filho Denize Araújo Erick Felinto Fernanda Bruno Francisco Menezes Juremir Machado da Silva Luis Gomes Paula Sibilia Raquel Recuero Simone Pereira de Sá Vinicius Andrade Pereira Apoio: Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e subjetividade Fernanda Bruno © Autora, 2013 Capa: Letícia Lampert Ilustração de capa: Luiz Garcia Projeto gráfico e editoração: Niura Fernanda Souza Revisão: Matheus Gazzola Tussi Revisão gráfica: Miriam Gress Editor: Luis Gomes Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária Responsável: Denise Mari de Andrade Souza – CRB 10/960 B898m Bruno, Fernanda Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e subjetividade / Fernanda Bruno. – Porto Alegre: Sulina, 2013. 190 p.; (Coleção Cibercultura) ISBN: 978-85-205-0682-0 1. Comunicação e Tecnologia. 2. Vigilância Digital - Comuni- cação. 3. Ciberespaço. 4. Internet. I. Título. CDU: 316.6:004 CDD: 302.23 Todos os direitos desta edição são reservados para: EDITORA MERIDIONAL LTDA. Editora Meridional Ltda. Av. Osvaldo Aranha, 440 cj. 101 – Bom Fim Cep: 90035-190 – Porto Alegre/RS Fone: (0xx51) 3311.4082 Fax: (0xx51) 2364.4194 www.editorasulina.com.br e-mail: [email protected] Dezembro/2013 Sumário Introdução ...........................................................................................................7 Capítulo I Vigilância distribuída: indefinições do contemporâneo ..............................17 De que vigilância estamos falando? ...........................................................17 Por que vigilância distribuída? ...................................................................24 Uma lista incompleta de sete atributos .....................................................28 Tríplice regime de legitimação: segurança, visibilidade, eficácia ...........36 Capítulo II Ver e ser visto: subjetividade, estética e atenção ...........................................53 Topologias da subjetividade: interioridade e exterioridade ..................56 A máquina panóptica e a tópica da interioridade .....................................59 Tecnologias de comunicação e topologias da exterioridade ..................66 Quem está olhando? .....................................................................................75 Regimes escópicos e atencionais da vigilância ..........................................84 Arquiteturas da regularidade e circuitos de controle: videovigilância ......................................................................87 Vigilância amadora e estéticas do flagrante: circuitos de prazer e entretenimento .......................................................97 Estéticas da contravigilância e poéticas da atenção .............................114 Capítulo III Rastros digitais: Internet, participação e vigilância ...................................123 Participe você também: vigiar e ser vigiado .............................................127 O usuário como vigilante ..........................................................................134 Vigilância participativa? .............................................................................141 Sob a participação: monitoramento, mineração de dados e PROFILING na Internet .............................................144 Rastrear, monitorar, arquivar ..................................................................149 Conhecer e classificar ..............................................................................157 Individualização algorítmica ...................................................................161 Predição, performatividade, proatividade ...............................................169 Delirar a máquina taxonômica ..................................................................177 Referências .......................................................................................................181 Para Fernando e Antônio. Introdução Pensávamos saber o que é sentir, ver, ouvir; hoje, essas palavras constituem um problema. Somos incitados a voltar às próprias experiências que elas designam, para defini-las outra vez. M. Merleau-Ponty Uma ‘época’ não preexiste aos enunciados que a exprimem nem às visibilidades que a preenchem. G. Deleuze Este livro começa em 2003. Seu início foi desencadeado pela intuição de que algo se transformava em nossos regimes de visibilidade habituais. O que estaria em transformação? Segundo que intensidades e ritmos, sentidos e direções? O que significam ver e ser visto agora? Que experiências lhes corres- pondem e a que poderes estão sujeitos? Estas questões vêm sendo desde então mobilizadas por uma série de eventos, vindos de toda parte, mas especialmen- te expressivos nas tecnologias e redes de comunicação. No âmbito das práticas cotidianas do ver e do ser visto, a proliferação de reality shows na televisão (no fim dos anos 1990 e início dos anos 20001) e de práticas de exposição e narrativa do eu na Internet2 nos levaram a interrogar as topologias que aí se redesenhavam: do público e do privado; da intimi- dade e da sociabilidade; da interioridade e da exterioridade. Neste mesmo âmbito, a integração de câmeras de fotografia e vídeo a dispositivos móveis de comunicação (telefones celulares, laptops, palmtops), associada à profu- são de plataformas digitais de compartilhamento de conteúdo audiovisual, tornou possível uma ampla circulação de imagens de toda ordem, produzidas por uma multidão diversificada de indivíduos nos contextos e nas condições mais distintas. Uma série de questões de ordem estética, política e social en- dereçam-se às dinâmicas de produção e circulação dessas imagens, marcadas 1 Ainda que formatos da chamada telerrealidade já sejam experimentados desde os anos 1950 na te- levisão, tal gênero ganha grande popularidade a partir de 1999, com o lançamento dos emblemáticos Big Brother (Endemol, Veronica) e Survivor (CBS, 2000). No Brasil, os primeiros do gênero neste período foram No Limite (Rede Globo, 2000), Casa dos Artistas (SBT, 2001) e Big Brother Brasil (Rede Globo, 2002). 2 As narrativas do eu se difundiram nas webcams, weblogs, fotologs e videologs a partir de 1996, 1999, 2002 e 2005, respectivamente, enquanto as primeiras redes sociais on-line se tornam populares a partir de 2002 (Fiendster) e 2003 (Myspace). 7 | por ambiguidades que embaralham circuitos do voyeurismo, do ativismo, da vigilância, do jornalismo, do amadorismo, da autoria etc. No campo das práticas de vigilância, elas não apenas se diversificam, como se tornam extremamente presentes no cotidiano da vida urbana e social. A expansão da videovigilância, notável nos grandes centros urbanos após os aten- tados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, reorganiza as relações entre segurança e vigilância. Elas não mais focalizam populações e espaços clas- sificados como perigosos ou suspeitos, mas se dirigem a toda sorte de espaço público, semipúblico e privado. Paralelamente, o fluxo de informações que circula no ciberespaço se torna um foco privilegiado de monitoramento por diversos setores e segundo diferentes propósitos: comercial, publicitário, admi- nistrativo, securitário, afetivo, entre outros. Ações e comunicações cotidianas no ciberespaço se tornam cada vez mais sujeitas a coleta, registro e classificação. Colocam-se, de imediato, questões sobre as implicações destes dispositivos para a vigilância, o controle e a formação de saberes específicos sobre desejos, incli- nações, condutas e hábitos de indivíduos e populações. Este cenário, que em 2003 já se fazia sensível, não apenas se amplia no ritmo acelerado dos sistemas sociotécnicos contemporâneos, como se torna mais complexo, exigindo esforços tanto conceituais quanto metodológicos para compreendê-lo. A proliferação de redes sociais e de plataformas de pro- dução e compartilhamento de conteúdo na Internet adiciona novos vetores aos processos de visibilidade presentes em blogs, fotologs e videologs. Se por um lado as temáticas da exposição do eu e da privacidade se tornam mais evi- dentes e entram na pauta das disputas comerciais, jurídicas e midiáticas, elas se complicam e só podem ser analisadas em conexão com processos coletivos, públicos e políticos que se produzem nestas mesmas redes. As apropriações das redes sociais nas revoluções e protestos políticos tornam ainda mais urgente a dimensão política e coletiva dessas redes (Cf. Malini e Antoun, 2013; Castells, 2012). A emergência dos protestos políticos no Brasil em junho de 2013 é um dos exemplos mais recentes desta apropriação, na esteira de outros casos, como o da “primavera árabe”, no fim de 2010 e início de 2011, dos acampa- mentos e insurreições na Europa, em 2011 e 20123, das marchas e ocupações na América Latina e nos Estados Unidos4, entre outros. 3 Com destaque para o movimento que ficou conhecido como o 15-M, na Espanha. Cf. http:// wiki.15m.cc/wiki/15M_archive. 4 Sendo o Occupy Wall Street um dos mais expressivos movimentos na América do Norte. Cf. http:// occupywallst.org/ | 8 Paralelamente, o ativismo político e a guerrilha informacional baseados no anonimato cibernético ganham visibilidade e repercussão, criando vias de expressão que diferem das práticas de exposição circunscritas à esfera do eu. O grupo Anonymous é exemplar neste processo (Cf. Coleman, 2012), assim como o 4Chan5, significativo